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APOSTILA DE PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS

SEGUNDA FASE - DIREITO CONSTITUCIONAL


Prof. Paulo Nasser

A presente apostila, tem o objetivo de aperfeiçoar o aprendizado relativo aos princípios


constitucionais, para que sirva como material de apoio para a construção de peças.
Salientando que, os princípios constitucionais são importantíssimos para a o recheio da
fundamentação e conteúdo da peça.

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Os princípios constitucionais da administração pública estão explicitados no art. 37, como se observa
abaixo:

 ART. 37, CAPUT - REDAÇÃO DADAPELAEC N. 19/98: A administração pública direta e


indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência. (LIMPE).

É reconhecido pela doutrina majoritária, outros princípios explícitos do art. 37, caput, de igual
importância, porém, voltados mais para o direito administrativo, que também iremos menciona-los.

princípio da supremacia do interesse público sobre o privado;

 princípio da finalidade;
 princípio da razoabilidade;
 princípio da proporcionalidade;
 princípio da responsabilidade do Estado: art. 37, § 6.º.

1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

O princípio da legalidade surgiu com o Estado de Direito, opondo-se a toda e qualquer forma de
poder autoritário, antidemocrático. Previsto no art. 4.º da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, está contemplado, além da indicação expressa no art. 37, caput, nos arts. 5.º, II, e 84, IV, da
CF/88:

Art. 5.º , II: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei”.

Mencionado princípio deve ser lido de forma diferente para o particular e para a Administração.
O particular pode fazer tudo o que a lei não proíbe, vigorando o princípio da autonomia da vontade,
lembrando a possibilidade de ponderação desse valor com o da dignidade da pessoa humana e,
assim, a aplicação horizontal dos direitos fundamentais nas relações entre particulares, consoante
estudado.

Por sua vez, a Administração só poderá fazer o que a lei permitir. Deve andar nos “trilhos da
lei”, corroborando a máxima do direito inglês: rule of law, not of men. Trata-se do princípio da
legalidade estrita, que, por seu turno, não é absoluto, na medida em que a doutrina identifica
algumas restrições, destacando-se:

 medidas provisórias;
 estado de defesa;
 estado de sítio.

A Administração deve atuar segundo a lei e nunca contra ou além da lei. Por esse motivo, os atos
ilegais poderão ser invalidados de ofício, em verdadeiro exercício de autotutela administrativa, ou
pelo Judiciário. Confinar a atuação governamental aos parâmetros da lei, editada pelos
representantes do povo, é trazer segurança e estabilidade, evitando, ainda, qualquer tipo de
favoritismo por parte do administrador. Nos dizeres de Celso Antônio Bandeira de Mello, “o
princípio da legalidade é o antídoto natural do poder monocrático ou oligárquico, pois tem como raiz
a ideia de soberania popular, de exaltação da cidadania”

2. PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

Se todos são iguais perante a lei (art. 5.º, caput), necessariamente o serão perante a
Administração, que deverá atuar sem favoritismo ou perseguição, tratando a todos de modo igual
ou, quando necessário, fazendo a discriminação necessária para se chegar à igualdade real ou
material.

O objetivo do princípio da impessoalidade no ordenamento jurídico é buscar e trazer para


toda a sociedade plena segurança jurídica em relação a administração pública, procurando sempre
colocar em primeiro lugar o interesse público da população, tendo diversas garantias garantindo a
igualdade e deixando impedido qualquer tipo de imparcialidade. O princípio da impessoalidade
busca portanto, coibir qualquer tipo de atuação arbitrária do administrador assim como o dos seus
agentes, deixando sempre em primeiro lugar o atendimento ao interesse público.

Existem várias fundamentações acerca do princípio da impessoalidade, que englobam outros


princípios, tais como:

 O Estado de Direito;
 O Princípio democrático;
 O princípio Republicano;
 Os Direitos Fundamentais;

O Estado de Direito fundamenta o princípio da impessoalidade ressaltando que o Direito é a


vontade de autonomia e o Estado é a pessoa, sendo concretizado pela própria norma, na
impessoalidade sempre deve haver os interesses coletivos e individuais e estabelecer uma atividade
estatal sendo pautada pela lei.
No princípio democrático faz com que a população tenha soberania, direito de escolher seus
representantes na votação havendo um poder funcional no povo, ocorrendo critérios individuais
para que cada cidadão mostre o seu interesse e que todos tenham a sua soberania, e, por fim, o
princípio da igualdade que não exige a consideração da pessoa, mas exige o que está descrito ou
positivado na lei.

Finalmente, confirmando a impessoalidade, o art. 37, § 1.º, estabelece que a publicidade dos
atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.

3. PRINCÍPIO DA MORALIDADE

O princípio da moralidade diverge entre a doutrina, uma vez que muitos acreditam que ele
deve ser visto como uma simples parte do princípio da legalidade, ao passo que outros o consideram
autônomo.

Muitos são os doutrinadores que veem o conceito de moral administrativa como “vago” e
“impreciso”. O princípio da moralidade, previsto no art. 37 da Constituição Federal de 88, diz:

“Art. 37 A administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficácia
[...].”

Observa-se, assim, que todo e qualquer ato praticado na Administração Pública deverá ser
regido pelo princípio da moralidade.

