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Temas centrais:
Conteúdo da 1- A educação na Antigüidade clássica: Grécia e Roma
disciplina: 2- A educação nas sociedades medieval e moderna
3- A educação na Modernidade
4- A revolução Industrial e a educação no século XIX
5- O século XIX e as idéias pedagógicas
6- A educação no início do século XX
7- A expansão da escola pública na segunda metade do
século XX
8- A educação no final do século XX e início do XXI e o
sentido da escola hoje.
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Reitor
Sumário
Prof. Dr. Oswaldo Baptista Duarte
Filho
Pro-Reitor de Graduação
1.1. Primeiras Palavras .................................................. 7
Prof. Dr. Roberto Tomasi 1.2. Problematizando o Tema ........................................... 7
Coordenação UAB-UFSCar 1.3. Texto Básico para Estudos ......................................... 8
Profa. Dra. Denise Abreu-e-Lima
Prof. Dr. Daniel Mill
1.4. Considerações Finais ............................................. 13
Profa. Dra. Valéria Sperduti Lima 1.5. Atividades de aplicação prática e avaliação .................. 14
Concepção e Produção Editorial
Prof. Dr. Daniel Mill
Unidade 2. Escola e pensamento pedagógico nos séculos XVII e
Profa. Dra. Valéria Sperduti Lima XVIII
Profa. Dra. Denise Abreu-e-Lima
Rodrigo Rosalis da Silva
2.1. Primeiras Palavras ................................................ 15
2.2. Problematizando o Tema ......................................... 15
2.3. Texto Básico para Estudos ....................................... 16
2.4. Considerações Finais ............................................. 22
2.5. Atividades individuais ............................................ 22
2.6. Estudos Complementares ........................................ 22
UAB-UFSCar
Universidade Federal de São Carlos
Rodovia Washington Luís, km 235
13.565-905 São Carlos - São Paulo – Brasil
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Licenciatura em Pedagogia
Profa. Marisa Bittar
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Unidade 1
A Educação da Antiguidade ao Fim
da Idade Média
Este texto trata das primeiras formas Você sabia que nem sempre a escola
de educação que as sociedades ocidentais utilizou a escrita como meio de aprendiza-
praticaram, especialmente gregos e roma- gem? Que a concepção que temos hoje de
nos, de quem herdamos princípios e idéias. escola é diferente do que pensavam os an-
Nas sociedades escravistas da Antigüidade, tigos e que houve um tempo no qual nem
a educação não era um direito de todos, mas mesmo havia separação dos estudantes por
sim, privilégio de poucos. Dessa forma, foi grupos etários? Bem, se isto lhe era desco-
de grande importância a primeira proposi- nhecido, certamente você sabia que nem
ção de uma escola de Estado. A partir daí, a sempre meninos e meninas puderam convi-
educação contou com defensores que a en- ver no mesmo espaço escolar, não é mes-
tendiam como um direito de todos, e aque- mo? Esta Unidade tratará de temas como
les que temiam a sua expansão por acredi- estes, procurando contribuir para que você
tarem que, ao se tornar de todos, ela seria compreenda que tudo isto foi e continua
rebaixada "ao nível das multidões", perdendo sendo um processo construído historicamen-
qualidade. Nesta Unidade percorreremos te, ou seja, que nem sempre existiu. Por
esse caminho até o século XVI quando, en- exemplo: como e quando surgiram as pri-
tão, ocorreram as primeiras iniciativas para meiras idéias sobre meninos e meninas fre-
a construção de uma escola estatal. É fun- qüentarem o mesmo espaço escolar? E a
damental compreender nesta Unidade: o expansão da escola para as camadas popu-
papel da escola; quem eram os mestres e lares, como e onde começou?
os alunos; como eram tratadas as crianças;
o que era importante aprender; e, ainda, o
processo de lenta institucionalização da es-
cola no mundo ocidental.
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Profa. Marisa Bittar
fessores das primeiras letras, aqueles que que séculos mais tarde voltariam a influen-
exercem a importante tarefa de alfabetizar ciar toda a sociedade ocidental. 9
ainda não tiveram o seu trabalho devida- Antes de deixarmos a Antigüidade,
mente reconhecido. vale a pena observarmos como era a vida
Apesar de ser uma sociedade escra- nas escolas. Falemos um pouquinho do mé-
vista dividida em classes sociais antagôni- todo que era baseado na memorização e na
cas, foi na Grécia Antiga que surgiu a pri- repetição. A criança era tratada como um
meira idéia de uma escola de Estado e quem adulto, não existindo um método específi-
a defendeu foi o filósofo Aristóteles. Preo- co para a sua aprendizagem e quando ela
cupado com o bem comum da polis (a cida- não correspondia às expectativas do mes-
de-Estado), ele entendia que, se a finalida- tre, era comum o castigo físico, denomina-
de do Estado era única, isto é, propiciar o do por Manacorda (1989), autor do livro
bem comum, só uma educação igual para História da Educação: da Antigüidade aos
todos os cidadãos, a cargo do Estado e pú- nossos dias, de "sadismo pedagógico".
blica, seria capaz de atingir esse fim único. Mas, segundo este autor, as agres-
Assim, ele se posicionou contrário à educa- sões ocorriam também de alunos contra
ção privada, isto é, a cargo da família. Na mestres, especialmente se considerarmos
sua época, fim do século IV a. C, ele infor- que a maioria dos mestres de bê-á-bá era
ma que na maioria das cidades a educação de origem popular, escravos ou ex-escra-
era privada, mas mostra-se favorável a que vos. Nesse contexto, o pedagogo, a princí-
a educação fosse uma preocupação dos le- pio, era um escravo cujo trabalho consistia
gisladores, pois a responsabilidade de edu- em acompanhar a criança até o local de sua
car deveria ser pública e não particular como aprendizagem. A educação das crianças e
cada um fazia dando aos filhos a educação jovens seguia a seguinte trajetória a partir
que lhe agradasse. Ao defender esse princí- do século V a.C: primeiro os pais, depois
pio, Aristóteles o relaciona aos filhos dos nutriz (ama) e pedagogo; em seguida, a fi-
cidadãos, ou seja, para a classe social pro- gura do gramático (que ensinava o bê-á-bá);
prietária de terras e de escravos e que fos- o citarista (professor de música) e o
se nascida na cidade-Estado de Atenas. Além pedotriba (professor de ginástica); enfim,
disso, como sabemos, as mulheres também aos cuidados da cidade, a aprendizagem das
não tinham o direito de cidadania. Mas, leis, isto é, dos deveres e direitos do cida-
mesmo assim, foi uma concepção de enor- dão.
me valor para a história da educação, pois Você sabia que foi na Roma Antiga que
foi a partir dela que o princípio de escola surgiu a primeira iniciativa governamental
mantida pelo Estado, com finalidade cívica em favor dos mestres? No ano 6 a.C, na
(política) passou a fazer parte da preocu- ocasião de uma carestia, o imperador
pação de todos aqueles que se empenha- Augusto, ao expulsar de Roma, para poupar
ram para que o direito à educação se esten- alimentos, todos os estrangeiros e parte dos
desse a todos. escravos em serviço, excluiu dessa expul-
O modelo de educação grega, que são médicos e mestres.
depois foi incorporado pelos romanos, ti- Ainda na Roma Antiga, foi fixado o
nha como objetivo a formação do cidadão. primeiro salário estatal para uma cátedra
Por essa razão, dizemos que ela tinha um de retórica. Para termos uma idéia do grau
caráter político. Mas isto no sentido de que de prestígio das profissões, em 301 d.C,
na sociedade humana as pessoas atuam e um pedagogo recebia por cada criança, 50
vivem estabelecendo relações e, para denários mensais, o mesmo salário do mes-
Aristóteles, esse viver em sociedade deve- tre que ensinava o alfabeto; já o orador ou
ria buscar o bem comum, como já assina- sofista, 250 denários mensais por cada dis-
lei. Neste sentido é que a educação tinha cípulo; enquanto o advogado, recebia, por
caráter político. Quando Roma conquistou causa, 1000 denários.
a Grécia, acabou incorporando a sua cultu-
ra, e, com isto, o seu modelo de escola.
