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INTRODUÇÃO AO

DIREITO BRASILEIRO
E TEORIA DO
ESTADO

Melissa de Freitas Duarte


Revisão técnica:

Gustavo da Silva Santanna


Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional
e em Direito Público
Mestre em Direito
Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito

I61 Introdução ao Direito brasileiro e teoria do Estado / Cinthia


Louzada Ferreira Giacomelli ... [et al.] ; [revisão técnica:
Gustavo da Silva Santanna]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018.
276 p. il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-371-0

1. Direito. I. Giacomelli, Cinthia Louzada Ferreira.

CDU 342.1

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147


Fundamentos de
Direito Público
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os fundamentos do Direito Público.


 Reconhecer a relação entre o Estado e os particulares.
 Explicar as prerrogativas e funções do Estado.

Introdução
A função primordial do Direito é tutelar as relações humanas. Nesse
sentido, foi criada uma divisão das ramificações do Direito conforme o
alcance da proteção: o Direito Público e o Direito Privado. Neste capítulo,
você vai ler sobre os fundamentos do Direito Público, os princípios que
regem a atuação do Estado e a sua relação com a sociedade.

Definição, ramificações e princípios


O Direito Público é formado por normas que tendem a regular um interesse,
direto ou indireto, do próprio Estado, destinadas a regular os interesses da
coletividade. O Direito Público, por sua vez, é constituído dos ramos do:

 Direito Constitucional;
 Direito Internacional Público;
 Direito Administrativo;
 Direito Processual;
 Direito Penal;
 Direito Tributário.
2 Fundamentos de Direito Público

Dito isso, o Direito Público tem por objeto o estudo do ordenamento fun-
damental do Estado, compreendendo um conjunto de regras e princípios
basilares de uma sociedade politicamente organizada, os quais, em conjunto,
são compostos pelos seguintes princípios ordenadores:

 princípio da autoridade pública;


 princípio da submissão do Estado à ordem jurídica;
 princípio da função e poder de agir;
 princípio da sucessão de atos e fatos;
 princípio da publicidade;
 princípio da responsabilidade objetiva e da igualdade das pessoas
políticas.

O princípio da autoridade pública é um dos identificadores do regime de


Direito Público, pois estabelece uma relação vertical entre os sujeitos da relação
jurídica (o Estado e os particulares), assumindo o Estado uma posição mais
elevada. Já o princípio da submissão do Estado à ordem jurídica envolve toda
e qualquer atividade estatal, conferindo validade aos atos ou comportamentos
do Poder Público. Nesse sentido, todo poder tem origem na lei, devendo o
exercício do poder ter fundamento na ordem jurídica.
Partindo desses princípios, seguimos com o princípio da finalidade, cuja
atuação aborda dois aspectos do Direito Público:

 onde não cabe ao agente optar pelo exercício do dever–poder que lhe
foi atribuído, tem a obrigação jurídica de atuar em nome do Estado,
constituindo omissão punível à sua inação;
 onde não basta o exercício dos poderes, é preciso que o exercício seja
alinhado com a finalidade quando da função do agente.

Qualquer desobediência dessas finalidades pode acarretar vício no ato praticado,


chamado de desvio de finalidade.

Seguindo nessa linha, a atividade estatal deve cumprir o princípio da


igualdade dos particulares perante o Estado, que é previsto no art. 5º da Cons-
tituição Federal, e garante que todos são iguais perante a lei e perante o Estado,
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aplicando, assim, a isonomia de direitos (BRASIL, 1988). Da mesma forma,


deve seguir o princípio do devido processo legal, sendo o modo normal de agir
do Estado, indispensável à produção e execução dos atos estatais. O devido
processo é uma garantia dos particulares, em face da administração pública.
O princípio da publicidade traz o condão da transparência, pois a adminis-
tração pública tem o dever de tornar públicos os seus atos e as suas decisões.
A publicidade se desdobra em duas vertentes:

 o exercício do poder soberano, de forma transparente e sujeita a controle;


 a acessibilidade dos administrados às informações armazenadas na
estrutura do Estado.

