Você está na página 1de 15

CAPÍTULO VII

CONCURSO DE PESSOAS

* Introdução: Art. 29, CP


- Conceito: Quando duas ou mais pessoas concorrem para a prática de uma mesma
infração penal. Essa colaboração recíproca pode ocorrer tanto nos casos em que são vários
os autores, bem como naqueles onde existam autores e partícipes.
- Crimes plurissubjetivos (delitos de concurso necessário): Já há a exigência da
presença de suas ou mais pessoas nos tipos penais. Ex.: Art. 288, CP – associação
criminosa.
- Crimes unissubjetivos (delitos de concurso eventual): São aqueles crimes que
podem ser cometidos por um único agente, mas que, mormente, são praticados por duas
ou mais pessoas. Neste caso aplica-se o art. 29, CP.

1. Requisitos:
a) Pluralidade de agentes e de condutas;
b) Relevância causal de cada conduta;
c) Liame subjetivo entre os agentes;
d) Identidade de infração penal.

a) Pluralidade de agentes e de condutas: O próprio nome induz sobre a necessidade


de, no mínimo duas pessoas que, enviando esforços conjuntos, almejam praticar
determinada infração penal.
b) Relevância causal de cada conduta: É a relevância causal das condutas
praticadas por aqueles que concorreram para o crime. Se a conduta levada a efeito por um
dos agentes não possuir relevância para o cometimento da infração penal, devemos
desconsiderá-la e concluir que o agente não concorreu para a sua prática.
Ex.: A empresta revólver para B, para matar C. A mata B sem precisar do revólver.
Ou empresta um pé-de-cabra para furtar e não precisa dele.
c) Liame subjetivo entre os agentes: É o vínculo psicológico que une os agentes
para a prática da mesma infração penal. Se não for possível vislumbrar, cada agente
responderá isoladamente por sua conduta.
Ex.: A e B se juntam para matar C, e atiram cada um com seu revólver para
cometer o homicídio. Neste caso A e B responderão cada qual por suas condutas.
Mas se A e B atiram em C sem que houvesse vínculo entre as ações, e com isso
não se torne possível identificar de quem foi o projétil que matou C, os dois respondem
por tentativa de homicídio. In dubio pro reo.
d) Identidade de infração penal: Os agentes, unidos pelo liame subjetivo, devem
praticar a mesma infração penal.
Conclusão: Somente quando duas ou mais pessoas, unidas pelo liame subjetivo,
levarem a efeito condutas relevantes dirigidas ao cometimento de uma mesma infração
penal é que poderemos falar em concurso de pessoas.

2. Teorias sobre o concurso de pessoas:


- Para apontar a infração penal cometida por cada um dos seus participantes
(autores e partícipes), surgiram três teorias que merecem destaque:
a) Teoria pluralista: Para esta teoria, haveria tantas infrações penais quantos
fossem o número de autores e partícipes. A cada participante corresponde uma conduta
própria, um elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular. A
pluralidade de agentes corresponde a uma pluralidade de crimes.
Ex.: Uma pessoa induz outras duas a praticar o crime de furto – Três infrações
penais distintas.
b) Teoria dualista: Esta teoria distingue o crime praticado pelos autores daquele
cometido pelos partícipes. Haveria um crime único para os autores e outro crime único
para os partícipes.
Ex.: Uma pessoa induz outras duas a praticar o crime de furto – Uma infração para
o que induziu e outra para os coautores.
c) Teoria monista ou unitária: Adotada pelo código penal. Diz que todos
aqueles que concorrem para o crime incidem nas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade (art. 29, CP). Existe um único crime, indivisível, embora praticado por
diversas pessoas.
Ex.: Uma pessoa induz outras duas a praticar o crime de furto – haveria um único
crime, atribuído ao partícipe e aos coautores.
- Polêmica: Apesar de adotar a teoria monista, os parágrafos do art. 29
aproximaram o texto legal da teoria dualista, ao determinar a punibilidade diferenciada
da participação. Luiz Regis Prado denominou este fenômeno de “teoria monista de forma
matizada ou temperada”.

