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Generalização
Lucelmo Lacerda
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Entre as 7 dimensões da ABA está lá, bem clara e acentuada, a
dimensão da generalidade, que é uma das coisas mais importantes a se
conhecer em ABA e com impacto direto e inescapável no âmbito da prática.
Como sempre, precisamos voltar àqueles conceitos básicos da Análise
do Comportamento que nos persegue em cada tema que estudamos, a própria
noção de contingência e avaliação funcional, que é a base de nosso trabalho
tanto no campo conceitual quanto prático.
Um comportamento não acontece no vácuo, ele ocorre diante de certos
estímulos antecedentes que exercem sobre ele algum tipo de controle,
podemos citar aqui especialmente as Operações Motivacionais
Estabelecedoras, que produzem a motivação para o indivíduo se comportar,
diante da privação de comida o indivíduo pode fazer algo para ter acesso a um
petisco, diante da privação de água ele pode comprar uma garrafinha de um
camelô menos confiável, diante de uma estreia bombástica, ou algum
acompanhante que valha a pena, podemos gastar o dindim de algo secundário
para ir ao cinema, entre outros.
Além desta motivação, há usualmente também um estímulo no ambiente
que sinaliza que o reforçador estará presente se o indivíduo se comportar, é o
famoso Estímulo Discriminativo, que pode ser o garçom passando, o camelô
repetindo “Olha a água geladinha” ou um cartaz e um guichê do cinema com
um funcionando.
Esses comportamentos, como todos os demais comportamentos
operantes, também ocorrem sob controle de suas consequências, ou seja, de
alterações que eles operam no ambiente e que operam sobre eles também
uma modificação, à medida em que uma vantagem ambiental ao organismo
aumenta a probabilidade do comportamento ocorrer (reforçamento) ou uma
consequência desvantajosa opera uma mudança contrária sobre o
comportamento, ele diminui de probabilidade (punição).
Mas, porém, contudo, todavia e, entretanto, quando olhamos para esses
antecedentes e consequências usuais de um comportamento, não estamos
descrevendo todos os estímulos ambientais presentes no momento de sua
emissão, mas somente aqueles que de fato exercem influência sobre eles, ou
seja, somente os estímulos relevantes, mas é preciso dizer que os indivíduos
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podem se comportar de uma maneira mais confusa, com interferência de
outros estímulos.
Vamos dar um exemplo, imagine que alguém diga a uma criança “Qual é
o seu nome, e estenda a mão apontando para ela, em uma sala com uma
mesa verde”. Digamos que esta criança aprenda a dizer seu próprio nome
direitinho, linda, “aprendeu”, poderíamos pensar, equivocadamente e é por isso
que entre as 7 dimensões da ABA está lá a generalidade, para evitar que não
nos enganemos assim tão facilmente.
Diante da pergunta “Qual é seu nome?” uma pessoa usualmente fala o
som por meio do qual é conhecido e isso tem consequências como aprovação
ou um sorriso, esse é um intraverbal classificando um comportamento sob
controle antecedente de um estímulo verbal antecedente (a pergunta do
interlocutor), cujo reforçamento é generalizado e inespecífico. Ok, até aqui tudo
bem, mas devemos nos perguntar SEMPRE e se outra pessoa perguntar o
nome da criança, ela também responderá? Se eu ou outra pessoa perguntar o
nome da criança estando em outro lugar e não na sala de aula ou terapia? E se
não houver uma mesa verde? E seu eu perguntar sem apontar mão a ela? E se
eu usar um tom de voz ou velocidade diferente? Das vezes em que
perguntamos a ela seu nome, ela usualmente responde ou é um caso na vida e
outra na morte? Ou seja, a pergunta pode ser resumida, conceitualmente como
“o comportamento da criança de responder ao nome é generalizado?”
É claro que a mesa verde não deveria exercer nenhum influência sobre
o comportamento de responder ao nome, ela deveria ser um estímulo
irrelevante neste contexto, mas pode não ser. Tampouco apontar a mão para a
criança deveria diferenciar sua resposta ao nome, o que importa é o conteúdo
e forma da pergunta e não quaisquer outros desses aspectos do ambiente,
mas isso não é garantido, um dos maiores mantras de qualquer Analista do
Comportamento deve ser, a generalização não é algo a ser esperado e
lamentado, mas sim algo a ser planejado e ensinado.
