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Transtornos e

Distúrbios da
Aprendizagem
Principais Transtornos e Distúrbios da
Aprendizagem
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
FRANCIANE HEIDEN RIOS
AUTORIA
Franciane Heiden Rios
Sou formada em Pedagogia, Mestre em Educação, Especialista
em Educação Especial e Inclusiva e Tecnologias Educacionais. Estou na
Educação desde o início da minha vida profissional, cursei Magistério,
ingressei como estagiária e da escola nunca mais saí. Esse espaço rico
de aprendizagens humanas me oportunizou pensar sobre diferentes
questões e perceber as pessoas em suas diferentes necessidades.
Durante dez anos, fui servidora concursada, professora do Município de
São José dos Pinhais. Também atuei como Educadora pela Prefeitura
Municipal de Curitiba e, atualmente, sou supervisora do curso de
Pedagogia da UNIVESP – Universidade Virtual do Estado de São Paulo
e diretora pedagógica da CuriosaIdade, instituição que atua em parceria
com redes de ensino para desenvolvimento de boas práticas educativas
tendo como subsídio a perspectiva do Desenho Universal para a
Aprendizagem. Acredito no princípio básico da inclusão e no respeito pela
diversidade, portanto, escrever, palestrar, capacitar ou qualquer outra
ação ou prática profissional relacionada a este tema são hoje meu foco de
atuação. Desejo que tenhamos juntos um caminho rico de aprendizagens
significativas, que o material aqui proposto em suas ideias, reflexões e
discussões permita a você um olhar sensível à diversidade no que tange
aos distúrbios e transtornos de aprendizagens, contribuindo para espaços
escolares inclusivos e respeitosos.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Transtornos e Distúrbios Relacionados à Aprendizagem........... 10
Transtorno e Distúrbio: Primeiras Implicações............................................................ 11

Transtornos do Neurodesenvolvimento....................................................... 13

Transtornos Disruptivos, do Controle dos Impulsos e da


Conduta................................................................................................................................ 17

Transtorno do Espectro Autista (TEA)..................................................20


Contextualização do Transtorno do Espectro Autista........................................... 21

Conceito e Características do Transtorno do Espectro Autista – TEA....... 22

TDAH e TOD....................................................................................................29
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDA/H: contexto.....29

Conceito e Características...................................................................................... 31

Implicações na Aprendizagem...........................................................................34

Transtorno de Oposição dDsafiante – TOD: Conceito e Características.36

Transtornos Específicos da Aprendizagem.......................................38


Identificação do Transtorno Específico da Aprendizagem............................... 38

Dislexia.................................................................................................................................. 41

Disgrafia................................................................................................................................43

Discalculia..........................................................................................................................44
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 7

02
UNIDADE
8 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

INTRODUÇÃO
Você já deve ter visto em jornais ou em outros meios de comunicação
matérias sobre os desafios relacionados à aprendizagem. Em muitas dessas
matérias é recorrente a reclamação dos professores acerca dos estudantes
indisciplinados, que não respeitam regras, que não “estão nem aí” para a escola
e para o que ela tem a oferecer. Mas, no que isso se relaciona com nossa
disciplina? Muitas dessas reclamações indicam que há “algo a mais” no espaço
da escola e que essa instituição não sabe como lidar com a demanda que
emerge. Nesse “algo a mais” provavelmente estão estudantes com transtornos
diversos, que resultam em déficits de aprendizagem e em comportamentos
atípicos e que, por desconhecimento, estão sendo encarados como os “vilões”
nessa história. Diante disso, sua principal responsabilidade é compreender
esses transtornos e suas características, percebendo como eles se manifestam
para, a partir daí, estar capacitado a mudar essa realidade, na qual não existem
“maus” e “bons” e, sim, diversos, cada qual com uma demanda e com uma
condição. Ainda, com o conhecimento em mãos, você poderá socializá-lo, o
que é fundamental para evitar a segregação desses indivíduos que têm algum
transtorno e que, portanto, possuem dificuldades nas interações necessárias,
afinal, eles não escolheram essa condição, as crianças muitas vezes nem
compreendem essa condição. Assim, não é justo culpabilizá-las por um clima
escolar não adequado. Como profissionais e adultos esclarecidos dessa
relação, cabe a nós buscarmos estratégias para fazer a diferença. Entendeu?
Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 – Principais transtornos
e distúrbios da aprendizagem. Nosso objetivo é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término
desta etapa de estudos:

1. Identificar e classificar os transtornos e distúrbios da aprendizagem.

2. Diagnosticar as características e especificidades do Transtorno do


Espectro Autista (TEA).

3. Reconhecer e identificar as características e especificidades


do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDA/H e
Transtorno de Oposição Desafiante – TOD.

4. Identificar os sintomas do Transtorno Específico da Aprendizagem,


especificamente, a Dislexia, a Disgrafia e a Discalculia.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Transtornos e Distúrbios Relacionados à


Aprendizagem
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de


identificar e reconhecer os principais transtornos do
neurodesenvolvimento e, especificamente, compreender
a diferença desses em relação aos transtornos disruptivos,
do controle dos impulsos e da conduta, iniciando a trajetória
formativa para compreender os transtornos de maior
recorrência/incidência no que se relaciona à aprendizagem.
Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. As
pessoas que tentarem discutir assuntos relacionados aos
transtornos sem conhecer essas especificidades gerais
poderão confundir indicativos, características e evidências,
comprometendo a aprendizagem e o trabalho junto ao
estudante. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

Figura 1 - Dificuldade de aprendizagem

Fonte: @Freepik.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 11

Transtorno e Distúrbio: Primeiras


Implicações
Compreender o que a literatura nos indica sobre a definição dos
conceitos de transtornos e distúrbios é fundamental para avançarmos
nas especificidades de cada manifestação. Nesse sentido, é fundamental
evidenciar que o viés comportamentalista, esse que ampara as discussões
aqui propostas, considera “distúrbio” e “transtorno” como nomenclaturas
equivalentes, apesar de, em aspectos neurológicos, existir diferenciação
entre essas condições.

NOTA:

Para efeito de esclarecimento, o termo “distúrbio”, conforme


evidencia Fonseca (1995), está relacionado a um grupo
de dificuldades específicas e pontuais, caracterizadas
por uma disfunção neurológica, ou seja, há evidências
de disfunção do sistema nervoso central no cérebro, o
que resulta em desequilíbrio patológico em decorrência
da alteração da ordem natural. Já o transtorno, conforme
aponta Relvas (2008, p. 53), consiste em um “conjunto
de sinais sintomatológicos que provocam uma série de
perturbações no aprender da criança, interferindo no
processo de aquisição e manutenção de informação de
uma forma acentuada”, ou seja, é uma perturbação de
ordem psicológica e/ou mental.

