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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO-UFTM

CURSO DE HISTÓRIA

ISABELA PISSINATTI
3° PERÍODO

RESUMO DO TEXTO “A ESCOLA QUE SEMPRE SONHEI E NUNCA PENSEI QUE


EXISTISSE”, DE RUBEM ALVES

UBERABA
2015
Sobre o autor: Rubem Alves nasceu no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, sul de
Minas Gerais. No período de 1953 a 1957 estudou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas (SP),
tendo se transferido para Lavras (MG), em 1958, onde exerce as funções de pastor naquela comunidade
até 1963. Em 1963 foi estudar em Nova York, retornando ao Brasil no mês de maio de 1964 com o título de
Mestre em Teologia pelo Union Theological Seminary. Denunciado pelas autoridades da Igreja Presbiteriana
como subversivo, em 1968, foi perseguido pelo regime militar. Abandonou a igreja presbiteriana e retornou
com a família para os Estados Unidos, fugindo das ameaças que recebia. Lá, torna-se Doutor em Filosofia
(Ph.D.) pelo Princeton Theological Seminary. Sua tese de doutoramento em teologia, “A Theology of Human
Hope”, publicada em 1969 pela editora católica Corpus Books é, no seu entendimento, “um dos primeiros
brotos daquilo que posteriormente recebeu o nome de Teoria da Libertação”. De volta ao Brasil, por
indicação do professor Paul Singer, conhecido economista, é contratado para dar aulas de Filosofia na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (SP). Em 1971, foi professor-visitante no Union
Theological Seminary. Em 1973, transferiu-se para a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP,
como professor-adjunto na Faculdade de Educação. No ano seguinte, 1974, ocupa o cargo de professor-
titular de Filosofia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), na UNICAMP. É nomeado professor-
titular na Faculdade de Educação da UNICAMP e, em 1979, professor livre-docente no IFCH daquela
universidade. Convidado pela "Nobel Fundation", profere conferência intitulada "The Quest for Peace". Na
Universidade Estadual de Campinas foi eleito representante dos professores titulares junto ao Conselho
Universitário, no período de 1980 a 1985, Diretor da Assessoria de Relações Internacionais de 1985 a 1988
e Diretor da Assessoria Especial para Assuntos de Ensino de 1983 a 1985. No início da década de 80 torna-
se psicanalista pela Sociedade Paulista de Psicanálise. Em 1988, foi professor-visitante na Universidade de
Birmingham, Inglaterra. Posteriormente, a convite da "Rockefeller Fundation" fez "residência" no "Bellagio
Study Center", Itália. O autor é membro da Academia Campinense de Letras, professor-emérito da Unicamp
e cidadão-honorário de Campinas, onde recebeu a medalha Carlos Gomes de contribuição à cultura.

A escola que sempre sonhei e nunca pensei que existisse


O autor inicia o texto comparando nossas escolas com uma linha de montagem, na qual os alunos
quando chegam são as peças originais e vão sendo modelados de acordo com os conhecimentos e
habilidades que são definidos por agências governamentais e absorvidos, ou não, através dos professores
pelos alunos dentro da sala de aula. Porém, ao chegar no estágio final, a criança se transforma num produto
final igual aos outros. Questionado por um amigo se seria possível mudar este processo o autor cita o
modelo medieval do mestre-artesão, já que o aprendiz tinha a liberdade de construir aquilo que quisesse,
sendo apenas orientado pelo seu mestre. Essa liberdade possibilita que o aprendiz trabalhe com alegria e
fique satisfeito com o resultado deste trabalho. Porém, este é um exemplo muito retrógrado, então o autor
cita uma escola que ele conheceu quando foi à Portugal: a “Escola da Ponte”, onde ele se encantou com a
disciplina, alegria e eficiência dos alunos.

