Você está na página 1de 191

B821

BrandTrends. - Vol. 09 (outubro 2015) - Lajeado, RS:/


Observatório de Marcas, 2015-.

Bi-anual
ISNN 2237-8529

1. Comunicação estratégica 2. Branding 3. Marca


4. Marketing I. Título


CDU - 659:658
3
BrandTrends Journal OUT/2015

ÍNDICE
EDITORIAL 4

O PODER E A AURA DAS MARCAS DE LUXO EM CLASSES POPULARES: O caso Louis


Vuitton - Autores: Vonia Engel e Giovana Goretti Feijó de Almeida 6

GESTÃO DE MARCAS DE MODA: Ações de Consultoria de Imagem no PDV (ponto de


venda) - Autores: Anna Beatriz Barros Carneiro e Leila Rabello de Oliveira 25

SINALIZAÇÃO E BRANDING: Uma relação intrínseca que gera valor


Autores: Giuliana Sanchez Cardoso Silva e Marcia Auriani 43

BRANDING E A REDE DE ORGANIZAÇÕES POR ARTICULAÇÃO CONCEITUAL


Autores: Geferson Barths e Rudimar Baldissera 70

O QUE É UMA MARCA? Ampliando o rigor teórico na definição do conceito


Autores: Carlos Eduardo Lourenço e Henrique de Campos Junior 87
HACIA UNA NUEVA TAXONOMÍA EN LA ELABORACIÓN DE LOS NOMBRES CORPORA-
TIVOS Y DEL LENGUAJE EN LA EMPRESA ACTUAL
Autores: Alberto Pinillos Laffón e Fernando Olivares Delgado 100
BRANDING E DESIGN: Estado da Arte em Periódicos Brasileiros de Design
Autores: Daniela Szabluk, Paulo Roberto Nicoletti Dziobczenski e Júlio Carlos De Souza
Van Der Linden 116

BETWEEN EUROPE AND ORIENT: City Branding Cases from Turkey


Autores: Ceren Bulut Yumrukaya e Diren Bulut 128

COMO ESTÃO PROTEGIDAS AS MARCAS MAIS VALIOSAS DO BRASIL? Uma Análise a


partir do Banco de Dados do INPI
Autores: Elaine Vianna, Elizabeth Pereira e Danièle Hervé 149
A MÍSTICA CRISTÃ E A POLÍTICA MUNDANA
Autores: Aryovaldo de Castro Azevedo Junior, Gabriel Alexandre Bozza e
Fernando Castro 170

NORMAS DE PUBLICAÇÃO DA REVISTA BRANDTRENDS


Autora: Carminda Silvestre 187
4
BrandTrends Journal OUT/2015

EDITORIAL
BrandTrends Journal

Nesta edição da BrandTrends comemoramos de venda)”, as pesquisadoras Anna Beatriz Barros


o sucesso de nosso II Congresso Internacional de Carneiro e Leila Rabello de Oliveira avaliam como
Marcas/Branding: Conexões & Experiências, que a aplicação dos conhecimentos relacionados à con-
foi realizado no período de 1 a 3 de outubro, em sultoria de imagem e estilo, nos pontos de venda de
Lajeado/RS – Brasil. O evento foi organizado pela marcas de moda, podem agregar valor à experiência
Univates em conjunto com Observatório de Marcas de compra do consumidor e à fidelização da marca.
e do Instituto Politécnico de Leiria – Portugal. As pesquisadoras Giuliana Sanchez Cardoso
Durante os três dias do evento, mais de 30 pro- Silva e Márcia Auriani trazem à discussão a práti-
fissionais, previamente selecionados, ministraram ca do Design Gráfico Ambiental por meio do artigo
03 palestras, 04 painéis e 07 workshops. Além dis- intitulado “Sinalização e Branding: Uma relação
so, o congresso foi composto de 11 Grupos de Pes- intrínseca que gera valor”. Para as autoras, a sina-
quisa, com 126 artigos inscritos, os quais propor- lização interfere no posicionamento e valores da
cionaram a discussão do estado da arte da teoria marca. E, entre as muitas estratégias de branding,
e da prática do brand(ing) entre os participantes, uma delas nos chama atenção não apenas pela sua
cerca de 280, provindos dos mais distintos luga- denominação, mas também pela sua complexidade.
res do Brasil como Rio Grande do Norte, Acre, São No artigo “Branding e a Rede de Organizações por
Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal, en- Articulação Conceitual”, os pesquisadores Geferson
tre outros, além de países como Espanha, Portugal, Barths e Rudimar Baldissera analisam e concluem
Chile, Turquia e Peru. que as “organizações, conceitualmente articuladas
Os Grupos de Pesquisa que trouxeram a con- em rede, têm seu discurso potencializado e legiti-
tribuição científica ao Congresso, foram: (1) prote- mado pela (re)afirmação discursiva realizada pelas
ção e avaliação da marca; (2) estratégias de cons- outras organizações da rede” (p. 71).
trução e consolidação da marca; (3) tendências de Partindo de uma pergunta fundamental: o que
branding; (4) ética e sustentabilidade; (5) marcas é uma marca?, os autores Carlos Eduardo Louren-
e negócios; (6) marcas e públicos; (7) marcas e cul- ço e Henrique de Campos Junior, amparados em
tura; (8) o discurso da marca e ideologia; (9) cone- Bacharach (1989), buscam responder a pergunta
xões da marca; (10) metodologias para a pesquisa no artigo “O que é uma Marca? Ampliando o rigor
e para a gestão da marca e (11) panorama das mar- teórico na definição do conceito”. Por sua vez, Al-
cas. Destes, selecionamos 10 artigos para compor berto Pinillos Laffón e Fernando Olivares Delgado
o nono volume de BrandTrends Journal, revista analisam as categorias tradicionalmente estabele-
científica digital do Observatório de Marcas. cidas para classificar os nomes de marca em seu ar-
O primeiro artigo “O poder e a aura das marcas tigo “Hacia una nueva taxonomía en la elaboración
de luxo em classes populares: o caso Louis Vuit- de los nombres corporativos y del lenguaje en la
ton”, Vonia Engel e Giovana Goretti Feijó de Al- empresa actual”. Os autores realizam uma revisão
meida apresentam seu estudo sobre as conexões crítica da literatura e propõem uma nova taxino-
da marca com os púbicos, abordando o conceito de mia que amplia as possibilidades de viabilidade de
fetichismo de mercadoria em marcas de luxo, pela registro das marcas. Outra contribuição relevante
perspectiva de sua apropriação pela classe C. para a área é o artigo “Branding e Design: estado da
O segundo artigo “Gestão de marcas de moda: arte em periódicos brasileiros de design”, no qual
ações de Consultoria de Imagem no PDV (ponto os autores Daniela Szabluk, Paulo Roberto Nico-
5
BrandTrends Journal OUT/2015

letti Dziobczenski e Júlio Carlos de Souza Van Der EQUIPE


Linden investigam como o branding é abordado e
discutido nos referidos periódicos, apresentando Presidente de Honra da Espanha:
uma visão sistêmica da pesquisa existente e a inter- D. Joan Costa
ligação das duas áreas.
As pesquisadoras Ceren Bulut Yumrukaya e Di- Presidente de Honra do Brasil:
ren Bulut, no artigo “Between Europe and Orient: Prof. Dr. José Marques de Melo
city branding cases from Turkey”, examinam algu-
Presidente de Honra do Chile:
mas marcas-cidade da Turquia no âmbito das ações
Prof. Manuel Segura
de comunicação de marca, verificam a coerência da
identidade da cidade e dos elementos relacionados Presidente de Honra de Portugal:
à comunicação mercadológica, e apresentam os Prof. Carlos Gouveia
conflitos entre as identidades visuais e o posiciona-
mento das cidades analisadas. Presidente do Observatório de Marcas:
“Como estão protegidas as marcas mais valio- Profa Dra Elizete de Azevedo Kreutz (UNIVATES/
sas do Brasil? Uma análise a partir do banco de da- Brasil)
dos do INPI”, o título deste artigo desenvolvido pe-
las pesquisadoras Elaine Vianna, Elizabeth Pereira Diretor Científico Internacional:
e Danièle Hervé aguça a curiosidade de leigos e pro- Prof. Dr. Antonio Hohlfeldt (PUCRS/Brasil)
fissionais da área. Será que o sistema de proteção
legal está sendo adequadamente utilizado em favor Editor Geral:
da marca como ativo? A pesquisa busca identificar a Prof. Dr. Jean Charles Zozzoli (UFAL/Brasil)
existência de uma relação entre a gestão estratégica
da marca e a proteção legal da mesma. E para com- Diretora Editorial Observatório de Marcas:
Profa Dra Carminda Silvestre (Instituto Politécnico
pletar o conjunto de artigos desta edição da Bran-
de Leiria, ESTG/ILTEC, Portugal)
dTrends Journal, em “A mística cristã e a política
mundana”, Aryovaldo de Castro Azevedo Junior,
Editores Regionais:
Gabriel Alexandre Bozza, Fernando Castro buscam Portugal:
identificar o posicionamento de marcas políticas, Profa Dra Carminda Silvestre (Instituto Politécnico
por meio de análise de uma campanha política, con- de Leiria, ESTG/ILTEC, Portugal)
siderando os fatores que interferem na construção e Espanha:
consolidação de marca. Prof. Dr. Fernando Olivares (Universidad Alicante/
Assim como as demais edições da BrandTrends, Espanha)
esta traz a contribuição de acadêmicos, pesquisado- América Latina:
res e profissionais, que trabalham em áreas cientí- Prof. Dndo. Francisco Más (Universidad Mayor/
ficas distintas, mas que se conectam pelas marcas Chile)
e pelo estudo sobre elas, contribuindo com novos Brasil:
saberes e novas práticas. Profa Dra Elizete Azevedo Kreutz (UNIVATES/Bra-
sil)
Uma boa leitura!
Coordenação Geral :
Profa Dra Elizete Azevedo Kreutz
Antonio Hohlfeldt,
Capa:
Carminda Silvestre,
Joana Heck
Elizete de Azevedo Kreutz Diagramação:
e Jean Jozzoli Tatielle Reis
Diagramação e webdesign:
Edgar Vieira de Azevedo
6
CONEXÕES DA MARCA
BrandTrends Journal OUT/2015

O poder e a aura das


marcas de luxo em
classes populares
O caso Louis Vuitton

Vonia ENGEL
Doutoranda do Programa em Desenvolvimento Regional e Mestre em Desenvolvimen-
to Regional da UNISC. Economista Pós-Graduada em Comunicação Empresarial pela
UNISC, email: vonia_engel@hotmail.com

Giovana Goretti Feijó de ALMEIDA


Doutoranda do Programa em Desenvolvimento Regional e Mestre em Desenvolvimen-
to Regional da UNISC. Publicitária Pós-Graduada em Branding pela UNISC, email:
agenciaggoretti@gmail.com .
7
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
Este artigo apresenta o tema das conexões das marcas, abordando o conceito de fetichismo de mercadoria em marcas
de luxo, estudando o caso da marca Louis Vuitton, pela perspectiva de sua apropriação pela classe C. A observação
do mercado de luxo leva à percepção de que há um crescimento significativo no Brasil deste nicho no que se refere
a sua aquisição e consumo (emoções e experiências) também pelas classes populares e não apenas pelas que detêm
um valor econômico elevado. O objetivo central deste artigo é, portanto, compreender a valoração que transcende a
mercadoria (as marcas de luxo), fazendo-a ganhar um poder oculto que a faz relacionar-se com as pessoas de menor
poder aquisitivo e lhes confere, simbolicamente, distinção social e imagem perante seu grupo social. A relevância des-
te estudo está na discussão do fascínio e da aura das marcas de luxo, através de sua linguagem publicitária permeada
por simbolismos e crenças, na qual o consumo age como uma demonstração simbólica de status em uma classe social
diferente de seu público-alvo. A metodologia utilizada ancorou-se na bibliografia sobre as teorias da marca e fetichis-
mo da mercadoria, na análise da publicidade da Louis Vuitton e na forma como é construído seu discurso publicitário
em uma classe mais elevada, despertando também no consumidor de uma classe C e o desejo de compra e de status,
transcendendo o produto em si, indo além de seu público-alvo. O que se percebeu foi que há um intenso grau de
persuasão da marca que ultrapassa seu público-alvo, as classe mais elitizadas, e que acabam promovendo também
uma categorização de consumo em classes mais populares, proporcionado pelas conexões da marca e a experiência
de interação entre as classes através da posse de uma marca de luxo.

Palavras-chave: branding conexões das marcas; consumo; simbolismo; marcas de luxo.

Abstract
This article presents the theme of the connections of the brands, addressing the concept of commodity fetishism in
luxury brands, studying the case of the brand Louis Vuitton, the perspective of its appropriation by class C. Observa-
tion of the luxury market leads to the perception that there is a significant growth in Brazil this niche regarding the
acquisition and consumption (emotions and experiences) also by the popular classes and not just by holding a high
economic value. The main objective of this article is, therefore, to understand the valuation that transcends the goods
(luxury brands), making it earn a hidden power that does relate to people of lower income and gives them, symbo-
lically, social distinction and image in their social group. The relevance of this study is the discussion of the allure
and aura of luxury brands, through its advertising language permeated with symbolism and beliefs, in which the
consumer acts as a symbolic demonstration status in a different social class of its target audience. The methodology
anchored in the literature on theories of brand and commodity fetishism, the analysis of advertising by Louis Vuitton
and how it built its advertising discourse in a higher class, also arousing the consumer of C class with the purchasing
and status desire, transcending the product itself, going beyond your target audience. What we realized was that there
is a strong degree of persuasion brand that exceeds its target audience, the more elitist class, and that also end up
promoting a categorization of consumption in popular classes, provided by the brand connections and the interaction
experience between classes through ownership of a luxury brand.

Keywords: connections branding of brands; consumption; symbolism; luxury brands.

Resumen
Este artículo presenta el tema de las conexiones de las marcas, abordando el concepto de fetichismo de la mercancía
enl as marcas de lujo, estudiando el caso de la marca Louis Vuitton, la perspectiva de sua propiación por parte de la
clase C. La observación del mercado de lujo conduce a la percepción de que hay un crecimiento significativo en Brasil
este nicho respecto a la adquisición y consumo (emociones y experiencias) también por las clases populares y no sólo
mediante la celebración de un alto valor económico. Por ello, el principal objetivo de este artículo es comprender
la valoración que trasciende los bienes (las marcas de lujo), haciendo a ganar un poder oculto que no se relacionan
conl as personas de menores ingresos y les da simbólicamente distinción social y de imagen en su grupo social. La
relevancia de este estudio esta en la discusión de la atracción y el aura de las marcas de lujo, a través de su lenguaje
publicitaria impregnada de simbolismo y creencias, en la que los actos de consumo como un estado de manifestaci-
ón simbólica en una clase social diferente de su público objetivo. La metodología anclado en la literatura sobre las
teorías de la marca y el fetichismo de la mercancía, el análisis de la publicidad de Louis Vuitton y cómo construyó su
discurso publicitario en una clase superior, también despertar el consumidor una clase C y el deseo de comprar y el
estado, que trasciende el producto en sí, más allá de su público objetivo. Lo que nos dimos cuenta es que hay un alto
grado de la marca de la persuasión de que es superior a su público objetivo, la clase más elitista, y también terminan
promoviendo una categorización del consumo en clases populares, proporcionada por las conexiones de la marca y la
experiencia de interacción entre las clases a través de la propiedad de una marca de lujo.

Palabras-clave: conexiones de marca: marcas; consumo; simbolismo; las marcas de lujo.


8
BrandTrends Journal OUT/2015

INTRODUÇÃO nar-se com as pessoas de outros poderes


Vive-se em uma sociedade onde o consumo aquisitivos e lhes confere, simbolicamente,
ganhou grande relevância. As pessoas não distinção social e imagem perante seu gru-
convivem apenas com outras pessoas, mas po social. A relevância deste estudo está na
também com as mercadorias que elas próprias discussão do fascínio e da aura das marcas
produzem e consomem. Cria-se uma relação de luxo, através de sua linguagem publici-
social com estas mercadorias produzidas, tária permeada por simbolismos e crenças,
dando-lhes vida através de seu consumo. Essa na qual o consumo age como uma demons-
relação com os produtos é abordada, nesse tração simbólica de status em u ma classe
estudo, a partir do conceito de fetichismo de social diferente de seu público-alvo.
mercadoria, de Karl Marx (1989), e de aura, Procurou-se trazer um melhor esclareci-
de Walter Benjamin (1994). Entender esse mento sobre o conceito de mercadorias en-
vínculo entre pessoas e coisas levanta diver- quanto valor de uso e de troca que criam o que
sos questionamentos sobre o mundo das mar- Marx (1989) chama de valor-mercadoria. Ao
cas, principalmente sobre as marcas de luxo abordar a essência destes conceitos, o autor
que trazem em sua essência uma espécie de percebe que há, no produto, mais do que o tra-
aura enigmática e mística ao serem adquiri- balho humano propriamente dito. Há também
das pelos indivíduos. Destaca-se que o objeto algo misterioso que conduz as pessoas a uma
empírico deste estudo é a marca de luxo Louis relação social que existe entre as mercadorias
Vuitton, vendida em escala global, porém com
produzidas pelo próprio homem. A esse con-
distribuição seleta, que além de promover o
vívio entre coisas e pessoas dá-se o nome de
consumo em uma classe elitizada, cria desejo
fetichismo de mercadoria. As marcas possuem
e fascínio nas classes populares1.
um poder de relacionar-se com os indivídu-
Busca-se levantar questionamentos so- os de tal forma a se personificarem, ganhan-
bre o culto a essas mercadorias enquanto do vida. Através da comunicação publicitária,
produtos mercadológicos permeados por esse poder transcendente da mercadoria, tor-
um poder que transcende seu valor de uso na-se mais forte e persuasivo. As marcas de
e de troca através de discursos persuasivos. luxo utilizam dessa aura simbólica e mística
O objetivo central deste artigo é, portanto, para se posicionarem na mente das pessoas
compreender a valoração que transcende a de forma impactante. Impõe valores e crenças
mercadoria (as marcas de luxo), fazendo-a que são criadas para um produto que, antes de
ganhar um poder oculto que a faz relacio- tudo, é uma mercadoria com atributos físicos
e racionais. E que, ao finalizar seu processo de
1 As classes populares aqui estão entendidas como
todas as classes sociais abaixo da classe A. produção, ganha um poder oculto que a faz re-
9
BrandTrends Journal OUT/2015

lacionar-se com as pessoas, gerando também 1. MERCADORIAS CULTUADAS E A


consumo. AURA DAS MARCAS
A metodologia utilizada neste estudo é de As marcas possuem um apelo persuasivo
natureza qualitativa, cunho exploratório e muito grande que gera seu consumo e desejo.
ancorou-se na bibliografia sobre a teoria das Segundo Jones (1999, p. 181), “todas as mar-
marcas e os conceitos de aura, de Walter Ben- cas são produtos, mas nem todos os produtos
jamin (1994) e o de fetichismo da mercadoria, são marcas”. Sob esta perspectiva as marcas
de Karl Marx (1989), no contexto da marcas se tornam mais do que um produto de consu-
de luxo. A análise parte da publicidade da mo, sendo-lhes atribuídos outras categorias.
Louis Vuitton e na forma como é construído Os produtos são mercadorias produzidas pelo
seu discurso publicitário em uma classe eli- homem para atender a um fim específico.
tizada, despertando também no consumidor Mercadoria é um objeto externo,
uma coisa, a qual pelas suas pro-
das classes populares o desejo de compra e de
priedades satisfaz necessidades hu-
status, transcendendo o produto em si e indo manas de qualquer espécie. [...] não
além de seu público-alvo. Também se utilizou se trata de como a coisa satisfaz a
necessidade humana, se imediata-
de uma pesquisa documental das peças gráfi-
mente, como meio de subsistência,
cas disponibilizadas no site da marca e da es- isto é, objeto de consumo, ou se indi-
trutura do próprio site da Louis Vuitton, assim retamente, como meio de produção

como vinte relatos de experiências de pessoas (MARX, 1989, p. 165).

das classes populares, por meio de roteiro se- A palavra “satisfaz” do conceito de mer-
miestruturado, aplicados pelas pesquisadoras cadoria sugere que a mercadoria enquanto
no início do segundo trimestre de 2015. objeto ou coisa atenderia necessidades obje-
Segundo Lakatos e Marconi (2007, p. 157), tivas (como fome ou sede, por exemplo) ou as
a pesquisa é um procedimento sistemático subjetivas (como status). A utilidade de uma
cujo objetivo é o conhecimento e a explicação coisa, portanto, faria dela um valor de uso,
de fenômenos, utilizando o conhecimento an- tanto em seu próprio uso como em seu con-
terior do pesquisador juntamente com os di- sumo. Seriam esses dois tipos de valores que
ferentes métodos e técnicas de pesquisa. Sen- constituiriam o conteúdo material da riqueza,
do assim, a análise do material coletado para independente de sua forma social.
este estudo foi feita à luz do branding, ou seja, Essa utilidade, a que Marx (1989, p. 166)
da gestão estratégica da marca, cruzando as refere-se é verificada pelas propriedades do
peças publicitárias e o site da marca com os corpo da mercadoria, não existindo sem ele. O
relatos de experiências adquiridos e as teorias corpo da mercadoria é, portanto, um valor de
abordadas. uso ou bem. Esse seu caráter não depende de
10
BrandTrends Journal OUT/2015

se a apropriação de suas propriedades úteis mulado), mas sem nenhuma consideração


custa ao homem muito ou pouco trabalho. O pela forma despendida (MARX, 1989).
exame dos valores de uso pressupõe sempre O que o une, portanto, são seus valores
sua determinação quantitativa, como dúzia de mercantis que independem de seu valor de
relógios, vara de linho, tonelada de ferro, etc. uso, mas que estão ali objetivados ou materia-
O outro conceito abordado por Marx lizados enquanto trabalho humano abstrato.
(1989, p. 166) é o de valor de troca que apa- Marx (1989) salienta que “uma coisa pode ser
rece intrínseco à mercadoria. Para facilitar a útil e produto do trabalho humano, sem neces-
compreensão deste termo, ele utiliza-se de sariamente ser uma mercadoria.” A produção
exemplos de trocas de produtos como: tri- de mercadoria tem relação com o valor de uso
go, ouro, seda, graxa e outros. O intuito dos social, ou seja, para os outros como valor de
exemplos é para demonstrar que o valor de uso por meio da troca, gerando um duplo cará-
troca só pode ser um modo de expressão, ter do trabalho representado nas mercadorias
a forma de manifestação de um conteúdo através de seu valor de uso e valor de troca.
dele distinguível. O que ocorre com a troca Quer dizer da mercadoria enquanto objeto de
de mercadorias é que tem que se reduzi-las uso e valor-mercadoria. O trabalho cuja utili-
a algo comum que as represente em algo. dade representa-se, assim, no valor de uso de
Esse algo em comum só faz sentido quando seu produto ou no fato de que seu produto é
é conferida alguma utilidade à mercadoria, um valor de uso chama-se trabalho útil. Sob
tornando-as valor de uso. Contudo, é justa- esse ponto de vista é considerado sempre em
mente a abstração de seus valores de uso que relação a seu efeito útil. Valores de uso não
ocorre a relação de troca das mercadorias. podem defrontar-se como mercadoria, caso
Se tirarmos o valor de uso das mercado- eles não contenham trabalhos úteis qualitati-
rias restar-lhes-á apenas serem, o que o au- vamente diferentes. Seria o que o autor chama
tor chama de “produtos de trabalho” e estes de objeto de uso. O trabalho é o criador de va-
também já sofreram algum tipo de transfor- lores de uso e do trabalho útil e, portanto, uma
mação. Passam de diferentes formas concre- condição da existência humana enquanto me-
tas de trabalhos, que não mais se diferenciam diadora entre homem e natureza. Marx (1989)
uma da outra, para reduzirem-se em sua to- ainda reflete acerca dos conceitos de valor-
talidade a um igual trabalho produzido pela mercadoria, forma de valor ou o valor de troca
habilidade humana, ou seja, a um trabalho e sobre o caráter fetichista da mercadoria.
humano abstrato. A este, sobra uma tênue O valor de troca de uma mercadoria tem
objetividade do trabalho humano indiferen- relação direta com seu aspecto social sendo
ciado. Sabe-se que houve dispêndio de força também um produto do trabalho abstrato,
de trabalho humano (trabalho humano acu- uma vez que o valor de troca é medido pela
11
BrandTrends Journal OUT/2015

capacidade de troca dessa mercadoria por ou- deixando de ser um produto estritamente hu-
tra mercadoria em determinadas proporções. mano, e ganhasse vida própria, sendo verda-
Este consiste no fato de que todas as merca- deiros objetos de adoração.
dorias têm alguma coisa em comum, nesse A mercadoria deixa de ter a sua utilidade
caso a força de trabalho. Esta seria expressa real enquanto produto e lhe é atribuído um
pela quantidade de tempo que um trabalha- valor simbólico, quase que divino. Onde o ser
dor gasta para produzir determinada merca- humano não compra um produto real, mas
doria. O valor de troca, portanto, é visto como uma transcendência, uma aura que determi-
uma relação quantitativa: a proporção na qual nado objeto possui intrinsecamente ligado a
valores de uso de uma espécie se trocam com ele simbolicamente. É, portanto, um envolvi-
os valores de uso de outra espécie. mento da pessoa com a mercadoria, vinculado
Também se percebe que há na mercado- a um desejo e satisfação a algo concreto. De
ria algo misterioso onde permeia uma relação forma sucinta, a mercadoria, quando finali-
social que existe não entre o trabalho do ser zada e pronta para o consumo, não mantém
humano e em seus produtos deste trabalho, mais o seu valor real de venda, ou seja, o valor
mas entre os produtos de seu trabalho. Não determinado pela quantidade de trabalho hu-
há nenhuma conexão entre as coisas enquanto mano materializado no produto.
mercadorias e suas propriedades físicas e com Segundo Marx (1989), essa nova relação
as relações materiais que surgem. É mais um entre pessoas e mercadorias seria o que ele de-
relação entre coisas do que uma relação social nominou de fetichismo da mercadoria. Uma
entre homens. Dessa relação surge o que Marx relação social entre pessoas mediada por coi-
(1989) chama de fetichismo da mercadoria. sas, porém intrínseco à produção das merca-
A palavra fetiche, etimologicamente, sig- dorias que passar a ter um valor irreal, como
nifica um “objeto que supostamente tem po- se não fossem fruto do trabalho humano e
deres mágicos”. Esse objeto mágico seria feito nem pudessem ser mensuradas. O resultado é
pelo homem ou produzido pela natureza, atri- a aparência de uma relação direta entre as coi-
buindo-lhe um poder sobrenatural e oculto. E sas e não entre as pessoas. As pessoas agiriam
foi esse poder oculto que Marx (1989) obser- como coisas e as coisas, como pessoas. Seria,
vou que as mercadorias possuíam enquanto portanto, um fenômeno social e psicológico
fenômenos da atribuição de valor simbólico onde as mercadorias aparentam ter uma von-
aos produtos. A mercadoria depois de aca- tade independente de seus produtores.
bado seu processo de produção adquiria um [...] A mercadoria ainda é matéria
valor de venda irreal se comparado ao seu va- que o produtor domina e transfor-
ma em objeto útil. Uma vez posta à
lor real de venda. Era como se a mercadoria
venda no processo de circulação, a
perdesse sua relação com o trabalho, ou seja, situação se inverte: o objeto domina
12
BrandTrends Journal OUT/2015

o produtor. O criador perde o con- cadoria/objeto/marca que fazem com que o


trole sobre sua criação e o destino
indivíduo a veja diferentemente dos demais,
dele passa a depender do movimen-
to das coisas, que assumem poderes ultrapassando seu valor comercial ou de uso,
enigmáticos. Enquanto as coisas são confrontando realidade, modernidade e os so-
animizadas e personificadas, o pro- nhos de consumo de caráter mais imediatista
dutor se coisifica. Os homens vivem,
do capitalismo.
então, num mundo de mercadorias,
um mundo de fetiches. Mas o feti- A mercadoria ou o objeto em si carregaria
chismo da mercadoria se prolonga
essa aura simbólica, concedendo-lhe algo es-
e amplifica no fetichismo do capital
pecial além de sua utilidade ou valor de uso.
(MARX, 1989, p. 34).
Concomitantemente, também há o fascínio
A teoria marxiana conduz à desmistifica- embutido nesta aura que o fetichismo da mer-
ção do fetichismo da mercadoria e do capital cadoria comporta, amplificando o fetichismo
ainda durante seu processo de produção. As do próprio capital. Contudo, não são todos os
mercadorias deixam de ser produtos e perso- objetos que adquirem esse fetichismo e aura
nificam-se. Nesse sentido, as estratégias utili- enigmática, citados por Marx (1989) e Benja-
zadas pelas marcas fortalecem essa aura enig- min (1994). Faz-se necessário ainda salientar
mática criando uma relação social entre coisas que há também a perda dessa aura das obras
e pessoas ou mercadorias e indivíduos. Benja- de arte quando surge a reprodução técnica de-
min (1994, p.127) ressalta que o termo aura, corrente da estandardização, proporcionada
referindo-se às obras de artes, simboliza uma pelas reproduções em série.
“[...] trama peculiar de espaço e tempo: apa-
Desta forma, ao reproduzir uma obra de
rência única de uma distância [...]”. O termo
arte ou mercadoria que tenha uma aura (nesse
remete ainda a excepcionalidade quando se
caso, em especial as marcas) instituída, se tem,
fala em aura, conferindo-lhe adjetivos enfáti-
não o mesmo objeto, mas uma representação
cos como: fabuloso, extraordinário, esplêndi-
simbólica repleta de elementos do original. Por
do, magnífico, entre outros. Agindo estes em
esse ângulo, se instaura um “[...] processo de
favor da construção da aura de um produto ou
legitimação dos bens simbólicos, assim como
mercadoria, ou no caso das marcas, principal- se estabelece um sistema de filtragem que de-
mente as de luxo, uma construção estratégica termina aqueles que devem ou não ascender
de sua própria identidade. na hierarquia cultural” (BOURDIEU, 1983, p.
Benjamin (1994) ainda se refere aos obje- 23). Isso implica, no raciocínio do autor, em
tos que possuem aura e que eles desenvolvem uma oposição entre arte burguesa e arte inte-
a competência de devolver o olhar do indiví- lectual no domínio artístico. O que leva a uma
duo, ou seja, é a temporalidade e a vivência, polarização não só no campo da arte, mas no
assim como os significados atribuídos a mer- das marcas também. Destarte, o simbolismo
13
BrandTrends Journal OUT/2015

criado em torno de um determinado objeto, ul- neidade o INPI (2015 online) passou a “con-
trapassa o status de mercadoria e a coloca em siderar não só os elementos constitutivos das
outro patamar permeado por crenças. marcas, mas também, o conjunto das impres-
sões delas decorrentes, que atue individuali-
zando, distinguindo ou certificando produtos
2. MARCAS, SIMBOLISMOS E CO-
e serviços.” Destarte, além de toda a parte vi-
NEXÕES: TRANSCENDENDO OS
sual e simbólica das marcas, são considerados
PRODUTOS
também outros elementos que atuam como
As marcas remontam o início do século XVI, vantagem competitiva, como por exemplo, o
quando as destilarias gravavam, a fogo, o nome caráter ambiental, o registro oficial da marca,
do produtor nos barris de madeira. O mesmo dentre outros fatores distintivos e competiti-
intuito também houve quando se “marcava” o vos.
gado. Sendo assim, a ideia de marca deriva de
Para ser considerada forte, uma marca
identificação do fabricante. Com o passar do
precisa agregar valor para que gere confiança
tempo, as marcas evoluíram em seu conceito, em quem a consome, sendo assim, é mais do
demonstrando que o mesmo depende da tem- que um desenho bem elaborado. “As marcas
poralidade e do contexto histórico no qual estão são resultados de processos econômicos e da
inseridas. Assim, se antes a preocupação era em gestão empresarial, pensados e articulados por
identificar um produtor, na contemporaneida- pessoas que estão nesses lugares de decisão
de o conceito de marca se torna mais complexo, e que escolhem suas estratégias visando seus
abarcando outros elementos para se diferenciar próprios interesses” (ALMEIDA, 2015). Con-
da concorrência. Sem as marcas, os produtos se sequentemente, são esses gestores que deter-
tornam similares uns com os outros, sem agre- minam quais os valores que serão agregados
gar valores simbólicos e vantagem competitiva a uma marca, assim como, as estratégias que
(AAKER, 1996; TAVARES, 2003). serão utilizadas para comunicá-la perante seu
Segundo o Instituto Nacional de Proprie- público-alvo. Ressaltando que a marca não é o
dade Industrial - INPI (2015 online), “marca é sujeito em si, mas o são seus articuladores.
todo sinal distintivo, visualmente perceptível, Marca é um nome diferenciado e/ou símbolo
(tal como um logotipo, marca registrada, ou
que identifica e distingue produtos e serviços
desenho de embalagem) destinado a identifi-
de outros análogos [...], bem como certifica a car os bens e serviços daqueles dos concorren-
conformidade dos mesmos com determinadas tes. Assim, uma marca sinaliza ao consumidor

normas ou especificações técnicas”. À vista a origem do produto e protege, tanto o consu-


midor quanto o fabricante, dos concorrentes
disso, é a marca que atribui o caráter de dife-
que oferecem produtos que pareçam idênti-
renciação aos produtos e também os assegura
cos. (AAKER, 1998, p. 7).
quanto ao seu uso. Todavia, na contempora-
14
BrandTrends Journal OUT/2015

Percebe-se assim a importância para estaria também em uma classe mais elevado
uma marca não só ter um nome e símbo- do que a sua.
lo diferenciados da concorrência, mas ter De acordo com os dados da Data Popular
argumentos que agreguem valor subjetivo (2011), a nova classe média ou classe C (antes
e se tornem vantagem competitiva no mer- constituída da população excluída do mapa de
cado de atuação. “As marcas são a princi- consumo) representa 54% da população bra-
pal defesa contra a competição de preços” sileira e sente um impulso grande pelo con-
(KOTLER, 2004, p. 65) e, portanto, são as sumo desde os produtos mais simples até os
marcas, não os produtos em si, que deter- de luxo. Algumas marcas de luxo estão repen-
minam seu valor econômico. Todo o arsenal sando seus produtos de modo a inserir esse
de valores simbólicos utilizados pelas mar- novo consumidor em suas vendas, criando
cas tem o intuito de capturar a preferência novas categorias de produtos que atendam
de consumo das pessoas (ALMEIDA, 2015). aos desejos deste público. Já outras marcas
Seria este conjunto de atributos repletos de de luxo querem continuar atendendo apenas
simbolismos que quando bem articulados o público da classe A. Independente da estra-
entre si, tendo um discurso cunhado com tégia utilizada pelas marcas de luxo, o acesso
argumentos significativos e relevantes que ao luxo, antes restrito somente à elite, já faz
definem o valor econômico de um produ- parte das classes populares brasileiras. Al-
to, seja ele da categoria que for. Para Pi- guns exemplos desses luxos são: viagens in-
nho (1996, p. 43) “a marca é a síntese dos ternacionais, perfumes e cosméticos, bebidas
elementos físicos, racionais, emocionais importadas, dentre outros.
e estéticos nela presentes e desenvolvidos Essa aspiração das classes populares em
através dos tempos”. Toda essa articulação relação aos produtos de consumo da classe
de elementos confirma a complexidade do A (marcas de luxo) traz a discussão do fascí-
fenômeno das marcas na sociedade. nio e aura das marcas de luxo permeadas por
Em vista disso, as marcas conseguem con- simbolismos e crenças no contexto das classes
ceber uma aura em torno do produto, elabo- populares. Nesse sentido, se questiona o que
rando o fetichismo da mercadoria que englo- é o luxo? Segundo Cobra (2012), o luxo é “um
ba uma valoração de argumentos e atributos bloco indissociável de qualidades que envol-
que transcendem a mercadoria em si, como vem perfeição, beleza, originalidade e, acima
as marcas de luxo. Essa valoração criada para de tudo, desejo.” O autor divide o luxo em
um público-alvo específico (classe A) acaba duas categorias: 1) luxo popular que é caracte-
ultrapassando a fronteira das classes sociais rizado por produtos em série (originais ou có-
e atingindo outras, como as populares, que fa- pias) e que permitem um acesso facilitado de
zem uma projeção de ao utilizar este produto aquisição. Seria o que Cobra (2012) chama de
15
BrandTrends Journal OUT/2015

“produtos democratizados, simplificados, com consumidor da nova classe média


aceita outro, mesmo cópia reconhe-
signos de reconhecimento mais fáceis de iden-
cidamente pirata, desde que guarde
tificar, como os acessórios.” E que para Benja- muita semelhança com o original.
mim (1994) seria a perda da aura das merca- Mas, na medida em que o consumi-
dorias por meio da padronização dos objetos. dor evolui economicamente, ele pas-
sa a exigir produtos originais, para
E uma segunda categoria a qual Cobra representar com isso a sua ascensão
(2012) chama de o luxo para a classe alta, que social. A ostentação de consumo é
escolhe produtos tradicionais mais seletivos, uma forma de legitimar-se no topo

raros e caros, tornando mais difícil ou até mes- da pirâmide social.

mo inacessível sua aquisição fora dessa classe. Esta é uma das formas a qual um pro-
Nesse sentido, tudo serve para criar essa dis- duto dirigido para a classe A atinge a classe
tinção entre classes: marcas, simbolismos e co- C, ou seja, como espelho de ascensão social,
nexões, contribuem para transcender os pro- através do desejo de pertencer a uma clas-
dutos, criando uma fetichismo com uma aura se mais elevada do que a sua. Outra forma
que agrega valores simbólicos e os refletem nos é a própria plataforma de comunicação das
valores econômicos das mercadorias. marcas que além de atingirem o público A,
Cobra (2012) salienta que as classes so- ultrapassa e atinge as demais classes. Para
ciais são espelhos uma das outras. “Quando a Bourdieu (1983, p. p. 13), “a comunicação
classe C ascender para a classe B, vai provocar se dá enquanto interação socialmente es-
alterações”. O mesmo irá ocorrer na ascensão truturada. O autor quer dizer que os agen-
da classe B para a A e também na ascensão tes da fala ocupam posições distintas entre
da D para a C. Outro ponto destacado por Co- emissor e receptor.
bra (2012) é o de que “quem está no topo da [...] os agentes da “fala” entram em
pirâmide social consome artigos caros para comunicação num campo onde as po-
se distinguir dos demais, pois a distinção é sições sociais já se encontram objeti-
vamente estruturadas. O ouvinte não
decorrente da conquista do capital econômi-
é o “tu” que escuta o “outro” como
co e social. Quando o produto invade outras elemento complementar da intera-
classes sociais, elas partem para outro artigo ção, mas se defronta com o “outro”
ou marca.” A busca é sempre pela distinção numa relação de poder que reproduz
a distribuição desigual de poderes
de possuir algo que simbolicamente coloque agenciados ao nível da sociedade glo-
o indivíduo em uma posição mais elevada. No bal (BOURDIEU, 1983, p 13).
caso da nova classe média, conforme mencio-
Quando Bourdieu (1983) fala em campo,
nado por Cobra (2012),
ele quer remeter ao espaço onde se apresen-
o consumidor age como um espelho
tam as relações de poder, através de uma es-
da classe alta. Na impossibilidade
de compra de um artigo original, o trutura de um capital social que determina a
16
BrandTrends Journal OUT/2015

posição social desses agentes envolvidos. A o tipo de produto oferecido em um estabeleci-


estrutura do campo se dá ainda em dois polos mento comercial. Já na Idade Média, as mar-
opostos: dominantes e dominados. O primeiro cas evoluíram e em vez de sinalizar ofertas,
seria aqueles que possuem um máximo de capi- identificavam quem havia produzido uma de-
tal social, já o segundo grupo se define pela au- terminada mercadoria. A American Marke-
sência ou escassez do capital social. A noção de ting Association (AMA, 2014) diz que a mar-
habitus, também de Bourdieu (1983, ), refere- ca se destina a “[...] identificar os produtos ou
se a um grupo ou a uma classe, mas também serviços de um fornecedor ou grupo de for-
ao elemento individual. necedores para diferenciá-los dos de outros
Isto posto, se percebe que quando se trata concorrentes”. A essencial ou básica função
da marca, portanto, é dizer a origem do pro-
de simbolismos e conexões criadas pelas mar-
duto. Em um primeiro momento, se observa
cas há uma gama imensa de possibilidades
que a marca tem a função de identificação da
que podem ser elaboradas estrategicamente.
procedência de um produto ou serviço. Consi-
Uma delas é o plano de comunicação propos-
derando que um consumidor satisfeito busca
to pelas marcas, através do branding, que cria
adquirir novamente esta oferta, tendo mais
conexões únicas entre marcas e consumido-
confiança em quem lhe vendeu a mercadoria.
res. Sendo estas necessárias para implemen-
Essa é a base da fidelidade de um consumidor
tar e acompanhar a gestão da marca no mundo
em relação a uma marca.
contemporâneo dos negócios. Para que se con-
ceba elementos e atributos que transcendam Não é surpresa que o mundo está repleto
o produto, evidenciando uma aura própria, de apelos ao consumo através de anúncios pu-
as conexões e experiências positivas são pri- blicitários e propagandas. E todos competem
mordiais para construir e consolidar marcas. pela atenção do consumidor. Em média, uma
É relevante utilizar as ferramentas que podem pessoa está sujeita a, aproximadamente 3.500
gerar valor às marcas, assim como, que pos- estímulos diários de diversos produtos. Se
sam ser aplicadas nos empreendimentos e nas uma marca conseguir ser identificada rapida-
relações interpessoais. Desta forma, a conexão mente terá vantagens em relação às demais,
estabelecida se torna mais forte e duradoura. dada a alta competitividade de seus merca-
dos (PINHO, 1996). Quanto mais elitizado um
mercado, maior seu grau de competição.
3. O CONSUMO SIMBÓLICO DAS Assim, cada vez mais, a comunicação pu-
MARCAS DE LUXO blicitária vem ganhando espaço. Com o au-
As marcas têm sua origem desde a Antiguida- mento da produção e a diversidade de pro-
de, quando comerciantes usavam sinais para dutos disponíveis no mercado, ela passa a
que a população identificasse mais facilmente integrar o contexto do mundo empresarial e
17
BrandTrends Journal OUT/2015

social. A mídia encurtou distâncias, atingiu bólico de mercadorias ocorre independente de


consumidores, culturas, classes, perfis; infor- seu valor de uso. Esse desejo de ascensão so-
mando e persuadindo. Conquistou espaços cial é mediada pela comunicação publicitária
simbólicos importantes pela sua construção que trabalha com o mundo e as classes sociais.
de mensagens de forte apelo emocional. Esse Importante ressaltar que a sociedade não con-
tipo de comunicação atua como mediadora some apenas o produto e sua utilidade, mas
entre as duas pontas do processo econômico: também seu valor de uso. E é sobre este que,
produção e consumo (MUNIZ, 2005). segundo Muniz (2005, p. 21), a publicidade se
Segundo Muniz (2005, p. 21), a comuni- dedica, considerando seus benefícios e atribu-
cação publicitária utiliza-se muito de discur- tos que o produto pode trazer (publicidade),
sos que veiculam uma mensagem de dupla assim como promove, ao mesmo tempo, “uma
sentido: informativa e imposição de valores categorização de consumo enquanto diferen-
(voltada ao consumo). Neste ponto faz-se ne- cial de status, criando segmentações de merca-
cessário a distinção entre os termos publici- do (propaganda)”.
dade e propaganda. O primeiro tem relação Diferenciar-se através de mercadorias
com as mensagens comerciais e o segundo, mostra a realidade da face da sociedade de
de caráter mais amplo, com a veiculação de consumo, tornando as pessoas idênticas na
valores ideológicos (política, religião, institui- perspectiva de um grupo ou convívio social.
ções e também ao comércio). Diferenciam-se Nesse contexto, surgem as marcas como ban-
essas relações para efetivar o delineamento deiras desse poder subjetivo dos produtos e das
dos campos de ação e das estratégias adota- empresas. A criatividade, através da comuni-
das em uma campanha publicitária. De acor- cação publicitária é que irá construir marcas
do com Malanga (1979), a publicidade é de- diferenciadas e fortes que irão satisfazer os
finida como “arte de despertar no público o desejos dos consumidores, considerando sua
desejo de compra, levando-o à ação”, ou seja, classe social e poder aquisitivo e segmentan-
se a publicidade não levar à ação prevista, seu do as pessoas em grupos de mercadorias com
principal objetivo, não terá sido atingido. valores simbólicos diferentes. Nesse estudo,
O valor simbólico do ato de consumir um considerando as marcas de luxo com alto sim-
produto insere o indivíduo em classes sociais bolismo agregado a uma marca que é cultuada
diferentes. Dessa forma, o consumo ocorreria por seus consumidores e também aos não-con-
em três momentos: 1) no consumo do produ- sumidores que acabam, por meio das ações es-
to, 2) na sua utilidade (valor de uso) e, 3) no tratégicas utilizadas, reconhecendo seu poder,
seu valor simbólico (BARTHES, 1985; BAU- embora não possam adquirir a marca devido
DRILHARD, 1995). Essa inserção enquanto ao seu alto valor financeiro.
diferencial de status através do consumo sim- As marcas trabalham com associações per-
18
BrandTrends Journal OUT/2015

cebidas pelos consumidores. Esse conjunto de alguns objetos e atividades”. Várias são as ca-
associações é, denominado por Pinho (1996, racterísticas para as mercadorias de luxo (este
p. 43), de imagem de marca. E atua em duas estudo não pretende ater-se a cada uma delas
dimensões. A primeira trabalha com o caráter em profundidade), contudo cinco se destacam
simbólico, emocional e intangível da marca. na literatura: distinção social, preço elevado,
Já o segundo tem relação com o seu lado ra- raridade, história e apelo emocional.
cional, funcional e tangível. Ainda na visão de A primeira faz referência direta a classe
Pinho (1996, p. 43) essas associações são tão social onde as classes dominantes diferen-
fortes que “uma marca passa a significar não ciam-se das outras utilizando produtos que
apenas um produto ou serviço, mas incorpora não estão ao alcance de todos. É uma forma
um conjunto de valores e atributos tangíveis de demonstração de um poder simbólico. A
e intangíveis.” Enquanto Pinho (1996) fala em segunda característica tem relação direta com
associações, Aaker (2007, p. 73) aborda a mar- o processo pelo qual a mercadoria é produzi-
ca a partir de sua identidade, ou seja, conside- da e os materiais nela utilizados. Aqui tam-
rando um “conjunto exclusivo de associações bém percebe-se o caráter de pertencente a
com a marca que o estrategista de marcas am- uma classe dominante, pois se um produto é
biciona criar ou manter.” Na identidade, como caro ele não está acessível a todos. E se não
define Aaker (2007), está a visão da marca, ou está acessível ele é raro (que é quarta carac-
seja, aquilo que ela quer ser. terística mencionada). E seguindo a lógica da
A história mostra que o conceito “luxo” oferta e da procura, se ele não está disponível
muda conforme o tempo e a sociedade que o facilmente tem seu preço elevado.
define. D’Angelo (2006) cita, como exemplo, A história de uma marca diz respeito tam-
o açúcar que no século XVI era considerado bém à sua valorização e tradição. Aqui a relação
um produto de luxo e que atualmente é um não é necessariamente com o passado, mas tam-
produto produzido e vendido em larga esca- bém com a aura que envolve o produto a partir
la. Visto dessa forma, percebemos que o con- de sua própria história. E finalmente, a última
ceito de luxo traz o uso da mercadoria como característica que é o apelo emocional, ou seja,
ponto-chave. No olhar de Castaréde (2005) ao sentimento que uma mercadoria proporciona
“[...] o que conta é o uso que se faz dos objetos nas pessoas que o possuem. No caso do produ-
e não os objetos em si”. Os produtos não são to de luxo, este proporcionaria prazer, desejo de
eternamente pertencentes a categoria luxo e uma pessoa possuir algo que outra não o possa
com isso pode-se dizer que nenhum produto adquirir. O prazer, contudo, não está no produto
é intrinsecamente luxuoso. O luxo, conforme em si, mas no imaginário dos indivíduos (D’AN-
afirma D’Angelo (2006, p. 31), “[...] é uma in- GELO, 2006). E é neste sentido, que as marcas,
venção humana que reveste de significados principalmente as de luxo, atuam no mercado.
19
BrandTrends Journal OUT/2015

