Você está na página 1de 4

Um pouco de história: a distinção entre os

direitos
A maioria das leis de Roma tratava das relações entre as pessoas e o Estado,
enquanto as interações entre indivíduos particulares era regulamentada
principalmente pelas tradições e costumes. Por isso, as leis romanas se
orientavam muito mais a regulamentar a vida em sociedade, como por exemplo o
funcionamento do serviço militar, o que era considerado crime, quem podia
participar do Senado, etc.
Essa dicotomia entre direito público e privado foi reforçada durante as
revoluções do século XVIII, em especial a Revolução Francesa, quando vários
pensadores teorizaram as diferenças entre ambos direitos e a necessidade de
controlar as funções estatais.
Desde aquela época até os dias de hoje se criou uma noção não totalmente correta
de que o direito público é aquele que diz respeito ao Estado e o direito privado
aos particulares. Mas, na realidade, a principal diferença entre esses direitos
está nas relações de hierarquia ou igualdade entre as partes envolvidas.
Vamos aprofundar esses conceitos!

Entenda o que é Direito Público


O direito público está formado por normas que possuem um grande foco social e
organizacional. Nesse ramo do direito existe uma relação vertical entre o Estado
e o indivíduo, ou seja há uma hierarquia na qual o Estado é superior ao
indivíduo porque representa os interesses da coletividade contra interesses
individuais. Nesse caso, o Estado possui esse status superior porque está velando
pelos direitos de todos, já que representa os interesses do povo, e os interesses
coletivos sempre pesam mais que os individuais.
As leis dentro do direito público são imperativas, ou seja, não existe opção de
escolha: todos estamos sujeitados a elas. Queira ou não, precisamos respeitá-las
e, se não o fazemos, sofremos consequências. Não dá pra dizer “não concordo
com o que direito penal diz, então ele não aplica a mim”, porque dessa
maneira todos poderíamos cometer crimes impunemente. Se todos escolhessemos
quais direitos públicos seguir ou não, a vida em sociedade se tornaria um caos.
Por isso são normas obrigatórias que todos devemos seguir já que a lei não
poderia ser personalizada de acordo com a vontade de cada um.
Gosta de conteúdos da área do Direito? Confira a página do Artigo Quinto.

Como é aplicado o direito público:


 Direito Constitucional: lei maior do Estado que é superior a todas as
demais normas. No caso da Brasil, nossa constituição data de 1988 e é
denominada “constituição cidadã” porque instituiu o regime
democrático de direito para assegurar que os cidadãos contassem com
direito à liberdade, justiça, igualdade, entre outros.
 “São normas que estruturam a sociedade, ditam modelos
econômicos, políticos e sociais, garantem direitos fundamentais de
cada indivíduo e são moldes para a criação de novas leis”, explica a
advogada Areadny Luiza nesse artigo da Jusbrasil.
 Direito Administrativo: rege as relações entre a administração
pública (ou seja, o governo) e os administrados (os cidadãos). Envolve
temas de interesse público e o bem social comum, como a conservação
de bens públicos, os serviços públicos em geral, o poder da polícia, etc.
 Direito Penal: serve para disciplinar as condutas dos membros da
sociedade que poderiam colocar em risco a harmonia e bem estar de
todos. Essas normas se enfocam em proteger princípios como a vida, a
liberdade, a intimidade, a propriedade, e define o que são considerados
crimes (condutas mais graves) e contravenções (menos graves). Além
disso, também estabelecem como o Estado deveria combater e punir
tais atos.
 Direito Tributário: normas que regulamentam as atividades
financeiras e a arrecadação de fundos entre o Estado e os
contribuintes (impostos, taxas e contribuições).
 Direito Financeiro: define como o Estado deveria aplicar, administrar
e gerenciar os recursos que recebem por meio da tributação para
empregá-los na sociedade.
Estes exemplos são parte dos direitos públicos internos que nos ajudam a
organizar a vida em sociedade dentro do país. Também existem os direitos
públicos externos, que tratam das relações entre diferentes nações. Nesse
caso, as normas que organizam as interações entre Estados soberanos provém do
Direito Internacional Público, que são convenções e tratados que os chefes de
estado assinam em organizações internacionais.