Tendo como suporte a literatura médica, é possível compreender


um pouco melhor o que se entende por transtorno e por distúrbio. Ambos
nos indicam uma “[...] alteração da normalidade, seja de natureza estrutural,
funcional ou comportamental” (REZENDE, 2008, p. 281), porém, “transtorno”
está mais próximo às alterações de personalidade e comportamento e
“distúrbio”, das alterações de natureza funcional e estrutural. Um exemplo
dessa explicação é o caso de dois indivíduos autistas: o primeiro com
dano cerebral, intercorrente de má formação, ou seja, apresenta distúrbio
em aspectos cognitivos e, como comorbidade, encontra-se no Transtorno
12 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

do Espectro Autista (TEA); já o segundo descarta qualquer disfunção na


estrutura cerebral, mas em condição clínica também se encontra no
espectro.

É fato que nem todo transtorno e distúrbio são específicos da


aprendizagem, entretanto, compreende-se o processo de aprender
como complexo e multifacetado, no qual operam vários fatores e que o
indivíduo biopsicossocial é ativo e precisa ser considerado.

Neste caso, faz-se necessário, para efeito de conhecimento geral,


apontar que, conforme nos indica Perraudeau (2009), os transtornos
de saúde, transtornos de sono, transtornos psicomotores e transtornos
ligados à depressão estão diretamente ligados ao processo educacional,
reforçando a necessidade de uma equipe multidisciplinar capaz de
encaminhar e atender às demandas dos alunos de forma qualificada,
auxiliando professores e pedagogos no processo de inclusão e de
estratégias conjuntas para otimizar o processo de ensino-aprendizagem.

Tendo como espaço de reflexão a escola e como relação o


processo de ensino-aprendizagem, seguiremos a categorização e
reflexão dos transtornos e dos distúrbios considerando aqueles que são
mais recorrentes no espaço escolar e que alteram a condição docente,
estruturados conforme a figura 2.
Figura 2 - Esquema de transtornos e de distúrbios

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Diante da organização proposta, avançamos para a compreensão


de cada condição geral relacionada aos transtornos: transtornos de
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 13

neurodesenvolvimento e transtornos disruptivos, do controle dos


impulsos e da conduta, conceituando-os e diferenciando-os.

Transtornos do Neurodesenvolvimento
Os transtornos de neurodesenvolvimento abarcam um grupo
de condições relacionadas que são evidentes desde o início do
desenvolvimento do indivíduo. Apesar de serem percebidos com maior
incidência no período escolar, no processo de anamnese se evidencia
que, tipicamente, a manifestação é anterior à etapa da escolarização.

VOCÊ SABIA?

Anamnese é uma entrevista dirigida com itens estruturados


e semiestruturados utilizados por diversas áreas, inclusive
a psicopedagogia, para conhecer, organizar e registrar a
história clínica, social e cultural do indivíduo. Tem como
intenção subsidiar um perfil inicial para o trabalho a ser
desenvolvido junto ao sujeito do processo, estabelecendo
a aproximação e elencando características que auxiliem o
profissional na proposição de seu plano de trabalho.

Em relação ao desenvolvimento, resguardado a especificidade


de cada condição, os transtornos de neurodesenvolvimento acarretam
prejuízos ao funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional,
variando o grau da limitação e a condição de sua manifestação.

Entretanto, de acordo com o senso comum, existem generalizações


que resultam na banalização dos transtornos e até em falsos diagnósticos
que reforçam a ideia de que “toda condição diversa traz consigo uma
super-habilidade”. É fato que sim, no TEA é possível encontrarmos figuras
de destaque, assim como em outros transtornos. Dessa explicação, vários
exemplos tiveram destaque na mídia:
14 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

EXEMPLO 1:

Um falso exemplo de diagnóstico de TEA em decorrência de


características de personalidade

Fonte: Diário do Centro do Mundo.

EXEMPLO 2:

Cartaz e crítica do filme que retrata o monarca George VI que,


apesar de seu transtorno da fala (gagueira), demonstrou sua habilidade
comunicativa no discurso retratado no longa-metragem.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 15

Fonte: IstoÉ.

Esses recortes são exemplos de como um transtorno de


desenvolvimento é percebido socialmente, está incorporado nos discursos
das pessoas e, na verdade, impacta níveis e áreas diferentes de cada
indivíduo, não havendo, portanto, uma condição niveladora para cada caso.

Sabermos disso é muito importante, afinal nem todo autista é


brilhante em alguma área, nem todo gago canta bem e, quase sempre,
afirmações generalistas como essas servem apenas para prejudicar
boas práticas relacionadas à diversidade e à inclusão, pois deslocam o
centro da atenção pedagógica para habilidades e competências que os
indivíduos podem não ter e para as quais não há comprovação alguma,
negligenciando aquilo que é evidente e disponível para o trabalho
pedagógico. O fato constatado é que:
[...] os déficits de desenvolvimento variam desde limitações
muito específicas na aprendizagem ou no controle de
funções executivas até prejuízos globais em habilidades
sociais ou inteligência (DSM-V, 2014, p. 81).
16 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Tendo como base o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


Mentais – DSM-V, o quadro dos Transtornos do Neurodesenvolvimento é
integrado pelas seguintes manifestações que serão apenas apresentadas
e desenvolvidas em capítulos específicos no decorrer do material:

1. Deficiências intelectuais (Transtornos do Desenvolvimento


Intelectual).

2. Transtornos da comunicação.

3. Transtorno do Espectro Autista.

4. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.

5. Transtornos específicos da aprendizagem.

Para avançarmos com qualidade nas discussões e cumprirmos


com os objetivos propostos a esse material, serão objetos de estudo
nos capítulos posteriores: o Transtorno do Espectro Autista, o Transtorno
de Déficit de Atenção/Hiperatividade e os Transtornos específicos da
aprendizagem, especificamente a dislalia, a disgrafia e a discalculia. Na
sequência, explicitaremos o conceito e características dos transtornos
disruptivos, do controle dos impulsos e da conduta.

ACESSE:

Para conhecer os demais transtornos sem a necessidade


de recorrer a uma literatura densa, como no caso do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V,
acesse a Tabela Periódica dos Transtornos Emocionais,
elaborada pela Vittude(plataforma que aproxima pacientes
e psicólogos) clicando aqui.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 17

Transtornos Disruptivos, do Controle dos Impulsos


e da Conduta
Os transtornos disruptivos, do controle dos impulsos e da conduta
incluem condições que envolvem problemas de autocontrole de
emoções e de comportamentos. Falar sobre essa condição é importante,
pois, diferentemente dos demais transtornos que também envolvem
questões de regulação emocional e/ou comportamental, os transtornos
disruptivos são:
[...] exclusivos no sentido de que esses problemas se
manifestam em comportamentos que violam os direitos
dos outros (p. ex., agressão, destruição de propriedade)
e/ou colocam o indivíduo em conflito significativo com
normas sociais ou figuras de autoridade. (DSM-V, 2014, p.
461)

Portanto, sendo a escola um espaço de relações sociais, regrado e


normatizado, no qual figuras de autoridade se fazem necessárias, torna-
se comum a ocorrência da manifestação dos transtornos disruptivos,
implicando situações problemáticas que interferem no clima escolar e,
por consequência, nos processos de ensino e aprendizagem.

