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Introdução ao Direito

Ordem Jurídica ou Ordenamento Jurídico: Instrumento capaz de regular as relações


de convivência entre os membros da sociedade.
Esta convivência só é possível se existirem regras que pautem os comportamentos do
Homem. Quem não cumprir estas regras vai sofrer sanções.
Omnipresença do Direito: Contratos de compra e venda; Contrato de casamento;
Contrato de Trabalho; Regras do Código da Estrada, etc.
Contrato de Doação: dar/ oferecer algo a alguém.
Apenas quando existem violações de normas jurídicas e/ ou litígios entre os indivíduos é
que se torna consciência da “realidade jurídica”.
Relação Jurídica é uma relação regulada pelo Direito.
Ordem Social:
• Ordem Moral
A distinção entre Direito e Moral assenta em diferentes critérios:
- O Direito limita-se a impor as regras morais cuja observância é indispensável/
imprescindível à vida em sociedade;
- Coercibilidade: o Direito é coercível (impõe-se ao indivíduo; é exigível); a Moral não é
coercível.
- Incumprimento de uma regra jurídica: existe uma sanção;
- Incumprimento de uma regra moral: não há sanção (existe sim a reprovação da
formação moral da pessoa; má reputação).
- Exterioridade: Direito: é- nos dado, sendo definido pelos órgãos legislativos
competentes (Assembleia da República ou Parlamento) (exterior); Moral: é autónoma,
funda-se na consciência do próprio Homem (interior).
• Ordem Religiosa: ordem de fé e regula comportamentos do Homem
relativamente à entidade divina (seja qual for a religião).
Sanção/Benefício existirá depois da morte.
• Ordem do Trato Social
Normas do Trato Social (usos sociais): forma de estar, de vestir (subjetivo), de se
comportar.
Estão em causa regras de conduta, cuja inobservância implicará a reprovação e
desconsideração social do “infrator”.
Noção do Direito
Estamos perante:
• Uma ordem de convivência humana e ordem necessária (mão há sociedade sem
Direito);
• Um conjunto de regras jurídicas com um sentido: o da justiça (entre o Direito e a
Justiça existe uma relação primacial);
Justiça pelas próprias mãos: Legítima Defesa
• Têm uma existência/ vigência no tempo e no espaço;
• O Direito tem de ter vigência social: os cidadãos deverão observar as normas
jurídicas, consagrando as sanções e respetivos meios de aplicação. Tem ainda de
existir um poder social organizado (poder do Estado) capaz de impor o
cumprimento das regras.
• Assim a vigência efetiva do Direito requer coercibilidade: ameaça de uma
sanção.
Quais os valores fundamentais do Direito?
• Justiça: valor ideal; constitui a razão de ser do Direito;
Se a decisão do Tribunal for demorada deixa de ser justa.
• Equidade: igualdade, imparcialidade, justiça do caso concreto;
• Segurança Jurídica:
- Valor fundamental do Direito e indispensável para a vida em sociedade;
- Está ao serviço da Justiça, sendo muito importante para a realização da tarefa do
Direito, muito embora há quem considere que esteja num grau hierárquico
inferior;
- As normas jurídicas estabilizam as relações sociais, criando segurança;
- Atribui aos cidadãos a confiança, para que possam planificar a defesa dos seus
interesses, de acordo com as regras jurídicas vigentes;
- Tem como objetivo garantir a estabilidade das relações sociais: regra geral:
princípio da não retroatividade da lei (a lei só dispõe para o futuro);
- Contribui para a paz em sociedade (manter a ordem e a segurança é na verdade
um fator de paz).
• Certeza Jurídica:
- Jornal Oficial: Diário da República- onde as leis são publicadas, para que os
cidadãos conheçam as normas jurídicas, os seus direitos e deveres;
- Este valor fundamental do Direito manifesta-se na existência de regras rigorosas
e objetivas: princípio da legalidade; trânsito em julgado da decisão (decisão que
não é suscetível a recurso).
Direito:
• Direito Objetivo: Direito enquanto conjunto de normas jurídicas (que regula
determinada matéria do direito) (Direito do Trabalho, Direito Comercial, Direito
das Sucessões, etc);
• Direito Subjetivo: poderes/ faculdades que as normas de Direito Objetivo
atribuem às pessoas (o poder que as pessoas exercem), a fim de garantir os seus
direitos.
Ramos do Direito
A principal divisão é a que distingue Direito Público/ Direito Privado.
Critério da Posição dos Sujeitos (exame)
São normas de Direito Público as que disciplinam a organização do Estado e as relações
entre o Estado e os entes públicos; assim como as normas que regulam as relações entre
o Estado e um particular, quando aquele detém o poder de soberania- “Ius Imperium”
(Direito Império).
São normas de Direito Privado as que regulam as relações entre os particulares; bem
como entre os particulares e o Estado (quando este não está investido no seu poder de
autoridade).
• Ramos do Direito Público:
Direito Constitucional: estatui os direitos fundamentais dos cidadãos; ocupa-se da
estrutura do Estado, designa as suas funções e define as competências e limites dos órgãos
de Soberania (Assembleia da República, Governo, Tribunais e Presidência da República).
Constituição da República Portuguesa (1976): Lei fundamental do Estado Português,
divide-se em 4 partes.
Direito Administrativo: conjunto de normas jurídicas que disciplina a organização e a
atividade da Administração Pública. Visa a satisfação de necessidades coletivas
(segurança, saúde, educação, etc).
Direito Fiscal: conjunto de regras jurídicas que regula a incidência e cobrança de
impostos. A política fiscal é utilizada como forma de obtenção de receitas públicas e de
redistribuição dos rendimentos.
Direito Penal: conjuntos de normas jurídicas que qualifica como crimes determinados
comportamentos e fixa os pressupostos de aplicação das penas e das medidas de
segurança (internamento). A sanção visa proteger a ordem social e os direitos
fundamentais.
Pena de multa ou prisão.
Direito Processual: conjunto de normas jurídicas que regula a forma que deve ser
seguida para submeter a juízo as relações jurídicas em que surgem conflitos de interesses.
Por outras palavras, regula a propositura de uma ação e respetivo desenvolvimento,
disciplinando o acesso de cada um a tribunal e os atos que este deverá praticar.
O Direito Processual é um Direito Adjetivo (instrumental), na medida em que serve
para permitir a aplicação das normas jurídicas substantivas (as que preveem os direitos e
deveres dos cidadãos).
Direito Internacional Público: conjunto de normas jurídicas que regula as relações entre
os vários Estados na Comunidade Internacional (ou entre Estados e outras entidades
soberanas- Santa Sé, por exemplo).
• Ramos do Direito Privado:
Direito Civil (Direito Privado Comum ou Direito- Regra): conjunto de normas jurídicas
que regula a condição normal das pessoas e bens, assim como o intercâmbio de bens e
serviços. No Código Civil (é de 1966 e à data tem 77 versões) estão consagradas as
disposições gerais aplicáveis a todos os ramos do Direito.
Direito Civil divide- se em 4 partes:
• Direito das Obrigações: regula o tráfico de bens e serviços e tem por instituição
fundamental o “contrato”;
• Direito das Coisas (Direitos Reais): a instituição central é a propriedade (para
além da posse, do usufruto, uso e habitação, servidões…);
• Direito da Família: regula a constituição da família e suas relações (ex:
parentesco, casamento, afinidade, divórcio, adoção…);
• Direito das Sucessões: disciplina o fenómeno sucessório- sucessão legal
(legítima ou legitimária) e voluntária (testamentária e contratual); quais os direitos
e deveres em virtude da morte de uma pessoa para os seus sucessores (herdeiros
ou legatários).
Direito Comercial (1888): conjunto de normas jurídicas que regula os atos e as relações
jurídico- mercantis (atos de comércio, estatuto dos comerciantes, tipos legais societários,
atos de constituição das sociedades comerciais, títulos de crédito…).
O Direito Comercial é um ramo de direito especial: com regras diferentes das do direito
comum, aplicáveis apenas a determinados sujeitos (que exercem a atividade comercial),
objetos ou relações.
Direito do Trabalho: conjunto de normas jurídicas que regula as relações individuais
(entre o trabalhador e empregador) e as relações coletivas de trabalho (entre os sindicatos
e o empregador).
Direito Internacional Privado: conjunto de regras jurídicas que define os princípios e
critérios a aplicar para resolver conflitos emergentes de relações jurídico- privadas
internacionais.
O legislador tem de acompanhar a evolução da sociedade e estar atento às revelações e
mudanças sociais: Direito da Informática, Direito da Medicina, Direito Farmacêutico,
Direito da Comunicação, Direito do Marketing, inter dia (entre outros).
Norma Jurídica
“Comando geral e abstrato imposto coercivamente pelo Estado.”
• Comando: imperatividade: Todavia, nem sempre a norma jurídica impõe um
comando, uma determinada conduta, uma vez que existem regras jurídicas que
atribuem poderes ou faculdades.
• Generalidade: Dirige- se a todos os cidadãos de ordenamento jurídico e não a um
conjunto determinado e individualizável de pessoas.
• Abstração: As normas jurídicas regulam um número indeterminado de casos,
uma vez que não podem ser individuais e/ou concretas.
• Coercibilidade: o Direito é coercível: impõe- se ao indivíduo. Para este efeito, é
preciso a existência de um poder socialmente organizado (poder do Estado), capaz
de impor o cumprimento das normas jurídicas, inclusive recorrendo à força, se
necessário, para impedir ou sancionar a violação de uma regra jurídica.
Estrutura das normas jurídicas:
• Previsão- Estatuição- Sanção;
• Previsão- Estatuição.
Em determinadas normas, há quem identifique 3 elementos:
• Previsão: apresenta a forma geral e abstrata de uma situação futura;
• Estatuição: uma vez verificada a previsão, a estatuição indica a conduta a
prosseguir ou os respetivos efeitos (comportamento a adotar);
• Sanção: consequência da violação da estatuição.
Quem, em caso de grave necessidade, nomeadamente provocada por desastre, acidente,
calamidade pública ou situação de perigo comum, que ponha em perigo a vida, a
integridade física ou a liberdade de outra pessoa, deixar de lhe prestar o auxílio necessário
ao afastamento do perigo, seja por ação pessoal, seja promovendo o socorro, é punido
com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias.