4. A MARCA LOUIS VUITTON: STA- ber fazer” e paixão. Dessa forma, se percebe
TUS, PODER E CONSUMO que os produtos são vendidos exclusivamente
nestes locais, determinando uma distribuição
A marca Louis Vuitton produz e comercializa
focada e seletiva. Essa concentração de pro-
bolsas e malas de viagem, assim como pro-
dutos em poucas lojas faz com que o produto
duz e vende vestuário, sapatos, relógios, joias,
se torne raro, difícil de ser encontrado; atin-
acessórios, óculos de sol e livros. O fundador
gindo um dos critérios que determinam, se-
da marca, Louis Vuitton, criou sua oficina em
gundo D’ Angelo (2006), se uma marca é ou
1854, em Paris, onde produzia artesanalmente
não de luxo. Agregada a ela, pode-se dizer que
malas e bolsas. Em 1885 foi aberta a segunda
o preço elevado também encontra-se nessa
loja em Londres, sucedida por lojas em Nova
estratégica de concentração de produtos em
York, Bombai, Washington, Londres, Alexan-
poucas lojas. O que faz com que o produto se
dria e Buenos Aires.
torne mais caro e mais raro, reforçando, as-
Seu trabalho foi reconhecido na Europa sim os aspectos de qualidade, raridade e preço
quando reinventou o formato das malas de elevado. O intuito da marca leva ao conceito
viagem e criou um padrão de desenho dife- de “especialização na arte da viagem”, pois
rente comparado ao que havia na época. En- seu foco maior está nos produtos de bolsas e
tretanto, seus produtos começaram a ser imi- malas com qualidade.
tados na Europa e para impedir falsificações As outras três características de produtos
Vuitton utilizou-se de diferentes desenhos em de luxo citada por D’Angelo (2006) podem
seus produtos que identificassem sua autoria. ser evidenciadas na qualidade do material e
Somente em 1896, criou a marca com suas na padronagem do monograma da marca. É
iniciais “L” e “V”. Juntamente com o mono- um processo artesanal, diferenciando o pro-
grama criado, haviam símbolos de flores por duto dos demais em seu segmento. O fato de
todo material produzido. Até os dias de hoje ser uma arte “feita à mão” lhe confere uma
os produtos Louis Vuitton seguem o mesmo distinção grande enquanto forma de produ-
padrão, criando a identidade visual da marca ção. E obviamente lhe garante também uma
(LOUIS VUITTON, 2014). distinção social, reforçando inclusive sua his-
Atualmente, são 432 lojas em 63 países. tória que começou dessa forma artesã.
No Brasil, existem seis lojas - quatro em São O apelo emocional da marca se dá em duas
Paulo, uma no Rio de Janeiro e outra em Bra- ocasiões: a) na criação e desenvolvimento de
sília. Sua missão é fazer da viagem uma expe- atividades culturais e/ou esportivas, em ações
riência pessoal e única. Desde o início, a marca de relações públicas, que visam valorizar as
trabalha com argumentos como originalida- qualidades de elegância da marca e, b) na
de, espírito “avant-garde”, qualidade, “sa- publicidade ao veicular anúncios impressos,
20
BrandTrends Journal OUT/2015

com poucas inserções (reforçando também os De uma forma geral, o discurso publicitá-
argumentos citados anteriormente) em revis- rio utilizado pela marca apresenta um mesmo
tas elitizadas. Sendo a temática dos anúncios padrão visual, fixando, assim sua identidade.
sempre institucional, valorizando, assim, o Com uma linguagem limpa visualmente sem
produto e o próprio conceito da marca, culti- muitos elementos, os anúncios passam a ideia
vando uma notoriedade global à marca e seus de elite, glamour e sofisticação. Em sua maio-
valores mais do que ao produto. ria são compostos por fundo branco, com uma
Marx (1989) lembra que o fetichismo da imagem apenas que ocupa maior parte do es-
mercadoria é uma forma de relação social entre paço publicitário. Utilizam uma única fonte,
pessoas mediada por coisas. Onde uma pessoa ficando a assinatura em sua forma descritiva
compra mais do que um objeto apenas. Ele com- (ou seja, apenas escrita sem o símbolo visual).
pra uma aura, algo que transcende a mercadoria, Aaker (2007) diz é uma boa estratégia criar
corroborando com o pensamento de Benjamim uma identidade para a marca a partir de um
(1994). Nesse caso, a marca Louis Vuitton aca- conjunto de associações estratégicas. Neste
ba fazendo exatamente isso. O produto em si é sentido, a Louis Vuitton utiliza todo seu sim-
uma bolsa de viagem de alta qualidade enquan- bolismo em seus anúncios de forma a se dife-
to mercadoria. Contudo, as pessoas compram renciar da concorrência, fazendo com que sua
mais do que o produto, compram o status que marca e seus produtos sejam reconhecidos
a marca pode lhes dar, confirmando também as globalmente e também desejados pelas de-
teorias de Bourdieu (1983) e as de Cobra (2012). mais classes sociais.

Pinho (1996) e Aaker (2007) falam da im- A aplicação da pesquisa4 descrita neste
portância de se trabalhar com o lado simbó- estudo parte de um roteiro semiestruturado,
lico da marca através de suas características aplicado a vinte mulheres de diferentes clas-
intangíveis (neste estudo, a marca trabalha ses sociais, no município de Santa Cruz do
com status, elegância, glamour, luxo...) e das Sul-RS, Brasil. Das vinte entrevistadas, oito
tangíveis (qualidade, conforto, etc). Muniz usam os produtos da marca Louis Vuitton,
(2005) diz ainda que o valor simbólico do ato mesmo considerando a marca com um preço
de consumir insere o indivíduo em classes mais elevado do que suas condições econômi-
sociais distintas. Ao consumir uma (marca) cas. As demais entrevistadas utilizam outras
Louis Vuitton as pessoas tem a percepção de marcas de produtos de luxo e outras ainda
estarem em uma classe social mais elevado não souberam dizer o que seria um produto
do que a sua. É como se o produto adquirido de luxo. Assim sendo, se confirma que os pro-
tivesse poderes mágicos de transportar a pes- dutos que se classificam como luxuosos, bus-
soa de uma classe social a outro apenas pelo cam conquistar uma minoria da população,
seu consumo. gerando o fetiche de exclusividade.
21
BrandTrends Journal OUT/2015

Destas que usam a citada marca de luxo, gurança, sabe que está utilizando um produto
sinalizaram que o principal motivo pelo qual de qualidade e que vai atender as suas neces-
as mesmas optaram por comprar essa marca sidades. Para a respondente nº 7 e a respon-
especifica foi o fascínio ou a sensação de po- dente nº 8 disseram que se sentem “normais”
der que essa marcar exerce. Para elas ter esse ao utilizar essa marca e que não enxergaram
objeto de desejo dá uma sensação de poder de transformações pela sua utilização.
status, colocando-as, simbolicamente, acima Uma outra questão abordada foi sobre
de sua atual classe social. Certifica-se, assim, a o que elas pensavam sobre as propagandas/
noção de campo e habitus, aos quais Bourdieu publicidade feitas pelas marcas de luxo. Duas
faz menção em seus estudos. delas disseram que são fúteis. As demais, ou
Também foi questionado às entrevistadas seja, as seis restantes apontaram que as pro-
como elas se sentiam ao usar essa marca de pagandas são bem produzidas e que são fan-
luxo. A respondente nº 1 disse que se sentia tásticas, atrativas e incentivam o consumo e
com maior nível de status. Já a de nº 3, relatou ainda induzem ao status e ao fascínio que a
que, às vezes, sentia vergonha por usar uma marca traz. Chama a atenção que em relação
marca tão cara e por deixar uma marca ter in- a influência das propagandas sobre as com-
fluência na sua decisão de compra. Também pras, para 50% das entrevistadas, as propa-
ela se justificou afirmando que, muitas vezes, gandas não são tão relevantes. E afirmaram
comprava muito mais por esse poder exerci- que quando querem um produto elas o bus-
do pela marca nela do que pela utilidade do cam, indiferente das propagandas vinculadas
produto em si. A respondente nº 4 disse que a uma marca, mas ressaltaram que são in-
se sentia maravilhada ao usar essa marca, que fluenciadas pelas amigas que possuem o pro-
desde criança sempre sonhou em um dia po- duto desejado no seu grupo social.
der estar usando uma carteira ou uma bolsa O estudo leva aos resultados de que as co-
da Louis Vuitton. nexões criadas pelas marcas, neste caso a mar-
A respondente nº 5 disse que frente as ca Louis Vuitton, estabelece relações que se
suas amigas, ela era considerada como uma personificam. Concomitantemente, cria uma
figura de destaque dentro do círculo de ami- distinção social na mesma classe, ultrapas-
zade em função do uso da marca. Questionada sando-a, ou seja, chegando sua mensagem a
sobre como se sentia com esse fascínio fren- outras classes sociais que também criam um
te as amigas, voltou a reafirmar que se sente desejo pela marca. As experiências firmadas na
maravilhada, que gosta desse efeito (sensação, promessa de valor da Louis Vuitton transcende
aura) que a utilização da marca lhe causa. Já a ideia de produto de boa qualidade e cria uma
a respondente nº 6 disse que para ela a utili- aura, fomentando também o desejo nas clas-
zação dessa marca passa uma sensação de se- ses populares. Em vista disso, se percebe que a
22
BrandTrends Journal OUT/2015

população, de um modo geral, consegue com- to, essa apropriação de identidade, por meio
prar produtos (mesmo que parcelados) que de um produto, objeto, deixando as mesmas
antes eram ou estavam disponíveis somente próximas da classe A, como se esta fosse um
para uma parcela menor da população com espelho de projeção.
maior poder aquisitivo, embora ainda haja
produtos que são acessíveis somente para um
CONSIDERAÇÕES FINAIS
pequeno público devido ao alto valor econô-
O presente artigo teve como objetivo principal
mico dos produtos.
apresentar os conceitos de teorias das marcas,
Em se tratando de classes populares no
aura, de Walter Benjamin e fetichismo de mer-
contexto do mercado de luxo se observa que
cadoria, de Karl Marx, a partir das marcas de
a partir da estabilização da economia, algu-
luxo, estudando, portanto, a marca Louis Vuit-
mas classes sociais conseguem se programar
ton. A discussão abordou o que leva as classes
financeiramente para adquirir produtos que
populares a adquirirem e consumirem marcas
consideram luxuosos. Nesse sentido, princi- de luxo e que fascínio é esse que as marcas de
palmente, para a população com menor po- luxo criam nas classes populares, em especial a
der aquisitivo do que a classe A oportunizou marca Louis Vuitton. Descreveram-se como as
a compra de produtos que antes eram exclusi- demais classes sociais consomem a marca LV e
vos apenas para classes sociais elitizadas. En- a forma que esta confere lhes status social.
tretanto, se observou também que considerar
O universo das marcas é muito vasto e
um produto como sendo da categoria luxo é
trabalha, ao mesmo tempo, com as caracte-
relativo conforme cada classe social e histori-
rísticas tangíveis e as intangíveis do produto.
cidade do próprio produto.
Entretanto, o culto às marcas, a forma como
A abordagem deste estudo se centrou na as pessoas se relacionam com as coisas crian-
questão do encantamento do fetichismo da do uma relação mística, uma aura, um algo
mercadoria e de sua aura, que concede sen- mais que transcende o produto; personificam
sação de poder às pessoas que adquirem ao extremo algumas marcas, nesse caso, as
produtos de marcas de luxo. As mercadorias de luxo como a Louis Vuitton. Não se compra
acabam criando relações entre os indivíduos, apenas uma bolsa de couro, enquanto produ-
devido à própria distância entre as pessoas. to de qualidade pela sua utilidade; compra-se
Comprar produtos de luxo ou não luxo preen- status, elegância, sofisticação e paga-se mui-
chem a sensação de vazio que o ser humano to mais do que um produto similar enquanto
tem dentro de si na contemporaneidade. As- mercadoria de alta qualidade. É uma relação
sim as pessoas de classes populares também que ultrapassa o produto enquanto mercado-
fazem a apropriação das marcas no sentido ria produzida pela força de trabalho, personi-
de se colocar no mundo através de um produ- ficando-o, é como se ele ganhasse vida pró-
23
BrandTrends Journal OUT/2015

pria, uma aura mística que o coloca em uma chamando esse fenômeno de fetichismo da
posição diferente de uma mercadoria. mercadoria e Benjamin (1994) chamando a
A mercadoria, como diz Muniz (2005), ga- atenção para o conceito de aura. O que se vê
nha um forte valor simbólico e faz com que a é que as marcas conseguem criar uma aura
pessoa se sinta inserida em classe social mais mágica em torno de seus produtos, algo que
alta que a sua através do consumo de uma transcende o produto em si. É uma relação
marca, como foi o caso da classe C aqui ex- muito forte entre pessoas e coisas e não mais
posto. Percebe-se, assim, a realidade da socie- entre pessoas e pessoas. Esse panorama leva
dade de consumo em que os indivíduos con- ao questionamento do quão forte é o apelo
vivem entre si e também com as mercadorias persuasivo ao consumo dessas mercadorias
que produzem e consomem. O consumo seria, cultuadas. Não é surpresa dizer que se convi-
portanto, uma forma simbólica de demons- ve em uma sociedade de consumo, mas o que
trar poder, utilizando produtos que não estão consumimos e para qual finalidade? Por que
ao alcance de todos. As marcas, embora ainda se consome de forma tão excessiva? Que po-
tenham a função de identificar, também ga- der é esse que as marcas e produtos exercem
nharam uma aura mágica que as fazem serem nas pessoas? Questões relevantes a serem dis-
cultuadas pelas pessoas, ultrapassando a sua cutidas com maior aprofundamento em estu-
essência mercadológica chegando ao ponto dos futuros que certamente auxiliarão em um
de elevar um indivíduo a uma categoria social consumo mais consciente.
acima da sua, simbolicamente. O que se percebeu foi que há um intenso
A mídia, conforme salientou Muniz grau de persuasão da marca em seus materiais
(2005), teve uma contribuição muito forte, divulgados pela mídia que acabam promoven-
visto que encurtou distâncias, atingiu consu- do também uma categorização de consumo,
midores, culturas e classes sociais. E assim, ao segmentando o mercado de luxo, e indo além
mesmo tempo que informa também tem um de suas fronteiras, proporcionando conexões
forte apelo emocional e persuasivo, conquis- da marca e a experiência da interação entre
tando importantes espaços simbólicos e posi- as distintas classes sociais. O estudo trouxe
cionamentos. O discurso utilizado pela mar- um maior entendimento quanto ao valor sim-
cas tem esse grau de persuasão muito intenso bólico dados às marcas de luxo que tem um
em seus materiais publicitários, despertando poder que gera um fascínio tão grande que ul-
o desejo de compra e também promovendo trapassa a fronteira de seu público-alvo, a eli-
uma categorização de consumo segmentando te, e atinge outras classes sociais, fazendo-as
o mercado em termos de status e de fascínio. “sentirem-se elitizadas” dentro de sua própria
Marx (1989) já havia observado essa classe, lhe conferindo um status diferenciado
atribuição de valor simbólico das produtos, nessa categoria.
24
BrandTrends Journal OUT/2015

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Institucional. 2011. Disponível em < http://www.


AAKER, David. Construindo marcas fortes. São datapopular.com.br/>. Acesso em: jul. 2015.
Paulo: Negócios, 2007.
D’ANGELO, André Cauduro. Precisar, não preci-
ALMEIDA, Giovana Goretti Feijó de. A identida- sa: um olhar sobre o consumo de luxo no Brasil.
de territorial gaúcha no branding das marcas São Paulo: Lazuli, 2006.
regionais: caso da marca da cerveja Polar. 2015.
INPI. Site institucional do Instituto Nacional de
179 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimen-
Propriedade Intelectual, 2013. Disponível em:
to Regional). Universidade de Santa Cruz do Sul -
< http://www.inpi.gov.br>. Acesso em: 05 abr.
UNISC, Santa Cruz do Sul. Disponível em <http://
2015. 
btd.unisc.br/Dissertacoes/GiovanaGorettideAl-
meida.pdf>. Acesso em: abr. 2015. JONES, John Philip. A publicidade na construção
de grandes marcas. São Paulo: Nobel, 1999. 
AMA. American Marketing Association. Chica-
go,2008. Disponível em: <http://www.marke- KOTLER, Philip. O Marketing sem segredos. São
tingpower.com/_layouts/Dictionary.aspx?dLet- Paulo: Artmed, 2004. 
ter =M>. Acesso em: 10 ago. 2015. 
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Funda-
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. mentos de metodologia científica. São Paulo:
Rio de Janeiro: Elfos, 1995. Atlas, 2007.

BARTHES, Roland. A aventura semiológica. Lis- LOUIS VUITTON. Louis Vuitton Official Website:
boa: Editora 70, 1985. Luxury leather goods and fashion. Website. Dis-
ponível em: <www.louisvuitton.com>. Acesso em
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua
dez. 2014.
reprodutibilidade. In: _____. Magia e técnica,
arte e política: ensaios sobre literatura e história MALANGA, Eugênio. Publicidade: uma introdu-
da cultura. Obras escolhidas, volume I, 2ª edição, ção. São Paulo: Edima, 1987. 
São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia polí-
BOURDIEU, Pierre. Sociologia. São Paulo: Ática, tica. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
1983.
MUNIZ, Eloá. Comunicação publicitária em tem-
CASTARÈDE, Jean. O Luxo: Os segredos dos pro- pos de globalização. Canoas: Ed. ULBRA, 2005.
dutos mais desejados do mundo. São Paulo: Bar-
PINHO, José Benedito. O poder das marcas. São
carolla, 2005.
Paulo: Summus, 1996.
COBRA, Marcos. Como vender para a classe C.
TAVARES, Fred.  Rio de Janeiro: E-papers, 2003.  
In: Harvard Business Review Brasil. Ed. agosto
2012. Disponível em <http://www.hbrbr.com.br/
materia/como-vender-para-classe-c>. Acesso em:
jul. 2015.

DATA POPULAR. Instituto Data Popular. Site


25
MARCAS E PÚBLICOS BrandTrends Journal OUT/2015

Gestão de
marcas de
moda
Ações de Consultoria
de Imagem no PDV
(ponto de venda)

Anna Beatriz Barros CARNEIRO


Pós-Graduada em Consultoria de Imagem e Estilo pelo
Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e em
Gestão Empresarial pela Universidade Gama Filho (RJ).
E-mail: anna.barros_stylist@hotmail.com.

Leila Rabello de OLIVEIRA


Doutoranda em Ciências Sociais (PUC-SP); Mestre em
Ciência da Informação (PUC-Campinas). Professora nos
Cursos de Graduação e Pós-Graduação do Centro Uni-
versitário Belas Artes de São Paulo; nos Cursos MBA e
Master da BSP–Business School São Paulo;e na Trevisan
Escola de Negócios. E-mail leilarabello@uol.com.br
26
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
O processo de decisão de consumo está cada vez mais autoral por parte dos clientes. Essa característica é ainda mais
acentuada no consumo de moda, tendo em vista que a imagem do indivíduo ‘discursa’ sobre o mesmo, ou seja, conta
quem ele é, o momento e o local em que está inserido. Por esses motivos, além da oferta adequada de produtos, cabe
a empresa fortalecer o vínculo do cliente com a marca e o ponto de venda (PDV). O PDV é o espaço fundamental de
contato com o cliente, onde se explora suas sensações e emoções, aumentando sua identificação e vínculo com a mar-
ca. Objetiva-se com esta pesquisa descritiva avaliar como a aplicação dos conhecimentos relacionados à consultoria
de imagem e estilo nos pontos de venda de marcas de moda podem agregar valor à experiência de compra do consu-
midor e à fidelização da marca. A estratégia adotada para o levantamento dos dados foi a pesquisa de métodos mistos,
onde a qualitativa foi aplicada aos principais gestores de marca de moda em PDVs. Aplicou-se também uma pesquisa
quantitativa nos pontos de venda, aos colaboradores e clientes, objetivando captar a percepção em relação ao PDV,
ao produto e a imagem da marca. Foram questionados aspectos importantes, tais como: core business; significado
da marca, valor, posicionamento, essência, entre outros. Conclui-se com este estudo a importância da consultoria de
imagem e estilo, dos treinamentos e dos eventos aplicados nos pontos de venda.

Palavras-chave: marca; moda; ponto de venda; marca; consultoria de imagem e estilo; fidelização.

Abstract
The consumer decision process is increasingly authorial by customers. This feature is even more pronounced in the
fashion consumption, given that the image of the individual ‘speaks’ about the same, in the other words, he expresses
who he is, as well as the time and place he is living in. By those reasons, beyond adequate supply of products, it is the
company’s responsibility to strengthen the customer relationship with the brand and point of sale (POS). The POS
is the fundamental space of contact with the customer, where his feelings and emotions are explored, increasing his
identification and bond with the brand. Our objective with this descriptive study is to assess how the application of
knowledge related to image consulting and styling in points of sales of fashion brands can add value to consumer
shopping experience and brand loyalty. The strategy adopted for the survey data was the research of mixed methods,
where the qualitative was applied to the main fashion brand managers in POS. It was also applied a quantitative
research in POS, employees and customers, aiming to capture the perception of POS, product and brand image. Im-
portant aspects were asked, such as: core business, brand meaning, value, positioning, essence, among others. The
conclusion of this study is the importance of image and style consulting, trainings and events applied at the point of
sale, coherently with the identity, position and purpose of the brand.

Keywords: brand; fashion; point of sale; consulting image and style; loyalty.

Resumen
El proceso de decisión por el consumo está cada vez más autoral de parte de los clientes. Esta característica es aún
más resaltada en el consumo de la moda, teniendo en cuenta que la imagen del individuo ‘discursa’ sobre uno mismo,
es decir cuenta quién es, el momento y el sitio en dónde se ubica. Por estos motivos, más allá de la oferta adecuada
de productos, es tarea de la empresa fortalecer el lazo del cliente con la marca y el punto de venta (PDV). El PDV es
el espacio fundamental de contacto con el cliente, en dónde se exploran sus sensaciones y emociones, aumentando su
identificación y su vínculo con la marca. El objetivo de esta investigación descriptiva es evaluar cómo la aplicación de
los conocimientos relacionados a la consultoría de imagen y estilo en los puntos de venta de marcas de la industria
de la moda puede agregar valor a la experiencia de compra del consumidor y la lealtad hacia la marca. La estrategia
adoptada para el levantamiento de datos fue la investigación con métodos mixtos, en la cual la cualitativa fue aplicada
a los principales administradores de marcas de la moda en los PDVs. También fue hecha una investigación cualitativa
en los PDVs con colaboradores y clientes, con el objetivo de recoger la percepción con relación al PDV, a los productos
y a la imagen de la marca. Aspectos importantes fueron cuestionados, como: core business, el significado de la marca,
el valor, la ubicación, la esencia, entre otros. Con este estudio se concluye lo importante que es la consultoría de ima-
gen y estilo, de los entrenamientos y de los eventos aplicados en los puntos de venta, con coherencia con la identidad,
ubicación y propósito de la marca.

Palabras-clave: marca; punto de venta; consultoría de imagen y estilo; lealtad.


27
BrandTrends Journal OUT/2015

INTRODUÇÃO do universo da moda e do seu público.


O conhecimento de um consultor de imagem Objetiva-se com a aplicação das ações su-
deve contemplar uma formação multidisci- geridas nesse trabalho criar o conceito de expe-
plinar que englobe cultura, moda, semióti- riência do cliente com a marca e seus valores,
ca, antropologia do consumo, conceitos de de modo que o mesmo estabeleça vínculo com
marketing e gestão empresarial, além das ha- a marca e não apenas com os seus produtos.
bilidades diretamente relacionadas à aparên- Partindo do pressuposto que os tradicionais
cia e ao comportamento dos indivíduos, tais aspectos que compõem o merchandising estão
como: silhueta, formato de rosto, coloração sendo atendidos é de fundamental importân-
pessoal, etiqueta social e corporativa. Por- cia que os vendedores e demais funcionários
tanto, o trabalho de consultoria de imagem é que interagem com os clientes, na loja, tenham
uma ferramenta de aprimoramento que pode imagem, conhecimento e habilidades que per-
ser aplicada às pessoas e organizações para mitam melhor atendimento, com uma postura
fortalecimento da imagem e da marca, tanto convergente com os valores que a marca tem e
pessoal como corporativa. O presente traba- quer ser percebida e sentida pelos clientes.
lho tem por objetivo analisar a importância do
fortalecimento da marca inserido no contexto 1. CONSULTORIA DE IMAGEM IN-
do mercado de moda, bem como, adicionar SERIDA NO MERCHANDISING DE
as pessoas que interagem com os clientes no MARCA DE MODA
ponto de venda, como elementos ao estudo e Frings (2012, p. 4) opina que até a revolução
aprimoramento do merchandising para o su- industrial as pessoas pertenciam a uma das
cesso da marca. duas classes sociais predominantes: os nobres
A hipótese assumida nesse artigo é a de ricos e os proprietários de terras ou os traba-
que, a aplicação dos conceitos de consultoria lhadores e agricultores pobres. No topo da pi-
de imagem na aparência, no comportamento râmide social estava a realeza que definia as
dos vendedores, na realização de treinamen- tendências de moda, e os nobres eram os que
tos relacionados à moda e sobre o posicio- podiam adotar as tendências ditadas pela rea-
namento da marca, somados a realização de leza, se dando ao luxo de usar roupas de moda.
eventos de consultoria aos clientes nos pon- As pessoas pobres usavam roupas que os ricos
tos de venda, serão fatores fundamentais para descartavam ou faziam suas próprias vestes.
fortalecimento, fidelização e sucesso da mar- A partir do aumento do número de pes-
ca de moda. Neste sentido, será possível es- soas estabelecidas nas cidades, as primeiras
tabelecer um contato diferenciado, atraente lojas foram criadas para atender ao desejo
e personalizado com o cliente, sendo possível de se ter disponível uma maior quantidade
reforçar o discurso da marca, inserido dentro e variedade de produtos. As lojas varejistas
28
BrandTrends Journal OUT/2015

aumentavam na cidade perto dos centros de tros produtos desenvolvidos para satisfazer
produção e da população. as mesmas necessidades. Essas diferenças
Os desejos por roupas da moda foram es- podem ser funcionais, racionais ou tangíveis,
timulados não só por uma maior disponibili- isto é, relacionadas com o desempenho do
dade dos produtos, mas também pelo apareci- produto. Podem, também, ser mais simbóli-
mento dos novos meios de comunicação, como
serviço de correio, revistas, jornais, telefone, cas, emocionais ou intangíveis, quer dizer, re-
automóvel e, mais tarde, por viagens de avião, lacionadas com aquilo que a marca representa
rádio, cinema, televisão, computador e, final- ou significa em termos abstratos.
mente, pela internet que diminuiu as barrei-
Para tanto são utilizados atributos de pro-
ras e aproximou culturas e povos distantes e
diferentes. Lipovetsky (apud Svendsen, 2010, dutos, nomes, embalagens, estratégias de dis-
p. 13) afirma o seguinte: tribuição e propaganda. O objetivo é alterar
Moda é uma forma específica de a percepção de um mercado de commodities
mudança social, independente de para um de produtos com marca, reduzindo a
qualquer objeto particular; antes de
importância do preço sobre a decisão de com-
tudo, é um mecanismo social carac-
terizado por um intervalo de tempo pra. Considerando o mundo atual, onde a socie-
particularmente breve e por mudan- dade encontra-se baseada em conhecimento, e
ças mais ou menos ditadas pelo ca-
orientada por experiências, é exigido da marca
pricho, que lhe permitem afetar esfe-
uma distinção que não se limita ao concreto.
ras muito diversas da vida coletiva.
Neste contexto, o branding é responsável
A moda, na atualidade, com sua multi-
pelo sucesso da marca. Conforme Kotler e
plicidade de criações e de opções de compra,
Keller (2012, p. 259), branding significa do-
possibilita que as pessoas, a partir de suas
tar bens e serviços com o poder de uma mar-
escolhas, escrevam suas auto narrativas e se-
ca; gerar valor à empresa; (...) As marcas que
jam protagonistas de suas próprias vidas. Por
inspiram confiança geram clientes fiéis, o que
meio da escolha de moda o indivíduo se torna
proporciona à empresa segurança e previsibi-
de fato único, conta ao mundo quem é ele, seu
lidade de demandas. Gobé (2002, p. 18-19)
estilo de vida, valores e aspirações.
cita um aspecto importante de uma grande
Marca marca no mercado competitivo:
Aaker (1998, p. 7) esclarece que uma marca Nesse mercado hiper competitivo,
onde os produtos e os serviços por
sinaliza ao consumidor a origem do produto e si só não possuem o suficiente para
protege, tanto o consumidor como o fabrican- atrair um novo mercado ou mesmo
te, dos concorrentes que ofereçam produtos manter os mercados existentes ou
os clientes, acredito que é o aspecto
que pareçam idênticos. Uma marca é, portan-
emocional dos produtos e seus sis-
to, um bem ou serviço que agrega dimensões temas de distribuição que serão a
que, de alguma forma, os diferenciam de ou- diferença chave entre a escolha final
29
BrandTrends Journal OUT/2015

do consumidor e o preço que deve- da moda, apesar de ser o cliente, seu estilo
rá pagar. Por emocional, quero dizer
de vida, sua personalidade e características, o
como uma marca se comunica com
os consumidores no nível dos senti- ponto principal.
dos e das emoções; como uma mar- Um estilo não se torna moda até ser
ca se aviva para as pessoas, forjando aceito pelo consumidor e continua
uma conexão profunda e duradoura. moda enquanto tiver aceitação. O
elemento da aceitabilidade social é a
Consultoria de imagem essência da moda, o que não signifi-
ca que um estilo tenha de ser aceito
A Association of Image Consultants Interna- por todos ou mesmo pela maioria
tional (AICI) define o consultor de imagem das pessoas para ser considerado
como o profissional especializado em aparên- moda (COBRA, 2010, p.10)

cia, comportamento e comunicação verbal e No trabalho de consultoria de imagem,


não verbal, que assessora seus clientes nesses busca-se entender o cliente, seu momento de
aspectos. vida, seus anseios e objetivos: quem ele é, o
A imagem enquanto uma comunicação que quer, suas forças, qualidades, dificulda-
não verbal, discursa a respeito de quem so- des e necessidades. Além disso, é feita uma
análise detalhada a respeito das suas caracte-
mos para quem nos observa. No entanto, nem
rísticas físicas e comportamentais. De acordo
sempre o indivíduo tem consciência que a
com seus valores, sua personalidade, caracte-
partir da sua imagem o outro fará inferências
rísticas físicas, estilo e momento de vida, o in-
a respeito de quem ele é, seus valores, classe
divíduo pode refletir a respeito de sua imagem
social, profissão e até mesmo estado civil.
e com apoio do consultor de imagem, elaborar
A imagem pessoal transmitida de forma uma imagem que seja coerente com quem ele
verbal ou não verbal, utilizando-se de roupas, é, mas que também possa transmitir ao mun-
acessórios, cores, maquiagem, comportamen- do essa mensagem conectada aos seus objeti-
to e etiqueta devem apoiar o cliente para que vos pessoais e profissionais.
o mesmo atinja o posicionamento de vida,
Considerando que assim como um indiví-
pessoal e profissional, desejado, respeitando
duo, uma marca possui identidade organiza-
sua individualidade. Cobra (2010, p. 11) opina
cional construída por meio dos seus valores,
que “o conceito de estilo de vida é baseado no
história, cultura e pessoas, que transmite aos
cruzamento das características individuais e
diversos stakeholders com os quais interage
de comportamento dos indivíduos com a rea-
uma imagem, seja por meio do seu logotipo,
lidade de vida de cada um”. estilo, cor, personalidade e demais signos,
É importante ao consultor de imagem também as organizações, assim como os in-
estar sempre atento às tendências de moda, divíduos, devem preocupar-se com o que dis-
pois seu trabalho está inserido no universo cursam ao mundo.
30
BrandTrends Journal OUT/2015

Quando se trata de uma marca de moda, ranking de exportadores. O varejo de moda


a imagem torna-se ainda mais fundamen- cresceu nos últimos anos, em média 27% en-
tal. Fernie, Burt e Moore (apud Grose, 2013, tre 2007 e 2012. O menor crescimento, de 9%,
p.148) apontam que “a moda gira em torno da foi o de lojas independentes, que precisam
autoimagem e da utilização das marcas como concorrer com grandes redes que podem tra-
símbolos que dizem algo sobre o quão bem- balhar com preços mais agressivos, conforme
sucedido você é ou quer ser. Toda marca de dados da Associação Brasileira de Indústria
sucesso se baseia na imagem. ” Têxtil e de Confecção – ABIT, 2012.
O consultor de imagem deve ter conheci- Segundo Blessa (2001, p. 18), “merchan-
mentos diversos, tais como: tipos de silhueta dising é o conjunto de atividades de marke-
corporal, formatos de rosto, estilos pessoais, ting e comunicação destinadas a identificar,
conhecimento das cores e seus significados controlar, ambientar e promover marcas, pro-
culturais bem como seus impactos no compor- dutos e serviços nos pontos de venda”. Por-
tamento dos indivíduos, coloração pessoal, vi- tanto, dá-se o nome de merchandising a qual-
sagismo, conhecimento dos tecidos, códigos de quer ação ou soma de ações desenvolvidas no
vestir pessoal e profissional, perfumaria, his- ponto de venda que proporcione uma melhor
tória da moda, antropologia do consumo, téc- informação e visibilidade do que será oferta-
nicas de consultoria como coaching, etiqueta do aos consumidores, objetivando influenciar
social pessoal e profissional, consumo, marke- a decisão de compra do mesmo, acelerando o
ting, marca, cultura, moda e suas tendências. volume das vendas e rotatividade dos produ-
tos ou serviços ofertados.
Dentro desse arcabouço de conhecimento,
sendo um profissional especializado na ima- Toda ação de merchandising no ponto de
gem, o consultor de imagem pode assessorar venda além de estar de acordo com o produ-
tanto pessoas como marcas, a fim de que pos- to ou serviço ofertados, deve, principalmente,
sam refletir sobre a imagem desejada, coeren- estar alinhada ao discurso global, tanto da
marca quanto da organização para manter
te com seus valores, identidade, personalida-
a unidade da comunicação. Bailey e Baker
de, metas e objetivos.
(2014, p. 10) descreve que a atividade de vi-
Mercado e Merchandising sual merchandising tem como propósito criar
O Brasil ocupa a quarta posição entre os maio- uma identificação clara da marca, mantendo
res produtores mundiais de artigos de vestuá- seus valores, atrair o cliente. Ou seja, a ativi-
rio e a quinta posição entre os maiores produ- dade de visual merchandising trata de vender
tores de manufaturas têxteis. No entanto, sua o produto e a marca ao cliente utilizando-se
participação no comércio mundial é pequena, de diversos recursos, tais como: produção da
menos de 0,5%, ocupando a 23ª posição no vitrine, definição do layout da loja e da dispo-
31
BrandTrends Journal OUT/2015

sição e colocação dos produtos na loja. Tudo nários devem refletir a identidade pretendida
para criar uma atmosfera que encante e emo- da marca e mostrar-se importantes para os
cione o cliente, estabelecendo uma conexão consumidores.
com o público e que o induza a comprar os Assim é imprescindível que a imagem e o
produtos da marca, proporcionando uma ex- comportamento dos funcionários estejam em
periência positiva para garantir o seu retorno. harmonia com a identidade da marca, para
Blessa (2001, p.44) aponta cinco princípios fortalecimento dessa imagem e dessa marca.
básicos para agradar o consumidor:
1. Como o consumidor vê o ponto de
2. MÉTODO
venda (decoração / visibilidade);
O presente estudo teve por base uma marca
2. Como se sente nele (conforto / faci- de moda feminina que possui três pontos de
lidade); venda localizados em áreas nobres da cidade
3. Como é atendido (simpatia e dispo- de São Paulo. A marca comercializa roupas,
sição dos funcionários); acessórios como bijuterias, sapatos, cintos e
4. Como espera encontrar os produtos bolsas. Para o levantamento dos dados foram
(localização / qualidade e preços); adotados os procedimentos a seguir:

5. Qual a impressão que vai levar, a. Aplicação de entrevista com os princi-


comprando ou não. pais gestores da marca, com duração mé-
dia de duas horas por gestor.
É interessante quando os varejistas dispo-
nibilizam serviços adicionais nos PDVs com o b. Aplicação de pesquisa quantitativa,
objetivo de tornar agradável a permanência do objeto do estudo com as vendedoras, que
cliente na loja. Isso poderá mantê-los por mais atuam nos três pontos de venda.
tempo na loja e servir de incentivo para aumen- c. Aplicação de pesquisa quantitativa às
tar seu consumo. Esses serviços adicionais au- clientes da marca que frequentaram um
mentam as interações sociais e o vínculo emo- dos três pontos de venda no período de
cional do cliente com a marca, o que o ajuda a 23/4/2015 a 10/5/2015.
construir um processo de fidelização com a mar- Nas entrevistas com os gestores foram
ca, além de aumentar a compra por impulso. questionados elementos que norteiam a orga-
No varejo, os vendedores são as pessoas nização (missão, visão, valores) e que consti-
que discursam diretamente a respeito da mar- tuem a base de sustentação da identidade or-
ca aos clientes; na hora da compra, na hora da ganizacional, contribuindo para distinção do
decisão, são esses funcionários os principais seu posicionamento e formação da imagem
interlocutores das marcas junto ao consumi- corporativa, sendo fator fundamental para o
dor. Gobé (2002, p.224) afirma que os funcio- sucesso e fortalecimento da marca.
32
BrandTrends Journal OUT/2015

Ao comparar a missão declarada no site da como relevante o posicionamento da mesma


empresa: “Planejar, criar e desenvolver produ- como uma marca de luxo. Uma vez definido
tos femininos exclusivos com design diferen- como item estratégico deveria ser de conhe-
ciado, de alta qualidade, com reconhecimento cimento dos gestores e funcionários da em-
no segmento de varejo de luxo, como excelente presa, considerando que o posicionamento
opção de moda feminina”. Nenhum dos gesto- pretendido pela marca deve permear todas as
res entrevistados especificaram que o segmen- estratégias da organização.
to é o varejo de luxo, ou seja, 57% citaram a Ries e Trout (apud Grose, 2013, p.140)
alta qualidade dos produtos e 43 % citaram o ressaltam que “o posicionamento se inicia
segmento com, simplesmente, varejo. com o produto. Uma parte do merchandising,
Considerando que a visão corresponde ao um serviço, uma empresa, uma instituição ou
que a organização almeja no futuro, explican- mesmo uma pessoa, o posicionamento não é
do o que a empresa quer ser e o que preten- o que você faz com um produto, mas o que faz
de realizar, verifica-se que 86% dos gestores à mente de um interessado: você posiciona
responderam de forma coerente à visão de- o produto na mente do interessado”. Em re-
clarada no site da empresa: “Estar entre as lação a imagem da marca, obteve-se como o
resultado, a partir das respostas dos gestores:
principais marcas do mercado e presente nos
71 % afirmam que é feminina e romântica, já
melhores pontos de venda”.
em relação ao público 100% responderam que
Apesar de alta aderência dos gestores em
é a imagem não remete ao público mulher na
relação à visão da empresa, identificou-se
fase adulta, sendo que este é o público alvo da
nessas entrevistas que conceitos fundamen- marca estudada.
tais para transmissão da identidade organiza-
Outro item pesquisado e desconhecido
cional aos diversos setores da empresa, ponto
pelos gestores é quem são seus concorrentes
fundamental para construção de uma imagem
diretos, sendo essa uma informação relevan-
sólida, coerente e positiva a ser percebida e
te para definição de estratégia da marca. Nas
sentida pelos clientes e mercado, não tiveram
entrevistas verificou-se que dos concorrentes
o mesmo grau de percepção por parte dos ges-
citados pelos gestores, apenas 36% se enqua-
tores, tendo em vista que 57% deles citou ape-
drariam no conceito de marcas nacionais de
nas um dos valores declarados pela empresa:
luxo, segmento-alvo da marca.
“Satisfação do cliente, atendimento persona-
Quando incentivados a apresentar suges-
lizado, ética, eficiência, fidelização, conforto,
tões de melhorias na organização, 57% dos
qualidade e credibilidade”.
gestores apontaram necessidade de treina-
Além disso, no que diz respeito ao posicio- mentos para a equipe de vendas e melhoria
namento da marca, os gestores não citaram na imagem das vendedoras. Atualmente não
33
BrandTrends Journal OUT/2015

há uniforme nem estabelecimento formal do d. Indicação de palavras que conectam as


dress code profissional. As vendedoras pos- clientes à marca.
suem indicação de usarem peças de roupas Um aspecto relevante apontado pelas ven-
e sapatos neutros que não destoem do visual dedoras é que não há planejamento unificado
feminino da loja. São concedidos descontos para os três PDVs da marca, em relação ao vi-
para que as vendedoras adquiram peças da sual das vitrines e exposição dos produtos. A
loja, exceto sapatos e acessórios, para os quais gerente de cada loja altera a vitrines de forma
não há nenhum desconto. No entanto, na ava- independente das demais, dentro da periodi-
liação desses gestores, o desconto é pequeno,
cidade que cada uma delas julgar necessária.
tendo em vista o ticket médio elevado dos pro-
Quanto a aplicação de pesquisa às clien-
dutos da marca. Além disso, as peças a serem
tes da marca que frequentaram um dos três
escolhidas pelas vendedoras precisam passar
pontos de venda no período de 23/4/2015 a
por uma aprovação prévia. Não está garantida
10/5/2015; na participação na pesquisa foi re-
a compra de peças da preferência das mesmas.
forçado às clientes, pelas próprias vendedoras
Na aplicação de pesquisa quantitativa com
que as atenderam, o interesse da loja em co-
as vendedoras que atuam nos três pontos de
nhecê-las para melhor atendê-las. A pesqui-
venda, todas do sexo feminino, o questioná-
sa era respondida e entregue pela cliente. Na
rio foi entregue às vendedoras pelas gerentes
pesquisa aplicada às clientes, além da infor-
de cada loja e respondidos individualmente,
mação da loja onde consumiu, da faixa etária,
no período de 23/4/2015 a 5/5/2015. Além de
orientou-se às mesmas que fizessem quais-
conter nome, idade e informação da loja onde
quer sugestões desejadas, quanto:
atuam, foi orientado às mesmas que dessem
suas sugestões, caso quisessem, nos itens a a. Indicação de palavras que descrevam a
seguir: sua personalidade.

a. Indicação de palavras que descrevam a b. Avaliação dos produtos: qualidade do


personalidade da cliente. tecido; qualidade do produto; corte e cai-
mento; exclusividade; relação custo e be-
b. Avaliação dos produtos: qualidade do
nefício, com o seguinte critério de pontu-
tecido; qualidade do produto; corte e cai-
mento; exclusividade; relação custo e be- ação: 1 para ruim, 2 para regular, 3 para
nefício, com o seguinte critério de pontu- bom, 4 para ótimo e 5 para excelente.
ação: 1 para ruim, 2 para regular, 3 para c. Identificação dos eventos nos quais
bom, 4 para ótimo e 5 para excelente. utilizam os produtos: trabalho, lazer, fes-
c. Identificação dos eventos nos quais as ta, balada, evento religioso.
clientes utilizam os produtos: trabalho, la- d. Indicação de palavras que as conectam
zer, festa, balada, evento religioso. à marca.
34
BrandTrends Journal OUT/2015