O sigilo só se justifica em ocasiões em que o próprio interesse público o


recomendar, como são os casos em que a publicidade põe em risco a segurança
da sociedade e do Estado ou viola a intimidade de um particular.
O princípio da responsabilidade objetiva é previsto no art. 37, § 6º, da
Constituição Federal, dispondo que as pessoas jurídicas de Direito Público e
as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos
que os seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de culpa e dolo (BRASIL, 1988).
O princípio da igualdade das pessoas políticas é dividido em todas as
esferas, tanto legislativas quanto administrativas, sendo descentralizadas
entre as seguintes pessoas políticas:

 União;
 estados-membros;
 Distrito Federal;
 municípios.

Por fim, o princípio da legalidade encontra, no âmbito constitucional,


duas formulações distintas. A primeira, insculpida no art. 5º, I, da Carta
Constitucional de 1988, dirige-se aos indivíduos e lhes garante que só serão
obrigados a fazer ou deixar de fazer algo se a lei assim lhes impuser; fora desse
campo de condutas comissivas ou omissivas peremptórias, permite que façam
tudo o que pretenderem. A segunda formulação do princípio da legalidade,
direcionada ao Estado, merece outra interpretação: ao Estado, por meio dos
seus agentes, só é permitido fazer aquilo que estiver previsto em lei. A atuação
do poder estatal requer inapelavelmente um fundamento legal previsto em
norma jurídica constitucional ou infraconstitucional.
4 Fundamentos de Direito Público

Princípios complementares:
 princípio da razoabilidade — é orientado pela aplicação e interpretação das normas
jurídicas. O ato deve estar de acordo com os padrões lógicos;
 princípio da proporcionalidade — o ato desproporcional à situação que o gerou
é inválido para a finalidade que pretende atingir.
 princípio da moralidade — interdita os atos que, embora legítimos, dada a fle-
xibilização da norma jurídica, contrariam a ordem ética vigente na sociedade.
A moralidade de acordo com a Constituição Federal foi elevada como princípio
jurídico, cabendo ação popular para anular atos a ela lesivos.
 princípio da boa-fé — deve pautar os atos da Administração, sendo inválidos os
atos praticados fora das pautas da lealdade. A falta de boa-fé, na prática dos atos
administrativos, gera a irregularidade, então é passível de responsabilidade.

Estado versus indivíduo


No âmbito do Direito Público, compreendido como aquele em que um dos
sujeitos da relação jurídica é o próprio Estado, o Direito Privado é o ramo do
Direito que disciplina as relações entre os particulares. Nesse contexto, há
situações em que o Estado se relaciona com o particular como se fosse outro
indivíduo no mesmo plano jurídico, sendo chamado de relações contratuais
privadas. Todavia, as relações entre o Estado e os indivíduos são chamadas
de relações de Direito Público.
Nesse sentido, o Estado é a autoridade pública que define o que é interesse
público, tendo o condão de manifestar diferentes formas de relação com o
particular, da seguinte forma:

 o Estado pode impor comportamentos aos particulares — obriga unilate-


ralmente os particulares, quer dizer, o Estado possui a faculdade de exi-
gir dos administrados um dever como consequência de sua autoridade.
Tais exigências devem ser independentes da vontade do destinatário;
 o Estado pode criar direitos aos particulares — pode o Estado exercer
autoridade, prescrevendo faculdades de agir aos particulares, reconhe-
cendo suas relações e outorgando-lhes direitos. Essa faculdade não
decorre de um vínculo obrigacional, mas sim da autoridade estatal.

Assim, o Estado exerce as suas funções conforme dispõe o art. 175 da Consti-
tuição Federal (BRASIL, 1988) ou diretamente pelo Estado, pelos órgãos públicos
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ou por delegação ao serviço público. Essas atribuições são as competências


que a atividade estatal defere a determinado órgão público. Dessa forma, o
Estado tem discricionariedade na imposição e criação das leis ao particular,
fiscalizando e fazendo serem cumpridas. Todavia, ao particular, é permitido
todo comportamento que não estiver, de modo expresso, proibido pela lei.

