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TEORIA GERAL DO DELITO

CONCEITOS DE CRIME

Conceito legal: O conceito legal do crime é dado pelo próprio legislador na


Lei e Introdução ao Código Penal ( Dec. Lei nº 3.914/41), cujo art.1º dispõe:

“ considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de


reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com pena de multa, contravenção a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa
ou cumulativamente”.

Conceito Material: Crime é a conduta humana que lesão ou expõe a perigo o


bem jurídico protegido pela lei penal. ( Magalhães Noronha).

Conceito formal: O crime, sob o aspecto formal, é “todo a ação ou omissão


proibida pela lei, sob a ameaça de pena” (HELENO FRAGOSO).

O crime, sob o aspecto formal pode ser definido como uma ação típica,
antijurídica e culpável.

Conceito Analítico: O conceito analítico de crime é dividido em duas


vertentes: o bipartido e o tripartido.

Para a teoria bipartida o crime é um fato típico e antijurídico, sendo a


culpabilidade apenas responsável por dosar a pena.

Já para a teoria tripartida, o crime é um fato típico, antijurídico e


culpável.

O Direito Penal adota a teoria tripartida.

TEORIA CAUSALISTA e FINALISTA

Tais conceitos sofrem indubitavelmente influência das teorias da ação, e


as duas mais relevantes para o estudo dessas vertentes são a teoria causalista
e a teoria finalista.

Para a teoria causalista a conduta consiste em um comportamento


humano voluntário que produz uma modificação no mundo exterior. Nela a
vontade é a causa da conduta, e a conduta é a causa do resultado.
O principal problema encontrado nessa teoria está no fato de ela não
associar a conduta realizada no mundo exterior com o aspecto psíquico interior
do autor, já que não analisa o conteúdo da vontade. A teoria causal ou clássica
não estabelece uma diferença entre a conduta culposa da conduta dolosa, já
que deixa de considerar a relação psíquica do agente para com o resultado.
Sendo assim ela desloca para a culpabilidade, o dolo e a culpa, ou seja, o
querer interno do agente que praticou a conduta.

A definição de conduta como um movimento corpóreo voluntário que


produz uma modificação no mundo exterior, não apresenta argumentos para
explicar os crimes os delitos como os de mera conduta,  em que não se possui
um resultado naturalístico, além dos delitos omissivos em que o agente
responde porque não evitou o resultado, não cumprindo a norma que lhe
impunha o dever de agir, além dos delitos em que o resultado não é produzido
por circunstâncias alheias a vontade do agente.

Em função disso Hanz Welzel criou a teoria finalista aproximadamente


no ano de 1930 ensinando que a conduta consiste no comportamento humano,
consciente e voluntário, dirigido a uma finalidade, ou seja a conduta é um
acontecimento final e não um procedimento puramente causal.

Na teoria finalista o dolo e a culpa integram a conduta que foi


deslocada para o tipo. Sendo assim o finalismo retirou o dolo (elemento
subjetivo) e a culpa (elemento normativo) da culpabilidade, transferindo a
análise desses elementos para dentro do tipo penal.

O finalismo, apesar de inovar, não explica o crime culposo,


principalmente a culpa inconsciente, pois, nem toda conduta é direcionada a
um fim previamente idealizado pelo agente. Não há como se imaginar a
finalidade na conduta do agente que age culposamente. O finalismo também
não explica os atos automáticos e os atos inconsciente.

A teoria de Hans Welzel no Brasil e seguida por Heleno Cláudio


Fragoso, Júlio Fabrini Mirabete, Damásio Evangelista de Jesus entre outros e
combateu a teoria causal defendida por Liszt e Beling, além de Nélson Hungria,
Aníbal Bruno, José Frederico Marques e outros tantos juristas de peso, que
procurava transportar as leis da natureza para a ciência jurídica e conferir à
conduta um caráter essencialmente mecânico, porém, na verdade, é de se
notar que, na prática as duas teorias se equivalem, resultando em um mesmo
efeito, diferenciando-se apenas quanto o momento da análise dos elementos
subjetivos e normativos, o finalismo analisa o dolo e a culpa no tipo penal,
enquanto a teoria causal relega essa análise para o plano da culpabilidade.