Visita aos três pontos de venda para destaque, categorias de harmonização: corre-
registro de imagens lação de produtos, cor, linhas de visão. Além
de grande mistura dos elementos, criando
Objetivando verificar como a marca utiliza
elementos essenciais ao visual merchandi- dispersão em relação aos produtos expostos,
sing, tais como na vitrine, apresentados na observa-se ainda que as roupas penduradas
Figura 1, bem como a disposição dos produtos (Figuras 1, 2 e 3), raramente transmitem as
no espaço interno da loja, tanto roupas quan- nuances do corte ou o caimento da peça. Su-
to acessórios, nas Figuras de 2 a 5. gere-se que essa forma de demonstração seja
evitada.O manequim da Figura 5, sem braços
Na vitrine da Figura 1 não se identifica
nem pernas, limita a demonstração das peças
um ponto focal que direcione o olhar, tam-
apresentadas.
pouco equilíbrio na distribuição de elemen-
Morgan (2011, p. 42) destaca que não há
tos, não sendo observado ainda, entre a vi-
dúvida de que, quando atraentes e inovado-
trine e a disposição das roupas no interior da
ras, as vitrines podem aumentar as vendas.
loja, apresentada nas Figuras 2, 3, 4 e 5 uma
(...) uma boa vitrine não só é capaz de atrair
conexão, ou uma história da coleção sendo
consumidores para o interior do estabeleci-
contada por meio das imagens e looks sele-
mento como também reforça a imagem da
cionados.
marca. A vitrine pode atuar como ferramenta
A disposição de produtos na loja também
publicitária e também demonstrar o que pode
deve ser cuidadosamente planejada, consi-
ser encontrado no estabelecimento.
derando o estabelecimento de ponto focal e
3. CONSULTORIA DE IMAGEM NO
uma exposição diferenciada de produtos de
PDV (PONTO DE VENDA)

Figura 1: Imagem da vitrine do Figura 2: Disposição de peças em Figura 3: Disposição de peças em


PDV vista internamente uma parede do PDV uma parede do PDV
35
BrandTrends Journal OUT/2015

Figura 4: Araras de roupas e prateleiras com sapatos Figura 5: Manequim dentro do PDV
Fonte: Autora (2015) Fonte: Autora (2015)

A identidade da marca deve transmitir cla- quisar os hábitos de consumo, estilo de vida,
ramente o que a marca representa: quais seus gostos, aversões e, acima de tudo, suas neces-
traços distintivos; quais características dão a sidades. Além disso, é de fundamental impor-
ela sua singularidade e individualidade, bem tância que os gestores e todos os funcionários
como qual será a assinatura da roupa e seus da companhia reconheçam qual segmento do
detalhes. Um olhar já deveria dizer ao consu- mercado o negócio da sua organização atin-
midor se a marca é feminina, ousada, sofisti- ge: qual é o seu negócio? Varejo popular, fast
cada, moderna ou esportiva. Aaker (2001, p. fashion, mercado de luxo? Onde queremos
80) descreve que a identidade da marca deve chegar?
estabelecer um relacionamento entre a marca Kotler e Keller (2012, p. 40) declaram que
e o cliente por meio de uma proposta de valor para definir sua missão a empresa deve res-
envolvendo benefícios funcionais, emocionais ponder as clássicas perguntas do guru Peter
ou de autoexpressão. Drucker: Qual é o nosso negócio? Quem é o
Para conhecer o cliente é necessário pes- cliente? O que tem valor para o cliente? Qual
36
BrandTrends Journal OUT/2015

será o nosso negócio? Como deveria ser nosso projetada e a imagem pretendida é importan-
negócio? te e todos devem, seja na área sob sua gestão,
Os valores de uma organização são con- seja no todo da organização, identificar o que
siderados como regras de comportamento e pode ser mudado ou implementado a fim de
conduta institucionais da organização, que corrigir esse desvio.
norteiam as atitudes dos empregados. O quão Faz-se necessário agregar à identidade da
mais conhecidos e entendidos forem todos os marca percebida (credibilidade, confiança e
valores considerados fundamentais para a or- qualidade do produto), a qualidade de aten-
ganização, pelos gestores e seus funcionários, dimento e serviço aos clientes tendo em vista
mais esses empregados refletirão a missão da que no nível de concorrência atual, a qualida-
empresa e a transmitirão adequadamente aos de de produto não é o único fator para fide-
clientes e consumidores. lização dos clientes. Ou seja, ter como meta
Além disso, para que uma marca seja no- além do produto de qualidade, a perfeição, a
tada em um mercado competitivo, precisa ter excelência do atendimento ao cliente.
um posicionamento singular: o que a torna Sugere-se que a organização cuide para
especial? Quais benefícios entrega aos seus que a imagem que projeta, construída por di-
clientes? O posicionamento da marca é um versos elementos, tais quais: logotipo, produ-
mecanismo pelo qual a mesma se apropria de tos que comercializa, cores que utiliza, funcio-
uma porção significativa de conteúdo, ideia nários, estilo, localização do ponto de venda
ou conceito para estabelecer seu território e e todo contexto que constitui o ambiente da
qualificar seu discurso. loja, e que é reforçada quando há coerência ao
No caso estudado, os gestores reconhe- longo do tempo, seja uma imagem que con-
cem que a marca necessita ser mais conhe- tribua tanto para conquistar novos clientes
cida, pois apesar de possuir lojas próprias como para fidelizar os atuais, garantindo o
em pontos nobres da cidade de São Paulo, a sucesso e perpetuação da marca.
mesma não é reconhecida ou lembrada pelo Recomenda-se investir na formação e na
consumidor. Ou seja, eles estão conscientes imagem dos vendedores, tendo consciência
de que a visão pretendida pela empresa ainda que para os vendedores terem a mesma visão
não foi atingida. da empresa e poderem concretizar as metas
A imagem da marca reflete como a mes- da empresa, devem ser inspirados, percebe-
ma se apresenta e é percebida pelo público. A rem que trabalham por um propósito maior,
imagem é a percepção de um ‘todo’, podendo se sentirem bem consigo mesmos e com a
ser diferente ou compartilhada de forma se- marca para a qual trabalham.
melhante por vários indivíduos. Desta forma, A partir da comparação entre a pesquisa
reconhecer a distância entre a imagem atual respondida pelas vendedoras e a pesquisa res-
37
BrandTrends Journal OUT/2015

Gráfico 1: Perfil Etário de Clientes e Vendedoras

pondida pelas clientes, identifica-se uma série


de ajustes para adequar a imagem projetada à
imagem pretendida pela marca, bem como me-
lhorar o nível de atendimento às necessidades
das clientes. No Gráfico 1 pode-se verificar a
diferença de idade entre clientes e vendedoras. Quadro 1: Personalidade das Clientes não citadas pelas
Vendedoras
Considerando o problema apontado ante-
riormente de que a marca precisa apresentar
uma imagem mais amadurecida, sugere-se Quadro 2: Personalidade das Clientes citadas tanto
pelas Clientes quanto pelas Vendedoras
que em novas contratações de vendedoras,
seja dada, como prioridade, a contratação de apontaram nenhuma das 20 características
vendedoras com idade superior a 25 anos, ob- relacionadas no quadro 1, com representati-
jetivando aproximar o perfil etário de clien- vidade de 42% em relação ao total de carac-
tes e vendedores, para aumentar a empatia terísticas apontadas pelas próprias clientes,
e identificação junto às clientes, facilitando a demonstrando que não conhecem com pro-
comunicação e o processo de fidelização. priedade as características da sua cliente. A
No quadro 1 pode-se observar uma série convergência da resposta deu-se nas quatro
de características das clientes citadas pelas características destacadas no quadro 2, com
mesmas que não foram reconhecidas pelas representatividade de 20% em relação às res-
vendedoras e, no Quadro 2, características postas das clientes. As vendedoras tendem
das clientes citadas tanto por elas como pelas a enquadrar as clientes dentro de uma faixa
vendedoras. de estilo limitada, quando as próprias clien-
O resultado que chamou atenção nesse tes apontaram que possuem características
item pesquisado foi que as vendedoras não que as permitem ‘passear’ por vários estilos
38
BrandTrends Journal OUT/2015

de acordo com os diferentes lugares ou mo- vendedoras, apontando necessidade de treina-


mentos que estão vivenciando, apontando ne- mento das vendedoras em itens como tecidos,
cessidade de conhecer melhor a cliente, o que design das roupas, comparativo de mercado.
pode ser melhorado por meios de treinamen- No quadro 3 observa-se características que
to às vendedoras em algumas questões como não trazem identificação da cliente com a mar-
cultura de moda, tendências, estilo e compo- ca, sob o ponto de vista da cliente e das vende-
sição de looks. doras. No quadro 4 verifica-se características
O Gráfico 2 apresenta a avaliação das que segundo as vendedoras não trazem iden-
clientes e vendedoras em relação aos aspec- tificação da cliente com a marca, sendo que es-
tos do produto. sas não foram apontadas pelas clientes:
Exceto no item Exclusividade onde a ava- O quadro 5 apresenta as dez primeiras pa-
liação está próxima, em todos os outros itens lavras citadas pelas clientes e pelas vendedoras
de qualificação do produto e até mesmo na re- que trazem identificação da cliente com a marca.
lação custo e benefício, a avaliação das clientes Apesar do resultado demonstrado nos
é superior em pelo menos 14% a avaliação das quadros 3 e 5, com clara convergência em re-

Gráfico 2: Avaliação do Produto (onde 2 é regular, 3 é bom, 4 é ótimo e 5 é excelente)

Quadro 3: Características onde não há identificação da


cliente com a marca

Quadro 5: Relação das dez primeiras identificações


das clientes e das vendedoras com a marca
Quadro 4: Características onde não há identificação da
cliente com a marca, segundo as vendedoras
39
BrandTrends Journal OUT/2015

lação aos aspectos verificados e representan- necessidade de treinamento em estilos, com-


do 71% dos apontados pelas clientes, o fato binações de roupa, dress code social e dress
das vendedoras citarem as características do code corporativo, pois as vendedoras preci-
quadro 4 como não sendo de identificação da sam aprofundar o conhecimento em relação
cliente com a marca, sendo que tais caracterís- às possíveis combinações que as roupas ofere-
ticas foram apontadas pelas clientes como de cidas pela loja permitem, para não se limita-
identificação, demonstra que o nível de conhe- rem a enquadrá-las apenas como roupas para
cimento das vendedoras em relação às suas utilização em ambientes formais. Mais uma
clientes precisa aumentar. Ou seja, outras pos- vez percebe-se que falta conhecimento das
sibilidades de reconhecimento de imagem da clientes da marca.
marca e que trazem identificação com a cliente Recomenda-se que as empresas de vare-
não foram percebidas pelas vendedoras, em jo de moda utilizem a vitrine da marca para
especial arte e cultura, pontos importantes da contar a história da coleção e/ou da marca,
estratégia da marca, os quais, inclusive, são podendo aproveitar imagens de campanha de
apontados pelos gestores como diferenciação lançamento de coleção ou de novos produtos,
da marca em relação às concorrentes. não apenas para reforçar a personalidade da
O Gráfico 3 apresenta comparação das res- marca, mas também para encantar e atrair o
postas das clientes e das vendedoras no que diz cliente para dentro do PDV
respeito aos lugares ou eventos onde as clien- Claro que todos os pontos de contato com
tes utilizam os produtos adquiridos da marca. o cliente devem ser geridos adequadamente
Enquanto as vendedoras indicam a maior pelas organizações para que transmitam uma
proporção no uso para trabalho e evento reli- mensagem consistente da marca, coerente
gioso, as clientes apontam que usam os looks com sua estratégia de mercado. No entan-
para lazer e festa. Novamente identifica-se to, sugere-se que as organizações invistam

Gráfico 3: Situações onde a cliente utiliza os produtos da marca


40
BrandTrends Journal OUT/2015

nos locais de contato real dos consumidores os sentidos dos consumidores no PDV, tais
com a sua marca, e com as pessoas que es- como: vitrine, provador, iluminação, música,
tão nesses pontos de venda interagindo com essência, ambiente e disposição dos produ-
seu cliente. Proporcionar essa experiência tos na loja sejam pensados e projetados para
de compra diferenciada disponibilizando às inspirar e emocionar o cliente, fortalecendo o
pessoas os produtos e as sensações que elas vínculo com a marca.
desejam em locais inspiradores e que aten- No caso específico de uma marca de
dam profundamente aos seus valores e dese- moda, é de relevante importância que os ven-
jos, no nível racional e emocional, que farão dedores recebam treinamentos relacionados à
a diferença no mercado atual. Kotler, Karta- consultoria de imagem pessoal para conhecer
jaya e Setiawan (2010, p.48) descrevem que e apoiar melhor o cliente em suas escolhas,
embora seja essencial oferecer desempenho tais como: tipos de estilo, dress code social
e satisfação aos clientes no nível do produ- e corporativo, tendências de moda, tecidos e
to, no nível mais elevado, uma marca deve aspectos que diferenciam as peças, silhueta
ser vista como algo que realiza as aspirações corporal, cores, montagem de looks com as
emocionais e pratica a compaixão de alguma peças da coleção, treinamento detalhado de
forma [...] tornar-se uma marca melhor, di- cada coleção.
ferente e que faz a diferença para os funcio- No universo de uma marca de moda, além
nários atuais e futuros. dos pontos mencionados anteriormente, faz
Dentre os diversos aspectos que influen- todo sentido utilizar-se de serviços especia-
ciam a experiência de compra, recomenda-se lizados relacionados a imagem e moda, tais
que os elementos que constituem o PDV se- como personal shopper, personal stylist e
jam definidos em conformidade e objetivando consultores de imagem, para atender de for-
fortalecer a identidade e discurso da marca. ma exclusiva o cliente, satisfazendo suas ne-
Desta forma, sugere-se: estabelecimento de cessidades e proporcionando uma experiência
um padrão de atendimento junto aos consu- de compra personalizada.
midores a ser seguido por todos os funcioná- As marcas do segmento de luxo, voltadas
rios da loja; definição de dress code dos fun- para clientes com alto poder aquisitivo e que
cionários de acordo com a imagem da marca, são escolhidas por esse público ou até por um
de preferência utilizando-se de produtos co- público de menor poder aquisitivo, não ape-
mercializados pela marca; definição dos de- nas por sua qualidade, mas objetivando justa-
mais elementos que compõem a imagem dos mente transmitir uma imagem de poder, ex-
funcionários (maquiagem, comportamento, clusividade, distinção e sucesso, reforçam que
etiqueta) de forma coerente com a marca. Su- a imagem e a escolha das marcas que ajudam
gere-se ainda, que os elementos que atinjam a compor a imagem das pessoas, transcende o
41
BrandTrends Journal OUT/2015

aspecto tangível, atingindo também as emo- permanência nas lojas, observar os lugares
ções e aspirações do consumidor. de entrada e o número de pessoas que tra-
O consumidor enquanto protagonista da fegam nesses lugares, bem como a postura
cadeia de consumo, inserido em um mundo dos consumidores em relação à imagem da
de avanços tecnológicos cada vez mais glo- vitrine da loja e de outras no mesmo perí-
balizado, que facilita o acesso às diferentes metro, seja em loja de rua ou de shopping.
culturas, revolucionando valores, reduzin- Não se avaliou os concorrentes diretos
do distâncias e aumentando a velocidade de da marca. Seria interessante verificar o pon-
compartilhamento da informação, estimu- to de venda dos concorrentes para compara-
lando o indivíduo à descoberta dos seus ta- ção de elementos do merchandising e visual
lentos, alterando os processos de pensamen- merchandising: vitrine, provador, ambien-
to e decisão, recusam o que for imposto de te, conforto, serviços oferecidos, área de
forma artificial em detrimento da experiên- atendimento ao cliente na loja, dress code
cia autêntica. dos vendedores, atitude e conhecimento dos
mesmos em relação aos produtos oferecidos
CONSIDERAÇÕES FINAIS na loja, bem como aos demais aspectos rela-
Com esse artigo pretendeu-se levantar a rele- cionados à moda, consultoria de imagem e
vância do papel do consultor de imagem para tendências de moda.
apoiar as marcas de moda na elaboração de Poderiam ter sido selecionadas marcas
uma imagem coerente e consistente ao longo do de luxo do mercado internacional objeti-
tempo, objetivando fortalecer a imagem, atrain- vando identificar as melhores práticas de
do e fidelizando seus clientes. Focou-se no pon- sucesso no mercado de moda: como estu-
to de venda, especialmente nos elementos que dam tendências, como adaptam as ten-
compõe o visual merchandising trazendo um dências em alta ao DNA da marca, como
novo elemento a ser tratado: os vendedores. No desenvolvem sua coleção, onde buscam
entanto, a imagem da marca é transmitida por inspirações, estudo de cores, estampas,
diversos outros meios, canais e elementos, que como devolvem produtos que reforçam a
não foram abordados nesse estudo. imagem da marca, ao mesmo tempo sem
Mesmo no que diz respeito ao visual tornar-se repetitivo.
merchandising não foi possível detalhar De fato, conclui-se que o que o con-
todos os aspectos que o compõem. Resumi- sultor de imagem pode figurar em um pa-
damente foram verificados elementos como pel estratégico junto às marcas de moda,
vitrine e disposição dos produtos no interior apoiando-as na construção de uma imagem
do ponto de venda. O ideal teria sido obser- coerente, consistente, que conquiste e fide-
var a atitude dos clientes ao longo da sua lize seus clientes.
42
BrandTrends Journal OUT/2015

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AAKER, David A. Criando e administrando mar-
cas de sucesso. 3. ed. São Paulo: Futura, 2001.

______. Marcas: brand equity gerenciando o va-


lor da marca. 2. ed. São Paulo: Negócio Editora,
1998.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA


TÊXTIL E DE CONFECÇÃO. Disponível em
http://www.abit.org.br. Acesso em 01 jun.2015
ASSOCIATION OF IMAGE CONSULTANTS IN-
TERNATIONAL (AICI). Disponível em http://
www.aici.org. Acesso em 17 maio 2015.

BAILEY, Sarah; BAKER, Jonathan. Moda e visual


merchandising. São Paulo: Gustavo Gili, 2014.

BLESSA, Regina. Merchandising no ponto de ven-


da. São Paulo: Atlas, 2001.

COBRA, Marcos. Marketing & Moda. 2. ed. São


Paulo: Editora Senac; Cobra Editora & Marketing,
2010.

FRINGS, Gini Stephens. Moda do conceito ao con-


sumidor. 9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

GOBÉ, Marc. A emoção das marcas: conectando


marcas às pessoas. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

GROSE, Virgínia. Merchandising de moda. São


Paulo: Gustavo Gili, 2013.

KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Adminis-


tração de marketing. Rio de Janeiro: Elsevier,
2012.

MORACE, Francesco. Consumo autoral: as gera-


ções como empresas criativas. 2. ed. São Paulo:
Estação das Letras e Cores, 2012.

MORGAN, Tony. Visual merchandising: vitrines


e interiores comerciais. Barcelona: Gustavo Gili,
2011.

SVENDSEN, Lars. Moda uma filosofia. Rio de Ja-


neiro: Zahar, 2010.
43
TENDÊNCIAS DE BRANDING BrandTrends Journal OUT/2015

Sinalização
e branding
Uma relação intrínseca que
gera valor

Giuliana Sanchez Cardoso SILVA


Designer. Pós-Graduação em Gestão do Design do Centro Universi-
tário Belas Artes de São Paulo. Email: giuliana.cardoso.2303@gmail.
com.

Marcia AURIANI
Mestra pela Universidade Paulista. Professora do Curso de Pós-Gra-
duação em Gestão do Design do Centro Universitário Belas Artes de
São Paulo. Email: marcia.auriani@belasartes.br.
44
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
Este artigo tem como objetivo mostrar a relação existente entre o Design de Sinalização e a Gestão de Marcas. Para
tanto, foi estudada a prática do Design Gráfico Ambiental, com foco nos projetos de sinalização e, em seguida, como
se dá o gerenciamento de uma marca. No intuito de comprovar essa relação, são apresentados dois estudos de caso,
ambos referentes a um mesmo segmento, hospitalar, porém, com públicos diferentes. Foi possível constatar que um
projeto de sinalização é muito mais do que simplesmente criar, identificar espaços e direcionar fluxos. Sinalizar vem
se tornando uma prática complexa capaz de influenciar o posicionamento da marca e seus valores.

Palavras-chave: Gestão da Marca. Design Gráfico Ambiental. Sinalização. Gestão de Projetos de Sinalização.

Abstract
This article aims to show the relationship between the Signaling Design and Brand Management. Therefore, the prac-
tice of Environmental Graphic Design, focusing on signaling projects, and then, how the management of a brand has
been studied. Two case studies, both referring to the same segment, hospital, are presented in order to confirm this
relationship, but with different audiences. It was found that a project of signaling is much more than simply creating
spaces to identify and target flows. Signaling has become a complex practice and can influence the positioning of the
brand and its values.

Keywords: Branding. Environmental Graphic Design. Signage. Management Design. Signaling Project Manage-
ment.

Resumen
Este artículo tiene como objetivo mostrar la relación entre el diseño de señalización y la gestión de marca. Por lo tan-
to, se estudió la práctica del Diseño Gráfico del Medio Ambiente , centrándose en proyectos de señalización y también
en cómo es la gestión de una marca. Para demostrar esta relación presenta dos estudios de caso, ambos referidos al
mismo segmento, hospitalar, sin embargo, con los diferentes públicos. Se encontró que un proyecto de señalización
es mucho más que la simple creación, la identificación de áreas y los flujos directos. Sinalizar se ha convertido en una
práctica compleja capaz de influir en el posicionamiento de una marca y sus valores.

Palabras clave: Gestión de Marca. Señalización. Diseño Gráfico del Medio Ambiente. Gestión de Proyectos de
Señalización.
45
BrandTrends Journal OUT/2015

INTRODUÇÃO signers gráficos ambientais vêm sofrendo.


São várias as definições para a prática da Surgem, desde então, os seguintes ques-
sinalização. A maioria delas se resume na tionamentos: como o design de sinalização
disposição de informações legíveis e de fácil pode contribuir para a gestão de uma mar-
compreensão sobre um suporte, disponibi- ca? Onde ele pode estar inserido quando o
lizado em um determinado espaço físico, e assunto é Branding? Tal como fora mencio-
seu principal objetivo consiste em antecipar nado, como ele pode ser aplicado para valo-
as necessidades de visitantes e usuários do rizar a imagem da marca e suas estratégias?
espaço a ser sinalizado e dar-lhes seguran- Um projeto de sinalização é capaz ainda de
ça durante todo o trajeto ali percorrido. Os construir marcas por si só?
primeiros projetos tinham caráter funcio- No intuito de encontrar possíveis res-
nalista, ou seja, sua maior preocupação era postas para essas questões, o artigo foi di-
a função das placas e a boa legibilidade das vidido em três partes: a primeira delas tra-
informações que ali constavam. Aos poucos, ta do Design Gráfico Ambiental focado na
a função cedeu lugar à forma e, portanto, ao vertente Sinalização, mostrando desde sua
design das peças, visando o bem-estar e o origem, transformação ao longo dos anos,
conforto dos usuários, e focados em integrar sua essencialidade, multidisciplinarida-
ao máximo o sistema de sinalização ao am- de, metodologias e estratégias de criação
biente em que está inserido. e aplicação. A segunda parte, por sua vez,
Como parte da grade curricular dos cur- apresenta como se dá o gerenciamento de
sos de Design Gráfico, a matéria de sinali- uma marca, tal como criar um bom posi-
zação tem sido comumente aplicada junto a cionamento, estabelecer um brand equity
de identidade visual, como sendo uma úni- positivo e qual o papel dos elementos de
ca disciplina. E, indo além das academias de marca para que isso aconteça. A terceira e
design, em discussões a respeito das duas última parte, contudo, tem como finalida-
matérias, é visto que uma não exclui a ou- de encontrar a verdadeira relação existente
tra e a preocupação com o desenvolvimento entre os dois primeiros assuntos, ou seja,
de sistemas de sinalização que valorizem a entre a gestão de marcas e de projetos de
imagem da empresa é crescente e podero- sinalização e, para tal, foram desenvolvidos
sa. Atualmente, tem sido vista a busca por dois estudos de caso, baseados em projetos
um projeto desse quesito que, de alguma implantados recentemente. O principal in-
forma seja capaz de dialogar com a marca tuito desta pesquisa consiste, portanto, em
do ambiente em questão e, ainda, expressar trazer maior visibilidade à prática do De-
as estratégias e os valores dessa empresa. sign Gráfico Ambiental e seu papel no for-
Esse é o desafio que grande parte dos de- talecimento de uma marca.
46
BrandTrends Journal OUT/2015

1. DESIGN GRÁFICO AMBIENTAL novos valores, tais como propiciar conforto e


Mediante a grande concentração de pessoas bem-estar aos usuários, e deixou de ser ape-
na zona urbana, a evolução das cidades e o nas necessária para orientar e organizar es-
seu crescimento, a necessidade por ampliar paços. O design se tornou peça fundamental
os meios de transporte e suas rotas - cada vez nesses projetos e foi o responsável por inte-
mais complexas -, a busca por estreitar rela- grá-los cada vez mais ao ambiente construído.
ções comerciais e de comunicação, o poderio Indo mais adiante, sinalizar um ambiente
das indústrias, a construção e o planejamento se tornou uma tarefa cada vez mais abrangen-
de centros hospitalares, redes de shoppings te e interdisciplinar. Isso porque, ao mesmo
e supermercados, entre outros aspectos, tor- tempo em que é crucial para reforçar a identi-
naram a sinalização um fator essencial para dade do ambiente sinalizado, pode ser usado
garantir ao homem segurança na locomoção como ferramenta de marketing. Além do fato
dentro de um espaço desconhecido e, perante de ser regido pelo design gráfico dialogando
tal, propiciar toda a sorte de negócios e cons- com arquitetura, design de interiores, design
tante troca de informações, em qualquer lugar de produto, engenharia, marketing, publici-
do mundo. dade, luminotécnica, segurança, dentre ou-
De acordo com Chamma e Pastorelo (2007), tras capacitações. (VELHO, 2007)
sinalização é essencialmente um conjunto de Segundo Velho (2007), uma vez que a
informações dispostas sobre um suporte e dis- maioria dos cursos de design são focados em
tribuídas em um espaço físico, seja aberto ou uma determinada especialização - seja grá-
fechado, cujo principal objetivo consiste em fico, de interiores, de produto, etc. -, é co-
veicular informações legíveis e de fácil com- mum os designers apresentarem um certo
preensão no intuito de antecipar as necessida- bloqueio no desenvolvimento de projetos de
des apresentadas por visitantes e usuários do sinalização, pois eles envolvem conhecimen-
espaço que está sendo sinalizado. tos de diversas áreas. Assim, gerir um proje-
Os primeiros projetos seguiam a linha do to desse porte ou até mesmo gerir um núcleo
design funcionalista, que restringia a sinali- de pessoas desta área - normalmente desig-
zação a sua função crucial - a transmissão de ners gráficos, capacitados pela concepção do
informações. Em tais projetos, os rígidos pa- projeto e da projeção / simulações das pla-
drões estético-formais predominavam sobre cas nos ambientes - significa saber dialogar
os recursos de design gráfico e os padrões er- constantemente com profissionais da produ-
gonômicos, referentes à legibilidade e à visi- ção, fornecedores, arquitetos, engenheiros,
bilidade, foram explorados por muito tempo dentre muitos outros, de maneira a garantir
sem serem questionados. resultados mais certeiros e na intenção de
Aos poucos, a sinalização foi assumindo prever possíveis riscos.
47
BrandTrends Journal OUT/2015

Devido à sua complexidade, tornou-se Gestão de projetos de sinalização


difícil definir em qual campo os projetos de
Um projeto de sinalização bem gerenciado é aque-
sinalização estão inseridos. Surgiu, portanto,
le que é pensado em todas as suas partes. Ou
a área do Design Gráfico Ambiental, que en- seja, cada etapa deve ser cuidadosa e estrate-
globa a prática da sinalização. Na percepção gicamente planejada para que haja equilíbrio
de Mozotta (2011), o design ambiental não do início ao fim. É importante o trabalho em
se resume apenas ao processo de otimizar e/ equipe; a interdisciplinaridade; a troca de
ou viabilizar o funcionamento e utilização de informações entre o designer, arquiteto, en-
espaços, sejam naturais ou artificiais. Esse genheiro, responsável pelo marketing, forne-
campo vai muito além, por compreender o cedor, entre outros profissionais; além de cui-
planejamento e a criação de espaços que re- dados especiais, apresentados a seguir, que
presentam fisicamente a empresa. Criar um são a base para projetos de sucesso.
ambiente de trabalho é essencial para garantir
Existem projetos de sinalização de dife-
qualidade na produção, para se construir uma
rentes tipos e cada um possui sua peculiari-
cultura e comunicar a estratégia da empresa.
dade. Sinalizar um hospital é uma ativida-
O design gráfico ambiental se incorpo- de muito mais árdua e desafiadora do que
ra de duas formas: como sinalização e como sinalizar um andar corporativo. Ambos são
ambientação. A principal diferença entre es- importantes de serem sinalizados, mas o pri-
sas duas práticas consiste em que a primeira meiro requer um cuidado maior com o pú-
é normalmente implantada em edifícios de blico externo, uma vez que existem áreas nas
caráter complexo, como por exemplo, super- quais pacientes não podem de maneira algu-
mercados, shopping centers, hospitais, mu- ma adentrar; correm risco de contaminação,
seus, entre outros. Ao passo que a segunda por exemplo.
prática, de ambientação, se refere àqueles Ao sinalizar qualquer espaço, deve-se ter
espaços concebidos do início ao fim pelo de- em mente sempre a disposição de informa-
signer, podendo ser uma exposição, estande, ções da maneira mais fácil e legível possível
espaço para abrigar eventos, entre outros. - voltada para o público externo -, para que o
(MOZZOTA, 2011). visitante, aquele que frequenta o espaço e não
Projetar sistemas de sinalização signifi- conhece seu fluxo possa facilmente se locali-
ca seguir à risca uma metodologia (que pode zar e alcançar seu destino. Para tanto, deve-
mudar de empresa para empresa) no intuito se evitar o uso de siglas, por exemplo. Se for
de garantir a boa organização do projeto e um o caso de uma unidade frequentada apenas
fluxo de atividades, importante tanto para o por funcionários, já habituados com as abre-
cliente quanto para a agência responsável viações, o uso das siglas não será um proble-
pelo desenvolvimento do projeto. ma. Mas, no caso de uma unidade hospitalar,
48
BrandTrends Journal OUT/2015

frequentada por cerca de 5 mil pacientes por de abstração do pensamento humano e me-
dia, tratar dos serviços ali oferecidos por meio diante a transformação dos valores sociais e
de siglas causa grande estranhamento e frus- culturais - é o caso do ícone que representa
tração por parte dos pacientes. Isso pode ser a terceira idade: antes era representado por
observado na atual sinalização de algumas uma figura reclinada sobre uma bengala, co-
unidades do Hospital Albert Einstein - os ser- notando uma imagem de fadiga, cansaço, e
viços aparecem em todas as placas por meio que foi substituído pelo desenho de um ho-
de siglas, como por exemplo, a Ressonância mem onde ao seu lado está transcrito: 60+,
Magnética sendo indicada por REMA ou Me- indicando que aquele espaço está reservado
dicina Diagnóstica Preventiva como MDP, en- para pessoas acima de sessenta anos. Esta
tre outros casos. E as opiniões são unânimes: revitalização do ícone tornou-o mais abran-
os pacientes não reconhecem o serviço ali ofe- gente: “não precisa usar bengala para fazer
recido e preferem perguntar para se informar. uso das vagas preferenciais”. Indo um pouco
(CHAMMA e PASTORELO, 2007). mais além, não é possível dizer que os ícones
Recomenda-se que as informações sejam dispensam por completo o uso das palavras.
objetivas e façam uso de uma linguagem mais É verdade que existem casos em que eles apa-
simples, acessível e de preferência, com pala- recem separadamente, mas quando aplicados
vras curtas. O espaço para disposição da in- juntos, um reforça o outro. Existem ainda
formação é, normalmente, pequeno e o uso aqueles específicos para sinalizar normas de
de palavras longas torna preciso diminuir o trânsito ou rotas de fuga, sinais de emergência
corpo da letra, dificultando sua leiturabilida- e segurança, que precisam respeitar algumas
de. Quanto mais texto houver em uma placa, regulamentações, ainda que estas compro-
mais cansativa será de ler. Existe uma norma metam a “beleza” do projeto. O importante,
prática que estabelece o uso de no máximo nesse caso, é conservar a integridade e a segu-
quatro informações por suporte, recomen- rança dos usuários do espaço a ser sinalizado.
dam Chamma e Pastorelo (2007). (CALORI, 2007).
O uso dos pictogramas é uma maneira Existem espaços frequentados por pesso-
prática de identificar o que a palavra poderia as de diferentes partes do mundo e, sobretu-
“dizer”. Isso porque desde cedo, o ser huma- do nesses casos, é essencial que o projeto de
no aprende a relacionar palavras a imagens: sinalização seja bilíngue. Quando isso ocorre,
símbolos. Porém, sua comunicação está in- recomenda-se que haja uma hierarquia de ta-
trinsecamente ligada ao aprendizado huma- manho de letra ou variação de tipografia (in-
no e possui limitações culturais. As formas de glês usado na versão itálico, por exemplo) en-
representação dos ícones também foram se tre a língua nativa e a estrangeira de modo a
aperfeiçoando conforme a maior capacidade não confundir o leitor. É importante que, ado-
49
BrandTrends Journal OUT/2015

tado um padrão de hierarquia de informação, meros estudos físicos do projeto, a fim de ga-
este seja seguido à risca em todas as placas ou rantir que ele irá funcionar em todas as suas
outros suportes de sinalização. particularidades. É preciso fazer prova de cor,
Além disso, é importante ressaltar que um teste de leiturabilidade da tipografia conside-
projeto de sinalização eficaz apresenta certo rando a placa em escala real, a altura em que
grau de redundância. Repetir informações ao ela for fixada e a distância mínima para que ela
longo do fluxo de um espaço permite fixá-las possa ser vista; é importante ainda, realizar
na mente do observador e dão-lhe maior se- protótipos, além de estar sempre em contato
gurança para chegar ao seu destino. com o(s) fornecedor(es) a fim de se informar
se o projeto irá “funcionar” no ambiente esco-
Algo que não pode ser passado em bran-
lhido - foi possível observar que, em determi-
co são as visitas de campo. Não basta o desig-
nados espaços, o material em que a placa for
ner seguir o briefing estipulado e distribuir as
confeccionada precisa ser de alta resistência,
peças sinalizadoras na planta fornecida pelo
pois ela pode ficar à mercê das intempéries do
cliente. É crucial que sejam feitas quantas vi-
tempo e sofrer constante desgaste (é o caso de
sitas de campo forem necessárias (desde que
totens, fachadas ou outro tipo de sinalização
o projeto não fique dispendioso), no intuito de
externa) - entre outros aspectos.
“sentir” o ambiente e suas necessidades. Essa
é uma das formas mais comuns de prever pro- Tendo em vista a escolha da tipografia,
blemas e procurar soluções para eles. A plan- são várias as fontes indicadas para uso na si-
ta por si só muitas vezes não prevê algumas nalização, cada uma delas com suas caracte-
obstruções de espaço, que podem prejudicar a rísticas que se adequam a projetos específicos.
fixação das placas, e a visita de campo é capaz Entretanto, o principal ponto que deve-se ter
de identificá-las. Realizar entrevistas com os em mente na escolha da tipografia adequada
responsáveis pelo requerimento de placas no- consiste no grau de leiturabilidade que ela
vas ou pela limpeza das mesmas, assim como oferece. Quanto mais legível ela for, mais efi-
com o usuário do espaço, traz inúmeros be- caz e seguro será o projeto. Em síntese, é re-
nefícios para a pesquisa, podendo embasar os comendado o uso de fontes tipográficas sem
problemas visualizados e levantar formas de serifa (“o menos é mais”) e que haja diferen-
resolvê-los. ciação de caixa alta e baixa nas palavras de
O computador definitivamente ampliou as modo a facilitar o reconhecimento de onde se
possibilidades da concepção criativa mediante inicia uma palavra e onde outra termina (CA-
variados recursos de edição e permitiu maior LORI, 2007).
agilidade no desenvolvimento de projetos grá- Gerir um projeto de sinalização significa
ficos. Contudo, ele não é a solução para todos pensar em sua manutenção no espaço a fim
os problemas. Na verdade, é preciso fazer inú- de evitar gastos exorbitantes de materiais
50
BrandTrends Journal OUT/2015

em prol de pequenos detalhes: significa pen- to tempo, pela simples falta de comunicação
sar em sistemas modulares. Esses sistemas entre os envolvidos no projeto. Ainda segun-
são indicados sobretudo para casos em que do os autores, cada material influenciará na
há uma demanda frequente pela atualização aparência final das placas, e, criar algo sem a
de informações, uma vez que permitem fácil certeza de que irá funcionar, corre-se o risco
reposição da peça e sua manutenção. Manter de perder a proposta criativa pela inviabilida-
informações desatualizadas nas placas torna de do material escolhido. Ele será reproduzi-
a comunicação do espaço e seu fluxo extrema- do, mas não fidedigno à forma como foi pros-
mente caótico. Uma informação desatualiza- pectado. É o caso de propor ícones recortados
da em uma placa e em adesivo é muito mais em um suporte, sendo que estes, na espessura
fácil de ser removida do que impressão direta planejada, só seriam devidamente reprodu-
no suporte. É essencial ainda criar um manu- zidos em uma placa de acrílico. Em determi-
al que disponha de informações básicas sobre nada altura do projeto, o cliente pode resol-
a placa, considerando seu tamanho, corpo de ver pedir uma solução mais simples e barata,
texto, tipografia, dimensões dos ícones e das como o uso de um material mais econômico
setas, paleta de cores exploradas, além da al- que, por sua vez não é capaz de ser recortado.
tura em que a placa deve ser fixada, entre ou- Perde-se assim o todo o conceito criativo.
tros aspectos. Um outro aspecto muito importante de
Chamma e Pastorelo (2007) afirmam que um projeto de sinalização consiste em tomar
cada material (seja acrílico, madeira, metal, todas as precauções possíveis para que, caso
vidro, lona, entre outros tipos) além de pos- haja qualquer problema com a fixação das
suir uma propriedade física específica, apre- placas, por exemplo, a agência de design não
senta uma linguagem visual própria a ser seja prejudicada. Mesmo porque, normal-
explorada pelos projetos de sinalização. A es- mente, o responsável legal é o executante, ou
colha dos materiais normalmente está pauta- seja, a empresa contratada para fixar as placas
da no conhecimento do projetista e na relação nos locais indicados, e é este que deve solici-
de custo vs. durabilidade. Entretanto, faz par- tar o registro junto aos órgãos municipais de
te do desenvolvimento do projeto a constante controle das manifestações visuais. É comum
comunicação com um ou mais fornecedores a o cliente promover uma concorrência de for-
fim de se constatar se a escolha do material necedores de placas (que normalmente pos-
é viável e se corresponde ao budget do proje- sui sua própria equipe de montagem e fixação
to. Muitas vezes o designer se deixa levar pela das peças) e, nem sempre os vencedores da
“beleza” da coisa e esquece que a solução para concorrência podem ser empresas idôneas.
aquele momento seria construir uma sinaliza- Assim, segundo Chamma e Pastorelo (2007),
ção mais econômica. Com isso, perde-se mui- é preciso estar cercado de garantias legais de
51
BrandTrends Journal OUT/2015

isenção de responsabilidade futura e estas de- segundo Chamma e Pastorelo (2007, p.175).
vem estar discriminadas no contrato. Uma vez que essa proposta será normalmente
analisada por um engenheiro ou técnico, re-
O processo projetual
comenda-se o uso de uma linguagem objetiva.
Elaborar propostas criativas é uma das A descrição técnica, por sua vez, é composta
etapas mais árduas que envolvem o processo. da seguinte maneira: proposta, estudo preli-
Por mais que o desenvolvimento seja um pro- minar, protótipos, pré-implantação, projeto
cesso racional e que, normalmente segue uma executivo e acompanhamento. Já o contrato
mesma linha de projeto, a experiência é um comercial precisa deixar claro os prazos e con-
ingrediente muito importante e que só pode dições de pagamento. Os prazos precisam ser
ser adquirida com o tempo. Existem diferen- cuidadosamente planejados (podem ser por
tes metodologias a serem aplicadas nessa eta- etapas de trabalho: estudo preliminar, núme-
pa do projeto, contudo, foram escolhidas as ro de dias; anteprojeto, etc.) para que não haja
principais etapas levantadas por Chamma e uma divergência entre honorários e projeto, e
Pastorelo (2007) e Calori (2007): não culmine em grande quantidade de horas
gastas sem recebimentos.
Proposta
É evidente que todo projeto de sinalização Estudo Preliminar
se inicia com a elaboração de uma proposta. Nessa fase, é essencial definir se o projeto irá
Entretanto, ela deve contemplar algumas ca- contemplar mudanças na ambientação ou se
racterísticas-chave: deve ser eficiente, visar apenas sinalização. No caso de ser apenas si-
o lucro e, não menos importante, atender ao nalização, o designer gráfico deve estar em
cronograma de obras. Os projetos de sina- sintonia com o designer de interiores. E an-
lização, conforme cita Chamma e Pastorelo tes de mais nada, é recomendável solicitar ao
(2007), apresentam dois picos de demanda da contratante grande quantidade de referên-
parte do designer: o desenvolvimento de con- cias gráficas, além de solicitar que haja uma
ceitos criativos a serem aprovados e a fase do reunião com os autores do projeto de arqui-
acompanhamento de implantação (essa etapa tetura e interiores do local, a fim de compre-
é uma das mais caras, pois além dos custos da ender como eles enxergam a sinalização e as
hora do designer, envolve as viagens de ida e expectativas que possuem acerca do projeto,
volta ao local), e é importante conciliar “tra- assim como recomendações de materiais a
balho com remuneração”. serem utilizados nas placas. Esse tipo de es-
Uma proposta de sinalização é forma- tudo reúne ainda dois tipos de projetos que,
da por duas partes: aquela que “descreve as por sua vez, se complementam: o suporte da
fases de elaboração dos serviços, e uma se- informação, que consiste no design de placas,
gunda parte, referente ao acordo comercial”, fachadas, totens, etc., além das dimensões e
52
BrandTrends Journal OUT/2015

especificações de materiais e acabamentos, de sua produção (CALORI, 2007).


por exemplo; e a própria informação - a for-
Pré-implantação
ma como será comunicada, organizada no su-
porte, se composta por pictogramas, diferen- A pré-implantação é a fase em que são distri-
ciação por cores, hierarquia de informações, buídas as informações no espaço e onde são
etc. Define-se nessa etapa: a(s) tipografia(s) definidos todos os tipos de placas necessários
a ser(em) usada(s); paleta de cores (como es- e possíveis quantidades, podendo ser: facha-
tas serão usadas: se para identificar serviços, da, totens externos e internos, placas de pare-
blocos, etc.); estilo de iconografia e signos di- de, placas aéreas, de porta, etc. É preciso aqui
recionais de fluxo; e diagramação de todas as analisar a planta fornecida pelo cliente, assim
informações. como todas as informações contempladas em
visitas de campo ou pela experiência do clien-
Protótipos
te, para que assim, seja possível reconhecer
Uma vez aprovado o estudo preliminar, é in- os principais pontos de contato com o usuá-
dicado que as artes sejam encaminhadas para rio do ambiente - pontos que merecem maior
o fornecedor executar protótipos das peças atenção ao serem sinalizados. E cada ambien-
principais do projeto de sinalização criado, te requer uma disposição cuidadosa e especí-
para que sejam avaliados. Algumas agências fica dos diferentes tipos de suporte; existem
costumam indicar ao menos três empresas espaços, cuja necessidade de implantar placas
especializadas em executar projetos de sina- aéreas é muito maior do que o uso de placas
lização e é o cliente o responsável por solici- de parede, uma vez que, mediante o grande
tar diretamente a uma dessas empresas os fluxo de pessoas, estas podem passar desper-
orçamentos para a realização dos protótipos. cebidas. É o caso de aeroportos.
Recomenda-se que sejam passadas aos for-
necedores as informações necessárias para a Projeto Executivo
execução das peças, mas que haja uma liber- Uma vez realizada a pré-implantação, parte-
dade para que eles possam escolher soluções se para o projeto executivo, que é realizado
semelhantes, mais simples e econômicas. Po- por duas partes: uma contempla a documen-
rém, deve-se sempre enfatizar o conceito cria- tação que se refere ao design e à comunicação
tivo de modo que a substituição de um mate- visual (introdução do conceito criativo; iden-
rial por parte do fornecedor, de modo a tornar tidade do projeto; elementos da comunicação,
o projeto mais viável economicamente, não etc.) e a outra parte reunindo a implantação
altere sua composição visual. (muito usada para eventuais substituição ou
Ao desenvolver protótipos, é possível pre- reposição de peças da sinalização), conforme
ver erros e propor soluções imediatas, antes cita Calori (2007).
53
BrandTrends Journal OUT/2015

