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TEXTO DO PROFESSOR

AULA 02

b) Regime Jurídico da Administração Pública

1. Princípios constitucionais implícitos e explícitos


Os princípios constitucionais que integram o regime
jurídico-administrativo decorrem da Constituição Federal, sejam de forma
explícita ou implícita.
O modo explícito dos princípios é exposto de acordo com
a literalidade e prescrição dos dispositivos constitucionais. Vide por exemplo o
caput do art. 37 da Constituição Federal.
Já os princípios constitucionais implícitos significam dizer
aqueles que decorrem indiretamente de alguns dispositivos constitucionais.
Vide por exemplo os princípios que decorrem do princípio republicano exposto
no art. 1º da Constituição Federal.

2. O papel dos princípios na interpretação jurídica


O conhecimento dos princípios jurídicos é impreterível
para a boa compreensão de qualquer instituto jurídico.
Os princípios em conjunto com as regras jurídicas de um
determinado instituto formam o regime jurídico aplicável a espécie.
As regras jurídicas têm a característica de serem
concretas, já os princípios jurídicos são abstratos.
Em razão da abstração dos princípios e da necessidade
de sua ponderação, pode-se aduzir que os princípios enquadram-se como as
normas que irão nortear a aplicação das regras (dispositivos normativos
prescritos – por exemplo, art. 22 da Lei de Licitações).
Acerca dos princípios, José CRETELLA JÚNIOR diz que
princípios de uma ciência são as proposições básicas, fundamentais, típicas
que condicionam todas as estruturações subseqüentes. Princípios, neste
sentido, são os alicerces da ciência.” 1

1
José Cretellla Júnior. Apud. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 19. ed.
São Paulo: Atlas, 2006, p. 80.
Já Carlos Ari SUNDFELD discorre que:
Os princípios são as idéias centrais de um sistema, ao
qual dão sentido lógico, harmonioso, racional, permitindo
a compreensão de seu modo de organizar-se. Sua
enunciação tem, portanto, uma primeira utilidade
evidente: ajudar no ato de conhecimento. Mas, para o
profissional do Direito, sua importância não é só esta. Os
princípios são verdadeiras normas, que devem ser
tomadas em consideração para a solução de problemas
jurídicos concretos.
O princípio jurídico é norma de hierarquia superior à das
meras regras, pois determina o sentido e o alcance
destas, que não podem contrariá-lo, sob pena de pôr em
risco a globalidade do ordenamento jurídico. Deve haver
coerência entre princípios e regras, no sentido que vai
daqueles para estas. Por isso, conhecer os princípios do
Direito é condição essencial para aplicá-los
corretamente.” 2

Por derradeiro, esclarecendo os objetivos e a importância


dos princípios, lembra-se do conceito descrito na obra “Vocabulário Jurídico”:
“No sentido, notadamente no plural, significa que as
normas elementares ou os requisitos primordiais
instituídos como base, como alicerce de alguma coisa.
E, assim, princípios revelam o conjunto de regras ou
preceitos, que se fixam para servir de norma a toda
espécie de ação jurídica, traçando, assim, a conduta a ser
toda em qualquer operação jurídica.
Desse modo, exprimem sentido mais relevante que o da
própria norma ou regra jurídica. Mostram-se a própria
razão fundamental de ser das coisas jurídicas,
convertendo-as em perfeitos axiomas.

2
SUNDFELD, Carlos Ari. Licitação e Contrato Administrativo. 2. ed. Malheiros: São Paulo,
1995, p. 18-19.
Princípios jurídicos, sem dúvida, significam os pontos
básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos
vitais do próprio Direito. Indicam o alicerce do Direito.” 3

3. Explicitação dos princípios explícitos e implícitos


Seguindo o ideário preconizado pelo Prof. Celso Antônio
BANDEIRA DE MELLO, os princípios implícitos e explícitos constitucionais do
Direito Administrativo Brasileiro são:

3.1. Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado


O princípio da supremacia do interesse público sobre o
privado “proclama a superioridade do interesse da coletividade, firmando a
prevalência dele sobre o do particular, como condição, até mesmo, da
sobrevivência e asseguramento deste último.” 4

3.2. Princípio da indisponibilidade do interesse púbico.


O princípio da indisponibilidade do interesse público
“significa que, sendo interesses qualificados como próprios da coletividade –
internos ao setor público -, não se encontram à livre disposição de quem quer
que seja, por inapropriáveis. O próprio órgão administrativo que os representa
não tem disponibilidade sobre eles, no sentido de que lhe incumbe apenas
curá-los – o que é também um dever – na estrita conformidade do que
predispuser a intentio legis.” 5

3.3. Princípio da legalidade


O princípio da legalidade deve ser entendido como curial
ao pleno desenvolvimento do Estado Democrático de Direito, até porque deste
instituto jurídico advém a sua previsão constitucional.
Para sintetizar o princípio da legalidade frente ao Direito
Público, recorre-se à lição de Hely Lopes MEIRELLES:

3
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 1095.
4
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008, p. 69.
5
Ibid, p. 73-74.
“Na Administração Pública, não há liberdade nem
vontade pessoal. Enquanto na administração particular é
lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração
Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. A Lei
para o particular significa ‘pode fazer assim’; para o
administrador público significa ‘deve fazer assim’”.6

3.4. Princípio da finalidade


Diogenes GASPARINI acerca do princípio da finalidade
expõe:
“Por esse princípio impõe-se à Administração Pública a
prática, e tão-só essa, de atos voltados para o interesse
público. O afastamento da Administração Pública da
finalidade de interesse público denomina-se desvio de
finalidade.” 7
Como o interesse público está atrelado ao que está
previsto em lei, logo o princípio da finalidade é a aplicação da lei de acordo
com os seus objetivos.