Entenda o que é Direito Privado


Já o direito privado ajuda a organizar as relações e interesses entre partes em suas
vidas privadas. Nesse caso, ambas as partes envolvidas estão em condições de
igualdade, uma não é superior à outra. Essas partes podem ser indivíduos ou
até mesmo de um lado pode estar uma pessoa e do outro o Estado. Porém,
mesmo se o Estado estiver envolvido, não está em uma posição de superioridade.
No direito privado existe certa liberdade para personalizar a aplicação do direito
porque se tratam de normas dispositivas (e não obrigatórias). Por exemplo, em
assuntos de compras e vendas, doações, contratos de mútuo, permutas, entre
outros, as pessoas envolvidas possuem certa autonomia para tomar decisões
sobre como querem realizar o acordo.
Mas, mesmo no direito privado não existe uma liberdade total, porque na
sociedade existem hierarquias naturais que pesam a balança a seu favor. Por
exemplo, entre uma empresa e um funcionário existe uma diferença de poder: a
empresa possui mais recursos e capacidade de ação que o indivíduo. Nesses
casos, é dever do direito garantir que o lado mais frágil não fique em uma
situação vulnerável.

Vamos ver um exemplo:


Quando a empresa e o funcionário decidem qual será o seu salário, existe
certa liberdade para que negociem e tomem uma decisão. Porém, o pagamento
não poderá ser menor que o salário mínimo e o empregado não poderá trabalhar
mais de 44 horas semanais. Essas normas existem como mecanismos para
fomentar a igualdade entre partes, colocar o funcionário em pé de igualdade
com a empresa e garantir que não exista um abuso de poder.
“O direito privado dá certa liberdade às partes para negociarem,
para escolherem como querem fazer. O Estado vai entrar no
direito privado para garantir esse pé de igualdade e impedir que
uma das partes passe a outra para trás”, diz o criador do site
Direito para Calouros, Sávio Coelho, nesse vídeo em que explica
a diferença entre os direitos.
Como o direito privado é aplicado:
 Direito Civil: princípios que regem as relações entre particulares que
possuem condições iguais. Estabelece direitos e impõe obrigações em
temas como os direitos da família e sucessões, o estado das pessoas,
obrigações e contratos, propriedade e patrimônio, entre outros.
 Direito Empresarial: é o conjunto de regras que organiza as
atividades comerciais, desde a criação e administração de empresas até
sua extinção, passando também  pelas relações desenvolvidas na
atividade do comércio (relação entre comprador e vendedor, formas de
pagamento, etc).
 Direito do Trabalho: conjunto de normas que rege as relações de
trabalho, organizando a atuação tanto de trabalhadores como
empregadores.
 Direito do Consumidor: está relacionado com o consumo e a defesa
dos direitos de uma pessoa em relação a determinado produto, bem ou
serviço.
Resumindo: o que é direito público e direito
privado
A doutoranda em Direito do Estado pela Faculdade de Direito da USP, Natália de
Aquino Cesário, resume a diferença entre esses direitos da seguinte forma: o
direito público rege as relações e funções do Estado, regulando e controlando as
atividades estatais, com um interesse público geral em mente. Já o direito privado
organiza a interação entre indivíduos e/ou organizações na qual um interesse
particular é preponderante.
No primeiro caso o interesse público sempre prevalece e existe uma
soberania do Estado, e no direito privado os interesses individuais de
pessoas físicas ou jurídicas possuem o mesmo peso, de maneira
horizontal. “Enquanto no direito público o Estado só pode fazer o que está
previsto em lei, no direito privado as pessoas só não podem fazer o que está
proibido pela lei”, comenta ela, e finaliza explicando que é a partir dessa
separação que podemos entender melhor e garantir a aplicação correta de cada
direito:
“Podemos citar a separação dos interesses estatais, do interesse
público com os interesses do indivíduo, para que não se
confundam. Também existe a separação do que é bem público e o
patrimônio particular. Podemos também falar da execução e
regulação dos serviços públicos e os direitos e deveres das
pessoas particulares.”

Você também pode gostar