Acompanhamento dronizada, que seja capaz de fixar a identidade


Essa fase muitas vezes não é levada a sério da marca na mente do público, visando que o
pelo cliente. Entretanto, é de suma impor- cliente ou o novo usuário que adentrar no es-
tância que ela seja contemplada para que seja paço, reconheça de imediato onde está. Para
dado todo o suporte necessário na construção compreender, entretanto, a relação que possa
e implantação das placas, e para que não haja existir entre branding e o design de sinaliza-
divergência entre o projeto descrito e o aplica- ção, foi fundamental abordar, primeiramente,
do no ambiente. O acompanhamento técnico o comportamento das marcas na atualidade,
não corresponde ao gerenciamento, mas visa sua comunicação, gestão, posicionamento,
à correta implantação do projeto in loco. brand equity e os elementos da marca, essen-
ciais para fixar os seus valores na mente do
Codificação e Especificação público-alvo.
Para melhor organização - seja das pastas, ar-
quivos de artes finais, planilha com todas as
2. MARCA E GESTÃO DE MARCA
peças, quantitativo e localização das mesmas
O ser humano, atualmente movido pela
na planta, etc. - é recomendada a codificação
pluralidade e superfluidade de mensagens,
das placas a partir de siglas (tipo de placa) e
produtos e serviços, é bombardeado a todo
numerais (quantitativo da mesma). Tal sistema
instante por marcas dos mais diversos tipos.
contribui ainda na elaboração de orçamentos,
Por mais que esse indivíduo consiga ao final
controle de execução e instalação do projeto,
de seu dia lembrar de algumas delas, aquelas
conforme citam Chamma e Pastorelo (2007).
que ficaram verdadeiramente gravadas em sua
Sinalização: uma ferramenta de bran- memória, esse valor não representará meta-
ding? de de tudo aquilo que tenha passado por seus
Tendo em vista que a necessidade por olhos. Esse universo de marcas com o qual o
projetos de sinalização benchmark é cada vez ser humano está habituado a ter contato, di-
maior e, uma vez reconhecido que o papel fere muito de indivíduo para indivíduo. Cada
do designer em sua realização é fundamen- um, vivente em uma parte do mundo, de dife-
tal, tem sido comum os clientes depositarem rente faixa etária, sexo, classe social, capacita-
grande preocupação pelo desenvolvimento do em determinada profissão ou acostumado
desses projetos integrados ao ambiente cor- com certo estilo de vida poderá responder à
porativo e, principalmente, de modo que ex- questão: “o que é uma marca?”. Certamente
pressem o valor da marca no espaço a ser si- haverá inúmeras e distintas respostas, e todas
nalizado. É com frequência que o briefing de elas serão incompletas, uma vez que estarão
tais projetos consta, como objetivo principal, pautadas nas experiências vividas por cada
estabelecer uma linguagem visual única e pa- ser humano. Certo é que a marca deixou de ser
54
BrandTrends Journal OUT/2015

um signo (aquilo que representa algo e pos- e precisa ser incumbido de um significado. A
sui um significado) e se tornou um fenômeno, comunicaçãoção entre a marca e o público só
ou ainda, uma promessa. E cabe ao branding se dá quando o código desse sinal é decifrado
procurar cumprir essa promessa através da e quando seu significado é reconhecido.
boa gestão de marcas. No propósito de definir
Com base nessa linha filosófica e semióti-
inicialmente o que é marca, foram analisadas
ca, a relação que pode existir entre a marca e a
duas linhas de pensamento: uma filosófica,
prática da sinalização é que ambas funcionam
adotada por Costa (2008) e outra mercadoló-
sob a intenção de registrar informações, des-
gica, segundo Keller e Machado (2007), sendo
tacá-las e diferenciá-las no ambiente para que
esta última a que mais se adequou ao desen-
comuniquem. Ainda que o verbo sinalizar,
volvimento dessa pesquisa. segundo definição do dicionário, signifique
Seguindo a definição filosófica de Costa “marcar com um sinal”, não é correto afirmar
(2008), “a marca é o todo e as partes”. Quanto que a sinalização dispensa a marca e atua em
mais partes se incorporarem a esse todo, mais seu lugar. Para Calori (2007), essa derivação
complexo ele será devido ao aumento das in- do Design Gráfico Ambiental tem o poder de
terações e retrointerações que envolvem as reforçar a marca e seus valores na mente dos
partes. Em seu sentido mais amplo e concei- seus clientes, mas esse será um assunto trata-
tual, a marca é concomitantemente um signo do mais adiante.
verbal, visual e sensível. Isso porque ela pre- Partindo para um conceito de cunho
cisa ter nome para que o ser humano a possa mercadológico, a American Marketing Asso-
designar, verbalizar, escrever e, assim, permi- ciation (AMA) define que uma “marca é um
tir seu intercâmbio. Da mesma maneira, esse nome, termo símbolo, desenho ou uma com-
signo verbal pede uma forma - logo, símbo- binação desses elementos que deve identificar
lo, cor, tipografia - uma vez que é imaterial, os bens ou serviços de um fornecedor ou gru-
sonoro e tem necessidade de ser visível para po de fornecedores e diferenciá-los da concor-
ser lembrado, mais do que a palavra pronun- rência”. Na definição de Mozotta (2011), além
ciada. Além de precisar estar no espaço e no de identificar algo e ser capaz de distingui-lo
tempo para que funcione. dos demais, a marca agrega valor à empresa,
Para o autor, o ato de marcar uma deter- aos seus funcionários e clientes. Os responsá-
minada superfície com algum tipo de objeto, veis por identificar os bens (sejam produtos
seja por contato, pressão ou incisão, gera um ou serviços) e os diferenciar dos demais são
sinal: a marca propriamente dita. Entretanto, os elementos de marca.
só é marca o sinal criado na intenção de regis- Keller e Machado (2007) definem que as
trar algo. Esse sinal também é capaz de iden- marcas são ativos extremamente valiosos e
tificar um produto ou serviço, por exemplo, possuem o poder de influenciar o comporta-
55
BrandTrends Journal OUT/2015

mento do consumidor. Elas simplificam as com a mesma. A busca por construir um forte
decisões do público-alvo por um produto ou “brand equity” significa garantir fidelidade à
serviço, mediante a imagem que esse público marca e aos produtos ou serviços que oferece.
formou sobre a marca em questão - baseada Produtos podem ser copiados sem muito es-
em sua experiência com ela - e acabam por de- forço pela concorrência, mas os valores pro-
senvolver expectativas sobre esses bens antes jetados pela marca são únicos, intrínsecos a
mesmos de aderi-los ou prová-los. ela e poderosos meios de garantir vantagem
O relacionamento entre a marca e seu competitiva no mercado.
cliente muitas vezes é visto na forma de um Na visão de Neumeier (2008), em sua obra
pacto, pelo qual o público confia e se demons- “The Brand Gap”, as marcas são uma espécie
tra fiel à marca, na expectativa de que esta se de “pressentimento” que as pessoas possuem
comportará da maneira esperada, lhe proven- acerca de um serviço, produto ou organização;
do vantagens, seja referente à boa funcionali- elas também consistem de uma promessa e é
dade do produto, ao preço favorável, à promo- função do branding, segundo Keller e Macha-
ção, às formas de distribuição atrativas, entre do (2007), concretizar essa promessa através
outros aspectos. As marcas permitem ainda de esforços em otimizar a gestão das marcas
que seu consumidor projete, por meio delas, de uma determinada organização como dife-
sua autoimagem; ou seja, as pessoas são aqui- rencial competitivo.
lo que usam e as marcas as ajudam a se definir Atualmente, o branding tem sido enten-
no espaço. Para Murphy (1990, apud KELLER dido ainda como “o instrumento de gestão
e MACHADO, 2007): potencialmente mais eficaz na construção de
(...) criar uma marca de sucesso re- valor e de sustentabilidade na vida das organi-
quer misturar todos esses vários ele-
mentos de uma maneira exclusiva - o
zações” (HSM MANAGEMENT, 2012). A dis-
produto ou o serviço tem de ser de puta entre produtos, que perdurou por muito
alta-qualidade e adequado às neces- tempo, por meio de ações de propaganda e
sidades do consumidor; o nome de
comunicação, cedeu lugar a uma competição
marca deve ser atraente e estar afina-
do com as percepções do consumidor ainda maior: entre as marcas. E administrar
relativas a produto, embalagem, pro- essas marcas tem se tornado uma tarefa com-
moção, preço, e todos os outros ele- plexa. Isso porque, muito embora seja visível
mentos devem, similarmente, passar
nos testes de adequação, apelo e di-
o crescente avanço no reconhecimento do va-
ferenciação (MURPHY, 1990, apud lor das marcas, os clientes e as empresas es-
KELLER; MACHADO, 2007, p. 5). tão ficando mais informados e experientes em
Construído ao longo do tempo e em cons- termos de marketing e sua atuação no mer-
tante evolução e transformação, o valor de cado; com isso, crê-se que seja cada vez mais
uma marca varia entre todos os que interagem difícil persuadir consumidores através de mí-
56
BrandTrends Journal OUT/2015

dias tradicionais; as linhas de marcas estão se seja valorizada na mente do seu público-alvo.
tornando cada vez mais complexas; há grande Em outras palavras, posicionamento é a ima-
dificuldade em encontrar diferenciação com- gem que a empresa reflete aos seus clientes e
petitiva; a fidelidade à marca não tem se es- que é construída e fortalecida perante as ati-
tendido a todas as suas categorias e tem sido tudes da marca. Sua prática envolve pesquisas
abalada muitas vezes por isto; há um cresci- focadas em conhecer melhor o público-alvo;
mento de marcas próprias; gastos promocio- entender seus desejos e necessidades, definir
nais exorbitantes; entre outros aspectos apon- quem são seus principais concorrentes; as se-
tados por Keller e Machado (2007) que estão melhanças e diferenças que possui com rela-
se tornando cada vez mais comuns e acirrados. ção à concorrência; e pontos fortes e pontos a
Deve-se ter em mente, entretanto, que ge- serem melhor explorados.
renciar marcas, conforme Keller e Machado É importante ressaltar a importância da
(2007), é um processo que deve ser pensado relação existente entre posicionamento de
a longo prazo, pois envolve desde a criação da marca e marketing. “Um bom posicionamen-
marca, suas estratégias de crescimento e lan- to de marca ajuda a orientar a estratégia de
çamento no mercado, até o acompanhamento marketing, esclarecendo o significado da mar-
de sua evolução e avaliação de desempenho. ca, como ela é exclusiva ou similar às mar-
E, para potencializar a marca e torná-la ver- cas concorrentes e por que os consumidores
dadeira fonte de negócio, é função do bran- devem preferi-la”. (KELLER e MACHADO,
ding direcionar suas estratégias para incorpo- 2007, p. 70).
rar o “brand equity” nos produtos ou serviços O papel do design gráfico no posiciona-
que ela oferece. mento de uma marca reside, essencialmente,
na criação de um sinal gráfico e uma cor - um
Posicionamento logo -, que se tornam elementos centrais da
Posicionar uma marca no mercado atual sig- marca, capazes de lhe dar notoriedade, tor-
nifica compreender três princípios básicos: a nando-a percebida, e preenchendo o espaço
empresa precisa saber definir seus negócios; existente entre corporações e pessoas. Inves-
assim como reconhecer seu diferencial com- tir no design de marca significa, portanto, co-
petitivo e ter em mente quais os benefícios municar a personalidade dessa marca.
que a marca oferece aos seus clientes.
O chamado posicionamento estratégico,
Na visão de Kotler (2003 apud KELLER segundo Kotler e Keller (2006), vai um pouco
e MACHADO, 2007), o posicionamento de além. Tem como função aproximar a identida-
marca consiste em planejar a imagem da em- de de uma empresa (alma da marca, ou seja,
presa no intuito de que a marca em questão os valores que deseja transmitir e a maneira
que pretende ser vista) à imagem da marca
57
BrandTrends Journal OUT/2015

(percepção do público), através de ações de Machado (2007) ressaltam que o consumidor


marketing e comunicação, tornando evidente enxerga, com isso, uma distinção significati-
o posicionamento na mente e coração de seus va entre as marcas de uma mesma categoria
clientes. e entre seus respectivos produtos ou serviços.
De acordo com a definição de Troiano (2004),
Valor da marca brand equity supõe a criação de um conjun-
Conhecido também como brand equity, o va- to de percepções e sentimentos com relação a
lor da marca, na opinião de Mozotta (2011), uma marca, capazes de fazer com que ela seja
consiste no grau de importância que a marca única e indispensável, atendendo às necessi-
representa para seus clientes e proprietários. dades de seus clientes.
Conforme a definição de David Aaker, pro-
Esse valor da marca pode ser positivo ou
fessor estadunidense emérito de marketing
negativo, dependendo da reação do seu públi-
da Universidade da Califórnia em Berkeley,
co. O valor é positivo quando os consumidores
brand equity é o “conjunto de ativos e obri-
reagem e aceitam positivamente um produto
gações vinculados a uma marca, seu nome e
(uma nova extensão de marca, por exemplo) a
símbolo, que são somados ou subtraídos do
partir do momento em que sua marca é iden-
valor proporcionado por um produto ou servi-
tificada. Ao passo que ele pode ser negativo
ço a uma empresa e/ou aos clientes dessa em-
quando os consumidores apresentam reações
presa.” (KELLER e MACHADO, 2007). Seu
não favoráveis quando a marca do produto
papel é essencial para reforçar a importância lhes é exposta.
da marca nas estratégias de marketing e, se-
Existem ainda diferentes modelos de
gundo Mozotta (2011), ele é visto como uma
brand equity, sendo os mais conhecidos, o de
forma de motivação financeira, tal como meio
David Aaker e o de Kevin Keller. Segundo o
de avaliar ativos para demonstrações contá-
primeiro modelo, retirado da obra de Aaker
beis para fusões e aquisições, servindo ainda
e Joachimsthaler (2000), o valor de marca é
de estratégia para melhorar a produtividade
estabelecido através de quatro princípios: le-
do marketing. Segundo Keller (1993, apud
aldade (as formas pelas quais o consumidor
MOZOTTA, 2011), o valor da marca baseado
se identifica com a marca: comprometido, sa-
no cliente existe quando este, depois de fami-
tisfeito ou por conta do preço oferecido), co-
liarizado, consegue manter fortes associações
nhecimento (reúne os graus de conhecimen-
com a marca.
to da marca, seja top of mind ou totalmente
Investir em brand equity significa valori- desconhecida); qualidade percebida (os fato-
zar o quão importante são o conhecimento e res pelo qual a compra é realizada, seja por
a memória para a tomada de decisão do con- diferenciação, preço atrativo, interesse nos
sumidor e o valor da marca aparece. Keller e canais de distribuição, entre outros) e asso-
58
BrandTrends Journal OUT/2015

ciações da marca (tudo aquilo que conecta o onde os consumidores possuem a capacidade
consumidor à marca, e que pode ser planeja- de extrair a marca de sua memória, as neces-
do, seja por atributos, benefícios ou atitudes). sidades que ela supre e o principal motivo da
O segundo modelo, de Kevin Keller, retirado compra; ela ocorre ainda mediante a exposi-
da obra escrita por Keller e Machado (2007), ção repetida da marca, uma vez que “quanto
consiste numa pirâmide formada por quatro mais um consumidor ‘experimentar’ a marca
pilares, sendo que só se conquista um brand por vê-la, ouvi-la ou por pensar nela, maior
equity significativo quando se chega ao seu será a probabilidade de esta ficar fortemen-
topo. São eles: 1º pilar: proeminência (forma- te registrada em sua memória.” (KELLER e
da pela capacidade do cliente em lembrar e MACHADO, 2007). Já, a imagem de marca
reconhecer a marca, tal como a identificação é quando programas de marketing ligam as-
das necessidades que a marca tem o poder de sociações (boas ou ruins) à marca na memó-
satisfazer); 2º pilar: desempenho (os meios ria. Falar em brand equity positivo, portanto,
pelos quais o produto ou serviço visam aten- significa falar de uma marca top of mind, que
der às necessidades dos clientes, podendo ser, suscita um reconhecimento favorável da mar-
por exemplo, através de relações de confiança ca e de seus produtos ou serviços e cujas asso-
ou disponibilidade, estilo, design ou preço) e ciações da marca na memória de seus clientes
imagens (associações da marca por meio de são fortes e exclusivas.
imagens mentais que refletem o que as pes-
soas pensam da marca de forma abstrata); Elementos da marca
3º pilar: julgamentos (opiniões pessoais dos Os elementos de marca são os grandes respon-
clientes sobre a marca) e sentimentos (rea- sáveis por criar, incorporar e fixar o valor da
ções emocionais dos consumidores às marcas, marca no ambiente interno e externo de uma
podendo ser dos mais diversos tipos: ternura, empresa e, tal como dito anteriormente, ser-
entusiasmo, segurança, autoestima, etc.); e vem para identificar e diferenciar a marca da
4º pilar: ressonância (natureza do relaciona- concorrência. Eles podem ser escolhidos com
mento entre cliente e marca, quando os clien- a finalidade de construir o maior brand equity
tes sentem que estão sintonizados com a mar- possível, de modo a: intensificar a lembrança
ca e demonstram fidelidade à ela). de marca na mente do público-alvo; permi-
Com base nesses modelos, é certo, por- tir que sejam formadas fáceis associações de
tanto, que construir o valor de uma marca marcas fortes e exclusivas; tal como dar vazão
significa dar valor ao grau de lembrança que a sentimentos positivos a respeito dessa mar-
esta desperta em seus clientes e nas imagens ca (KELLER e MACHADO, 2007).
que ela suscita. A lembrança da marca refere- Para constatar a importância de tais ele-
se ao reconhecimento espontâneo da marca, mentos na construção do brand equity, são
59
BrandTrends Journal OUT/2015

levadas em consideração as opiniões de um te do grau de memória e do significado neles


consumidor sobre um produto quando lhe é incumbido. O quarto critério, transferibilida-
apresentado apenas o logotipo, nome da mar- de, mostra até que ponto o elemento de marca
ca, embalagem ou qualquer outro elemen- serve para somar algo ao brand equity de pro-
to que a reforce. Sua contribuição é positiva dutos novos, extensões de linha ou categoria,
quando os consumidores formam associações assim como através de fronteiras geográficas e
fortes e favoráveis a respeito dessa marca. para distintos segmentos de mercado. Quan-
A escolha dos elementos de uma marca to menos específico e desprovido de um sig-
está pautada em seis critérios, conforme cita nificado for o nome de uma marca, mais fácil
Keller e Machado (2007). Os três primeiros ele será transferido e incorporado em novas
deles - memorabilidade, significância e atra- categorias e em diferentes lugares do mundo.
tividade - possuem natureza de construção de O quinto critério contempla a adaptabilidade
marca e oferecem grandes vantagens no mo- desses elementos ao longo do tempo. Consi-
mento da compra de um produto ou adesão derando as mudanças de valores, tendências e
de um serviço. Ao passo que os três últimos opiniões do consumidor, é comum a necessi-
critérios - transferibilidade, adaptibilidade dade de atualizar as marcas de tempo em tem-
e proteção - são de natureza defensiva, cuja po. Assim, quanto mais flexível o elemento de
finalidade é proteger a marca e garantir sua marca for, mas fácil será de atualizá-lo. E, por
exclusividade. fim, o critério de proteção, evidencia até que
ponto os elementos podem ser preservados
Uma análise sucinta desses critérios, ain-
no âmbito legal ou competitivo. É importan-
da segundo Keller e Machado (2007), aponta
que: memorabilidade é a forma de alcançar te que sejam escolhidos desde o princípio da
um alto nível de lembrança de marca a par- elaboração de uma marca, elementos que pos-
tir de elementos, ou combinações destes, que sam ser legalmente protegidos, através de re-
sejam memoráveis e fáceis de serem reconhe- gistro junto a organizações corretas, a fim de
cidos (ex.: símbolo das pegadas que reforça o evitar violações pela concorrência. Preservar
nome da marca Tigre). Significância é quando os elementos da marca significa garantir sua
o significado de um ou mais elementos permi- exclusividade.
te fáceis associações com a marca (ex.: nomes Os principais elementos de marca, segun-
baseados em lugares, pessoas ou animais). É do Keller e Machado (2007), consistem essen-
importante que esse significado informe so- cialmente em: nome de marca, domínios na
bre a categoria do produto e sobre os atribu- Internet, logotipos e símbolos, personagens,
tos e benefícios da marca. Atratividade, por slogans, jingles e embalagem. Cada um de-
sua vez, consiste na escolha de elementos que les possui suas particularidades, forças e fra-
atraem os consumidores, independentemen- quezas distintas, e é essencial mesclar esses
60
BrandTrends Journal OUT/2015

elementos para que reforcem mutuamente o lização conquistou com o passar do tempo
valor da marca. o poder de construir a imagem da marca na
mente do usuário, em três dimensões. A au-
3.BRANDING E SINALIZAÇÃO: tora ressalta que isso ocorre por meio de duas
UMA RELAÇÃO INTRÍNSECA estratégias. Uma delas, a chamada estratégia
de ‘harmonia’, é vista quando os elementos vi-
Uma vez apresentada a definição de design
suais de um projeto de sinalização podem re-
de sinalização e seu objetivo crucial; os princi-
pais pontos de atenção a serem considerados fletir e reforçar as características do ambiente,
para que um projeto desse quesito seja devi- da arquitetura do espaço, enfim, da marca e
damente construído e gerenciado, tais como criar, assim, uma identidade completa, total-
as principais etapas que envolvem esse projeto mente integrada. Essa abordagem é normal-
- desde a elaboração da proposta até o acom- mente aplicada em projetos de sinalização
panhamento técnico da implantação -; e da para ambientes que estão sendo construídos
mesma maneira, tendo sido apresentados os ou para aqueles que estão passando por uma
principais conceitos de branding - da simples grande revitalização, onde cada detalhe é tra-
definição de o que é uma marca até a constru- tado em conjunto e harmonicamente entre
ção de seu valor e posicionamento -, o desafio todos os profissionais envolvidos, sejam de-
dessa pesquisa consistiu em como relacionar signers, arquitetos, engenheiros, etc. Já, a
esses dois conceitos, ou seja, buscar o que um segunda estratégia, chamada de ‘imposição’,
significa para o outro ou em que ponto eles co- ocorre quando o sistema de sinalização tem a
lidem no gerenciamento de uma marca. liberdade de impor uma identidade singular e
Certo é que, segundo Velho (2007), con- única, independente das características visu-
forme citado anteriomente deste trabalho, a si- ais do espaço em questão. Essa abordagem é
nalização tem o poder de reforçar a identidade melhor aplicada em espaços já existentes, tais
do ambiente sinalizado e, na visão de Mozot- como: redes de transporte, cidades, escolas,
ta (2007), é capaz de criar espaços que repre- etc. Calori (2007) ainda afirma que, ao passo
sentam a empresa e comunicam as estratégias que um sistema de sinalização pode reforçar
adotadas pela mesma. Contudo, como usar a a marca, seja por estratégias de harmonia ou
sinalização para reforçar a marca na mente dos imposição, ele também é capaz de se preocu-
clientes e usuários do espaço a ser sinalizado? par antecipadamente com a disposição das in-
Como orientar espaços e comunicar estratégias formações necessárias para dispensar a preo-
empresariais ao mesmo tempo? cupação dos usuários, fazer com que estes se
Seguindo essa linha de pensamento e no sintam confiantes e seguros no espaço, e pode
propósito de responder tais questionamentos, gerar uma forte relação emocional do público
Calori (2007) defende que o Design de Sina- através da ‘marca sinalizada’.
61
BrandTrends Journal OUT/2015

A partir da curta experiência adquirida na ços ou produtos que ela oferece. O principal
prática da profissão ou em diálogos com pro- desafio do Design de Sinalização consiste em
fissionais da área, foi possível constatar que, aproximar ao máximo esses dois últimos que-
construir um projeto de sinalização visando sitos, de forma que a imagem prospectada seja
fortalecer a marca e sua gestão como um todo o mais próxima possível daquela realmente
envolve pensar desde o início em tudo aquilo enxergada, absorvida. E isso nada mais é do
que a marca transmite e no modo como dese- que posicionar a marca de forma estratégica,
ja ser vista pelo seu público. Primeiramente, como fora mencionado neste artigo.
deve-se analisar a marca como um todo: que Outro ponto a ser levado em considera-
tipo de serviço ela oferece, qual o seu diferen- ção, consiste no fato de que o ambiente a ser
cial competitivo, os benefícios que ela traz sinalizado é o principal ponto de contato com
para os seus clientes e, ainda, seus valores, a marca. Ou seja, qualquer detalhe, seja do
missão e visão, de forma a construir concei- suporte ou do sistema de sinalização em si,
tos baseados no DNA da marca, dialogando é avaliado automaticamente pelo usuário do
diretamente com seu posicionamento e a fim espaço e é capaz de influenciar o comporta-
de fortalecer o brand equity na mente dos mento do cliente para com a marca e o produ-
usuários daquele espaço. Uma vez definidos to e(ou) serviço oferecido. Assim, em acordo
os principais pontos estratégicos a serem im- com a opinião de Calori (2007), prever as ne-
plantados pelo Design de Sinalização, é preci- cessidades do espaço e do cliente é essencial
so pensar, essencialmente, em quatro quesi- para evitar possíveis riscos e para construir
tos básicos: público, concorrentes, identidade uma relação de bem-estar e segurança com a
e imagem da marca. Analisar o público signifi- marca, trazendo à tona aquilo de melhor que
ca pesquisar a fundo o comportamento deste, ela oferece.
seu estilo de vida, forma de pensar, principais Embora não seja tratada como tal pelos au-
desejos e necessidades, entre outros aspec- tores estudados, pode-se dizer que um projeto
tos. Quanto aos concorrentes, deve-se ter em de sinalização se assemelha muito a um ele-
mente avaliar os principais pontos positivos e mento de marca, pois ele é capaz de intensifi-
negativos de cada um, na forma de um apren- car a lembrança de marca na mente do usuário,
dizado para que os erros observados sirvam além de facilitar as associações positivas a se-
de alerta para o projeto e, os pontos bons sir- rem feitas com ela e, como dito agora há pouco,
vam de inspiração e referência. A identidade dar vazão a sentimentos positivos a respeito da
da marca se refere ao modo que esta marca marca. Isso nada mais é do que ser capaz de
e, portanto, a sinalização deseja ser vista. Ao construir brand equity positivo à empresa.
passo que a imagem da marca consiste na per- O Design de Sinalização é capaz de tornar
cepção do público a respeito dela e dos servi- a identidade memorável, significativa, atrati-
62
BrandTrends Journal OUT/2015

va, demonstrar transferibilidade, fácil adapti- Estudo de caso


bilidade e exclusividade. E isso é possível ao
A fim de constatar tal relação intrínseca entre
criar conceitos que explorem as característi-
o Design de Sinalização e a Gestão de Marcas,
cas-chave da marca. Assim, explorar a pale-
foram analisados dois projetos desenvolvidos
ta de cores da marca através dos serviços do
lugar ou por cada andar, sua tipografia pró- pelo núcleo de sinalização e ambientação da
pria (quando legível), o desenho da placa ou agência CBA B+G. Ambos se referem a am-
simplesmente o traço dos ícones em diálogo bientes hospitalares, porém com públicos e
com as linhas que formam o símbolo gráfico, necessidades distintas. São eles:
são pontos importantes para fazer com que a
marca seja lembrada e identificada de princí- 1º ESTUDO DE CASO
pio ao se adentrar no espaço. Promover uma
O primeiro projeto foi realizado para um re-
sinalização integrada à marca não significa
conhecido sistema cooperativista de trabalho
distribuir em todas as placas o logo da empre-
médico, presente em grande parte do territó-
sa. Isso pode vulgarizar a marca e saturá-la na
rio nacional, e considerado, pelo 21º ano con-
mente dos observadores. A própria qualida-
secutivo, segundo a pesquisa nacional do Ins-
de dos materiais significa algo e influencia os
tituto Datafolha, a marca Top of Mind quando
valores da marca. Assim, a escolha do tipo de
trata-se do assunto: plano de saúde. Este
material para compor o suporte pode trazer
hospital atende aos casos mais complexos em
tanto uma visão premium da marca, quanto
uma visão mais empobrecida da mesma. Se o especialidades de cardiologia, cirurgia vascu-
importante é mostrar que a empresa possui lar, neurologia, entre outros, e preza constan-
um alto padrão de luxo, o suporte deve con- temente por oferecer: eficiência, resultados e
dizer com essa linguagem; já, se o ambiente é medicina de alta-qualidade.
mais simples, frequentado por um público de Desafio
nível mais baixo, investir em materiais de alto
A proposta deste projeto consistiu em criar
custo tornam o projeto dispendioso, além de
um sistema de sinalização, cujo desafio resi-
poder causar certo constrangimento por parte
dos usuários. Todas essas características ge- dia em integrá-lo ao projeto arquitetônico do
ram exclusividade à marca; mais a fundo, são hospital e tornar-se um ponto de referência
capazes de comunicar que naquele espaço o para os demais hospitais da rede nacional.
usuário adquiriu o máximo de experiências Para tanto, foi necessário fazer uma análise
positivas com a marca através do visual e da a fundo sobre o público-alvo e seu compor-
funcionalidade de um bom projeto de sinali- tamento, sobre a região em que estaria loca-
zação, e garantem ainda que este usuário re- lizado, o entorno do empreendimento e, não
torne e se torne fiel à marca. menos importante, os elementos de expressão
63
BrandTrends Journal OUT/2015

da sua marca. A partir do contato direto com o Solução


cliente, foi esclarecido que a missão principal
Mediante o estudo apresentado, foi possível
do hospital reside em se destacar pelo Aten-
constatar que o projeto de sinalização deveria
dimento (mais próximo e humano). A partir
transmitir segurança e cuidado na transmis-
deste conceito, a linguagem adotada para este
são de informações visando a simplicidade.
projeto visou pelos seguintes princípios: con-
forto, qualidade, simplicidade, confiabilidade, Projeto
cuidado e proximidade. Tendo em mãos os materiais institucionais
Metodologia fornecidos pelo cliente, a agência CBA B+G
deu início aos estudos dos conceitos criativos.
Na busca por uma solução, ao estudar a marca
Todos eles preocupados em fortificar a identi-
do hospital e seu comportamento, a agência
dade da marca em questão, garantir que esta
aplicou uma metodologia que consistia em
seja notória e memorável entre seus usuários
analisar alguns pressupostos, e, por meio de-
e futuros clientes. Para tanto, foram utilizadas
les, chegar em palavras-chave, norteadoras do
as paletas de cores oficiais, cada uma delas in-
projeto. São eles:
dicando um andar, sob a finalidade de facilitar
1. Território Empresarial:
a compreensão do usuário por qual pavimen-
Preservação da vida e da saúde, prestação to ele está percorrendo. De modo a reforçar a
de serviços, atendimento humanizado, aplicação da marca, também foi explorada a
alta complexidade, segurança na informa- tipografia própria da marca nas placas, para
ção, arquitetura planejada. compor todos os tipos de informações, desde
2. Valores da Marca: textos direcionais de fluxo ou de emergência,
Cooperação, diversidade, sabedoria, li- por exemplo. O formato das placas foi inspi-
berdade, simplicidade, relacionamento, rado no selo que compõe o logotipo: a maioria
responsabilidade socioambiental. das placas possui três cantos arredondados e
um canto reto, o que tem sido muito impor-
3. Benefício Emocional:
tante para evidenciar o espaço em que a pes-
Confiança, tranquilidade, satisfação, cui- soa está inserida, sem a necessidade de repe-
dado, proteção. tir a marca pelo caminho que ela percorre.
4. Objetivo da Sinalização: Os materiais escolhidos foram 100% ali-
Entregar a essência e a identidade da mar- nhados com os acabamentos propostos pela
ca através da informação clara e direta, equipe de arquitetura e respeitam os princí-
atuando como condutor aos destinos com pios de sustentabilidade da essência da mar-
agilidade, funcionalidade, segurança, lim- ca, uma vez que as chapas de alumínio pos-
peza e autonomia. suem alto grau de durabilidade e podem ser
64
BrandTrends Journal OUT/2015

facilmente recicláveis, no caso de descarte. o segundo, com todas as regras a serem segui-
Uma vez que o fluxo do hospital é induzido das a risca para a instalação adequada de cada
naturalmente, toda a sinalização foi pensada placa desenvolvida.
seguindo o conceito ‘legendas’, aplicadas su-
tilmente, sintetizando e priorizando as infor- Resultado
mações principais de cada pavimento. Uma O resultado consistiu em um projeto de qua-
vez que as placas valorizam as curvas presen- lidade, onde foram mapeados cinco pavimen-
tes no logo, foi desenvolvida uma família ico- tos, além da área externa, fazendo uso de
nográfica própria, com base nos traços retos aproximadamente 4.030 placas para sinalizar
que compõe a tipografia. Assim como as setas todo o complexo hospitalar. O projeto tam-
direcionais, os ícones foram em sua maioria bém ajudou a dar maior visibilidade à marca,
aplicados com volume (em acrílico 5 mm de abrindo portas para o desenvolvimento de um
espessura), sob o propósito de refletir o cui- novo projeto, de cunho nacional que já está
dado da marca. em fase de concretização. Todas as escolhas

Fonte: CBA B+G, material institucional

Foi realizado, ainda, um Anteprojeto e um deste novo projeto de sinalização foram, por-
Manual de Instalação. O primeiro contendo a tanto, baseadas nos princípios da marca e na
apresentação de todas as peças contempladas procura por uma forma que expressasse tais
no projeto, assim como seus detalhamentos, valores e que fosse capaz de fixá-los na mente
construtivos, especificações técnicas e algu- dos frequentadores do hospital, contribuindo
mas informações importantes para a cotação para que os clientes se sintam seguros e satis-
e a orientação para a produção das mesmas. E feitos com os serviços ali oferecidos.
65
BrandTrends Journal OUT/2015

Fonte: CBA B+G, material institucional

2º ESTUDO DE CASO criar uma linguagem simples e compreensível


à grande parte dos usuários do hospital - mui-
O segundo projeto, por sua vez, foi planeja-
tos analfabetos ou semianalfabetos -, aplican-
do para um hospital de diferente porte, cujo
do cores e tipografias institucionais e desen-
principal foco consistia em dar suporte e for-
volvendo uma família iconográfica própria e
talecer a rede básica de saúde da região do
personalizada.
M’Boi Mirim, por meio da alta qualidade e rá-
pido atendimento a urgências, emergências e Metodologia
partos. A missão do hospital consistia em aco- Ao estudar a marca do hospital e seu compor-
lher a população local ao oferecer assistência tamento, a procura de uma solução para este
eficiente e humanizada, contribuindo assim desafio, a agência aplicou uma metodologia
para o aprimoramento do sistema de saúde. que consistia em analisar alguns pressupos-
tos, e, por meio deles, chegar em palavras-
Desafio chave, norteadoras do projeto. São eles:
A proposta desse projeto consistiu em criar
1. Território Empresarial:
um projeto de sinalização interna e externa
para o hospital, que pudesse ser adequado ao Vida e saúde, SUS, urgência, segurança na
informação.
construtivo das placas já existentes e fixadas,
cujo principal desafio residiu em organizar e 2. Valores da Marca:
conduzir o fluxo de veículos, ambulâncias e Serviços hospitalares de qualidade, volta-
pedestres (na área interna e externa do hos- dos ao atendimento público de urgências,
pital) através de uma sinalização adequada garantindo segurança ao paciente; cuida-
e segura. Para tanto, viu-se a necessidade de do, calor humano e bem-estar; referência
66
BrandTrends Journal OUT/2015

em assistência e gestão. ca em questão conhecida na mente dos usuá-


3. Benefício Emocional: rios do hospital, fazer com que a marca seja
lembrada e associada aos valores citados ante-
Confiança, tranquilidade e satisfação.
riormente, foram exploradas a paleta de cores
4. Objetivo da Sinalização:
da marca, a tipografia institucional para áreas
Entregar informações claras e objetivas frequentadas pelo público adulto. Para áreas
para todos os usuários, sem distinção, em que é mais comum a presença de crian-
para que os destinos sejam facilmente ças, foi desenvolvida uma tipografia infantil,
identificados, com agilidade, funcionali- tornando o ambiente mais lúdico, descontra-
dade, segurança e autonomia.
ído e menos pesado. A escolha do material foi
feita de modo a aproveitar 62% das estruturas
Solução
de placas que já existiam e eram usadas, de
Mediante o estudo apresentado, foi vista a ne-
modo revitalizado e reposicionadas da manei-
cessidade por implantar um sistema de sinali-
zação capaz de levar os usuários ao seu desti- ra mais funcional possível. Uma vez consta-
no de forma rápida e segura. tado que um dos principais problemas que os
usuários do espaço encontravam era o fato de
Projeto não conseguirem achar com facilidade a en-
Sob o pretexto de tornar a identidade da mar- trada do Pronto-Atendimento, foi realizado

Fonte: CBA B+G, material institucional


67
BrandTrends Journal OUT/2015

um estudo de planta onde foi possível consta- valores que a marca procura transmitir. Mui-
tar que a reinstalação de apenas um totem em to embora este projeto não teve a liberdade de
um local de destaque, seria capaz de desviar criação que o projeto anterior tivera, o desafio
a atenção da entrada principal e seria capaz foi atingido com sucesso, através da economia
de conduzir o fluxo para a entrada apropria- de materiais e do uso de uma linguagem sim-
da ao PA. Além disso, toda a iconografia foi ples e didática.
desenvolvida pensando no público - em sua
maioria, analfabetos ou semianalfabetos - e, CONSIDERAÇÕES FINAIS
por isso, apresenta formas o mais didáticas Como fora apresentado nesta pesquisa, o con-
possível, permitindo a rápida identificação e ceito de que a prática da sinalização servia
compreensão de seu significado. apenas para dispor informações legíveis sobre

Fonte: CBA B+G, material institucional

Resultado um suporte, em um determinado espaço físi-


co, cedeu lugar a uma nova visão, pela qual
O resultado consistiu em um projeto seguro e
o design é peça fundamental para construir
eficaz, onde foram mapeados quatro pavimen-
projetos efetivos e cada vez mais integrados
tos, além da área externa, totalizando cerca de ao ambiente, visando o conforto do usuário e
2.170 placas distribuídas por todo o complexo antecipar as suas necessidades no espaço em
hospitalar. O projeto foi capaz de fortalecer a que estiver inserido. Foi vista também a im-
qualidade do hospital na mente de seus clien- portância da interdisciplinaridade deste tipo
tes, ao disponibilizar a eles um espaço limpo, de projeto, uma vez que ele permite a troca
seguro, competente e de confiança - principais constante de informações entre diversos pro-
68
BrandTrends Journal OUT/2015

fissionais e, portanto, o desenvolvimento de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


projetos mais certeiros com resultados mais AAKER, David A; JOACHIMSTHALER, Erich.
precisos. De modo a garantir sua boa funciona- Como construir marcas líderes. Porto Alegre:
Artmed Editora S.A., 2000.
lidade, o Design de Sinalização também exige
que uma série de considerações sejam levadas CALORI, Chris. Signage and Wayfinding De-
sign: a complete guide to creating environ-
a sério no desenvolvimento de seus projetos,
mental graphic design systems. New Jersey:
visando sempre a boa legibilidade das informa- John Wiley & Sons, Inc, 2007.
ções e a clareza de comunicação com o público
CHAMMA, Norberto Lelé; PASTORELO, Pedro
externo. Entretanto, foi possível constatar que
D. Marcas & Sinalização: práticas em design
a funcionalidade da sinalização vai muito além corporativo. São Paulo: Editora Senac São Pau-
do que apenas atender necessidades de usuá- lo, 2007.
rios e incumbi-los das informações necessá- COSTA, Joan. A imagem da marca: um fenô-
rias para garantir sua segurança em qualquer meno social. São Paulo: Edições Rosari Ltda,
espaço que tiver inserido. Essa prática, muito 2008.
embora ainda não seja reconhecida como tal HSM MANAGEMENT. Branding como instru-
por todos os lugares em que é desenvolvida, mento de gestão. Pensamento Nacional, Ed. 91,
é fundamental para o bom gerenciamento de mar./abr., 2012.

uma marca, uma vez que é capaz de torná-la KELLER, Kevin Lane. “Conceptualizing, Me-
memorável, além de fixar seus valores na men- asuring, and Managing Customer - Based
Brand Equity”. Journal of Marketing, vol. 57,
te dos usuários e frequentadores do espaço.
1993.
Investir em um sistema de sinalização coeren-
te, efetivo e funcional, demonstra que a marca KELLER, Kevin Lane; MACHADO, Marcos.
Gestão estratégica de marcas. São Paulo: Pe-
tem domínio do mercado em que atua e de seus
arson Prentice Hall, 2007.
diferenciais competitivos, posicionando-a no
KOTLER, Philip. Marketing management.
mercado; e o mais importante, é capaz de sus-
Upper Saddle River: Prentice Hall, 2003.
citar associações positivas a respeito da marca,
influenciando o comportamento do cliente a KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Admi-
nistração de Marketing. 12 Ed. São Paulo: Pe-
respeito da mesma. Não há mais como pensar
arson Prentice Hall, 2006.
em um sistema de sinalização que não esteja
MOZOTTA, Brigitte Borja de. Gestão do De-
vinculado desde o princípio de sua construção
sign: Usando o design para construir valor de
ao branding. Essas duas práticas chegaram a marca e inovação corporativa. Porto Alegre:
construir uma relação tão próxima e íntima Bookman, 2011.
que, sinalizar um espaço significa pensar no
MURPHY, John. Nova York: Prentice Hall,
comportamento da marca desse espaço; ou em 1990.
meios de torná-la visível e notável.
69
BrandTrends Journal OUT/2015

NEUMEIER, Marty. The brand gap. O abis-


mo da marca: como construir a ponte entre a
estratégia e o design. Porto Alegre: Bookman,
2008.

VELHO, Ana Lucia de Oliveira Leite. O design


de sinalização no Brasil: a introdução de novos
conceitos de 1970 a 2000. 2007, 155f.. Disser-
tação (Programa de Pós-Graduação em Design
do Departamento de Artes & Design do Centro
de Teologia e Ciências Humanas) - Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2007.
70
ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO E
BrandTrends Journal OUT/2015

CONSOLIDAÇÃO DA MARCA

Branding e a rede de
organizações por
articulação conceitual

Geferson BARTHS
Mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul -
UFRGS. Professor da Faculdade de Comunicação Social da Uniritter - Laureate Internatio-
nal Universities. Publicitário da Escala Comunicação e Marketing, email: gefersonbarths@
gmail.com.br

Rudimar BALDISSERA
Doutor em Comunicação. Professor pesquisador do curso de Comunicação Social e do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul – UFRGS, email: rudimar.baldissera@ufrgs.br
71
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
Sob o viés enunciativo das marcas, neste estudo objetiva-se analisar as Redes de Organizações por Articulação Con-
ceitual (ROAC) (BALDISSERA, 2012, 2014) como estratégia de branding. Em sentido da gestão de marcas em socie-
dades complexas, reflete-se, a partir de dados de pesquisa empírica realizada por Barths (2013), sobre a constituição
de uma rede de organizações articuladas pela noção de sustentabilidade – a ROAC-Braskem/Sustentabilidade. Nesse
sentido, o estudo evidencia os processos de comunicação como dinamizadores da rede. A ROAC Braskem/sustentabi-
lidade é analisada mediante análise interpretativa de documentos e a semiótica (SANTAELLA, 2007; GUIMARÃES,
2000). Afirma-se que a conformação em ROACs, atualmente, configura-se em importante estratégia comunicacional
e de para as organizações que disputam sentidos e posicionamento no mercado altamente competitivo. Nessa
direção, dentre outros resultados, evidencia-se que as organizações, conceitualmente articuladas em rede, têm seu
discurso potencializado e legitimado pela (re)afirmação discursiva realizada pelas outras organizações da rede. Além
disso, pelos processos comunicacionais, são beneficiadas pela circulação e associação simbólicas positivas, o que ten-
de a lhes conferir mais visibilidade, credibilidade e, mesmo, legitimidade organizacional.

Palavras-Chave: Branding. Comunicação Organizacional. Redes de Organizações por Articulação Conceitual. Es-
tratégia. ROAC Braskem/Sustentabilidade.

Abstract
Under the enunciation bias of brands, this study aims to analyze the Organizations’ Networks by Articulation Concept
(ROAC) (BALDISSERA, 2012, 2014) as branding strategy. In sense of brand management in complex societies, it is
reflected, from the empirical research data held by Barths (2013), on the establishment of a organizations’ articulated
by sustainability notions - the ROAC-Braskem / Sustainability. In this sense, the study shows the communication
processes as facilitators of the network. The ROAC Braskem / sustainability is analyzed by interpretative analysis of
documents and semiotics (Santaella, 2007; Guimarães, 2000). It is stated that the conformation ROACs currently
sets up an important communication strategy and branding for organizations vying senses and positioning in the
highly competitive market. In this direction, among other results, it’s evidenced that organizations conceptually arti-
culated in networks, have enhanced their speech and legitimized it by the discursive (re)affirmation carried by other
network organizations. In addition, by the communication processes, they are benefited from circulation and positive
symbolic associations, which tends to give them more visibility, credibility and even organizational legitimacy.

Keywords: Branding. Organizational Communication. Organizations’ Networks by Articulation Concept. Estrategy.


ROAC Braskem/ Sustainability.

Resumen
Bajo el sesgo de la enunciación de las marcas, el presente estudio tiene como objetivo analizar las Redes de organi-
zaciones para la articulación conceptual (ROAC) (Baldissera, 2012, 2014) como estrategia de marca. En sentido de la
gestión de la marca en las sociedades complejas, se refleja a partir de los datos de la investigación empírica en poder
de Barths (2013), sobre el establecimiento de una rede de organizaciones coordinadas por la noción de sostenibilidad
- el
ROAC-Braskem / Sostenibilidad. En este sentido, el estudio muestra los procesos de comunicación como facilita-
dores de la rede. El ROAC Braskem / sostenibilidad se analiza mediante análisis interpretativo de los documentos y
la semiótica (Santaella, 2007; Guimarães, 2000). Se afirma que la conformación ROACs actualmente establece una
estrategia de comunicación importante y de marca para las organizaciones que compiten sentidos y posicionamiento
en el mercado altamente competitivo. En este sentido, entre otros resultados, la evidencia de que las organizaciones
conceptualmente coordenadas en red, han mejorado su forma de hablar y legitimado por la (re) afirmación discursiva
realizado por otras organizaciones de la rede. Además, los procesos de comunicación, se están beneficiando de la cir-
culación y de asociación simbólica positiva, lo que tiende a darles más visibilidad, credibilidad e incluso la legitimidad
de la organización.

Palabras-clave: Branding. Comunicación Organizacional. Redes de organizaciones para la articulación conceptual.