3.5. Princípio da razoabilidade


Sobre o princípio da razoabilidade, lembra-se das
palavras de Lúcia Valle FIGUEIREDO, a qual assevera que “Em síntese: a
razoabilidade vai se atrelar à congruência lógica entre as situações postas e as
decisões administrativas. Vai se atrelar às necessidades da coletividade, à
legitimidade, à economicidade, à eficiência. 8
Vale ainda trazer a explicação de Weida ZANCANER:

“Em suma: um ato não é razoável quando não existiram


os fatos em que se embasou; quando os fatos, embora
existentes, não guardam relação lógica com a medida

6
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 11. ed. São Paulo: RT, 1985, p.
60
7
GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 13.
8
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. 6. ed. São Paulo: Malheiros,
2003, p. 50.
tomada; quando, mesmo existente alguma relação lógica,
não há adequada proporção entre uns e outros; quando
se assentou em argumentos ou em premissas, explícitas
ou implícitas, que não autorizam, do ponto de vista lógica,
a conclusão deles extraída.” 9

3.6. Princípio da proporcionalidade


O princípio da proporcionalidade deve estar adstrito aos
meios e fins dos atos.
Nas palavras do jurista Marçal JUSTEN FILHO:
“(...) a proporcionalidade comanda as escolhas estatais,
impondo a comprovação tanto da adequação como da
necessidade de qualquer providência restritiva de direitos.
A adequação significa a aptidão da medida para atingir o
resultado cuja busca legitima a atuação estatal. A
necessidade indica a ausência de outra providência,
menos nociva, para promover o referido resultado.” 10

3.7. Princípio da motivação


Acerca do princípio da motivação, convém transcrever as
seguintes palavras de Onorato SEPE transcritas no livro de Romeu Felipe
BACELLAR FILHO:
“A obrigação de motivar configura a melhor garantia para
o cidadão porque leva a Administração a externar as
causas da própria determinação. A motivação expressa
transparência e clareza e impõe à Administração a

9
ZANCANER, Weida. Razoabilidade e moralidade: princípios concretizadores do perfil
constitucional do estado social e democrático de direito. Estudos em homenagem a Geraldo
Ataliba. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 623.
10
JUSTEN FILHO, Marçal. Considerações acerca da modificação subjetiva dos contratos
administrativos. Direito Administrativo Contemporâneo: estudos em memória do
Professor Manoel de Oliveira Franco. Belo Horizonte: Fórum, 2004.
ponderação no seu agir, obstaculizando justificações a
partir de incertezas ou elocubrações interpretativas.” 11

3.8. Princípio da impessoalidade


Por este princípio, o tratamento dispensado aos
administrados deve ser feito de maneira equânime, não se podendo efetuar
quaisquer direcionamento ou favoritismo. Independente do credo, da etnia, da
raça, do sobrenome ou outra característica, a Administração deverá tratar
todos com as mesmas atitudes e proposições.
Por conseguinte, este princípio significa que as entidades
administrativas deverão observar em suas decisões critérios objetivos
previamente estabelecidos, afastando qualquer subjetivismo.

3.9. Princípio da publicidade


O princípio da publicidade é previsto constitucionalmente,
e deve estar presente em toda atividade da Administração Pública. Sobre ele,
veja-se:
“(...) se os interesses públicos são indisponíveis, se são
interesses de toda a coletividade, os atos emitidos a título
de implementá-los hão de ser exibidos em público. O
povo precisa conhecê-los, pois este é o direito mínimo
que assiste a quem é a verdadeira fonte de todos os
poderes, consoante dispõe o art. 1º, parágrafo único, da
Constituição do País. O princípio da publicidade impõe a
transparência na atividade administrativa exatamente para
que os administrados possam conferir se está sendo bem
ou mal conduzida.”12

3.10. Princípio do devido processo legal e da ampla defesa


O princípio do devido processo legal e da ampla defesa
está previsto na seguinte prescrição constitucional:

11
Apud BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Princípios constitucionais do processo
administrativo disciplinar. São Paulo: Max Limonad, 1998, p. 192.
12
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14. ed. São
Paulo: Malheiros, 2002, p. 58.
“Art. 5º....
(....)
“LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
e aos acusados em geral são assegurados o contraditório
e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”

Pelo princípio do devido processo legal, pode-se dizer que


a Administração jamais poderá privar ou restringir direitos, seja direito a
liberdade ou direito referente a patrimônio, sem a realização de um processo
adequado, no qual sejam oportunizadas a ampla defesa e o contraditório ao
“processado”.
Ampla defesa significa uma adequada resistência do
particular às pretensões que lhe forem opostas e o contraditório é a
possibilidade de produzir provas para rechaçar os argumentos que vão de
encontro aos seus direitos.

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