Noutras regras jurídicas, há quem identifique apenas 2 elementos:
• Previsão: hipótese;
• Estatuição: consequência.
Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer
disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o
lesado pelos danos resultantes da violação.
Responsabilidade Civil: indemnização
Classificação das normas jurídicas:
• Precetivas: impõem determinadas condutas (por exemplo, as normas que nos
obrigam a pagar impostos);
• Proibitivas: proíbem determinadas condutas (por exemplo, as normas penais
incriminadoras);
• Permissivas: permitem determinadas condutas (por exemplo, as regras civis que
permitem aos nubentes a celebração de uma convenção antenupcial) - ex: querer
a separação de bens antes de casar; eu querer utilizar um pseudónimo;
• Universais: aplicam- se em todo o território nacional- Portugal Continental,
Açores e Madeira (por exemplo, leis, decretos-leis, portarias). Código Civil é uma
norma universal;
• Regionais: aplicam-se numa determinada região (como é o caso dos Decretos
Legislativos Regionais- Madeira (M) e dos Açores (A);
• Locais: aplicam-se, por exemplo, no território de uma autarquia (por exemplo, as
posturas (regulamento) das Câmaras Municipais);
• Gerais: constituem o direito- regra, ou seja, estabelecem o regime- regra para o
setor de relações que regulam;
• Excecionais: regime oposto ao regime- regra das normas gerais (desvio ao regime
regra);
Direito Comum: aplica- se a uma generalidade de destinatários (Direito Civil);
Direito Especial: aplica- se a círculos mais restritos de pessoas, coisas ou relações
(Direito Comercial- só para aqueles que exercem uma atividade comercial).
• Autónomas: têm por si só um sentido completo;
• Não Autónomas: não têm um sentido completo, remetendo assim, para outras
normas (remissões nos artigos);
• Imperativas: aplicam- se haja ou não declaração de vontade dos sujeitos nesse
sentido (por exemplo, trabalhador e empregador não podem acordar uma
redistribuição mínima mensal garantida (RMMG) para um horário completo
inferior a 600 euros);
• Dispositivas: normas que apenas se aplicam se as partes o determinarem;
• Mais que perfeitas: normas cuja violação implica uma pena e a nulidade do ato
(dupla sanção);
• Perfeitas: implica a nulidade do ato, mas não há pena;
• Menos que perfeitas: importa uma sanção, mas não a nulidade do ato;
• Imperfeitas: não importa nem a nulidade do ato, nem uma pena; não há qualquer
sanção prevista.
Fontes de Direito
A origem do Direito; o que constitui o Direito como direito; questão de saber como se
criam as regras jurídicas que regulam a vida do Homem em sociedade.
• Sentido Político ou Orgânico: órgãos que criam as normas jurídicas;
• Sentido Material ou Instrumental: diferentes instrumentos (leis, decretos-leis,
portarias…);
• Sentido Sociológico ou Causal: fatores sociais subjacentes à criação das normas
jurídicas;
• Sentido Técnico- Jurídico ou Formal: modos de formação ou revelação das
normas jurídicas (Importante).
Elenco Tradicional:
• Lei;
• Costume;
• Doutrina;
• Jurisprudência.
Fontes de Direito:
• Voluntárias ou intencionais: são deliberadamente produzidas (lei, doutrina e
jurisprudência);
• Não Voluntárias ou não intencionais: não são deliberadamente produzidas
(costume e princípios fundamentais do Direito).
• Fontes Imediatas: têm força vinculativa própria (a lei);
• Fontes Mediatas: não têm força vinculativa própria; só quando a lei o disser.
Lei
• Processo mais vulgar da criação do Direito;
• Fonte voluntária;
• Fonte imediata (art.1º nº1 CC);
• “Todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes…”
(art.1º nº2 CC).
Lei em sentido material: declaração de uma ou mais normas jurídicas pela autoridade
competente (leis, decretos-lei, decretos legislativos regionais, resoluções do conselho de
ministros, portarias…);
Lei em sentido formal: qualquer diploma emanado pela Assembleia da República (órgão
legislativo por excelência).
São leis em sentido material e formal:
• Constituição da República Portuguesa;
• Leis de Revisão Constitucional;
• Leis da Assembleia da República.
Costume
Elemento material: corpus: prática social repetida; a observância generalizada de
determinado padrão de comportamento;
Elemento psicológico: animus: a convicção de se estar a obedecer a uma norma jurídica
(comando geral e abstrato).
• Outro processo de formação do Direito;
• Fonte não voluntária: não deliberadamente produzida;
• Usos: existe o corpus, mas não existe o animus. Os usos são fonte mediata do
Direito (art.3º CC);
• Direito Consuetudinário: direito formado através do costume;
• O art.348º CC estabelece que os tribunais devem aplicar as normas formadas por
via consuetudinária; não obstante, a parte que o invocar, terá que provar a sua
existência.
Doutrina
Estamos perante o conjunto de opiniões dos juristas sobre determinadas matérias do
Direito.
Não é fonte mediata nem fonte imediata.
A doutrina é uma fonte de inspiração nas decisões dos tribunais e na posterior formação
das leis.
Jurisprudência (não é fonte imediata do Direito): conjunto das decisões dos tribunais.
Designam-se:
• Sentenças: quando são proferidas por um tribunal singular (1 juiz);
• Acórdão: quando são proferidas por um tribunal coletivo (3 juízes).
Art.202º e seguintes da CRP.
Jurisdição Comum Tribunais Judiciais
Jurisdição Administrativa Tribunais Administrativos e Fiscais
Tribunais Judiciais: O território nacional divide-se em 23 comarcas. Em cada comarca
existe um tribunal judicial de 1ª instância.
• Artigos 210º e 211º CRP.
Supremo Tribunal da Justiça (sede
em Lisboa e jurisdição em todo o
território nacional)
Tribunais da Relação (Coimbra,
Évora, Guimarães, Lisboa, Porto)

Tribunais de 1ª Instância

Matéria cível:
Alçada: é o limite de valor da ação, pelo qual o tribunal decide sem que seja possível
interpor recurso (sem ser preciso recorrer).
Alçada do Tribunal da Relação: 30 000€ (30 000.01€).
Alçada dos Tribunais de 1ª Instância: 5000€ (5000.01€).
Para se recorrer, a causa terá de ter valor superior à alçada do tribunal a que se recorre.
Para além do mais, a decisão impugnada terá de ser desfavorável ao recorrente em valor
superior a metade da alçada do tribunal de que se decorre (princípio de sucumbência).
Claro que há decisões que admitem sempre recurso independentemente do valor da causa
e da sucumbência (art.629º CPC).
Matéria Criminal: não há alçada (art.44º nº2 LOSJ).
Tribunais Administrativos e Fiscais (art.212º CRP)

Supremo Tribunal Administrativo (sede em


Lisboa e jurisdição sobre todo o território
nacional
Tribunal Central Administrativo
(do Sul e do Norte)

Tribunais Administrativos e Fiscais

Tribunais Administrativos e Fiscais


• Art.212º CRP;
• É o órgão superior da hierarquia dos tribunais administrativos e fiscais;
• Compete aos tribunais administrativos e fiscais o julgamento das ações e recursos
contenciosos que tenham por objeto dirimir (extinguir) os litígios emergentes das
relações jurídicas administrativas e fiscais.
• Os tribunais da jurisdição administrativa e fiscal têm alçada.
Tribunal dos Conflitos
• Conflito negativo de jurisdição: quando quer os tribunais judiciais (jurisdição
comum), quer os tribunais administrativos e fiscais (jurisdição administrativa) se
declaram incompetentes, em razão da matéria, para dirimir determinado litígio
(art.109º CPC).
Será o Tribunal dos Conflitos a decidir se serão os tribunais da jurisdição comum ou os
tribunais da jurisdição administrativas e fiscal a resolver o litígio.
Codificação e Técnicas Legislativas (exame)
Um Código distingue-se de:
• Estatuto: lei que regula de forma unitária e sistemática uma atividade, carreira ou
profissão;
• Lei Orgânica: lei que regula de forma unitária e sistemática o funcionamento de
um órgão ou serviço;
• Compilação de leis: coletânea que agrupa várias leis em vigor.
Desvantagens e vantagens da Codificação
• Há quem entenda que a codificação torna o direito rígido (há sempre alterações,
o Direito não é rígido);
• Há quem entenda que é a melhor forma de o cidadão ter acesso ao Direito,
permitindo um conhecimento mais fácil e mais acessível das regras jurídicas; além
do mais evita a incompatibilidade das normas.
Técnicas Legislativas:
• Partes gerais: fixam-se desde logo os princípios gerais e fundamentais de
determinada matéria, evitando-se assim repetições (ex: Parte geral do CC);
• Remissões Legais: determina a aplicação de outras normas; objetivo: evitar
repetições. As remissões podem ser feitas para artigos do mesmo diploma (ex:
art.1151º CC) ou para diplomas diferentes (ex: art.1153º CC);
• Definições Legais: o legislador define e explica conceitos.
• Presunções Legais: art.342º nº1 CC, art.349º, art.350º. Quando alguém dispõe de
uma presunção legal não tem de fazer prova do facto, caberá à outra parte fazer
prova em contrário. O legislador utiliza as presunções, uma vez que existem factos
constitutivos de direitos cuja prova é muito difícil de fazer; outras vezes, decide
socorrer a parte que considera menos protegida (como é o caso da presunção do
contrato de trabalho).
- Presunções iuris et de iure- absolutas: absolutas e irrefutáveis: não admitem prova em
contrário (ex: art.243º nº3 CC);
- Presunções iuris tantum- relativas (as mais comuns): ilidíveis (refutáveis) mediante
prova em contrário (podem ser contrariadas) (ex: art.786º nº1 e nº3 CC).
• Ficções Legais: a lei determina que determinado facto ou certa situação se deve
considerar como idêntica a um ou a uma outra que se encontra prevista e
regulamentada na lei.
Exemplos:
- Art.275º nº2 CC, art.805º nº2 CC;
- Deferimento tácito ou indeferimento tácito (no âmbito do Direito Administrativo);
- Num contrato de trabalho declarado nulo ou anulado, considera-se que produz efeitos
como se fosse válido durante o tempo da sua execução (art.122º CT).
Conceitos Indeterminados: conceitos que necessitam de preenchimento valorativo: boa
fé, bons costumes, ordem pública, interesse público, justa causa. Estes conceitos evoluem,
assim sendo, permitem ao julgador ajustá-los à solução do caso concreto.