Estrategia. ROAC Braskem/ Sostenibilidad
72
BrandTrends Journal OUT/2015

1. SOBRE O CONTEXTO possibilidade de a organização existir.


Compreendidos como sistemas vivos, os siste- Nesse contexto os valores são construí-
mas sociais, conforme Capra (2002), são siste- dos, transformados e normatizados. É nele e
mas autogeradores de comunicação. Isso sig- através dele que as organizações se oferecem,
nifica dizer que eles se configuram como redes procuram diferenciação, disputam um lugar
(sua forma) de comunicações (processo) que na mente dos públicos. Porém, nessa arena de
geram significação. Basilar para esses sistemas, ofertas e disputas de sentidos, no que tange ao
a comunicação é o processo pelo qual os sen- posicionamento simbólico das marcas, essas
tidos circulam, são construídos e disputados, mesmas organizações também tendem a neu-
articulando diferentes sujeitos (individuais e/ tralizar umas às outras de modo que a distinção
ou coletivos) na forma de rede. Sob esse pris- desejada pelo acionamento de determinados
ma, aqui, assumindo-se que as organizações conceitos pode ser neutralizada ou até anulada
são microssistemas sociais, pode-se pensar pelo fato de muitas marcas explorarem os mes-
nas estruturações em rede dos sistemas orga- mos atributos (semelhantes e/ou idênticos).
nização-públicos e organização-organizações. Nessa configuração, considera-se que
Essas articulações em rede e a significação que para as organizações atingirem seus objetivos,
produzem apresentam-se fundamentais para, além de serem éticas, terem responsabilidade
dentre outras coisas, definir o lugar das orga- socioambiental, serem críveis e gozarem de
nizações na sociedade, o poder que exercem e, legitimidade, suas estratégias de comunica-
mesmo, sua legitimidade. ção e relacionamento precisam contemplar,
Nessa conformação, as organizações não necessariamente, a articulação de aspectos de
simplesmente existem. As marcas não se fe- suas identidades – acionados como “ofertas
cham em si próprias. O sentido que produzem de si” (MAINGUENEAU, 2001) aos públicos
não está nelas mesmas, mas nas relações que – e a gestão de sentidos e da visibilidade. Es-
estabelecem com outras organizações, com sas questões, dentre outras coisas, são funda-
o contexto, enfim, com outros textos, outros mentais para a construção de “imagem-con-
discursos. Isso exige compreender que os ob- ceito 1” (BALDISSERA, 2004; 2008b) positiva
jetivos organizacionais, por mais que a orga-
nização decida quais são e labore para atin- 1 Compreende-se por imagem-conceito o “cons-
gi-los, não estão isentos às perturbações intra truto simbólico, complexo e sintetizante, de caráter
judicativo/caracterizante e provisório, realizada pela
e intersistêmicas. Dentre outras coisas, os alteridade [...] mediante permanentes tensões dialó-
sistemas político, econômico, social e cultural gicas, dialéticas e recursivas, intra e entre uma diver-
sidade de elementos-força, tais como as informações
interferem diretamente na definição dos obje- e as percepções sobre a identidade (algo/alguém), a
tivos organizacionais, bem como nos proces- capacidade de compreensão, a cultura, o imaginário, a
psique, a história e o contexto estruturado” (BALDIS-
sos para sua consecução, ou seja, na própria SERA, 2004, p. 278).
73
BrandTrends Journal OUT/2015

e a conquista de “capital e poder simbólicos” aquelas que corroborem as práticas organiza-


(BOURDIEU, 2008). Trata-se, aqui, de dar re- cionais) e ampliar o seu poder e capital sim-
levo à necessidade de monitorar as ofertas de bólicos e, por outro, melhorar os índices da
sentidos da marca e suas representações. Esse relação custo-benefício – gerar mais econo-
monitoramento ganha ainda mais relevância mia em investimentos – é a atuação em rede.
se considerarmos a convergência de mídias e Para além das redes de geração e circu-
a transversalidade das tecnologias que resul- lação de bens e serviços, de informações e/ou
tam na atualização constante da comunicação redes sociais, tratam-se das “Redes de Orga-
através da multiplicidade de pontos de conta- nizações por Articulação Conceitual – ROA-
to entre os públicos e as marcas. Cs” (BALDISSERA, 2012; 2014). Essas redes
Considerando essa configuração con- estruturam-se a partir de (sobre/sob) concei-
textual, quando se atenta para os elevados tos e não se restringem, necessariamente, às
níveis de especialização em termos de merca- organizações que são parceiras comerciais.
do, bem como para a qualificação estratégica Isto é, as ROACs não se restringem, neces-
das organizações que nele atuam, parece ain- sariamente, às relações entre fornecedores e
da mais evidente o fato de que a qualificação clientes ou outras articulações dessa nature-
da comunicação organizacional pressupõe za. O que caracteriza as ROACs é sua articu-
competência analítica de cenários e articu- lação suportada em um dado conceito-chave,
lações simbólicas que apresentem potência um atributo simbólico. As diferentes organi-
suficiente, não apenas para posicionar uma zações da rede acionam o mesmo conceito de
dada marca, mas para ampliar permanente- modo a referenciá-lo, legitimá-lo. Assim, a um
mente os ganhos simbólicos e dilatar os níveis só tempo, reafirmam o conceito das organiza-
de institucionalização organizacional. Assim, ções da rede e associam-no a elas próprias.
para ampliar as possibilidades de as organi- Com isso, em vez de o conceito ser neutraliza-
zações atingirem seus objetivos e expandi- do pelas organizações em disputa simbólica,
rem as chances de permanência no mercado, tende a ser reforçado, e até a traduzir-se em
os processos de branding (gerenciamento de valor sociocultural.
marcas) apresentam-se fundamentais para a Para ampliar essa reflexão, neste estudo,
qualificação da gestão na construção de valor analisa-se a ROAC a partir da Petroquímica
para as organizações. Nessa direção, uma das Braskem2 , estruturada sobre o conceito de
estratégias que parece estar sendo materia-
lizada pelas organizações para, por um lado, 2 A Braskem é hoje a maior produtora de resinas ter-
moplásticas nas Américas, maior produtora mundial de
legitimar suas existências, potencializar seus biopolímeros com o polietileno verde e maior produtora
discursos, tornar mais visíveis determina- de polipropileno nos Estados Unidos. Dados do site
institucional. Disponível em http://www.braskem.com.
das percepções de mundo (de modo especial, br/site.aspx/Braskem-Perfil. Acesso em 03/08/2015.
74
BrandTrends Journal OUT/2015

sustentabilidade: ROAC Braskem/Sustenta- discursivamente objetivando provocar boas


bilidade. O principal objetivo é o de compre- impressões nos públicos e gerar identifica-
ender como a rede se estrutura mediante pro- ções, para, dentre outras coisas, instituírem-
cessos comunicacionais materializados nos se como referências. Compreendidas como
sites das organizações e evidenciar as poten- atores sociais e sob a perspectiva da noção
cialidades da ROAC. Para a análise dos sites de ethos discursivo, conforme Maingueneau
articulam-se, fundamentalmente, a orienta- (2008, p. 13), afirma-se que elas procuram
ção semiótica (SANTAELLA, 2007; GUIMA- “causar boa imagem de si capaz de convencer
RÃES, 2000) e as orientações para a análise o auditório, ganhando sua confiança”. Para
do discurso, conforme Verón (1980; 2004). isso, é provável que ajam no sentido de me-
lhor conhecer os valores e padrões sociocul-
2. BRANDING E COMUNICAÇÃO turais dos públicos para, após, oferecerem/
ORGANIZACIONAL enunciarem a sua melhor face, capaz de gerar
Tem-se que a comunicação organizacional é identificações dos públicos com a marca.
o “processo de construção e disputa de senti- Entender a marca pela sua enunciação,
dos no âmbito das relações organizacionais” conforme Perotto (2007) é também considerá
(BALDISSERA, 2008a, p. 169). Assim, e na -la um projeto discursivo que propõe sentidos
perspectiva do presente estudo, dá-se especial aos públicos. O autor afirma que a marca con-
relevo à questão de a comunicação ser, funda- temporânea apresenta quatro características
mentalmente, relação, e atenta-se para o fato essenciais: é uma “instituição social”; é um
de que qualquer relação que qualquer sujeito “fenômeno de natureza essencialmente dis-
estabelecer com alguma organização impli- cursiva”; “procura produzir sentido” e é “sig-
cará em produção de sentidos. Sob o prisma nificante”; e “institui-se como sujeito” pelo
da gestão de marcas, essa compreensão exige fato de sua identidade ser construção social.
que se atente para os processos enunciativos, A significação da marca, portanto, não está
ou seja, para todas as formas pelas quais a or- em si mesma (imanente em seu discurso),
ganização/marca se faz presente para os pú- mas nas relações que estabelece com outras
blicos e produz significação. marcas em um dado contexto, isto é, “nas me-
Considerando-se o viés estratégico, po- diações e na força de mobilização semiótica
de-se dizer que as organizações, no âmbito extratextual e intertextual que estabelece por
da sua comunicação oficial, da fala autoriza- sua enunciação” (PEROTTO, 2007, p. 133),
da (dimensão da “organização comunicada”, pois que a produção de sentido a partir do dis-
conforme Baldissera (2009)), tendem a sele- curso é “um trabalho social dentro do conjun-
cionar aquilo que consideram ser os melhores to produtivo de uma sociedade dada ou de um
aspectos de sua identidade para oferecê-los tipo de sociedade” (VERÓN, 1980, p. 22). As-
75
BrandTrends Journal OUT/2015

sim, pode-se pensar que a marca é uma espé- setor/gênero/subgênero, como, por exemplo,
cie de amálgama dos sentidos nela investidos marcas de carros, marcas-país); b) produção
nos diferentes momentos de sua conformação de sentido pelas relações que a marca esta-
e reconhecimento, isto é, nos processos e con- belece com outros universos discursivos (por
dições de sua produção, circulação e interpre- exemplo: com um movimento artístico ou
tação/atribuição de sentidos pelos públicos, com um discurso ideológico específico); e c)
em um contexto e condições específicas. produção de sentido pelas relações estabeleci-
As operações de conformação discursi- das pela marca com outros discursos que, de
va – de investimento de sentidos (VERÓN, acordo com Verón (1980, p. 80. Grifos do au-
1980) –, dentre outras coisas, (re)articulam tor), mesmo tendo participado de “etapas ou
e (re)circulam os valores dos diferentes siste- momentos do processo de sua produção, não
mas (concepções de mundo) em que a marca aparecem na ‘superfície’ do discurso ‘produzi-
se insere. Esses sistemas, de acordo com Pe- do’ ou ‘terminado’”. Sobre essa dimensão da
rotto (2007, p. 134) contemplam “as grandes intertextualidade, Perotto (2007, p. 135) afir-
estruturas de valores e discursos – as macro- ma que se trata de algo muito acentuado no
narrativas – que organizam a vida econômica, discurso das marcas, pois que “elas circulam
social, política, cultural etc., mas também as vínculos de imagem muito fortes relacionados
idiossincrasias, expectativas, desejos, proje- aos valores psicossociais e sistemas de valo-
ções etc. de indivíduos e grupos – as micro- res da recepção”, e isso fica evidente “nas sutis
narrativas –, além daquelas próprias a cada sugestões de inclusão ou exclusão social nos
marca”. Ainda conforme o autor, pela sua discursos de determinadas marcas”.
enunciação, a marca não apenas faz circular Essa compreensão evidencia a complexi-
tais valores como também faz com eles circu- dade dos processos de gestão de marcas que,
lem socialmente a própria marca. para além de sua tangibilidade na produção
Sob essa perspectiva, como se ressaltou, o de bens, precisam atentar para a gestão de
sentido é produzido nas relações que a marca sentidos. Isto é, os sentidos dos bens produ-
(processos enunciativos e materializações em zidos (qualidade e valores praticados), das
enunciados) – o texto – estabelece com ou- ações de responsabilidade socioambiental,
tros textos nos diversos contextos. Tratam-se dos procedimentos éticos, da geração de em-
das relações de intertextualidade que podem pregos e/ou do recolhimento de impostos, das
ser pensadas, conforme propõe Verón (1980) imagens que oferece de si, dentre outras coi-
sob três dimensões: a) produção de sentido sas, não está nas práticas materializadas por
pelas relações intertextuais materializadas uma determinada marca, senão que está na
no mesmo universo discursivo (relações es- relação que essas práticas estabelecem com as
tabelecidas entre marcas do mesmo universo; práticas de outras marcas, em contextos espe-
76
BrandTrends Journal OUT/2015

cíficos, e tensionadas a discursos diversos. A (KELLER e MACHADO, 2006), visto que es-
essa luz, considerando-se a multiplicidade de tratégias de branding tendem a resultados
públicos e contados que estabelecem com as de valor intangível, geralmente sem impac-
organizações, pode-se afirmar que os proces- to direto/imediato no resultado financeiro.
sos de branding precisam atentar para os seus Pode-se dizer que o brand equity3 é a
padrões socioculturais, aprimorar a escuta de noção mais importante do branding. Está
modo a poder, de fato, compreendê-los a par- relacionado ao fato de se obter resultados
tir de seus próprios lugares de fala e qualificar diferentes daqueles que se obteria se os pro-
os processos comunicacionais. É preciso que a dutos ou serviços não fossem vinculados e
marca faça sentido para os públicos; e não se identificados pela marca. O brand equity
trata de fazer qualquer sentido. atua sob duas dimensões: o valor patrimo-
Se as ideias de branding, de alguma for- nial da marca (organização) e o valor agrega-
ma, não são recentes, na última década elas do a uma marca. O primeiro está ligado aos
têm assumido centralidade na comunicação bens de valores tangíveis, como terreno, pré-
organizacional, passando a fazer parte do dio, móveis, frota etc., já o segundo, refere-se
dia a dia de um grande número de organiza- aos bens intangíveis, aqueles obtidos através
ções, especialmente aquelas que estão inse- dos sentimentos e significados, estabeleci-
ridas em cenários de maior competitivida- dos entre a organização e o público, como,
de. A equiparação entre os bens (produtos por exemplo, a imagem-conceito favorável.
e serviços) oferecidos é resultado dos mo- Assim, segundo Pinho (1996, p. 46), “o valor
vimentos de globalização, onde o preço e a patrimonial da marca presente no conceito
qualidade, entre outros aspectos funcionais,
não são suficientes para a distinção e, des- 3 Brand equity é o valor adicional da marca sob o
sa forma, a gestão de marca torna-se fator prisma do consumidor e da empresa que a possui
para diferenciar seus produtos/serviços e a própria
decisivo. Importa observar que, para Keller organização (ou instituição, pessoa e ideia). Para o
e Machado (2006), o branding compreende consumidor, é o quanto ele se dispõe a pagar a mais
devido à síntese da experiência positiva de valor que
um conjunto de atividades para otimizar a a marca lhe assegura – com base no seu (dela) passa-
gestão da marca de modo a estabelecer dife- do e na perspectiva do futuro. Para a organização, é
a somatória do valor de sua franquia de mercado, ou
rencial competitivo. Dentre outras, o bran- seja, a multiplicação de quantas pessoas a preferem
ding contempla uma série de práticas como e de quanto cada uma está disposta a pagar adicio-
nalmente ao custo de um bem ou serviço pelo que ela
pesquisa de mercado e de comportamento representa em seu universo de consumo. (SAMPAIO,
do consumidor, design, avaliação de ques- 1999). Conforme Keller e Machado (2006), BRAND
EQUITY pode ser traduzido, de forma aceitável, como
tões financeiras e legais, posicionamento “patrimônio de marca” ou “valor da marca”. Segundo
e comunicação. Além disso, é necessário os autores, não há uma definição sobre a tradução
do termo, por isso opta-se por usar o termo na forma
“comprometimento e visão de longo prazo” original, como é empregado geralmente.
77
BrandTrends Journal OUT/2015

de brand equity revela a diferença entre o va- e, com isso, serem valoradas positivamente.
lor líquido do patrimônio da empresa e valor Conhecer os públicos, seus valores e códigos
pelo qual ela poderá ser vendida”. Trata-se culturais, como se disse, permite que atua-
de um incremento patrimonial, portanto, as lizem estratégias comunicacionais que têm
duas dimensões são complementares, visto mais chances de gerar simpatia, ou seja, com
que o valor agregado é determinante para o mais potencialidade de os públicos se identifi-
crescimento do valor patrimonial. carem com elas, seus fazeres, produtos, ideias,
A noção de brand equity reforça a im- concepções de mundo. O monitoramento dos
portância da marca nas estratégias da comu- níveis de visibilidade, da imagem-conceito e
nicação organizacional, principalmente no das falas dos públicos sobre a marca, a análi-
que diz respeito ao valor agregado. Todos os se criteriosa dessas informações, bem como a
tipos de branding têm como objetivo suprir retroalimentação sistêmica (tanto no sentido
as necessidades de distinção, comunicação e de qualificação da organização como dos seus
significação da marca e, dessa forma, as or- processos discursivos) visando diferenciação
ganizações tendem a usar as mais diversas é, fundamentalmente, estratégia de posicio-
estratégias para conseguir posicionar-se no namento. No entanto, conforme alerta Baldis-
mercado e, principalmente, para conquis- sera (2014), atualmente, associar conceitos/
tar lugar privilegiado na mente dos públi- atributos a uma marca na perspectiva de dife-
cos (RIES; TROUT, 2002). No âmbito da renciá-la constitui-se em tarefa cada vez mais
comunicação organizacional, sob as várias complexa e difícil (exaustiva), visto que exige
técnicas e meios, as organizações tendem a muito investimento de tempo, dinheiro e es-
materializar estratégias para conquistar vi- tratégia e, ainda assim, tal diferenciação pode
sibilidade qualificada e oferecerem-se aos ser rapidamente anulada pelas forças con-
públicos como organizações a serem respei- correntes (outras marcas) que se apropriam
tadas, admiradas, legitimadas. Nessa dire- dos mesmos conceitos/atributos. Contudo,
ção, como que em um jogo de luz e sombras, da mesma forma que outras organizações se
determinados aspectos das identidades des- constituem concorrentes/obstáculos, em ou-
sas organizações são iluminados, mostrados, tra direção, pode-se pensar que também po-
assumem visibilidade pública, enquanto ou- dem ser importantes parceiros estratégicos
tros são postos em lugares menos visíveis, na tentativa de conferir visibilidade, credibi-
em suspenso, intencionalmente esquecidos lidade, gerar imagem-conceito positiva à or-
ou mesmo defenestrados. ganização e, mesmo, legitimá-la. Consiste em
De modo semelhante, também é provável inverter a tendência de disputas pelas asso-
que as organizações se articulem para, de al- ciações simbólicas, propondo relações onde o
guma forma, espelhar os desejos dos públicos discurso estratégico se configure em articula-
78
BrandTrends Journal OUT/2015

ções em rede. tre seus componentes e depende de sua estru-


turação. O segundo diz respeito à habilidade
para lidar com interesses e objetivos diversos
3. REDES DE ORGANIZAÇÕES POR
de cada organização. Supõe-se que são diver-
ARTICULAÇÃO CONCEITUAL -
sas as possibilidades de conformações em re-
BRASKEM/SUSTENTABILIDADE
des. Dentre elas, pode-se pensar em redes que
Uma rede, conforme Fragoso, Recuero e
se configuram a partir de um nó nuclear (um
Amaral (2011, p. 115), é “uma metáfora es-
ator social nuclear– uma organização, um su-
trutural. Quando focamos um determinado
jeito, um grupo – que se conecta a outros ato-
grupo como uma rede, estamos analisando a
res/coatores) e em outras que não apresen-
sua estrutura”. Elas afirmam que na base da
tam esse núcleo central. Os desdobramentos
estrutura da rede estão os nós (atores sociais/
também são diversos, desde situações em que
organizações e suas representações) e as co-
o ator nuclear (organização, no caso deste es-
nexões (podendo ser entendidas como as in-
tudo) exerce forte influência sobre os demais
terações dos atores e/ou as articulações da
atores, até situações em que as influências são
estrutura). Em perspectiva abrangente, consi-
múltiplas e multidirecionais. A imprevisibili-
dera-se que as redes se configuram como “um
dade parece ser uma importante característi-
conjunto de nós (sujeitos/organizações/pon-
ca da sociedade interconectada em rede.
tos), concretos ou abstratos, que, de alguma
forma, estão interligados, em variados tipos Importa, para melhor compreender a
de relações e graus de distribuição, de modo atuação em rede como estratégia, abordar a
que elementos tangíveis ou intangíveis pos- questão das conexões entre as organizações.
sam circular entre tais nós” (BALDISSERA, As associações (conexões sociais), segundo
2014, p.8). Levando-se em conta o crescimen- Vale (2007), podem ser mensuradas quanto à
to exponencial dos pontos de contato entre as força (laço) que une os participantes da rede.
marcas e seus públicos, particularmente nos A autora define dois tipos de laço: “laços for-
últimos anos, as “redes são e serão os compo- tes” e “laços fracos”. Os primeiros, são aqueles
nentes fundamentais das organizações e são que unem certos atores “de maneira mais in-
capazes de expandir-se por todas as avenidas tensa dentro de uma mesma rede [...], embora
e becos da economia global porque contam possam facilitar o consenso grupal, tendem a
com o poder da informação” (CASTELLS, reforçar as barreiras excludentes de acesso ao
1999, p. 188). O autor destaca dois atributos grupo” (VALE, 2007, p. 56 e 82) e, de certa
fundamentais para uma rede desenvolver-se forma, conferem maior segurança às informa-
e obter bom desempenho: a conectividade e a ções/capital da rede. Os laços fracos, por sua
coerência. O primeiro refere-se à capacidade vez, tendem a ser mais superficiais, “estreitos
de minimizar os ruídos na comunicação en- e restritos aos propósitos, tarefas, projetos e
79
BrandTrends Journal OUT/2015

atividades momentâneas”. Eles não apresen- pela rede, estar articuladas conceitualmente,
tam a mesma regularidade dos laços fortes, atualizando semelhantes sentidos discursi-
possuem maior “mobilidade, neutralidade vos. Com isso, as organizações objetivam ver
emocional e difusão espacial” (VALE, 2007, tais conceitos associados a elas (marcas, bens
p. 56). A partir dessas possíveis conexões, a oferecidos), potencializando, dentre outras
discussão sobre fatores de influência nas ar- coisas, os ganhos simbólicos. Nesse sentido,
ticulações em rede – de qualidade simbólica Barths (2013, p. 42) observa que
– pode ser incorporada à gestão das marcas as ROACs se constituem como pro-
cesso estratégico pelo qual um dado
no sentido de condicionar a produção de sen-
conceito que apresenta potência
tido na comunicação organizacional como para gerar retornos positivos para as
uma forma/tentativa de conferir força e es- organizações passa a ser empregado,
com diferentes intencionalidades,
tabilidade diante do cenário de perturbações
em rede, isto é, o conceito aparece
e incertezas que caracterizam a comunicação nos discursos das diversas organiza-
no âmbito organizacional. ções sempre atualizando algum ín-
dice que permita, de alguma forma,
Uma possibilidade contemporânea de se estabelecer relações entre a fala e/ou
pensar as redes é a sua ocorrência a partir de comportamento de uma organização
um ou mais conceitos articuladores, ou seja, com a fala/comportamento das ou-
tras organizações da rede.
as Redes de Organizações por Articulação
Conceitual – as ROACs. Conforme proposto Esse processo estratégico desencadeia
por Baldissera (2012), essas redes se consti- uma espécie de teia de significados – forma-
tuem em perspectiva conceitual à medida que da pelas relações em rede e (re)produzidos na
o elemento dinamizador da estruturação é arena de circulação simbólica. Dessa forma,
um conceito, e tem “o propósito de gerar e/ não apenas as organizações são os
agentes construtores da rede, iden-
ou fortalecer o posicionamento simbólico no tificando-se – em algum nível e sob
mercado de modo que determinados atribu- alguma perspectiva – com os concei-
tos/conceitos sejam associados às marcas aí tos articuladores, senão que as pró-
prias organizações, hologramática,
articuladas” (BALDISSERA, 2014, p. 10). As dialógica e recursivamente (MORIN,
ROACs, estruturadas a partir de conceitos 2000, 2001), prendem-se à rede e
(sobre e sob conceitos, pois que também se são construídos por ela. Assim, além
de o simbólico (re)circular na rede,
submetem aos sentidos que os conceitos atua-
é permanentemente (re)construído
lizam – ao constituírem a rede as organizações pelas organizações conectadas e, dis-
prendem-se a ela), não se restringem às orga- cursivamente, exerce-se como força
na construção da identidade de mar-
nizações que são parceiras comerciais, isto é,
ca e na sua imagem-conceito (BAL-
organizações que, em princípio, não estabe- DISSERA, 2014, p. 11).
lecem qualquer transação comercial, podem,
80
BrandTrends Journal OUT/2015

A este ponto, para ampliar essa reflexão riam consideradas nós da rede, Barths (2013)
mediante a evidenciação de sua ocorrência em adotou os seguintes critérios: a) existência de
um caso particular, e exemplificar a constitui- algum elemento que evidenciasse relação con-
ção de ROACs como estratégia orientada para ceitual à noção de sustentabilidade conforme
o branding, recuperam-se dados do estudo a organização nuclear (referência a produtos,
realizado por Barths (2013), que identifica e selo, conceito, dentre outros elementos possí-
explora a ROAC – Braskem/Sustentabilidade, veis); b) referência nominal à organização nu-
conforme se apresenta a seguir. clear como produtora de “plástico verde”; c)
Para a constituição do corpus de estudo, referência, no site da Braskem, à organização
após a definição da ROAC Braskem/Sustenta- que emprega o plástico verde. Somente foram
bilidade como objeto a ser investigado, a pes- consideradas as organizações que atendiam
quisa empírica explorou o site institucional4 a, no mínimo, um desses critérios. Com base
da organização Braskem (organização nuclear nisso, foram selecionadas 21 organizações5
a partir da qual essa rede se constitui) para que compõem a rede em seus três níveis (Fi-
verificar a existência de elementos que atuali- gura 1), sendo que o nó nuclear é a própria
zassem a ideia de sustentabilidade. Da mesma Braskem.
forma, o site da Braskem serviu de base para Articulado ao nó central, o primeiro nível
a identificação das organizações que consti- da rede é composto pelas organizações parcei-
tuíam a rede. Após, a mesma investigação foi ras da Braskem no que diz respeito ao plástico
realizada nos sites dessas organizações. Com- verde. Essas organizações são apresentadas
plementarmente, e com procedimento explo- no site institucional da Braskem. De acordo
ratório amplo e aberto, a pesquisa também foi com o que se disse, para compor o corpus de
realizada através de sites de busca da internet estudo, foram selecionados dos sites institu-
e em páginas de organizações diversas (por cionais das organizações, os conteúdos que se
acessibilidade). referirem ao tema sustentabilidade e/ou plás-
Assim, foram mapeadas (identificadas) tico verde. Após essa primeira etapa de iden-
organizações que se articulam para constituir tificação e seleção dos materiais, uma nova
a ROAC Braskem/Sustentabilidade. Importa leitura analítica foi realizada, em profundida-
ressaltar, desde aqui, que a pesquisa não ob- de, para validar a amostra e, se fosse o caso,
jetivou identificar todas as organizações da excluir os materiais que não apresentassem
rede, mas evidenciar a ocorrência da rede e
as estratégias discursivas que aí se materiali- 5 Organizações que compõem o nível 1: Acinplas, Co-
ca-Cola, Cromex, Danone, Ecover, Embalixo, Estrela,
zavam. Na definição das organizações que se- Johnson & Johnson, Natura, Nobel Pack, Petropack,
Plastic Omnium, Proctor & Gamble, Papier-Mettler,
Shiseido, Sphere, Tetra Pak e Toyota Tsusho. Organi-
4 www.braskem.com.br/site.aspx/plásticoverde zações que compõem o nível 2: Nestlé e Pompéia.
81
BrandTrends Journal OUT/2015

Figura 1: Níveis de rede Braskem/Sustentabilidade.


Fonte: Barths (2013, p. 69).

alguma marca da ROAC Braskem/Sustenta- Como premissa, tem-se o fato de que se


bilidade. Para evidenciar o segundo nível de está diante de produtos e efeitos de sentidos
rede, o estudo procurou identificar organiza- que se manifestam na comunicação apresen-
ções que estavam articuladas, pelo conceito tada nos sites das organizações que compõem
da Sustentabilidade, àquelas que estavam vin- a ROAC. Nessa direção, para a análise dos ma-
culadas à organização nuclear. Nessa etapa, a teriais selecionados foi empregada a semióti-
pesquisa identificou que, em perspectiva da ca (SANTAELLA, 2007; GUIMARÃES, 2000)
ROAC Braskem/sustentabilidade, as organi- e as orientações para a análise do discurso,
zações Nestlé e Pompéia estavam, em algum conforme Verón (1980; 2004), para que fosse
grau, articuladas às organizações Tetra Pak possível explicitar os sentidos de sustentabi-
e Nobel Pack (do nível 1), de modo que essas lidade acionados na rede, bem como os tipos
passaram a constituir o corpus do estudo. e qualidades das articulações entre as orga-
82
BrandTrends Journal OUT/2015

nizações. A análise (conforme Santaella ao nome da organização nuclear da rede re-


(2007)) compreendeu as seguintes etapas: alizada pelas organizações de primeiro e se-
a) organização e ordenação; b) análise ex- gundo níveis da rede como forma de endosso
ploratória documental; c) seleção; d) aná- e legitimação do seu discurso; 3) referência
lise semiótica: considerando que, entre os textual ao plástico verde ou a expressões que
objetivos da pesquisa, estavam a identifi- remetem a ele realizada pelas organizações
cação de estratégias de comunicação e de de primeiro e segundo níveis da rede; e 4)
articulação conceitual, a análise dos ele- emprego de logomarcas das organizações
mentos selecionados foi realizada com base parceiras no site da Braskem, apresentando
no princípio de referencialidade das men- os vínculos primeiramente comerciais que,
sagens. Para isso, três níveis de observação posteriormente, tornam-se articulações para
foram respeitados nessa ordem: 1) aspec- trocas simbólicas.
to icônico 2) aspecto indicial e 3) aspecto
simbólico. É importante ressaltar que es-
ses três aspectos podem estar presentes em
qualquer elemento, porém, no estudo, rece-
beu ênfase o aspecto mais relevante para a
pesquisa. Para além desses passos, também
foram analisadas as articulações e estrutura
da ROAC Braskem/Sustentabilidade.
Com base na análise realizada nos sites
das organizações que constituem a ROAC em
primeiro e segundo níveis e na identificação
Figura 2: Índices articuladores - selo I’m green.
das estratégias utilizadas pela Braskem para Fonte: http://www.braskem.com.br/site.aspx/I-m-green.
Acesso em 11/09/2012.
instituir-se como uma organização com sus-
tentabilidade, o estudo explorou os sites das Conforme Barths (2013), a análise do
demais organizações selecionadas para iden- site da Braskem permitiu que rapidamente
tificar quais índices, lá materializados, arti- fossem identificados os primeiros índices
culavam as organizações para a constituição de articulação entre as organizações, pois
da ROAC. A pesquisa de Barths (2013) evi- que nele eram veiculadas as logomarcas de
dencia quatro principais índices: 1) emprego organizações “parceiras”. Essa constata-
da logomarca “I´m green” (figura 2) pelas ção, para além do fato de as organizações
organizações que compõem a rede para ex- da rede realizarem algum tipo de referência
pressar a ideia de sustentabilidade pelo uso à Braskem, conforme índices que se desta-
do plástico verde da Braskem; 2) referência cou, sob a perspectiva do conceito/atribu-
83
BrandTrends Journal OUT/2015

to “sustentabilidade”, também revela fluxo RESULTADOS E REFLEXÕES


simbólico em, pelo menos, dois sentidos: da O caso estudado por Barths (2013) – ROAC
Braskem para as organizações da rede; das Braskem/Sustentabilidade – evidencia clara-
organizações da rede para a Braskem. Con- mente a estruturação de Redes de Organiza-
firmando, assim, o caráter recursivo da rede ções por Articulação Conceitual. Porém, mais
em termos de associação e (re)circulação do que apenas identificar uma ocorrência par-
simbólicas. ticular desse tipo de rede, o estudo confirma o
Os índices que articulam as organizações fato de que essa conformação, mediante dife-
que compõem a rede determinam a estrutu- rentes estratégias de (re)circulação simbólica,
ra da mesma e orientam para o conceito que é fértil no sentido de potencializar os discur-
constitui a ROAC. A figura 3, a seguir, repre- sos, além dos prováveis desdobramentos em
senta a estrutura da ROAC – Braskem/Sus- termos de ganhos simbólicos (como de ima-
tentabilidade (trata-se de uma visão parcial, gem-conceito), de institucionalização concei-
uma vez que o estudo não se propôs a revelar tual, e mesmo ganhos econômicos (como por
todas as estruturas e organizações articula- exemplo, valor de marca).
das). Observa-se que, na figura 3, o sentido As ROACs têm potência para, estrategica-
da seta indica a direção da conexão: seta mente, gerar:
apontando em direção à organização nuclear a) economia: 1) financeira: em um merca-
indica que a organização de primeiro ou se- do onde a exposição midiática custa muito
gundo nível da rede faz referência (conforme caro, a estratégia de articulação em rede,
índices da legenda) à Braskem em seu site; se comparada às práticas recorrentes, pa-
seta apontando no sentido dos níveis, indica rece ser uma possível estratégia de comu-
que foi a Braskem que fez referência a uma nicação de caráter dinâmico e com custo
organização desses níveis. mais baixo; e 2) discursiva: a (re)afirma-
A pesquisa realizada por Barths (2013) ção em rede, ao potencializar o discurso,
consegue revelar diferentes fluxos de arti- permite resultados mais significativos
culação na rede, não apenas no sentido de com menor investimento discursivo.
referenciar e/ou ser referenciado pela orga- b) potencialização discursiva: as ROACs
nização nuclear Braskem (nó central), mas ampliam a potência dos discursos organi-
também o fato de que à medida que o mesmo zacionais sobre determinados conceitos,
atributo é acionado pelas organizações essa ou seja, pela convergência, pela repetição
articulação também se dá de modo lateral e e pelo alargamento de sua ocorrência o
transversal, complexificando e potencializa- discurso tende a atingir níveis mais ele-
do os fluxos simbólicos da rede. vados de potência de instituição do que
84
BrandTrends Journal OUT/2015

Figura 3: Estrutura da ROAC Braskem/Sustentabilidade.


Fonte: Barths (2013, p. 96).
85
BrandTrends Journal OUT/2015

é afirmado, atingindo, inclusive, públicos a Braskem “surfa” na “onda verde” e se be-


que podem não ser públicos diretos da or- neficia das associações simbólicas que esse
ganização. fenômeno lhe oferece). Ao devolver aos
c) ressonância 6: analogamente ao fenô- públicos as suas próprias faces, mediante
meno físico, pode-se dizer que nas ROACs espelhamentos, as organizações tendem a
a energia é transferida de maneira dinâmi- gerar predisposição a que lhes sejam mais
ca de uma organização (sistema oscilante) simpáticos, isto é, identificados com elas.
para outra, através de um conceito/atri- Então, é provável que a imagem-conceito
buto/projeto articulador e comum (mes- dessas organizações seja positiva e o seu
ma frequência). Desse modo, o conceito capital simbólico ampliado.
articulador da ROAC assume relevância, e) legitimidade organizacional: a existên-
destacando-se dos demais, pois que pela cia de qualquer organização exige legi-
reverberação os sentidos produzidos são timidade, e a ROAC possibilita a perma-
redimensionados/potencializados. nente justificação de sua ocorrência no
d) espelhamento e simpatia: diretamente sentido de que organização da rede atende
articulado às questões da ressonância e da às necessidades da sociedade na acepção
potencialização discursiva, o espelhamen- moral, ética, e de produção de bens (pro-
to tende a fortalecer o discurso de uma dutos e serviços) e, portanto, em sentido
organização na rede e, à medida que esse do desenvolvimento da sociedade para o
espelhamento ocorre, mais visibilidade e algo sempre melhor.
vínculos poderá produzir. Da mesma for- Por fim, importa dizer, ainda, que uma
ma, pode-se pensar no fato de a ROAC es- ROAC que se articula em torno de um con-
pelhar os desejos da sociedade pelo acio- ceito forte tem potência para redimensionar o
namento de um conceito positivamente valor e o poder das marcas (organizações) que
valorado por ela (como foi o caso da no- a constituem. Então, decidir sobre os concei-
ção de sustentabilidade, atributo aciona- tos que se quer associados à marca exige pen-
do pela ROAC Braskem/Sustentabilidade sar mais amplo, pensar na sua potencialidade
que, de acordo com Barths (2013), ao de- discursiva.
senvolver o denominado plástico verde e
seus desdobramentos discursivos, em es-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
pecial a criação da logomarca “I’m green”, BALDISSERA, Rudimar. Imagem-conceito: an-
terior à comunicação, um lugar de significação.
6 A ressonância é um sistema físico que compreende a Porto Alegre: 2004. Tese (Doutorado) - PUC/RS.
transferência de energia de um sistema oscilante para
outro quando a frequência do primeiro coincide com a
_______. Comunicação organizacional: uma
do segundo. reflexão possível a partir do paradigma da com-
86
BrandTrends Journal OUT/2015

plexidade. In: OLIVEIRA, Ivone Lourdes de; SO- Adriana. Métodos de pesquisa para internet. Por-
ARES, Ana Thereza Nogueira (orgs.). Interfaces e to Alegre: Sulina, 2011.
tendências da comunicação no contexto das or-
GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação:
ganizações. São Paulo: Difusão Editora, 2008, p.
a construção biofísica, linguística e cultural da
149-177.
simbologia das cores. São Paulo: Annablume,
_______. Significação e Comunicação na cons- 2000.
trução da imagem-conceito. Revista Fronteiras -
KELLER, Kevin Lane; MACHADO, Marcos. Ges-
estudos midiáticos. São Leopoldo (RS): Unisinos.
tão estratégica de marcas. São Paulo: Pearson
Vol. X, n. 3: (p.197), set/dez 2008.
Prentice Hall, 2006.
__________. Comunicação Organizacional na
MAINGUENEAU, Dominique. A propósito do
perspectiva da complexidade. Revista Organi-
ethos. In: MOTTA, Ana Raquel e SALGADO, Lu-
com, ano 6, edição especial, número 10/11, 2009.
ciana (Orgs.). Ethos discursivo. São Paulo: Con-
p. 115-120. Disponível em: http://revistaorgani-
texto, 2008, p. 11-29.
com.org.br/sistema/index.php/organicom/arti-
cle/view/194/294 . Acessado em 25/07/2015. _______. Análise de textos de comunicação. São
Paulo: Cortez, 2001.
_______. Relações públicas em turismo. In:
CASTILLO, Antonio; KUNSCH, Margarida M. K. PEROTTO, Evandro Renato. Conceituando a
(Orgs.). Relaciones públicas y comunicación or- marca pela enunciação: uma proposta do campo
ganizacional: conceptos y aplicaciones. Espanha: da comunicação. Brasília, 2007. 93f. Dissertação
Zamora, 2012 (No prelo). (Mestrado) – Faculdade de Comunicação, Progra-
ma de Pós-Graduação em Comunicação. Brasília:
_______. Comunicação Organizacional e Gestão
Universidade de Brasília, 2007.
de Marca: redes de organizações por articulação
conceitual. XXIII Encontro Anual da Compós, PINHO, José Benedito. O poder das marcas. São
Universidade Federal do Pará, 27 a 30 de maio de Paulo: Summus, 1996.
2014.
RIES, Al; Trout, Jack. Posicionamento: a batalha
BARTHS, Geferson. Comunicação organizacio- por sua mente. São Paulo: Pearson Makron Books,
nal e branding: a rede de organizações por ar- 2002.
ticulação conceitual Braskem/Sustentabilidade.
Porto Alegre. 2013. Dissertação (Mestrado em Co- SANTAELLA, Lúcia. Semiótica Aplicada. São
municação e Informação) – UFRGS, Porto Alegre. Paulo: Thompson Learning, 2007a.

BOURDIEU, Pierre. A produção da crença: con- VALE, Gláucia Maria Vasconcellos. Territórios
tribuição para uma economia dos bens simbóli- Vitoriosos: o papel das redes organizacionais.
cos. Porto Alegre: Zouk, 2008. Rio de Janeiro: Sebrae, 2007.

CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação: A Ciência, a VÉRON, Eliseo. A produção de sentido. São Pau-
Sociedade e a Cultura emergente. São Paulo, SP: lo: Cultrix, 1980.
Editora Pensamento-Cultrix Ltda, 2002. _______. Fragmentos de um tecido. São Leopol-
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era do: Editora Unisinos, 2004.
da informação: economia, sociedade e cultura.
São Paulo: Paz e terra, 1999.

FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel; AMARAL,


87
METODOLOGIAS PARA A PESQUISA BrandTrends Journal OUT/2015

E PARA A GESTÃO DA MARCA

O que é
uma marca?
Ampliando o rigor teórico
na definição do conceito

Carlos Eduardo LOURENÇO


Doutorando do Curso de Administração de Empresas da FG-
V-EAESP. Professor do curso de graduação em Administração de
Empresas da FGV-EAESP, email: carlos.lourenco@fgv.br.

Henrique de CAMPOS JUNIOR


Doutor em Administração de Empresas na FGV – SP (2014) na
linha de pesquisa de Estratégias em Marketing. Professor da
EAESP - FGV. Coordenador dos cursos de pós-graduação de
Marketing, Marketing Digital e MBA da Fundação Escola de Co-
mércio Álvares Penteado (FECAP), Gestão de Marketing e Marke-
ting no Varejo do Centro Universitário SENAC, e mail: henrique.
junior@fgv.br.
88
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
A definição do conceito de marca ganha importância na proporção em que consumidores utilizam marcas para decodificar
diversos aspectos da sua personalidade e da construção social que os cercam (ESCALAS, BETTMAN, 2005). Dada essa
complexidade, o termo marca apresenta divergências quanto a sua natureza epistemológica e sua função prática entre os
diversos autores que propõem uma definição. Amparado na conceituação de estabelecimento de critérios para construção
e avaliação de teorias de Bacharach (1989) este estudo, inicialmente, revisa os critérios para definição do significado de um
termo (como marcas) na Língua Portuguesa. Em seguida, utilizando-se a perspectiva de Falseabilidade de Popper (1987)
aplicado em Marketing (PETER, OLSON, 1983; BAGOZZI, 1984), nove definições de marcas da literatura científica nacio-
nal e internacional, vertidas à Língua Portuguesa, são avaliadas, quanto a sua robustez perante tentativas de falsear. Dado
que um conceito não pode ser definido pelos seus antecedentes ou consequentes (ou nunca seria falseado) este estudo con-
tribui para ampliar o rigor teórico na definição de marca de quatro maneiras, quais sejam: (CT1) relaciona e confronta di-
ferentes definições de marcas; (CT2) lista um conjunto de critérios para falsear uma teoria, divididos em “aplicação lógica”
e “aplicação empírica”; (CT3) questiona a relação lógica entre os critérios de falseabilidade e o resultado destes operadores
lógicos; (CT4) propõe a relação lógica entre a classificação dos critérios para as diferentes definições de marca. A contribui-
ção de uma conceituação de marca baseada em um maior rigor teórico torna-se ainda mais relevante dado que marca é um
dos constructos mais difundidos, porém, erroneamente delimitado, da área de marketing.

Palavras-chave: Marca; Definição de Marca; Epistemologia; Falseabilidade.

Abstract
A brand conceptual definition is pivotal as consumers use brands to interpret numerous aspects of their own personality
along with the social construction around them (ESCALAS, BETTMAN, 2005). There can be found clear inconsistencies
in the epistemological framework and in the practical function amongst the various authors that propose a brand defini-
tion. First, using the Bacharach (1989) criteria for theory evaluation and conceptualization, this study reviews the criteria
authors use for defining the meaning of the brand construct in Portuguese. Second, using the Popper (1987) Falsifiability
concept applied to Marketing (PETER, OLSON, 1983; BAGOZZI, 1984), nine distinct brand definitions, coined by local and
international scientific authors, translated to Portuguese, and are evaluated against its falsifiability. As a concept cannot
be defined by its antecedents or consequences (otherwise it would never be falsifiable), this study contributes increasing
the theoretical rigor in defining the brand concept in four ways, namely: (CT1) depict and test different brands definitions;
(CT2) enumerate a set of criteria to test a falsifiable theory, divided into “logical implication” and “empirical implication”;
(CT3) test the logical relationship between the falsification criteria and the outcome of these logical operators and, (CT4)
proposes the logical relationship between the classification criteria for the different brand definitions. A more rigorous
brand concept is paramount to Marketing as the brand concept is one of the most widespread mentioned constructs, howe-
ver, mistakenly delimited and used.

Keywords: brand; brand definition; epistemology; falsifiability.

Resumen
La definición de la marca se vuelve importante en la medida en que los consumidores utilizan las marcas para decodificar
los diversos aspectos de su personalidad y la construcción social que les rodea (ESCALAS, BETTMAN, 2005). Dada esta
complejidad, la expresión marca es en desacuerdo con la naturaleza epistemológico y su función práctica entre los diversos
autores que proponen una definición. Soportado en el establecimiento de criterios para la conceptualización a la construc-
ción y evaluación de teorías de Bacharach (1989), este estudio revisa inicialmente los criterios para definir el significado de
una expresión (marcas) en portugués. En seguida, utilizando la perspectiva de falseabilidad de Popper (1987) aplicado en
Marketing (PETER, OLSON, 1983; BAGOZZI, 1984), se evalúan nueve definiciones de las marcas en la literatura científica
local e internacional, traducidas a la lengua portuguesa, en relación a robustez frente a los intentos de falsación. Como un
concepto no puede ser definido por sus antecedentes o consecuentes (o no será falsable), este estudio contribuye a aumentar
el rigor teórico en la definición de la marca de cuatro maneras, a saber: (CT1) si listados y se afronta las diferentes definicio-
nes de marcas; (CT2) enumera una serie de criterios para falsificar una teoría, dividido en “aplicación lógica” y “aplicación
empírica”; (CT3) cuestiona la relación lógica entre los criterios de falseabilidad y el resultado de estos operadores lógicos;
(CT4) propone la relación lógica entre los criterios de clasificación de los diferentes ajustes de marca. La contribución de un
concepto de marca basada en un mayor rigor teórico se hace aún más relevante dado que la marca es una de los conceptos
más desarrollados, sin embargo, mal delimitado, en el área de marketing.

Palabras-clave: marca; concepto de marca; epistemológico; falseabilidad.