Isto nos mostra que, apesar de os romanos
terem sido vencedores na sua política
expansionista, a cultura do povo vencido
acabou prevalecendo. A partir de então essa
cultura passou a ser chamada de greco-ro-
mana. E foi por meio do imperialismo ro-
mano que as concepções filosóficas gregas
se tornaram comuns a todos os povos con-
quistados, permanecendo como princípios
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imitar deixam de ser suficientes. Dessa for- repetidor, que morava em sua casa para
ma, tanto nos ofícios mais manuais quanto ensinar aos meninos. No final da Idade Mé- 11
naqueles mais intelectuais, é exigida uma dia, temos então uma variedade de mes-
formação que pode parecer mais próxima tres: mestres autônomos, mestres com
da escolar, embora continue a se distinguir monitores, mestres associados em coope-
dela pelo fato de não se realizar em um lu- rativas, mestres capitalistas que
gar não destinado a adolescentes, mas no assalariavam outros mestres, mestres pa-
trabalho, pela convivência de adultos e ado- gos por corporações, mestres pagos pelas
lescentes. Os adolescentes confiados por comunas. Essa variedade reflete uma esco-
seus pais a essas corporações - de sapatei- la de uma sociedade mercantil que começa
ros, joalheiros, padeiros etc - passavam a a ficar quase totalmente livre da Igreja e
ser aprendizes e ficavam sob total tutela do Império, vende a sua ciência, renova-a
dos mestres, devendo-lhes obediência ab- e revoluciona os métodos de ensino.
soluta durante os longos anos de aprendi-
zado do ofício. Surge assim um novo tipo
de aprendizagem em que trabalho e ciência 1.3.3. Humanismo e educa-
se encontram e que tende a se aproximar
da escola. Para Manacorda (1989), é o tema ção
fundamental da educação moderna que ape-
nas começa a delinear-se. Mas ele acres-
centa que, de todas as artes manuais, ape- Contemporaneamente a essa escola
nas a "cirurgia médica" e a arquitetura vie- de uma sociedade mercantil e de culturas
ram a se transformar em ciências e deram novas, originadas das relações mercantis de
origem à discussão sobre as relações entre produção, surge um movimento inovador,
ciência e produção, pois os demais campos, mas de cunho aristocrático, que dedica gran-
chamados pelos antigos de "artes sórdidas", de atenção aos problemas do homem e da
não sistematizaram a sua ciência. sua educação: o humanismo. Este movimen-
Essas duas novas modalidades de to filosófico que busca contato com os clás-
ensino surgidas na Idade Média, universi- sicos antigos, tinha aversão pela cultura
dades e corporações de ofício, lembram al- medieval e pela sua forma de transmissão,
guma distinção que ocorre hoje na educa- a escola. De suas críticas à escola medieval
ção atual entre ensino profissionalizante e ressaltamos a pedagogia contrária às pan-
aquele destinado a conquistar uma vaga na cadas, a necessidade de se ter em conta a
universidade? Pense sobre isto e procure natureza da criança no seu duplo sentido:
conhecer melhor o assunto. de considerar a sua tenra idade e de educá-
Ao lado das escolas paroquiais, la de acordo com a sua própria índole. Este
cenobiais, universidades e corporações de segundo tema, freqüentemente contra as
ofício, foram surgindo a partir do século XIII intenções de quem o invoca, se levado ao
os mestres livres, oriundos de uma socie- extremo, ou seja, o de ensinar apenas o
dade que vai se diversificando com o que a criança desejar, pode se prestar a uma
surgimento de mercadores e artesãos, que renúncia a educar, ou a uma subestimação
têm como centros de vida as cidades. Os do poder da educação. Por essa razão, me-
mestres livres são os novos protagonistas rece uma reflexão, especialmente se com-
da nova escola dessa camada social, o ter- pararmos a uma tendência atual em que
ceiro estado (burguesia). No início, com adultos abrem mão de qualquer caráter
exceção dos mestres elementares, isto é, diretivo da educação, deixando a criança
que ensinavam a ler e a escrever, o ofício submetida aos interesses da sociedade de
desses mestres era ocasional e ligado à pro- consumo.
fissão (de tabelião, por exemplo). Em se- Outros temas comuns aos tratados
guida, invadiram o campo tradicionalmen- pedagógicos humanistas são: a leitura di-
te reservado aos clérigos e alguns desses reta dos textos, inclusive os da literatura
mestres tornaram-se famosos. Essas esco- grega até então ignorada; o amor pela poe-
las eram livres nas grandes cidades, onde sia; uma vida comum entre mestre e discí-
os pais remuneravam os mestres e admi- pulo na qual os estudos são acompanhados
nistradas pelas comunas nas pequenas ci- de passeios, diversões, jogos e brincadei-
dades, onde o número limitado de alunos ras; uma disciplina baseada no respeito pe-
não permitia ao mestre viver com as cotas los adolescentes, que exclui as tradicionais
por eles pagas. Assim, a própria comuna lhes punições corporais. Em síntese: o
destinava um salário anual. Outro aspecto aristocratismo dessa corrente não exclui a
peculiar desse tipo de escola consistia em procura de uma pedagogia mais humana,
que cada mestre tinha um monitor ou que afaste o sadismo e o rigor tradicionais.
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Mais adiante em nossos estudos sendo obrigação dos pais enviá-las, pelo
12 constataremos que algumas dessas idéias menos uma parte do dia, para aprender as
voltarão a estar presentes em outros pen- letras. Criticando enfaticamente os gover-
samentos pedagógicos, como na Escola nos, que gastavam tanto em espingardas,
Nova, por exemplo. estradas, caminhos e tantas outras coisas
desse tipo, para dar mais conforto às cida-
des, indagava por que não investir muito
1.3.4. A educação no século mais ou pelo menos o mesmo para a juven-
tude pobre? Pois, segundo ele, era necessá-
XVI: as reformas religiosas e rio que meninos e meninas fossem bem edu-
a escola cados e instruídos desde a infância. A alfa-
betização, neste caso, era importante para
que todos pudessem ler e interpretar as
No século XVI, já na transição para a Sagradas Escrituras. Mas não só.
consolidação do capitalismo, com o estabe- Criticando a escola de então, Lutero
lecimento de modos de vida mais munda- colocou acento na utilidade social da ins-
nos, no contexto do Humanismo, do trução, tentando conciliar o respeito pelo
Renascimento, e com a crise que a Igreja trabalho manual produtivo com o tradicio-
Católica vinha sofrendo internamente, nal prestígio do trabalho intelectual. Para
eclodirão movimentos reformistas que aca- tanto, evocava o exemplo do próprio Cris-
barão influenciando fortemente a educação to, que trabalhou de carpinteiro, e de Pedro,
resultando na expansão quantitativa da es- que trabalhou como pescador e era orgu-
cola. Esses movimentos, originados de uma lhoso de sua habilidade. Dessa forma, ele
profunda crise de religiosidade, resultaram toca na importante relação entre instrução
na cisão da Igreja organizada pelo cristia- e trabalho. Além disso, outro aspecto ino-
nismo, sendo que a partir de então, os cris- vador de sua pedagogia era a insistência
tãos reformados passaram a constituir as na obrigatoriedade dos pais de enviarem
suas próprias Igrejas, enquanto os demais seus filhos à escola, sem distinção entre me-
permaneceram sob a autoridade do papa, ninos e meninas. Ora, mas de que maneira
ou seja, na Igreja Católica Apostólica Ro- os pais deveriam cumprir tal obrigação se
mana, até então, a única que congregava quase não existiam escolas? A pregação de
todos os cristãos desde o fim do Império Lutero acabou forçando a autoridade impe-
Romano, no século V. Vamos conhecer ago- rial a assumir esta nova concepção de uma
ra as duas propostas de educação origina- escola pública para a formação dos cidadãos.
das dos movimentos religiosos: a da Refor- Em 1549, o imperador Carlos V decretou que
ma (também conhecida como Protestante) as escolas não deveriam ser negligenciadas,
e a da Contra-Reforma (isto é, da Igreja pois se tal acontecesse e elas se corrom-
Católica). Ambas podem ser consideradas pessem, inevitavelmente, as Igrejas e os
como as principais concepções de educação Estados estariam em perigo, portanto, era
que irão vigorar nos séculos seguintes e cuja preciso ter muito zelo em instituí-las. Esse
matriz nasceu no século XVI. decreto antecipa as iniciativas dos sobera-
nos iluminados do século XVIII defendendo
A Reforma e a escola que as escolas fossem mantidas pelo Esta-
do.
O movimento religioso mais vigoro- Desse modo, a Alemanha se adiantou
so que exerceu influência sobre a escola foi na tarefa de instituir escolas para meninos
o luteranismo no início do século XVI. De- e meninas, praticando a co-educação que,
pois de tentar uma reforma interna na Igre- em muitos países, como o Brasil, por exem-
ja Católica, à qual pertencia como monge plo, só veio a ser implantada no século XX.
agostiniano, Martim Lutero (1483-1546) foi Nas colônias de origem alemã instaladas no
duramente combatido pelo papado, acabou sul do Brasil, o princípio de Lutero foi ob-
rompendo com o catolicismo e criando a sua servado. Segundo esse princípio, quando se
própria Igreja na Alemanha. funda um agrupamento humano, duas ins-
Para ele, entre outras práticas, cada tituições devem ser imediatamente criadas:
cristão deveria ler e interpretar por si mes- a igreja e a escola.
mo a própria Bíblia. Para tanto, seria ne-
cessário traduzi-la para o alemão, mas, além A Contra-Reforma e a escola
disso, quem iria lê-la se a maioria da popu-
lação era analfabeta? Lutero passa então a Tão logo os ventos da Reforma co-
defender que todas as crianças, meninos e meçaram a agitar toda a Europa, a Igreja
meninas, deveriam freqüentar a escola, Católica tratou de tomar providências man-
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História da Educação
nova organização social do trabalho, con- cado por essas duas influências. Duas ex-
16 centrando os trabalhadores nas cidades, periências pedagógicas, portanto, transcor-
perto das fábricas, e, em conseqüência, reram de forma paralela e cada qual obser-
inaugurando novas formas de vida em soci- vando princípios distintos: a) as escolas
edade, com novos hábitos, nova organiza- católicas seguiram o Ratio Studiorum, isto
ção e, sobretudo, uma disciplina até então é, o método pedagógico dos jesuítas; b) as
desconhecida. O tempo passou a ter uma escolas dos países reformados adotaram
nova dimensão na vida das pessoas, pois a princípios das diversas religiões originadas
rotina do trabalho fabril, orientada por rí- a partir do início do século XVI, quando Lutero
gidas exigências, interferiu totalmente na rompeu com a Igreja Católica, mas a obra
sua forma de viver. que melhor sistematizou esses princípios foi
De que forma a educação foi influen- a Didática Magna, de Comenius.