Cláusulas Gerais: trata-se de regras jurídicas que não disciplinam casos determinados,
mas deixam indefinidos os casos a que virão a aplicar-se.
Lei:
• Entrada em vigor
Art.5º nº1 CC: “A lei só se torna obrigatória depois de publicada no jornal oficial.” - Os
atos legislativos têm de ser publicados no Diário da República.
Art.119º CRP.
Art.5º nº2 CC: “Entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei
fixar ou, na falta de fixação, o que for determinado em legislação especial.”
Vacatio Legis: período de tempo que decorre entre a data da publicação e a data de
entrada em vigor da lei.
A vacatio legis serve para que os cidadãos tomem conhecimento da existência do diploma
e quais as respetivas condições de aplicação.
Objetivo: para que as pessoas tomem conhecimento e se possam adaptar.
Se o legislador nada disser, a lei entra em vigor no 5º dia após a sua publicação.
Os prazos contam-se a partir do dia imediato ao da publicação.
O legislador pode então fixar no próprio diploma a sua data de entrada em vigor. Duas
hipóteses:
• Redução do prazo: em casos urgentes (ex: entrada em vigor no dia seguinte ao
da publicação);
• Aumento do prazo: em casos de complexidade da matéria e /ou necessidade de
um período de adaptação.
Termo da Vigência
Art.7º nº1 CC: “Quando se não destine a ter vigência temporária, a lei só deixa de vigorar
se for revogada por outra lei.”
Duas formas de cessação da vigência da lei:
Caducidade:
• A própria lei poderá prever uma data de cessação de vigência: “para vigorar
durante o ano civil de 2019”;
• Poderá prever um prazo de duração: “enquanto durar determinada guerra”;
• Poderá ainda caducar pelo desaparecimento da realidade a que se aplicava.
Revogação: pressupõe sempre a entrada em vigor de uma nova lei.
• Quanto à forma: art.7º nº2 CC:
- Expressa: resulta de declaração expressa;
- Tácita: incompatibilidade entre as novas disposições e as regras precedentes
(anteriores).
• Quanto à extensão: art.7 nº2 CC:
- Total (Ab-rogação): a lei nova revoga a lei anterior;
- Parcial (derrogação): a lei nova revoga apenas uma parte da lei antiga (neste caso, diz-
se que a lei foi “alterada”).
Hierarquia das Leis
Perante um conflito, qual é o ato legislativo que prevalece?
Existem vários princípios a ter em conta:
• Uma lei de grau inferior não pode contrariar uma lei de grau superior;
• Duas leis da mesma hierarquia: vigora a lei mais recente;
• Leis especiais prevalecem sobre leis gerais (art.7º nº3 CC).
Constituição da República Portuguesa
Normas de direito europeu e internacional; Leis e Decretos-Lei; Decretos Legislativos
Regionais; Decretos Regulamentares; Decretos Regulamentares Regionais; Resoluções
do Conselho de Ministros; Portarias; Despachos Normativos; Instruções; Circulares;
Posturas.
A lei e o decreto-lei estão no mesmo patamar hierárquico: prevalece o mais recente.
Interpretação da Lei
• Designada pela doutrina e jurisprudência por “Hermenêutica Jurídica”.
Intérprete é diferente de Legislador
A interpretação da lei será feita por qualquer pessoa, “designadamente pelos juristas e
pelos tribunais, na sua tarefa de aplicação das leis.” Mesmo as normas jurídicas que nos
parecem mais claras precisam de ser interpretadas. Está em causa a “interpretação
doutrinal”.
Interpretação doutrinal é diferente de Interpretação autêntica
• Interpretação autêntica: é feita pelo próprio legislador através de uma nova
lei. Quando uma lei suscita dúvidas quanto ao seu sentido, o órgão que a criou
tem competência para a interpretar.
Lei interpretativa (tem efeitos retroativos): a lei que tem como objetivo fixar o sentido
e o alcance com que deverá valer uma lei anterior (art.13º CC).
Art.9º CC: Interpretação da lei
Elementos da interpretação da lei:
• Elemento Gramatical (literal): letra da lei;
• Elemento Lógico: “o espírito da lei”:
- Elemento Racional ou Teleológico (art.9º nº1 CC): está em causa a ratio legis da
norma (razão de ser da lei; o motivo de aparecimento da lei).
- Elemento Sistemático (art.9º nº1 CC): contexto da lei (o intérprete não deverá
interpretar a norma isoladamente, mas deverá ser incluída no seu contexto – conjunto de
regras que regulam a mesma matéria); lugares paralelos (conjunto de normas que
regulam matérias ou institutos semelhantes; recorre-se a uma norma mais clara para
interpretar uma norma mais obscura).
- Elemento Histórico (art.9º nº1 CC): história evolutiva do instituto (conhecer as
circunstâncias em que a lei foi elaborada- occasio legis); fontes do Direito (os textos
legais e doutrinais que inspiraram o legislador na elaboração da norma, bem como o
recurso ao Direito comparado- leis, doutrina e jurisprudência estrangeiras);
trabalhos preparatórios (trata-se de anteprojetos, projetos de lei, propostas de lei que
estiveram na base da formação da lei).
Modalidades de Interpretação:
• Interpretação Declarativa: a letra e o espírito da lei coincidem, ou seja, o
intérprete limita-se a retirar o sentido que o texto transmite claramente, por ser
esse o sentido que corresponde ao pensamento do legislador;
• Interpretação Extensiva: o intérprete chega à conclusão de que o texto da lei
diz menos do que aquilo que o legislador pretendia dizer. Desta forma, o
intérprete alarga o texto da lei, dando-lhe um alcance conforme ao espírito da
lei;
• Interpretação Restritiva: o intérprete chega à conclusão de que o texto da lei
diz mais do que aquilo que o legislador pretendia dizer. Desta forma, o intérprete
restringe o texto da lei, dando-lhe um alcance conforme o pensamento
legislativo;
• Interpretação Revogatória: o intérprete chega à conclusão que existe uma
incompatibilidade entre duas normas jurídicas. Prevalece a lei mais recente.
• Interpretação Enunciativa: o intérprete, por via da racionalização e da
dedução jurídica, retira da norma interpretada todas as suas consequências.
- Argumento a maiori ad minus: a lei permite o menos (ex: a lei que permite um
condutor estacionar o seu veículo em determinado lugar, permite também parar o
veículo nesse lugar);
- Argumento ad minori ad maius: a lei que proíbe o menos também proíbe o mais (ex:
se é proibido andar de mota com duas pessoas, também é proibido andar de mota com
mais de duas pessoas);
- Argumento a contrario: é o mais relevante na interpretação enunciativa. “A partir de
uma norma excecional, deduz-se que os casos que ela não contempla seguem um regime
oposto, o regime-regra” (ex: determinada norma determina que em tempo de guerra há
recolher obrigatório às 20h; logo poder-se-á deduzir que quando não há guerra, não há
recolher obrigatório às 20h).
Integração da Lei
Processos de integração das leis:
• Noção de lacunas (art.10ºCC): falta de previsão ou de mera regulamentação
(“Ausência de uma norma jurídica que permite resolver uma situação da vida
social que merece tutela jurídica.”).
Art.8º CC: o Tribunal não poderá abster-se de julgar, invocando a falta da lei.
Espécies de Lacunas:
• Voluntárias: a inexistência de regime jurídico é querida pelo legislador
(“silêncio eloquente da lei”);
• Involuntárias: “o legislador não previu o caso que reclama solução jurídica”,
não existindo, assim, lei que a regule (escapou à previsão do legislador).
Espécies de lacunas quanto ao tempo:
• Iniciais:
- Podem ser conhecidas: o legislador não quis resolver a questão e preferiu que a
jurisprudência a resolva;
- Podem ser ignoradas: o legislador não teve conhecimento da situação ou inclusive
julgou que o caso já estava regulado.
• Posteriores: resultam de novas questões que surgem das evoluções
tecnológicas, económicas ou sociais.
Integração de lacunas:
• Integração: estamos perante a atividade que se destina a encontrar uma solução
jurídica para uma lacuna (art.10º CC).
Dois meios de preenchimento:
- Recurso à analogia (art.10º nº1 e nº2 CC);
- No caso de não existir um caso análogo, cria-se uma norma para resolver um caso
concreto (art.10º nº3 CC).
Caso análogo são casos semelhantes. Casos semelhantes merecem um tratamento
semelhante.
Recurso a uma norma “ad hoc” criada pelo julgador dentro do espírito do sistema
(art.10º nº3 CC): “Na falta de caso análogo, a situação é resolvida segundo a norma que
o próprio intérprete criaria se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema.”
Nesta situação, o julgador toma o lugar do legislador e deverá ter em conta:
• A arquitetura do sistema jurídico;
• Os princípios gerais do direito.
O julgador cria uma norma jurídica, dentro do espírito do sistema, mas apenas vale para
aquele caso em concreto. Daí que este processo permita diferentes interpretações, que
em nada contribuem para a certeza e segurança jurídicas.
Art.8º CC.
Casos onde não é possível recorrer à analogia:
• Art.11º CC: nas normas excecionais (não há recurso à analogia, não há caso
semelhante, estabelece uma exceção ao regime regra);
• Art.29º nº1 e nº3 CRP e art.1º CP: nas normas penais incriminadoras (tem de
estar lá que é crime ou então não é considerado crime);
• Art.103º nº2 e nº3 CRP: nas normas de direito fiscal quanto à incidência do
imposto ou que definem as garantias dos contribuintes.
Aplicação analógica é diferente de Interpretação Extensiva
• Aplicação analógica: conduz à aplicação de uma lei a casos que ela não
contempla nem na letra da lei, nem no seu espírito;
• Interpretação Extensiva: determinada situação não está comtemplada na letra
da lei, mas no seu espírito, uma vez que o legislador disse menos do que aquilo
que pretendia.
Aplicação das leis no tempo
Uma das soluções existentes para resolver os problemas de sucessão de leis no tempo
são as disposições transitórias (regras/normas) fixadas na nova lei: regulam a transição
de um regime legal para outro (art.1º a 23º do Decreto-lei nº 47344/66, de 25 de
novembro, que aprovou o Código Civil).