É preciso que TODOS os processos de ensino que se baseiem em ABA
partam do princípio que os comportamentos aprendidos precisam ser emitidos
em todos os contextos em que sejam favoráveis à qualidade de vida do
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indivíduo, de modo que isto precisa ser previsto, planejado e ensinado de modo
sistemático e inequívoco.
Vamos aos famosos exemplos que nos ajudam na compreensão de
todas as questões que temos trabalhado. Imagine que tenhamos um cliente
com Transtorno do Espectro Autista em sua faixa leve, que tenha um bom
repertório verbal, mas com muita dificuldade de discriminar que emoções ou
sentimentos as diferentes expressões faciais exprimam, esta habilidade pode
ser muito necessária para adequar-se durante uma interação com amigo ou par
amoroso e até mesmo para compreender situações sociais simples, em filmes
ou na vida real cotidiana. Imagine agora que o Analista do Comportamento
responsável pelo caso decidiu fazer um treino de discriminação estruturado,
com um Pareamento ao Modelo (Matching-to-Sample) entre o nome das
emoções e pessoas com expressões típicas delas.
Nojo
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Neste momento surge uma pergunta constrangedoramente comezinha e
também difícil: devemos colocar a imagem de mulheres, homens, crianças,
velhos, negros, brancos, indígenas, com barba, sem barba, cabelo de que
tamanho, bonitos ou feios? Ou ainda, o que normalmente se pensa, tanto faz?
A chave para a resposta a esta pergunta está justamente no mantra já
enunciado que generalização não é algo que esperamos e lamentamos, mas
que planejamos ensinamos. Na vida real não identificamos somente
expressões faciais em um tipo de rosto, mas em todos eles, então é
fundamental que este tipo de ensino preveja em seu planejamento a imagem
de todas estas expressões que citei e provavelmente outras de que me
esqueci, para que o comportamento seja, de fato, generalizado, ou seja, diante
de rostos de pessoas com as diversas diferentes características pessoais, o
indivíduo identifique qual é a emoção correspondente a sua expressão facial. E
de fato, a própria utilização de estímulos diferentes já aumenta a probabilidade
de generalização, se tornando inclusive mais eficiente a aprendizagem também
para os tipos de rosto que o indivíduo mais vê.
Vamos dar aqui alguns outros exemplos basicões de generalização de
habilidades, de simples a mais complexas:
• Se alguém aprende a fazer somas matemáticas, a habilidade precisa se
generalizar para a apresentação das somas de diferentes formas, em fórmulas
ou problemas, ou descrições verbais, ou situações em que sejam necessárias.
• Se alguém aprende a ler, a habilidade precisa se generalizar para letras
maiúsculas, minúsculas, diferentes fontes, em diferentes suportes como
rótulos, telas ou painéis.
• Se alguém aprende a interpretar textos, é preciso generalizar para
diferentes gêneros textuais como manuais, contos, propagandas, bilhetes entre
outros.
• Se alguém aprende a ler os livros de romance, é preciso que a
habilidade se generalize para sua vida, para além da escola, com diferentes
tipos de texto, como clássicos tais como Machado de Assis, disruptivos como
José Saramago ou contemporâneos como Moacyr Scliar.
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Uma das principais ferramentas para a aprendizagem generalizada é o
treinamento de pais para a incorporação de uma habilidade ao cotidiano do
indivíduo que está aprendendo, a variação de estímulos de uma mesma
habilidade, como já dito, aumenta a aprendizagem e sua generalização e os
pais são aqueles que estão nesses diferentes contextos de emissão dos
comportamentos, sigamos mais uma vez com alguns exemplos interessantes:
• Para uma criança que aprende na escola ou clínica a identificar cores
diante de seu nome, os pais são ensinados e dizem a seus filhos a cor da
camiseta, calça, tênis, talher, etc que eles devem escolher no contexto
apropriado e, tal qual o terapeuta ou educador, presumivelmente, reforça a
escolha correta, ajuda na ausência do comportamento ou corrige diante do
erro.
• Para uma criança que está aprendendo a fazer subtrações na clínica ou
na escola, são participados do processo de pagamento e troco no mercado.
• Para uma pessoa que está aprendendo a ir ao banheiro, os pais são
ensinados a realizarem os procedimentos idênticos na casa da avó ou outros
ambientes para que o comportamento se generalize para os demais banheiros.
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que o justifique e não a todo momento, a qualquer pessoa e em todos os
lugares. Esses são meros exemplos do equilíbrio imprescindível e permanente
entre generalização e discriminação.
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