O Código Penal adota a teroria finalista.

ELEMENTOS DO CRIME

São elementos do crime:


I- a ação, tida como um comportamento humano;
II- a tipicidade, entendida como a relação entre a ação e o descrição
legal do crime;
III- a antijuridicidade, vista como ofensa a norma sem nenhuma
justificativa;
IV- a culpabilidade, ou seja, a reprovação que deve sofrer a pessoa que
realizou a ação.

Ilícito Penal e ilícito civil

Não há diferença substancial, a diferença é de natureza legal e


extrínseca.

Ilícito penal é a violação do ordenamento jurídico, contra a qual, pela sua


intensidade ou gravidade, a única sanção adequada é a pena, e ilícito civil é a
violação da ordem jurídica, com sanções atenuadas de indenização, da
execução forçada, da restituição em espécie etc.

ESTRUTURAÇÃO DO CRIME –

Sob a ótica da teoria finalista, a visão analítica de crime leva em


consideração os elementos estruturais do crime, sendo eles:

· Fato Típico

· Ilícito

· Culpável

FATO TÍPICO

É a conduta (ação ou omissão) produtora de um resultado reprovável pelo


Direito Penal, podendo ser crime ou contravenção penal.

O fato típico sob a ótica da teoria finalista, elaborada por Welzel, "a
conduta é dirigida a uma finalidade antijurídica e reprovável", sendo
assim, toda conduta é orientada por um querer, sendo o finalismo
considerado nitidamente vidente.
Fato típico, segundo Damasio de Jesus “ é o
comportamento humano, (positivo ou negativo ) que provoca o
resultado (em regra) e é previsto na lei penal como infração”.

São elementos do fato típico doloso:

1. Conduta;

2. Resultado;

3. Nexo causal ( relação de causalidade);

4. Tipicidade.

1. A CONDUTA

O crime deve ser exteriorizado através uma conduta.

Eventuais pensamentos criminosos, embora possam ser objeto de


apreciação ou punição religiosa ou moral, escapam à órbita do direito penal.

Várias teorias procuram definir a conduta.

Entre estas a clássica (ou causal-natural) e a finalista.

A teoria clássica, cujo principal expoente foi Von Lizt, define a conduta
como “um comportamento humano voluntário que produz uma modificação no
mundo exterior” (Anibal Bruno).

A conduta possui dois aspectos: o exterior, que é o movimento corpóreo


ou a ausência de movimento, e o interior, à vontade do agente.

A vontade que guia a conduta, para a teoria clássica, é despida de


valorações. Trata-se apenas de um comando da mente humana dada ao corpo
para fazer ou não fazer um certo comportamento, que será causa de um
resultado. A finalidade da vontade não faz parte da conduta, isto é, a intenção
do agente ao realizar o comportamento deve ser objeto de valoração no campo
da culpabilidade.
A teoria finalista da ação sustenta que a vontade pertence
integralmente a conduta. A finalidade da conduta é que vai delimitar existência
do crime.

Para a teoria finalista, o dolo e a culpa não pertencem à culpabilidade,


que é o critério de aferição para saber se o agente merece punição pela prática
do crime, posto que é possível que haja crime, sem punição, como, por
exemplo, o homicídio praticado por um doente mental.

Uma crítica constante à teoria finalista refere-se aos crimes culposos,


cujo resultado não é desejado pelo agente. Sucede que nos delitos culposos, o
agente responde pelo crime porque não observou o dever de cuidado objetivo,
isto é, sua vontade tinha com escopo um resultado admitido pelo direito;
todavia, ao realizar a conduta para obter aludido resultado, acabou sendo
descuidado e por isso produziu um dano. Logo, a punição do crime culposo
não é baseada na vontade, mas no descuido do agente.