Disposições transitórias (transitam de um regime antigo para o novo):
• De caráter formal: disposições que se limitam a determinar qual das leis se
aplica- lei antiga (LA) ou a lei nova (LN);
• De caráter material: estabelecem uma regulamentação própria, que não
coincide com a lei antiga, nem com a lei nova.
Todavia, na maior parte dos casos, estas disposições não existem, ou seja, o legislador
nada refere sobre a lei a aplicar.
Regra Geral
• Princípio da não retroatividade da lei: a lei só dispõe para o futuro;
• Enquadramento legal (art.29º CRP e art.12º CC).
Direito Penal: art.29º nº1 e nº4 CRP (este princípio tem um caráter absoluto).
Direito Civil: art.12º CC.
Desta forma, para o Direito Penal o princípio da não retroatividade da lei é absoluto.
Art.12º nº2, 1ª parte: condições de validade (substancial ou formal) de quaisquer factos
ou sobre os seus efeitos: entende-se, em caso de dúvida, que só visa os factos novos.
A lei aplica-se apenas aos novos factos da espécie prevista, isto é, aos factos que
venham a ocorrer após a sua entrada em vigor.
Art.12º nº2, 2ª parte: conteúdo de certas relações jurídicas: entende-se que a lei
abrange as próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada em
vigor.
A lei nova aplica-se não só às relações jurídicas que se constituam de novo, mas
também às próprias relações já constituídas e que subsistam à data de início de vigência
da nova lei.
Assim sendo, o intérprete tem de determinar se a lei nova é:
• Uma lei que regula factos e se está em causa a sua validade: nesta situação, a
lei nova aplica-se apenas aos factos novos;
• Uma lei que regula “o conteúdo de relações jurídicas”, isto é, “reguladora de
direitos e deveres de que são titulares os respetivos sujeitos”: neste caso, a lei
nova aplicar-se-á às relações “nascidas à sombra da lei antiga e que se mantêm
na vigência da lei nova”.
O princípio geral da não retroatividade da lei sofre uma exceção (art.13º nº1 CC).
“A lei interpretativa integra-se na lei interpretada, ficando salvos, porém, os efeitos já
produzidos pelo cumprimento da obrigação, por sentença passada em julgado, por
transação, ainda que não homologada, ou por atos de natureza análoga.”
Está em causa a interpretação autêntica: tudo se passa como se a lei interpretativa
tivesse sido publicada na data em que o foi a lei interpretada; desta forma, aplica-se aos
factos ocorridos antes da sua entrada em vigor. Todavia, ficam salvos os efeitos
produzidos, a fim de garantir a estabilidade das situações já consumadas.
Aplicação no tempo das leis sobre prazos (art.297º nº1 e nº2 CC)
Lei nº…: Assembleia/ Parlamento
Decreto-lei: Governo
Aplicação das leis no espaço
Estão em causa situações da vida privada internacional que estão em conexão com
vários ordenamentos jurídicos, surgindo assim um conflito de leis no espaço.
Estes conflitos são resolvidos mediante as regras de conflito, cuja função é determinar
qual é a lei competente para regular a situação. As regras de conflito são o objeto do
Direito Internacional Privado (art.14º a 65º CC).
Ilicitude- Noção
Ato ilícito: quando se viola um direito ou um interesse legalmente protegido.
Vários tipos de ilicitude:
Ilícitos Civis: quando se viola uma norma de direito privado, em que se atingem
interesses particulares. Aplicar-se-ão sanções civis.
Responsabilidade civil: indemnizar o lesado pelos danos causados.
Ilícitos Penais: quando se viola uma norma de direito penal (direito público), em que se
atingem valores fundamentais da sociedade em geral (paz, segurança). Aplicar-se-ão
sanções penais (pena de prisão, pena de multa ou medidas de segurança).
Responsabilidade penal.
Quais são as funções da pena?
• Retribuição: há que retribuir todo “o mal” causado à sociedade pela prática do
ilícito penal;
• Prevenção geral: intimidar os outros cidadãos para que estes não pratiquem
crimes;
• Prevenção especial: obstar o infrator da prática de futuros crimes.
Ilícitos meramente civis: por exemplo, não cumprimento de uma dívida.
Ilícitos meramente penais: por exemplo, não ter licença de uso e porte de arma.
Ilícitos Disciplinares: quando um trabalhador viola deveres a que está sujeito, por força
da celebração de um contrato de trabalho. Aplicar-se-ão sanções disciplinares.
Responsabilidade disciplinar.
Ilícitos de mera ordenação social: quando se violam normas que protegem valores
fundamentais da sociedade, mas que não atingem a dignidade penal.
Ilícito de mera ordenação social – contraordenação
A prática de uma contraordenação corresponde ao pagamento de uma coima (sempre
em dinheiro; podem ser aplicadas em pessoas singulares ou coletivas; o montante
pecuniário varia; são aplicadas pelas autoridades administrativas e pelos tribunais).
Multa: resulta da prática de um ilícito penal; é aplicada pelos tribunais; pena de prisão
ou pena de multa; mínimo 10 dias e máximo 360 dias; substituição de multa por
trabalho.
Causas da Exclusão da Ilicitude:
• Ação Direta: recurso à força como forma indispensável de assegurar ou realizar
um direito, dada a impossibilidade de recorrer, em tempo útil, aos meios
judiciais ou policiais, e desde que o agente use da força apenas na medida
necessária para evitar o prejuízo - princípio da proporcionalidade.
• Legítima Defesa: consiste na reação que se destina a afastar uma agressão atual
e ilícita da pessoa ou do património do agente ou de um terceiro.
Requisitos da legítima defesa:
- Agressão: tem de existir uma ofensa à pessoa ou aos bens dessa pessoa ou de um
terceiro;
- Atualidade e ilicitude da agressão: a agressão contra a qual se reage tem de ser atual
e contrária à lei;
- Necessidade da reação: não é viável nem eficaz o recurso aos meios normais;
- Adequação: proporcionalidade entre o prejuízo que se causa e aquele que se pretende
evitar, de modo que o meio usado não provoque um dano superior ao que se pretende
afastar.
• Estado de Necessidade: é lícita a prática de atos que destroem ou danificam
coisa alheia, com o fim de remover um perigo atual de um dano superior do
agente ou de terceiro.
Quem age em estado de necessidade “sacrifica” uma coisa alheia, com o objetivo de
afastar um perigo atual de um prejuízo superior.
Para todos os efeitos, há que indemnizar os prejuízos causados (art.339º nº2 CC).
• Consentimento do lesado: consiste na concordância do titular do direito à
prática do ato lesivo. Se não houvesse esse consentimento, estaríamos perante
uma violação desse direito.
Ato Ilícito – Ato contrário à lei
Responsabilidade Civil: atua através do surgimento da obrigação de indemnizar.
• Responsabilidade Civil Contratual (violação de contratos);
• Responsabilidade Civil Extracontratual (violação de um direito absoluto).
Responsabilidade Civil Contratual: resulta da violação de um direito de crédito ou
uma obrigação (art.798º CC), com o correspondente dever geral de indemnizar
(art.562º CC). Trata-se, assim, da responsabilidade do devedor para com o credor pelo
não cumprimento da obrigação.
Exemplos: não pagamento de uma dívida; a não execução atempada da obra.
Pressupostos:
• Ilicitude: desconformidade entre a conduta expetável para realizar a prestação e
a conduta efetivamente tida;
• Culpa: seja na forma de dolo ou negligência;
• Prejuízo: sofrido pelo credor;
• E nexo de causalidade: entre o facto e o prejuízo.
A falta de culpa funciona como exceção, uma vez que o art.799º CC estabelece uma
presunção de culpa do devedor.
Responsabilidade Civil Extracontratual: está em causa a violação de um direito
absoluto (ao qual corresponde um dever geral de respeito) ou a prática de um ato lícito
que causa prejuízo.
• Responsabilidade Civil Extracontratual por Factos Ilícitos;
• Responsabilidade Civil Extracontratual pelo Risco;
• Responsabilidade Civil Extracontratual por Factos Lícitos.
Responsabilidade Civil Extracontratual por Factos Ilícitos (art.483º nº1 CC): trata-
se de uma responsabilidade subjetiva, isto é, que assenta na culpa do lesante.
Neste artigo, existem 2 formas de ilicitude:
• Violação de um direito de outrem (ex: violação do direito de propriedade ou de
direitos de personalidade);
• Violação de regras jurídicas que protegem interesses alheios (violação das regras
de trânsito).
Têm de estar preenchidos 5 pressupostos:
• Facto Voluntário: facto controlável pela vontade humana e não um mero facto
natural produtor de danos;
• Facto Ilícito: violação de um direito ou de um interesse legalmente protegido
(violação de um direito, ação contrária à lei – é necessário dizer que direito foi
violado);
• Culpa: é necessário que o facto seja culposo, isto é, passível de uma censura
ético-jurídica. Existem 2 modalidades de culpa: dolo (intenção de causar dano)
ou negligência/mera culpa (omissão de um dever de cuidado ou diligência
exigíveis de forma a evitar o dano);
Art.487º CC: “É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão”.
Presunções de Culpa: art.491º, 492º e 493º.
• Dano:
- Patrimoniais: avaliação pecuniária do dano real (por exemplo, valor do telemóvel);
- Não Patrimoniais ou Morais: resultam da lesão de bens estranhos ao património do
lesado (saúde, integridade física, liberdade, honra…), que não são avaliáveis em
dinheiro. A atribuição de uma soma pecuniária é designada pela doutrina como
compensação (não se trata de dar um preço à dor ou ao sofrimento, mas uma forma de
satisfação).
• Nexo de Causalidade entre o facto e o dano: existe uma ligação entre esses 2
elementos que nos permite concluir que o facto constitui a causa do dano.
Uma vez preenchidos os 5 pressupostos da responsabilidade civil extracontratual por
factos ilícitos, existirá a obrigação de indemnizar o lesado (art.483º nº1 e art.566º).
1º - deve efetuar a reconstituição natural;
2º - quando a reconstituição for impossível (não há mais nenhum igual), insuficiente
(tinha valor sentimental, ou seja, dano moral) ou excessivamente onerosa (quando
estragas um telemóvel que foi comprado em Nova York e cá não há um modelo igual,
teria que ir lá comprar um igual), teremos uma indemnização em dinheiro (esta é a
hipótese mais comum).