ciada por esse processo? Por que a escola
passa a ser mais importante nesse contex-
to? Seria ela um requisito fundamental da 2.3.1. Duas experiências
sociedade urbano-industrial? Procure refle-
tir sobre essas questões estabelecendo um educativas, dois pensamen-
paralelo com a sociedade brasileira: no pas- tos pedagógicos
sado, quando o Brasil era agrário e rural, a
escola se constituía como necessidade de
todos? O Ratio Studiorum, aprovado em 1599
pela ordem dos jesuítas, previa regras ab-
solutamente compatíveis com o pensamen-
2.3. Texto Básico to escolástico, baseando-se principalmente
em Santo Tomás de Aquino e prescrevendo
para Estudos normas padronizadas de conduta em suas
escolas, aonde quer que elas se localizas-
sem. Desde o horário das aulas, a conduta
Inicialmente, lembremos que no sé- dos professores e dos alunos, a forma de
culo anterior haviam ocorrido as reformas argüir, a aplicação das sabatinas, até as
religiosas que promoveram uma fratura na questões de caráter mais filosófico, como,
Igreja Católica, até então hegemônica no por exemplo, a concepção de mundo que
campo cultural, no pensamento ocidental e deveria perpassar o ato pedagógico, esta-
na mentalidade. Este fato de extrema im- vam rigorosamente previstos nesse manu-
portância na história influenciou diretamen- al. Escrito em linguagem simples e clara,
te a educação, uma vez que ela vinha sendo foi o Ratio Studiorum que normatizou a ação
ministrada nos mosteiros e nas catedrais pedagógica jesuítica na época.
pela Igreja Católica. As reformas enfraque- A Igreja Católica de então estava fir-
ceram o catolicismo, mas, mesmo com a memente apegada ao propósito de preser-
fragmentação que aconteceu no seu interi- var a sua prerrogativa sobre a instrução,
or, a Igreja Católica continuou a ter presen- uma vez que ela era hegemônica nessa atu-
ça na educação: recordemos que a Compa- ação desde que o catolicismo se implantou
nhia de Jesus foi fundada exatamente para no Império Romano, portanto há mais de
propagar a fé católica, inclusive por meio dez séculos.
de escolas. Ao mesmo tempo, as Igrejas cri- Nos países que permaneceram cató-
adas com as reformas religiosas também licos, o Estado não interveio na educação,
passaram a desempenhar papel na educa- que foi ministrada por particulares e prin-
ção, principalmente a luterana, com a sua cipalmente pelas ordens religiosas. Entre
ênfase na obrigatoriedade da família envi- elas, continuou figurando no primeiro plano
ar seus filhos à escola. Desse modo, com- a Companhia de Jesus, ainda muito pode-
preendemos que durante este século, em- rosa no século XVII. Mas, ao lado dela, sur-
bora a tendência seja a crescente passa- gem outras ordens e instituições religiosas
gem da educação para o âmbito estatal, a dedicadas à educação, que dão caráter par-
religião ainda mantém a sua influência nela. ticular ao século e divergem, de certo modo,
A educação do século XVII, portanto, das anteriores, sobretudo da dos jesuítas.
ainda é marcada pela presença religiosa: de Nesta perspectiva, figura em primeiro
um lado, as escolas jesuíticas em toda a lugar a ordem dos Irmãos das escolas cris-
Europa e mesmo na colônia portuguesa ame- tãs, fundada em 1684 por João Batista de
ricana, o Brasil; de outro, as escolas dos La Salle (1651-1719) na França.A ela se de-
grupos religiosos reformados. O pensamen- veu a difusão da educação primária popu-
to educacional da época foi também mar-
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História da Educação
gico moderno? Na universidade, foi influ- ria ser precedida por uma reforma escolar.
18 enciado pelo pensamento de Bacon e Ratke E mais: fora dessa reforma, seria verda-
(empirismo). Embora não fosse alemão nem deira perda de tempo querer reformar as
mesmo luterano, pois pertencia a uma sei- demais coisas.
ta evangélica reformada cujas origens pro- Para Luzuriaga (1980), Comenius foi
vinham da pregação de Jan Huss, absorveu o fundador da didática e, em parte, da pe-
do mais avançado luteranismo alemão a dagogia moderna. Mas foi, ainda, um pen-
consciência da necessidade de profundas sador, um místico, um reformador social.
reformas didáticas. Durante a Guerra dos Para ele, seu nome figura ao nível dos de
Trinta Anos (1618-1648), peregrinou de um Rousseau, Pestalozzi e Froebel, isto é, dos
lado para outro até encontrar asilo na maiores nomes da educação e da pedago-
Polônia. Foi ali que pôde se dedicar inteira- gia ocidental. Na mesma linha, para
mente ao ensino e escrever algumas de suas Manacorda (1989), ele foi utópico, não um
obras principais, tais como Janua revolucionário: estava pleno de saudosis-
Linguarum (Pórtico das Línguas) e Didática mos medievais. Foi um grande
Magna: Tratado da arte universal de ensi- sistematizador, que chegou um pouco atra-
nar tudo a todos. Seus trabalhos chamaram sado, quando o mundo já havia mudado
a atenção do mundo contemporâneo, espe- mais do que ele pensava (a começar pelo
cialmente do Parlamento inglês que, em latim, que estava em desuso).
1641, convidou-o para ir a Londres aplicar Já para Abbagnano (1981), o funda-
suas idéias; mas as dificuldades impediram- mento da pedagogia de Comenius é essen-
no. Esteve na Suécia, na Hungria, onde pu- cialmente religioso, de uma religiosidade
blicou outras de suas obras, e voltou à ardente e aberta, que acolhe em si e funde
Polônia. Entretanto, por força da guerra ao mesmo tempo os motivos humanístico-
entre Suécia e Polônia, finalmente dirigiu- renascentistas mais fecundos e a nova men-
se a Amsterdam, onde encontrou asilo, talidade científica baseada em Bacon. Ele
como tantos refugiados europeus. Ali publi- realça a determinação de Comenius em de-
cou, em 1657, edição completa de suas fender escolas de massa de preferência às
obras e ali faleceu aos 78 anos, em 1670. escolas de elite: de fato, Comenius se in-
daga "Como pode um só professor ser sufi-
A reelaboração de toda a enciclopé- ciente para qualquer número de alunos?" E
dia do saber e a sua sistemática adequação responde: "Não só afirmo que é possível que
às capacidades infantis são o grande tema um só professor ensine algumas centenas
da pedagogia de Comenius. Expressando de alunos, mas sustento que deve ser as-
uma concepção de educação como instru- sim, pois é muito mais vantajoso para o
mento de uma reforma de toda a condição professor e para os alunos" (Didática Mag-
humana, ele propõe uma escola para a vida na, p. 279).
toda, que, dividida em graus, ensinasse Abbagnano (1981) realça também a
tudo a todos totalmente. Seu projeto, ini- confiança no método que segue a natureza,
cialmente livresco, foi se enriquecendo de isto é, um método intuitivo baseado na vi-
temas práticos, a experimentação concreta são direta dos objetos ou das suas imagens.
das coisas, inclusive com a sugestão para Para ele, Comenius não é o precursor da es-
se freqüentar os estaleiros navais e até os cola ativa, na qual a criança experimenta
lugares de comércio e de Câmbio, visando ela própria, inventivamente, mas é o pre-
não só pensar e falar, mas também agir e cursor da escola das "lições de coisas", do
negociar. No plano da prática didática, é "método objetivo", dos materiais didáticos
mérito de Comenius a pesquisa e a valori- os mais aperfeiçoados possível. E talvez das
zação de todas as metodologias que hoje experiências executadas diretamente pelo
chamaríamos de ativas e que desde o professor. E conclui dizendo que isto não é
humanismo começaram a ser experimenta- pouco, mas chama a atenção para a discre-
das, especialmente a elaboração de um pância entre a crença no método objetivo e
manual ilustrado a fim de que junto com as nas "lições de coisas" e a sua obsessiva con-
palavras chegassem às crianças, senão as fiança na organização escolar, que o faz so-
coisas, pelo menos as imagens das coisas. nhar com uma espécie de escola-relógio e
Entre seus numerosos escritos, cons- que estaria em contraste com os louvores
tam desde a didática das línguas e das ci- que tece à capacidade de iniciativa. A con-
ências, como a organização das escolas, ou clusão do autor é a de que a justificativa
o plano ambicioso de uma reforma geral da para tal organização estava justamente na
sociedade partindo da reforma escolar. So- sua defesa da escola para todos. De todo
bre este último aspecto, postulou que uma modo, esses traços que revelam contrastes
profunda reforma de todas as coisas deve- em seu pensamento exemplificam a sínte-
Licenciatura em Pedagogia
História da Educação
intelectual, e não mais o perfeito cristão ma foi se concretizando com a primeira ins-
ou o bom católico, como ocorria ainda na tituição, em 1642, de escolas de vila 21
escola do século XVI, quase toda nas mãos (Dorfschulen) no estado de Gotha. Essas
da Igreja" (Cambi, p. 305). Adiante vere- mesmas escolas de vila foram instituídas
mos que essas tendências se aprofundaram no estado da Prússia, em 1717. Depois, fo-
a partir do século XVIII, especialmente a per- ram implantadas as escolas científico-téc-
manência da escola no centro da vida dos nicas em Berlim, em 1747.
