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Universidade Presbiteriana Mackenzie

As Funções dos Princípios no


Ordenamento Jurídico Processual

Maria da Graça Piffer Rodrigues Costa


As Funções dos Princípios no Ordenamento Jurídico Processual

Tarefa – Trilha 7

Os princípios jurídicos são de grande importância não apenas para o


cenário jurídico, mas, também para a sociedade como um todo, porque tem a
função de fundamentar a ordem jurídica a qual se encontra inserido, sendo o
berço do estado democrático de direito. Ou seja, é raiz das ideias básicas que
fundamentam o Direito Positivo.

O ilustre jurista Celso Antônio Bandeira de Mello ensina que


Princípio é o "mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele,
disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes
o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência,
exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que
lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico…".

Quando analisamos o conjunto de princípios existentes percebemos


que eles podem ser classificados como onivalentes, que são aqueles princípios
que podem ser aplicados a todas as ciências; ou plurivalentes, que são aqueles
princípios que são aplicados a algumas ciências; ou monovalentes, que são
aqueles princípios que são utilizados em apenas uma ciência.

No plano da teoria geral do processo podemos classificar os


princípios como sendo os princípios processuais gerais ou princípios
fundamentais que se divide em constitucional e infraconstitucional e nos
princípios informativos.

No que concerne às funções pertinentes aos princípios norteadores


da ordem jurídica são: Função Fundamentadora, Função Interpretativa e
agindo como Fonte Subsidiária.

Nessa pequena dissertação vou ater-me a alguns dos princípios


constitucionais processuais, ou seja, aqueles que podemos localizar na
Constituição seus alicerces.

Função Fundamentadora

Os princípios são instrumentos que agem com a função de


fundamentar a ordem jurídica, sendo a base/alicerce fundamenta o Direito
Positivo.

Essa função fundamentadora do princípio determina que a norma


jurídica seja, de fato, aplicada dentro dos padrões normativos, já previamente
estipulados, descartando decisões pautadas na vontade particular do jurista ou
operador do direito. As decisões, para surtir efeitos legais, devem estar
fundamentadas em dispositivos normativos que têm como base os princípios.
Construir o Direito a partir de seus textos normativos é atuar no
mundo de modo objetivo, embora não seja um atuar neutro, dado que o Direito
é ciência humana com a pretensão de influenciar a realidade, reconhecendo a
influência recíproca que une o ser e o dever-ser.

Desta forma, conclui-se que os princípios são como vigas mestras


do sistema jurídico, que se encontram no patamar mais alto da pirâmide
normativa e dão embasamento à toda a ordem jurídica vigente.

Função Interpretativa

Nesta função os princípios norteiam a interpretação dos operadores


do direito, trilhando o raciocínio lógico-jurídico. É o que salienta Luís Roberto
Barroso (1998, p.148) acerca dessa função interpretativa dos princípios:

“O ponto de partida do intérprete há que ser sempre os princípios


constitucionais, que são o conjunto de normas que espelham a
ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus fins. Dito
de forma sumária, os princípios constitucionais são as normas
eleitas pelo constituinte com fundamentos ou qualificações
essenciais da ordem jurídica que institui”.

A atividade interpretativa, contudo, não é atividade mecânica, pois


haverá casos em que o intérprete encontrará antinomias e, ponderar valores
contrapostos, afastar a aplicação de uma regra sobre um caso concreto, sem,
contudo, lhe declarar a invalidade.

Nessa esteira, a interpretação desenvolvida pelos princípios "decorre


logicamente de sua função fundamentadora do direito. Pois as leis são
alicerçadas nos princípios, sendo assim devem ser interpretadas de acordo
com o que postulam os princípios, porque são eles que dão sentido às normas
jurídicas, servindo como verdadeiros pontos de guia e suporte na busca da
melhor interpretação e aplicação da lei ao caso concreto.

Fonte Subsidiária

Essa terceira função dos princípios, o trás no papel de fonte


subsidiária do direito, preenchendo as lacunas apresentadas no ordenamento
jurídico, agindo tão somente na hipótese de ausência da lei a ser aplicada ao
caso concreto.

Assim, o juiz se deparando com a ausência de disposições legais


capazes de suprir a plena eficácia da norma constitucional definidora de direito,
pode se valer de outros meios que se fazem capaz de fazer com que a norma
atinja sua máxima efetividade, como é o caso da analogia, os costumes e, os
princípios gerais de direito.

Importante se faz salientar que os princípios não são mais vistos


como fonte subsidiária, mas sim como fonte primária de aplicação imediata de
direito, ante ao seu caráter vinculante, passou-se a na rotina processual. A sua
credibilidade e eficácia é tamanha que, diante de um caso concreto, ou de um
conflito existente entre uma regra e um princípio, este último será aplicado.