Para exemplificar: Paulo está atrasado para um encontro e por isso


dirige em velocidade excessiva e atropela Sandro, que fica gravemente
lesionado. Paulo responde por lesão corporal culposa porque ofendeu ao dever
de cuidado objetivo, isto é, dirigir de acordo com as regras de trânsito,
respeitando a velocidade máxima permitida.

Como já dito, o Direito penal adota a teoria Finalista

A Conduta (dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva). É sinônimo de


ação e de comportamento.

São elementos da conduta:

a) Vontade
b) Consciência
c) Finalidade

COMPORTAMENTOS QUE NÃO SÃO CONDUTAS

A reforma da parte geral do Código Penal, promovida em 1984, adotou a


teoria finalista da ação e, portanto, para que exista uma conduta é necessário
que haja uma ação (um fazer) ou uma omissão (um não fazer) humana, daí
porque serem irracionais, em regra, não praticam delitos. Excepcionalmente, a
pessoa jurídica pode cometer crimes contra o meio ambiente (Lei nº 9.605/98).

A conduta, além de ser uma ação ou omissão humana, também deve


ser consciente, ou seja, dirigida pelo livre arbítrio, e finalista, voltada para a
produção de um determinado resultado.
Por este motivo, os atos reflexos, isto é, aqueles produzidos diretamente
pelo sistema nervoso central, sem o controle da mente humana, não podem ser
considerados como condutas.

Não são consideradas condutas os atos praticados com coação física,


ou seja, o agente, por meio de força física, é obrigado a realizar uma conduta.
Em tais casos, a pessoa não age, mas é utilizada como instrumento por
outrem.

Imagine uma pessoa que somente assinou um contrato porque alguém


segurou sua mão e, a força, desenhou a assinatura do coagido no contrato.
Neste caso, o coagido não praticou nenhuma conduta.

Ao lado da coação física, temos a coação moral. A primeira afasta a


conduta, enquanto a outra afeta a conduta. No primeiro caso, não há crime
praticado pelo coagido porque ele não realizou nenhuma conduta. No último
caso, o coagido praticou um crime, mas poderá não ser punido porque sua
vontade foi viciada, ou seja, não teve livre arbítrio pleno.

Finalmente, não haverá conduta quando o agente estiver em estado de


inconsciência, isto é, em sonambulismo, hipnose etc. O agente não possui a
idéia do comportamento que adota; logo, não existe conduta.

O Código Penal considera-se como a causa do crime, toda ação ou


omissão do ser humano.

FORMAS DE CONDUTA:

O Código Penal considera-se como a causa do crime, toda ação ou


omissão do ser humano.

O crime pode ser praticado por ação, são os chamados crimes


comissivos.

Crimes comissivos: O agente deve agir, realizar ou fazer um comportamento.


Em regra, os crimes são comissivos.

A ação é o comportamento completo realizado e desejado pelo agente,


enquanto o ato é a decomposição deste comportamento em diversos
movimentos. Por exemplo: Lucio mata Paulo com vários golpes de faca, há
uma série de atos (os golpes), mas apenas uma única ação (matar).

Crimes Omissivos: Por outro lado, a conduta pode ser omissiva, isto é, o
agente nada faz, não age, fica parado.

Os crimes omissivos dividem-se em:


a) próprios (puros), ou seja, o simples deixar de fazer configura o
delito, independente de qualquer resultado naturalístico posterior (v.g. o crime
de omissão de socorro previsto no artigo 135 do Código Penal); b) impróprios
(impuros), isto é, o agente deixa de realizar um determinado comportamento,
que estava obrigado a realizar para impedir um resultado lesivo. Caso ocorra o
resultado lesivo em decorrência da omissão, o agente responde pelo crime.

b) impróprios: também são chamados de comissivos por omissão


porque o agente é punido por não ter evitado um resultado naturalístico que
estava obrigado a impedir de acontecer. Os crimes omissivos impróprios estão
descritos no artigo 13, § 2º do Código Penal.