Estados modernos, processo que não foi Em síntese, essas iniciativas, espe-
totalmente realizado sem conflitos e lutas. cialmente na Alemanha, são as premissas
Que papel assumem as tradicionais políticas do sistema moderno de instrução
instituições educativas no século XVII? Ve- estatal obrigatória, orientado para os estu-
jamos: a família se torna cada vez mais o dos científico-técnicos. A Prússia de
lugar central da formação moral; a escola Frederico II e a Áustria de Maria Teresa e
se renova por meio do colégio, das classes de José II serão, nesse campo, em nome do
organizadas por idade, da socialização dos despotismo esclarecido, os pioneiros.
programas e dos métodos, da moderniza-
ção dos currículos; a Igreja se organiza cada
vez mais como espaço educativo e instruti- 2.3.3. Saiba mais
vo, desenvolvendo uma função social cada
vez mais extensa. De acordo com o mesmo
autor, "outra instituição educativa e
deseducativa" será, depois, a fábrica, que Wolfgang Ratke (1571-1635): elaborou um
veio transformar a mente do trabalhador, a ideal de formação que apóia sobre três pi-
sua ideologia, a própria consciência de lares (graça, natureza, línguas) e exprime
si,vindo a desenvolver uma função de 'for- uma coerente formação humana cristã. Na
mação'" (Cambi, História da pedagogia, sua obra Memoriale (1612) defende que deve
1999, p. 270). se ensinar seguindo o curso da natureza e
Mais à frente daremos atenção à re- procedendo do simples ao complexo, do co-
lação entre escola e fábrica. Por enquanto, nhecido ao desconhecido. Opõe-se à apren-
devemos reter os traços gerais que marca- dizagem mnemônica, passiva e estéril, em
ram a educação no século XVII: a) acentua- nome de um procedimento não-constritivo
ção do aspecto religioso tanto no caso da da aprendizagem. Como citamos anterior-
Reforma como no da Contra-Reforma; b) mente, exerceu influência sobre Comenius.
aumento da intervenção do Estado na edu-
cação dos países que realizaram a Reforma John Locke (1632-1704), "foi o fundador
(protestantes); c) introdução gradativa das do empirismo em nível gnoseológico e
novas idéias filosóficas, tanto da corrente metafísico, mas foi também o representante
idealista (Descartes, Leibiniz), como a da de um pensamento crítico que pretende sub-
empirista (Bacon, Locke); d) nascimento da meter toda afirmação à prova da experiên-
nova didática (Ratke e Comenius), e) ins- cia e, portanto, colocar no centro do pró-
trução com conteúdo "real" e "mecânico", prio trabalho os princípios da verificação
isto é, científico-técnico, em vista de ati- experimental e da interferência empirica-
vidades trabalhistas ligadas às mudanças mente provada. Também em pedagogia -
que vinham acontecendo nos modos de pro- tratada em 1693 com os Alguns pensamen-
dução. Enfim, a pedagogia desse século, tos sobre a educação - Locke desenvolve um
principalmente marcada por Ratke, empirismo explícito e radical, contrapondo-
Comenius e Locke, é uma pedagogia realis- se - também aqui - a todo inatismo e a toda
ta, na qual há superioridade do domínio do predestinação, tão caros ao pensamento tra-
mundo exterior sobre o domínio do mundo dicional" (Cambi, 1999, p. 316). Tendo como
interior. contexto histórico a sociedade inglesa na
As iniciativas mais inovadoras em qual emergiam novos grupos sociais, a co-
matéria de expansão escolar foram a dos meçar pela burguesia, que na segunda me-
reformados, onde cresceu a presença do tade do século foi assumindo papel cada vez
Estado, de modo particular, das seitas não- mais relevante até conquistar o poder, Locke
oficiais, menos ligadas ao poder político (In- coloca no centro de sua reflexão educativa
glaterra e Alemanha). Na Inglaterra, por a figura do gentleman (gentil homem), vis-
exemplo, as autoridades quase não intervi- to como modelo ideal para a nova classe di-
eram nesse assunto. Na Alemanha, além de rigente e para a qual ele elabora um plano
iniciativas de grupos religiosos, como o renovado de estudos. O jogo, a utilidade
pietismo (renovação da reforma luterana), prática, a persuasão racional, os métodos
a instrução popular auspiciada pela Refor- não-constritivos e o auto-governo são os
Licenciatura em Pedagogia
Profa. Marisa Bittar
24
Unidade 3
O Estado burguês, as lutas sociais
e a educação dos séculos XVIII e
XIX
autor. Trata-se de uma pedagogia crítico- órfão de mãe. Quanto ao pai, obrigado a
28 racionalista, que, elaborada segundo ideais abandonar Genebra, deixou o filho aos 10
burgueses, se espalha por toda a Europa. anos de idade a cargo de tios, que confia-
Para Cambi, em síntese, essa é a pedagogia ram a sua educação a um pastor protestan-
do iluminismo. Mas ele próprio adverte para te no campo.Voltando a Genebra, exerceu
o fato de que o iluminismo não é todo o sé- trabalhos manuais, encontrando compensa-
culo XVIII, ou seja, existiu também a oposi- ções apenas em leituras. Segundo Luzuriaga
ção ao iluminismo, conforme assinalamos a (1980), em História da Educação e da pe-
respeito da resistência católica na Itália. dagogia, Rousseau, então, fugiu dessa vida
É importante observarmos que no sé- difícil e começou uma “vida de vagabundo”,
culo XVIII as teorias mais avançadas sobre que durou vários anos. Nessa época, conhe-
educação foram elaboradas na França, país ceu Madame de Warens, que o converteu ao
que, em contraste com sua efervescente catolicismo e exerceu influência decisiva em
criação filosófica, foi pouco ativo nas inici- toda a sua vida. Depois de residir em várias
ativas práticas para transformar a escola. A cidades da França, Itália e Suíça, estabele-
seguir, abordaremos esses dois aspectos da ceu-se em Paris, em 1741, momento em que
educação da época: a) a elaboração das te- já havia recebido a influência de Montaigne
orias inovadoras no século XVIII, que tive- e Locke. Na capital francesa se relacionou
ram como principal berço o solo francês; b) com pensadores da época, entre os quais,
as iniciativas práticas pela expansão esco- Condillac e Diderot. Este último lhe enco-
lar nesse século e no XIX. menda artigos para a Enciclopédia. Em
1745, liga-se a Thérèse Levasseur, com quem
teria cinco filhos, todos entregues a orfana-
3.3.1. Jean-Jacques tos, pois Rousseau julgava não poder cuidar
deles sendo pobre e doente, o que lhe cau-
Rousseau: o “pai” da peda- sou remorsos para o resto da vida. Em 1750,
gogia contemporânea publicou em Paris, um Discurso sobre as ci-
ências e as artes, que o tornou famoso, e,
mais tarde, em 1755, o Discurso sobre a
É consenso entre os estudiosos da desigualdade dos homens, que também al-
educação que Rousseau foi uma das perso- cançou grande repercussão. Em 1762, es-
nalidades mais destacadas da sua história, creveu o Contrato social, que serviu de ins-
a figura que a influenciou de modo decisivo piração à Revolução Francesa, e o Emílio ou
e radical, o autor que executou a virada mais da Educação, que inspirou a pedagogia
explícita da sua história moderna. Diferen- moderna. Os dois livros, que marcarão toda
temente de Comenius, Pestalozzi ou Froebel, a história da teoria política e da pedagogia,
não foi propriamente educador, mas suas foram considerados altamente ofensivos às
idéias pedagógicas influenciaram decisiva- autoridades, especialmente o capítulo sobre
mente a educação moderna. Para Manacorda a “Profissão de fé do vigário saboiano”. O
(1989), ele revolucionou totalmente a abor- livro Emílio foi condenado pelo arcebispo de
dagem da pedagogia, privilegiando a inter- Paris, e Rousseau, ameaçado de prisão, fu-
pretação que ele chama de “antropológica”, giu para a Suíça (1762). Assim, inicia-se o
isto é, focalizando o sujeito, a criança, e período mais difícil da vida do autor. Retorna
dando um golpe feroz na abordagem à vida errante, não parando de mudar de
epistemológica, centrada na reclassificação esconderijo. Em 1765, dirige-se à Inglater-
do saber e na sua transmissão à criança, ra, onde o filósofo David Hume lhe oferece
mas não deixou de ser contraditório ao con- asilo, mas Rousseau acaba se desentenden-
ceber a educação tal como está exposta na do com seu hospedeiro e deixa a Inglaterra,
sua obra prima, Emílio ou da Educação. em 1770, retornando a Paris. Morreu em
Ermenonville, em 2 de julho de 1778.