Por fim, é no conturbado cenário de relações jurídicas dinâmicas e


nas mudanças sociais, que se firma a eficácia e aplicabilidade dos princípios
dentro da ordem jurídica por se diferenciarem das regras jurídicas devido a sua
grande abertura e elasticidade. Pois na medida em que a sociedade se
transforma, ele consegue adaptar o direito às novas situações jurídicas, casos
concretos.

No processo, devemos nos ater aos princípios que os norteiam, suas


principais características, seus usos e sua importância para o estudo da Teoria
Geral do Processo. Os princípios processuais constitucionais, genericamente
são os presentes no artigo 5º da Constituição, dentro do Título Dos Direitos e
Garantias Fundamentais, a saber:

Princípio do devido processo legal;


Princípio da isonomia;
Princípio do contraditório e da ampla defesa;
Princípio do juiz natural;
Princípio da inafastabilidade da jurisdição;
Princípio da publicidade dos atos processuais;
Princípio da motivação das decisões;
Princípio do duplo grau de jurisdição;
Princípio da proibição da prova ilícita;
Princípio da Imparcialidade do Juiz;
Princípio do Estado de Inocência;
Princípio da Assistência Judiciária Gratuita;
Princípio da Obrigatoriedade e da Oficialidade.

Dentre estes princípios, sob meu ponto de vista, possuem maior


relevância: o Princípio da Isonomia, do Devido Processo Legal, do
Contraditório e Ampla defesa, Publicidade dos Atos Processuais, da Proibição
da prova ilícita, do Duplo grau de jurisdição e da Motivação das Decisões.

Princípio da Isonomia: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção


de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e os estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade(...)” Art. 5º, caput, CF.

Este princípio é considerado o “pressuposto político de toda


sociedade organizada”. É a certeza que os litigantes têm de que receberão
tratamento idênticos do Juiz. Ou seja, ambas as partes devem gozar das
mesmas faculdades e oportunidades processuais oferecidas durante o
processo.

No entanto, a própria lei especifica as desigualdades. Conforme


amplamente defendido no ordenamento, por vezes, tratar as partes
isonomicamente é tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na
exata proporção de suas igualdades e desigualdades, como por exemplo o
consumidor, o reclamante etc.
Princípio do Devido processo legal: “Ninguém será privado da
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” Art. 5º, LIV, CF.

Muitos doutrinadores consideram o princípio do devido processo


legal como a fonte de todos os demais princípios processuais constitucionais.
Júlio Ricardo de Paula Amaral conceitua este princípio como “uma garantia do
cidadão, constitucionalmente prevista em benefício de todos os cidadãos,
assegurando tanto o exercício do direito de acesso ao Poder Judiciário como o
desenvolvimento processual de acordo com normas previamente
estabelecidas”. Verifica-se apenas se o procedimento empregado está de
acordo com o devido processo legal, sem se cogitar da substância do ato.

Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa: “Aos litigantes, em


processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.” Art.
5º, LV, CF.

O direito ao contraditório é a oportunidade em que os sujeitos de


direito tem de se manifestarem acerca do fato e/ou do direito que está sendo
questionado, em igualdade de condições, seja no âmbito judicial ou no âmbito
administrativo, com o objetivo de assegurar-lhes o trinômio vida-liberdade-
propriedade.

Princípio da Publicidade dos Atos processuais: “A lei só poderá


restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
o interesse social o exigirem”. Art. 5º, LX, CF

Esse princípio também é corolário do princípio do devido processo


legal e da ampla defesa, apresentando duas vertentes: a primeira e dar
conhecimento dos atos processuais aos litigantes. Já a segunda refere-se a dar
o conhecimento à sociedade da atuação do Judiciário e aqueles que, por
ventura, tenham interesse na causa em litígio possam se manifestar.

O nosso ordenamento jurídico adota o princípio da publicidade dos


atos processual restrita, por que apesar de todo o interesse de que o maior
número de pessoas venha a conhecer os processos, existem alguns casos em
que o interesse público exige que o resguardo as partes e os atos processuais
naquele processo específico.

Para os juristas Fábio Ramazzini Bechara e Pedro Franco de


Campos, o princípio da publicidade “visa dar transparência aos atos praticados
durante a persecução penal, de modo a permitir o controle e a fiscalização, e
evitar os abusos”. Mas, como eles continuam, a publicidade absoluta pode
acarretar, às vezes, situações não desejadas, como sensacionalismo,
desprestígio para o réu (ou até mesmo para a vítima) e, em casos extremos,
convulsão social.

Princípio da Inafastabilidade do Judiciário ou do Direito de Ação:


Conforme o art. 5º, XXXV, temos que: “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;”
Da leitura desse inciso, percebemos a existência de duas hipóteses
em que são se pode afastar o Judiciário do pleito dos litigantes. Em primeiro
lugar, não podemos criar normas jurídicas que visam dificultar ou impedir o
acesso dos litigantes; e em segundo lugar, não podemos impedir que o próprio
litigante venha a deixar de ingressar em juízo pleiteando o que entende por
certo.

Em decorrência desse princípio o juiz não poderá deixar de julgar


nenhum processo alegando obscuridade ou lacuna na norma jurídica.