O Estado pode impor comportamentos aos particulares impondo tributos. O Estado


pode impor normas jurídicas aos particulares, como as leis e os regulamentos; pode
impor multas em caso de infrações de trânsito ou de outros gêneros; e pode proibir
determinados atos. Essa autoridade deriva da Constituição Federal, que transfere
poder público ao ente estatal e delimita o seu exercício. Essa imposição é unilateral,
pois independe da concordância do particular.

Diferenças de responsabilidade no Direito Público e Privado:


 no Direito Privado, a responsabilidade se liga, em geral, à ideia de culpa. O parti-
cular deve indenizar os danos que tenha causado com culpa em sentido amplo.
A responsabilidade dos particulares é subjetiva;
 no Direito Público, a responsabilidade é objetiva. A administração pública é obri-
gada a reparar os danos que seus agentes tenham causado contra o direito dos
particulares. Responde por atos lícitos e por atos ilícitos.
Deve existir um nexo de causa e efeito entre o comportamento da administração
pública e o dano provocado pelo agente. Os comportamentos são de ação, omissão
e negação (o Estado responde objetivamente pelos danos que praticar). Na hipótese
de responsabilidade por comportamento omissivo, o Estado somente responde se
houver omitido dever que lhe tenha sido prescrito pelas normas.

Prerrogativas e funções do Estado


As funções básicas do Estado são:

 consultiva;
 administrativa;
 judiciária.
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O Estado tem a função originária de regular as relações existentes dentro


da sociedade em todos os aspectos estruturais nela existentes, seja no plano
interno ou no plano externo, tendo sempre a lei como meio orientador. Partindo
disso, a função do Estado não é apenas a criação das leis e diretrizes para
regular a sociedade. O Estado deve, também, oferecer condições para que as leis
sejam aplicadas e respeitar as particularidades presentes em cada meio social.
O Estado, por meio de seus poderes, divide as suas atuações da seguinte forma:

Legislativo — estabelece normas que regem a sociedade. Cabe a ele criar leis
em cada uma das três esferas, fiscalizar e controlar os atos do Poder Execu-
tivo. O presidente da República também pode legislar, assim, seu principal
instrumento é a medida provisória.

Executivo — é responsável pela administração dos interesses públicos, sempre


de acordo com a Constituição Federal.

Judiciário — é responsável pelo controle de constitucionalidade, ou seja, a


averiguação da compatibilidade das normas com a Constituição da República
e das controvérsias que possam surgir com a aplicação da lei.
O Judiciário tem duas funções principais, que se dividem na função ju-
risdicional: a resolução dos conflitos de interesse e a função administrativa,
prestando um suporte de sua atividade principal, mesmo porque os poderes
administrativos são os instrumentos de atuação dos poderes políticos.
Todavia, o poder do Estado é uno e indivisível. Assim, cada um desses
poderes exerce as suas atividades de formas diferenciadas, o que não quer
dizer que sejam independentes, embora também não sejam subordinados
entre si — ou seja, têm independência orgânica, devendo trabalhar de forma
harmônica, mas autônoma.
Assim, podemos dizer que o Estado é materializado por meio das leis.
Além disso, é dele a função de cuidar para que tenham efetividade no contexto
social e assim possam regular, de fato, as questões que o Estado se propõe a
interferir. Nessa senda, o Estado deve fiscalizar para que não haja desrespeito
às normas por ele impostas e para que a sociedade possa se desenvolver de
forma plena, buscando sempre a proteção e a segurança para aqueles que nela
convivem. A Figura 1 apresenta a organização do Direito Público.
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Figura 1. Organização do Direito Público.


Fonte: [Organização do direito público] ([200-?]).