Anotações
As freqüentes contradições, a rejei-
Jean-Jacques Rousseau nasceu em Gene- ção à sistematização conceitual e a perma-
bra (Suíça), em 1712. Nessa época já havi- nente vinculação entre as idéias e conflitos
am acontecido as reformas religiosas de que pessoais vividos pelo autor tornam difícil
tratamos nas Unidades anteriores e que re- uma exposição sintética de sua obra. Entre-
sultaram no rompimento de muitos países tanto, é possível destacar os temas domi-
europeus com a Igreja Católica. Foi o caso nantes de seu pensamento: relações entre
da Suíça, que passara pela profunda refor- natureza e sociedade; moral fundada na li-
ma liderada por Calvino. De família berdade; primazia do sentimento sobre a
calvinista, logo que Rousseau nasceu ficou razão; teoria da bondade natural do homem;
Licenciatura em Pedagogia
História da Educação
e, doutrina do contrato social. Dois aspec- habitua a recorrer continuamente aos ou-
tos ocupam o centro da reflexão filosófica tros, e muito menos a lhes exibir seu gran- 29
de Rousseau: em primeiro lugar, não é a ra- de saber. Em compensação, julga, prevê,
zão, mas o sentimento o verdadeiro instru- raciocina sobre tudo o que se relaciona ime-
mento do conhecimento; em segundo lugar, diatamente com ele mesmo. Não fala mui-
não é o mundo exterior o objeto a ser visa- to, mas age; não sabe uma palavra do que
do, mas o mundo humano. Ambos os aspec- se faz na sociedade, mas sabe muito bem o
tos implicam a passagem da atitude teórica que lhe convém (...) cedo adquire uma gran-
para o plano da valorização moral. Dessa de experiência, toma aulas de natureza e
forma, o traço mais significativo de seu não dos homens; por não ver em nenhuma
pensamento passa a residir nos caminhos parte a intenção de instruí-lo, instrui-se
práticos que ele procurou apontar para o melhor” (Rousseau. Emílio, 1999, p. 131).
homem alcançar a felicidade, tanto no que Trata-se de um ensaio pedagógico sob
se refere ao indivíduo quanto no que se re- forma de romance no qual Rousseau traça
laciona à sociedade. No primeiro caso, for- as linhas que deveriam ser seguidas com o
mulou uma pedagogia, que se encontra no objetivo de fazer da criança um adulto bom.
Emílio; no segundo, teorizou sobre o pro- Já que o seu pressuposto é a crença na bon-
blema político e escreveu o Contrato Soci- dade natural do homem, ele busca nessa
al. Dessa forma, política e pedagogia estão obra tratar dos princípios para evitar que a
estreitamente ligadas em Rousseau: uma é criança se torne má. Os objetivos da educa-
o pressuposto e complemento da outra, e ção, para ele, comportam, portanto, dois
juntas, segundo Cambi (1999), tornam pos- aspectos: “o desenvolvimento das
sível a reforma integral do homem e da so- potencialidades naturais da criança e seu
ciedade, reconduzindo-a para a recuperação afastamento dos males sociais” (Paulo
da condição natural. Ainda segundo ele, Arbousse-Bastide e Lourival Gomes Macha-
Rousseau realizou uma “revolução do. Introdução. In: Rousseau. Vida e Obra.
copernicana” em pedagogia; colocando no Os pensadores, 1978, p. XVII). O aspecto
centro de sua teorização a criança, opôs-se negativo de sua concepção pedagógica está
a todas as idéias correntes em matéria expresso em tudo aquilo que não deve ser
educativa; “elaborou uma nova imagem da feito pela criança. Já a educação positiva
infância, vista como próxima do homem por deve iniciar-se quando ela adquire consci-
natureza, bom e animado pela piedade, so- ência de suas relações com os semelhantes.
ciável mas também autônomo, como arti- Este aspecto indica a passagem do terreno
culada em etapas sucessivas (da primeira da pedagogia propriamente dita para a teo-
infância à adolescência) bastante diversas ria da sociedade e da organização política.
entre si por capacidades cognitivas e com- De acordo com Franco Cambi (1999),
portamentos morais; teorizou uma série de estudos mais recentes sobre a pedagogia de
modelos educativos (dois sobretudo: um Rousseau têm colocado em destaque a exis-
destinado ao homem e outro ao cidadão) tência, na sua obra de maturidade, de dois
colocados, ao mesmo tempo, como alterna- modelos educativos distintos e, às vezes,
tivos e complementares e como vias possí- até mesmo opostos. De um lado, a educa-
veis para operar a renaturalização do ho- ção natural e libertária que privilegia a for-
mem, isto é, a restauração de um homem mação do homem, típica do Emílio; do ou-
subtraído à alienação e à desorientação in- tro, o modelo de uma educação social e po-
terior que assumiu nas sociedades ‘opulen- lítica, desenvolvida pelo Estado e ligada
tas’, ricas e dominadas por falsas necessi- mais ao princípio da “conformação social”
dades” (Franco Cambi. História da Pedago- do que ao da liberdade. O mesmo autor as-
gia, 1999, p. 343). O que você pensa sobre sinala a distinção entre educação do homem
essa afirmação de Cambi interpretando a e educação do cidadão, lembrando que logo
teoria de Rousseau sobre o ser humano alie- no início do Emílio a segunda vem desvalo-
nado e desorientado pelas sociedades “opu- rizada, pois Rousseau afirma que a instru-
lentas” considerando que hoje vivemos em ção pública não existe e nem deve mais exis-
sociedades baseadas nos valores do consu- tir, já que onde não há mais pátria não pode
mo? Ela lhe parece válida? haver cidadãos. Ainda segundo Cambi, os
Passemos agora à sua obra que é o dois modelos pedagógicos representam duas
que nos interessa mais de perto. Emílio é o fases do seu pensamento, mas também duas
nome de um aluno ideal, criado por vias para operar o saneamento da socieda-
Rousseau. Na sua definição, podemos ler: de e o renascimento do homem moral. A via
“Quanto ao meu aluno, ou antes, ao aluno do Emílio aplica-se a sociedades complexas
da natureza, desde cedo treinado a bastar a e já corrompidas que não possam empreen-
si mesmo tanto quanto possível, ele não se der o retorno a um Estado regido segundo
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Profa. Marisa Bittar
pregar nessas profissões homens de senso? cidadãos, que realize uma completa liber-
É uma máquina que leva outra” (Rousseau.
dade de ensino, que valorize a cultura cien- 31
Emílio, 1999, p. 258).
tífica. O Relatório fixou cinco graus de es-
“Mas, quando, para depois conhecer meu colas: primárias, secundárias, institutos, li-
lugar individual em minha espécie, conside- ceus, sociedade nacional para as ciências e
ro as diversas posições sociais e os homens
as artes (universidades). A turbulência re-
que as ocupam, que acontece comigo? Que
espetáculo! Onde está a ordem que obser- volucionária impediu a execução desse pro-
vei? O quadro da natureza só me oferecia jeto, mas ainda nessa primeira fase fixa-
harmonia e proporções, o do gênero huma- ram-se os princípios da pedagogia revoluci-
no só me oferece confusão e desordem! O
onária (instrução pública para todos, admi-
concerto reina entre os elementos e os ho-
mens estão no caos! Os animais são felizes, nistrada pelo Estado, de caráter laico e li-
só seu rei é miserável! Ó sabedoria, onde vre, destinada a formar o cidadão fiel às
estão suas leis? Ó providência, assim regerá leis e ao Estado). Em 1793, é apresentado à
o mundo? Ser beneficente, em que se trans-
Assembléia o projeto de Le Peletier, que
formou teu poder? Vejo o mal sobre a terra”
(Rousseau. Emílio, 1999, p. 374). exprime o ponto de vista dos jacobinos (pe-
quena burguesia radical) e teoriza uma edu-
cação masculina (dos cinco aos doze anos) e
uma feminina (dos cinco aos onze anos) em
3.3.2. Propostas e atuações colégios de Estado, separando as crianças
para uma escola estatal das famílias e pondo-as numa comunidade
que deveria formá-las segundo modelos de
virtude civil. Essa proposta nos lembra a
Enquanto Diderot lutava contra os ata- educação da antiguidade clássica praticada
ques da Igreja e as proibições do Estado para em Esparta, onde os meninos eram aparta-
levar adiante a sua Enciclopédia, e enquan- dos dos pais para serem educados segundo
to Rousseau idolatrava o seu Emílio propon- as leis da cidade. Franco Cambi, por sua vez,
do uma educação natural e livre, outras vo- afirma que a proposição de Le Peletier foi
zes se levantavam solicitando a interven- criticada, mas exprimia bem o radicalismo
ção do Estado no campo da instrução, tradi- da pedagogia jacobina (herdeira também de
cionalmente entregue à Igreja. Estamos ain- Rousseau do Contrato social) e se punha em
da em solo francês, onde a revolução de 1789 total sintonia com aquele programa de edu-
colocou a educação na ordem do dia. Seja cação civil para operar na sociedade uma
pelo trabalho crítico e pelas propostas “completa regeneração” (Franco Cambi.
reformadoras dos filósofos (Diderot), seja História da pedagogia, 1999, p. 366-367).
