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Colégio Pedro II – Duque de Caxias

Disciplina: Sociologia
Professores: Fabio Braga do Desterro

Ideologia e Hegemonia
1. A Ideologia, na
perspectiva de Karl
Marx
Ideologia

“A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de


representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta)
que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem
pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem
valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e
como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo
(representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter
prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de
uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as
diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais
diferenças à divisão da sociedades em classes a partir das divisões na
esfera da produção” (CHAUÍ, 2008, p.113-114).
O que torna a ideologia possível?
A separação A
entre o trabalho dominação
material e o O fenômeno de uma
trabalho da alienação classe
intelectual sobre as
outras

Esta separação
aparecerá como No plano da experiência O que faz da
independência das vivida e imediata, ideologia uma
ideias com relação ao aquilo que é originado força difícil de ser
real e, posteriormente, da ação dos homens destruída é o fato
como privilégio destas aparece como algo de que a
sobre aquele. Em produzido por forças dominação real é
lugar dos dominantes, ignoradas, alheias e justamente aquilo
aparecem as ideias independentes: Deus, que ela tem por
“neutras” e Natureza, Razão, finalidade
“verdadeiras”. Destino etc. ocultar.
Nas palavras de Engels e Marx (2008, p.48):

“Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as


épocas, os pensamentos dominantes; em outras palavras, a classe que
é o poder material dominante numa determinada sociedade é também o
poder espiritual dominante. A classe que dispõe dos meios da produção
material dispõe também dos meios da produção intelectual, de tal modo
que o pensamento daqueles aos quais são negados os meios de
produção intelectual está submetido também à classe dominante. Os
pensamentos dominantes nada mais são do que a expressão ideal das
relações materiais dominantes; eles são essas relações materiais
dominantes consideradas sob forma de ideias, portanto a expressão das
relações que fazem de uma classe a classe dominante; em outras
palavras, são as ideias de sua dominação”.
Características do discurso ideológico...

Inversão
Abstração
O que seria a origem da realidade é
Concentração em aspectos da
posto como produto, e vice-versa. O que
aparência social
é efeito é tomado como causa.
Ex. Quando nos referimos à
Ex. segundo a ideologia burguesa, a
“sociedade una e harmônica”,
desigualdade social resulta de
deixamos de destacar os interesses
diferenças individuais, porque os
contraditórios.
indivíduos são desiguais por natureza, e
a desigualdade social é, portanto,
inevitável.
Para Marx, contudo, a divisão social do
trabalho e das relações de produção é,
de fato, a causa da desigualdade social.
Características do discurso ideológico...

Universalização
Naturalização Os valores da classe dominante são
Consiste em aceitar como naturais estendidos aos grupos e classes
situações que, na realidade, resultam dominados.
da ação humana, e que, como tais,
são históricas. Ex. O discurso segundo o qual os
trabalhadores devem “vestir a camisa
Ex. Dizer que a divisão da sociedade da empresa” coloca as formas de
entre ricos e pobres faz parte da protesto (greves, manifestações de rua)
natureza, ou que é natural que uns como desordem e baderna. É
mandem enquanto outros obedeçam. disseminado a tal ponto que acaba
sendo reproduzido pelos próprios
trabalhadores.
1. A Ideologia, na
perspectiva de
Antonio Gramsci
Ideologia e Hegemonia

A ideologia é um Gramsci faz uma distinção entre as


conjunto de ideias ideologias arbitrárias e as ideologias
que orientam os orgânicas. As primeiras são “inventadas” por
grupos e classes indivíduos ou pequenos grupos e, por isso,
sociais em suas têm pouca incidência sobre a ação humana.
ações. Nesse As segundas dão expressão às aspirações de
sentido, é uma grandes correntes históricas, de classes e
visão de mundo grupos com vocação para se tornarem
articulada com hegemônicos.
uma ética.