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e


podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 

        b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o


resultado; 

        c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do


resultado

Exemplo de dever legal de agir previstos na alínea “a” : o dever dos pais de
alimentar os filhos

Exemplo de dever legal de agir previstos na alínea “b”( garantidor)


enfermeira contratada para cuidar do doente

Exemplo de dever legal de agir previstos na alínea “c”: ( criador do


risco) : causador involuntário de incêndio ;

2. RESULTADO

Para que exista o crime não basta a conduta. O resultado é o segundo


elemento do fato típico.

Resultado é a modificação do mundo exterior provocada pelo


comportamento humano voluntário ( Damásio de Jesus na obra Direito Penal 1.

Esta modificação é a lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico


protegido pela norma penal. Ex: A morte no crime do homicídio;
3. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE (NEXO CAUSAL)

Conceito de nexo causal: É a ligação que existente entre a conduta


do agente e o resultado que essa conduta produziu. Trata-se de uma relação,
um vínculo entre o fato e sua consequência.

Exemplo: Fulano foi alvejado por um disparo de arma de fogo


realizado por Sicrano, que tinha a intenção de mata-lo. Fulano foi
internado em estado grave no hospital.

Pergunta: Houve nexo de causalidade (vínculo) entre a conduta de


Sicrano (disparo de arma de fogo) e o fato de Beltrano está internado em
estado grave?

Sim, houve ! Logo, a conduta de Sicrano foi uma causa determinante


para o estado de saúde grave de Beltrano e deverá responder por isso.

O artigo 13, “caput”, primeira parte, do Código Penal, reza que:

Relação de causalidade 

        Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,


somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação
ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido

Todavia, como visto acima, há crime que não tem resultado.

Assim, a teoria naturalística do evento não se coaduna com o nosso


Código Penal que adotou a normativa.

Para a teoria normativa ou jurídica, o resultado (evento) é a lesão ou


perigo de lesão de um bem jurídico tutelado pela norma penal. Para esta teoria,
todo crime possui um resultado jurídico.

Crimes de Dano: Os crimes que exigem uma lesão efetiva ao bem jurídico são
classificados como crimes de dano. Já os delitos que colocam em risco o bem
jurídico são catalogados como crimes de perigo.

Crimes de Perigo: Apenas colocam em risco de dano. Basta a situação de


perigo. Dividem-se em:

Crimes de perigo Concreto: Há crimes de perigo concreto, que exigem para


sua configuração a real probabilidade da ocorrência de um dano (exemplo: art.
132 do Código Penal), em tais casos, o perigo precisava ser provado,
demonstrado.
Crimes de Perigo Abstrato: Já os crimes de perigo abstrato ou presumido são
condutas que, pela experiência de se viver em sociedade, acarretam
normalmente um perigo, caso sejam realizadas (v.g. artigo 137 do Código
Penal).

Nos crimes de perigo abstrato, a norma penal já presume o perigo


porque a realização da conduta é, per si, a realização do risco, daí porque os
crimes de perigo abstrato ou presumido são chamados de “simples
desobediência.

RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

É relevante o estudo da relação da causalidade para se delimitar a


responsabilidade penal, visto que o crime deve ser atribuído a quem lhe deu
causa.

Existem várias teorias que procuram explicar a relação de causalidade


entre a conduta e o resultado.

TEORIA DA “CONDITIO SINE QUA NON

A primeira é a teoria da equivalência dos antecedentes, também


chamada de teoria da “conditio sine qua non”. Foi formulada por Von Buri.

Para esta teoria é considerado causa do crime todo fato antecedente,


sem o qual o delito não teria ocorrido da forma como aconteceu. Tudo aquilo
que concorrer para o resultado é causa dele.

