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Sociologia da Religião

“A maior ambição científica é descobrir a essência da religião. Deve a Émile Dukheim. <<O
principal objetivo da ciência das religiões>>. Escreveu <<é conseguir aprender o que constitui a
natureza religiosa do homem>>, <<produto de causas sociais>>.” [LE BRAS, p.134]

Problemas da Sociologia do Conhecimento por Georges Gurvitch.

Tradução de Maria José Marinho

“Tudo isto levou a uma multiplicação do sentido do termo ideologia: a) ao das ilusões
inconscientes ou conscientes (construções falaciosas) a ideologia toma o significado: b) de
interpretações das situações sociais do ponto de vista das avaliações e, mais amplamente, das
tomadas de posição; c) de doutrinas elaboradas para justificar ou as suas interpretações ou as
suas ilusões: d) de toda a obra de civilização quando produzida por uma classe e ajudando-a a
justificar-se; e) de ciências sociais mais largamente humanas com exclusão da economia
política marxista; f) de conhecimento filosófico por causa da ausência de verificação directa: g)
da religião por causa da sua falsidade. Estas flutuações de sentido transformaram os estudos
das ideologias – em si mesmos perfeitamente justificados – mais em obstáculos do que em
base segura para o desenvolvimento da sociologia marxista do conhecimento. Só limitando o
sentido da ideologia a um género particular do saber, que nos propomos designar por
<<conhecimento político>> - cristalizando-se com frequência, mas não obrigatoriamente, em
doutrinas e filosofias sociais e políticas -, poderia a sociologia do conhecimento aproveitar-se
do conceito tão rico de ideologia.” [GURVITCH, p.154-155]

Ideias e conhecimentos como actos mentais

“Insistamos, antes de mais, em que não tomamos os termos <<conhecimento>> e <<saber>>


no sentido vago de <<produtos mentais>>, <<opiniões>> ou <<estados>> de coloração
predominantemente intelectual, mas no vigoroso e preciso sentido de actos mentais, em que
se combinam a experiência imediata em diferentes graus e o juízo, actos que afirmam a
validade da verdade sobre qualquer coisa. Contudo, trata-se de um preconceito o supor que,
para serem verdadeiros e produzirem um conhecimento, devem possuir os juízos uma
validade universal e estar necessariamente ligados a consciências individuais. A validade um
juízo nunca é universal, porque se liga a um quadro de referências preciso. Ora existe uma
multiplicidade de quadros de referências e, por vezes, esses quadros de referências
correspondem aos quadros sociais.” [GURVITCH, p.167-168]

“Que existem conhecimentos colectivos, baseados em juízos colectivos, afirmando a


veracidade de experiencias ou intuições colectivas , tal como existem conhecimentos,
experiências e juízos individuais, é o que iremos demonstrar ao concluir esta exposição. A
estas prévias considerações convém acrescentar outras duas: a) a relação entre quadro social
e conhecimento não é, geralmente, uma relação causal; não se pode afirmar, nem que a
sociologia do conhecimento institui a realidade social como causa e o conhecimento como
efeito, nem que o conhecimento, enquanto tal, age como causa sobre os quadros sociais. O
conhecimento, enquanto tal, age como causa sobre os quadros sociais. O conhecimento,
enquanto facto social, é tão-só um aspecto, um sector de fenômeno social total de que faz
parte. [...] b) trata-se, afinal, da procura de correlações funcionais entre quadros sociais e
conhecimento.

Observação: o conhecimento é um facto social e não um mero epifenômeno social.

Problema da sociologia da vida moral por Georges Gurvitch

Tradução de Maria José Marinho

“Propomos delimitar a experiência moral, de forma muito ampla, como uma luta (vivida,
percebida e admitindo diversos graus de simbolização e conceptualização) contra todos os
obstáculos que se opõem ao esforço humano, quer colectivo, quer individual, como
manifestação digna de aprovação desinteressada.” [GURVITCH, p.200-201]

“[...] os factos morais são atitudes colectivas e individuais concebidas como aspectos da
realidade social, tanto mais que são inspiradas pela experiência duma luta contra todos os
obstáculos que se opõem ao esforço humano, como manifestação reconhecido, digna de
aprovação desinteressada. “ [GURVITCH, p.202]

“A vida moral não consiste, apenas nas atitudes inspiradas por uma luta contra os obstáculos
que se opõem aos esforços humanos, atitudes que se afirmam como manifestação positiva
considerada digna de aprovação desinteressada: a vida moral apresenta-se, também, como
competição entre diferentes gêneros de moralidade...” [GURVITCH, p.202]

Observação: a vida moral tem origens míticas, religiosas, jurídicas e filosóficas.

Problemas de Sociologia do Direito por Georges Gurvitch

Tradução de Ana Maria Rabaça.

“A vida do direito encontra-se ligada à vida social por laços ainda mais estreitos e íntimos [...]
O direito, pelo contrário, sejam quais forem os seus gêneros e formas, baseia-se sempre num
reconhecimento colectivo sem o qual esta correspondência ou esta fusão parcial não pode ser
estabelecida entre as obrigações de uns e as pretensões de outros, o que constitui o seu
domínio. [...] o direito é colectivo tanto pelo seu exercício como pelo seu conteúdo. Por isso,
muitas vezes, os juristas são sociológicos sem o saberem. “ [GURVITCH, p.239]

“[...] a primeira vocação do direito é aplanar os conflitos sociais.” [GURVITCH, p.239]

A urbi societas, ibi jus (onde existe uma sociedade, existe direito.)