pela reivindicação de uma educação nacio- Em 1795 dava-se à escola francesa uma or-
nal defendida pelos pedagogos burgueses (La dem nova: a escola primária era confiada
Chalotais), a onda que atinge a escola e a às comunas, negava-se a gratuidade e a
educação na França, após 1789, modificou obrigação da freqüência escolar, mas fixa-
a sua tradição escolar-educativa, colocan- va-se um programa mínimo: ler, escrever,
do-a quase como um modelo europeu, so- calcular, moral republicana. Criou-se uma
bretudo na fase jacobina da revolução Escola Normal para preparar professores de
(1793-1795) e, depois, na napoleônica (após que o Estado necessitava. Ao lado dessa ela-
1799). Durante a Revolução, devem ser ob- boração de programas de reforma escolar e
servadas três fases de intervenção sobre a de intervenções legislativas, a Revolução
escola, caracterizadas por perspectivas di- Francesa também pôs em ação um intenso
ferentes e por um grau diferente de radica- trabalho educativo que devia desenvolver nos
lismo. Numa primeira fase, realiza-se um indivíduos a consciência de pertencer ao
quadro orgânico de reorganização da instru- Estado, de sentir-se cidadão de uma nação,
ção. Foi quando Talleyrand apresentou à ativamente partícipes dos seus ritos coleti-
Constituinte (1791) um relatório propondo vos e capazes de reviver seus ideais e valo-
uma instrução útil à sociedade e ao seu pro- res” (Franco Cambi. História da Pedago-
gresso, por meio de uma escola popular e gia, 1999, p. 367). Já a partir de 1799, a
gratuita, embora não obrigatória. Mas seu política expansionista de Napoleão Bonaparte
relatório não teve seqüência. No final do não apenas impõe os interesses franceses
mesmo ano, foi criado um Comitê de Ins- no continente europeu, mas difunde os ide-
trução Pública que devia elaborar um proje- ais burgueses relativos às orientações laicas,
to orgânico de reordenamento, que foi redi- estatais, civis na reorganização dos siste-
gido por Condorcet. No seu Relatório, mas escolares. Na Itália, por exemplo, a lei
Condorcet tem em mira uma escola que de- de 1802, relativa à instrução pública, coloca
senvolva as capacidades do aluno, que es- todas as escolas sob controle do Estado e
tabeleça uma verdadeira igualdade entre os elabora uma intervenção orgânica dividida
Licenciatura em Pedagogia
Profa. Marisa Bittar
aplicavam punições físicas, mas mantinham lho manual. Franco Cambi (1999) assinala
34 o grave defeito do excesso de espírito mili- que no centro do seu pensamento pedagógi-
tarista e de mecanicidade na didática, ou co colocam-se três teorias: 1- da educação
seja, a iniciativa privada na expansão es- que deve seguir a natureza, retomada de
colar revelou-se tão austera quanto a esta- Rousseau, segundo a qual o homem é bom e
tal. Apesar desses defeitos, o ensino mú- deve apenas ser assistido no seu desenvol-
tuo, com todos os seus limites, foi uma res- vimento; 2- a da formação espiritual do ho-
posta prática ao perpétuo medo dos conser- mem como unidade de “coração”, “mente”
vadores, ou seja, “o medo de que a instru- e “mão” (ou arte), que deve ser desenvol-
ção pudesse perturbar o Estado” (Mario vida por meio da educação moral, intelectu-
Alighiero Manacorda. História da educação, al e profissional, estreitamente ligadas en-
1989, p. 259). tre si; 3- a da instrução, `a qual Pestalozzi
dedicou a mais ampla atenção e segundo a
B) Pestalozzi qual, no ensino, é necessário sempre partir
da intuição, do contato direto comas diver-
No século XIX, denominado por Cambi sas experiências que cada aluno deve con-
(1999) de “século das pedagogias”, além de cretamente realizar no próprio meio.
Fröebel (idealizador dos jardins de infância)
e de Herbart (um dos pioneiros da psicolo- Anotações
gia científica), que difundiram a pedagogia
alemã na Europa, temos a figura singular de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827):
Pestalozzi, “que revive em primeira pessoa pedagogo suíço, discípulo de Jean-Jacques
o drama da educação (os projetos, as difi- Rousseau, esforçou-se por melhorar a edu-
culdades, as derrotas), reativa uma noção cação e instrução das crianças pobres. Como
espiritual de educação (animada pelo amor), Rousseau, aceitava a tese da bondade ina-
mas também se engaja na problemática so- ta; por isso, dedicou, de preferência, cui-
cial e política da própria educação, constru- dados especiais à educação das crianças de
indo um modelo complexo e problemático, mais tenra idade e das mais deserdadas
inquieto e agudíssimo de pedagogia” (Fran- entre elas. Inicialmente, em Neuhof, trans-
co Cambi. História da Pedagogia, 1999, p. formou uma propriedade sua em asilo para
415). Sua pedagogia exerceu influência nos crianças pobres que, no verão, deveriam
meios anglo-saxões e protestantes, ou seja, cultivar os campos e no inverno, tecer e fiar.
em toda a Europa setentrional, desde a In- A instrução seria dada nas horas de recreio.
glaterra até a Holanda, a Escandinávia e a Mas esse ensaio pedagógico falhou. Poste-
Prússia. Para Cambi, a sua pedagogia está riormente, dirigiu o asilo de Stanz para cri-
no cruzamento entre posições setecentistas anças órfãs ou abandonadas. Aí ensaiou o
(a idéia da educação da humanidade; o go- método mútuo: as crianças mais velhas de-
verno iluminado; a adesão aos ideais revo- veriam ensinar as mais novas. Leitura, es-
lucionários, embora condenando o extremis- crita e cálculo alternavam-se com trabalho
mo) e comportamentos românticos (a aten- manual. Mas circunstâncias políticas trans-
ção ao povo; a visão orgânica da sociedade; formaram o asilo em hospital militar. Com
o papel do sentimento e a referência à for- mais de 50 anos de idade, Pestalozzi abriu,
mação espiritual). em Berthoud, um novo instituto de educa-
Como escreveu Manacorda (1989), ção que, com início modesto, cresceu rapi-
enquanto inovadores ingleses experimenta- damente e contou com numerosos educado-
vam o ensino mútuo, Pestalozzi atuava na res competentes. Mais tarde, o instituto foi
Suíça seguindo a trilha de Rousseau, mas transferido para Yverdum onde Pestalozzi
diferente deste, especialmente pelo seu ope- colheu as glórias máximas de sua carreira
roso filantropismo e sua capacidade de tra- de educador. Entre aulas e passeios, convi-
duzir os princípios em prática. Sua ambição vendo com os mestres, sem prêmios nem
foi a de juntar aquilo que Rousseau separa- castigos, os alunos iam plasmando a pró-
ra, isto é, o homem natural e a realidade pria personalidade. No entanto, mais uma
histórica, e o fez fechando-se dentro dos li- vez, também esta casa de ensino teve de
mites de uma sociedade predominantemen- ser fechada por insuficiência de receitas fi-
te pré-industrial. Dirigindo um instituto para nanceiras. Assim, aos 80 anos, Pestalozzi
órfãos, em 1798, Pestalozzi desenvolveu os voltou a Neuhof tentando ainda fazer dela
princípios fundamentais do seu ensino: o uma casa de educação para crianças pobres.
método intuitivo e o ensino mútuo. Quanto Quando morreu, aos 81 anos de idade, era a
ao ensino mútuo, as crianças mais velhas mais importante personalidade européia no
deveriam ensinar as mais novas. Leitura, âmbito educacional. Entre suas obras nume-
escrita e cálculo alternavam-se com traba- rosas, deixou Leonardo e Gertrudes (1781),
Licenciatura em Pedagogia
História da Educação
uma das mais conhecidas, ao lado de Como Já as idéias socialistas tiveram início
Gertrudes ensina seus filhos (1801). bem antes, pois nasceram exatamente no 35
momento em que a sociedade industrial se
consolidava, inaugurando a contradição so-
3.3.5. Sociedade industrial e cial entre burguesia e proletariado. Inicial-
mente, o proletariado teve como represen-
educação: entre as propostas tantes teóricos a corrente conhecida como
positivistas e socialistas socialismo utópico (Charles Fourrier e Robert
Owen), para depois definir-se como “cien-
tífico” pela obra de Karl Marx e Friedrich
Por volta da metade do século XIX, Engels, a qual fixou princípios pedagógicos
com a consolidação da sociedade industrial, conscientemente opostos aos elaborados pela
dois modelos ideológicos e epistemológicos reflexão burguesa e pelo positivismo em
que interpretam a oposição de classe que particular. Segundo Cambi (1999), isso não
está no centro dessa sociedade irão se con- impede, porém, que entre os dois modelos
trapor e influenciar a educação: o antagonistas venham a se criar interferên-
positivismo e o socialismo. “O primeiro exal- cias e superposições, fusões e entrelaçamen-
ta a ciência e a técnica, a ordem burguesa e tos, especialmente considerando o clima
seus valores (o progresso em primeiro lu- político do final do século XX. Já para
gar), nutre-se de mentalidade laica e valo- Manacorda (1989), o marxismo não rejeita,
riza os saberes experimentais: é a ideolo- mas incorpora os ideais de laicidade, uni-
gia de uma classe produtiva na época de seu versalidade, estatalidade, gratuidade, e de
triunfo, que sanciona seu domínio e fortale- co-educação, acrescentando-lhes a assunção
ce sua visão do mundo” (Franco Cambi. His- do trabalho e renovação cultural, ao mesmo
tória da pedagogia, 1999, p. 466). Quanto tempo em que estabeleceu a crítica rigoro-
ao socialismo, é a posição teórica da classe sa sobre a não realização desses ideais pe-
antagonista, que remete aos valores nega- los governos burgueses.
