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DISCURSO E IDEOLOGIA

[Wander Emediato]
Planos da linguagem

EXPRESSÃO CONTEÚDO

SIGNIFICANTE SIGNIFICADO

SIGNO
Mikhail Bakhtin: tudo que é
ideológico é um signo

Um produto ideológico pertence a uma


realidade (natural ou social), mas...

Ao se referir a uma realidade ele reflete


uma outra realidade que lhe é exterior
(possui um referente e remete a alguma
coisa que se situa fora dele).
Exemplos:

 Instrumentos de produção convertidos em


símbolo (foice e martelo, engrenagem industrial
etc.);
 Bebidas convertidas em símbolo de distinção
social (cachaça, champagne, vinho etc.)
 Seres: vaca, sapo, hiena, lesma, cavalo, tigre etc.
 Roupas: gravata, terno, mini-saia, jeans etc.
 Som, massa, cor, movimento, formas.
TUDO QUE É IDEOLÓGICO POSSUI UM
VALOR SEMIÓTICO
(Sem signo, sem ideologia)
O boi: animal ou signo ideológico?
Ideologia e consciência

 Materialismo: consciência surge encarnada na


materialidade dos signos, portanto, de seu exterior.
Sentido é exterior ao homem. Vem de fora. Objetos
sociocognitivos.

 Lugar da ideologia está no material social dos


signos criados pelos homens organizados
socialmente em unidades grupais.

 A consciência é um fato sócio-ideológico.


Infraestrutura

 Consciência individual é apenas um locatário


habitando o edifício dos signos ideológicos;

 A realidade determina o signo ideológico.

 As relações de produção (infraestrutura)


condicionam e determinam os contatos verbais
entre os indivíduos e, portanto, estruturam suas
“visões de mundo”, suas ideologias (semiótica).
 Os Aparelhos Ideológicos de Estado designam
realidades que se apresentam na forma de
instituições distintas e especializadas. São eles:
 AIE religiosos (o sistema das diferentes Igrejas);
 AIE escolar (o sistema das diferentes escolas públicas
e privadas);
 AIE familiar;
 AIE jurídico;
 AIE político (o sistema político, os diferentes
Partidos);
 AIE sindical;
 AIE cultural (Letras, Belas Artes, esportes, etc.);
 AIE de informação (a imprensa, o rádio, a televisão,
a publicidade, etc.).
 Os Aparelhos Ideológicos de Estado não se confundem com o
Aparelho (repressivo) de Estado, consistindo nos seguintes
pontos essa diferença:
 Existe um único Aparelho (repressivo) de Estado, enquanto há uma
pluralidade de Aparelhos Ideológicos de Estado.

 O Aparelho (repressivo) de Estado pertence inteiramente ao domínio


público, a maior parte dos Aparelhos Ideológicos de Estado remete ao
domínio privado.

 O Estado (da classe dominante) não é nem público e nem privado. Não
importa se as instituições que compõem os Aparelhos Ideológicos de Estado
são públicas ou privadas, o que importa é o seu funcionamento.

 O Aparelho Repressivo de Estado funciona predominantemente através da


violência e secundariamente através da ideologia, enquanto que os
Aparelhos Ideológicos de Estado funcionam predominantemente através da
ideologia e secundariamente através da violência, seja ela atenuada,
dissimulada ou simbólica.
 Nenhuma classe pode, de forma duradoura, deter o poder do
Estado sem exercer sua hegemonia sobre e nos Aparelhos
Ideológicos de Estado simultaneamente.

 Os Aparelhos Ideológicos de Estado são meios e também lugar


da luta de classes, pois neles a classe no poder não dita tão
facilmente a lei quanto no Aparelho (repressivo) de Estado e
também porque a resistência das classes exploradas pode neles
encontrar formas de se expressar.

 Todo Aparelho Ideológico de Estado concorre – cada um da


maneira que lhe é própria – para um mesmo fim, que é a
reprodução das relações de produção, isto é, das relações de
exploração capitalista.
FORMAÇÕES IDEOLÓGICAS E
FORMAÇÕES DISCURSIVAS (AD de
Michel Pêcheux)
 Formação Ideológica: visão de mundo de uma
determinada classe social, conjunto de
representações, de ideias que revelam a
compreensão que ela tem do mundo;
determina o que se pensa;

 Formação discursiva: conjunto de temas e


figuras que materializa uma formação
ideológica; determina o que dizer e como
dizer;
IDEOLOGIA DOMINANTE E
DISCURSO DOMINANTE

 Há, numa formação social, tantas


formações discursivas quantas forem as
formações ideológicas.