3. Autoria:
3.1 – Conceito de autor: As definições de autor e partícipe não foram definidas
pelo código penal e ficaram a cargo da doutrina (sistema diferenciador), por isto, este
tema é não é pacífico.
a) Conceito restritivo de autor (teoria objetiva da participação): Autor seria
somente aquele que praticasse a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Todos os
demais que colaborassem, mas que não realizassem a ação descrita no verbo, seriam
partícipe.
Ex.: A e B vão furtar a casa de C. A fica na porta da casa, enquanto B furta o
objeto. Como B praticou a ação, ele responde como autor e A como partícipe.
Esta teoria encontrou sérias dificuldades no que diz respeito à autoria mediata
(utilizar interposta pessoa para a infração).
Ex.: Médico da seringa envenenada a enfermeira inocente e mata antigo desafeto.
Neste caso ele não poderia ser considerado autor do crime.
- E o autor intelectual?

b) Conceito extensivo de autor (teoria subjetiva da participação): A partir da


teoria da equivalência das condições, os adeptos do conceito extensivo não fazem uma
distinção objetiva entre autores e partícipes. Todos aqueles que, de alguma forma,
colaboraram para prática do fato, são considerados autores.
Para a distinção entre autor e partícipe somente resta a possibilidade de analisar
o critério subjetivo. Existe uma vontade de ser autor quando o agente quer o fato como
próprio, e uma vontade de partícipe quando o agente deseja o fato como alheio.
Ex.: Matador de aluguel causa morte da vítima não porque queria, mas porque foi
pago para tanto.

c) Teoria do domínio do fato (teoria objetivo-subjetiva): Surge em 1939, criada


por Hans Welzel. A teoria do domínio do fato soluciona o problema com argumentos da
teoria objetiva e subjetiva, acrescentando um dado extremamente importante que é a
divisão de tarefas.
Domínio do fato não quer dizer que o agente poderia evitar a prática da infração
penal a qualquer custo, mas, sim, que, com relação à parte do plano criminoso que lhe foi
atribuída, sobre esta deverá ter o domínio funcional, ou seja, que sua função tenha
importância fundamental no cometimento da infração.
Somente com todas as circunstâncias nas mãos é que podemos estabelecer quem
dominou o fato, quem “tem as rédeas nas mãos”. O que possui o manejo dos fatos e o
leva a sua realização é o autor; o que simplesmente colabora, sem poderes decisórios, é
partícipe.
Ex.: Motorista com habilidade ímpar em assalto a banco.
A teoria do domínio do fato só tem cabimento em crimes dolosos, crimes culposos
tropeçam nos delitos imprudentes porque nele não se pode falar em domínio do fato.
Incursionando-se nas origens da concepção, é de se ver que a teoria do domínio do fato
ganhou notório destaque com as explanações de Hans Welzel, que propôs uma ideia
amparada nos conceitos de ação final, estudados e aperfeiçoados também por ele. Para
Welzel, a quem ação é o fazer final, o autor de uma conduta somente pode ser aquele que
conduz o acontecimento causal conforme sua vontade final (segundo sua finalidade), o
que lhe permitiria considerá-la como uma obra sua. Ou seja, a vontade de cometer o
fato como próprio seria o elemento diferenciador entre o mero partícipe e o autor
de uma conduta (ALFLEN, 2014. 87-88).

Contudo, a teoria do domínio do fato foi efetivamente desenhada pela pena de Claus
Roxin, que, no seio de uma visão funcionalista (o que significa enxergar o direito penal a
partir de sua função), trouxe uma nova roupagem ao instituto. Roxin (2000, p. 151)
enxergava que o elemento diferenciador entre autor e partícipe estaria no domínio da
ação, sendo, pois, autor aquele que assume o protagonismo da realização típica – logo,
autor é aquele que pratica os elementos do tipo dependendo apenas de si e de seu atuar.
Porém, além dessa hipótese, Roxin vislumbrou outras duas possibilidades de se “dominar
o fato”.