dos pela ideologia burguesa (a solidarieda- Nos escritos de Marx (1818-1883) e
de e a igualdade, a participação popular no de Engels (1820-1895) está contida uma
governo) e delineia estratégias de conquis- perspectiva pedagógica, às vezes de forma
ta do poder baseadas nas contradições explícita, como elaboração de propostas so-
insanáveis da sociedade burguesa, princi- bre instrução, outras vezes de forma implí-
palmente entre capital e trabalho. cita e destinada a desenvolver temas da fi-
O positivismo desenvolveu-se primei- losofia marxista reunidos em torno do pro-
ro na França com Comte, mas foi com Emile blema antropológico e da análise dos meca-
Durkheim (1855-1917), expoente da socio- nismos sociais e ideológicos do mundo capi-
logia positivista, que essa corrente teórica talista moderno. De forma abreviada, va-
se difundiu na área educacional. Para mos expor a concepção de educação dos dois
Durkheim, a educação é um aprendizado autores, que, desde o Manifesto Comunis-
social e um meio para conformar os indiví- ta (1848), deixam claro que para eles edu-
duos às normas e valores coletivos por par- cação significa três coisas: formação inte-
te das sociedades. No início do século XX, lectual; educação física; instrução
escrevendo artigos e verbetes para um dici- tecnológica. Após se exilarem de seu país
onário pedagógico sobre “Educação, Infân- de origem (Alemanha) por razões políticas,
cia e Pedagogia”, ele desenvolveu um pro- Marx e Engels viveram na Inglaterra na épo-
jeto pedagógico adequado às exigências da ca em que a revolução industrial mudava in-
sociedade valorizando os aspectos laicos e teiramente a base produtiva da sociedade
racionais da formação juvenil e priorizando e, com ela, todas as relações sociais. Na-
a educação moral promovida em idade in- quele momento, a mão de obra infantil nas
fantil pelo “espírito de disciplina” ligado a fábricas era uma das formas de exploração
um “sistema de mandamentos” e desenvol- do trabalho, o que levou Marx a examinar
vido depois numa idéia precisa de dever. relatórios de inspetores governamentais
Segundo Cambi, com Durkheim, “estamos constatando a ausência da escola para as
bem além das afirmações genéricas de crianças trabalhadoras. Foi do sistema fa-
positivistas e também claramente orienta- bril que suscitava a distinção entre a condi-
dos para uma consciência da riqueza e com- ção de vida de crianças trabalhadoras e cri-
plexidade do fenômeno educativo que o co- anças da burguesia que Marx e Engels for-
loca, com pleno direito, no limiar da refle- mularam o princípio geral que rege sua con-
xão pedagógica contemporânea” (Franco cepção de educação, isto é, o de que a ati-
Cambi. História da Pedagogia, 1999, p. vidade laborativa deve ser aliada à forma-
470). ção intelectual de todas as crianças, dos 9
Licenciatura em Pedagogia
Profa. Marisa Bittar
38
Unidade 4
A Escola de Estado, as novas teorias
e as novas práticas educativas no
século XX
cou sua teoria de educação mediante a ex- sua progressiva democratização, ao passo
42 periência e expôs o sentido e a orientação que ela é, de fato, permeada por todas as
que devem ter no ensino os programas e contradições sociais. Nessa perspectiva,
planos de estudo, tomando eqüidistância depois de realçar a rica contribuição de
entre os que pretendiam sua supressão e Dewey, designando-o como o maior nome
os que preconizavam sua vigência. Dewey da pedagogia do século XX e reconhecendo
procurou demonstrar que a escola tradicio- que raramente um pensador mostrou uma
nal é algo de fora para dentro, de cima para tal coerência entre as premissas teóricas e
baixo, além do alcance da experiência do as opções práticas, Manacorda assinala que
educando e lembrou que “a atividade livre lhe faltou, porém, a visão dialética sobre o
e o aprender mediante experiência” foram Estado capitalista, uma vez que ele não o
dois pontos que a educação nova tomou compreendeu como negativo em si mesmo,
emprestado de Rousseau. A unidade da nova enquanto que em Marx é esse Estado que
pedagogia, segundo ele, fundamenta-se na precisa ser superado. Eis as suas palavras:
relação entre experiência e educação, daí a “Dewey, como Marx, baseia-se no desenvol-
necessidade de um conceito correto de ex- vimento econômico e produtivo, mas falta-
periência. Se a escola tradicional diverge lhe aquela análise dialética do real e de suas
em muito da escola ativa, isto não signifi- contradições, cujas explosões, segundo
ca, contudo, que deva haver entre ambas Marx, provocariam as mudanças, e aquela
uma oposição radical. perspectiva, talvez utópica mas fortemen-
A pedagogia de Dewey, de acordo com te estimulante, de uma totalidade de indi-
Cambi (1999), caracteriza-se: 1- como ins- víduos totalmente desenvolvidos; no lugar
pirada no pragmatismo e, portanto, num dessa análise, há nele a conclamada finali-
permanente contato entre o momento teó- dade de educar o indivíduo para participar
rico e o prático, de modo tal que o “fazer” da mudança, concebida como a progressiva
do educando se torne o momento central da evolução de um estado de coisas em si po-
aprendizagem; 2- como entrelaçada intima- sitivo” (Manacorda. História da educação,
mente com as pesquisas das ciências expe- 1989, p. 320).
rimentais, às quais a educação deve recor-
rer para definir corretamente seus próprios Trechos da obra Experiência e educação,
problemas, e em particular à psicologia e à de John Dewey.
sociologia; 3- como empenhada em cons- As transcrições abaixo foram extraídas da
truir uma filosofia da educação que assume obra A história da educação através dos
o papel muito importante no campo social e textos, de Maria da Glória de Rosa, 1971,
político, enquanto a ela é delegado o de- páginas 296-306.
senvolvimento democrático da sociedade e
a formação de um cidadão dotado de men- “O problema para a educação progressiva
é: qual o lugar e sentido das matérias e da
talidade moderna, científica e aberta à co-
organização da experiência? Como funcio-
laboração. Tais características gerais, se- nam as matérias? Existe algo inerente na
gundo o autor, tornaram a pedagogia de experiência que tenda até a organização
Dewey uma espécie de modelo-guia dentro progressiva de seu conteúdo? Que resulta-
dos se produzem quando os materiais da
do amplo movimento conhecido como “es-
experiência não se organizam progressiva-
cola-ativa”, ou escola nova que, desde o mente? Uma filosofia que procede sobre a
final do século XIX até os anos 30 do século base do revide ou da pura oposição, des-
XX “teve um rico florescimento de posições cuidar-se-á dessas questões. Tenderá a su-
por que, porque a velha educação baseava-
teóricas e de iniciativas práticas, todas elas
se em uma organização confeccionada pre-
destinadas a valorizar a criança como pro- viamente bastará revidar o princípio da
tagonista do processo educativo e também organização em si, em lugar de esforçar-se
a colocá-la no centro de toda iniciativa di- para descobrir o que ele significa e como se
o há de alcançar sobre a base da experiên-
dática, opondo-se às características mais
cia. Poderíamos seguir com todos os pon-
autoritárias e intelectualistas da escola tra- tos de diferença entre a nova e a velha
dicional” (Franco Cambi. História da Pe- educação e alcançaríamos conclusões se-
dagogia, 1999, p. 549). melhantes. Quando se revida o controle
externo, surge o problema de encontrar os
Quando se trata de analisar o pensa-
fatores de controle que são inerentes à ex-
mento de Dewey, a polêmica se instaura. periência. Quando se revida a autoridade
De um lado, ele é acusado de ter empobre- externa, não se segue que se deva revidar
cido os processos formativos pela valoriza- toda autoridade, senão que é necessário
buscar uma fonte de autoridade mais efi-
ção excessiva das atividades manuais. De
caz. Porque a velha educação impusera o
outro, é criticado pela sua visão da escola conhecimento, os métodos e as regras de
como um território neutro da sociedade, conduta da pessoa adulta ao jovem, não se
onde se efetua o experimento-chave para a segue, exceto sobre a base da filosofia ex-
Licenciatura em Pedagogia
História da Educação
tremista do ‘um ou outro’, que o conheci- Iorque, onde permaneceu até sua jubilação.
mento e a destreza da pessoa madura não
No primeiro pós-guerra iniciou uma série 43
tenha valor para a experiência da imatura.
Pelo contrário, basear a educação sobre a de viagens – Japão, China, Turquia, Méxi-
experiência pessoal pode significar co, URSS, Escócia – pelas quais o seu pen-
contactos mais numerosos e mais inéditos samento filosófico e pedagógico se difun-
entre o ser maduro e imaturo que os que
diu e se afirmou como um dos instrumen-
existem na escola tradicional (...). O pro-
blema é, pois, ver como podem estabele- tos mais eficazes para enfrentar e superar
cer-se esses contactos sem violentar os a crise pós-bélica. Deixou uma obra exten-
princípios do aprender mediante a experi- sa que teve começo com a publicação de
ência pessoal”.
Meu credo pedagógico (1897), A escola e a
“Precisamente, qual é o papel do mestre e sociedade (1899) e Como pensamos (1910).
dos livros ao fomentar o desenvolvimento O extenso rol de suas publicações foi inten-
educativo do ser imaturo? Admitamos que a sificado nos anos 20-30 e concluído em 1949,
educação tradicional empregava como ma-
com a sua última grande e original obra te-
téria de estudo fatos e idéias tão
correlacionadas com o passado que davam órica: Conhecimento e transação. Além de
pouca ajuda para tratar dos sucessos do um grande pedagogo (teórico e prático), foi
presente e do futuro. Muito bem. Agora te- também um grande filósofo, que desenvol-
mos o problema de descobrir a conexão que
veu o pragmatismo americano, buscando
existe atualmente dentro da experiência
entre os fatos do passado e os sucessos do resultados racionalista-críticos,
presente. Temos o problema de descobrir metodológicos e ético-políticos. Morreu em
como o conhecimento do passado pode con- 1952.
verter-se em um instrumento potente para
tratar eficazmente do futuro. Podemos
revidar o conhecimento do passado com o
fim da educação e, portanto, realçar sua 4.3.2. Problemas da educação
importância só como meio. Ao fazer isto
nos encontramos com um problema que é no socialismo
novo em história da educação: como che-
gará o jovem a conhecer o passado de modo
que este conhecimento seja um poderoso
agente na apreciação da vida presente?” Enquanto a escola nova tornava-se
referência pedagógica nos países capitalis-
“Como afirmei mais de uma vez, o caminho
tas, o marxismo influenciava a educação na
da nova educação não pode ser seguido tão
facilmente como o velho caminho, senão que Rússia pós-revolucionária e, depois, nos
é muito penoso e difícil. Assim o continuará países que se alinharam à União Soviética.