89
BrandTrends Journal OUT/2015

INTRODUÇÃO a evolução do método científico. Para tanto,


A importância do conceito de marca e da ges- após extensa revisão da literatura sobre defi-
tão de marcas (branding) emerge como uma nição de marca e o conceito de falseabilidade
das principais prioridades dos gestores no sé- de Popper, nove definições de marcas – cinco
culo XXI dado seu reconhecimento como um delas de autores com publicações em diversos
dos bens intangíveis de maior valor para uma idiomas e quatro definições de autores com
empresa (KELLER, LEHMANN, 2006). Con- publicação no Brasil – são avaliadas perante o
comitantemente aos esforços de branding nos princípio de que uma definição é teoricamen-
mercados globalizados, a representatividade te robusta na extensão em que a mesma possa
das marcas passa por mudanças significativas ser rejeitada (falseabilidade). A perspectiva
junto aos consumidores, transformando-se científica consiste na busca de condições onde
em autênticos recursos de uma indústria cul- a definição é refutada e, por mais evidência
tural (HOLT, 2002). Neste cenário, o deline- que haja em comprovar que um conceito é
amento do conceito de marca é fundamental verdadeiro, basta apenas um contraexemplo
para que, neste processo, seja definido o que para sua rejeição. É na busca das condições
está incluído e o que não está incluído na defi- de contorno em que uma hipótese pode ser
nição do objeto em estudo. refutada que a filosofia da ciência encontra
Apesar do conceito de marca ser ampla- respaldo para sua lógica empírica (PETER,
mente utilizado em todos os campos da gestão OLSON, 1983). Ao final, baseado nas articula-
empresarial, os esforços para um rigoroso de- ções de como as definições de marca se com-
senvolvimento conceitual do constructo são portam quando confrontadas com a filosofia
escassos. Uma definição conceitual adequada da ciência implicações práticas e teóricas são
garante a compreensão das nuances da repre- delineadas, considerando um arcabouço teó-
sentatividade das marcas tanto para as em- rico com quatro contribuições teóricas (CT).
presas quanto para os consumidores. Diversos
autores destacam o uso inadequado do termo REVISÃO DA LITERATURA
marca (AVIS, 2009; WOOD, 2000) e apre-
Fronteiras de uma teoria
sentam definições alternativas ao conceito
(WYMER, 2013; CONEJO, WOOLISCROFT, Com base nos trabalhos anteriores (COHEN,
2014). Entretanto, o esforço de contextualiza- 1980; BACHARACH, 1989), pode-se definir
ção de marca se dá em meio a controvérsias, teoria como uma afirmação das relações en-
tanto de ordem prática como de ordem epis- tre variáveis observáveis ou latentes no mun-
temológica (GASKI, 2014). Este artigo busca do empírico. De acordo com esta definição, as
contribuir para a definição teórica incorpo- variáveis latentes são construtos que, pela sua
rando a perspectiva de Popper (1987) para própria natureza, não podem ser observados
90
BrandTrends Journal OUT/2015

diretamente (por exemplo, a centralização, a cionados entre si por proposições, e variáveis,


satisfação, ou cultura). Já as variáveis obser- relacionadas entre si por hipóteses, conforme
váveis operacionalizadas empiricamente po- descrito na Figura 01.
dem ser medidas. Os principais métodos de Ao relacionar e confrontar diferentes
formulação e validação de escalas em Marke- definições de marcas (CT1), este artigo aju-
ting têm como pressuposto que mesmo variá- da a delimitar a fronteira teórica do concei-
veis que não são observáveis diretamente, são to de marca, mesmo que esta questão não
acessáveis por meio de variáveis latentes que esteja fechada, o que é representado pela
são compostas por indicadores mensuráveis. linha tracejada. Também são relacionados
Este tipo de relação entre variáveis é deno- uma série de construtos e as suas relações
minado “construto reflexivo” (JARVIS; MA- propostas por diversos autores, o que é re-
CKENZIE e PODSAKOFF, 2003). O principal presentado pelas caixas pontilhadas na Fi-
objetivo de uma teoria é responder as ques- gura 01. Finalmente, não é pretensão deste
tões “como”, “quando” e “por que”, enquanto artigo listar variáveis latentes ou observá-
a descrição procura responder à pergunta “o veis dentro da fronteira teórica de marca,
quê”. Bacharach (1989) propõe que uma te- nem levantar hipóteses relacionando tais
oria delimita um sistema de construtos, rela- variáveis.

Figura 01: Componentes de uma Teoria.


Fonte: Adaptado pelos autores de Bacharach (1989)
91
BrandTrends Journal OUT/2015

A Falseabilidade sistema teórico (ou seja, as ligações estabele-


Falseabilidade é a propriedade que determina cidas entre os construtos e variáveis compo-
se uma teoria é construída de tal modo que é nentes) devem ser avaliadas quanto a solidez.
possível refutação empírica. Embora o objeti- Ao avaliar a falseabilidade das propriedades
vo ideal da ciência é a busca da verdade uni- relacionais de sistemas teóricos, pesquisado-
versal, diversos filósofos da ciência concordam res devem examinar a adequação lógica das
que as teorias nunca podem ser comprovadas, proposições e hipóteses (e suas inter-rela-
apenas refutadas (NAGEL, 1961, POPPER, ções), bem como a sua adequação empírica
1987). As teorias são válidas até que se prove – a capacidade das relações estabelecidas em
o contrário, assim como o acusado em um tri- proposições e hipóteses de ser operacionaliza-
bunal é inocente até ser provado o contrário. da (BACHARACH, 1989).

O problema com as definições de marca é Adequação Lógica


que as teorias são muitas vezes expressas de
Adequação lógica pode ser definida como
uma maneira vaga, em que os teóricos não po-
a lógica implícita ou explícita incorporada
dem refutar qualquer evidência. Assim como
nas hipóteses e proposições que garante que
ninguém pode estar acima da lei, nenhuma te-
as hipóteses e proposições sejam capazes de
oria deve ser construída de tal forma que não
ser refutada. Neste contexto, as proposições
possa ser refutada empiricamente. Logo, os
individuais e hipóteses devem satisfazer os
pesquisadores de marca devem tentar cons-
seguintes critérios: (a) devem ser não tauto-
truir teorias que sejam coerentes o suficiente
lógicas, e (b) a natureza da relação entre o an-
para ser refutadas.
tecedente e consequente deve ser especificada
Com uma compreensão dos componen-
(BACHARACH, 1989).
tes da teoria em diferentes níveis de abstra-
Critério A: Para uma proposição ou hipó-
ção (variáveis, construtos, e as relações que os
tese de ser falseável, a própria existência do
conectam), os pesquisadores podem começar
antecedente não pode implicar, automatica-
a compreender a forma como esses critérios
mente, na existência do consequente (epife-
podem ser aplicados à teoria. Como os cons-
nômeno). No entanto, note-se que a conta-
trutos e variáveis são os blocos de construção
minação no nível variável não significa que
de hipóteses e proposições, os teóricos devem
a própria hipótese é tautológica. Pode ser
primeiro avaliá-las antes de analisar as pro-
priedades relacionais com tais teorias. simplesmente necessário para operacionali-
zá-la de forma diferente. Da mesma forma,
Falseabilidade da Teoria: Adequação a presença de uma hipótese tautológica não
Lógica e Empírica implica necessariamente em uma proposição
A adequação dos elementos relacionais de um tautológica. Uma proposição ou hipótese tau-
92
BrandTrends Journal OUT/2015

tológica é auto verificável e, portanto, não su- alguma variação no objeto de análise deve ser
jeito à refutação. observável. Esta variação pode acontecer lon-
Critério B: O teórico deve incorporar nas gitudinalmente em um objeto no decorrer do
proposições e hipóteses uma declaração explí- tempo, ou em um corte transversal em diver-
cita se o antecedente é uma condição necessá- sos objetos em um único momento. Além dis-
ria, suficiente ou necessária e suficiente para so, a adequação empírica relacional não pode
o consequente. Esta especificação determina ser alcançada se a variável não cumpre as nor-
a natureza dos dados necessários para testar mas de um modelo de mensuração adequado.
adequadamente a teoria. Ao não indicar expli- Se as variáveis incluídas em uma hipótese em
citamente a natureza destas ligações lógicas, avaliação são inerentemente incomensuráveis
os teóricos de marca tornam impossível a re- ou instáveis, a satisfação deste critério se tor-
futação de suas teorias. Cada crítica de uma na inviável.
teoria inevitavelmente leva a uma resposta
Relação Lógica Entre os Critérios de
que a crítica foi baseada em um mal-enten-
Falseabilidade
dido da lógica original do autor. A responsa-
A partir dos critérios expostos acima, é possí-
bilidade para a especificação dessas ligações
vel listar uma relação lógica entre estes crité-
deve ser levada a sério se os teóricos desejam
rios de modo a classificar uma definição teóri-
ir além da avalanche de críticas e réplicas.
ca de marca em “falseável” ou “não falseável”.
Adequação Empírica
Desta forma, apresentam-se um conjunto
Adequação empírica é o segundo critério de
de critérios para falsear uma teoria, divididos
avaliação da falseabilidade das relações em-
em “aplicação teórica” e “aplicação empírica”,
butidas em uma teoria. Uma teoria empirica-
conforme compromisso estabelecido entre as
mente adequada é aquela em que as proposi-
contribuições teóricas (CT2). Apresenta-se
ções e hipóteses podem ser operacionalizadas
também uma discussão sobre a relação lógi-
de tal maneira a tornar a teoria sujeita a in-
ca entre os critérios de falseabilidade que ao
validação. Se uma teoria é implementada de
serem avaliados darão como resultado uma
tal forma a impedir a invalidação, então não é
definição de conceito falseável e, portanto,
claramente falseável. Especificamente, propo-
“científico” (CT3).
sições e hipóteses devem satisfazer o seguinte
critério: ou deve haver mais do que um objeto Coerência Conceitual: Capacidade de
de análise, ou este objeto de análise deve exis- Ajuste
tir em mais do que um ponto no tempo (BA- Por um lado, a necessidade de pesquisadores
CHARACH, 1989). em marca de refutar teorias anteriores que
Para uma teoria ser sujeita à invalidação, não ajudam a explicar completamente os fenô-
93
BrandTrends Journal OUT/2015

Quadro 1: Critérios de Falseabilidade de uma Teoria e seus respectivos operadores lógicos


Fonte: elaborado pelos autores.

menos observados é a base para a evolução da relaciona com os fatos, através de dados que
ciência. Por outro lado, é necessário um corpo serviram de suporte para testes empíricos
cumulativo de teorias sobre marcas mais ou das hipóteses (Kaplan, 1964). Esta qualidade
menos universalmente aceitas, difundidas por sistêmica torna a validação de um construto
acadêmicos e praticantes de marketing, como ou de uma teoria um processo problemático,
a base para futura construção da teoria. Cabe a uma vez que, para operacionalizar o constru-
pergunta e a decisão de quais teorias deveriam to por meio de uma variável, há uma redução
ser incluídas nesta base teórica. inevitável de sua abrangência. A proposição
Segundo o modelo proposto por Bachara- entre os construtos pode então não ser supor-
do (1989), representado na Figura 01, as teo- tada quando outros teóricos tentam encontrar
rias são compostas de construtos relacionados outra lista de qualidades coerentes e perten-
entre si através de proposições, que delimitam centes aos construtos estudados, mas que fo-
a fronteira de um corpo teórico. Entretanto, ram restritas pela operacionalização anterior-
como os construtos não são variáveis observá- mente proposta.
veis no mundo empírico, as teorias fazem uso Para contornar este desafio, os teóricos
de variáveis observáveis, que são conectadas precisam compreender claramente como uma
entre si por hipóteses que, ao serem sujeitas teoria se encaixa com outras pré-existentes e
à avaliação empírica devem ser passíveis de aparentemente relacionadas. As teorias po-
refutação. dem se relacionar (a) através do preenchimen-
As hipóteses podem ser confirmadas (ou to de lacunas ou (b) através da reavaliação de
antes, suportadas pelos dados), quando se teorias previamente existentes. Kaplan (1964)
relaciona com outras teorias ou quando se denomina o primeiro tipo de relação entre
94
BrandTrends Journal OUT/2015

teorias (a) de conectivo enquanto refere-se processo científico tende a forçar os teóricos
ao segundo tipo (b) de transformacional. Ao a pensar em todas as questões que equilibram
identificar o conjunto de diferentes definições as forças de foco que permitem a falseabilida-
propostas para marca, este trabalho contribui de de suas proposições teóricas.
para a delimitação de sua fronteira de estudo Vale citar também que este trabalho se
através de uma abordagem conectiva entre as concentrou na obtenção de critérios de fal-
diferentes teorias (CT1), conforme desenvol- seabilidade para as relações teóricas entre os
vido na seção “Construtos de Marca”. construtos (destacados em preto na Quadro
A flexibilidade e abrangência são funda- 2). Segundo Bacharach (1989) existem dife-
mentais para ampliar a fronteira intelectual rentes critérios de falseabilidade para os cons-
em ciências sociais, contudo, a exatidão, pre- trutos e para as variáveis, bem como o crité-
cisão e obediência a critérios de falseabilidade rio utilidade, igualmente fundamental para
são fundamentais para que uma teoria possa determinar o sucesso de uma proposição em
ser sujeita à refutação. O crescente rigor do contribuir para a evolução de uma teoria.

Quadro 2 – Critérios para a avaliação de uma teoria


Fonte: Adaptado de Bacharach (1989) – traduzido pelos autores.
95
BrandTrends Journal OUT/2015

O construto Marcas Perez (2004) adota uma visão simbólica das


Existe pouca concordância entre as diversas marcas, focando os atributos intangíveis. Já
definições de marca. O Quadro 3 sintetiza para Nunes (2003), a definição é amparada
nove definições de marca, tanto de autores por uma visão financeira de marca como um
conhecidos internacionalmente quanto de au- ativo, adotando a perspectiva dos proprietá-
tores do contexto brasileiro, que evidenciam rios da marca. Finalmente, Ribeiro (2006, p.
os diversos conceitos e dimensões utilizados 94) utiliza uma definição metafórica de marca.
para estabelecer tais definições de marca. En- Estas diferentes definições de marca con-
tre os autores globais, Keller (1998) utiliza o tribuem na construção da teoria sobre mar-
conceito de associações mentais, descrevendo ca, uma vez que expandem as fronteiras de
que marca é um conjunto dessas associações entendimento sobre o campo de estudo do
que atribuem uma percepção de valor na me- tema (CT1). Entretanto, cabe a discussão se
mória do consumidor. De Chernatony (2010) elas cumprem o rigor de se sujeitar à falsea-
adota conceito similar do processamento di- bilidade, conforme exposto anteriormente.
nâmico de informações pelo consumidor em Utilizando-se dos critérios de falseabilidade
relação ao valor percebido. Também avalian- e seus respectivos operadores lógicos descri-
do o valor percebido, Kapferer (2012) adota tos na Quadro 1, estas definições de marca
uma perspectiva relacional e o compromisso foram submetidas ao teste de falseabilidade
adotado com o consumidor no longo pra- e o resultado é apresentado na Quadro 4. Os
zo para manter uma proposta de valor. Dis- campos sombreados em cinza não cumpriram
tanciando-se da perspectiva exclusivamente com pelo menos um dos critérios de falseabi-
baseada em valor, Stern (2006) e Conejo e lidade. De acordo com esta classificação, ape-
Wooliscroft (2014) apresentam pontos de vis- nas duas definições não foram consideradas
ta distintos para a definição de marca. Stern passíveis de falseabilidade e, conforme Ba-
(2006) utiliza a perspectiva linguística e defi- charach (1989) teriam que ser revisadas.
ne marca em quatro dimensões: natureza do
significado da marca, função linguística, locus CONSIDERAÇÕES FINAIS
de representatividade e a valência da percep- Definições teóricas robustas objetivam garan-
ção. Conejo e Wooliscroft (2014) utilizam o tir que sistemas investigativos e declarações
conceito semiótico da marca, gerando valor hipotéticas podem ser testada empiricamen-
para diversos stakeholders. te, fornecendo uma fonte de explicação e pre-
Dentre os autores brasileiros Khauaja e visão. A utilização dos critérios e operadores
Prado (2008) adotam o conceito identitário, lógicos apresentados neste trabalho melhora
utilizando uma perspectiva antropomórfica a construção de teoria e avaliação dos concei-
da representação de marcas. Paralelamente, tos a elas relacionadas. Um sintoma comum
96
BrandTrends Journal OUT/2015

Quadro 3: Definições de marca (CT1)


Fonte: elaborado pelos autores.
97
BrandTrends Journal OUT/2015

em toda as ciências sociais é o pouco rigor a definição seja contestada empiricamente e,


utilizado no desenvolvimento teórico. Talvez consequentemente, amplia o rigor na sua pro-
seja mais aparente pela diversidade dos fenô- posição; (c) (CT3) questionou a relação lógica
menos e metodologias utilizadas na tentativa entre os critérios de falseabilidade e o resulta-
de explicá-los e dominá-los. do destes operadores lógicos, fornecendo um
Para ampliar este rigor no estudo do con- instrumento de avaliação da capacidade false-
ceito de marcas, este artigo apresentou quatro ar de uma definição a tais operadores subme-
distintas contribuições teóricas: (a) (CT1) re- tida; (c) (CT4) propôs a relação lógica entre
lacionou e confrontou diferentes definições de a classificação dos critérios para as diferentes
marcas, tanto no contexto global, quanto de definições de marca, identificando que duas
autores brasileiros, contribuindo com a deli- das definições analisadas não cumpriram com
mitação das fronteiras de estudo do conceito; todos os critérios de falseabilidade e, portan-
(b) (CT2) listou sete diferentes critérios para to, devem ser retrabalhadas. Além destas con-
falsear uma teoria, divididos em “aplicação ló- tribuições teóricas, este trabalho também traz
gica” e “aplicação empírica”. O cumprimento contribuições aos gestores (CG1) fornecendo
do valor esperado destes critérios permite que definições de marca e avaliando sua robustez.

Quadro 4: Teste das definições de marca quanto aos critérios de falseabilidade (CT4)
Fonte: elaborado pelos autores.
98
BrandTrends Journal OUT/2015

Mesmo após estas contribuições, algu- definição teórica pode sobrepujar a criativida-
mas limitações do presente trabalho devem de que é igual motor da evolução da ciência.
ser evidenciadas. Os critérios de falseabilida- Na maior parte do trabalho científico, falhas
de permitem a avaliação de relações teóricas, na lógica teórica pode ser encontrado. No en-
mas não são suficientes para falsear cons- tanto, durante as fases iniciais de construção
trutos e variáveis que compõem tais teorias, de teoria, pode haver uma linha tênue entre
deixando uma lacuna a ser explorada neste satisfazer os critérios da lógica interna da teo-
sentido. As avaliações através de CT2 e CT3 ria e alcançar uma contribuição criativa.
não contemplam a utilidade de uma definição
teórica, apenas a sua capacidade de ser sub-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
metida a procedimentos empíricos de false-
abilidade. Além disso, apesar do esforço de AVIS, M. The problems of brand definition. In:
aplicação dos critérios às definições de mar- Australian and New Zealand Marketing Aca-
ca, em CT4, os critérios de falseabilidade ain- demy, 2009, Proceeding, University of Otago,
da carecem de teste empírico. Finamente, as 2009
avaliações de falseabilidade pode ser feita por BACHARACH, S. B. Organizational theories:
múltiplos avaliadores (portanto em uma ter- Some criteria for evaluation. Academy of Mana-
ceira dimensão). Esta forma de avaliar exige gement Review, v. 14, n. 4, p. 496-515. 1989.

operadores lógicos entre as classificações de BAGOZZI, R. P. A prospectus for theory construc-


cada um dos avaliadores para cada critérios. tion in marketing. Journal of Marketing, p. 11-29,
1984.
Ao reconhecer tais limitações sugere-se
algumas proposições de pesquisas futura. COHEN, Bernard P. Developing sociological
knowledge: Theory and method. 2nd ed. Chicago:
Primeiramente, aplicar a tabela de falseabili-
Nelson Hall, 1991.
dade e de definições de marca a um conjunto
de avaliadores especialistas pode ampliar a CONEJO, F.; WOOLISCROFT, B. Brands Defined
as Semiotic Marketing Systems. Journal of Ma-
robustez da definição conceitual do construc-
cromarketing, p. 1-15, 2014.
to em foco. Com base na Figura 01, trabalhos
DE CHERNATONY, L. From brand vision to
futuros devem ampliar o framework de false-
brand evaluation: the strategic process of
abilidade para incluir Variáveis e Construtos. growing and strengthening brands. Oxford, UK:
Finalmente, pode-se incluir critérios de clas- Routledge, 2010.
sificação de utilidade e seus respectivos ope-
ESCALAS, Jennifer Edson; BETTMAN, James R.
radores lógicos na avaliação de uma teoria. Self-construal, reference groups, and brand mea-
No entanto, este artigo deve terminar com ning. Journal of Consumer Research, v. 32, n. 3,
uma nota de advertência. Focar apenas em p. 378-389, 2005.

critérios de rigor científico na criação de uma GASKI, J. F. On “Brand”—Whether a Semiotic


99
BrandTrends Journal OUT/2015

Marketing System or Not. Journal of Macro- 111-125, 1983.


marketing, p. 1-4, 2014.
POPPER, K.R. O realismo e o objectivo da ciên-
HOLT, D. B. Why do brands cause trouble? A dia- cia. Lisboa: D. Quixote, 1987.
lectical theory of consumer culture and branding.
RIBEIRO, M. Explorando os Limites da Extensão
Journal of Consumer Research, v. 29, n. 1, p. 70-
de Marcas. Revista de Administração Mackenzie,
90, 2002.
v. 7, n. 3, p. 90-111, 2006
JARVIS, Cheryl Burke; MACKENZIE, Scott; POD-
STERN, B. What does brand mean? Historical-a-
SAKOFF, Philip. A critical review of construct in-
nalysis method and construct definition. Journal
dicators and measurement model misspecification
of the Academy of Marketing Science, v. 34, n. 2,
in marketing and consumer research. Journal of
p. 216-223, 2006.
Consumer Research v. 30, n. 2, p. 199-218, 2003,
TOMIYA, E. Gestão do Valor da Marca: Como
KAPLAN, A. The Conduct of Inquiry. San Francis-
criar e gerenciar marcas valiosas. Rio de Janei-
co: Chandler. 1964.
ro: Senac, 2010.
KAPFERER, J. N. The new strategic brand ma-
WOOD, L. Brands and brand equity: definition
nagement: Advanced insights and strategic
and management. Management decision, v. 38, n.
thinking. Kogan Page, 2012.
9, p. 662-669, 2000.
KELLER, K. L. Strategic brand management:
WYMER, W. Deconstructing the brand nomologi-
Building, measuring, and managing brand equi-
cal network. International Review on Public and
ty. Upper Saddle River, NJ: Prentice-Hall, 1998.
Nonprofit Marketing, v. 10, n. 1, p. 1-12, 2013.
_____; LEHMANN, D. R. Brands and branding:
Research findings and future priorities. Marke-
ting Science, v. 25, n. 6, p. 740-759, 2006.

KHAUAJA, D. M. R.; PRADO, K. P. L. Construção


de marcas. Gestão de marcas no contexto brasi-
leiro. São Paulo: Saraiva, 2008.

NAGEL, E. The structure of science: Problems in


the logic of scientific explanation. New York: Har-
court, Brace and World. 1961.

NUNES, G. Marca: valor do intangível medindo


e gerenciando seu valor econômico. Atlas, 2003.

ORLICK, T. Em Busca da excelência. Porto Ale-


gre: Artmed, 2009.

PEREZ, C. Signos da marca: expressividade e


sensorialidade. São Paulo: Pioneira, 2004.

PETER, J. Paul; OLSON, Jerry C. Is science


marketing?. Journal of Marketing, v. 47, n. 4, p.
100
MARCAS E NEGÓCIOS
BrandTrends Journal OUT/2015

Hacia una nueva


taxonomía en la
elaboración de los
nombres corporativos
y del lenguaje en la
empresa actual

Alberto PINILLOS LAFFÓN


Doutor em Ciências Sociais pela Universidad de Alicante, Espanha, email:
alberto.pinillos@ua.es.

Fernando OLIVARES DELGADO


Doutor e professor de Comunicação Global e Identidade Empresarial. Di-
retor da Cátedra da Empresa Familiar da Universidad de Alicante, Espa-
nha. Coordenador do Mestrado em Comunicação e Indústrias Criativas
da Universidad de Alicante - UA (Espanha), email: olivares@ua.es
101
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
Historicamente, as taxonomias elaboradas pelos especialistas sobre os nomes de marca utilizam diferentes cate-
gorias. Tomemos, a título de exemplo, nomes patronímicos e siglas ou nomes patronímicos e acrônimos, conside-
rando-os sempre como categorias exclusivas: um nome patronímico ou uma sigla, ou um nome patronímico ou um
acrônimo. O que acontece, por exemplo, quando o nome patronímico está implícito nas siglas ou quando o nome
patronímico também está implícito nos acrônimos? Será que o nome de uma empresa construído a partir das iniciais
do nome e do sobrenome deixa de ser patronímico? Este artigo analisa as categorias tradicionalmente estabelecidas
para classificar os nomes de marca.
Além de efetuar uma revisão crítica da literatura, ele propõe uma nova taxonomia até então nunca vislumbrada, que
amplia, complementa e revivifica as classificações tradicionais supra, com os benefícios conexos decorrentes da mes-
ma, entre outros, o de poder ampliar as possibilidades de viabilidade de registro das marcas corporativas.

Palavras-chave: branding, , nomes de marca, empresa, taxonomias.

Abstract
Historically in the taxonomies devised by academic experts about trademark names, the use of categories has been
disassociated. For example, patronymic names and initials or patronymic names and acronyms have been used, at
all times considering them as exclusive categories: either patronymic name or initial, either patronymic name or
acronym. What happens, for example when the patronymic name is implicit in the initials or likewise, this same
patronymic name is implicit in the acronyms? Does it cease to be a patronymic name when a company name has
been founded based on the initials of the name and surname(s), for example? This article will review the categories
traditionally established in order to classify brand names.
In addition to conducting a critical review of the literature, we propose a new taxonomy which has never been seen
before, which extends, complements and provides fresh air in these traditional classifications, with consequent be-
nefits derived from them, among others the power to expand the registry viability possibilities of corporate brands.

Keywords: branding, naming, corporate names, company, taxonomies.

Resumen
Históricamente, las taxonomías elaboradas por los especialistas sobre los nombres de marca utilizaban diferentes ca-
tegorías. Tomemos, a título de ejemplo, nombres patronímicos y siglas o nombres patronímicos y acrónimos, consi-
derados siempre como categorías exclusivas y, lo que es más importante, excluyentes: un nombre patronímico o una
sigla, o un nombre patronímico o un acrónimo, etc. ¿Pero qué sucede, por ejemplo, cuando o un nombre patronímico
está implícito en las siglas o cuando un nombre patronímico también está implícito en los acrónimos? ¿Será que el
nombre de una empresa construido a partir de las iniciales de un nombre y de apellido dejaría de ser patronímico?
Este artículo analiza las categorías tradicionalmente establecidas para clasificar los nombres de marca.
Además de llevar a cabo una revisión crítica de la literatura existente, en él proponemos una nueva taxonomía que
amplía y oxigena las susodichas clasificaciones al uso. Se ofrece una nueva taxonomía nunca antes usada que se ex-
tiende, complementa y ofrece aire fresco a las referidas clasificaciones tradicionales, con los consiguientes beneficios
derivados de ello, entre otros, empoderamiento, creatividad y vigor para ampliar las posibilidades de viabilidad del
registro de marcas corporativas.

Palabras-clave: branding, naming, nombres de marca, empresa, taxonomías.


102
BrandTrends Journal OUT/2015

1. INTRODUCCIÓN porcionara también el Nobel José Saramago:


¿Cómo denominar una empresa? He aquí el “El nombre que tenemos sustituye lo que so-
comienzo de toda una aventura comercial y mos: no sabemos nada del otro”.
en el fondo vital. El nombre de la razón social, Para mayor abundancia, el nombrar o no-
ya hablemos de su marca o nombre comercial, minar (en la acepción clásica de la palabra)
ya de lo que consta en el registro empresarial a una empresa o marca, ha ganado hoy una
(la denominación social), va a convertirse en nueva y cada vez más acuciante dificultad ante
punta de lanza o filo de guillotina de la inver- el desarrollo de la red informática Internet, la
sión inicial, tanto monetaria como a nivel de llamada Red de redes, y la aparición, incluso,
esfuerzos, ilusiones y expectativas. Visto así, de múltiples empresas que nacen y hasta se
no deja de sorprender la aparente alegría, in- desarrollan desde dicho marco. Véanse si no,
genuidad y en algunos casos la —o tal nos lo los ejemplos de las empresas surgidas con el
parece— sorprendente dejadez, con que suele propio desarrollo tecnológico. Los ejemplos
estar dado este paso apriorísticamente tan im- más paradigmáticos serían las estadouniden-
portante. Así, nos comentaban recientemente ses Google o Amazon, una tienda on line que
a los autores de esta ponencia, las gestiones según la prensa compite a la par que la cade-
dadas por unos conocidos para registrar una na de establecimientos físicos Walmart), así
empresa de servicios con la que quisieron lan- como buscadores en Internet de productos
zarse al mundo de la programación cultural en y/o servicios específicos. Así, también desta-
los noventa: aparte del nombre comercial con can la compañía española Rastreator.com,
el que finalmente comenzaron a trabajar, un dedicada a la búsqueda de seguros, viajes y
acrónimo de sus apellidos, que a su vez cons- otro tipo de ofertas; la británica Confused.
tituían el registro empresarial (como sociedad com –en realidad un servicio de la multina-
limitada), la normativa legal les obligaba a so- cional galesa de los seguros de coche Admiral
licitar, por si lo que proponían como primera Group, y que en España colabora con Rastre-
opción ya estaba registrado, otras posibilida- ator–; o el buscador de hoteles alemán Triva-
des denominativas. ¡Y una de ellas fue, por go), o los medios de comunicación on line (en
aquello de las bromas soltadas delante del ase- España, por ejemplo, el cierre de la edición en
sor, sin reparar en que éste tenía el bolígrafo y papel del diario Público generó, aparte de un
la libreta a mano, el nombre de una de las vír- diario electrónico de igual nombre y parte de
genes que pueblan el santoral festero español! los anteriores accionistas, la creación por par-
Como escribió el ilustre Don Miguel de te de sus antiguos trabajadores de otros me-
Cervantes siglos ha: “Más vale el buen nom- dios como InfoLibre, eldiario.es, La Marea y
bre que las muchas riquezas”. Más aun, si es- Materia, dedicado en este caso a la ciencia).
tamos de acuerdo con el sofisma que nos pro- En este contexto pretendemos aquí,
103
BrandTrends Journal OUT/2015

como ya se señala en el resumen y adaptan- Olivares (2012) en su libro Rebelión en


do contenidos a la lógica limitación de una las marcas indica que la utilización del nom-
ponencia, pasar revista a las categorías tradi- bre o apellido del fundador y de la familia en
cionalmente establecidas para clasificar a los el nombre de la empresa es quizás el recur-
nombres de marca, además de llevar a cabo so de naming más habitual en las empresas
una revisión crítica de la literatura existente familiares. El autor ya señala la importancia
para proponer, finalmente, una posible nue- estratégica del nombre en este tipo de orga-
va taxonomía que amplía y oxigena las suso- nizaciones:
dichas clasificaciones. Para lo positivo y para lo negativo
existe bidireccionalidad en la aso-
ciación de valores. Si el fundador
2. EL NAMING COMO OBJETO DE atesora valores de marca positivos
y socialmente reconocidos, posible-
ESTUDIO
mente se incrementará la reputación
Conviene comenzar diciendo que los estudios de la empresa, si otros factores per-
sobre nombres de marcas comerciales rea- manecen constantes. Ahora bien, si
lizados hasta el momento –desde enfoques el fundador o cualquier miembro de
la familia se ve envuelto en cualquier
lingüísticos– no suelen establecer diferen-
asunto “turbio”, a saber, crisis de
cias entre nombres corporativos –denomina- honorabilidad, fraude fiscal, “lío de
ción de la empresa– y nombres de producto faldas” o cualquier delito penal, y los
medios lo recogen, el “buen nombre”
o servicio, lo que es precisamente nuestro
de la empresa se verá perjudicado
objeto de estudio. Tan sólo Laurent Muzel- directamente, al haber una identifi-
lec (2006) en el escrito “What is in a Name cación total entre el apellido familiar
Change? Re-Joycing Corporate Names to y el nombre de la mercantil. Aunque
no coincida el apellido con la deno-
Create Corporate Brands” deja entrever en
minación de la empresa, la conexión
sus aportaciones teóricas esa diferenciación, entre el sistema familiar y el sistema
pero ni tan siquiera apunta que podrían ser empresarial se sigue produciendo,
dado que hoy la noticiabilidad y la
estudiados por separado, como sí apuntamos
visibilidad y el acceso a la informa-
nosotros, dado que los dominios corporativos ción permiten conocer la historia
y comerciales, a los que corresponden cada y entresijos de todas las empresas.
una de las dos tipologías de nombres –los de La familia empresaria es un objeto
mediático de gran interés; si es por
empresa u organizaciones, por un lado, y los
cuestiones positivas relacionadas
de productos y servicios, por otro– están ya con el negocio familiar, el espacio
bien diferenciados en la literatura científica. habitual es la prensa salmón, pero si
es por cuestiones personales negati-
Existen notorias y sustantivas diferencias en-
vas como las señaladas anteriormen-
tre las funciones y naturalezas del nombre de te, el medio suele ser la prensa rosa.
empresa o corporativo y el comercial. ( OLIVARES, 2012, pg. 59).
104
BrandTrends Journal OUT/2015

Previamente, los investigadores de la dio confirma que del nombre en una empresa
Universidad de Texas Saim Kashmiri y Vijay familiar emana una forma crucial de confian-
Mahajan habían realizado un relevante y am- za, el nombre garantiza pues la fama».
plio estudio desde 2002 a 2006, contenido en Jimena González-del Río, Olga Ampue-
la publicación de Kashmiri de 2010 “The name ro Canellas, Begoña Jordá Albiñana y Tere-
brings the fame”, para el EURIB (European sa Magal Royo, en su artículo “El nombre de
Institute for Brand Management), consulta- marca: interrelación de factores lingüísticos
ble en http://www.eurib.org/, en el que de- y corporativos”, contenido en la Revista de
mostraron afirmaciones de calado sobre esta Lingüística y Lenguas Aplicadas de la Uni-
cuestión. Y llegaron a las siguientes conclu- versidad Politécnica de Valencia (volumen
siones: primero, que las empresas familiares 6, 2011, pg. 181), resaltan que la lingüística
«con nombre de familia prestan mayor aten- “tiene mucho que aportar en cuanto a la cre-
ción a lo que opinan los consumidores que las ación y configuración de un nombre de mar-
empresas que no llevan el nombre de la fa- ca. Si nos fijamos en las características de un
milia, también por el hecho de que a menudo buen nombre de marca, vemos que muchas
cuentan con un CMO (Director de Marketing) de ellas tienen que ver con aspectos lingüís-
en la plantilla»; segundo, que en las empresas ticos: que suene y se pronuncie bien (foné-
familiares «se hace más énfasis estratégico en tica), que sea breve y simple (morfología),
la creación de valor a través de la publicidad, que tenga connotaciones positivas (semánti-
una opción inspirada en el hecho de gestionar ca)…”. De hecho, y como reconocen las auto-
la reputación de la compañía. En las empresas ras, este tipo de análisis puede constituir una
que no llevan nombre de la familia, se enfatiza valiosa ayuda para los equipos encargados
más en Investigación y Desarrollo (R & D)». de crear nombres de marca, así como para
Y tercero, que las empresas familiares «con aquellas empresas que deseen evaluar el gra-
nombre de familia tienen mayor responsabili- do de adecuación de su nombre de marca a
dad social corporativa en el sentido de poseer su realidad corporativa.
menores debilidades sociales». Pero es Muzellec (2006) el autor que más
Finalmente, esta investigación demostró incide sobre las diferencias entre los brand
que las empresas familiares con su nombre names y los corporate names. Podemos apre-
consiguen mayor retorno de la inversión que ciarlo con precisión cuando señala, por ejem-
las empresas familiares sin nombre propio o plo, la importancia capital de los primeros, los
apellidos: «A menudo se discute si las empre- brand names, creados para llamar la atención
sas familiares deben de mantener el nombre, exterior e incluso introducir sentimientos po-
o si es mejor sustituirlo por un nombre corpo- sitivos en el mercado (referidos obviamente al
rativo que suene más profesional. Este estu- “producto”, a lo producido por la firma, tanto
105
BrandTrends Journal OUT/2015

físicamente como intencionalmente), frente Nombrar una marca es una activi-


dad compleja, especialmente cuan-
a la de los segundos, que en el fondo reflejan
do se trata de lanzar un nuevo pro-
más bien una “cultura” o identidad interna ducto o empresa. El nombre es, sin
(referida a la propia firma que manufactura duda, uno de los puntos de contacto
el producto). Muzellec también establece un más importante de una marca y una
contribución positiva en la cons-
concatenado que nos habrá de servir para di-
trucción de su identidad. Es una
lucidar una tipología de los nombres de marca especie de “activación” de las aso-
corporativa; escalado que parte de los nom- ciaciones simbólicas de la empresa
bres descriptivos a los geográficos, los patro- o producto. Cuando se percibe vi-
sualmente o auditivamente, tiene el
nímicos, los acrónimos, los asociativos y los
poder de despertar pensamientos,
independientes. impresiones y experiencias que son
la marca en la mente de su público (
C. RODRIGUES, 2010, pg. 43; p. del
3. REVISIÓN DE LA LITERATURA documento).
Salvo algunas excepciones, como alguno de los
Para Per Mollerup en Marks of Excel-
autores ya citados, la mayoría de aportaciones
lence, Phaidon, London (1998), y siguiendo
sobre el nombre de marca son de índole con-
a Rodrigues, los nombres se dividen en seis
ceptual y taxonómica (no tanto empíricas). A
clases: equidad, descriptivo, metafórico, en-
continuación pasamos a revisar algunas de las
contrado, artificial y abreviaturas. El profe-
clasificaciones más relevantes que han sido
establecidas por diversos estudiosos de la ma- sor argentino Norberto Chaves, según recoge
teria para tratar de abarcar y categorizar los también Rodrigues, clasifica los nombres de
nombres de marca. Con el propósito de faci- marca en cinco categorías: descriptivos, sim-
litar “la comprensión de los procesos meto- bólicos, apellidos, nombres de lugares y de las
dológicos de los nombres de los proyectos de contracciones. Adrian Room, en “History of
investigación y desarrollo para las empresas, Branding”, contenido en el libro coordinado
organizaciones y productos”, Carlos Delano por John Murphy Branding: A key marketing
Rodrigues (2010) propuso una clasificación tool (London, 1987), utiliza siete categorías
de los nombres de marca fundamentada en para clasificar los nombres de marca: nom-
la revisión de la literatura sobre éstos que bres basados en nombre de la persona, nom-
llevaron a cabo cuatro importantes autores: bres basados en el nombre de lugares, nom-
Mollerup, Chaves, Room y Olins. Considera el bres científicos, nombres de estatus, nombres
profesor Rodrigues en “Nomes de marca: uma de asociación positiva, nombres artificiales
classificação”, trabajo contenido en las actas y nombres descriptivos. Wolff Olins, por su
del Nono congresso brasileiro de pesquisa y parte, contempla tres categorías de nombre
desenvolvimento em design (2010): analizadas bajo los prismas poético, fonético
106
BrandTrends Journal OUT/2015

y fono-semántico: nombres descriptivos, evo- que no existían previamente, caso de Prozac,


cadores y abstractos. que según el cibersitio http://etimologias.de-
Posiblemente sea una utopía encontrar el chile.net/?prozac, se relaciona con el prefijo
tipo de nombre de marca perfecto, pues cada latino “pro” (a favor, delante) y con la palabra
nombre presenta sus fortalezas y debilidades “profesional”, además de con el término grie-
según su morfología. El quid de la cuestión go “protos” (primero) y el nombre “Zack”, que
se encuentra en aconsejar a los responsables en hebreo significa “risa” (“el que toma Pro-
de imagen de marca cuál es la categoría que zac es el primero en reírse”); 5) compues-
mejor puede adaptarse a las necesidades es- tos, que consisten en términos existentes que
pecíficas del proyecto. Para Jeff Swystun en se combinan para generar nuevos nombres
su libro El glosario de las marcas (LID, Ma- de marcas, como JetBlue; y 6) nombres del
drid, 2008), el nombre es la parte de la mar- mundo real, que se establecen usando pa-
ca que consta de palabras, letras o números, labras que ya existen, pero que no tienen una
y las clasifica en seis posibles categorías, que vinculación obvia con el producto o servicio
guardan diversos grados de relación con los con el que se asocian como Apple, una de las
productos y servicios que se ofrecen: 1) nom- marcas globales más potentes hoy.
bres descriptivos, o sea los que utilizan Carlos Navarro, en su capítulo “La crea-
expresiones comunes para describir los pro- ción del nombre en la estrategia y el posicio-
ductos y servicios en cuestión, y no se consi- namiento de marca”, contenido en el libro
deran susceptibles de protección como marca coordinado por Ubaldo Cuesta Planificación
registrada (por ejemplo, PlayStation o British estratégica y creatividad (ESIC, Pozuelo de
Airways); 2) sugerentes, que no se quedan Alarcón, Madrid, 2012), por su parte, estab-
en una simple descripción de las ventajas de lece una tipología de los nombres comerciales
los productos y servicios, sino que también según su metodología creativa: 1) nombres
sugieren sus atributos (así, Oracle, Power ocurrentes, producto de los gustos perso-
-Book y Crest); 3) abstractos, que no tienen nales o de los apellidos de las personas im-
una relación clara con los productos y servi- plicadas en la creación de la empresa, como
cios con los que están asociados, pero pueden Young & Rubicam, Saatchi & Saatchi o Merce-
ser muy singulares dentro de su categoría (el des Benz; 2) abreviados o con siglas, que
caso de Kodak, un nombre que según asegura suelen ser producto de una segunda fase cre-
la leyenda difundida por la empresa George ativa, mas evolucionada, donde el nombre co-
Eastman, el fundador, lo creó y eligió simple- mercial acaba usándose en forma abreviada,
mente porque sonaba muy bien y con fuerza, o en acróstico, por comodidad para los usu-
pero en realidad no quiere decir nada); 4) arios, como TALGO (Tren Articulado Ligero
acuñados, o sea combinaciones de palabras Goicoechea Oriol), SEAT (Sociedad Española
107
BrandTrends Journal OUT/2015

de Automóviles de Turismo) o PC (Personal raciones se han percatado de una cuestión: es