“Gramsci vê na Hegemonia, acima de tudo capacidade de direção intelectual


e moral, em virtude da qual a classe dominante, ou aspirante ao domínio,
consegue ser aceita como guia legítimo, constitui-se em classe dirigente e
obtém o consenso ou a passividade da maioria da população diante das
metas impostas à vida social e política de um país”. (BELLIGNI, 2010,
p.580)
Estado no sentido ampliado

Aparelhos
Aparelhos Ditadura + Hegemonia
privados de
repressivos
hegemonia

Sociedade Política
(Estado) Sociedade civil

Dominação Espaço de luta por


mediante coerção hegemonia

Sistema escolar, igrejas, sindicatos,


organizações profissionais, associações
Burocracias executivas, aparato empresariais, órgãos de organização
policial, forças armadas, etc. material da cultura (revistas, jornais,
meios de comunicação de massa),
partidos etc.
Sociedade civil e luta por hegemonia

A sociedade civil é formada pelo conjunto das organizações responsáveis pela


elaboração e difusão das ideologias.

No âmbito e através da sociedade civil, as classes sociais buscam exercer sua


hegemonia, isto é, buscam ganhar aliados para suas posições mediante a
direção política e o consenso. Por meio da sociedade política, ao contrário, as
classes sociais buscam exercer uma ditadura: uma dominação mediante
coerção.

Na visão de Gramsci, uma classe social se torna hegemônica quando


consegue:
1. Abandonar sua mentalidade corporativista e converter-se em classe
nacional, assumindo e fazendo suas todas as reivindicações das classes e
camadas aliadas.
2. Apresentar e defender sua visão de mundo no âmbito da sociedade civil, a
fim de articular dominação e direção intelectual e moral.
Intelectuais

Uma vez que a direção política é também e inevitavelmente direção


ideológica, os intelectuais jogam um papel importante na luta por
hegemonia.

Gramsci distingue dois principais tipos de intelectuais:

(A) Intelectual orgânico - Surge em estreita relação com a emergência de


uma classe social fundamental no modo de produção. Sua função é dar
homogeneidade e consciência a essa classe nos campos da economia, da
política e da cultura.

(B) Intelectual tradicional - foi orgânico de uma dada classe social em


outro modo de produção e hoje – com o desaparecimento daquela classe –
forma uma camada relativamente autônoma.
Nas palavras de Gramsci (1978, p.15):
“Que todos os membros de um partido político devam ser considerados como
intelectuais, eis uma afirmação que se pode prestar à ironia e à caricatura:
contudo, se pensarmos bem, veremos que nada é mais exato. Dever-se-á fazer
uma distinção de graus; um partido poderá ter uma maior ou menor composição
do grau mais alto ou mais baixo, mas não é isto que importa: importa, sim, a
função, que é diretiva e organizativa, isto é, educativa, intelectual. Um
comerciante não passa a fazer parte de um partido político para poder comerciar,
nem um industrial para produzir mais e com custos reduzidos, nem um
camponês para aprender novos métodos de cultivar a terra, ainda que alguns
aspectos destas exigências do comerciante, do industrial, do camponês possam
ser satisfeitos pelo partido político. Para estas finalidades, dentro de certos
limites, existe o sindicato profissional, no qual a atividade econômico-corporativa
do comerciante, do industrial, do camponês, encontra seu quadro mais adequado.
No partido político, os elementos de um grupo social econômico superam este
momento de seu desenvolvimento histórico e se tornam agentes de atividades
gerais, de caráter nacional e internacional. Esta função do partido político
apareceria com muito maior clareza mediante uma análise histórica concreta do
modo pelo qual se desenvolveram as categorias orgânicas e as categorias
tradicionais de intelectuais, tanto no terreno das várias histórias nacionais
quanto no do desenvolvimento de vários grupos sociais mais importantes no
quadro das diversas nações; notadamente daqueles grupos cuja atividade
econômica foi sobretudo instrumental.”
Referências Bibliográficas
ARANHA, Maria Lúcia A., MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1993.
BELLIGNI, Silvano. Hegemonia. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI,
Nicola; PASQUINO, Gianfranco (coord.). Dicionário de Política. 13.ed.
Brasília: EDUNB, 2010, p.579-581.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 2.ed. São Paulo: Brasiliense,
2008.
COUTINHO, Carlos N. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento
político. 4.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
ENGELS, Friedrich & MARX, Karl. A ideologia alemã. 2.ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2008.
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. 2.ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
KONDER, Leandro. A questão da ideologia. 1.ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.
VÁRIOS AUTORES. Sociologia em Movimento. 1.ed. São Paulo:
Moderna, 2013.

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