Uma delas está no domínio da vontade (ROXIN, 2000, p. 166-167), situação na qual o
autor da conduta não a pratica de mão própria, mas, sim, por meio da utilização de outro
sujeito, que atua em erro ou em estado de não culpabilidade, sendo o típico caso do
“homem de trás”.

Enquanto a outra forma, também conhecida como domínio funcional do fato (ROXIN,
2000, p. 307-398), consiste em verdadeira divisão de tarefas entre os diversos
protagonistas da ação típica. Em suma, diversas pessoas possuem o mesmo objetivo em
comum, a realização da ação típica, mas, para alcançá-lo, dividem a execução da ação em
tarefas, competindo a cada um uma fração essencial do todo – tanto que a não execução
de uma delas pode impossibilitar a consecução do objetivo comum –, sendo os
participantes da empreitada considerados coautores do delito.

Com essa construção, Claus Roxin apresentou um conceito restritivo de autor e, de certa
forma, limitou e muito o alcance do conceito unitário de autoria, pelo qual autor é todo
mundo que tenha, de alguma forma, contribuído ao delito dando causa ao mesmo (teoria
causal).
3.2. Demais conceituações:
3.2.1. Coautoria (baseado no princípio da divisão de tarefas)
Conceito: A coautoria é autoria; sua particularidade consiste em que o domínio
do fato unitário é comum a várias pessoas. Coautor é quem, possuindo as qualidades
pessoais de autor, é portador da decisão comum a respeito do fato e em virtude disso toma
parte na execução do delito.
- São aqueles que têm o domínio funcional dos fatos, dentro do conceito de divisão
de tarefas. Serão coautores todos aqueles que tiverem uma participação importante e
necessária ao cometimento da infração. Com essa ideia é possível perceber a
fragmentação operacional.

3.2.2. Autor Intelectual: (art. 62, I, do CP)


Fala-se em autoria intelectual quando queremos nos referir ao “homem
inteligente” do grupo. Na autoria intelectual o sujeito planeja a ação delituosa,
constituindo o crime produto de sua criatividade.
- Pela Teoria do domínio do fato percebe-se a sua importância para o sucesso da
infração penal.

3.2.3. Autoria direta ou indireta


- Autor Direto ou Executor: É aquele que executa diretamente a conduta descrita
pelo núcleo do tipo penal. Não resta dúvida quanto a autoria neste caso.
- Autor Indireto ou Mediato: É aquele que se vale de outra pessoa, que lhe serve,
na verdade, como instrumento para a prática da infração penal.
O código penal prevê expressamente quatro casos de autoria mediata (homem de
trás):
a) Erro determinado por terceiro: (art. 20, § 2º, do CP)
Ex.: Médico dá a uma enfermeira uma injeção com veneno letal que ela aplica em
um antigo desafeto, sem saber seu conteúdo.

b) Coação moral irresistível: (art. 22, primeira parte, do CP)


- Se alguém em virtude de coação que não puder resistir e vier a praticar uma
infração, somente será punível o autor da coação. Lembrar exemplos da inexigibilidade
de conduta diversa.
Ex.: Homem rouba por coação de sequestrador do filho.
c) Obediência hierárquica: (art. 22, segunda parte, do CP)
- Se alguém em estrita obediência a uma ordem hierárquica não manifestamente
ilegal vier a praticar uma infração, somente será punível o autor da ordem. Lembrar
exemplos da inexigibilidade de conduta diversa.
Ex.: Policial prende um inocente por ordem ilegal de um delegado.

d) Instrumento impunível e virtude da condição ou qualidade (característica)


pessoal: (art. 62, III, do CP)
- É quando o agente se faz valer de inimputáveis (doentes mentais ou menores)
para o cometimento de infrações penais.
Ex.: Agente entrega a arma a um menor para que ele dispare contra a vítima.
(Corinthians)

e) Instrumento a título de impossibilidade atribuição por dolo ou culpa:


(hipótese não expressa)
- Quando o agente se vale de interposta pessoa que não pratica qualquer
comportamento (dolo ou culpa). Há a presença de uma causa de exclusão da ação, como
em situações de força irresistível; e estado de inconsciência.
Ex.: Agente empurra terceira pessoa afim de que ela caia sobre a vítima causando
lesão corporal.
Ex.2: Hipnotizado cumpre ordens para a prática da infração legal. (Ridículo)

3.2.3. Autoria colateral / incerta/ desconhecida/ sucessiva


a) Autoria colateral: É quando dois agentes, embora convergindo as suas
condutas para a prática de determinado fato criminoso, não atuam unidos pelo liame
subjetivo. Se não atuam atrelados por um vínculo psicológico não há que em concurso de
pessoas.
Ex.: A e B atiram em C sem que tenham planejado a morte.
Consequências: Se certo quem matou um responde por homicídio e o outro por
tentativa. Se incerto os dois respondem por tentativa.

b) Autoria incerta: Sabe-se quais são os possíveis autores, mas não consegue
concluir, com certeza quem foi o produtor do resultado.
Exemplo acima.
c) Autoria desconhecida: É quando não se faz ideia de quem teria causado ou ao
menos tentado praticar a infração penal. Não se pode imputar o fato a qualquer pessoa
por não saber quem foi o autor do delito.

d) Autoria sucessiva: Até quando poderá alguém entrar no grupo e gozar do


status de autor?
- Pode ocorrer até o exaurimento do delito, chamado de punto final por Maurach.
Ele responderá por todos os atos cometidos, ou só por aqueles que ocorreram após
o seu ingresso?
Ex.: Assalto a banco e um coautor entra após já ter sido assassinado um segurança.
- Duas correntes:
I – Se conhecer os antecedentes criminosos pode se tornar um coautor sucessivo
e responder o fato em sua integralidade. Responde por latrocínio se souber do
antecedente.
II – Quando o coautor adere à conduta dos demais, responderá pela infração penal
que estiver em andamento, desde que tenha conhecimento de fatos anteriores, e que não
consistam em infrações mais graves. Responde apenas por roubo.

4. Participação:
4.1. Conceito: São aqueles que exercem papeis secundários na prática da infração
penal. Atuam como coadjuvantes da história, enquanto o autor atua como protagonista.
- O partícipe é aquele que contribui para o delito alheio, sem realizar a figura
típica, nem tampouco comandar a ação.

- A participação é uma atividade acessória, dependente da principal. Para que se


possa falar em partícipe tem que haver necessariamente um autor do fato.
- Pode ser moral ou material:
a) Moral: É aquele que induz ou instiga a ideia criminosa na cabeça do
agente/autor. É fazer com que o agente tenha a ideia ou então reforçar a ideia pré-existente
na cabeça do autor.
b) Material: É quando o partícipe facilita materialmente a prática da infração. Em
toda a prestação de auxílio material há embutida uma dose de instigação.
Ex.: Empresta a escada para furtar uma casa.
Ex.2: Empresta uma arma para cometer o assassinato.
Ex. 3: Assim, o partícipe que pouco tomou parte na prática criminosa, colaborando
minimamente, deve receber a pena diminuída de um sexto a um terço, o que significa a
possibilidade de romper o mínimo legal da pena prevista em abstrato. Ex.: imagine-se o
partícipe que, embora tenha instigado outrem à prática do crime, arrependa-se e aja para
impedir o resultado, embora não obtenha sucesso. Merece ser beneficiado pela
diminuição da pena.

4.1.1. Instigação a autores e a fatos determinados:


A participação deve dirigir-se a fatos (delitos) e a pessoas determinadas, ela deve
incutir ou estimular uma ideia na mente de um agente escolhido.
- Se incitar publicamente pessoas indeterminadas à prática de determinado crime,
o agente incorre no art. 286, CP.

- Art. 31: a) ajuste: é o acordo ou o pacto celebrado entre pessoas; b)


determinação: é a ordem dada para alguma finalidade; c) instigação: é a sugestão ou
estímulo à realização de algo; d) auxílio: é a ajuda ou a assistência dada a alguém.