A indemnização em dinheiro cobre os danos patrimoniais (prejuízos suscetíveis de
avaliação em dinheiro) (art.564º CC) compreende:
• Danos emergentes: o prejuízo imediato sofrido pelo lesado (perda
patrimonial);
• Lucro cessante: vantagens que o lesado deixou de obter em consequência da
lesão (taxista – vidro partido; 2 dias sem trabalhar pelo facto do táxi estar na
oficina).
Art.496º nº1 CC - Na fixação da indemnização deverá atender-se aos danos não
patrimoniais (danos morais) que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito.
Art.494º - Quando estivermos perante a negligência, a lei admite uma limitação
equitativa da indemnização.
Responsabilidade Civil Extracontratual pelo Risco: responsabilidade objetiva (não
há culpa, mas tem de indemnizar). Só existe quando a lei a consagrar (art.483º nº2 CC).
Não há conduta culposa, mas há conduta perigosa;
Trata-se de atividades socialmente úteis ou aceites, todavia envolvem riscos de causar
prejuízos a terceiros;
Por força da responsabilidade civil pelo risco, responsabilizam-se indivíduos pelos
danos causados no âmbito das suas atividades lucrativas, embora sem culpa;
Princípio do risco: ubi commoda, ibi incommoda (aquele que desfruta de vantagens de
determinada situação, deverá de igual modo, suportar os prejuízos dela decorrentes).
Art.500º, 501º, 503º, 509º…
Responsabilidade Civil Extracontratual por Factos Lícitos: a conduta do lesante não
é contrária ao Direito, não obstante seria excessivo não reparar os danos causados ao
lesado. Na verdade, aquela conduta visa satisfazer o interesse coletivo ou um interesse
de valor superior de uma pessoa.
Art.339º, 1322º, 1348º, 1349º, 1367º…
O julgador/juiz só pode recorrer à equidade quando a lei o disser.
Noção e elementos da Relação Jurídica
Relação Jurídica:
Em sentido amplo: toda a relação da vida social relevante para o Direito (é de facto
uma noção muito ampla, uma vez que apenas ficam excluídas as relações estranhas ao
Direito – as de amizade e gratidão).
Em sentido restrito: relação da vida social relevante para o Direito, mediante a
atribuição a um sujeito (sujeito ativo) de um direito subjetivo e a imposição a outro
sujeito (sujeito passivo) de um dever jurídico ou de uma sujeição. (saber o que é um
direito subjetivo)
Em sentido abstrato: considerar a expressão “relação jurídica” com menção a um
modelo previsto na lei. Ex: A relação pela qual o arrendatário deve pagar a renda ao
senhorio.
Em sentido concreto: trata-se de uma relação que existe na realidade, entre pessoas
determinadas, sobre um objeto determinado e procedendo de um facto jurídico também
ele determinado. Ex: relação pela qual o senhorio A pode exigir do arrendatário B a
renda de valor x, pelo arrendamento da fração autónoma y.
1 – Poder de livremente exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo
(ação) ou negativo (omissão): Direito Subjetivo
2 – Por um ato livre de vontade ou integrado por uma decisão judicial produzir
determinados efeitos que inevitavelmente se impõem a outra pessoa: Direito
Potestativo
Direito Subjetivo propriamente dito:
Sujeito Ativo: Direito Subjetivo propriamente dito.
Sujeito Passivo: Dever Jurídico.
Se o sujeito ativo titular de um direito subjetivo propriamente dito, sobre o sujeito
passivo recai um dever jurídico.
• Poder de exigir: direito de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação
(caso o sujeito passivo não cumpra o dever jurídico). Ex: pagamento de uma
dívida; se o devedor não cumpre, o credor poderá intentar uma ação em tribunal.
• Poder de pretender: o sujeito ativo não pode reagir, mas se o sujeito passivo
cumprir voluntariamente, a lei trata a situação como se o comportamento lhe
pudesse ter sido exigido. Ex: Obrigações naturais – art.402º CC (aposta).
Direito Potestativo:
Sujeito Ativo: Direito Potestativo.
Sujeito Passivo: Sujeição.
Se o sujeito ativo é titular de um direito potestativo, sobre o sujeito passivo recai uma
sujeição (fica obrigado a suportar determinadas consequências).
Direitos Potestativos:
Constitutivos: produzem a constituição de uma relação jurídica, por ato unilateral do
seu titular. Ex: servidão de passagem (art.1550º CC); Direito de preferência (art.1091º,
1112º nº4, 1380º, 1409º CC).
Modificativos: simples modificação numa relação jurídica existente e que continua a
existir, embora modificada. Ex: art.1568º, 1767º, 1794º.
Extintivos: extinção de uma relação jurídica existente. Ex: art.1569º, 1773º, 1100º CC.
Classificações de Direitos Subjetivos:
• Absolutos: impõem-se a todas as pessoas, corresponde-lhes um dever geral de
respeito – obrigação passiva universal. Ex: direito de propriedade, direitos de
personalidade;
• Relativos: impõem-se a determinadas pessoas. Ex: direitos de crédito.
• Patrimoniais: suscetíveis de avaliação em dinheiro (direito de propriedade,
direito de crédito, direitos de autor);
• Não patrimoniais: direitos de personalidade, direitos de família;
• Inatos: nascem com a pessoa (a maioria dos direitos de personalidade);
• Não inatos: adquirem-se mais tarde (direito de propriedade, crédito, autor…).
Elementos da relação jurídica:
Sujeitos: Pessoas entre as quais se estabelece a relação jurídica. São os titulares do
direito subjetivo e do respetivo dever jurídico ou sujeição.
Objeto: aquilo sobre que incide os poderes do titular do direito (por exemplo, coisas ou
prestações).
Facto Jurídico: todo o ato humano ou evento natural produtor de efeitos jurídicos.
Garantia Jurídica: meios que os sujeitos têm ao seu dispor para defender os seus
direitos/interesses, no caso de violação ou simples ameaça de violação.
Sujeitos da Relação Jurídica
A relação jurídica estabelece-se entre pessoas em sentido jurídico; pessoa em sentido
jurídico é quem possuir personalidade jurídica – suscetibilidade de se ser titular de
direitos e obrigações.
Noção de personalidade jurídica
As pessoas singulares adquirem personalidade jurídica no momento do nascimento
completo e com vida (art.66º nº1 CC).
A personalidade jurídica cessa com a morte (art.68º CC). A morte pode ser natural
(verifica-se sempre com a morte cerebral) ou presumida (art.114º e 115º).
Direitos de Personalidade (art.70º CC)
A aquisição da personalidade jurídica dá origem aos direitos de personalidade (direito
ao nome, direito à imagem, direito à honra, direito à integridade física, direito à vida,
direito à integridade moral, pseudónimo).
• Direitos subjetivos;
• Absolutos: corresponde-lhes um dever geral de respeito;
• Gerais: todos deles gozam;
• Extrapatrimoniais: não têm em si um valor pecuniário;
• Inatos: nascem com o indivíduo, à exceção do direito ao nome e ao
pseudónimo;
• Inalienáveis: não podem ser vendidos;
• Irrenunciáveis.
Os direitos de personalidade têm consagração constitucional (art.1º, 13º, 24º nº1, 25º,
26º CRP).
Art.70º a 81º CC
Em caso de violação de um direito de personalidade, a solução deve ser procurada
primeiro nas regras dos artigos 72º a 80º; só na sua insuficiência se recorre ao direito
geral de personalidade do nº1 do art.70º CC.
A violação de um direito de personalidade pode implicar:
• Responsabilidade civil do infrator (art.483º nº1 CC – obrigação de indemnizar
os prejuízos causados);
• A adoção de medidas adequadas às circunstâncias do caso (art.70º nº2 CC –
apreensões, supressão de passagens de um livro, publicação de sentenças em
jornais…);
• Responsabilidade penal (ex: vida: homicídio; integridade física: ofensas à
integridade física; bom nome: difamação).
Difamação: sem ser à frente da pessoa em questão.
Injúria: olhos nos olhos.
Direitos de personalidade especiais – art.72º a 80º CC (especiais, uma vez que o
Código Civil lhes dedica “atenção”):
• Direito ao Nome
Imutabilidade do nome: este princípio não é absoluto; em determinadas situações, é
possível a alteração do nome (adoção, casamento, divórcio).
• Pseudónimo
• Direito à Palavra Escrita:
Dois tipos de cartas-missivas:
- Confidenciais (art.75º a 77º CC): quando é confidencial não quer dizer que tenho de
pedir para ser confidencial; pelo teor conseguimos perceber se é confidencial ou não –
prevalece o direito de autor à confidencialidade da sua mensagem.
- Não confidenciais (art.78º CC): prevalece o direito de propriedade do destinatário.
• Direito à Imagem (sem quaisquer alterações desde 1966)
Art.79º nº1 CC: “o retrato de uma pessoa não pode ser exposto, reproduzido ou lançado
no comércio sem o consentimento dela; depois da morte da pessoa retratada, a
autorização compete às pessoas designadas no nº2 do art.71º, segundo a ordem nele
indicada.”
Art.79º nº2: este princípio está sujeito a limitações no caso de pessoas com lugar de
destaque na vida pública (política, cultural, literária, desportiva).
• Direito à Reserva sobre a Intimidade da vida privada – intimamente ligado
ao Direito de Imagem (art.79º CC)
Art.80º nº2 CC: prevê a possibilidade da extensão da reserva variar consoante a
natureza do caso e as condições das pessoas.
Mesmo as pessoas “famosas” têm direito de fixar as fronteiras do que se pode ou não
ser publicado sobre a sua vida privada; sendo certo que não têm uma esfera de
intimidade tão extensa como a dos outros cidadãos.
Limitação voluntária ao exercício dos direitos de personalidade
Uma das caraterísticas dos direitos de personalidade é a irrenunciabilidade; não
obstante poderão ser objeto de limitações voluntárias, desde que não sejam contrárias
aos princípios de ordem pública (limitação art.79º nº2 ou um consentimento livre e
esclarecido para uma intervenção cirúrgica).
Se o consentimento for contrário à ordem pública, não produz quaisquer efeitos.
Consentimento do lesado: art.340º CC.
Capacidade jurídica e capacidade de exercício
Personalidade Jurídica (art.66º nº1 CC) – dá origem à capacidade jurídica (art.67º).
Trata-se da aptidão para se ser titular de direitos e obrigações.
Quem tem personalidade jurídica tem capacidade jurídica e não a pode renunciar
(art.69º).