Observação: todo direito positivo depende do Estado e de seus aparatos de poder para
garantir sua eficiência. O Direito nos termos de Durkheim são “regras de sanções organizadas”.

“O direito que simboliza a solidariedade mecânica é o direito penal e o direito que simboliza
<<a solidariedade orgânica>> compreende o direito familiar, o direito contratual, o direito
comercial, o direito administrativo e o direito constitucional. O direito que deriva da
solidariedade mecânica é acompanhado de <<sanções repressivas>>; o direito que deriva da
solidariedade orgânica é acompanhado de <<sanções restituitórias>>.” [GURVITCH, p.245]

O que é a Mana

“Mana: é a palavra de origem polinésia que, nosso povos primitivos, pretende significar forças
(ou princípios) anónimas, impessoais, capazes, todavia, de propiciar uma espécie de difusa
energia presente nos seres, que se manifesta na potência mágica de certos homens. Enquanto
princípio, o Mana, está na origem da acção eficaz. Esta mesma força pode ser expressa por
outros nomes: orenda, wakan, etc.” [GURVITCH, p.247]

Sant’Anna, Affonso Romano de, Análise estrutural do romance brasileiro. 1.ed, São Paulo; Ed.
Unesp. 2012.

Affonso Romano de Sant’Anna (1937)

“Ideologia pode ser uma variável a partir da qual se esclareça o conjunto de narrativas de uma
comunidade. Não se trata, como assinalou Althusser, de considerar a ideologia como uma
neurose qualquer, mas como uma estrutura essencial das sociedades. Por isso é que,
retomando a clássica imagem de Marx, a ideologia seria essa espécie de cimento que percorre
as estruturas político-sociais. Cimento muitas vez invisível ou não conscientizado pelos
membros da comunidade, mas o verdadeiro responsável por manter em pé o edifício (social
ou literário). Toda sociedade tem sua ideologia, que se divide em um “sistema de ideias”, que
fornece uma visão do mundo por meio de leis e princípios conscientes, e um “sistema de
atitudes” que engloba o comportamento, os costumes e as maneiras de agir já tornadas
inconscientes. Usado o termo em literatura, se poderia falar que a série literária se ordena
ideologicamente porque ela forja princípios e leis para normalizar sua função. E assim como na
série social encontramos a ideologia dominante e as ideologias discordantes, também na série
literária é possível falar de ideologia e contraideologia.” [Sant’Anna, 2012, p.54]

“Desinteressando-se das imagens que o mundo propõe, afastando-se da ideologia e


estabelecendo novo código, a narrativa de estrutura complexa em sua versão metalinguística
opera, no entanto, o mesmo preenchimento do vazio que fazem o mito, a ideologia e a ciência.
No interior da metalinguagem se encontrará um mundo inversamente homólogo àquele
recusado.” [SANT’ANNA, 2012, p.43]

“O homem e as raposas têm diante de si o mesmo problema: cobrir o vazio entre eles e as
uvas, E o homem e as raposas não toleram a descontinuidade. Por isso, entre um ponto e
outro traçam uma linha (reta ou curva), e não satisfeitos com isso continuam a unir os pontos
até que, as linhas se cruzando, formem um sistema atrás do qual imaginam uma estrutura. O
pânico do vazio une as estrelas num voo, cura as doença, origina as religiões e ideologias, e
impele à análise literária. Daí que se criem sistemas e teorias, que se pense em modelos como
modo de articular peças que vagam aleatoriamente resistindo a se reunirem em sistema. A
razão bem pode ser um cancro no azul. A razão é um mito, talvez menos azul que o mito
originário, O bom seria aprender com Malevitch a pintar o branco sobre o branco, a suprema
redundância do nada, ou, se quiserem, a presença completa emergindo da ausência.”
[SANT’ANNA, 2012, p.44]

“Há um tipo de narrativa interessada predominantemente em descrever e criticar o espaço


real, afirmando-se por meio dos princípios de verossimilhança externa. Esse tipo de narrativa
se desdobra em duas manifestações: i. A narrativa ideológica, que relata o real a partir da
ótica da ideologia dominante. Ela procura reproduzir os sistemas de ideias e os sistemas de
atitudes da comunidade, afirmando-se mimeticamente. Procura ser simétrica ao que
denomina como rela. Realiza modelos conscientes e inconscientes, situa-se no espaço das
utopias e se identifica com o mito contado etnocentricamente; ii. Outro tipo de narrativa
voltada para o espaço real é contraideológica, situa-se no espaço das heterotopias. Embora
volta para o referente externo e para a verossimilhança ambiental, ela já não é transparente
ao real, porque propõe um novo real, por onde afirma sua relativa opacidade em relação à
ideologia dominante.” [SANT’ANNA, 2012, p.47]

Existe uma narrativa que reforça ou se contrapõem aos códigos intelectuais e socioculturais
vigentes.

Existe uma série literária, um dado conjunto de obras que é tomado como um sistema, que é
considerado necessário para o status quo não só da classe dominante e dos seus intelectuais.

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