4.1.2. Cumplicidade desnecessária e necessária:


a) Desnecessária: São aqueles bens ou auxílios abundantes, como emprestar uma
caneta, pouco dinheiro, uma corda, uma faca, ou uma carona até o local do crime.
Ex.: Emprestar caneta para falsificar assinatura. (cúmplice)
b) Necessária: São aqueles bens ou prestação de serviços que são escassos, como
alta quantia em dinheiro, remédios controlados, explosivos ou quadros falsificados.
- Neste caso haverá a completa impossibilidade de se aplicar a causa geral de
redução da pena relativa à participação de menor importância, prevista no art. 29, § 1º,
do código penal.

4.2. Teorias sobre a participação:


Primeiramente é preciso destacar o art. 31 do CP que expressa:
“O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em
contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.”
- Quer dizer que a conduta do partícipe somente será objeto de apreciação se o
autor ingressar na fase dos atos executórios.
- Disposição em contrário: Induzimento ao suicídio (art. 122, CP)

- É preciso optar por uma das quatro teorias para saber quando aquele que exerce
papel secundário se torna um partícipe:
a) Teoria da acessoriedade mínima
b) Teoria da acessoriedade limitada
c) Teoria da acessoriedade máxima
d) Teoria da hiperacessoriedade

a) Teoria da acessoriedade mínima: Haverá participação punível a partir do


momento que o autor tiver praticado uma conduta típica.
Ex.: A, sem dinheiro, estimula B, que está faminto, a furtar um pacote de biscoitos
para si. Neste caso há estado de necessidade, uma vez que o bem vida prevalece sobre o
atacado (patrimônio). Pode haver um princípio da insignificância, que poderia tornar o
fato atípico.
- Grita pra alguém e legítima defesa: “Atira!”

b) Teoria da acessoriedade limitada: Haverá participação punível a partir do


momento que o autor tiver praticado uma conduta típica e ilícita.
Ex.: A entrega arma para B que está sob efeito de embriaguez fortuita, e B mata
C.

c) Teoria da acessoriedade máxima: Haverá participação punível a partir do


momento que o autor tiver praticado uma conduta típica, ilícita e culpável.

d) Teoria da hiperacessoriedade: Haverá participação punível a partir do


momento que o autor tiver praticado uma conduta típica, ilícita, culpável e punível.
Ex.: Se um menor de 21 anos, ou maior de 70, pratica um crime e sua prescrição
encerra antes, a do partícipe também encerra (art. 115).

4.3. Participação em crime menos grave (desvio subjetivo de conduta): (art.


29, § 2º, CP)
- Materialização da teoria monista moderada
- É a quebra da teoria monista. O legislador pretendeu punir os concorrentes nos
limites impostos pela finalidade de sua conduta. Permite este raciocínio tanto em
coautoria como em participação.
Ex.: A estimula B a causar lesões em C. B espanca C até a morte. Tal fato ocorreu
por um desvio subjetivo do autor.
Ex.: A combina de furtar casa com B. B comete um roubo.
- Cada qual responde de acordo com aquilo que quis, isto é, de conformidade com
seu dolo. Embora responsável o coautor não está sujeito à mesma pena.
*Aumento de pena: Aumento até a metade se previsível o resultado mais grave.
- Tal dispositivo também vem sendo muito pouco aplicado na jurisprudência
pátria. Vários tribunais se valem da tese do dolo eventual, ou seja, a previsibilidade
do resultado mais grave seria tão evidente que configuraria a sua aceitação. Por isso,
em lugar de aplicar a pena do crime menos grave, termina-se por impingir a sanção do
delito mais sério. Entretanto, não se poderia generalizar, o que, na realidade, vem
ocorrendo em várias cortes brasileiras.