Personalidade jurídica – conceito qualitativo (ser pessoa não admite quaisquer
restrições)
Capacidade jurídica – conceito quantitativo (existem algumas restrições)
Capacidade jurídica:
• Capacidade de gozo (art.67º);
• Capacidade de exercício.
Incapacidades de gozo e de exercício das Pessoas Singulares
Casos de Incapacidade Jurídica Negocial:
• Incapacidades nupciais (impedimentos dirimentes absolutos e relativos –
art.1601º, 1602º e 1631º a) CC);
• Incapacidades para perfilhar (menores de 16 anos, se não forem maiores
acompanhados com restrições ao exercício de direitos pessoais nem forem
afetados por perturbação mental notória no momento da perfilhação – art.1850º
e 1861º nº1 CC);
• Incapacidades para testar (menores não emancipados e maiores
acompanhados, apenas nos casos em que a sentença de acompanhamento assim
o determine – art.2189º e 2190º CC).
Casos de Incapacidade Jurídica Relativa (indisponibilidades relativas):
• As doações quando são feitas a determinadas pessoas são nulas (art.953º CC);
• O mesmo se aplica às disposições testamentárias (art.2192º a art.2198º CC).
As incapacidades jurídicas (de gozo) são fundamentais.
Distinta da capacidade jurídica de gozo é a Capacidade de Exercício de Direitos.
Capacidade de Exercício de Direitos: capacidade que uma pessoa tem para exercer
direitos e assumir obrigações, pessoal e livremente ou mediante a escolha de um
representante voluntário.
• Pessoalmente: o indivíduo não necessita de ser substituído por um representante
legal;
• Livremente: o indivíduo não carece do consentimento de outra pessoa.
Se faltar esta aptidão estamos perante uma Incapacidade de Exercício de Direitos.
Antes da data de entrada em vigor da Lei nº49/2018 de 14.08:
• Menoridade: art.122º a 133º CC.
• Interdição: art.138º a 151º CC.
• Inabilitação: art.152º a 156º CC.
Em vigor desde o dia 10 de fevereiro de 2019:
• Menoridade: art.122º a 133º CC.
• Maiores acompanhados: art.138º a 156º CC.
• Menoridade: art.122º e seguintes.
Trata-se de uma incapacidade geral: os menores não têm capacidade para exercer
direitos, nem assumir obrigações, por ato próprio. A não ser que a lei abra exceções
(art.123º, 1ª parte), esta incapacidade de exercício de direitos apenas cessa com a
maioridade ou com a emancipação pelo casamento (art.129º, 132º, 133º e 1649º CC).
Forma legal de suprimento da incapacidade de exercício de direitos dos menores:
Representação Legal.
O representante legal age no nome e no interesse do incapaz. Ao contrário do
representante voluntário, o representante legal é o indicado pela lei.
Desta forma e por força do art.124º CC, os menores são representados pelos pais ou
pelos tutores.
Art.127º CC: exceções à incapacidade de exercício de direitos: “o legislador
pressupõe que o menor já possui discernimento e o poder de avaliação suficientes para
agir em conformidade com os seus interesses e para assumir as respetivas
responsabilidades.”
Art.127º nº1 b) CC: trata-se da alínea que apresenta o maior grau de flexibilidade.
3 pressupostos:
• Deve tratar-se de um negócio próprio da vida corrente do menor, isto é, de um
negócio cuja celebração lhe é habitual ou familiar;
• O negócio deve estar ao alcance da sua capacidade natural (esta evolui com a
idade crescente do menor);
• O negócio poderá apenas implicar despesas de pequena importância (este
critério na sociedade de consumo está dependente de fatores objetivos e
subjetivos, inclusive da condição social do menor).
Salvo as exceções legalmente previstas, os negócios jurídicos praticados pelo menor são
anuláveis (art.125º CC).
Art.125º nº1 a) CC: os representantes legais dispõem de 1 ano, a partir do momento em
que tiveram conhecimento do negócio concluído pelo menor, para pedir a anulação.
Trata-se, assim, de um direito potestativo. Desta forma, os representantes legais
poderão:
• Propor uma ação destinada à anulação do negócio (se a ação for julgada
procedente, a sentença de anulação destrói os efeitos do negócio, com efeitos
retroativos);
• Deixam correr o prazo, sem tomar qualquer iniciativa (o direito potestativo
caducou, logo o negócio já não poderá ser atacado);
• Confirmam o negócio, nos termos do art.125º nº2 e em sintonia com o disposto
no art.288º CC.
O prazo de 1 ano será reduzido no caso de o menor atingir a maioridade ou ficar
emancipado.
Art.125º nº1 b) CC: estamos perante um negócio jurídico que continua anulável. Logo
existem 3 possibilidades, em que o menor (entretanto maior ou emancipado) poderá:
• Propor uma ação destinada à anulação do negócio;
• Deixa correr o prazo, sem tomar qualquer iniciativa;
• Confirma o negócio, nos termos do art.125º nº2, 1ª parte.
Art.125º nº1 c) CC: trata-se de um negócio que continua anulável. Os herdeiros do
menor têm as mesmas 3 possibilidades.
Maiores acompanhados (exame)
O acompanhado pode exercer de forma livre o exercício dos seus direitos pessoais e a
celebração de negócios da sua vida corrente, salvo disposição da lei ou decisão judicial
em sentido contrário (art.147º CC).
Incapacidade Acidental (art.257º CC)
Esta incapacidade de exercício de direitos não é uma incapacidade geral; apenas existe
durante os momentos em que se verificam as suas causas (embriaguez, delírio, ira,
estado hipnótico), que afetam a formação correta da vontade.
Assim, o disposto no art.257º CC aplica-se, em regra, a pessoas com plena capacidade
de exercício de direitos. Os atos praticados por quem se encontra acidentalmente
incapaz são anuláveis.
Pessoas Coletivas:
• Pessoas coletivas de Direito Público: o Estado; as entidades que exercem o
poder político (regiões autónomas, municípios, juntas de freguesia), outros
entes públicos (exemplo: universidades e institutos politécnicos públicos),
empresas públicas (exemplo: sob a forma de entidades públicas empresariais);
• As restantes são Pessoas coletivas de Direito Privado;
• Pessoas coletivas em sentido lato: associações, fundações, sociedades
comerciais, sociedades civis sob a forma comercial, agrupamentos
complementares de empresas, cooperativas …
• Pessoas coletivas em sentido restrito: associações e fundações (art.157º CC).
Associações: conjunto de pessoas que visa a satisfação de interesses de fim egoístico ou
altruístico (art.167º a 184º CC); gozam de personalidade jurídica quando forem
constituídas por escritura pública (art.168º CC).
Fundações: conjunto de bens que um fundador afeta à constituição de um interesse
social (art.185º a 194º CC); gozam de personalidade jurídica quando forem instituídas
por escritura pública (art.185º CC).
A aquisição da personalidade jurídica implica que a pessoa coletiva possui capacidade
de gozo (art.160º CC) – Princípio da Especialidade.
Trata-se de uma capacidade específica, uma vez que está limitada aos direitos e
obrigações adequados à prossecução dos interesses da pessoa coletiva.
Qualquer ato praticado sem capacidade é nulo (art.294º CC). Exemplo: se uma
associação ou fundação passa a ter como escopo o lucro, estará em causa para além da
validade dos atos praticados, a própria personalidade da pessoa coletiva, que poderá a
vir ser extinta (art.182º nº2 b) e art.192º nº2 b) CC).
A pessoa coletiva tem capacidade de exercício de direitos?
Trata-se apenas de uma capacidade técnica-jurídica de agir (há doutrina que se refere,
neste âmbito, ao princípio da capacidade genérica de exercício).
De facto, as pessoas coletivas atuam juridicamente através dos seus órgãos, que se
confundem com a própria pessoa coletiva.
A responsabilidade contratual da pessoa coletiva resulta do art.163º CC.
Art.762º e 798º e seguintes CC: note-se que no caso de a pessoa coletiva participar no
tráfico jurídico por meio de um representante voluntário, a responsabilidade contratual
daquela resulta dos art.258º e 800º CC.
A responsabilidade extracontratual da pessoa coletiva resulta do art.165º CC.
Nesta situação, a pessoa coletiva responde nos termos do art.500º CC (responsabilidade
objetiva, sem culpa, desde que os pressupostos que causaram o dano e a consequente
obrigação de indemnizar se verifiquem no comissário; se bem que seja necessário que o
ato que causou dano tenha sido praticado no exercício da função confiada pelo
comitente ao comissário).
Fundações:
• De iniciativa privada: por ato entre vivos ou por testamento, sendo o
reconhecimento efetuado por portaria do Ministério da Administração Interna
(art.188º CC);
• De iniciativa pública: não carece de reconhecimento, uma vez que a fundação
foi criada pelo próprio legislador.
Objeto da Relação Jurídica
O objeto da relação jurídica pode ser definido como aquilo ou o “quid” sobre que
incidem os poderes do sujeito ativo da relação jurídica.
Exemplo: direito de propriedade.
Objeto: o prédio, o relógio, o telemóvel… - aquilo sobre que recaem os poderes do
titular desse direito.
Conteúdo: poderes conferidos ao proprietário (usar, fruir e dispor) – em relação ao
direito de propriedade, o conteúdo desse direito é o que o proprietário pode fazer com a
sua propriedade.
Usar: poder de utilizar a coisa;
Fruir: poder de retirar as utilidades que a coisa produz periodicamente;
Dispor: abrange poderes materiais (transformar) e jurídicos (alienar, onerar e renunciar).
Os direitos potestativos não têm objeto; têm conteúdo.
Objeto Imediato: os poderes do sujeito ativo incidem diretamente sobre o bem.
Objeto Mediato: os poderes do sujeito incidem indiretamente sobre o bem.
Exemplo: Empresto os meus DVD
Objeto imediato: entrega dos DVD (entrega da coisa)
Objeto mediato: DVD (quero que devolva os DVD que emprestei)
A distinção verifica-se nos direitos de crédito, nas obrigações de prestação de coisa
certa e determinada:
- Objeto Imediato do direito do credor e o comportamento do devedor: entrega da coisa;
- Objeto Mediato: é a própria coisa que deve ser entregue ao credor.
Possíveis Objetos da Relação Jurídica:
• Pessoas: estas só podem ser objeto da relação jurídica nos poderes-deveres ou
poderes funcionais (não são verdadeiros direitos subjetivos).