O Código Penal Brasileiro adotou, como regra, a teoria da equivalência


das condições e por isso considera causa tudo quanto contribuiu em concreto
para o resultado. Não se distingue entre causa e condição ou entre causa e
ocasião.

Para se descobrir se um determinado fato (conduta) foi causa de um


crime, deve-se suprimi-lo mentalmente da cadeia causal antecedente e, se
mesmo assim, o resultado ainda ocorrer, o fato em questão não pode ser
considerado causa daquele evento.

Pondere-se, por oportuno, que a teoria da “conditio sine qua non” deve
ser aplicada apenas e tão somente quanto a causalidade objetiva, ou seja, a
ligação do resultado (crime) aos seus antecedentes (causas) para descobrir se
o comportamento de alguém concorreu, ainda que minimamente, para o
resultado.
Esta teoria situa-se apenas no plano da lei da causa e do efeito e,
portanto, age no plano da natureza. A teoria em comento não pode ser
aplicada no caso do nexo normativo ou da causalidade subjetiva.

Isto porque a causalidade subjetiva exige a presença de dolo ou culpa


na conduta do agente e estes conceitos não são físicos, mas jurídicos e,
portanto, exigem uma apreciação moral que foge ao plano físico-natural.

Um das principais críticas a teoria da equivalência dos antecedentes é a


possibilidade de regressão ao infinito, alargando a responsabilidade penal em
excesso a ponto de poder ser responsabilizar os pais de um homicida, posto
que se não houvesse o nascimento do assassino, não haveria o homicídio.
Também outro inconveniente desta teoria é a delimitação da interrupção do
nexo causal por causas supervenientes.

A primeira objeção foi parcialmente respondida com o emprego da


responsabilização subjetiva, isto é, o agente somente responderá pelo
resultado caso tenha agido com dolo ou culpa.

Procurando solucionar a questão da interrupção do nexo causal, no caso


das concausas posteriores relativamente independentes, pode-se aplicar a
teoria da causalidade adequada, elaborada pelo fisiológo Von Kries.

Para esta teoria a causa de um evento deve ser o antecedente


necessário e mais adequado para produzir o evento.

Para se descobrir a causa mais adequada, deve-se realizar um juízo de


probabilidade fundando no que cotidianamente costuma acontecer.

De sorte que esta teoria exclui, como causa do evento, os


acontecimentos extraordinários, anormais.

Concausa:

A concausa, nada mais é, que uma outra causa que contribuiu para a
eclosão do resultado.

As concausas podem ser:

a) absolutamente independentes da causa

b) relativamente independente
Concausa Absolutamente independente

a) Concausa absolutamente independente preexistente: Assim, imagine


que alguém é alvejado por tiros, mas morre e decorrência de uma doença
anterior. Ora, a causa da morte não foi o tiro, mas a doença que é uma
concausa preexistente. Nesta situação há rompimento do nexo de causalidade
porque a morte é causada pela doença e não pelo tiro.

b) Concausa absolutamente independente Concomitante: Suponha que a


situação que Pedro atira em Caio que morreu porque, no mesmo instante, foi
esfaqueado por João. A morte de Caio decorreu das facadas que era uma
concausa concomitante absolutamente independente dos tiros.

c) Concausa absolutamente independente superveniente: Pense na


situação de Pedro atirar em Caio que fica ferido, mas não morreu, sendo
levado ao hospital onde é esfaqueado por João. Caio, novamente, morreu em
decorrência das facadas. Agora temos uma concausa (facadas) superveniente
absolutamente independente.

Consequencia da Concausa absolutamente independente Neste caso o


nexo de causalidade será interrompido, segundo a teoria da “conditio sine qua
non”. Nos casos acima, aquele que causou o resultado responde pelo crime
consumado e aquele que praticou a conduta, mas não atingiu o resultado,
responde pela tentativa.