sendo até sua maioridade, e isso exigirá Essas duas correntes representativas dos
muitos anos de sério trabalho cooperativo
blocos antagônicos, porém, não foram apli-
por parte de seus adeptos. O maior perigo
que ameaça seu futuro é, creio eu, a idéia cadas inteiramente em concordância com
de que seja um caminho fácil, tão fácil que seus princípios fundamentais. Em outras
se possa improvisar seu curso, senão de palavras: nem foi construída uma rede de
maneira repentina, pelo menos de um dia
escolas novas capaz de substituir a velha
para o outro, ou de uma semana para a ou-
tra”. escola nos países capitalistas, nem a peda-
gogia marxista se concretizou fielmente de
Anotações acordo com as formulações de seus criado-
res. No primeiro caso, vimos que Dewey
John Dewey (1859-1952) nasceu em alertava para o fato de que o caminho da
Burlington, Vermont (EUA). Em 1884, dou- nova educação não poderia ser facilmente
torou-se em Filosofia e Pedagogia. Foi no- seguido como o velho caminho.
meado instrutor de Filosofia na Universida- Quanto aos países do socialismo real,
de de Michigan, onde foi influenciado pelas a começar pela Rússia revolucionária, bus-
teorias de Hegel (idealismo) e William James caram seguir os princípios da pedagogia
(pragmatismo, individualismo). Elevado a marxista, que, de acordo com Cambi, pode
professor titular aí permaneceu até 1894. A ser definida pelos seguintes aspectos: 1-
partir dessa data, foi nomeado professor uma conjugação entre educação e socieda-
de Filosofia e Pedagogia na Universidade de de, segundo a qual toda prática educativa
Chicago. Nessa universidade realizou uma carrega valores e interesses ideológicos li-
das mais importantes experiências para a gados à estrutura econômico-política da
pedagogia contemporânea: a criação, em sociedade; 2- um vínculo estreito entre edu-
1896, de uma “escola-laboratório”, que cação e política, tanto no nível de interpre-
durante sete anos serviu de experimenta- tação das várias doutrinas pedagógicas,
ção às suas idéias pedagógicas, para crian- quanto em relação às estratégias educativas
ças de 4 a 13 anos. Em 1904, passou a leci- voltadas para o futuro, que recorrem, ou
onar na Universidade de Colúmbia, em Nova devem recorrer, à ação política; 3- a
Licenciatura em Pedagogia
Profa. Marisa Bittar
reu com Gandhi e a sua pedagogia da não- cou. Para Cambi, esse foi um ponto de hon-
48 violência); 3- por meio das campanhas de ra – “mesmo com todas as suas distorções,
educação de adultos, aplicando modelos de riscos e desvios – da escola contemporânea
conscientização, como fizeram Dolci e e que a diferenciou profundamente da tra-
Capitini, na Itália, ou Paulo Freire, no Bra- dicional (passiva e autoritária)” (Franco
sil (mas em anos sucessivos)” (Franco Cambi. História da pedagogia, 1999, p.
Cambi. História da pedagogia, 1999, p. 627).
588). O fato é que hoje, submetida aos
Para o autor, a reviravolta que 1968 valores de mercado, da “indústria cultural”,
provocou ainda nos condiciona. De fato, da sociedade do espetáculo, do poder da
continuamos às voltas com as questões te- mídia, a escola contemporânea se encontra
óricas sobre a finalidade da educação em em crise. Mas, olhando retrospectivamen-
nossa época e com as questões práticas que, te, será que algum dia em sua longa traje-
especialmente em países como o Brasil, com tória, a escola viveu sem passar por crises?
graves desigualdades sociais, ainda não Não esteve ela constantemente oscilando
encontraram solução. Se o grande tema de entre posições conservadoras e progressis-
1968 era o da democratização da educação, tas desde a Grécia Antiga?
ele mantém a sua atualidade neste começo A peculiaridade do presente, além do
do século XXI. que já expusemos nas linhas anteriores, é
que, se em algum momento a escola ocu-
pou a centralidade da vida social, hoje pa-
4.4. Considerações rece não ser mais assim. O progresso
tecnológico ao qual já nos referimos, ao
finais mesmo tempo em que facilitou a difusão
do conhecimento, obscureceu a centralidade
da escola, de modo que ela hoje se defron-
Ao encerrarmos essa trajetória da ta com a crise específica de definir seu pa-
história da educação tendo por objetivo pel em um mundo de economia globalizada,
demonstrar como a escola se expandiu tor- numa sociedade informatizada e de consu-
nando-se um direito de todos, é necessário mo. Começamos nosso texto didático cha-
salientar que, mesmo na Europa, foi só com mando a atenção para o fato de que a esco-
o segundo pós-guerra (1945) que a escola la não é a única instituição, o único lócus
se tornou acessível a todas as crianças. que transmite saber.
Apesar dos grandes avanços da educação Hoje, mais do que nunca o princípio
nesse século, em extensas áreas do plane- de Platão, segundo o qual não apenas a es-
ta ainda predominam a discriminação, as cola, mas a sociedade como um todo edu-
dificuldades para freqüentar a escola e até ca, é um princípio verdadeiro. Mas, então,
mesmo a exclusão de milhões de crianças que papel lhe cabe? Talvez, como preconi-
do direito à educação escolarizada. zou Manacorda (1989), caiba à escola exa-
Se retomarmos a tendência que vi- tamente aquilo que ela ainda não cumpriu:
nha se delineando na Europa principalmen- a formação humana plena, tal como escre-
te desde o século XVIII no sentido da veu o nosso autor:
estatização da instituição escola, consta-
taremos que no século XX essa tendência se “Parece-me que o caminho do futuro seja
efetivou. De fato, se no passado a escola aquele que o passado nunca soube percor-
rer, mas que nos mostrou em negativo,
foi monopolizada pela Igreja Católica e,
descortinando suas contradições. E estas
depois, por outras Igrejas mais, coube ao foram e são entre (...) a instrução dos do-
Estado moderno responsabilizar-se por ela minantes para o ‘dizer’ intelectual e dos
para que o direito a freqüentá-la se esten- dominados para o ‘fazer’ produtivo; entre
a exigência de uma formação geral humana
desse a todas as crianças. Mesmo assim,
e a preparação de cada um para competên-
essa foi uma passagem longa, difícil e bas- cias distintas (como as do dizer e as do
tante desigual de país para país. Ao mesmo fazer); entre máxima reverência que se
tempo em que a escola se expandiu, tor- deve à criança e o perpétuo recurso ao
sadismo pedagógico, com as inevitáveis
nou-se mais suscetível ao controle ideoló-
conseqüências contestadoras (...), entre
gico, o que, a princípio, pode parecer uma a persistente predominância de um ensino
contradição. Mas foi também o processo de lógico-verbal e a necessidade humana, es-
sua expansão, aliado à prática de vida de- pecialmente dos adolescentes, de uma ple-
nitude de vida instintiva, emotiva e afetiva,
mocrática, que possibilitou o reconhecimen-
através de uma vida escolar que não ex-
to das suas contradições e, depois, a sua clua, mas corresponda à sua vida real, quer
condenação. Pois foi isto que 1968, mesmo do corpo quer da mente, com suas ativida-
com seus excessos e extremismos, signifi- des artísticas, produtivas e físicas coloca-
Licenciatura em Pedagogia
História da Educação
das no mesmo nível das atividades (pseudo) para freqüentar a escola em um povoado
intelectuais. Em suma, a exigência de uma
longínquo da China. Trata-se de um belo e 49
escola que, de lugar de separação e de pri-
vações, se transforme num lugar e numa singelo filme sobre a realidade educacional
plenitude de vida” (Manacorda. História da de um país cuja história e cultura são mui-
educação, 1989, p. 360). to distintas dos países ocidentais, e, por
esta razão, complementa nossos conheci-
Já Franco Cambi, ao encerrar sua mentos sobre a história da educação. Já o
análise sobre a educação do século XX e filme “A língua das mariposas”, também
apontar perspectivas para a atualidade, enfocando uma pequena escola, mas agora
assinalou que a escola contemporânea as- no interior da Espanha, retrata, por meio
sume o perfil complexo que lhe é próprio da relação de amizade entre um menino e
nas sociedades industriais avançadas e de- seu professor, o ambiente de opressão que
mocráticas e ainda hoje atravessa: estava tomando conta do país na década de
1930 até o início da terrível Guerra Civil
“(...) a oposição entre escola de mas- Espanhola, que antecedeu as experiências
sa e escola de elite, entre escola de mais atrozes da máquina de guerra nazis-
todos e escola profissionalizante (ori- ta. Ambos os filmes possibilitam muitas
entada para um objetivo); a oposi- reflexões e são apenas sugestões dentre
ção entre escola livre (caracterizada tantos outros que podem ser aproveitados
pela liberdade de ensino, como quer para esta Unidade.
uma instância de verdadeira cultura
na escola) e escola conformativa (a
papéis sociais, a papéis produtivos).
São, justamente, problemas abertos
que ainda caracterizarão por muito
tempo a escola de decênios vindou-
ros (é previsível) e que devem ser
enfrentados sem exclusivismos e sem
fechamentos, com a nítida consciên-
cia de que a escola contemporânea
é, ainda, uma escola em transforma-
ção, que procura dar resposta a situ-
ações sociais, culturais e de merca-
do de trabalho profundamente novas,
e em contínuo devenir” (Franco
Cambi. História da pedagogia,
1999, p. 628).