Na Administração Pública, tendo em vista as licitações, é bem comum encontrar situações de


conluios entre aqueles que realizam o devido processo, de forma que ferem a moral e caracterizam
ofensa direta ao princípio supracitado. Esse tipo de ofensa administrativa produz efeitos jurídicos
que podem acarretar anulação do ato e esta pode ser decretada pela própria Administração ou
Poder Judiciário.

É evidente, portanto, que o campo da moralidade administrativa tem espaço reduzido, já


que o desvio de poder é considerado apenas moralmente incorreto em vez de ato ilegal. Todavia,
isso não é capaz de ceifar o devido reconhecimento de sua existência como um verdadeiro princípio
autônomo perante o direito positivo brasileiro; vale ressaltar que a moralidade administrativa possui
diferença da moral comum, pois a aquela não obriga o dever de atendimento a esta, vigente em
sociedade. No entanto, exige total respeito aos padrões éticos, decoro, boa-fé, honestidade,
lealdade e probidade.

Com o fito de proteger a moralidade, foram criados alguns instrumentos. Na legislação


brasileira, podem ser encontrados vários, porém os que merecem o destaque maior são: Ação
Popular, Ação Civil Pública de Improbidade, Controle Externo Exercido pelos Tribunais de Contas e
Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).

A Administração Pública, de acordo com o princípio da moralidade administrativa, deve agir


com boa-fé, sinceridade, probidade, lhaneza, lealdade e ética. Importante notar que o controle da
moralidade não se confunde com o mérito administrativo e, por isso, pode ser fundamento
autônomo para invalidação de ato administrativo, por meio inclusive da ação popular:
Art. 5.º, LXXIII — “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência”.

A moralidade administrativa está contida no Direito, fazendo-se presente de maneira


indissociável em sua aplicação e finalidade. Erigindo-se, assim, em fator de legalidade.

4. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

O princípio da publicidade é ínsito ao Estado Democrático de Direito e está intimamente


ligado à perspectiva de transparência, dever da Administração Pública, direito da sociedade.

Completando o princípio da publicidade, o art. 5.º, XXXIII, garante a todos o direito a receber
dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, matéria essa regulamentada pela Lei n.
12.527/2011.

Finalmente, os remédios do habeas data e mandado de segurança cumprem importante


papel enquanto garantias de concretização da transparência.

5. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

O princípio da eficiência é um dos princípios norteadores da administração pública E foi


incluído no ordenamento jurídico brasileiro de forma expressa na Constituição Federal, com a
promulgação da emenda constitucional n. º 19 de 4 de junho de 1998, alterando o art.º 37.

Esse princípio convém ressaltar que, apesar de pouco ser estudado pela doutrina brasileira,
é um dos princípios que merece bastante cuidado e atenção, por se tratar de um importante
instrumento para que se possa exigir a qualidade dos produtos e serviços oriundos do Estado.

É um princípio em parte instrumental, pois apesar de ser um importante instrumento


constitucional, nenhum princípio do direito administrativo tem valor substancial autossuficiente, que
se integra aos demais princípios, não podendo sobrepor-se a eles ou informar-lhes a validade. E
nisso não há novidade, pois sabemos que princípios são normas que exigem ponderação,
concordância prática, aplicação tópica e complementação. Assim como todo princípio, o da
eficiência não possui caráter absoluto, mas irradia seus efeitos.

6. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE - RAZOABILIDADE

O princípio da proporcionalidade que é ambivalente ao princípio da razoabilidade, tem por


finalidade precípua equilibrar os direitos individuais com os anseios da sociedade.

Esse princípio, possui o fundamento de que nenhuma garantia constitucional goza de valor
supremo e absoluto, de modo a aniquilar outra garantia de valor e grau equivalente.
Trata-se de princípio extremamente importante, em especial na situação de colisão entre
valores constitucionalizados.
Como parâmetro, podemos destacar a necessidade de preenchimento de 3 importantes
elementos:

 necessidade: por alguns denominada exigibilidade, a adoção da medida que possa restringir
direitos só se legitima se indispensável para o caso concreto e não se puder substituí-la por
outra menos gravosa;
 adequação: também chamado de pertinência ou idoneidade, quer significar que o meio
escolhido deve atingir o objetivo perquirido;
 proporcionalidade em sentido estrito: sendo a medida necessária e adequada, deve-se
investigar se o ato praticado, em termos de realização do objetivo pretendido, supera a
restrição a outros valores constitucionalizados. Podemos falar em máxima efetividade e
mínima restrição.

7. PRINCÍPIO DA FINALIDADE

Segundo o princípio da finalidade, a norma administrativa deve ser interpretada e aplicada


da forma que melhor garanta a realização do fim público a que se dirige. Deve-se ressaltar que o que
explica, justifica e confere sentido a uma norma é precisamente a finalidade a que se destina. A
partir dela é que se compreende a racionalidade que lhe presidiu a edição.

Logo, é na finalidade da lei que reside o critério norteador de sua correta aplicação, pois é
em nome de um dado objetivo que se confere competência aos agentes da Administração. É preciso
examinar à luz das circunstâncias do caso concreto se o ato em exame atendeu ou concorreu para o
atendimento do específico interesse público almejado pela previsão normativa genérica.

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