 Se a ideologia dominante é a da classe


dominante, o discurso dominante é o da
classe dominante. (ver A distinção social.
Pierre Bourdieu).
SUJEITO E IDEOLOGIA

 Só há prática através de e sob uma ideologia;

 Só há ideologia pelo sujeito e para sujeitos;

 A ideologia interpela os indivíduos em


sujeitos;

 Sujeito assujeitado; formas-sujeito.


SUJEITO E IDEOLOGIA: as
evidências subjetivas

 “Tanto para vocês como para mim, a categoria sujeito é


uma ‘evidência’ primeira (as evidências são sempre
primeiras): está claro que vocês, como eu, somos sujeitos
(livres, morais, etc.” (Althusser, 1970, p. 94)

 “Como todas as evidências, inclusive aquelas que fazem com


que uma palavra ‘designe uma coisa’ ou ‘possua um
significado’(portanto inclusas as evidências de transparência
da linguagem), a evidência de que vocês e eu somos sujeitos –
e que isto não constitua um problema – é um efeito
ideológico, o efeito ideológico elementar.”( ibid).
A INTERPELAÇÃO (Ei! Você aí!)

 “O sujeito é chamado à existência, é interpelado pela


ideologia. Os bastidores te observam. O efeito do pré-
construído. O sujeito é preso na rede de
significantes” (ref. a Lacan)

 Sujeito de direito (O aparelho jurídico-político que


distribui e controla as identidades - somos todos
iguais); Sujeito ideológico (Eu sou eu, aquele que
fala).

 O sujeito não é causa de si mesmo.


A INTERPELAÇÃO (Ei! Você aí!)

 “ Se é verdade que a ideologia “recruta” sujeitos


entre os indivíduos (no sentido em que os militares
são recrutados entre os civis) e que ela os recruta a
todos, é preciso, então, compreender de que modo os
“voluntários” são designados nesse recrutamento,
isto é,… de que modo todos os indivíduos recebem
como evidente o sentido do que ouvem e dizem, leem
ou escrevem, enquanto sujeitos falantes”. (Pêcheux,
p. 157)
 - Efeito Munchhausen -
Hipótese dos dois esquecimentos
 Esquecimento n. 1: sistema inconsciente. O sujeito falante não
pode, por definição, se encontrar no exterior da formação
discursiva que o domina: recalque inconsciente.

 Esquecimento n. 2: todo sujeito-falante ‘seleciona’ no interior


da formação discursiva que o domina, isto é, no sistema de
enunciados, formas e sequências que nela se encontram em
relação de paráfrase – um enunciado, forma ou sequência, e
não um outro, que, no entanto, está no campo daquilo que
poderia reformulá-lo na formação discursiva considerada.
O interdiscurso: o todo complexo
com dominante
 Toda formação dscursiva dissimula, pela transparência de
sentido que nela se constitui, sua dependência com respeito ao
‘todo complexo com dominante’ (o interdiscurso) das
formações discursivas, intrincado no complexo das formações
ideológicas.

 O funcionamento da ideologia em geral como interpelação dos


indivíduos em sujeitos (em sujeitos do seu discurso) se realiza
através do complexo das formações ideológicas (e do
interdiscurso intrincado nesse complexo) a cada ‘sujeito’ sua
‘realidade’, enquanto sistema de evidências e de significações
percebidas, aceitas, experimentadas. O interdiscurso é o real
exterior.
Como estudar o fenômeno da
ideologia no discurso:

 A) – identificando os conteúdos, os temas


que são atualizados;

 B) – os tipos e formas através dos quais


esses temas são comentados, realizados,
sentidos e pensados. (as figuras, por
exemplo);
TEMAS E FIGURAS : ABSTRATO E
CONCRETO

 TEMA: elemento abstrato que expõe idéias como


categorias ordenadoras do mundo. Solidariedade,
justiça, liberdade, desigualdade social, a condição
da mulher, o poder, etc.

 FIGURA: elemento concreto do plano discursivo


que remete a um dado elemento do mundo
natural, criando, assim, uma ilusão referencial.
Figuras concretizam temas.
Regras metodológicas

 Não separar a ideologia da realidade material


(evitando baseá-la na consciência);

 Não separar o signo das formas concretas da


comunicação social;

 Todo signo ideológico é marcado pelo horizonte


social de uma época ou de um dado grupo.

 O signo é a arena onde se instalam as lutas de


classes.

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