É um poder que eu tenho, mas é um dever porque está na lei como devo fazê-lo (poder
paternal: objeto – filhos).
Art.1877º e seguintes CC; art.1935º e seguintes CC: estes direitos não conferem
qualquer direito sobre o filho ou pupilo, mas sim atribuem responsabilidades para que
os pais e tutores cumpram os deveres a que estão adstritos legalmente.
• Prestações: conduta a que o devedor está obrigado (art.397º e art.762º CC). Nos
direitos de crédito, o objeto é o comportamento: a prestação.
Exemplo: Contrato de Empreitada:
- Empreiteiro: obrigação de realizar a obra;
- Dono da obra: obrigação de pagar o preço.
• Coisas: art.202º e seguintes CC.
As coisas referidas no art.202º nº1 CC dizem respeito aos objetos de relações jurídicas
privadas.
Art.202º nº2 CC:
• Coisas no comércio (res in commercio);
• Fora do comércio (res extra commercium): coisas no domínio público
(propriedade do Estado ou de outras pessoas coletivas de direito público);
insuscetíveis de apropriação individual (nuvens, gotas da chuva, sol, lua,
oceanos, planetas…).
Principal distinção:
• Coisas corpóreas: coisas que têm existência física;
• Coisas incorpóreas: coisas que apenas têm existência social, nos quais estão
incluídos os bens intelectuais (a obra na sua ideia). Exemplo: obras literárias,
científicas. Estão em causa o direito de autor e a propriedade industrial.
Art.1302º CC
Classificação das coisas corpóreas (art.203º CC)
- Coisas imóveis e coisas móveis (art.204º e art.205º CC)
Relevância da distinção entre coisas móveis e imóveis:
• Quanto à forma: art.219º versus art.875º/947º CC;
• Para efeitos de classificação de certos negócios jurídicos: art.1023º CC;
• Para as coisas imóveis existe um registo, dada a sua importância económica e
social: registo predial.
As coisas móveis, a maioria não está sujeita a registo, exceto os aviões, automóveis,
navios que estão sujeitos a registo.
Existe registo para determinadas coisas incorpóreas: ex: as patentes e marcas.
Elenco do art.204º
A maioria da doutrina entende que o elenco previsto no art.204º CC é um elenco
taxativo.
Prédios rústicos (solo ou terreno) e prédios urbanos (edifício ou casa incorporada no
solo):
• Muros ou cercas já não são prédios urbanos;
• Casas desmontáveis/pré-fabricadas, face à exigência de incorporação no solo,
não são prédios urbanos;
• Terrenos que servem de logradouro, jardim ou pátio a um prédio urbano fazem
parte do prédio urbano;
• Adegas, celeiros, armazéns destinados a recolher trabalhadores, gado e alfaias
agrícolas – prédio rústico.
A doutrina e jurisprudência defendem a Teoria da Afetação Económica:
“tem que se verificar se a afetação económica preponderante é a utilização do terreno ou
se o terreno é um mero logradouro, a fim de permitir o melhor aproveitamento do
edifício”.
Águas: estão em causa águas particulares (que compreendem as situações previstas no
art.1386º CC) e desintegrados dos prédios por lei ou por negócio jurídico (caso
contrário serão partes componentes ou integrantes do prédio em que se integram).
Muito embora as águas estejam em movimento consideram-se imóveis, no sentido de
que se encontram delimitadas pelo leito e pelas margens do respetivo curso.
Árvores, arbustos e frutos maturais:
Exige-se a ligação material ao solo… quando esta cessa, passamos a estar perante bens
móveis. “Enquanto ligados ao solo têm um destino jurídico unitário e, por isso, a venda
do solo abrange-os”, a não ser que o contrato estipule de forma diversa.
Direitos inerentes a imóveis:
A formulação legal é manifestamente incorreta: os bens imóveis são o objeto dos
direitos e não os próprios direitos.
E assim sendo, a alienação desses mesmos direitos, por força do art.875º CC, terá de ser
realizada por escritura pública ou por documento particular autenticado.
Partes integrantes de prédios rústicos e urbanos:
• Parte componente: “pertence à estrutura de um prédio” (o prédio não se
considera completo sem as partes componentes);
• Parte integrante: não pertencem à estrutura do prédio, mas “aumentam a sua
utilidade, proporcionando-lhe maior produtividade, segurança, comodidade ou
embelezamento” – função auxiliar ou instrumental.
Esta distinção é doutrinal, uma vez que o regime jurídico, quer das partes integrantes,
quer das componentes, é essencialmente o mesmo.
Classificação entre coisas simples e coisas compostas (art.206º CC)
Critério naturalístico:
• Coisas simples: “constituem uma unidade natural ou têm uma individualidade
corpórea unitária, quer por natureza (a), quer por ação do homem (b).
a. Um bloco de pedra
b. Um pão, uma moeda
• Coisas compostas: “são as que se formam pela reunião ou combinação de
várias coisas simples, que conservam a sua individualidade física sem prejuízo
do nexo que as envolve”.
Critério jurídico:
• Coisas simples: “constituem uma unidade” (relógio);
• Coisas compostas: “resultam da reunião de várias coisas simples que
conservam a sua individualidade económica, não obstante o nexo que as
envolve” (rebanho, biblioteca, coleção de selos) – “universalidade”.
- O conjunto de coisas simples deverá ter um destino unitário (teoria unitária adotada
pelo nosso CC);
- … mas as partes que integram o conjunto deverão ter individualidade económica
(“uma função e valor próprios no comércio”).
Classificação entre coisas fungíveis e não fungíveis: art.207º CC
Diz-nos a doutrina:
• Coisas fungíveis: são as coisas corpóreas que se identificam apenas através de
determinadas “notas genéricas e da indicação duma quantidade a verificar por
meio de contagem, pesagem ou medição”. As restantes serão coisas não
fungíveis.
Esta classificação é relevante nos negócios jurídicos:
- O contrato de empréstimo de uma coisa fungível diz- se “mútuo” – art.1142º CC –
restituição de coisa do mesmo género;
- O contrato de empréstimo de uma coisa não fungível diz-se “comodato” – art.1129º
CC – restituição da mesma coisa.
Classificação entre coisas consumíveis e não consumíveis: art.208º CC
Critério Jurídico:
• Uma coisa naturalmente consumível poderá funcionar como uma não
consumível (garrafa de vinho como elemento de coleção);
• Uma coisa naturalmente não consumível poderá funcionar como consumível
(um móvel poderá ser consumido como lenha).
Classificação entre coisas divisíveis e indivisíveis: art.209º CC
Critério económico-social:
• Coisas divisíveis: prédios rústicos, edifícios suscetíveis de divisão em frações
autónomas, rebanho, biblioteca …
• Coisas indivisíveis:
- Plantas: alteram a sua substância;
- Livros/quadros: diminuição do seu valor;
- Automóveis/televisões: prejudicam o seu uso.
Classificação entre coisas principais e acessórias: art.210º CC
Esta distinção releva no sentido de que os negócios jurídicos que têm por objeto a coisa
principal não abrangem as coisas acessórias, salvo estipulação diversa entre as partes.
Coisas acessórias: macaco de um automóvel, animais e alfaias agrícolas afetados à
exploração de determinado prédio rústico, móveis e adornos pertencentes a certo prédio
urbano.
Ao contrário das partes integrantes (coisas móveis ligadas a um imóvel), as coisas
acessórias são coisas móveis que podem estar ao serviço tanto de coisas imóveis, como
de coisas móveis.
Classificação entre coisas presentes ou futuras: art.211º CC
2 critérios:
• Existência da coisa: coisas objetivamente futuras: frutos da árvore ainda não
produzidos na data da venda, mercadorias ainda não fabricadas (encomenda de
um tapete por medida), juros ainda não vencidos;
• Existência da titularidade do direito: coisas subjetivamente futuras: coisas
alheias (ex: A obrigou-se a vender a B um prédio que, na data da promessa,
ainda é propriedade de C.).
Frutos: art.212º e seguintes CC
- Frutos que “provêm diretamente da coisa”, frutos naturais;
- “As rendas ou interesses que a coisa produz em consequência de uma relação
jurídica”: frutos civis.
Benfeitorias: art.216º
• Necessárias: reparação de um computador, substituição de uma lente;
• Úteis: construção de uma piscina no terreno de um prédio urbano, colocação de
um alarme no automóvel;
• Voluptuárias: obra de decoração, pintar a casa branca de amarelo, por uma
questão meramente estética.
Facto Jurídico:
• Voluntário (ato jurídico): depende da vontade do Homem;
• Involuntário: estranho e independente da vontade do Homem (ex:
nascimento/morte).
Factos Jurídicos Voluntários:
• Lícitos: conformes ao ordenamento jurídico;
• Ilícitos: violam direitos ou interesses legalmente protegidos.
Factos Jurídicos Voluntários Lícitos:
• Negócios Jurídicos: constituídos por uma ou mais declarações de vontade com
vista à produção de efeitos jurídicos (art.405º CC);
• Simples Atos Jurídicos: as consequências jurídicas dão-se por determinação
legal, muito embora as partes possam concordar (ex: direito de autor).
Factos Jurídicos Voluntários Ilícitos:
• Dolosos;
• Negligentes.
Negócios Jurídicos
“O negócio jurídico é o instrumento principal de realização do Princípio da Autonomia
Privada”.
Os art.61º CRP e art.405º CC: consagram o princípio da liberdade contratual.
“As partes têm a faculdade de fixar livremente o conteúdo dos contratos”, o que
implica, desde logo, a liberdade de celebrar ou de recusar a celebração de contratos.
Existem exceções à liberdade de celebração dos contratos:
- Proibição de celebrar contratos com determinadas pessoas (art.877º e 953º CC);
- Sujeição do contrato a autorização de outra pessoa (art.1682º, 1682ºA e 1682ºB CC).
Ainda por força do art.405º CC, as partes poderão “fixar livremente o conteúdo dos
contratos”:
• Contratos Típicos: previstos e regulados na lei;
• Contratos Mistos: acrescenta-se outras cláusulas, conjugam-se contratos
diferentes (ex: contrato de arrendamento e contrato de aluguer é bastante
frequente).
• Contratos Atípicos: não regulados pelo legislador (ex: contrato de franquia –
franchising – e contrato de concessão comercial).