4.4. Circunstâncias incomunicáveis:


Art. 30, CP – Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime.
a) Circunstâncias e condições: São dados periféricos, acessórios, que somente
interferem na graduação da pena. Não alteram o tipo penal, somente aumentando ou
diminuindo a pena.
- Conceito de circunstância de caráter pessoal: é a situação ou particularidade
que envolve o agente, sem constituir elemento inerente à sua pessoa. Ex.: a confissão
espontânea proferida por um coautor não faz parte da sua pessoa, nem tampouco se
transmite, como atenuante que é, aos demais concorrentes do delito. Outro exemplo é o
da futilidade do motivo: “O motivo fútil, qualificando o homicídio, é circunstância de
caráter pessoal, subjetiva, que não se comunica, ex vi art. 30 do Código Penal. A
quesitação vinculada, acerca do motivo fútil, acarreta nulidade absoluta” (STJ, REsp
192.966-MG, 5.ª T., rel. Felix Fischer, 13.04.1999, v. u., DJ 07.06.1999, p. 122). Na
mesma linha, o motivo torpe não se comunica: “No homicídio do tipo mercenário, a
qualificadora relativa ao cometimento do delito mediante paga ou promessa de
recompensa é uma circunstância de caráter pessoal, não passível, portanto, de
comunicação aos coautores ou partícipes, por força do art. 30 do Código Penal” (STJ,
RHC 14.900-SC, 5.ª T., rel. Jorge Scartezzini, 17.06.2004, v. u., DJ 09.08.2004, p. 277).

- Conceito de condição de caráter pessoal: é o modo de ser ou a qualidade


inerente à pessoa humana. Ex.: menoridade ou reincidência. O coautor menor de 21
anos não transmite essa condição, que funciona como atenuante, aos demais, do mesmo
modo que o partícipe, reincidente, não transfere essa condição, que é agravante, aos
outros.

- Ex.: A e B roubam C que é irmã de A. Somente A terá sua pena aumentada em


virtude da circunstância agravante prevista no art. 61, II, “e” – cometido crime contra sua
irmã. Tal agravante em nada influência na definição típica.

- Circunstâncias objetivas, materiais ou reais: São aquelas que se relacionam


com o fato criminoso em sua materialidade (modo de execução, instrumento, qualidade
da vítima). Tais circunstâncias se comunicam se ingressarem na esfera de conhecimento
dos coparticipantes.
- Circunstâncias subjetivas ou pessoais: São aquelas que dizem respeito à
pessoa do agente (qualidades pessoais ou relações com a vítima), não tendo qualquer
relação com a materialidade do delito.

b) Elementares: São dados essenciais à figura típica, sem os quais ou ocorre uma
atipicidade absoluta (indiferente penal), ou uma atipicidade relativa (desclassificação).
Ex.: A é funcionário público, e junto de B, que tem consciência da condição de
A, roubam um computador da repartição de onde A trabalha. – Art. 312, CP. Ambos
responderão por peculato-furto.
Sendo uma elementar, de acordo com a parte final do art. 30 do CP, será estendida
ao coparticipante que responderá pelo mesmo crime do agente típico.
- A polêmica do concurso de pessoas no infanticídio!
- Conhecimento da circunstância elementar por parte do coautor ou
partícipe: é indispensável que o concorrente tenha noção da condição ou da circunstância
de caráter pessoal do comparsa do delito, pois, do contrário, não se poderá beneficiar do
disposto no art. 30. Assim, caso uma pessoa não saiba que está prestando auxílio a um
funcionário público para apropriar-se de bens móveis pertencentes ao Estado (peculato
para o funcionário – art. 312, CP), responderá por furto.

4.5. Outras questões pertinentes ao concurso de pessoas:


4.5.1. Autoria mediata e coautoria em crimes de mão própria:
- Crime próprio: É aquele que pode ser praticado apenas por um grupo
determinado de pessoas que gozem de condição especial.
Ex.: Peculato (art. 312) – somente funcionário público.
Ex.2: Infanticídio (art. 123) – somente pela mãe em estado puerperal.

- Crime de mão própria: Para a sua caracterização é preciso que o sujeito ativo
no tipo penal, pratique a conduta pessoalmente. Tem natureza personalíssima.
Ex.: Falso testemunho (art. 342, CP) – somente a própria testemunha.
Ex.2: Deserção (art. 187 do CPM) – somente o próprio militar.