DEFINIÇÃO:

Os transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da


conduta são aqueles relacionados aos problemas na
regulação emocional e comportamental. Estes transtornos
diferenciam-se entre si por meio da expressão, por exemplo:

•• No transtorno de conduta, os comportamentos são poucos


controlados e podem resultar em sintomas comportamentais,
como a agressividade ao ser repreendido.

•• No transtorno relacionado ao impulso, como o transtorno explosivo


intermitente, as emoções são pouco controladas e a expressão
delas é desproporcional à intercorrência geradora. Ou seja, por
menor que seja o fato, o indivíduo pode ter rompantes de raiva
inexplicáveis e muito além da situação ocorrida.
18 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Figura 3 - Raiva

Fonte: ©Pixabay.

Retornando à aprendizagem, dentro dos diversos trans-


tornos que essa categoria abarca, está o Transtorno de
Oposição Desafiante, cada vez mais identificado nas
relações escolares e que, conforme avançaremos, ve-
remos que se trata de um intermediário em questões
de comportamento e emoções e vigora como grande
desafio aos educadores. 

ACESSE:

No vídeo “Como detectar cedo o Transtorno de


Aprendizagem?” O neuropediatra Dr. Clay Brites, diretor da
NeuroSaber, explica sobre características, manifestações e
evidências que podem auxiliar a perceber e encaminhar de
forma adequada crianças que apresentem algum transtorno
de aprendizagem. Você pode acessá-lo clicando aqui.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 19

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que, no quadro geral dos transtornos, apesar de existirem
vários tipos, optamos por trabalhar com os transtornos do
neurodesenvolvimento e, especialmente, o Transtorno
de Oposição Desafiante, que integra os transtornos
disruptivos, do controle dos impulsos e da conduta.
Essa é uma categorização inicial que se faz necessária
para justificar o motivo de muitos transtornos serem
semelhantes em alguns aspectos, aproximando-se muito
em características e manifestações. Ainda, reforçamos
que o papel do pedagogo e do psicopedagogo não é o
de assumir de forma individual a responsabilidade por
diagnosticar transtornos e distúrbios de aprendizagem. Por
se tratarem de patologias e distúrbios, o diagnóstico é dever
do campo da medicina, apenas podendo ser realizado por
neuropediatras e especialistas na área. O campo de estudo
do psicopedagogo é a aprendizagem, seu diagnóstico no
campo pedagógico é processual e contribui com elementos
para que os demais profissionais possam ter recursos para
amparar o diagnóstico de forma mais substancial e correta.
20 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Transtorno do Espectro Autista (TEA)


OBJETIVO:
Ao término deste item, você será capaz de compreender
e identificar as principais características relacionadas ao
Transtorno do Espectro Autista – TEA e a sua relação
com a aprendizagem. Sendo um dos transtornos com
maior aumento de casos e que gera preocupação com
o diagnóstico precoce, esses conhecimentos serão
fundamentais para o exercício de sua profissão. As
informações discutidas são atualizadas de acordo com o
DSM-V, apresentando a nova categorização e denominação
do espectro, aprendizagem que será diferencial em seu
trabalho junto aos estudantes na avaliação e promoção
de aprendizagens significativas. As pessoas que tentarem
qualquer interação ou mediação sem compreender as
especificações do TEA podem apresentar informações
erradas e gerar expectativas equivocadas em relação
ao potencial, às habilidades e ao desenvolvimento
dos estudantes, impactando significativamente na vida
desses sujeitos. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

Figura 4 - Símbolo do autismo

Fonte: @Freepik.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 21

Contextualização do Transtorno do
Espectro Autista
Segundo dados do CDC – Center of Diseases Control and Prevention,
a cada 110 (cento e dez) pessoas, uma estaria no espectro autista. No
Brasil, estima-se que em variadas faixas etárias e diversos núcleos sociais,
exista uma população que integre cerca de 2 (dois) milhões de pessoas
no espectro.

Em projeção, utilizando-se de países nos quais as fontes de


registro e monitoramento de casos de TEA configuram-se mais efetivas,
os dados apontam para uma matriz crescente nos Estados Unidos, com
confirmações de 1 a cada 150 pessoas no período dos anos de 2000 a
2002, 1 a cada 68 pessoas no período de 2010 a 2012 e, por fim, 1 a cada
58 de 2013 a 2014. Com base nos dados apresentados, estima-se que, no
Brasil, se tenha uma população de cerca de 2 (dois) milhões de pessoas
no TEA.

A proporção populacional em destaque ampliou as discussões


acerca do TEA e, especificamente no Brasil, questões relacionadas ao
diagnóstico, tratamento e acompanhamento evidenciaram a necessidade
de se discutir o diagnóstico precoce e em curso, bem como a necessidade
de articulação entre as diferentes instituições sociais para essa ação,
afinal, sendo um “transtorno persuasivo e permanente, não havendo cura
[...]”, (SBP, 2019, p. 3), quanto mais cedo aconteçam os encaminhamentos
necessários, melhores serão as condições de vida e prognóstico para as
crianças que estejam no TEA.
22 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Conceito e Características do Transtorno


do Espectro Autista – TEA
Figura 5 - A criança que evita o contato

Fonte: ©Freepik.

Para entendermos a especificação atual do TEA, teremos como


fonte o DSM-V, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,
documento da American Psychiatric Association que classifica e organiza
os critérios relacionados aos transtornos mentais. Esse documento
tem como objetivo estabelecer fontes, protocolos e informações que
permitam diagnósticos mais confiáveis dos transtornos, entretanto,
enfatiza que apesar do seu conteúdo ter se tornado referência para a
prática clínica, seu texto necessita sempre da interpretação e do bom-
senso do profissional que o lê, sendo o DSM um guia prático, funcional e
flexível para organizar informações que podem auxiliar o diagnóstico e a
coleta de evidências.

Reforçando sempre que, por mais que seja pensado para a prática
clínica, o DSM se propõe a vários contextos, sendo utilizado por diversas
áreas, inclusive na educação, com a finalidade de refinar o olhar dos
profissionais que atuam na diversidade e prezam por uma educação
verdadeiramente inclusiva, possibilitando a esses conhecer de forma
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 23

mais estruturada os sintomas, as características e os eventos relacionados


às doenças e transtornos que habitam os espaços escolares.

Sobre o TEA, a versão de 2015 do DSM avança em dois sentidos.


Primeiramente, por ampliar seu texto para as representações de questões
de desenvolvimento relacionadas ao diagnóstico e, em seguida, por
sedimentar uma nova abordagem e classificação em relação ao transtorno.