Concausa relativamente independente

Entretanto, as concausas podem ser relativamente independentes, ou


seja, atuam conjuntamente com a causa inicial ou são um desdobramento
lógico dela.

Concausa relativamente independente preexistente, Pedro, hemofílico,


recebe tiros de Paulo. Pedro, submetido a cirurgia por causa dos tiros, morre
de hemorragia por causa da hemofilia. Veja que a hemofilia é uma concausa
preexistente relativamente independente, posto que a hemofilia causa
hemorragia; todavia, se não houvesse os tiros, Pedro não teria se submetido a
cirurgia. Paulo, autor dos tiros, responde por homicídio porque a concausa
(hemofilia) e os tiros decorrem de um desdobramento lógico.

Concausa relativamente independente concomitamente: Pedro é alvejado


por Paulo e, no mesmo instante dos tiros, Pedro sofre um ataque cardíaco.
Provou-se que os ferimentos do tiro e o ataque cardíaco foram a causa da
morte. Neste caso, o ataque cardíaco é uma concausa concomitamente
relativamente independente e, portanto, Paulo responde pelo homicídio porque
os tiros que deu foram a causa da morte.
CUIDADO: Nesses dois casos utilizamos a causalidade simples (art.
13, caput do CP) e o resultado é imputado ao agente de acordo com o seu
dolo. O contexto muda nas concausas relativamente independentes
supervenientes, como veremos.

Concausa relativamente independente superveniente: A causa efetiva


(elemento propulsor que se soma para a produção do resultado) acontece após
a causa concorrente. Está prevista no artigo 13, §1º, do Código Penal:

“A superveniência de causa relativamente independente exclui a


imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores,
entretanto, imputam-se a quem os praticou”.

É possível reconhecer duas hipóteses envolvendo concausa


relativamente independente: a causa efetiva que não por si só e a que por si
só produziu o resultado.

Na primeira (não por si só), a causa efetiva (superveniente) encontra-se


na mesma linha de desdobramento causal (normal) da causa concorrente,
tratando-se de evento previsível (ainda que não previsto).

Exemplo

JOÃO é vítima de um disparo de arma de fogo efetuado por ANTONIO, que


age com intenção de matar. Levado ao hospital, JOÃO morre em decorrência
de erro médico durante a cirurgia. O atirador (que tinha intenção de matar)
responderá por homicídio consumado. O médico, conforme o caso, homicídio
culposo. Percebemos que existe um nexo normal prendendo o atuar do atirador
ao resultado morte por erro do médico que socorre a vítima. De acordo com a
experiência da vida, é provável que do fato ocorra um resultado dessa índole.
O resultado é consequência normal, provável, previsível da manifestação de
vontade do agente.

Na concausa relativamente independente superveniente que por si


só produz o resultado a conclusão é outra.

Trata-se das hipóteses em que a causa efetiva do resultado é


considerada um evento imprevisível, que sai da linha de desdobramento
causal então existente. Afirma Heleno Cláudio Fragoso que, nesses casos, se
“inaugura um novo curso causal, dando ao acontecimento uma nova direção,
com tal relevância (em relação ao resultado), que é como se o tivesse causado
sozinha”. Por consequência, exclui-se a imputação do resultado em relação ao
agente responsável pela primeira causa concorrente.

Exemplo: ANTONIO, com vontade de matar, desfere um tiro em JOÃO, que


segue em uma ambulância até o hospital. O ferido vem a morrer, não por força
dos ferimentos, mas pelo acidente de tráfego na ambulância que o transporta
ao posto de assistência, ou no incêndio que consome o hospital a que se
recolhera em tratamento, ou intoxicado por ação de uma droga, que, por
engano, lhe administrou a enfermeira.

Não existe um nexo normal prendendo o atuar do atirador ao


resultado morte

Seja por acidente da ambulância, ou queimaduras em razão do incêndio,


ou intoxicação em face do engano da enfermeira. De acordo com a experiência
da vida, é improvável que do fato ocorra um resultado dessa índole. O
resultado é consequência anormal, improvável, imprevisível da manifestação
de vontade do agente.