Ainda por força do art.405º CC, as partes poderão “fixar livremente o conteúdo dos
contratos”, mas “dentro dos limites da lei”: art.280º, 282º, 294º e 762º nº2 CC.
Cláusulas Contratuais Gerais/ Contratos de Adesão:
Muito embora, as partes tenham liberdade de celebração dos contratos, a fixação do
respetivo conteúdo poderá estar asfixiada: quando as cláusulas contratuais são fixadas
apenas por uma das partes contratantes.
Desta forma, estão em causa contratos em que uma das partes estipula as cláusulas
contratuais e a outra parte aceita-as, mediante a adesão ao modelo apresentado, ou então
rejeita-as, uma vez que não é possível modificá-las.
Doutrina (caraterísticas):
• Redação prévia;
• Unilateralidade;
• Rigidez (não podem ser alteradas);
• Generalidade;
• Indeterminação.
Na hipótese de faltarem as 2 últimas caraterísticas, continuaremos a estar perante
contratos de adesão.
O modo de celebração tradicional de um contrato é através da negociação; nos contratos
com cláusulas contratuais gerais tal não acontece: a fase de negociação desaparece,
restando à contraparte a decisão de celebrar o contrato ou não.
De modo a proteger os seus interesses negociais, as empresas adotam contratos
previamente redigidos, rígidos e inegociáveis.
Um contrato é um negócio jurídico, mas o negócio jurídico pode não ser um contrato.
Negócios Jurídicos:
• Unilaterais: existe apenas uma declaração de vontade (testamentos, denúncia do
contrato de trabalho);
• Bilaterais ou Plurilaterais ou Contratos: existem duas ou mais declarações de
vontade (contrato compra e venda, contrato de trabalho).
Negócios Jurídicos Unilaterais:
• Não recetícios: é suficiente a emissão da declaração para ser eficaz (ex:
testamento);
• Recetícios: é necessário a comunicação à outra parte, a fim de produzir efeitos
jurídicos (ex: denúncia do contrato de trabalho).
Contratos (tendo em conta as obrigações decorrentes da sua celebração):
• Unilaterais: apenas criam obrigações para uma das partes (ex: doação – art.940º
CC);
• Bilaterais: criam obrigações para ambos os contraentes.
Não tem a ver com uma declaração de vontade, mas sim com uma obrigação.
Contratos Bilaterais:
• Sinalagmáticos ou Perfeitos: existe uma reciprocidade entre as obrigações dos
contraentes – a prestação de uma das partes é realizada em virtude e por causa
da outra (ex: contrato de compra e venda – art.874º CC).
Maioria dos contratos – ex: só vendo o telemóvel porque sei que ele me vai pagar e ele
só me paga porque sabe que lhe vou dar o telemóvel.
• Imperfeitos: “Inicialmente há apenas uma obrigação de uma das partes,
podendo surgir posteriormente e dependente do seu cumprimento, uma
obrigação da outra parte”. (ex: mandato gratuito – art.1158º nº1, 1ª parte e
art.1167º d) CC).
Se eu vos deixar gozar de um imóvel sem pagar, dá-se o nome de contrato de comodato
(art.1129º CC).
Se alguém chegar ao escritório e disser que quer celebrar um contrato de comodato
temos de aplicar o art.219º CC.
Negócios Jurídicos:
• Contrato de Execução Imediata: esgota-se num só ato de cumprimento (ex:
contrato de compra e venda);
• Contrato de Execução Continuada: contrato que implica uma obrigação
duradoura, que é feito para perdurar no tempo (ex: contrato de arrendamento,
contrato de trabalho, contrato de sociedade);
• Contrato de Execução Periódica: inclui uma obrigação repetida a realizar
durante certo tempo (ex: contrato de fornecimento repetido e regular de
determinada quantidade de mercadorias).
Negócios Jurídicos:
• Negócios Onerosos: cada um dos contraentes faz uma atribuição patrimonial ao
outro como contrapartida. Note-se que os contratos sinalagmáticos/perfeitos são
sempre onerosos;
• Negócios Gratuitos: o sacrifício patrimonial cabe apenas a um dos contraentes;
por outras palavras, existe apenas uma vantagem patrimonial para uma das
partes (ex: doação – art.940º CC; o mandato a título gratuito – art.1158º CC).
• Negócios inter-vivos: produzem os seus efeitos em vida das partes;
• Negócios mortis causa: produzem os seus efeitos depois da morte da respetiva
parte (ex: testamento).
Negócios não solenes e negócios solenes (importante)
O CC consagra o princípio da liberdade de forma – art.219º. A exigência de forma
escrita é exceção. Há que atentar na noção de documento prevista no art.362º.
Os documentos escritos podem ter várias modalidades (art.363º):
- Documentos autênticos (escritura pública);
- Documentos particulares e ainda documentos particulares autenticados.
Se a forma legal não pode ser observada, o negócio jurídico é nulo (art.220º).
Invalidade do Negócio Jurídico: quando há uma falta ou uma irregularidade num dos
elementos essenciais do negócio jurídico, este não estará apto a subsistir na ordem
jurídica.
2 tipos de invalidade:
• Nulidade (art.286º CC): vícios mais graves: o seu regime é determinado por
motivos de interesse público;
- O negócio jurídico não produz efeitos desde a data da sua celebração; viola-se uma
norma imperativa (ex: art.220º, 240º, 280º, 294º, 300º, 2190º CC);
- A nulidade é insanável pelo decurso do tempo (é incurável, não se poderá corrigir) e é
invocável a todo o tempo;
- A nulidade é apreciada oficiosamente pelo tribunal (por sua iniciativa/”ipso iure”) e é
invocada por qualquer interessado (qualquer pessoa que tenha interesse em que não se
produzam em relação a si os efeitos do negócio);
• Anulabilidade (art.287º CC): vícios menos graves: o seu regime é
determinado por motivos particulares de determinadas pessoas.
- Não obstante a existência de um vício ou falta, o negócio jurídico produz os seus
efeitos e é tratado como válido enquanto não for declarada judicialmente a sua anulação
(art.125º, 247º, 257º, 282º, 877º nº 2 CC);
- A anulabilidade é sanável pelo decurso do tempo ou pela confirmação (art.288º CC) e
só dentro do ano subsequente à cessação do vício que lhe serve de fundamento;
- A anulabilidade não opera “ipso iure” e só têm legitimidade para a arguir as pessoas
em cujo interesse a lei estabelece.
Testamento feito por um menor é nulo.
Tanto a nulidade como a anulabilidade têm efeitos retroativos.
Efeitos da declaração de nulidade e da anulação:
Art.289º nº1 CC: “Tanto a declaração de nulidade como a anulação do negócio têm
efeito retroativo, devendo ser restituído tudo o que tiver sido prestado ou, se a
restituição em espécie não for possível, o valor correspondente.”
Garantia – Tutela Jurídica
Proteção Jurídica – tutela jurídica
A Garantia é um dos quatro elementos da Relação Jurídica. Os cidadãos, a fim de
defender os seus direitos, recorrem a determinados meios coercivos, que se inserem
precisamente na “tutela jurídica”.
Distingue-se entre:
• Tutela Privada (autotutela): quando é da iniciativa do próprio titular do direito
violado ou ameaçado. Obviamente que a tutela privada é apenas admitida a
título excecional (exs.: ação direta, legítima defesa, estado de necessidade).
• Tutela Pública ou Estadual: está em causa a tutela realizada pelo Estado:
judiciária(tribunais); administrativa (ex: PSP, GNR, etc.)
Tutela Pública:
• Preventiva: conjunto de medidas que se destina a evitar a lesão de um direito.
Integram os meios preventivos, por exemplo, as forças policiais.
Medidas preventivas:
- Medidas de segurança (como é o caso do internamento);
- Procedimentos cautelares.
• Compulsiva: tem como objetivo atuar sobre o infrator, obrigando-o a adotar o
comportamento devido.
- Sanção pecuniária compulsória (art.829º A CC);
- Juros de mora (atraso de cumprimento).
Tutela Pública:
• Repressiva: conjunto de medidas que se destina a sancionar a violação de uma
norma.
Podem estar em causa:
- Sanções Reconstitutivas (muito embora já saibamos que nem sempre é possível a
reconstituição natural e que o mais frequente é a existência de uma indemnização em
dinheiro);
- Sanções Compensatórias (como é o caso do pagamento ao lesado de uma
compensação, no caso de este ter sofrido danos morais que pela sua gravidade mereçam
a tutela do direito);
- Sanções Punitivas: pena de prisão e a sanções pecuniárias (multas/coimas).
Garantia das Obrigações:
• Garantia Geral: património do devedor (art.817º CC);
• Garantias Especiais: asseguram o cumprimento da obrigação e apenas existem
se as partes o estipularem ou em determinados casos por determinação legal:
- Pessoais: para além do devedor, ficarão responsáveis pelo cumprimento da obrigação
outras pessoas. Ex: Fiança (art.627º CC) um terceiro assegura com o seu próprio
património o cumprimento da obrigação do devedor.
A fiança é bastante frequente no contrato de arrendamento e é uma garantia do seu bom
cumprimento.
- Reais: estas garantias incidem sobre determinados bens do devedor ou mesmo de um
terceiro.
Penhor: entrega ao credor, por parte do devedor ou de um terceiro, de um bem móvel, a
fim de garantir o cumprimento da obrigação (art.666º CC).
Ex: A empresta a B 5000€; B entrega a A como penhor um anel de diamantes.
Hipoteca: entrega ao credor, por parte do devedor ou de um terceiro, de um bem imóvel
ou um bem móvel sujeito a registo, a fim de garantir o cumprimento da obrigação
(art.686º CC).
Ex: A pede um empréstimo ao Banco XPTO para comprar um bem imóvel. Para
garantir o pontual cumprimento das prestações, a instituição bancária exige a A a
constituição de uma hipoteca sobre o imóvel (o registo da hipoteca é feito em qualquer
Conservatória do Registo Predial).
Hipoteca quando se refere a aviões, navios, automóveis e bens imóveis.
Direito de Retenção: estamos perante a faculdade de o detentor de coisa não proceder à
sua entrega, enquanto quem lha possa exigir não cumpra a sua obrigação (art.754º CC).
Art.754º CC: quando vou à oficina arranjar o carro e o carro fica retido na oficina
enquanto eu não pagar.

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