O Transtorno do Espectro Autista – TEA é definido como


um transtorno do desenvolvimento neurológico que resulta em
dificuldades de comunicação e interação social, bem como na presença
de comportamentos ou interesses restritos ou repetitivos. Tais sintomas
nucleares são recorrentes nos indivíduos diagnosticados no TEA
em graduações variáveis, resultando na adoção do termo “espectro
autista”, que engloba a heterogeneidade de respostas aos estímulos, às
habilidades mantidas e aos prejuízos evidenciados (HÖHER CAMARGO;
BOSA, 2009; SCHWARTZMAN, 2011).

DEFINIÇÃO:
O Transtorno do Espectro Autista se refere a um transtorno
pervasivo e permanente, não havendo cura, ainda que a
intervenção precoce possa alterar o prognóstico e suavizar
os sintomas. Além disso, é importante enfatizar que o
impacto econômico na família e no país também será
alterado pela intervenção precoce intensiva e baseada em
evidência (SBP, 2019, p. 1).

O DSM-V apresenta em seu texto a fusão de transtorno autista,


transtorno de Asperger e transtorno global do desenvolvimento em
uma categoria denominada Transtorno do Espectro Autista – TEA,
por considerar que os sintomas desses transtornos representam um
continuum único de prejuízos com intensidades que vão de leve a grave
nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos
e repetitivos em vez de constituir transtornos distintos. Essa mudança
permite maior sensibilidade e especificidade no diagnóstico do TEA e
melhor acompanhamento e tratamento dos prejuízos observados.
24 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Tabela 1 - Sinais de alerta para o TEA

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria (2019, p. 3).

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é possível


relacionarmos os seguintes sinais como indicativos do TEA, caso estejam
presentes antes dos 12 meses de idade:

•• Perder habilidades já adquiridas, como balbucio ou gesto dêitico


de alcançar, contato ocular ou sorriso social.

•• Não se voltar para sons, ruídos e vozes no ambiente.

•• Não apresentar sorriso social.

•• Baixo contato ocular e deficiência no olhar sustentado.

•• Baixa atenção à face humana (preferência por objetos).

•• Demonstrar maior interesse por objetos do que por pessoas.

•• Não seguir objetos e pessoas próximos em movimento.

•• Apresentar pouca ou nenhuma vocalização.

•• Não aceitar o toque.

•• Não responder ao nome.

•• Imitação pobre.

•• Baixa frequência de sorriso e reciprocidade social, bem como restrito


engajamento social (pouca iniciativa e baixa disponibilidade de resposta).
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 25

•• Interesses não usuais, como fixação em estímulos sensório-viso-


motores.

•• Incômodo incomum com sons altos.

•• Distúrbio de sono moderado ou grave.

•• Irritabilidade no colo e pouca responsividade no momento da


amamentação (SBP, 2019, p. 2).

Sobre a definição do Transtorno do Espectro Autista - TEA, o DSM-V


globalmente o aponta como “déficits persistentes na comunicação social
e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo
que segue, atualmente ou por história prévia [...]” (2015, p. 50), classificado
por níveis, conforme o quadro a seguir:
Quadro 1 - Níveis de gravidade do TEA

NÍVEL DE COMPORTAMENTOS
COMUNICAÇÃO SOCIAL
GRAVIDADE RESTRITIVOS E REPETITIVOS

Déficits graves nas habilidades de


comunicação social verbal e não
verbal causam prejuízos graves de Inflexibilidade de comportamento,
funcionamento, grande limitação extrema dificuldade em lidar
em dar início a interações sociais com a mudança ou outros
Nível 3 e resposta mínima a aberturas comportamentos restritos/
“Exigindo sociais que partem de outros. Por repetitivos interferem
apoio muito exemplo, uma pessoa com fala acentuadamente no
substancial” inteligível de poucas palavras que funcionamento em todas as
raramente inicia as interações e, esferas. Grande sofrimento/
quando o faz, tem abordagens dificuldade para mudar o foco ou
incomuns apenas para satisfazer a as ações.
necessidades e reage somente a
abordagens sociais muito diretas.

Déficits graves nas habilidades de


comunicação social verbal e não Inflexibilidade do
verbal; prejuízos sociais aparentes comportamento, dificuldade de
mesmo na presença de apoio; lidar com a mudança ou outros
limitação em dar início a interações comportamentos restritos/
Nível 2 sociais e resposta reduzida ou repetitivos que aparecem com
“Exigindo apoio anormal a aberturas sociais que frequência suficiente para serem
substancial” partem de outros. Por exemplo, óbvios ao observador casual e
uma pessoa que fala frases interferem no funcionamento
simples, cuja interação se limita a em uma variedade de contextos.
interesses especiais reduzidos e Sofrimento e/ou dificuldade
que apresenta comunicação não de mudar o foco ou as ações.
verbal acentuadamente estranha.
26 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Na ausência de apoio, déficits


na comunicação social causam
prejuízos notáveis. Dificuldade
para iniciar interações sociais e
exemplos claros de respostas
Inflexibilidade de comportamento
atípicas ou sem sucesso a aberturas
causa interferência significativa
sociais dos outros. Pode parecer
no funcionamento em um ou
Nível 1 apresentar interesse reduzido por
mais contextos. Dificuldade em
“Exigindo apoio” interações sociais. Por exemplo,
trocar de atividade. Problemas
uma pessoa que consegue falar
para organização e planejamento
frases completas e envolver-
são obstáculos à independência.
se na comunicação, embora
apresente falhas na conversação
com os outros e cujas tentativas
de fazer amizades são estranhas
e comumente malsucedidas.

Fonte: DSM-V (2015, p. 52).

Sobre o diagnóstico precoce, o DSM-V aponta que os sintomas são


passíveis de serem reconhecidos durante o segundo ano de vida, dos
12 aos 24 meses e, em casos mais graves, são perceptíveis antes dos 12
meses, sendo o padrão inicial marcado por manifestações como:

“[...] atrasos precoces do desenvolvimento ou quaisquer perdas de


habilidades sociais ou linguísticas” (DSM-V 2015, p. 58). Relatos familiares
respaldam essas percepções, conforme apontado no documento, pais ou
cuidadores identificam “[...] deterioração gradual ou relativamente rápida
em comportamentos sociais ou nas habilidades linguísticas” (DSM-V 2015,
p. 63), no período entre 12 e 24 meses de idade, sendo raros os casos de
regressão do desenvolvimento que ocorrem após pelo menos 2 anos de
desenvolvimento normal.