Princípio do Juiz Natural: “Art. 5º - XXXVII – não haverá juízo ou


tribunal de exceção e LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente;”

Além da vedação da criação de tribunais de exceção temos a


garantia de que somente poderemos ser julgados por órgão preexistente e
pelos membros desse órgão devidamente investido de jurisdição.

O Princípio do Juiz Natural acaba se desdobrando em três conceitos


distintos, vejamos:

– Órgãos Competentes: Somente são órgãos jurisdicionais aqueles


que foram instituídos pela Constituição Federal;

– Órgãos Pré-Constituídos: Ninguém pode ser julgado por órgão que


tenha sido criado ou constituído após a ocorrência do fato;

– Juízes Competentes: Entre os juízes pré-constituídos temos uma


ordem de competência específica de tal sorte que além de ser já um juiz é
preciso que tenha competência específica para analisar aquele caso concreto.

Princípio da Celeridade ou Princípio da Brevidade: Com a Emenda


Constitucional no. 45 o art. 5º., LXXVIII passou também a referir-se a essa
garantia, sendo assim: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.

Esse princípio já se encontrava assegurado nas normas


infraconstitucionais, sendo previsto inclusive punições processuais no caso de
apresentarem recursos meramente protelatórios, dentre outras possibilidades.

Princípio da Proteção ao Hipossuficiente: muito aplicado no


processo do trabalho.

No direito material (direito do trabalho) por reconhecer a


hipossuficiência do empregado, trata-se desigualmente os desiguais, por
aplicação do:

- in dubio pro operário – na dúvida, pro trabalhador


- condição mais benéfica – na dúvida, vale a condição mais benéfica
ao trabalhador

- norma mais favorável - na dúvida, vale a norma mais benéfica ao


trabalhador

No Processo do trabalho também há aplicação de regras que


beneficiam aquele que é considerado a parte mais fraca. Exemplos:

- Pagamento de custas ao final - tanto rico quanto pobre podem


entrar na justiça trabalhista

- Pagamento de honorários da perícia ao final do processo o que


não impede o hipossuficiente de realiza-la.

- Se o ausente, o reclamante, o processo será extinto sem resolução


de mérito. Caso o ausente seja o reclamado, será aplicada a revelia.

Princípio da Irrecorribilidade Imediata das Decisões Interlocutórias:


também aplicável ao processo do trabalho.

São incabíveis recursos de decisões proferidas no curso do


processo, devendo a parte aguardar ser proferida decisão final para recorrer.
Tal prática processual está totalmente atrelado ao princípio da celeridade
processual da Justiça do Trabalho. Há algumas exceções. Não significa que
não caiba recurso contra as decisões interlocutórias, mas sim que não cabe de
imediato, só quando for recorrer da sentença.

Princípio da Concentração dos Atos Processuais: este princípio


prima que o juiz deve tentar concentrar a maior parte dos atos processuais em
uma única audiência, para que a sentença seja prolatada o mais rápido
possível, também ligado ao princípio da celeridade processual.

Destarte, toda e qualquer norma processual que venha a ser criada


ou aplicada, deve-se passar pelo crivo dos princípios fundamentais do
processo, para que esteja em consonância com a estrutura processual.

Por fim, neste estudo, singelamente, busca-se a compreensão dos


princípios fundamentais e estruturantes de nosso processo, que devem ser
aplicados e analisados de forma plena permitindo assim que se concretize os
direitos defendidos em nosso ordenamento jurídico.

REFERÊNCIAS DE CONSULTA
AMARAL, Júlio Ricardo de Paula. Princípios de processo civil na Constituição Federal. Jus
Navigandi, Teresina, a. 4, n. 46, out. 2000. Disponível em: http://www1.jus.com.br/doutrina.
Acesso em: 10 e 12 mai. 2005.
BECHARA, Fábio Ramazzini; CAMPOS, Pedro Franco de. Princípios constitucionais do
processo penal. Questões polêmicas. Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 593, 21 fev. 2005.
Disponível em: http://www1.jus.com.br/doutrina. Acesso em 12 mai. 2005.
FERREIRA FILHO Manoel Gonçalves. Direito Constitucional do Trabalho - Estudos em
Homenagem ao prof. Amauri Mascaro do Nascimento. Ed. Ltr, 1991, Vol. I in LIMA,George
Marmelstein. A força normativa dos princípios constitucionais. Disponível em
http://www.georgemlima.hpg.ig.com.br Acesso em 10 de Maio de 2005
MELLO, Celso Antônio Bandeira. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1981. p. 230. in AMARAL, Júlio Ricardo de Paula. Princípios de processo civil na
Constituição Federal. Jus Navigandi, Teresina, a. 4, n. 46, out. 2000. Disponível em:
http://www1.jus.com.br/doutrina. Acesso em: 10 mai. 2005
PAULA, Jônatas Luiz Moreira de. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Malheiros, 2000.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 1991, p. 230.

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