Computer); 3) jurídicos o notariales, que conveniente crear nombres que expresen los
son los mismos nombres que registran las valores centrales que se pretender comuni-
empresas en el momento de su fundación y car mediante la marca, puesto que “cualquier
suelen acabar, según se trate de una sociedad problema relacionado con el individuo que
anónima o limitada, en S.A. o en S.L (Ltda, en detenta el nombre, puede ser interpretado por
Brasil), caso de Fadesa, Metrovacesa, Endesa, el mercado como un problema corporativo”,
etc.; 4) científicos, o sea aquellos buscados como señala Fontvila; quien habla también
en un proceso sistematizado que intenta la de patronímicos evocativos, es decir, nom-
máxima objetividad en el significado, como la bres de personajes ficticios, así como patroní-
estadounidense Tektronix, la alemana Biotro- micos mitológicos o de carácter simbólico; o
nik o, ya un poco cogido por los pelos, ya que, incluso de famosos, con “la intención (…) de
al ser acrónimo, podría ser incluido en “nom- (...) traspasar la notoriedad y credibilidad del
bres abreviados”, la también estadounidense personaje al producto”); 2) toponímicos,
Intel (Integrated Electronics); 5) extranje- que se refieren al conjunto de los nombres
ros, que resultan eficaces cuando responden propios de un lugar, de un país o de una re-
a palabras de comprensión universal en otros gión, es decir todas aquellas denominaciones
idiomas (caso de no ser inteligibles, dejan de y utilizan algún nombre de origen geográfico
cumplir su función), así Gentleman, Woman, –una ciudad e incluso un continente, un río,
Smart, Walkman, Monsieur, etc.; y 6) nom- una montaña, etc.– como nombre de marca,
bres sonoros, o sea aquellos eufónicos por también, nos dice Fontvila, con “carácter con-
su efecto sonoro, como Chupa-Chups, o por notativo, para asociar al producto las posibles
su fonética diferenciadora, como BlackBerry. evocaciones positivas de un nombre del lu-
Siguiendo la tipología establecida por Ig- gar reconocido: Montblanc o SEAT Ibiza”; 3)
nasi Fontvila en su capítulo “La voz de la mar- descriptivos, una clase de denominaciones
ca”, del libro coordinado por Joan Costa Los frecuente en sectores bastante tradicionales
5 pilares del branding: anatomía de la marca como la alimentación; 4) evocativos, que,
(Costa Punto Com, Tiana, Barcelona, 2013), como explica Fontvila, dotan “de carácter,
podemos hablar también de otras seis catego- personalidad y distintividad a la marca (...)
rías de nombres comerciales: 1) patroními- a través de un término asociativo”, gracias a
cos, que corresponden al creador o fundador las palabras comunes del diccionario (como
de la compañía, “o al inventor del producto la cerveza Estrella…) y los neologismos (los
por lo general” (añadamos que si bien actual- pañuelos Kleenex…), “acuñados a partir de la
mente se siguen creando empresas que llevan abreviación, la derivación de raíces mediante
el nombre de su fundador, las grandes corpo- prefijos o sufijos, o la combinación de pala-
108
BrandTrends Journal OUT/2015

bras”; 5) acrónimos y siglas, una categoría análisis, es que todas las tipologías ana-
de nombres más que frecuentemente utiliza- lizadas y mencionadas en esta ponen-
da, sobre todo la pasada centuria, fundamen- cia, no contemplan que los nombres no
talmente por cuestión de extensión, densidad recurren sólo a un criterio en estado
gramatical, pragmatismo y reducción fonéti- puro, sino que en un mismo nombre
ca, y no sólo en el ámbito empresarial o co- conviven diversas categorías o crite-
mercial, sino también en el institucional; y 6) rios de nombre. Nuestra propuesta es una
nombres abstractos, porque, siguiendo a taxonomía matizada, más fina, con una escala
Fontvila, digamos que el interés y la gran di- acorde, como ejemplo práctico, a los criterios
ficultad que implica actualmente encontrar denominativos imperantes en el panorama de
nombres globales que no estén registrados, las denominaciones de las empresas españo-
estén libres de connotaciones negativas y que, las (en este caso, familiares).
además, no resulten impronunciables “condu-
ce en algunos casos a la creación de denomi-
4. UNA NUEVA TAXONOMÍA SOBRE
naciones abstractas que no están basadas en
LOS NOMBRES CORPORATIVOS
el significado, sino en un criterio puramente
Una de las aportaciones principales de la in-
eufónico. Usualmente, los nombres abstrac-
vestigación efectuada en la tesis del profesor
tos tienen una estructura fonética a la cual es
Alberto Pinillos El nombre en la marca cor-
posible asociar subjetivamente determinados
porativa de la empresa familiar española. Un
valores (…). Oír un nombre por primera vez,
estudio exploratorio en PYMES desde la pers-
siempre nos provoca una impresión positiva o
pectiva del ‘branding’ (2014), ha sido el desar-
negativa, por tanto es importante seleccionar
rollo de una taxonomía denominativa propia,
el nombre en función de la eufonía y de las
más dinámica, flexible y matizada en cate-
asociaciones que el sonido puede generar (…).
gorías que las revisadas: pensada o diseñada
Además es el tipo de nombre de marca más
especialmente para el ámbito de la empresa
flexible que existe, precisamente por su natu-
familiar, aunque también para empresas de
raleza no semantizada”.
diferente naturaleza, y, por supuesto, extensi-
Añadamos que, de entre todas las posibles ble al naming de productos y/o servicios. Esta
categorías denominativas a nivel de identidad propuesta amplía y supera las posibles catego-
verbal y destinadas a un uso comercial, los rías denominativas que tradicionalmente han
nombres abstractos son, sin duda, nombres de sido señaladas, que normalmente no atendían
marca de alta capacidad distintiva y diferen- a la hibridación o convivencia de criterios en
ciadora y, por consiguiente, los que cuentan una misma denominación que de facto se pro-
con más posibilidades de viabilidad registral. duce: raras veces se opta por una categoría
Una de las aportaciones a tenor de nuestro pura. A partir de la observación detallada y
109
BrandTrends Journal OUT/2015

análisis empírico de la realidad denominativa torio en nuestra denominación?, ¿el mérito es


de la empresa familiar en España, hemos crea- personal o de toda la familia?, ¿vamos a inter-
mos las nuevas categorías. Podemos adelantar nacionalizarnos?, ¿llegamos a un público se-
en este momento el peso específico de patroní- lecto o más bien popular?, ¿nos parecemos a
micos, en todas sus versiones, y de toponími- alguna denominación ya existente en nuestro
cos y descriptivos de actividad, por ser los más mismo sector y comarca?, etc.
abundantes y notorios. Así, valgan estos ejemplos: 1) Nombre
Históricamente, en las taxonomías formu- propio+patronímico: Juan Delgado. 2)
ladas por los estudiosos sobre nombres se ha Patronímico: Delgado. 3) Nombre pro-
venido disociando el uso de categorías como pio+patronímico siglado: Juan D. 4)
son patronímicos y siglas, considerándose en Patronímico acrónimo: Judel. 5) Patro-
todo momento como categorías excluyentes: nímico con sigla y acrónimo: JUD. 6)
o patronímico o sigla. ¿Y qué sucede cuando Patronímico siglado: JD. Puede además
el patronímico está implícito en las siglas? barajar la posibilidad de integrar el sector de
¿Acaso deja de ser patronímico un nombre de actividad y la zona geográfica en su denomi-
empresa construido a partir de iniciales del nación de empresa, y de productos, y segui-
nombre y del apellido, por ejemplo? mos con la enumeración: 7) Nombre pro-
Un hipotético empresario fundador, Juan pio+patronímico+sector de actividad:
Delgado, albaceteño, artesano tradicional de Juan Delgado Quesos. 8) Patronímico+-
quesos manchegos, puede optar por el patro- sector de actividad: Delgado Quesos. 9)
nímico como criterio estratégico para su de- Nombre propio+patronímico+sector
nominación de empresa familiar, para aprove- de actividad: Juan D Quesos. 10) Patro-
charse de su reputación y buen nombre en los nímico acrónimo+sector de actividad:
pueblos de la comarca, donde lo conocen por Judel Quesos. 11) Patronímico con sigla
su buen hacer y buenas prácticas en el mundo y acrónimo+sector de actividad: JUD
del queso de oveja. Y dejar el legado de una Quesos. 12) Patronímico siglado+sec-
empresa, con un buen nombre y apellidos, a tor de actividad: JD Quesos. 13) Nombre
sus hijos. Juan Delgado contempla al menos propio+patronímico+gentilicio: Juan
las 22 opciones posibles sin renunciar en nin- Delgado Queso Manchego. 14) Patroními-
guna de ellas al criterio patronímico y nombre co+sector de actividad+gentilicio: Del-
propio. En sus diversas variantes, el sentido gado Queso Manchego. 15) Nombre pro-
es bien distinto. La creación del nombre y la pio+patronímico+sector de actividad:
creatividad ha de sintonizar con la estrategia: Juan D Queso Manchego. 16) Patronímico
¿más familiar y tradicional?, ¿más distante?, acrónimo+sector de actividad+toponí-
¿aprovechamos el prestigio de la marca terri- mico: Judel Queso de la Mancha. 17) Pa-
110
BrandTrends Journal OUT/2015

tronímico con sigla y acrónimo+sector modo explícito que también hemos calificado
de actividad+gentilicio: JUD Queso Man- como supraliminal, es decir, consciente.
chego. 18) Patronímico siglado+sector Proponemos una clasificación con las
de actividad: JD Queso Manchego. Incluso nuevas categorías aquí especificadas, cuyo ob-
puede, por supuesto, jugar con el nombre, si- jetivo será desarrollar el germen para futuras
guiendo el mismo criterio patronímico y siglas aportaciones, ampliando así sus posibilidades
y acrónimos, y descriptivo de actividad y to- de aplicación a nuevos parámetros, contextos
ponímicos, para llegar a otras soluciones: 19) o escenarios denominativos; y de su extrapo-
Nombre propio, descriptivo y gentilicio lación, si procede, de algunas de ellas al do-
en acrónimo: JUQUEMÁN. 20) Patroní- minio de las denominaciones de producto y/o
mico, descriptivo y gentilicio en acróni- servicio. Partimos para ello de 7 casuísticas
mo: DELQUEMÁN. 21) Fantasía a partir principales y ofrecemos nuevas posibilida-
del patronímico: DELGADUM QUESOS. des para su futuro desarrollo y aplicación a di-
22) Descriptivo+patronímico hipoco- versos estudios sobre el nombre corporativo
rístico+gentilicio: QUESOS JUANITO EL de la empresa familiar.
MANCHEGO.
De hecho, partiríamos como categorías
No obstante las anteriores propuestas de principales de nuestra propuesta de naming
naming, queremos llevar a cabo aportaciones con las siguientes: 1) Patronímico hono-
que complementen o amplíen las tipologías o rífico. Cuando en la denominación de em-
análisis sobre la materia. Por ello encontramos presa se incorpora el nombre propio o algún
conveniente reconceptualizar su valor y su apellido del fundador, fundadores o sus fami-
uso. Las siglas y/o acrónimos como nombres lias. Por ejemplo: Martín Navarro-Díaz, S.L.
derivativos, lejos de ser excluyentes, desde un 2) Patronímico en sentido estricto. Pa-
enfoque de branding, y más en concreto en el tronímicos en España son aquellos apellidos
ámbito del naming corporativo, homenajean acabados en -ez, y que señalan linaje o pro-
de forma solapada e indirecta, casi de forma cedencia (De Rodrigo, Rodríguez). Por ejem-
subliminal, a los nombres propios o patroní- plo: Rodríguez Joyeros, S.L. 3) Patroními-
micos, siendo a su vez contenedoras y porta- co sintagmático o de parentesco. Todo
doras de significación para la identidad verbal nombre de empresa que mantenga alusiones
de la empresa familiar. Cuando hablamos de al parentesco (hijos de, viuda de, hermanos,
derivativos, nos referimos por tanto a un nivel etc). Por ejemplo: Herederos de Pedro Mo-
latente de homenaje y reconocimiento al fun- desto Campos, S.L., Sala Hermanos. 4) Pa-
dador o fundadores de la empresa, y cuando tronímico siglado o encubierto. Cuando
hablamos de patronímicos honoríficos, por las referencias al fundador o familia existen
ejemplo, ese reconocimiento se hace de un en el nombre de la empresa pero se da de
111
BrandTrends Journal OUT/2015

forma encubierta o encriptada. Por ejemplo: formal de las 566 razones sociales de la mues-
Padelca (construido a partir de Paola del Cas- tra analizada en la tesis, también con frecuen-
tillo, que es por cierto el nombre de su geren- cia presentes en las denominaciones comer-
te). 5) Toponímico estricto. Alusiones ciales: 1) Patro-descriptivo. Denominación
directas al territorio de origen o influencia, en construida a partir de referencias al fundador
el nombre de empresa. Por ejemplo: Clínica o fundadores familiares y la descripción de la
Asturias, S.A. 6) Toponímico siglado. Alu- actividad. Por ejemplo: Serrauto. Se prioriza
siones encubiertas al territorio de origen o in- el apellido y se fusiona con la actividad de la
fluencia, en el nombre de empresa. Por ejem- empresa (automoción). 2) Pseudo-patro-
plo: IQE (Industrias Químicas del Ebro, S.A.). nímico. Esta categoría haría referencia a los
7) Topo-gentilicio. Nombre de empresa nombres corporativos de empresas que han
que incorpora el nombre de los lugareños o utilizado un seudónimo en su formalización,
procedentes de un lugar. Por ejemplo: La Car- como por ejemplo Coco Chanel, cuyo nombre
tonera Asturiana, S.A. Otros: La Jijonenca, La original es Gabrielle Bonheur Chanel; o Nina
Ibense, La Alcoyana, etc. Ricci, abreviatura de Maria Adelaide (“Nina”)
Según el diccionario de la RAE, el gentili- Nielli y Ricci, apellido del marido, Robert. Sin
cio es una variante de los topónimos o nom- embargo, también se dan casos célebres en los
bres propios de lugar en el sentido de que alu- que un nombre bien conocido de marca, como
den al territorio. Y por nuestra parte hemos por ejemplo Emidio Tucci (marca de El Corte
constatado que en el ámbito de los nombres de Inglés), sea desde el punto de vista lingüístico
marca de las empresas familiares (EF) consti- un nombre real y responda a una estrategia
tuyen un recurso bastante habitual en deter- de branding, pero no corresponda a ninguna
minados sectores: transportes o alimentación persona física ni mucho menos, en este caso
especialmente, entre otros. Por ejemplo y sin concreto, a un famoso diseñador o modis-
necesidad de ir más lejos, en la autonomía o to italiano, como se pretende hacer ver a los
región española de la Comunidad Valencia clientes (aunque se haya creado con notable
encontramos nombres corporativos como los similitud fonética, eso sí, con el nombre del
ya citados La Ibense y La Jijonenca, o Levan- diseñador real Emilio Pucci, 1914-1992). Este
tina de Seguridad… o en otras comunidades fenómeno marcario se suele dar para las de-
autónomas nombres como La Melillense, La nominaciones de producto, pero no así para
Conquense, y un largo etc. las de empresa. 3) Patronímico hipocorís-
Pero pueden darse aún bastantes más va- tico. Se trata de denominaciones de empresa
riantes de las categorías ya citadas. A conti- que incorporan el nombre del fundador con
nuación describimos 12 nuevas posibles el que se le conoce en entornos familiares,
categorías construidas a partir del análisis cercanos, informales o cariñosos –de hecho,
112
BrandTrends Journal OUT/2015

hipocorístico procede de la palabra griega 11) Matronímico siglado o encubierto.


“hypokoristikós”, “relativo a la caricia”–. El Por ejemplo: Rubicar (Rubio Casado, María),
hipocorístico es un apelativo, normalmente Nuduka, S.L. (Nuria Durán Cabarrocas). 12)
cariñoso y familiar, que sustituye al nombre Matro–descriptivo. Se concede prioridad a
propio y que usamos casi inconscientemente la actividad sobre el nombre de la mujer, fun-
a diario. Por ejemplo: Pepe, Mari, Patri, Ma- dadora o de relevancia para la empresa. Por
nolo, Nacho, Chicho, Kiko, etc. 4) Patroní- ejemplo: Neumáticos Soledad, Sobaos Serafi-
mico alfa-numérico o mixto. Se trata de na o Katry Inversiones.
nombres compuestos por una palabra, sigla o Acerca de los matronímicos, cabe decir en
acrónimo que, en el caso de las denominacio- este sentido que en algunos países, como EE
nes corporativas, también pueden ser latentes UU, la mujer, al contraer matrimonio, pasa
o encubiertos y que a su vez incorporan un nú- a llevar el apellido del marido. En el contex-
mero de una o más cifras. Por ejemplo, 20th to empresarial y corporativo esto supone un
Century-Fox. Fox en este caso es el apellido serio problema para las mujeres emprende-
del fundador de la compañía cinematográfica, doras que han sido fundadoras de empresas,
William Fox (si bien Fox era la “americani- y en ocasiones muy relevantes, como por
zación” del original, Fried). 5) Toponímico ejemplo Estée Lauder. Concretamente en este
alfa-numérico o mixto. Un buen ejemplo caso, el nombre original de la fundadora es
para esta nueva categoría sería 3M, un nom- Josephine Esther Mentzer (apellido de origen
bre corporativo correspondiente a la conocida austro-húngaro). Estée Lauder, actualmente
firma estadounidense, derivado de la abre- como marca global, es a su vez marca matriz
viación de Minnesota Mining and Manufac- o denominación corporativa y sub-marca de
turing Company. 6) Topo-descriptivo. Se una línea de productos.
prioriza el apellido cuando éste es un nombre Hemos comprobado asimismo en nuestra
toponímico, y se fusiona con la actividad de investigación que la casuística de los nombres
la empresa. Por ejemplo: Torrent Consultors, de marca es muy dispar y heterogénea, y no
S.L. 7) Emotivo-descriptivo. Por ejemplo: sólo en cuanto a los criterios denominativos
Vitaldent, Masvital, Blablacar, FreshBank, utilizados por los propietarios de las empre-
etc. 8) Matronímico honorífico. Por sas, sino también en lo relativo al supuesto
ejemplo: Casa Marieta, S.L. Restaurante San- proceso creativo que se ha llevado a cabo para
ta Ana, S.L., El Cigarral de las Mercedes. 9) decidirlos. Cabe así preguntarse si ha habido
Matronímico estricto. Por ejemplo: Ana frecuentemente “nombradores sin sueldo”
Bermúdez Fernández. 10) Matronímico que fueron quienes decidieron cómo habrían
sintagmático o de parentesco. Por ejem- de llamarse sus empresas. Y en este supuesto,
plo: Sucesores de María Martínez García, S.A. ¿qué proceso o procesos mentales pasan por
113
BrandTrends Journal OUT/2015

la mente de los socios o fundadores para de- puestas de pasos para crear un nuevo nombre
nominarlas de uno u otro modo? de marca como la de Fontvila (2013), quien
sugiere un proceso en seis etapas y fuerte car-
ga inicial heurística, investigadora: primero,
5. BREVE DESCRIPCIÓN DE LAS
la recogida exhaustiva de información acerca
HERRAMIENTAS Y CONCLUSIÓN
del bien o la empresa a denominar, comple-
¿Con qué herramientas cuentan, pues, los ex-
mentado con el análisis del portafolio de mar-
pertos en naming, aparte de las taxonomías
cas del cliente y el estudio semántico de los
citadas, más nuestra propuesta? Sería mate-
nombres de la competencia, entre otros as-
ria, en este caso, de otro artículo, para citar
pectos, con el establecimiento de un objetivo
algunas de las más interesantes propuestas de
de naming expresado de forma sintética, con-
modelos y nomas para la creación de lo que
cisa y precisa que sirva de guía a lo largo del
podríamos llamar un “buen nombre”. Así,
desarrollo del trabajo; segundo, la formulación
los consejos de David Allen Aaker en su libro
del perfil del público consumidor, comprador
Managing Brand Equity: Capitalizing on
y prescriptor del producto, según criterios de-
the Value of a Brand Name (Free Press, New
York, 1991), quien nos dice que la selección de mográficos; tercero, una sólida definición del
la denominación de marca es un proceso que concepto que el nombre deberá expresar, es
debe tener en cuenta los siguientes requisitos: decir, la síntesis única de atributos, benefi-
ser fácil de aprender y recordar; sugerir la cla- cios y valores que distinguen y caracterizan al
se de producto para que el recuerdo del nom- producto; cuarto, predefinir el ámbito de pro-
bre sea alto y, al mismo tiempo, compatible tección de la marca, así como los productos,
con el potencial uso futuro del mismo; sopor- servicios y actividades para los que se solicita-
tar un símbolo o eslogan; sugerir asociaciones rá el registro, especificando de manera exacta
deseadas sin ser aburrido o trivial; evitar aso- las clases correspondientes del nomenclátor;
ciaciones no deseadas: debería ser auténtico, quinto, utilizar la información recopilada pre-
creíble, fácil y no levantar falsas expectativas; viamente para el establecimiento de unos ejes
ser distinto y no confundirse, por tanto, con creativos o rutas conceptuales a nivel semán-
el nombre de los competidores; ser obtenible tico, que determinan el mensaje que el nom-
y protegible legalmente y, por último, resulta bre debe expresar; y sexto, la estrategia debe
interesante que el nombre sea eufónico. Tam- contemplar también todos los aspectos que
bién se recomienda no usar un nombre gené- hacen alusión a la morfología del nombre, in-
rico como nombre de una marca. De hecho, cluyendo recomendaciones referentes al tipo
no lo permite la legislación vigente, aunque de nombre, idioma, estructura –simple, com-
existan ciertas excepciones. puesta o frase–, género y número, fonética,
También caben, sin extendernos más, pro- estilo y tono.
114
BrandTrends Journal OUT/2015

En definitiva y como señala Juan Aguilar OLIVARES, F. Rebelión en las marcas. LID. Ma-
en su artículo (2013) Un buen nombre, puro drid. 2012.

sentido común (consultado en la siguiente OLINS, W. Brand. Las marcas según Wally Olins.
dirección: http://www.aebrand.org/articu- Turner. Madrid. 2004.

lo-asociado/un-buen-nombre-puro-senti- OLINS, W. El libro de las marcas. Océano Ámbar.


Madrid. 2009.
do-comun-), “los nombres tienen cargas,
connotaciones y asociaciones, incluso sub- SWYSTUN, J. El glosario de las marcas. Ed. LID
e INTERBRAND. Madrid. Págs. 88-90. 2008.
conscientes. ¿Y…cómo se crea un buen nom-
bre? Se cree que una nueva marca es resulta-
do de inspiración, creatividad o simple suerte, Capítulo de libro:
cuando en realidad el desarrollo de un nom- AAKER, D. Gestión del valor de la marca. Capi-
bre requiere definitivamente creatividad, pero talizar el valor de la marca. Ed. Díaz de Santos.
en igual medida precisa estrategia demostra- Madrid. 1994. Págs. 224, 232-233, 252.
da, objetividad y orientación al mercado”. AMERICAN MARKETING ASSOCIATION
(1960). Marketing Definitions: A Glossary of
En este contexto, las modernas técnicas de
Marketing Terms, AMA, Chicago, IL. en WOOD,
naming tienen como finalidad añadida resol- L. Brands and brand equity: definition and ma-
ver un problema histórico no suficientemente nagement. Management Decision 38/9. 2000.
Págs. 662-669.
abordado que, si bien antes no lo era tanto,
ahora sí por una simple cuestión: la saturaci- CÓRDOBA, JL. y TORRES, J.M. Teoría y aplicacio-
nes del marketing. Deusto, Bilbao. 1981. Pág. 238.
ón en los registros y dominios y la creciente
dificultad para encontrar nombres comercia- COSTA, J. coord., Bosovsky, G., Fontvila, I., Ra-
badán, A., Culleré, A. Los 5 pilares del branding.
les no sólo originales y bien construidos desde
Anatomía de la marca. CPC Editores. Barcelona.
la ortodoxia del branding, sino, y sobre todo, 2013. Pág. 11.
que tengan fundadas posibilidades de viabili-
CUESTA, U. Planificación estratégica y creativi-
dad registral y no acaben siendo, como tantas dad. ESIC Ed. Madrid. 2012.
veces ocurre, meros intentos “brainstorminia-
MUZELLEC, L. What is in a Name Chan-
nos” guardados finalmente en un cajón o en ge? Re-Joycing Corporate Names to Create
algún archivo olvidado de la empresa. Corporate Brands, en Corporate Reputation Re-
view. Vol. VIII, number 4. 2006. Págs. 305–306.

NAVARRO, C. La creación del nombre en la es-


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS trategia y el posicionamiento de marca. 2012.

RABADÁN, A. La fortaleza de la marca, en COS-


Libros:
TA, J., coord., Bosovsky, G., Fontvila, I., RABA-
AAKER, D. Managing Brand Equity: Capitali- DÁN, A., CULLERÉ, A. (2013). Los 5 pilares del
zing on the Value of a Brand Name. Free Press. branding. Anatomía de la marca. CPC Editores.
New York. 1991. Barcelona. 2013. Págs. 89-105.
115
BrandTrends Journal OUT/2015

Artículos de revistas científicas: Documentos electrónicos:


CHAVES, N. (1990) en RODRIGUES, C. Los nom- AGUILAR, JUAN. Un buen nombre, puro senti-
bres de marca: una clasificación. Noveno Congre- do común. Consultado en la siguiente dirección:
so Brasileño de Investigación y Desarrollo del http://www.aebrand.org/articulo-asociado/un
diseño. 2005. Pág. 43. -buen-nombre-puro-sentido-comun- Accedido el
22 de junio de 2013.
DÍEZ DE CASTRO, E. y GIL FLORES, A. Una me-
todología para elegir el nombre de una marca. Re- KASHMIRI, SAIM y MAHAJAN, VIJAY (2010).
vista de economía y empresa. Volumen VIII, Nº The name brings the fame. EURIB (European Ins-
22. 1988. titute for Brand Management). Consultado en la
siguiente dirección: http://www.eurib.org/. Acce-
GONZÁLEZ DEL RÍO, J. AMPUERO CANELLAS,
dido el 23 de julio de 2015.
O. JORDÁ ALBIÑANA, B y MAGAL ROYO, T. El
nombre de marca: interrelación de factores lin-
güísticos y corporativos. Revista de Lingüística y
Lenguas Aplicadas de la Universidad Politécnica
de Valencia (volumen 6, 2011, pg. 181). 2011.
MOLLERUP, P. (1998). Marcas de Excelencia. Ed.
Phaidon. Londres. Págs. 111-121, 240 en RODRI-
GUES, C. Los nombres de marca: una clasificaci-
ón. Noveno Congreso Brasileño de Investigación
y Desarrollo del diseño. 2005. Págs. 14-17.
MUZELLEC, L. What is in a Name Change? Re-
Joycing Corporate Names to Create Corporate
Brands, en Corporate Reputation Review. Vol.
VIII, number 4. 2006. Págs. 305–321.
ROOM, A. (1987). History of Branding. In: MUR-
PHY, John.(Org.) Branding: A key marketing tool.
London. McMillan, en RODRIGUES, C. Los nom-
bres de marca: una clasificación. Noveno Congre-
so Brasileño de Investigación y Desarrollo del
diseño. 2005. Págs. 14-17.

Tesis:
PINILLOS, A. El nombre en la marca corporati-
va de la empresa familiar española. Un estudio
exploratorio en pymes desde la perspectiva del
branding, PhD, Universidad de Alicante. 2014.
RODRIGUES, C. El nombre de marca y su impor-
tancia en la construcción de identidades de em-
presas y productos. PhD, Universidad Católica de
Río de Janeiro, 2005. Pág. 128.
116
PANORAMA DAS MARCAS
BrandTrends Journal OUT/2015

Branding e design
Estado da Arte em Periódicos
Brasileiros de Design

Daniela SZABLUK
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Design da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul - Brasil, email: danisza@gmail.com.

Paulo Roberto Nicoletti DZIOBCZENSKI


Doutorando em Design na Aalto University - School of Art, Design and
Architecture - Helsinki - Finlândia. Bolsista CAPES - Brasil, email: paulo.
dziobczenski@aalto.fi

Júlio Carlos de Souza VAN DER LINDEN


Doutor, professor do Programa de Pós-graduação em Design da Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul - Brasil, email: julio.linden@ufrgs.br
117
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
Branding e design estão interligados. Designers são responsáveis por desenvolver pontos de contato da marca (por
exemplo, produtos, embalagens, websites, entre outros), como oportunidades para construir a consciência da mar-
ca e possibilitar o envolvimento do seu público. Com base na relação clara entre estas duas áreas, o presente artigo
apresenta resultados de uma investigação sobre como branding é abordado e discutida nos periódicos brasileiros
de design. Mais precisamente, através de pesquisa de estado da arte nesses periódicos, este trabalho apresenta uma
visão sistemática da pesquisa existente sobre branding e design na comunidade acadêmica de design no Brasil. A
motivação deste estudo está em contribuir com o desenvolvimento da investigação na área, explorando os diferentes
modos através dos quais branding e design estão relacionados nessas publicações. O recorte da pesquisa compreen-
deu os periódicos brasileiros de design classificados no sistema Qualis da CAPES, relativos aos temas de interesse.
Os resultados expõem um panorama dos estudos sobre a área no Brasil, indicando quais são os periódicos que mais
publicam o tema, quais as metodologias utilizadas, quem são os principais pesquisadores e qual seu local e instituição
de origem, quais são as referências teóricas mais utilizadas, bem como outros aspectos de interesse para a comunida-
de acadêmica focada em conduzir pesquisas nestas áreas.

Palavras-chave: branding; marcas; design; periódicos brasileiros; estado-da-arte.

Abstract
Branding and design are intertwined. Designers are responsible for developing brand touch points (eg. products,
packaging, websites, etc.) as mains to build brand awareness and create possibilities for audience engagement. Based
on a clear relationship between these two areas, this paper reports on an investigation into how branding is discus-
sed within Brazilian design journals. More precisely, through a state of the art research in these journals, this paper
presents a systematic overview of existing research on branding and design in the Brazilian academic community of
design. The motivation of this study is to contribute to the development of research in the area, exploring the different
ways in which branding and design are related in these publications. The research included design Brazilian journals
classified in the Qualis system of CAPES, related to topics of interest. The results expose an overview of Brazilian
studies on the area, indicating the journals that most publishes this subject, which methodologies are widely used,
lead authors and their origins, most used theoretical references, as well as other issues of interest to the academic
community focused on conducting research in these areas.

Keywords: branding; brands; design; Brazilian journals; state of art.

Resumen
Branding y diseño están entrelazados. Los diseñadores son responsables de desarrollar los puntos de contacto de
la marca (por ejemplo, productos, embalajes, sitios web, etc.), como oportunidades para construir conocimiento de
marca y permitir la participación de su público. Sobre la base de la clara relación entre estas dos áreas, este trabajo
presenta los resultados de una investigación sobre cómo se dirige la marca en las revistas de diseño brasileños. Más
precisamente, este trabajo presenta una visión sistemática de la investigación existente en la marca y el diseño en la
comunidad académica del diseño en Brasil. La motivación de este estudio es contribuir al desarrollo de la investiga-
ción en el área, explorando las diferentes formas en las que la marca y el diseño se relacionan en estas publicaciones.
La investigación incluyó a las revistas brasileñas clasificados como sistema Qualis de la CAPES, en relación con temas
de interés. Los resultados se exponen una visión general de los estudios en el área en Brasil, lo que indica que son las
revistas que más publica el tema, que las metodologías utilizadas, que son los principales investigadores y cuál es su
institución de origen, que son los referentes teóricos más utilizados así como otros temas de interés para la comuni-
dad académica se centró en la realización de investigaciones en estas áreas.

Palabras-clave: branding; marcas; diseño; revistas brasileñas; estado de la técnica.


118
BrandTrends Journal OUT/2015

INTRODUÇÃO contribuição de designers de produto para o


A relevância do profissional de design na cria- processo de construção e gestão de marca (ex.
ção e manutenção de marcas tem sido assunto MCCORMACK et al., 2003; RANSCOMBE et.
de interesse tanto em meio acadêmico quan- al, 2012; RAVASI; LOJACONO, 2005; HES-
to profissional. Designers constroem marcas TAD, 2008; KARJALAINEN; SNELDERS,
através do projeto de identidades visuais, in- 2010). Também se identifica, em cenário in-
terfaces, produtos, embalagens e tantos ou- ternacional, a relação entre as disciplinas.
tros exemplos (BORJA DE MOZOTA, 2003; A contribuição do designer no processo
WHEELER, 2009) que estão envolvidos em de branding é também tema de discussão por
processos de branding. Além disso, designers pesquisadores da área de design. Designers
são diretamente responsáveis por construir são responsáveis por criar reconhecimento
o estilo das marcas (PERSON; SNELDERS, visual para as marcas através da definição de
2010). Sendo assim, é possível perceber que design features como, por exemplo, cores, for-
ambas as disciplinas se desenvolvem em mas, materiais e símbolos (KARJALAINEN,
conjunto em prol de oferecer às empresas 2007). O mesmo autor desenvolveu um estu-
uma maneira de criar vantagem competitiva, do utilizando duas reconhecidas marcas mun-
atraindo e oferecendo melhores produtos/ diais – Nokia e Volvo – como estudos de caso
serviços a seus consumidores. sobre a relação entre aspectos visuais e constru-
Em literatura internacional, a contribui- ção de marca (KARJALAINEN; SNELDERS,
ção destas áreas tem sido discutida há alguns 2010). Henderson et al. (2003) denominam
anos. O design tem sido apontado como uma como estímulos visuais os pontos de contato
ferramenta para promover estratégias e com- entre o consumidor e a marca, que são resul-
petitividade, em termos de performance (ex. tado do processo de design, e se referem a em-
WALSH et al., 1988; GEMSER; LEENDER, balagens, sinalização, produtos, entre tantos
2001, BORJA DE MOZOTA, 2003), forma- outros.
ção e renovação de estratégias empresariais Entretanto, a motivação desse estudo é
(SVENGREN, 1997; RAVASI; LOJACONO, de apresentar como o assunto é tratado em
2005), valor de mercado (Design COUNCIL, panorama nacional. Em outras palavras, esta
2005), o que gera melhor performance finan- pesquisa buscou abordar como e quanto de-
ceira (HART; SERVICE, 1988; HERTENS- sign e branding são abordados em periódicos
TEIN et al., 2005; RAMLAU; MELANDER, brasileiros. Através de uma pesquisa do esta-
2004). Branding tem sido abordado como do da arte em periódicos, a contribuição des-
uma prioridade de gerenciamento para em- te artigo ocorre através da demonstração de
presas (KELLER; LEHMANN, 2006). Outro uma visão sistemática da pesquisa existente
exemplo visto em literatura internacional é sobre branding e design na comunidade aca-
119
BrandTrends Journal OUT/2015

dêmica de design no Brasil. Para tanto, serão (SEBRAE, 2014). Por fim, analisou-se o esco-
apresentados os procedimentos metodológi- po de cada periódico com a intenção de veri-
cos adotados para a realização do estudo, se- ficar se este abrange de fato a área de design.
guidos dos resultados obtidos através da cole- Seguidos os passos acima, obteve-se uma
ta de dados e as conclusões do estudo. lista com dezessete periódicos brasileiros re-
lacionados à área de design. Porém, dentre es-
PROCEDIMENTOS METODOLÓ- tes, percebeu-se que dois não configuram um
GICOS periódico, por não terem periodicidade em
Estudos que se limitam a realizar uma revisão suas publicações - e, por isso, não entraram
de literatura apresentam desafios particulares no escopo da pesquisa. Após uma nova sele-
na definição dos métodos de pesquisa. Pri- ção, três outros periódicos foram eliminados
meiramente, uma abordagem qualitativa e/ por não terem base online, o que inviabilizava
ou quantitativa deve ser selecionada. Devido a busca. Assim, a pesquisa foi realizada com
à intenção de cobrir na totalidade as publica- base em doze periódicos, listados na tabela 1.
ções nas áreas de design e branding, foi se- Com a seleção dos periódicos, o próximo
lecionada uma abordagem quantitativa (para passo da pesquisa foi a definição das pala-
outros exemplos de pesquisa quantitativa em vras-chave para a busca. Inicialmente, os au-
literatura de design, ver CHAIN; XIAO, 2011 tores do artigo definiram três palavras-cha-
e HORN et al., 2014). ve: “branding”, “marca” e “gestão de marca”.
Em seguida, foram definidos os periódicos Porém, após iniciar a leitura dos artigos, op-
a serem pesquisados. Esta etapa foi realizada tou-se por incluir mais duas palavras-chave:
em três passos: (a) uma busca através do sis- “brand” e “identidade visual”, conforme indi-
tema de busca webQualis, com a palavra “de- ca a tabela 2. Devido à restrição nos sistemas
sign” no título dos periódicos, (b) uma busca de busca dos sites dos periódicos, foi neces-
dos periódicos relacionados a programas de sário executar a busca em todo o conteúdo do
pós-graduação de design, e (c) uma busca na artigo, o que ocasionou um elevado número de
listagem dos periódicos classificados dentro trabalhos. Além disso, inicialmente o número
da área de arquitetura e urbanismo. Na bus- total se mostra elevado por ainda computar os
ca dentro do webQualis utilizando a palavra- artigos que apresentam duas ou mais das pa-
chave “design”, foram selecionados somente lavras-chave utilizadas na busca.
os periódicos brasileiros para este estudo. Todos os artigos foram coletados e classi-
Complementando esta busca, foram levanta- ficados em uma pasta compartilhada no sis-
dos os periódicos relacionados aos programas tema Google Drive, permitindo o fácil acesso
de pós-graduação existentes no Brasil, basea- dos três autores do trabalho. Neste momen-
do na listagem do relatório “Design no Brasil” to, o número total de artigos foi reduzido de
120
BrandTrends Journal OUT/2015

195 para 65, devido a (a) repetição do


mesmo artigo em mais de uma pala-
vra-chave e (b) disponibilidade do ar-
tigo no site do periódico.
Com este total de artigos dispo-
níveis, uma última etapa foi execu-
tada para filtrar apenas os trabalhos
que apresentam discussões teóricas
e/ou práticas em relação a branding
e design: os 65 trabalhos foram or-
ganizados em uma tabela, onde os
dois primeiros autores leram inde-
pendentemente os resumos de todos
os trabalhos, para mais uma triagem
Tabela 01: Periódicos selecionados para o estudo
dos artigos. A intenção desta análise
Fonte: dos autores. independente foi aumentar a con-
fiabilidade do filtro, já que ambos os
autores têm formação em design com
experiências práticas de pesquisa e
ensino. Ao final, todos os artigos re-
ceberam uma avaliação positiva ou
negativa, dada por cada um dos dois
autores, para determinar a lista final
de artigos para análise. Em casos de
discordância, os autores discutiram
os motivos e entraram em consenso.
Com base neste filtro, a lista comple-
ta de artigos para análise foi reduzida
para 45, e é apresentada no apêndice
deste artigo.
Após a fase inicial da coleta de
dados, os artigos foram organizados
pelo (a) periódico no qual foi publica-
Tabela 02: Resultado da busca por palavras-chave nos periódicos do, (b) ano de publicação, (c) autores
selecionados
Fonte: dos autores. e respectivas titulações e instituições,
121
BrandTrends Journal OUT/2015

(d) palavras-chave e (e) resumo. A etapa de mentos metodológicos, 45 artigos científicos


análise prosseguiu com a leitura dos artigos, foram selecionados para serem estudados em
buscando extrair informações como os auto- profundidade. A tabela 3 relaciona o número
res/trabalhos mais citados e formação/área de artigos e respectivos periódicos nos quais
destes autores, frequência de palavras, co-o- foram publicados.
corrência de palavras-chave baseado no re- Observou-se também o ano de publicação
sumo e título, temas mais abordados, meto- de cada artigo, percebendo-se um aumento do
dologia utilizada (estudo de caso, revisão de número de publicações sobre o tema, nos pe-
literatura, etc) e análise das co-citações. Resu- riódicos analisados, nos anos 2010 e 2014. No
midamente, pode-se assim descrever o méto- ano de 2010 houve o maior número de publi-
do utilizado para a realização desta pesquisa: cações, com 18 artigos, como indica a figura 1.
(1) definição da abordagem da pesquisa; (2) Tratando-se do local de origem dos artigos
definição do local de origem dos artigos; (3) publicados, percebe-se que a grande maioria
definição da fonte dos arti-
gos (periódicos); (4) defini-
ção das palavras-chave; (5)
leitura dos resumos e filtro
dos resultados; (6) leitura
dos artigos buscando in-
formações específicas. A
seguir, descrevemos os re- Tabela 03: Número de artigos por periódico
Fonte: dos autores.
sultados obtidos na coleta
de dados e respectivas con-
clusões.

COLETA DOS DADOS


A etapa de coleta de
dados para esta pesquisa
ocorreu no primeiro se-
mestre de 2015 e, por isso,
artigos publicados no ano
corrente não foram locali-
zados durante a busca feita
pelos autores. Como des-
Figura 01: Número de publicações por ano
crito na seção de procedi-
Fonte: dos autores.
122
BrandTrends Journal OUT/2015

tem origem no Estado


de Santa Catarina, o
que se deve em parte
ao fato de o periódico
com maior número de
publicações (Revista
E-logo) ser publicado
nesse Estado, confor-
me indica a tabela 4. Os
artigos são de autores
alocados em diferentes
instituições, consistin-
do a maior parte em Tabela 04: Local de origem dos artigos analisados
publicações de autores Fonte: dos autores.
da Universidade Fede-
ral de Santa Catarina
(UFSC), com 24 arti-
gos, e Univali, com 4
artigos, conforme tabe-
la 5. Ressalta-se que a
soma dos locais de ori-
gem e das instituições
é superior ao número
total de artigos analisa-
dos, pois alguns artigos
foram registrados com
mais de um local ou Tabela 05: Instituição de origem dos artigos analisados
instituição de origem, Fonte: dos autores.
em função da procedência dos autores. artigos teóricos (20) apresentam reflexões so-
Tratando-se da metodologia dos artigos bre assuntos desde à linguagem e construção
analisados, percebe-se um equilíbrio entre ar- gráfica de identidades visuais, cultura, estraté-
tigos teóricos, e artigos que relatam estudos de gias de marcas, importância do profissional de
casos. Dos artigos com estudos de casos (21), design na gestão de marcas, produtos de luxo,
percebe-se que abordam, em sua maioria, dentre outros. Foram encontrados ainda arti-
processos de desenvolvimento de identidades gos que se denominam quantitativos (2) e com
visuais para empresas e para produtos. Já os biografia de profissionais importantes para o
123
BrandTrends Journal OUT/2015

mercado de design (2), conforme tabela 6. (29) tem sua formação mais recente na área de
design, indicando que o estudo sobre branding
têm sido, como era suposto, tema de interesse
por parte de pesquisadores de Design. Tam-
bém há autores da área de Engenharia (23) e
alguns da área de Arquitetura (7).

Tabela 06: Metodologias utilizadas nos artigos analisados


Fonte: dos autores.

Em relação aos pesquisadores dos artigos


analisados, somaram-se 83 envolvidos, com
diferentes titulações. A maior parte (36) pos-
sui doutorado completo ou em andamento, se-
guido por autores com mestrado completo ou
em andamento (27). Como alguns são de pro-
cedência estrangeira e não possuem currículo
lattes, não foi possível identificar a titulação de
Tabela 07: Titulação dos autores e co-autores dos artigos
quatro autores. Tratando-se da área de conhe-
analisados
cimento destes pesquisadores, a maior parte Fonte: dos autores.

Tabela 08: Área de conhecimento dos autores


Fonte: dos autores.
124
BrandTrends Journal OUT/2015

Já se tratando das referên-


cias bibliográficas utilizadas nos
artigos analisados, em 45 arti-
gos foram utilizadas 608 refe-
rências. Foi realizada uma con-
tagem dos autores e obras mais
citadas, com a intenção de se ob-
servar quais as principais refe-
rências a serem consultadas ao
se pesquisar sobre branding. Os
dez autores mais citados foram
relacionados na tabela 9, com
suas respectivas obras citadas.
Observa-se que algumas obras
foram citadas repetidas vezes, e
por isso somou-se o número de
obras de cada autor, e o número
de vezes que foram citadas.
Cabe observar que há, entre
os autores mais citados nesses
artigos, uma clara distribuição
entre branding, marketing, de-
sign gráfico (e de identidade
visual) e semiótica. Isso reflete
a complexidade do processo de
branding, para o qual o design
aporta inúmeras contribuições,
entre as quais projetos de iden-
tidade visual, a partir de estra-
tégias de marketing e com base
em teorias de linguagem visual,
entre as quais a semiótica.
Outros autores também
bastante citados foram Brigitte
Tabela 09: Autores e obras mais citadas
Borja de Mozota, Bruno Munari, Fonte: dos autores
125
BrandTrends Journal OUT/2015

Alina Wheeler, Martin Neumeier, Gavin Am- dade Federal de Santa Catarina. Destes pes-
brose e Paul Harris, com obras sobre gestão de quisadores, três possuem linhas de pesquisa
design, marcas e identidade visual, fundamen- relacionadas à área de branding. Além disso, o
tos de design e produção gráfica. Estes autores periódico “Revisa E-logo” tem o maior núme-
são utilizados amplamente como bibliografia ro de publicações (ver tabela 3) em branding
básica e complementar em cursos de design e, e design. Somando-se a isso a atuação do gru-
apesar de nem todos tratarem especificamente po de pesquisa “NGD - Núcleo de Gestão de
sobre branding, abordam assuntos que fazem Design”, que desenvolve e publica pesquisas
parte dos estudos tangentes da área. na área de interesse deste artigo, e ao fato de
outros Estados terem demonstrado pouca pre-
sença na autoria das publicações, pode-se con-
CONCLUSÕES
siderar Santa Catarina como atual referência.
Branding e design configuram temas discu-
tidos internacionalmente por pesquisadores Também buscou-se levantar as referên-
das áreas de design e gestão. Esta pesquisa cias que os autores utilizam em suas pesqui-
retratou a produção referente a estes temas, sas, como base teórica para suas publicações.
publicada especificamente em periódicos bra- David Aaker, reconhecido consultor interna-
sileiros. Com base na coleta e análise de 45 cional na área de branding, tem seus livros e
artigos publicados em oito periódicos nacio- artigos citados com mais frequência, seguido
nais, buscou-se apresentar um panorama do por Philip Kotler, também reconhecido con-
momento atual desta temática em termos de sultor na área de marketing, e pelo designer
pesquisa e publicações, com a intenção de gráfico brasileiro Gilberto Strunck. Analisan-
contribuir com a comunidade acadêmica in- do os dez autores mais citados nas publica-
teressada em conduzir pesquisas nestas áreas. ções, fica evidente uma diversidade de temas
Primeiramente, podemos afirmar que a (marketing, design gráfico, semiótica, Gestalt)
pesquisa englobando branding e design no formando a base teórica para o estudo na área
Brasil tem uma origem definida em suas pu- de branding e design. Em outras palavras, o
blicações: o Estado de Santa Catarina. Notou- assunto é estudado tendo como base pontos
se que são de pesquisadores de instituições de vista diversificados, fruto de diversas áreas
catarinenses a maioria das publicações (ver de atuação sendo usadas como base teórica.
tabela 4), sendo que os cinco autores e co-au- Baseado no ranking das obras e autores
tores com mais artigos, Richard Perassi Luiz mais citados, ressaltamos que os pesquisado-
de Sousa (8 artigos), Alice Theresinha Cybis res brasileiros têm buscado tanto referências
Pereira, Alvaro Roberto Dias, Eugenio Andres internacionais nas áreas de marketing e bran-
Diaz Merino e Luiz Salomão Ribas Gomez (3 ding, como referências nacionais, especifica-
artigos cada) são pesquisadores da Universi- mente nas áreas de design gráfico e semióti-
126
BrandTrends Journal OUT/2015

ca. Essa ligação evidente entre as pesquisas periódicos que publicam na área, quem são os
de branding e design com semiótica e design pesquisadores, de que local do país, de quais
gráfico nos levam a reiterar que o desenvol- áreas de pesquisa estes pesquisadores se de-
vimento de marca para os pesquisadores bra- nominam, além de quais são as referências
sileiros está diretamente ligado à criação de teóricas e métodos utilizados.
pontos de contato visuais (WHEELER, 2003),
onde o consumidor percebe a marca da em-
Agradecimentos
presa através da interação com um objeto, fí-
sico (embalagem, display) ou virtual (websi- O presente trabalho foi realizado com apoio
te, interface). da CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior - Brasil
Destaca-se também, dentre os artigos ana-
lisados, a predominância na escolha de abor-
dagens qualitativas para o desenvolvimento REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
das pesquisas (ver tabela 6). A maior parte BORJA DE MOZOTA, Brigitte. Design Manage-
ment: Using Design to Build Brand Value and
dos artigos consiste em relatos de estudos de
Corporate Innovation. Skyhorse Publishing Inc.,
caso, que detalham e analisam o processo de 2003.
construção de marcas e de identidades visu-
CHAI, Kah-Hin, XIN, Xiao. Understanding De-
ais, mostrando relações interessantes entre a
sign Research: A Bibliometric Analysis of Design
teoria e a prática de mercado. Studies (1996–2010), In Design Studies, v. 33,
Reiteramos que a contribuição ofereci- n.1, p. 24-43, 2012.
da por esta pesquisa teve limitações – como, DESIGN COUNCIL. Design Index: The Impact of
por exemplo, o acesso a determinados perió- Design on Stock Market Performance, 2005
dicos e artigos. Além disso, a análise ocorreu GEMSER, Gerda, LEENDERS, Mark. How Inte-
apenas em artigos publicados em periódicos, grating Industrial Design in the Product Develop-
possibilitando que futuras pesquisas possam ment Process Impacts on Company Performance,
utilizar como fonte de dados artigos publica- In Journal of Product Innovation Management,
v. 18, n. 1, p. 28-38, 2001.
dos em periódicos internacionais e/ou even-
tos nacionais/internacionais de design. Uma HART, Susan J., SERVICE, Linda. The Effects of
análise qualitativa dessa produção permitiria Managerial Attitudes to Design on Company Per-
formance. In Journal of Marketing Management,
uma compreensão mais profunda do que se
v. 4, n. 2, p. 217-229, 1988
produz no Brasil nesse campo.
HENDERSON, Pamela et al. Building Strong
Nossa intenção, com a realização desta Brands in Asia: Selecting the Visual Components
pesquisa, foi contribuir com o desenvolvi- of Image to Maximize Brand Strength. In Interna-
mento das pesquisas em branding e design, tional Journal of Research in Marketing, v. 20, n.
oferecendo um panorama sobre quais são os 4, p. 297-313, 2003.
127
BrandTrends Journal OUT/2015

HERTENSTEIN, Julie H. et al. The Impact of In- In Long Range Planning, v. 38, n. 1, p. 51 - 77,
dustrial Design Effectiveness on Corporate Finan- 2005.
cial Performance, In Journal of Product Innova-
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Mi-
tion Management, v. 22, n. 1, p. 3-21, 2005.
cro e Pequenas Empresas. Design no Bra-
HESTAD, Monika. Approaching Different Design sil: relatório 2014 do setor de design. / Elsie
Choices in the Process of Branding Products. in De- Quintaes Marchini Caloête (Coord.); Denise
sign Thinking: New Challenges for Designers, Ma- Gonçalves Westin (Coord.). – Brasília : Sebrae,
nagers and Organizations (Paris, 2008), p. 1–20 2014.