Portanto, as características comportamentais do TEA são evidentes


na primeira infância, principalmente no que se refere à falta de interesse
em interações sociais no primeiro ano de vida, estagnação ou regressão
no desenvolvimento com uma deterioração gradual ou relativamente
rápida em comportamentos sociais ou uso da linguagem, habitualmente
durante os dois primeiros anos de vida, sendo raras essas evidências em
outros transtornos relacionados à infância. Como exemplos cotidianos
desses apontamentos, podemos citar, de acordo com o DSM-V (2015):
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 27

a. Puxar as pessoas pela mão sem nenhuma tentativa de olhar para


elas.

b. Carregar brinquedos, mas nunca brincar com eles.

c. Conhecer o alfabeto, mas não responder ao próprio nome.

d. Ingerir os mesmos alimentos.

e. Assistir muitas vezes ao mesmo filme.

f. Alinhar os objetos durante horas e sofrer bastante quando algum


deles é movimentado.

Ainda sobre questões precoces, o DSM-V aponta que o TEA não é


um transtorno degenerativo, o que, portanto, indica um cenário favorável
para a intervenção precoce, pois as aprendizagens e compensações serão
contínuas e persistentes ao longo da vida o que contribuirá para melhor
qualidade de vida da criança havendo atendimento adequado, afinal:
[...] os sintomas são frequentemente mais acentuados na
primeira infância e nos primeiros anos da vida escolar,
com ganhos no desenvolvimento sendo frequentes no
fim da infância pelo menos em certas áreas (por exemplo,
aumento no interesse por interações sociais). (DSM-V,
2015, p. 69)

Portanto, o DSM-V indica que, embora as crianças diagnosticadas


no TEA apresentem dificuldades em comportamentos que regulam
a interação social e a comunicação, com diferentes níveis de interesse
na reciprocidade social e emocional (GÓMEZ; TORRES; ARES, 2009;
NOGUEIRA, 2009), é fato que, cada qual em sua especificidade, todos
possuem potencialidades apesar das dificuldades centrais do espectro.

A intervenção terapêutica, mais que minimizar os sintomas do


TEA na visão de “homogeneizar comportamentos típicos”, estabelece
recursos, ferramentas e caminhos para que as crianças possam melhor
interagir, cada qual à sua maneira, respeitando sua condição individual.
E, quanto mais cedo acontecer a intervenção, melhores oportunidades
serão dadas às crianças.

Essas indicações e apontamentos propostos no Manual são


fundamentais para reforçar a importância da estimulação precoce nas
28 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

crianças em suspeita ou diagnosticadas no TEA, afinal, quanto mais


cedo, mais se aproveita o período sensitivo oportunizado pelas janelas no
cérebro da criança.

De forma precoce e intensiva, o plano terapêutico é fundamental


para a qualidade de vida e, por uma perspectiva inclusiva, o respeito à
diversidade exige a compreensão de que a diferença não precisa ser
“curada”, tampouco o comportamento do indivíduo deve ser pensado ou
almejado pela perspectiva do que é “normal” apenas pelo fato de não
ser recorrente em neurotípicos. Toda e qualquer intervenção ou proposta
assistiva deverá ter como único objetivo a qualidade de vida da criança, o
desenvolvimento de sua autonomia e de suas potencialidades.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que utilizamos como referência o Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V para falar
sobre o Transtorno do Espectro Autista, afinal, é nessa
publicação que promove a mudança de perspectiva sobre
essa condição e que permite melhor entendê-la como
um espectro, que é variável em nível e em características.
Ainda, foram apresentadas as características que indicam
a presença do espectro, sendo a principal condição o
atraso no desenvolvimento da linguagem com prejuízo
na interação social. Por fim, esperamos que você tenha
percebido que os indivíduos que estão no espectro
são diversos: nem todos apresentam altas habilidades,
agressividade acentuada, são não verbais ou não gostam
de ser tocados. Cabe ao professor perceber e conhecer seu
estudante, permitindo-lhe expressar suas potencialidades
e necessidades.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 29

TDAH e TOD

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar


e compreender o Transtorno de Déficit de Atenção/
Hiperatividade, conhecendo suas características e
avançando para desconstruir a lógica de que “é moda,
todos hoje têm TDA/H”. Propomos apresentar o TOD
– Transtorno de Oposição Desafiante, com o intuito de
esclarecer e diferenciar esses dois transtornos que, muitas
vezes, são confundidos e, por serem diferentes em sua
origem, necessitam de encaminhamentos e abordagens
distintas. Isso será fundamental para o exercício de sua
profissão. As pessoas que se depararem com estudantes
com TDA/H e que não tiverem a devida instrução, poderão
prejudicar significativamente o desenvolvimento desses
indivíduos, optando por práticas ineficazes e que, ao invés
de contribuir, podem até prejudicar e traumatizar. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!.

Transtorno de Déficit de Atenção/


Hiperatividade – TDA/H: contexto
É comum aparecerem em algumas reportagens, em diversos
canais de comunicação, crianças que “não param, atrapalham, parecem
não ter limites” e que, “são tão mal-educadas que nada parece dar jeito”.
Temos aquelas que parecem estar “no mundo da lua”, que veio para
escola “mas parece que não chegou”. Transpondo essas condições para a
aprendizagem, esses comportamentos são essenciais para o sucesso ou
fracasso do processo.

Entretanto, nesse universo de indivíduos que “perturbam a ordem”


do contexto, temos desde crianças que, de fato, precisam de reguladores
simples de comportamento, que apresentam questões de saúde e de
rotina que podem ser trabalhadas, como o horário correto para dormir.
30 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Em outros casos, temos crianças que, apesar de todos os esforços


nesse sentido por parte da família e dos demais adultos relacionados,
ainda sim, persistem nessas características, reforçando que, apesar das
mudanças e reestruturações ambientais, há algo intrínseco a ela que a
faz agir, comportar-se e se relacionar dessa forma. Muitas dessas crianças
podem ter Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade –
TDA/H, tema desse nosso tópico de estudo.

As primeiras menções acerca de crianças com características


semelhantes ao quadro do TDA/H datam do século XIX, principalmente
na literatura infantil, sendo traduzida para a Língua Portuguesa em 1950
retratando as “crianças danadas”. Dentre os títulos estão “João Felpudo” e
“Juca e Chico”.
Figura 6 - Capas dos livros de literatura infantil

Fontes: @Amazon.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 31

Assim como a trajetória de todos os outros transtornos, com


o TDA/H não foi diferente. Sua identificação ocorreu em instituições
psiquiátricas e, nesses casos, em situações inconcebíveis em tempos
após a reforma psiquiátrica que aconteceu no Brasil em 2001, em vigor
com a Lei Federal nº 10.216.

SAIBA MAIS:

Indicamos a leitura da Lei Federal nº 10.216, promulgada em


2001 após o Brasil ter se tornado signatário da Declaração
de Caracas em 1990, que previa a reforma e reestruturação
da assistência psiquiátrica. Você pode acessar o documento
aqui.