1. O Direito Público é estruturado em b) Havendo conflito de interesses


princípios que norteiam a atuação entre o Estado e um particular,
e estrutura do Estado, assim como prevalece o particular.
a sua relação com os indivíduos. Em c) Por certo, a lei impõe limites
linhas gerais, os fundamentos do a todos, salvo ao Estado.
Direito Público estão sintetizados nos d) A autoridade pública não está livre
princípios desse ramo do Direito. Entre para atuar como bem entender.
os princípios que orientam esse ramo e) A atribuição de poderes
do Direito, não se pode considerar: ao Estado, autoridade
a) a autonomia da vontade. pública, é um privilégio.
b) a submissão do Estado 3. Os princípios possuem
à ordem jurídica. importante papel na orientação
c) a igualdade dos particulares da conduta estatal. Sobre o tema,
perante o Estado. não se pode afirmar que:
d) a publicidade. a) o princípio da submissão
e) a igualdade das pessoas políticas. do Estado à ordem jurídica,
2. O Direito Público é orientador da também conhecido como
atuação estatal. Sobre o tema, princípio da legalidade, impõe
assinale a alternativa correta. ao Estado observar a lei.
a) Ao atuar, o Estado busca a b) a forma que o Direito Público
satisfação dos interesses próprios. possui para controlar a atuação
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estatal contra arbitrariedades por iniciativa própria em caso


das autoridades públicas de alvará de funcionamento
está na limitação da atuação para um restaurante.
do Estado pela lei. d) o Estado tem o poder por
c) no Direito Público, o ente si próprio e não precisa
estatal pode fazer tudo aquilo obedecer aos ditames da
que a lei não proíbe. igualdade, do devido processo
d) o princípio da função prescreve legal e da publicidade.
que a atuação do agente público e) não deve haver processo,
é muito mais do que um poder. informação, ato ou qualquer
e) os particulares são livres outra manifestação do
para praticar os atos que Estado que seja sigiloso.
desejarem, com a finalidade 5. Sobre a responsabilidade objetiva e
que lhes for conveniente. da igualdade das pessoas políticas,
4. Considerando que todos abrem não se pode afirmar que:
mão da sua liberdade absoluta a) se o Estado deve agir observando
para construir uma sociedade estritamente o interesse público
guiada por um ente chamado de sob as diretrizes da lei, não se
Estado, podemos concluir que o pode permitir que as ações do
Estado é a representação de todos Estado que causem danos não
e de cada um. Sobre a igualdade, sejam objeto de reparação.
o devido processo e a publicidade, b) por certo, a responsabilidade
não se pode afirmar que: do Estado quanto aos danos
a) o Estado não pode tratar os causados pelos agentes
indivíduos que o formam públicos em nome do ente
de modo diferente. A rigor, estatal deve ser ressarcida.
todos são iguais e merecem c) as pessoas políticas são
tratamento igualitário. apenas a União, os estados-
b) o princípio do devido processo -membros e os municípios.
orienta que a manifestação da d) por ser o Brasil uma República
vontade do Estado deve observar Federativa composta pela reunião
um processo composto por etapas dessas pessoas políticas, há entre
para se chegar à manifestação esses entes uma igualdade.
de vontade do ente estatal. e) por certo, há divisão de
c) o agente público não decide competências previstas na
sobre a concessão do alvará Constituição da República de 1988.
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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 5 mar. 2018.
[Organização do direito público] ([200-?]). Disponível em: <http://cmapspublic3.
ihmc.us/rid=1074810757500_1742039494_456/Direito%20Divisoes.cmap>. Acesso
em: 5 mar. 2018.

Leituras recomendadas
FERREIRA, A. Direito público × privado: princípios. 2011. Disponível em: <http://intro-
ducaoaodireito.info/wp/?p=364>. Acesso em: 5 mar. 2018.
MOTTA FILHO, S. Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Método, 2016.
PALAIA, N. Noções essenciais de Direito. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
REALE, M. Questões de Direito Público. São Paulo: Saraiva, 1999.
SARLET, I. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2016.
SLAIBI FILHO, N. Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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