A Escola da Ponte – 1
Rubem narra sua viagem para Portugal. Lá ele ficou em uma cidade chamada Vila Nova de
Famalicão, onde vivera Camilo Castelo Branco. A antiga casa de Castelo Branco foi transformada em
museu, onde existe o “Centro de Formação Camilo Castelo Branco”, dirigido pelo professor Ademar Santos.
Ao ler um livro de Rubem Alves, Ademar logo simpatizou com suas ideias, passou a se corresponder com
ele por e-mail e acabou convidando-o para passar uma semana no “Centro de Formação Camilo Castelo
Branco”. Ao chegar em Portugal o autor nos conta como foi a sua viagem, lá ele conheceu e conversou com
várias pessoas e foi muito bem recepcionado. Ele ainda nos conta que a viagem, além de prazerosa, lhe
trouxe muito aprendizado, incluindo a “Escola da Ponte”, dirigida por José Pacheco. Alves ficou
impressionado, pois a escola é diferente de qualquer outra que ele conhecia. Uma das alunas lhe contou
que lá não há classes separadas, e que os alunos formam grupos com interesses em comum e são
orientados por uma professora que estabelece um programa de trabalho de 15 dias. Após esse período eles
se reúnem novamente, avaliam o que foi aprendido e se tiver sido produtivo eles formam outro grupo.
As crianças se reúnem tranquilamente em uma sala muito grande onde realizam seus trabalhos,
sendo acompanhados pelas professoras quando necessário. Lá, eles aprendem a ler utilizando frases
pregadas nas paredes propostas pelas próprias crianças de acordo com o que estão vivendo.
Outra coisa que chamou a atenção do autor foi que as crianças dessa escola ajudam umas as
outras. O aprendizado é coletivo, é algo solidário. Na “Escola da Ponte”, além de aprender saberes, as
crianças aprendem valores e ética de maneira natural. Eles apresentam uma relação muito solidária uns
com os outros, onde aquele que sabe mais sobre um assunto ajuda aquele que tem dificuldade. Mesmo
aqueles que possuem algum tipo de síndrome ou deficiência trabalham e produzem como qualquer outro
aluno. Nessa escola todos respeitam e são respeitados.

A Escola da Ponte – 2
Continuando sua visita pela escola, a menina que estava guiando Rubem lhe apresenta o
computador do “Acho bom”, onde as crianças escrevem quando estão felizes, e o do “Acho mal” onde elas
escrevem quando estão aborrecidas com alguma coisa. Quando há algum problema disciplinar, as crianças
organizam uma espécie de tribunal, e aquele que desrespeitou alguma regra deve pensar por três dias
sobre os seus atos e depois dizer a qual conclusão ele chegou. Mais tarde naquele dia, o autor presenciou a
assembleia dos alunos e foi convidado a falar. Ele então decidiu falar sobre um carrinho feito de lata de
atum que havia ganhado em uma exposição de brinquedos na Bahia e, durante a discussão do processo de
criação do carrinho as crianças fizeram muitas perguntas, mas nenhuma interrompeu outra para falar, cada
uma falava na sua hora. No final do dia ele foi abordado com muito carinho pelas crianças, refletiu sobre
aquele lugar e concluiu que o que fazia diferente das outras escolas é a linguagem, pois as crianças da
“Escola da Ponte” aprendem a se comunicar naturalmente, através de suas experiências e não através de
regras gramaticais. É por isso que, diferente das crianças das escolas regulares que se sentem
desinteressadas, esses alunos se sentem motivados pois ele sabem que estão aprendendo, que são
respeitados quanto a seu tempo de aprendizagem e quanto sua condição de ser humano. Quando
aprendemos aquilo que queremos saber, que é interessante para nós, não sentimos preguiça, raiva ou falta
de motivação. As pessoas não são máquinas que devem ser programadas para produzir as mesmas coisas
dentro de um mesmo período de tempo, e é por isso que o ensino não deve ser algo automático. O
conhecimento não deve ser forçado, ele é absorvido aos poucos, no ritmo de cada um e de acordo com as
vivências de cada um.