Nessa trajetória, o que é importante para nossa aprendizagem e que


precisamos compreender é que o TDA/H não é algo recente. Enquanto
princípio ético, torna-se obrigação dos profissionais desconstruir a ideia
de que indivíduos com esse transtorno são assim porque “simplesmente
não foram educados”, que é “moda”, e que toda criança “mal-educada ou
avoada agora tem desculpa, pois, é TDA/H”.

O TDA/H é algo real e, apesar de seu diagnóstico ser clínico e de


não haver qualquer lesão cerebral, os estudos epidemiológicos realizados
em diversos países comprovam que o TDA/H não é secundário a fatores
ambientais, ou seja, não está relacionado à falta de limites por parte dos
pais ou à conflitos psicológicos. Segundo apontam Polanczyck et al.
(2007), com dados de 2005, cerca de 5% da população infantil tem TDA/H,
fazendo com que seja indispensável a construção de conceitos e saberes
relacionados a esse transtorno.

Conceito e Características
É fundamental termos o conceito do TDA/H bem esclarecido para
avançar em qualquer sondagem pedagógica. Para isso, destacamos sua
característica essencial:
32 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

DEFINIÇÃO:
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: é um
padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-
impulsividade que interfere no funcionamento ou no
desenvolvimento (DSM-V, 2014).

As primeiras características que precisam ser esclarecidas são:


desatenção, hiperatividade e impulsividade. Essas que não devem ficar
restritas ao senso comum, afinal, ao tratarmos de um transtorno/déficit,
alguns padrões devem ser assegurados.

A desatenção tem evidência comportamental e se manifesta das


seguintes formas:

•• Divagação em tarefas.

•• Falta de persistência.

•• Dificuldade de manter o foco.

•• Desorganização.

Não pode ser confundida com falta de compreensão, seja pela


dificuldade do desafio proposto, seja por causa da demanda. Nesses
casos, poderá haver indicativo de outras questões cognitivas.
Figura 7 - Dificuldade

Fonte: ©Pixabay.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 33

Já a hiperatividade está relacionada à atividade motora excessiva.


É aquela criança que se mexe a todo o momento mesmo quanto está
concentrada, “batuca” objetos ou partes do corpo ou, conversa em
excesso. Suas ações são a manifestação de inquietude extrema e gera o
esgotamento dos outros e de si na realização das atividades diárias.

É importante estarmos atentos para não confundir o que é tido


como normalidade da atividade infantil: expressão, oralidade, movimento
e atividade, com as características do TDA/H, pois no caso do transtorno
é algo que se manifesta para além do aceitável, gerando prejuízos sociais.

Diferente da hiperatividade, a impulsividade se refere ao “agir


sem pensar”, e estas são as ações precipitadas e sem premeditação,
com elevado potencial de dano ao indivíduo. Essa característica está
relacionada ao imediatismo e à dificuldade de postergar desejos e
recompensar. A impulsividade se manifesta de várias formas, como sair
correndo e atravessar a rua, até interrupções excessivas de conversas.
Figura 8 - Conversa excessiva na sala de aula

Fonte: @Freepik.
34 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

VOCÊ SABIA?
Para conhecer mais sobre o TDA/H, você pode contar com
a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), que é
uma associação de pacientes sem fins lucrativos, fundada
em 1999, com o objetivo de disseminar informações
corretas, baseadas em pesquisas científicas, sobre o
Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH).
Além disso, essa instituição oferece suporte às pessoas
com esse transtorno e a seus familiares através de grupos
de apoio, atendimento telefônico e resposta a e-mails e
postagens de conteúdos em nosso site que é tido como
referência nacional na web, com uma média de 200 mil
visitas mensais. Para acessar as informações, clique aqui

Outro indicativo fundamental para que de fato o TDA/H seja


considerado, é o de que as manifestações do transtorno devem ocorrer
em pelo menos dois ambientes distintos, mesmo que as formas e
amplitudes sejam diferentes.

Implicações na Aprendizagem
Em relação à aprendizagem, o TDA/H resulta em:
desempenho escolar e sucesso acadêmico reduzido,
rejeição social e, nos adultos, piores desempenhos,
sucesso e assiduidade no campo profissional e a maior
probabilidade de desemprego, além de altos níveis de
conflito interpessoal. (DSM-V, 2014, p. 69)

Porém, a diferença entre “sucesso” e “fracasso” acadêmico


está diretamente relacionada ao diagnóstico e ao acompanhamento
multidisciplinar aos quais as crianças terão acesso. Questões relacionadas
à autodeterminação precisarão ser ajustadas e ao profissional da
educação caberá o olhar sensível da compreensão de que não se trata de
“preguiça”, “irresponsabilidade” ou “falta de cooperação”, mas sim de uma
condição em que, assim como se constroem rampas para cadeirantes,
será necessário construir acessos para que os estudantes com TDA/H
consigam cumprir com seus objetivos de aprendizagem.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 35

Figura 9 - Adequação de atividade

Fonte: Acervo da autora (2019).

Na figura 9, observa-se uma atividade fracionada em etapas


com recurso do desenho. Ao final, o estudante formalizou o registro do
processo abstrato no caderno.
Figura 10 - Atividade etapa recurso desenho

Fonte: Acervo da autora (2019).


36 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Mais que modelos ou receitas mágicas, os estudantes com TDA/H


precisam de oportunidades e professores capacitados a atendê-los na
mediação de sua aprendizagem.

O primeiro passo é conhecer o transtorno e suas implicações,


para depois abordar o Transtorno de oposição desafiante – TOD, que
muitas vezes é confundido com o TDA/H, porém, com especificações e
necessidades singulares, tema do próximo subitem.

Transtorno de Oposição dDsafiante –


TOD: Conceito e Características
Esse transtorno, diferente do TDA/H, não está categorizado como
um transtorno do neurodesenvolvimento, mas sim como um tCuintes
condições para que se considere a possibilidade desse transtorno:

•• Comportamentos que causam prejuízos significativos em seu


funcionamento social.

•• Ataques de raiva com incidência constante e regular.

•• Destruição de propriedades, objetos e ou similares, causando


prejuízos significativos em vários aspectos.

•• Auto percepção da raiva e dos comportamentos como uma reação


adequada às situações vividas.