- Perguntas:
- É possível falar em autoria mediata nos chamados crimes de mão própria?
Como regra geral, não! No entanto há a exceção no caso em que há falso
testemunho praticado mediante coação irresistível (art. 22, CP).
- É possível falar em coautoria em crimes de mão própria?
Como regra geral, também não! Por se tratar de infração personalíssima, não há
que se falar em divisão de tarefas. Porém também há uma exceção: Pode ser atribuído ao
advogado a coautoria por crimes de falso testemunho. (Posicionamentos do STJ e do
STF).

4.5.2. Participação punível – desistência voluntária e arrependimento eficaz


do autor: (art. 15, CP)
- Desistência voluntária: Quando o agente está no curso da ação e desiste e a
interrompe por vontade própria.
- Arrependimento eficaz: Quando o agente esgota todos os meios de execução,
mas arrepende-se e impede a produção do resultado.
* O partícipe recebe os efeitos previstos no art. 15, CP, “responde pelos atos já
praticados”?
Ex.: A induz B a matar C. Depois de disparar dois tiros, B, voluntariamente,
desiste de matar C, e, com isso, evita a produção do resultado morte.
- Duas correntes:
* Estende ao partícipe (Nilo Batista) – A desistência voluntária se estende ao
partícipe. Sintonia coma teoria unitária do concurso de pessoas.
* Não há cabimento do benefício para o partícipe (Rogério Greco) – Seria
intransferível porque no momento em que o autor ingressa na fase dos atos de execução,
já seria suficiente para possibilitar a punição do partícipe, pela redação do art. 31, do CP.
Teoria unitária moderada. Autor é acusado por lesão corporal e participe por tentativa
de homicídio.

4.5.3. Arrependimento do partícipe:


Pode acontecer que a desistência ou arrependimento sejam do partícipe?
a) Arrependimento eficaz: (esgotados os meios)
Ex.: A entrega arma pra B, mas depois a toma de volta. Não pode ser penalmente
responsabilizado.
Ex.2: A estimula que B roube, mas depois consegue dissuadi-lo da ideia. Somente
não será responsabilizado se conseguir fazer com que B não pratique a conduta criminosa.
b) Desistência voluntária: A combina de emprestar arma para B, mas não entrega
no momento combinado. Não será responsabilizado penalmente.
4.5.4. Tentativa de participação
Não há que falar em tentativa de participação. Se o partícipe estimula alguém a
cometer um crime, e este não o faz, temos aí um indiferente penal.

4.5.5. Participação em cadeia e Participação sucessiva:


a) Participação em cadeia:
É possível. Não há qualquer óbice.
Ex.: A induz B a estimular C a matar D.

a) Participação sucessiva:
É possível. Tem que haver relevância na instigação subsequente, senão não poderá
o partícipe ser punido. Tem que haver nexo de causalidade.
Ex.: A induz B a matar C. Sem saber do precedente, D induz B a matar C.

4.5.6. Participação por omissão:


Primeiramente é preciso recorrer à distinção entre participação moral e material:
a) Moral: É inimaginável, pois é impossível abrir mão de uma atuação positiva.
b) Material: Pode concretizar-se por uma inação do partícipe, desde que este não
esteja na posição de garante. Senão será responderá título de autor.
Ex.: Empregada deixa porta destrancada da casa por querer, por raiva do patrão,
sabendo que está havendo um surto de furtos na região. Se for o segurança, este será
considerado autor.

4.5.7. Cumplicidade e favorecimento real: (art. 349, CP)


Se o auxílio ocorreu antes do consentimento do delito, dele haverá cumplicidade.
Se depois haverá favorecimento real.
- Não há participação posterior a consumação.
Ex.: A precisa de casa para guardar produto de roubo e pede a B.

4.5.8. Crimes multitudinários: São aqueles crimes cometidos por multidões.


Atenuante previsto pelo art. 65, III, ‘e’, do CP.
Ex.: Linchamento de criminoso.
Ex.2: Saque de carga tombada.
- Duas teorias:
* Afasta o liame subjetivo (Greco): Teremos que imputar a cada agente a
infração penal correspondente ao seu dolo e o resultado produzido pela conduta.
* Não afasta o liame subjetivo (Bitencourt): Todos respondem pelo resultado
advindo da soma das condutas.