CUIDADO: se ANTONIO não agiu com a intenção de matar, responde por


crime de lesão corporal consumado. (Trecho do livro Manual de Direito Penal
(parte geral) – Rogério Sanches)

SUJEITO ATIVO/PASSIVO

O sujeito ativo é chamado de agente, indiciado, denunciado, acusado


(réu), sentenciado, condenado e reeducando.

A nomenclatura varia de acordo com o momento processual que o fato


criminoso estiver.

O sujeito ativo pode agir sozinho ou em concurso com outro(s).

Se agir sozinho, estamos em face de um crime monossubjetivo; caso


tenha agido em concurso o delito é plurissubjetivo.

Importante registrar que a pessoa jurídica, em regra, não pode ser


sujeito ativo de crimes porque lhe falta o atributo de vontade própria e,
portanto, capacidade para delinquir.

A Constituição Federal, excepcionalmente, admite a responsabilidade da


pessoa jurídica no caso de condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente (vide artigo 225, § 3º, da Constituição Federal).

A norma constitucional autoriza apenas e tão somente que a pessoa


jurídica seja responsabilidade por eventual crime contra o meio ambiente.

As leis nº 8.884, de 11 de julho de 1.994, e nº 9.605, de 12 de fevereiro


de 1.998, já tratam especificamente do tema da responsabilidade penal da
pessoa jurídica, a evidenciar que são leis sobre assuntos relacionados a ordem
econômica e meio ambiente, o que reforça a exegese restritiva acima
esposada.
Muitas vezes, o crime exige uma qualidade especial ou condição
específica do sujeito ativo.

São os chamados crimes próprios (e.g. peculato); entretanto, a regra é


o crime ser comum, isto é, desnecessário qualquer condição pessoal
específica do sujeito ativo.

Sujeito passivo: também chamado de vítima ou ofendido, é o titular do bem


jurídico lesado ou ameaçado de lesão.

Possível que um mesmo crime tenha dois ou mais sujeitos passivos (ex:
crime de roubo – art. 157 do CP, já que a vítima da violência pode ser diferente
da que sofre o prejuízo patrimonial).

Estado é chamado de sujeito passivo constante ou formal, visto que


sempre que ocorre um crime surge o dever de punir de sua parte.

Entretanto, o titular do interesse penalmente protegido é chamado de


vítima material porque é quem sofre o gravame com o crime.

Muitas vezes, a vítima não é determinada, mormente nos crimes de


perigo comum em que a coletividade (número indeterminado de pessoas,
chamado crime vago) é o sujeito passivo do crime.

TÍTULO DO DELITO.
 
 
É a denominação jurídica do crime, que pressupõe todos os seus
elementos.
 
Encontra-se sempre na indicação marginal da figura típica fundamental.
No artigo 121, "caput", por exemplo, temos o nome jurídico "homicídio
simples", que contém as elementares "matar alguém".
Já em seu parágrafo 2° , temos a indicação marginal "homicídio
qualificado", onde são acrescentadas determinadas circunstâncias, como o
motivo fútil, torpe, a traição, a emboscada etc.

OBJETO DOS CRIMES


Objeto material é uma pessoa ou coisa sobre o que recai o crime. É a pessoa
ou coisa que irá sofrer as consequências da ação criminosa.

Objeto jurídico é o bem jurídico que a lei penal protege; é o bem jurídico
tutelado. Ex: vida, patrimônio, liberdade individual, honra e etc.

Também não se deve confundir objeto material e corpo de delito, visto


que esta última expressão é mais ampla abrangendo todos os elementos
sensíveis do fato criminoso. Por exemplo: no crime de homicídio, o objeto
material é a pessoa viva; todavia, o corpo de delito é o cadáver, bem como os
instrumentos do crime (arma), os vestígios deixados na cena do crime etc.

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