Dessa forma, observamos que os comportamentos sintomáticos


fazem parte de um padrão de interação, sendo descartados do transtorno
indivíduos reativos em eventos isolados. Em amostragem, o TOD aparece
relacionado ao TDA/H: crianças que tem TDA/H têm maior probabilidade
de apresentarem TOD, em condições que, articuladas, implicam um
grande desafio para educadores e demais profissionais da área da
aprendizagem.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 37

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o TOD, assista à entrevista cedida ao
Programa Ver+ Londrina, em que a psicopedagoga Thayssa
Brasil fala sobre a condição que altera o comportamento da
criança e a torna mais irritada e indisciplinada. Acesse aqui

É fundamental que tenhamos a compreensão de que,


independentemente do transtorno que discutimos até aqui, a ação para
a aprendizagem não se faz sozinha. Para melhor acolher e potencializar
processos e práticas, faz-se necessário que as crianças que estejam no
TEA, que tenham TDA/H ou TOD, recebam atendimento adequado
multidisciplinar, de preferência integrado, no qual a escola e professores
sejam capacitados a lidar com as situações relacionadas ao comportamento,
para assi, avançar no processo de ensino, sendo capaz de minimizar
qualquer prejuízo emocional, social, acadêmico e profissional do indivíduo.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o
TDA/H é uma condição que exige um acompanhamento
específico do estudante e que não se trata apenas de “mau
comportamento” ou de determinado indivíduo ser mais ativo
que os demais, e, sim, de algo que está relacionado ao dano
social que a condição causa em sua vida e nas relações
estabelecidas. Para que se considere essa possibilidade, são
necessárias que algumas características sejam persistentes e
evidentes: não é um caso isolado com determinada pessoa,
mas eventos que persistem apesar das mudanças ambientais
e das adequações externas. Falamos também sobre o TOD,
que é outro transtorno que se destaca e que, por vezes, pode
ser confundido com o TDA/H, mas, por serem diferentes em
sua origem, é necessário acompanhamentos e intervenções
diferentes sob o olhar atento daqueles que interagem com
o estudante, sendo uma ação fundamental para orientar a
investigação necessária.
38 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Transtornos Específicos da Aprendizagem

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


o Transtorno Específico da Aprendizagem ou dislexia,
disgrafia e discalculia, conhecendo suas principais
características e evidências para uma melhor abordagem
pedagógica junto aos estudantes com esses transtornos.
Isto será fundamental para o exercício de sua profissão.
As pessoas que desconhecem ou têm conhecimentos
superficiais acerca dessas condições podem entender os
déficits decorrentes do transtorno como dificuldades, o que
prejudicaria o atendimento que os estudantes necessitam
e a possibilidade de seu pleno desenvolvimento. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!.

Identificação do Transtorno Específico da


Aprendizagem
Nesse estudo, vamos discutir o Transtorno Específico da
Aprendizagem e, apesar de termos seguido como referência o DSM-V,
nele os termos “dislexia” e “discalculia” aparecerem como alternativos,
por esses serem mais constantes no campo pedagógico. No entanto,
optamos por utilizá-los no texto desde o início. Ao discutirmos o Transtorno
Específico da Aprendizagem, falaremos especificamente da dislexia, da
disgrafia e da discalculia.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 39

DEFINIÇÃO:
A dislexia, disgrafia e discalculia são transtornos do
neurodesenvolvimento, têm origem biológica, no
qual anormalidades no nível cognitivo são associadas
às manifestações comportamentais. Portanto, são
provenientes de uma interação de fatores genéticos,
epigenéticos e ambientais que têm como resultados a
alteração da capacidade do cérebro na percepção e/ou
processamento de informações verbais ou não verbais com
eficiência e precisão. Estão diretamente relacionados às
habilidades acadêmicas como leitura, escrita e raciocínio
matemático.

Em aspectos gerais, essas três condições impactam as atividades


que precisam ser ensinadas e aprendidas de forma explícita e intencional,
como ocorre na escola. Apesar de relacionados primeiramente à língua
portuguesa e à matemática, o déficit de aprendizagem nessas áreas se
reflete nas demais áreas do conhecimento, uma vez que a leitura e o
raciocínio lógico são pré-requisitos em qualquer área.

A partir dessas considerações gerais e tendo já discutido em


oportunidades anteriores a diferenciação entre dificuldade e transtorno
ou déficit, é preciso se atentar para qualquer dificuldade que persista por
mais de 6 (seis) meses, em casos nos quais as habilidades acadêmicas
estejam significativamente abaixo da média prevista para a relação idade/
ano escolar.

Além disso, caso já se tenha descartado a possibilidade de deficiência


intelectual, de perda ou deficiência visual, auditiva, de outros transtornos
do neurodesenvolvimento, como TEA e TDA/H, e de influência de fatores
socioculturais, como a questão da língua materna (crianças estrangeiras),
atribuições normativas previstas no DSM-V (2014) que atendam qualquer
um dos indicativos a seguir passam a ser encaradas como um Transtorno
Específico da Aprendizagem.
40 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

1. Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (por


exemplo, o indivíduo lê palavras isoladas em voz alta, de forma
incorreta ou lenta e hesitante, frequentemente adivinha palavras,
tem dificuldade de soletrá-las).

2. Dificuldade para compreender o sentido do que é lido (por exemplo,


a pessoa pode ler o texto com precisão, mas não compreende
a sequência, as relações, as inferências ou os sentidos mais
profundos do que é lido).

3. Dificuldades para escrita ortográfica (por exemplo, a pessoa pode


adicionar, omitir ou substituir vogais e consoantes).

4. Dificuldades com a expressão escrita (por exemplo, a pessoa


comete múltiplos erros de gramática ou pontuação nas frases;
emprega organização inadequada de parágrafos e expressão
escrita das ideias sem clareza).

5. Dificuldades para dominar o senso numérico, fatos numéricos


ou cálculo (por exemplo, o indivíduo entende números, sua
magnitude e relações de forma insatisfatória; conta com os dedos
para adicionar números de um dígito em vez de lembrar o fato
aritmético, como fazem os colegas; perde-se no meio de cálculos
aritméticos e pode trocar as operações).

6. Dificuldades no raciocínio (por exemplo, a pessoa tem grave


dificuldade em aplicar conceitos, fatos ou operações matemáticas
para solucionar problemas quantitativos).

É fundamental destacarmos que as especificidades desses


transtornos em suas características podem se manifestar em níveis
diferentes:
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 41

Quadro 2 - Níveis dos transtornos/déficits de aprendizagem

LEVE MODERADO GRAVE


Dificuldades graves
Dificuldades
em aprender
acentuadas em
habilidades, afetando
Alguma dificuldade aprender habilidades
vários domínios
em aprender em um ou mais
acadêmicos, de modo
habilidades em um domínios acadêmicos,
que é improvável que
ou dois domínios de modo que é
o indivíduo aprenda
acadêmicos, mas improvável que o
essas habilidades
com gravidade indivíduo se torne
sem um ensino
suficientemente proficiente sem
individualizado
leve que permita alguns intervalos de
e especializado
ao indivíduo ser ensino intensivo e
contínuo durante a
capaz de compensar especializado durante
maior parte dos anos
ou funcionar os anos escolares.
escolares. Mesmo
bem quando lhe Algumas adaptações
com um conjunto
são propiciadas ou serviços de apoio
de adaptações ou
adaptações ou por pelo menos
serviços de apoio
serviços de apoio parte do dia na
adequados em casa,
adequados, escola, no trabalho
na escola ou no
especialmente ou em casa podem
trabalho, o indivíduo
durante os anos ser necessários
pode não ser capaz
escolares. para completar as
de completar todas
atividades de forma
as atividades de
precisa e eficiente.
forma eficiente.
Fonte: adaptado de DSM-V (2014).