4.5.9. Crimes omissivos em concurso de pessoas: É possível falar em concurso


de pessoas em crimes omissivos, sejam eles próprios ou impróprios?
Breve revisão:
- Crime comissivo: É quando o agente faz alguma coisa de que estava proibido.
São normas proibitivas.
- Crime omissivo: É quando o agente deixa de fazer alguma coisa a que estava
obrigado. São normas mandamentais.
- Crimes omissivos próprios (puros ou simples): Em regra não exigem qualquer
resultado naturalístico para sua configuração. Determina que o agente faça alguma coisa
explicitada pelo próprio tipo penal, vem descrito uma inação. Ex.: art. 135 (omissão de
socorro) e 269 (omissão de notificação de doença).
- Crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão ou omissivos
qualificados): Exige a produção de resultado naturalístico, de acordo com o § 2º, do art.
13 – “podia agir para evitar o resultado”. Ex.: Salva-vidas que deixa de socorrer por
querer. Tipicidade indireta.
- Somente aqueles que estão elencados pelas alíneas a, b e c, do art. 13 podem
praticar o chamado crime comissivo por omissão. São os garantidores da não-
concorrência do resultado, aqueles que estão obrigados ao comando da norma. É preciso
que o tipo penal narre uma conduta comissiva (positiva), só que praticada pelo agente de
forma omissiva.

a) Coautoria em crimes omissivos:


- Entendimento de Nilo batista: Não cogita coautoria nos delitos omissivos, uma
vez que cada agente possui seu dever de agir de forma individualizada. A falta de ação
priva de sentido o pressuposto fundamental da coautoria, que é a divisão do trabalho.
Seriam vários autores diretos individualmente consideráveis.
- Entendimento de Cezar Bitencourt: Afirma ser perfeitamente possível a
coautoria em crimes omissivos, desde que o agente possua o dever de agir em um
determinado caso concreto. Há o reconhecimento da coautoria quando todos os agentes,
unidos por um vínculo psicológico, resolvem deixar de agir em determinado caso
concreto.
b) Participação em crimes omissivos:
- Há autores, como Juarez Tavares, que não admitem qualquer espécie de concurso
de pessoas em crimes omissivos.
- por outro lado, grande parte da doutrina entende o contrário. Não parece que
ofereça dúvida a possibilidade de instigar alguém que deixe de fazer algo. Seria uma
dissuasão para que o autor não pratique a conduta em que estava obrigado.
Ex.: Paraplégico que induz surfista (art. 135), ou salva-vidas (art. 121) a não salvar
uma pessoa que está afogando.

4.5.10. Concurso de pessoas em crime culposo:


a) Coautoria em delitos culposos: Apesar de ser inaceitável a teoria do domínio
do fato em delitos culposo, a tendência da doutrina contemporânea é a de aceitar a
coautoria nestes casos. Duas pessoas podem, em um ato conjunto, deixar de observar o
dever objetivo de cuidado que lhes cabia e, com a união de suas condutas, produzir um
resultado lesivo.
Ex.: dois pedreiros que laçam uma barra de ferro e, sem querer, acertam um
transeunte.
Há uma ação única, provocando lesões, que uniram seus esforços e vontades.
Haveria um vínculo de natureza psicológica distinta da ação dolosa, mas é irrefutável um
concurso subjetivo de vontades.

b) Participação em crimes culposos:


A tendência é quase unânime de rechaçá-lo.
- Participação culposa em crime culposo (sim) ≠ Participação dolosa em crime
culposo (erro determinado por terceiro).
Vamos ao exemplo clássico:
Carona querendo chegar mais rápido ao compromisso induz motorista a acelerar,
e acaba causando um acidente.
* Duas teorias:
- Cezar Bitencourt: Não há, pois todos os que cooperam na causa, na falta de dever
de cuidado objetivo, são coautores. A violação do dever objetivo importa sempre em
autoria.
- Rogério Greco: Haveria participação culposa em crime culposo.

Você também pode gostar