A Escola da Ponte – 3
Para entender a “Escola da Ponte” é preciso abandonar tudo o que sabemos, é preciso abrir a
mente para tentar entender um sistema de ensino diferente do que conhecemos, entender que existem
outros meios para se aprender. O aprendizado não é e não pode ser considerado um “programa”, um
calendário de ações repetitivas e rotineiras que formam cidadãos robotizados, sem saber se expressar ou
questionar as coisas ao seu redor. Aprender deve ser algo prazeroso, deve acontecer dentro de um
processo de autoconhecimento, algo natural, assim como uma criança quando aprende a falar ou andar.
Devemos nos sentir alegres pelo resultado de nossas pesquisas e descobertas, e essas descobertas devem
acontecer de maneira espontânea e não porque somos obrigados.
Nosso mente se interessa por coisas que são necessárias a nós, aos nossos corpos. É por isso que
quando vemos alguém fazendo algo que possa nos ser útil, sentimos vontade de aprender aquilo também.
É por isso também que a maioria das crianças se sente incomodada, entediada e desinteressada dentro das
salas de aula de nossas escolas. Diariamente elas são obrigadas a aprender coisas que não lhes são
necessárias. Não faz sentido “aprender” algo inútil.
A inteligência humana é mais simples do que imaginamos, é essencialmente prática. Quando os
homens necessitam de algo eles simplesmente criam uma coisa para suprir essa necessidade, como a
roda, a lâmpada, o fósforo, etc.; assim, todos podem usufruir da nova “invenção” e o problema e
solucionado. Os mais jovens aprendem como construir as invenções dos mais velhos para que sua vida
também seja facilitada. Um indiozinho aprende com os outros da tribo a construir instrumentos que facilitem
sua vida como o arco e flecha, as canoas, e também aprende a pescar, caçar, etc. Todos esses saberes
fazem sentido para ele porque lhe são necessários. É por isso que a linguagem é essencial para a
integração das crianças, pois assim elas podem ser ouvidas, podem expressar suas necessidades e ouvir
de outras pessoas as possíveis soluções para elas.
Neste trecho, Rubem expressa sua vontade de uma escola sem os “programas”, que compreenda
como os saberes são gerados, que respeite as necessidades das crianças e as reconheçam como seres
humanos.

A Escola da Ponte – 4
O ato de aprender acontece em resposta a um desejo, e o aprendizado deve ser como um livro de
receitas, quando sentimos vontade de comer algo nós olhamos no livro e seguimos a receita para fazer
aquilo que queremos comer, simples assim. Se não estamos com vontade de comer certa coisa, por quê
aprender a receita? É isso que está acontecendo nas escolas, as crianças aprendem “receitas” que não
serão utilizadas e por isso, logo caem no esquecimento. É assim que funciona nossa memória: quando
vimos ao que não nos serve pra nada, logo esta coisa é esquecida.
Na “Escola da Ponte” a aprendizagem acontece de acordo com a vontade das crianças, sem um
programa rígido dizendo o que elas devem ou não aprender. As crianças aprendem física através da
história, química através da geografia e etc.; cada matéria inspira o aprendizado da outra.
Os alunos aprendem a resolver o problema no papel, mas não sabem para que ele serve na vida. E
o aprendido logo é esquecido. Um programa cumprido, dado pelo professor do princípio ao fim, é só
cumprido formalmente, mas não significa que foi aprendido. Os exames são feitos o quanto antes para que
as crianças não esqueçam aquilo que lhes foi enfiado goela abaixo até a data da prova, depois disso não
importa mais. Agora, quando uma criança aprende algo a partir da vida ela não esquece nunca mais.
A Escola da Ponte – 5
Nesta crônica o autor declara sua vontade de ensinar crianças que ainda não foram “moldadas” pelo
sistema de ensino regular. As crianças se encantam com pouco, são curiosas e fascinantes. Elas percebem
coisas que os adultos não reparam por não terem tempo ou por já estarem sufocados pelo mundo moderno.
Já os adolescentes não são tão encantadores assim pois já sofreram com a opressão do sistema escolar e
para eles aprender é chato, é um mal necessário para passarem nos vestibulares e seguirem com suas
vidas.
Pensamos que as coisas a serem aprendidas são aquelas que constam dos programas, mas, na
verdade, as coisas mais importantes são ensinadas inconscientemente. Rubem, acredita que os
educadores deveriam ler o Roland Barthes, que descreveu o ideal de aula com sendo a criação de um
espaço. E isso é o mais importante que a “Escola da Ponte” ensina. Já nas nossas escolas há uma
hierarquia de turmas separadas que competem entre si, chegando até mesmo à violência. Não há
solidariedade, e os saberes são ministrados em tempos definidos.
Na “Escola da Ponte” existe apenas um único espaço, partilhado por todos, sem separação por turmas, sem
campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o início da outra. Todos interagem uns com os outros,
independente da idade, todos se ajudam e não há competição. Há cooperação. Os saberes da vida não
seguem programas. São as crianças que estabelecem as regras de convivência. São as crianças que
estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer às regras. A vida social
depende de que cada um abra mão da sua vontade, naquilo em que ela se choca com a vontade coletiva. E
assim vão as crianças aprendendo as regras da convivência democrática, sem que elas constem de um
programa.

REFERÊNCIAS
 ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Papirus
Editora: Campinas, 2001 e Edições Asa: Porto, 2001.
 www.releituras.com/rubemalves_bio.asp

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