Agora, já que apresentamos de forma geral os transtornos,


avançaremos para cada um especificamente.

Dislexia
As dificuldades decorrentes desse transtorno são caracterizadas
pela dificuldade de precisão e/ou fluência na leitura de palavras e baixa
42 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

competência para decodificação e soletração. O déficit está centrado no


processamento fonológico, resultando em:

•• Leitura imprecisa ou lenta, que demanda muito esforço.

•• Dificuldade na compreensão do sentido do que é lido.

•• Consequente dificuldade na escrita com supressão de letras ou


trocas.

Assim, a “palavra de ouro” relacionada à dislexia é: processamento


fonológico. E, em associação, as características sintomáticas:
Figura 11 - Dislexia

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Novamente, diagnosticado o transtorno, o trabalho pedagógico


demandará adequação e flexibilização, principalmente no processo
avaliativo. Sempre é importante que relembremos: todo o acompanhamento
é multidisciplinar e as melhores estratégias para ensinar e aprender, apesar
de ser óbvio, são aquelas que surtem resultados e apenas a prática e o
conhecimento aprofundado do estudante, integrado com o olhar sensível
e consciente do professor, é que poderá prover o que é necessário em
termos metodológicos e instrumentais.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 43

Disgrafia
A Disgrafia está relacionada aos distúrbios da motricidade fina e
da motricidade ampla, bem como aos distúrbios de coordenação viso-
motora, deficiência da organização têmporo-espacial, lateralidade e
direcionalidade (CINEL, 2003).
Figura 12 - Exemplo de uma produção – DISGRAFIA

Fonte: Acervo particular da autora (2018).

Como podemos perceber na Figura 12, temos algumas


características de destaque na escrita disgráfica:

•• Falta de precisão na ortografia.

•• Falta de precisão na gramática e na pontuação.

•• Falta de clareza ou organização da expressão escrita.

Para Cinel (2003), esse aspecto da escrita se dá em decorrência


de a mão que segura o lápis “não obedecer” ao trajeto estabelecido,
resultando em inversão de letras e combinações silábicas ou inversão do
sentido da escrita, sobrepondo frases. Nesse sentido, se pensarmos na
prática pedagógica, é preciso que se reeduque o grafismo e, para isto,
faz-se necessário: promover e qualificar o desenvolvimento psicomotor,
44 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

treinar a postura, o controle corporal, a dissociação de movimentos e


as práticas que privilegiem a coordenação motora fina, lateralidade e
coordenação viso-motora (CAMARGO, 2008; COELHO, 2012).

Discalculia
Figura 13 - Discalculia

Fonte: @Freepik.

A discalculia é um transtorno polêmico, pois está relacionada à


matemática e culturalmente essa área de conhecimento já é densa e
complexa. Outros elementos “mascaram” o transtorno, tais como: o déficit
de formação dos professores dos anos iniciais para trabalhar com essa
disciplina ou até estratégias tradicionais que não privilegiam a necessidade
de aprendizagem dos estudantes.

Enfim, são inúmeros os fatores que fazem com que o diagnóstico


possa ser encarado apenas como uma dificuldade corriqueira. Entretanto,
a discalculia é um transtorno do neurodesenvolvimento que resulta em
um distúrbio de aprendizagem específico das habilidades matemáticas
devido a “um comprometimento funcional específico do sistema nervoso
central que requer avaliação e tratamento especializado” (RIBEIRO; DOS
SANTOS, 2011, p. 94).
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 45

Como características, esse transtorno implica dificuldades nas


relações pertinentes ao(à):

•• Senso numérico.

•• Memorização de fatos aritméticos.

•• Precisão ou fluência de cálculo.

•• Precisão no raciocínio matemático.

ACESSE:

No programa “De Tudo um Pouco”, da Rede Super, a


psicopedagoga Roneida Gontijo explica como identificar
possíveis sintomas da discalculia. Ela ainda fala de alguns
brinquedos e brincadeiras que podem ajudar a enfrentar o
problema. Para acessar o vídeo, clique aqui.

A discalculia pode se manifestar de seis formas. São elas: verbal,


practognóstica, léxica, gráfica, ideognóstica e operacional (KOSC, 1974
apud BERNARDI, 2006, p. 245). Cada especificação determina o foco em
habilidades particulares.

Veja no quadro a seguir as características de cada tipologia:


Figura 14 - Esquema de tipos de discalculia

Fonte: Adaptado de Kosc (1974 apud BERNARDI, 2006).


46 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

São variáveis as possibilidades de dificuldades relacionadas à


discalculia, porém, é preciso relembrar que cada caso apenas será
compreendido como transtorno se cumprir com os pré-requisitos
indicados no início desse texto, contemplando as características
específicas da área (dislexia, disgrafia ou discalculia).

Por fim, é fato que o transtorno específico da aprendizagem, se


não acompanhado e tratado, resultará em consequências funcionais
negativas ao longo da vida dos indivíduos, não apenas no desempenho
acadêmico, ampliando as taxas de retenção e de evasão, mas também
causando sofrimento psicológico e piora da saúde mental geral.

Por mais que pedagogos, psicopedagogos, educadores,


professores ou outros profissionais específicos não possam resolver essas
questões sozinhos, é possível, por meio da formação adequada, amparar,
acolher e encaminhar esses estudantes, prezando, no espaço escolar, por
aquilo que lhes é direito: atendimento educacional adequado com vistas
à Educação Inclusiva.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que, segundo o DSM-V, o Transtorno de Aprendizagem é
aquele que se manifesta no período escolar, pois é o déficit
em aprender aquilo que é ensinado de forma explícita. Ao
optarmos por dividi-lo em três derivações (dislexia, disgrafia
e discalculia), esperamos que você tenha aprendido que:

1. Dislexia está relacionada à consciência fonológica, resultando em


déficit significativo na leitura e na compreensão do que é lido.

2. Disgrafia está relacionada à motricidade fina, resultando em déficit


significativo da produção escrita, ortografia e organização espacial.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 47

3. Discalculia está relacionada à aprendizagem dos conceitos matemáticos,


resultando em déficit significativo no pensamento lógico-matemático e
na abstração de conceitos relacionados a essa área.

Por fim, assim como em relação a todos os demais transtornos


apresentados no material, esperamos que tenham concebido a essência
do processo educacional inclusivo: conhecer os transtornos não para
diagnosticar, mas para, a partir dessa instrumentalização, qualificar
práticas para que os estudantes tenham a oportunidade de aprender e
desenvolver seu potencial, minimizando os danos relacionados à vida
social, à condição emocional e à inserção profissional.
48 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

REFERÊNCIAS
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estatístico de transtornos mentais: DSM-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
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SANTOS, M. F. S. A Teoria das Representações Sociais. In: SANTOS,


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