HORN, Bibiana Silveira et al. A pesquisa em de- SVENGREN, Lisbeth. Industrial Design as a Stra-
sign de moda no brasil a partir de periódicos da tegic Resource: A Study of Industrial Design Me-
área: Tecnologia para análise sistemática. In Estu- thods and Approaches for Companies Strategic
dos em Design, v. 23, n.1, p. 13-24, 2015. Development. In The Design Journal, v. 9, n. 1, p.
3-11, 1997.
KARJALAINEN, Toni-Matti. It Looks Like a
Toyota. In International Journal of Design, v. 1, WALSH, Vivien, Robin Roy, BRUCE, Margaret.
n. 1, p. 67-81, 2007 Competitive by Design. 1988

KARJALAINEN, Toni-Matti, SNELDERS, Dirk. WHEELER, Alina, Designing Brand Identity.


‘Designing Visual Recognition for the Brand’, In Hoboken: John Wiley & Sons, Inc, 2009
Journal of Product Innovation Management, v.
27, n.1, p. 6-22, 2010.

KELLER Kevin Lane, LEHMANN, Donald.


Brands and Branding: Research Findings and Fu-
ture Priorities. In Marketing Science, v. 25, n.6, p.
740-759, 2006.

MCCORMACK, Jay P. et al. Speaking the Buick


Language: Capturing, Understanding, and Explo-
ring Brand Identity with Shape Grammars. In De-
sign Studies, v. 25, n. 1, p. 1-29, 2004.

RAMLAU, Ulla Hovgaard, MELANDER, Chritina.


In Denmark, Design Tops the Agenda. In Design
Management Review, v. 15, n. 4, p. 48-54, 2004.

RANSCOMBE, Charlie, et al. Visually Decompo-


sing Vehicle Images: Exploring the Influence of
Different Aesthetic Features on Consumer Per-
ception of Brand. In Design Studies, v. 33, n. 4, p.
319-341, 2012.

RAVASI, Davide, LOJACONO, Gabriella. Mana-


ging Design and Designers for Strategic Renewal.
128
MARCAS E CULTURA
BrandTrends Journal OUT/2015

Between Europe
and Orient
City Branding Cases from Turkey

Ceren BULUT YUMRUKAYA


Dokuz Eylul University, Faculty of Fine Arts, Department of Graphic, email:
ceren.bulut@gmail.com

Diren BULUT
Istanbul University School of Business, Marketing Department, email: dbu-
lut@istanbul.edu.tr
129
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
As cidades não são apenas o habitat da maior parte da população humana, mas também um reflexo da sua cultu-
ra, estilo de vida, propósitos e o ambiente econômico da maioria dos negócios. Municípios, governos e câmaras de
comércio são forçados a repensar as cidades como marcas e construir planos de desenvolvimento estratégico ade-
quadamente. Marcas-cidade bem sucedidas mundialmente constroem suas definições de identidade de acordo com
os valores: história, cultura, cenário econômico, natureza e, mais importantemente, visando o posicionamento da
cidade. O objetivo deste estudo é examinar algumas marcas-cidade da Turquia no âmbito das ações de comunicação
de marca, como identidade da cidade e elementos relacionados à comunicação mercadológica (logotipo/emblema,
símbolo, cor etc.). Busca-se estudar os casos nos quais os elementos de identidade da cidade conflitam com o posi-
cionamento pretendido, o que é principalmente percebido entre ideias, símbolos e desenhos ocidentais e orientais. O
estudo irá expressar a diferença entre branding integrado da cidade e mensagens confusas da Turquia, que possui
bases ocidentais e orientais para a gestão da marca-cidade e comumente as mistura em elementos não integrados de
identidade da marca-cidade. Todas as 81 cidades foram analisadas e poucos esforços de identidade de marca-cidade
foram encontrados. Os casos foram analisados a partir de índices de branding e logos.

Palavras-chave: Marca-cidade; Posicionamento de cidade; Percepção do consumidor sobre cidades; Identidade


visual; Turquia.

Abstract
Cities are not only the habitat of most of the human kind but a reflection of their culture, life-style, living purposes
and the economic surrounding of most business. Municipalities, governments and chambers of commerce are forced
to rethink cities as a brand and build the strategic development plans accordingly. Successful city brands in the world
build their core identity definitions according to the values offered: history, culture, economic scenery, nature and
more importantly with their aimed city positioning.
The purpose of this study to examine some of the city brands of Turkey in the framework of brand communication
activities such as city identity and related marketing communication elements (logotype/emblem, symbol, color etc.).
It is aimed to study the cases in which the city identity elements are conflicted with the aimed city positioning, mos-
tly get caught in between the western and oriental ideas, symbols and designs. The study will express the difference
of integrated city branding and confused messages from Turkey, which has both western and oriental bases for city
branding and commonly mix them in a nonintegrated city brand identity elements. All 81 cities had been analyzed
and only few city brand identity efforts have been found. These cases are analyzed by the city branding index and the
logos.

Keywords: city branding, city logos, city positioning, city identity, consumer perception of cities, visual identil,
Turkey.

Resumen
Las ciudades son no sólo el hábitat de la mayor parte de la población humana, pero también un reflejo de su cultura,
estilo de vida, metas y el entorno económico de la mayoría de las empresas. Municipios, gobiernos y cámaras de
comercio se ven obligados a repensar las ciudades como marcas y construir planes estratégicos de desarrollo adecua-
dos. Las marcas ciudades exitosas mundialmente en todo el mundo construien definiciones de identidad de acuerdo
con los valores: historia, cultura, entorno económico, de la naturaleza y, sobre todo, con el objetivo de posicionar la
ciudad. El objetivo de este estudio es examinar algunas marcas ciudades de Turquía en virtud de las actividades de
comunicación de la marca, como la identidad y los elementos relacionados con la comunicación mercadológica (logo-
tipo / emblema, símbolo, color, etc.). El objetivo es estudiar los casos en los que los elementos de la ciudad conflictan
con el posicionamiento deseado, lo que se percibe sobre todo entre las ideas, símbolos y diseños occidentales y orien-
tales. El estudio expresa la diferencia entre branding integrado dela ciudad y mensajes contradictorios de Turquía,
que tiene fundamento occidental y oriental para la gestión de la marca-ciudad y la mezcla de elementos no integrados
de la marca de identidad de la marca ciudad. Se analizaron todas las 81 ciudades y se encontraron pocos esfuerzos de
identidad de marca-ciudad. Los casos fueron analizados a partir de índices de branding y logotipos.

Palabras clave: Marca-ciudad; posicionamiento de la ciudad; La percepción de los consumidores sobre las ciuda-
des; identidad visual; Turquía.
130
BrandTrends Journal OUT/2015

INTRODUCTION LITERATURE OF REVIEW


One of the basic dimensions of market seg- Places like most of other products have very
mentation is geography. The environment different dimension of marketing mix. Pla-
where people live and earn their living defines ces have a very complicated structure which
people and communities. But the stakehol- makes them also a complex brand to manage.
ders of cities are not limited to their citizens The complexity of place branding bases on the
only. The literature prefers the term stakehol- fact that, they are a result of a co-production
der for the interested parties of a city, which process, which also co-consumed by many pe-
are the government and municipalities, busi- ople at the same time that also, varies for one
nesses, residents and the tourist or visitors. consumer to another (HANKINSON, 2007).
All of these elements design and work for the This also reflects on the concept of the tar-
habitat all together and has a significant effect get segment and who manages the brand it-
over each other. self. The place marketing with many different
Cities, as a marketing element is not a main titles are defined and studied by the aca-
demia and the practitioners. In this part of the
new concept. The concept of tourism marke-
study we will try to define and limit the place
ting or destination marketing is well known
marketing definitions in order to understand
and studied field especially for tourism pro-
the general framework.
fessionals and academia. But as the desti-
nations change as a product, the concept
of marketing the place shifts to place bran- PLACE MARKETING
ding and expands from the limits of tourism There are different names and marketing/
marketing area. branding concepts for place branding. Desti-
It is aimed to make a clear summary on nation branding can be defined as the set of
the place marketing and place branding con- marketing activities to create a differentiated,
cept in order to understand the “city bran- positively associated, emotionally attachable
ding” and brand management perspective. name, logo, symbol or any other brand image
Then the Turkish cities will be examined and which identifies a place (BLAIN, LEVY, & RI-
evaluated for their city branding profiles. It is TCHIE, 2005).
intended to have a situation analyses and rea- Place marketing concepts have diffe-
ch to conclusions which would be guiding the rent titles and it is a multi-disciplined area
practitioners to build better city brands. The where the practitioners are not always clear
major reflection of characteristics of the city about the limits of the definitions (HANNA
brands are hoped to give academicians ano- & ROWLEY, 2008). But in the recent years it
ther point of view to include culture, history has established that the places are marketable
and the heritage as an evaluation point. entities and should be managed accordingly.
131
BrandTrends Journal OUT/2015

Moreover, the marketing concepts such as government to citizens should be including in


branding are more of the core concept dis- the process but also some strong partnerships
cussed for the place marketing (KAVRATZIS, are also necessary to make the brand evolve
2004). Place marketing usually associated (HANKINSON, 2007).
with the economic growth relying on the in- When the topic is city branding it is usu-
come or the investors’ point of view and it is ally the big cities that comes to mind. Bran-
argued to “simplify” the place’s management ding as a process needs financial power, eco-
purposes and process (PADDISON, 1993). nomic growth and gross domestic production.
Therefore the concept discussed to be a bran- Never the less, with less resources small cities,
ding concept with more stakeholders getting regions or counties also may build their city
involved, but not just the investment point of brands with smaller branding budgets (WA-
view (KAVARATZIS, 2009). HYURINI, 2012). But these branding expen-
There are different measurement fra- ditures should be perceived as an investment.
meworks of dimensions in the literature for If the branding efforts reach to the target au-
defining destination/tourism/city marketing dience successfully, the return of the invest-
potential. The most important dimensions of ment as tourist, financial input to the city,
destination marketing are defined as “15Cs skillful workforce, and event hosting oppor-
framework” (FYALL, GARROD, & TOSUN, tunities will increase accordingly (INSCH,
2006), while the success of the destination 2010).
marketing perceived as a more strategies Anholt (ANHOLT, 2006) has developed a
and stakeholder centered approach by others city branding index based on six different di-
(BAKER & CAMERON, 2007). Marketing of mensions, which it is used as a base to evaluate
destinations and places gains an importance the cities in this research too. The “presence”
in every level of stakeholders. Marketing of captures the cities international image. The
places used to be just a concept of tourism awareness and the knowledge level are reflec-
marketing, which had changed the shape and ted on this dimension. The “place“ defines the
the context rapidly. location and the assets this location transfers
Because of this unique structure of the to the city. The “potential” represents the eco-
places, a five step corporate branding guide- nomic opportunities that the city holds while
line is offered. There should be strong leader- the “prerequisites” define the life quality and
ship which takes the responsibility and the the level of infrastructure provided. The “peo-
management of the brand. The corporate cul- ple” of the city and the “pulse” reflects on the
ture should be united around the brand and lifestyle and the way of living in the city. By all
a very strong integrated coordination should these dimensions Anholt has been evaluating
be implemented. All the stakeholders from the city and county brands and Turkey has
132
BrandTrends Journal OUT/2015

been one of the countries while only Istanbul city brands fall into the mistake of sticking
is evaluated as a city brand in Anholt’s studies. with the major dominating characteristics of
In this sense the stakeholders who are tar- the national brands (KAVARATZIS, 2009).
geted to include in the process of city bran- But differentiating physical references like art
ding include the government and municipali- objects, historical artifacts, monuments, buil-
ties mostly as the leader or the main manager dings or infrastructures may give a city a uni-
of the brand (BLAIN, LEVY, & RITCHIE, que chance to stand out and become a stron-
2005). Even though most public manager ger brand (HOSPERS, 2010).
does not understand the marketing concepts The events like sports organizations could
and has a different perception of management also create a city brand as a shortcut. Brand
mostly based on economics, it is important building is a long and expensive process whe-
to have one leadership to build the coopera- re as holding an event may put the city on
tion between the units (HANKINSON, 2007; the map way quicker than any brand efforts
ASHWORTH & VOOGT, 1994). (ASHWORTH & VOOGT, 1993). Even some-
One of the stakeholders of the branding times having a strong brand image and a city
and marketing effort is the skillful workfor- brand value could get the city more events
ce which cities desire to have these people as and more investment and profit in the pro-
the inhabitants (WAHYURINI, 2012). Cities cess (BALMER, 1998; GETZ, 2008; ZHANG
resident have an understandable projection & ZHAO, 2008).
on the city brand (BRAUN, 2010), because of Tourists and the investors are another
this cities are not just managements’ brands, group of stakeholders, which generates the
but a result of a co-production as also a co- money for the city needs. Kavaratzis explai-
consumption (HANKINSON, 2007). This re- ned that the dynamics of the city is consists
sults the City branding evaluations to inclu- of investments, tourism, resources and social
de the people living in the city, as well as the issues and these create a unique environment
people who would like to live at those places which city must differentiate form others
(ANHOLT, 2006). It is also suggested that (KAVRATZIS, 2004; ALVAREZ, 2010).
communities with similar values have an ef- The cities as brand also need to differen-
fect on cities, even more than the individuals tiate themselves from the other cities, which
as stakeholders (MORGAN, PRITCHARD, & may have the similar offerings from or out of
PIGGOTT, 2003). the same country. Some of the cities try to build
To be able to build a strong brand of a city, an identity around “cool city” (PECK, 2005),
as all the products and services in marketing, “slow city” (PINK, 2008) ,”creative city” (VA-
it is needed to differentiate the city from any NOLO, 2008) to distinguish themselves. It
other city (GUNN & VAR, 2002). Most of the is very important to find a unique voice from
133
BrandTrends Journal OUT/2015

the nation as well. Marketing communication (MIDDLETON, 2010). Visual identity of a city
gets into the picture in that level. brand can create awareness, recognition and
One of the reasons that places had to pro- image for the brand (WAMABY & MEDWAY,
mote and communicate for themselves is to 2010). Never the less, to be able to reach that
create awareness (TRUEMAN, KLEMM, & aim the city logo should be unique and un-
GIROUD, 2004). Awareness and the know- derstandable for the target audience. Even
ledge level about the country are known to though the logos are not enough to evaluate
affect the destination choice of people when the city brands (HOSPERS, 2010), city logos
choosing the destination to travel (LAWTON are also a tangible asset of the city’s corporate
& PAGE, 1997). This makes it not just crucial branding, which reminds the city brand visu-
to have a brand management, but also an in- ally (WAHYURINI, 2012).
tegrated marketing communication as well. The first role of graphic design is to
According to Kavaratzis (KAVRATZIS, identify, second is to inform and instruct and
2004), brand communication can be done in the third is to present and promote (HOLLIS,
three different ways. First version of commu- 2002). Logos as the identifying symbol of the
nication is the personal experience of the city must carry the characteristics of the city
brand, which is very singularly a personal as well as the visual codes for the purpose.
approach and requires an individual to have All the cities examined below have their own
the connection with the city. Second version of characteristics and own purposes to be mir-
communication is the communication throu- rored in their logos. Turkey as a country has
gh mass communication tools, like advertising a national branding to be a popular touristic
or PR. And the last version of communication destination and supported with national com-
is the word of mouth, which is also a personal panies such as Turkish Airlines. The codes of
experience forwarding way about cities and Turkey’s national branding is far more orien-
the experiences. But this sequel of commu- talist then western. The symbol is based tradi-
nication should not be all together or in this tional arts, the typography is more like Arabic
order. In most of the cases the advertising or or Persian script. Although Turkey positions
PR efforts are the first step of creating aware- itself as a western country, on the branding
ness towards the brand, this may be followed level it can be seen that orientalist approach is
by personal experience or word of mouth. considered as a marketing tool.

Most of the city branding efforts are mis-


perceiving the city branding as an advertising CITY BRANDS ANALYSES OF
campaign or just a logo and slogan design. It is TURKEY
important to build the logo design and slogan When it comes to build a city brand not every
as a part of a (corporate) branding strategy city could reach there for a country. Most of
134
BrandTrends Journal OUT/2015

the cities are not especially different from ropean for most of the political scene. Turkey
others, some are tried to be a brand but turn has been a nominated country for European
out to be unsuccessful about that or the stake- Union since 1959 and been in the European
holders are not interested in investing for Customs Union since 1996 (UYSAL, 2001).
such a brand. When the specific Turkish cities With all the European definition, Turkey
are analyzed as city brands there are only few is still perceived as “Oriental”. The reason for
destinations and cities may appear in minds. the oriental perception is that the majority of
To be able to understand the basics of the city the society has the Islam religion, and some
branding in Turkey, it is necessary to unders- western cultures have only the “Arabic” per-
tand Turkey as a brand first. ception of Islam (GER, 1997). Turkey is mos-
tly affected by negative stereotypes and con-
Turkey as a Nation Brand
notations (ALVEREZ, 2010), which are not
Nation brands are not just perceived as the easy to change in short term. Turkey seems to
place brands but also have more measurab- have a very unclear image and cannot be de-
le reflections on national production values. fined with few distinctive dimensions (TASCI,
However the Country of origin branding con- GARTNER, & CAVUSGIL, 2007). This can be
cept is not directly relevant to the study here a result of the various marketing strategies of
and will not examined. Turkish Tourism Ministry which changes for
Turkey as a destination or place brand different countries (ALVEREZ, 2010) but also
however has an important role for city bran- a result of unclear image for the brand mana-
ding. Turkey is a vast country, which covers gers within the country too.
783.562 km2 in total. The main administra- As Kavaratzis (KAVRATZIS, 2004) su-
tion order is from the center to the local. The ggested by the three dimensioned branding
capital is Ankara and the administrative sub- communication model, experience is one of
divisions are the cities of 81. Each city has a the key communication methods for Turkey.
governor and a municipality as local autho- The image of Turkey is found significantly hi-
rities. Governors are assigned by the govern- gher for people who had been visited Turkey
ment and the municipalities are elected by the and experienced the country for themselves
local residences. (ALVAREZ, INELMEN, & YARCAN, 2009).
Most of Turkey’s lands are on the Asia But it is still important to create awareness by
while a small part of the county lies in Europe. mass communication and define the integra-
Never the less Turkey has been in the Europe- ted message that is achieved to pass.
an area for sports tournaments groups, joins In the frame of this research, for all 81
the Eurovision song contest (not for the last provinces, logos were all scanned. All the ci-
couple of years though) and defines itself Eu- ties have their own governor’s office logos as
135
BrandTrends Journal OUT/2015

well as municipality logos. All the governor’s a very large tourism potential. The city has a
office logos have the signs of the state, such as long coastal area on the Mediterranean Sea.
the flag or Ataturk and also the local symbols. Tourism is spread to different regions of the
Municipality logos are more locally identified city, both in the city center and outer skirts,
and differ accordingly to the city’s agricultu- villages. The city’s place branding strategies
ral, cultural, heritage, economic stands. build on the strength of the 3S; sun, sea and
Through all the 81 cities have some logos, sand (ALVEREZ, 2010). By the year 2014 An-
only few of them has a branding for the city talya has over (TUIK, 2014) 2 million citizens.
itself. Although every region and city has its Summer holiday period many people move to
own endemic or local product and cultural he- Antalya to work in tourism related jobs. An-
ritage to promote, not many of them conside- talya is the tourism capital of Turkey; there-
fore it is not surprising to have a branding for
red becoming a brand. There may be attempts
the province. In average every year 7 million
to create an identity for the city; most of the
tourist come only by air. In 2010 there were
logos are amateur and not supported with a
267 five star hotels in Turkey and 186 of them
strategy or an institution. The ones which
were in Antalya (URAS, 2010).
have a strategy, often supported or organized
by the city governors, municipality or trade / The majority roots from the nomadic
tourism organization of the cities. The only communities of Anatolia but there are an im-
ones which had a proper city branding effort portant number of immigrants from other
are; Antalya, Bilecik, Bursa, Hatay, Izmir and cities. Addition to that, there are increasing
Mugla. Antalya and Mugla are the most popu- communities of people moved from Russia,
lar summer tourism destinations for tourists. England and Germany which even create some
Bilecik and Bursa may be considered as more small areas where the population majority are
conservative, but also had a cultural herita- these foreigners. As the city is a touristic one,
ge coming from Ottoman Empire. Izmir and most of the people know at least one foreign
Hatay are both touristic and cultural destina- language. Tourism related industries are the
tions. Even though Istanbul is the most well major expertise of the majority of the popu-
known city of Turkey (even some may mis- lation. The city has a major University which
taken it as the capital), the analyses show that also creates a body of young population.
the Istanbul does not have a city branding ef- The city has a great cultural heritage as
fort which is managed from one single source well. Antalya homed many civilizations throu-
of authority. gh Greek, Hellenistic and Roman times. Also
famous Lycia Road is located in Antalya. Its
Antalya
nature and geology provides not just sun and
Antalya is on the south coast of Turkey with beach but also adrenalin and nature sports.
136
BrandTrends Journal OUT/2015

Figure 2: Logo of Antalya Metropolitan Municipality, http://www.kamu-


dannehaber.com/resimler/2/antalya-buyuksehir-belediyesi-engelli-per-
Figure 1: Logo of Antalya Governor’s sonel-alimi-2713.jpg, 10 August 2015, 17:02
Office, http://www.antalya.gov.tr/yukle-
me/dosya/1101bc132958af0d16f3a06a-
0673c5bc.jpg, 10 August 2015, 17:00

Antalya hosts many cultural organizations as trus tree. Besides the citrus trees, Antalya is
well. The most important one is the Interna- a very important greenhouse agriculture cen-
tional Antalya Golden Orange Film Festival ter for Turkey. Almost 90% of the glass gre-
organized every year in October. This is one of enhouses are in Antalya (ANTALYA-GUIDE,
the most prestigious film festivals in Turkey. 2009). With its unique geography, the region
Another important cultural events are As- is also available for livestock breeding. With
pendos International Opera and Ballet Festi- the agriculture based production industries
val and Antalya International Piano Festival the city also has a potential for winter period.
among many others. As Antalya is carefully positioned as a
The expenses for life in Antalya is relati- tourism brand, the brand logo design gains
vely lower then the other big cities. For tou- important not just for the locals to easily un-
rism options Antalya offers various alter- derstand but also to have an international
natives like package holidays, all-inclusive clearance with the message. As seen on Figu-
programs or extra luxury tourism alternati- re1, Figure2 and Figure4 orange is the mostly
ves. Antalya has one of the biggest yacht ma- used symbol for Antalya. Not only because it
rinas that is hosting so many yachters from all is cultivated in this region, but also its simila-
over the world. rities of shape and color to sun. As Antalya is
Addition to tourism, Antalya has a very located on the south coast of Turkey, it is ra-
warm winter climate which makes the city rely without sun. This choice of using orange
also a very big fruit and vegetable production like sun, makes the logo more Mediterranean
center. The main agricultural product is ci- look. Although the type used is a script one,
137
BrandTrends Journal OUT/2015

Figure 3: Poster for 50th International Figure 4: Logo for Antalya, http://jbmo2013.tubitak.gov.tr/sites/default/
Antalya Golden Orange Film Festival, http:// files/antalya.png, 10 August 2015, 17:04
turizmguncel.com/images/content_files/
external/image/2013_fotolari/Afis.jpg, 10
August 2015, 17:03

and decorated on the edges, it is still more rism, hunting or outdoor sports, yet city is not
western style then eastern. a big tourism attraction. The city has a very low
living cost but also has a conservative commu-
Bilecik
nity whom are not very open to change.
The city is a west central Anatolian city with al-
On the other hand city has a very impor-
most 210 thousand citizens (TUIK, 2014). The
tant heritage. Bilecik is known as the birthpla-
city branding efforts are surprising for such a
ce of Ottoman Empire, though its history da-
small city compared to other neighbors becau-
tes back to Bronze Age. The city is not a very
se the city pulse is very low even with some in-
popular tourism destination for foreigners as
dustrial areas. The main economic sectors are,
well as the Turkish. It is more a cultural, his-
marble mining, ceramics, mining, forestry,
torical and archeological destination.
livestock breeding and agriculture. The most
important is marble mines and other mines All these characteristics makes it very
that also supports ceramic sector for raw ma- unlikely for such a city to be in an intention
terial (GOVERNORSHIP of BILECIK). Even to build a city brand. Probably, Bilecik aims
though there are some potential for ecotou- to have more visitors in the future. For this,
138
BrandTrends Journal OUT/2015

Figure 5: Logo for Bilecik Municipality Figure 6: Logo for Bilecik Governorship

Figure 7: Bilecik City Logo


139
BrandTrends Journal OUT/2015

Bilecik built and identity with a logo and a we- trial sectors are textile (34%), furniture (9%),
bsite. As shown below the logo for the munici- food products (8%), machine and equipment
pality and the city are very alike. The symbol (8%), automotive (7%) and any other side
landmarks are used in both logos and the color sectors for the main ones. Besides dominance
is red for both. For the city logo though more of the industry, agriculture is also an impor-
soft, connecting and hearth like form was used tant income for the city (GOVERNERSHIP of
to communicate with a script font. This attitu- BURSA, 2015). Textile kept the first place till
de makes the logo more humanistic than the 14th Century with silkworm breeding and silk
administrative logos. manufacturing.

Bursa Though the major artistic and cultural


events are organized in Istanbul, Bursa has
Bursa is a not a very know city internationally,
its own festivals and busy cultural life. Ulu-
but very popular winter tourism destination
dag University is the source of youngsters in
for domestic tourism. As it is near to Istanbul,
the city. And because of the location and job
the dominance of the biggest it, suppresses the
city to be recognized. The city is located in the opportunities it’s a good place to earn and to
Marmara Region, north west of the country. It go near by to spend. The expenses like rent
is on the Anatolian side and has a coastline for are not as high as the three major cities. As the
the Marmara Sea. Bursa is a very important city produces goods, it is not as expensive as it
industrial city. According to Brookings’ “The can be expected from a big city. The commu-
World’s 10 Fastest Growing Metropolitan nity of the city is coming from different roots
Areas” report (PARILLA & TRUJILLO, 2015), but has a conservative city image in general.
Bursa is on the fourth place. The main indus- Bursa does not have a characteristic po-

Figure 8: Bursa City Logo


140
BrandTrends Journal OUT/2015

sitioning neither as an industry, nor as a Hatay


tourism destination. All of the offerings are Hayat is located on the south east part of the
combined within the city image. Although its country and has both Mediterranean effect
economic power leads the image, more con- and Arabic influences since it has o border
servative presentation has been selected to with Syria. Hatay is very well known of its
stand for the city. History of Bursa also dates location and cultural, historical background.
back to ancient times, yet it has been a capi- Hatay has a very long history of Persian and
tal for Ottoman Empire for a while, which se- Roman influence. And city has been a unique
ems to be more important then any other. The center to accommodate three major religions
city preferred the links with Ottoman cultu- with historical structures. It has been a gate
re as described on the visual identity website for the religions to spread across Anatolia to
(BURSA CITY LOGO, date not mentioned). Europe. The city still embraces very different
The presentation of tulip form in Ottoman ethnical communities in harmony. Besides
Empire and the triple circle of justice, power three major religions there are many subcul-
and wisdom are the main elements of the logo ture communities. The city is lively and there
with a slogan of “Great City”. is a university keeps the young generation in
As seen in the logo, the branding strategy the city.
is to use the umbrella brand. As Turkey’s logo The economy of the province depends on
also contains the tulip and also uses the hand steel industry, furniture, olive and products
calligraphic style in typography, Bursa is not and tourism (GOVERNORSHIP of HATAY,
distinguishing itself from the nation brand. 2012). Addition to that, Hatay has a deep culi-

Figure 10: Logo for Hatay Metropolitan Municipality,


Figure 9: Logo for Hatay. http://dokumanlar.antakyatso. http://www.antakyahaber.com.tr/wp-content/uplo-
org.tr/duyurular/2012/6-11.png, 15.08.2015, 11:07 ads/2014/12/hatay-logo.jpg, 15.08.2015, 11:16
141
BrandTrends Journal OUT/2015

nary culture with all the diverse communities ries. As well as its location the city is also con-
living together, which turns out to be another sidered for its beauty. The Bosporus gives a
tourism attraction for mainly national tou- unique identity to the city. With its 14.377.018
rists. But Syrian War is affecting the city with residents (TUIK, 2014) Istanbul is also one of
the refugees and the violence on the border is the biggest metropolis in the world. The old
limiting the tourism income. city is on the European side of Istanbul and
Antakya is a district of Hatay, which is very located on a peninsula. Istanbul is the mee-
famous with mosaic artifacts and has a mosaic ting point of Asia and Europe. Today the city
museum, which shelters mosaics from 2nd has extended to the borders to the other cities.
Century AD (HATAY ARCHELOGICAL MU- Has two airports and the third is under cons-
SEUM, date not mentioned). Antakya Cham- truction. As well as it is the most populated
ber of Commerce, has announced a competi- city it also leads the economy. The sectors are
tion for a city brand logo in order to represent varied from industry to finance and dominate
the city of Hatay as a whole. After the elimina- to economy in Turkey.
tion down to eight logos, the public voted the Istanbul does not have a single leadership
finalists and the logo was elected. (Figure 9) for city branding and tourism activities. Is-
The logo represents the cultural mosaic and tanbul has changed its destination aim more
unity of the city. Although Hatay is southe- to conventions, events and conferences than
astern city and very near to Arabic states, as to Turkey’s general tourism strategy of sun-
shown in the logo the city prefers to be more sea and sand (ALVEREZ, 2010)
Mediterranean and western in visual langua- Istanbul hosts many international orga-
ge. This attitude can also be seen in the logo nizations, festivals, art events, congress and
of the metropolitan municipality. (Figure 10) fairs etc. If you go through the web sites of the
Istanbul city’s administrative institutions such as go-
vernor’s office or metropolitan municipality
Even though Istanbul has no city branding
you may not find information about the city
and logo uniquely build and managed, the
or you have to dig a lot. Istanbul was the Eu-
city still included to the study since Istanbul is
ropean Capital of Culture in 2010, as Istanbul
the only city referred in Anholt’s city branding
Metropolitan Municipality also references
index studies (ANHOLT, 2006). Significantly
the promotional web site of this event. All the
Istanbul, the biggest and the most densely po-
events happening in the city have their own
pulated also the best known city of Turkey has
logo, but there is no branding for the city. Is-
no city branding on its own. Istanbul has long
tanbul is mostly shown on the national bran-
been on the focus of the World. It has been the
ding level as an image. The best known logos
capital for Roman Empire and the Ottoman
for the city are the Istanbul Metropolitan Mu-
Empire and kept the power to rule for centu-
142
BrandTrends Journal OUT/2015

Figure 11: Logo for Istanbul Metropoli- Figure 12: Logo for Istanbul as a candidate city Figure 13: Logo for Istanbul
tan Municipality for Olympics 2020 European Capital of Culture
2010

nicipality’s (Figure 11), promotional logo for as a touristic and cultural destination and also
the candidate city for 2020 Olympics (Figure a center for fairs and commerce.
12) and the logo for Istanbul European Capi- As it is one of the biggest growing cities
tal of Culture 2010 (Figure 13). For the best in Turkey, the living costs are rising up. The
known city of Turkey it is surprising not to accommodation for everyday living is high as
have a city branding at all. As seen in the figu- well as the holiday prices in popular places
res, city branding is very weak because of the such as Cesme, Alacati. The locals rent their
lack of the leadership the integration has not summers houses for the season or own them.
been established. According to Brookings’ “The World’s 10 Fas-
test Growing Metropolitan Areas” report (PA-
Izmir
RILLA & TRUJILLO, 2015), Izmir has the
The city located on the western coast of second place after Macau, China. It has been
Turkey. The bay is a natural harbor and this said “Izmir has been a key trade hub since
why it has strong links to the sea and sea com- the 17th century, leveraging its easy access
merce. The city center lays around the bay and to Mediterranean and Aegean Sea shipping
the outskirts are on the hills that surround the routes. The government has leveraged its
city. The countryside also has its specialties geographic location through the promotion
for nature, culture and history. Both Ephesus of industrial zones in and around the Izmir
and Bergamo ancient cities are close to Izmir. area. Izmir ranked first in our report for
With the recent excavations the history of Iz- employment growth in 2014, and posted the
mir dates back to 8.500 B.C. Izmir has been a second strongest employment growth of the
port city for centuries and still. The city hosts 2009 to 2014 period.” in the report. Besides
many cultures and religions and the philoso- this economic change Izmir has 4 state and 6
phy is to live tranquilly. Izmir is known both private universities. Its educational profile is
143
BrandTrends Journal OUT/2015

also very high. part of the brand positioning. The logo as ex-
The people of the city known for toleran- plained in the web site (Frontiers’ City, date
ce, hospitality and open-mindedness. Althou- not mentioned), was inspired from the city’s
gh there are over 4 million residents live in firsts. Izmir has been the pioneer for many
the city, you will feel the friendliness with the fields in history. It can be seen from the we-
smile on people’s face wishing you a good day. bsite that a very detailed identity guide was
Research show that Izmir has a brand perso- prepared for the use of the logo, from color
to typography (Color, date not mentioned).
nality of attractive, popular, liberal, western
The logo is distributed in the official docu-
and amusing characteristics (KAPLAN, YURT,
ments and also as a landmark in the airport
GUNERI, & KURTULUS, 2010). Unlike many
or the sites in the city. But the missing part
other Anatolian cities, Izmir lives day and ni-
for all these details is how it is connected with
ght. The climate is very suitable for outdoor
the symbol. The symbol is the evil eye bead
entertainment. Therefore people like to be out
and a village known to produce these beads
during the year. There are international fes-
for many years. But the symbol is used in all
tivals like Izmir International Festival, Izmir
the regions of Turkey and also in many parts
European Jazz Festival, PortIzmir Art Trien-
of Middle East. The connection for the fron-
nial, International Puppet Days and etc. It is
tiers’ city and the evil eye bead is uncertain.
widely preferred for it’s near by locations with
Although Izmir is located on the very west of
in 1 hour, like Cesme, Foca, Urla for weekends
Turkey a more orientalist logo was preferred
and summertime. Mostly watersports like sai-
to represent the city with the symbol as well
ling, windsurf and kiteboard are popular.
as the script font for the logo. This orientalist
The city is usually represented as trade preference is conflicted with the city’s western
city, but tourism, industry, culture are all the and liberal image.

Figure 14: Logo for Izmir City


Figure 15: Logo for Izmir by Izmir
Chamber of Commerce
144
BrandTrends Journal OUT/2015

Interestingly besides this logo, Izmir sign”, more then representing the city and its
Chamber of Commerce also made a branding values. Again the guide explains the colors as,
for the city (Figure15). Not as strongly promo- blue is for sea, history, nature, organic etc.
ted but used in many documents and some and pink for love, passion, energy etc. and the
outdoor advertisements. This logo is more intersection is the point that time stops (Mu-
like a Mediterranean coded and express the gla Destination Brand Management, date not
liveliness and the cultural mosaic of the city.
The slogan of the logo is “city of living” is also
represented in the design.

Mugla
Mugla has a very long coastline of 1124km and
there are mountains by the sea. %67 of its land
are covered with forests. There are 131 bays by Figure 16: Logo for City of Muğla, http://www.mu-
glakulturturizm.gov.tr/Resim/69509,logo-02jpg.png?0,
the coastline. (Mugla Time Stops Here, date 15.08.2015, 12:00
not mentioned). The economy tends on the
tourism mostly. Other sectors are mining, fo-
restry, agriculture and yacht building.
The life in the city is always like on holi-
day. Not only during summer, most of the
year the city has a warm climate. The city life
is spread to the 13 counties unlike many other
Turkish cities, which almost all are popular as
a tourism destination. The native people are
very hospitable and even the villagers learn
foreign languages. Mugla is very well known
for its natural beauty and very popular among
British and German as a place to live. Even in
some villages foreign residents are more then
Turkish.
As explained on the guide (Mugla Desti-
nation Brand Management, date not men-
tioned), the logo is inspired by the theme
stopping time. With the populist colors and
the type-based design, the logo seems to tar-
get the foreigners and looks like a “metro Figure 17: How Mugla Logo is used with county branding
145
BrandTrends Journal OUT/2015

mentioned). The sub logos of the counties are also the historical artifacts in a modern way.
far more complicated for the receiver. Howe- It seems like the lack of central city brand
ver the suitability issues the logo is more built management is the biggest issue for Turkish
on western codes. Umbrella branding strategy city brands, where most of them have lots of
is reflected on county branding which is sig- unique propositions to use and position itself.
nificantly important since “Bodrum” brand is The analyses also show that the Turkish ci-
better known compared to Mugla city brand ties perceive and represent themselves just as
(KILIC & SOP, 2012). “tourism destinations”, which disables most
of the cities to even consider themselves as
CONCLUSION city brands and invest on the branding.
Among 81 cities of Turkey only six of them In the local scale the city branding differs
have a professional, strategically planed on the location. Even though all six cities has
brand communication and logo designs. Even their own strategies, some failed to carry the
though Anholt includes Istanbul as one of the image or the promotional message. Antalya
city brands into the index as part of the 50 ci- with its Mediterranean approach with colors
ties evaluated, Istanbul does not have an in- and font seems to succeed the right way to
tegrated brand management leader and every communicate. The weakness of the logo for
organization or management units creates di- Antalya might be that it does not supportive
fferent logos. enough for the strong image of the city as a
Antalya and Mugla as tourism destinations tourism capital of Turkey. It is surprising that
have different branding and brand communi- Bilecik has a branding and a marketing stra-
cation approaches. While Mugla decides to use tegy. But as it can be seen that the visual ima-
Mugla as an umbrella brand for its counties, ge and language is far away from carrying the
Antalya created a united Mediterranean logo strategy and being creative at all. The logo is
for the city. Bursa as an industrial and agricul- one of the failing logos amongst the six cities.
tural city hides behind the Turkey’s national Bursa, identified the city as a part of the na-
brand and used the same tulip figure. Bilecik tional branding though it has a difficulty to be
used the unique structures form its heritage recognized individually and this might be the
and surprisingly created a city brand for such key point to fail of a city branding. The city logo
a small and less known city. Izmir, with all the for Hatay is one of the most successful logos
European personality, uses the evil eye breads amongst the six. The symbol, colors, type, all
in the logo and confuses the target audience acts for the purpose and reflects the cultural,
with the mixed messages send both oriental historical and locational heritage of the city
and European. Hatay used the mosaic to re- and it has a western way of communicating
present the multi cultural background and with the world. İzmir as one of the most mo-
146
BrandTrends Journal OUT/2015

dern and Eurocentric cities in Turkey, again sinden alınmıştır. 2009.


surprisingly preferred a type form, like in the ASHWORTH, G., & VOOGT, H. Can places be sold
national level, more of an oriental approach. for tourism. G. a. Eds. Ashworth içinde, Marketing
The symbol and the strategy has not been Tourism Places. London. 1993.

connected and the over all visual language ASHWORTH, G., & VOOGT, H. Marketing and pla-
cannot carry the image of the city which is a ce promotion. S. Eds. Gold J. and Ward içinde, Place
Promotion, The Use of Publicity and Marketing to
rising star in the world. The city logo for Mu- Sell Towns and regions. John Wiley. 1994.
gla again fails to represent the city’s natural
BAKER, M., & CAMERON, E. Critical Success Fac-
and touristic values. In spite of the fact that tors in Destination Marketing. Tourism and Hospi-
the visual language is a western coded one, it tality Research, 8(2), 2007, 79-97.
fails and cannot go beyond being an under- BALMER, J. Corporate identity and the advent of
ground signage. The references shown it the corporate marketing. Journal of Marketing Mana-
visual guide cannot be followed when the logo gement, 14(8), 1998, 963-996.

appears individually. BLAIN, C., LEVY, S., & RITCHIE, J. B. Destination


Branding: Insights and Practies from Destination
For further research it is recommended
Management Organizations. Journal of Travel Re-
to include similar city brands from neighbor search, 43(4), 2005, 328-338.
countries and compare the branding strate-
BRAUN, E. My City – My Brand: The Role of Re-
gies. It could also be useful to make content sidents in Place Branding. 50th European Regional
analyses on the promotional materials for na- Science Association Congress, (s. 1-13). Jönköping,
tional and international promotions as well. Sweden. 2010.

BURSA CITY LOGO. 08 11, 2015 tarihinde Bursa


City Logo: http://www.bursasehirlogosu.com adre-
REFERENCES sinden alındı (date not mentioned).
ALVAREZ, M., INELMEN, K., & YARCAN, S. Do
(date not mentioned). 08 15, 2015 tarihinde Mu-
Perceptions Change? A Comparative Study of Pre-
gla Time Stops Here: http://www.timestopsmugla.
and Post-Travel Perceptions. Anatolia: An Interna-
com/en adresinden alındı
tional Journal of Tourism and Hospitality Resear-
ch, 20(2), 2009, 401-418. Color. (date not mentioned). 08 15, 2015 tarihinde
Frontiers’ City: http://onculerinsehriizmir.izka.org.
ALVEREZ, M. D. Marketing of Turkey as a Tourism
tr/renk/ adresinden alındı
Destination. Anatolla: An International Journal
of Tourlsm and Hospitality Research, 21(1), 2010, Frontiers’ City. (date not mentioned). 08 15, 2015 ta-
123-138. rihinde Frontiers’ City: http://onculerinsehriizmir.
izka.org.tr adresinden alındı
ANHOLT, S. The Anholt-GMI city brands index how
the world sees the world’s cities. Place Branding, Mugla Destination Brand Management. (date not
2(1), 2006, 18-31. mentioned). 08 15, 2015 tarihinde Mugla Time Stops
Here: http://www.timestopsmugla.com/en adresin-
ANTALYA-GUIDE. Antalya Guide. http://www.
den alındı
antalyaguide.org/default.asp?islem=menudetay&i-
d=425&catid=407&antalyaguide=Ekonomi adre- FYALL, A., GARROD, B., & TOSUN, C. Destination
147
BrandTrends Journal OUT/2015

Marketing: A Framework for Future Research. Pro- LUS, K. Branding places: applying brand personality
gress in Tourism Marketing, 2006, 75-86. concept to cities. European Journal of Marketing,
44(9/10), 2010, 1286-1304.
GER, G. Batı’nın Gözünde Türkiye’nin Imajı (Image
of Turkey in West’s Eye). Gorus, 1997. 16-23. KAVARATZIS, M. What Can We Learn From City
Marketing Practice. EUROPEAN SPATIAL RESE-
GETZ, D. Event tourism: Definition, evolution, and
ARCH AND POLICY, 2009,16, 41-58.
research. Tourism Management, 2008, 403-428.
KAVRATZIS, M. From city marketing to city bran-
GOVERNERSHIP of BURSA. Ekonomi. 08 15, 2015
ding: Thowards a theoritical framework for develo-
tarihinde Bursa Valiliği: http://www.bursa.gov.tr/
ping city brands. Place Branding, 2004, 58-73.
icerik/181/ekonomi.html adresinden alındı
KILIC, B., & SOP, S. A. Destination personality, self-
GOVERNORSHIP of BILECIK. (tarih yok). Bilecik
congruity and loyalty. Journal of Hospitality Mana-
Today. http://www.bilecik.gov.tr/default_B0.as-
gement and Tourism, 3(5), 2012, 95-105.
px?content=1152 adresinden alınmıştır
LAWTON, G., & PAGE, S. Evaluating Travel Agents’
GOVERNORSHIP of HATAY. Leading Economic In-
Provision of Health Advice to Travellers. Tourism
dustries. 08 12, 2015 tarihinde Governorship of Ha-
Management, 18(2), 1997, 89-104.
tay: http://www.hatay.gov.tr/IcerikDetay.aspx?Ice-
rikId=120 adresinden alındı MIDDLETON, A. City Branding and Inward Investe-
ment. D. Edt. DINNIE içinde, City Brandig: Theoty
GUNN, C. A., & VAR, T. Tourism Planning-Basics,
and Cases. Palgrave Macmillan Ltd.2010.
Concepts, Cases (4th Ed. b.). New York: Routldge.
2002. MORGAN, N. J., PRITCHARD, A., & PIGGOTT, R.
Journal of Vacation Marketing, 9(3), 2003, 285-299.
HANKINSON, G. The management of destination
brands: Five guiding principles based on recent de- PADDISON, R. City Marketing, Image Reconstruc-
velopments in corporate branding theory. Journal tion and Urban Generation. Urban Studies, 30(2),
of Brand Management, 14(3), 2007, 240-254. 1993, 339-350.

HANNA, S., & ROWLEY, J. An analysis of termino- PARILLA, J., & TRUJILLO, J. L. The World’s 10
logy use in place branding. Place Branding and Pu- Fastest Growing Metropolitan Areas. 08 15, 2015
blic Diplomacy, 4(1), 2008, 61-75. tarihinde brookings.edu: http://www.brookings.
edu/blogs/the-avenue/posts/2015/02/10-worlds-
HATAY ARCHELOGICAL MUSEUM. Hatay Ar-
10-fastest-growing-metropolitan-areas-parilla-tru-
cehological Museum. www.hatayarkeolojimuzesi.
jillo adresinden alındı (2015, 02 10).
gov.tr/ adresinden alınmıştır
PECK, J. Struggling with the creative class. Inter-
HOLLIS, R. Graphic Design: A Concise History.
national Journal of Urban and Regional Research,
New York: Thames & Hudson. 2002.
29(4), 2005, 740-770.
HOSPERS, G. City branding and the Tourist Gaze.
PINK, S. Sense and Sustainability: The caseof the
D. Ed. DINNIE içinde, City Branding: Theory and
slow city movement. Local Environment, 13(2),
Cases. Palgrave Macmillian Ltd. 2010.
2008, 95-106.
INSCH, A. Branding the city as an attractive place
TASCI, A., GARTNER, W., & CAVUSGIL, S. (2007).
to live. D. Ed. DINNIE içinde, City Branding: Theory
Measurement of Destination Brand Bias Using a
and Cases. Palgrave Macmillian Ltd. 2010.
Quasi-Experimental Design. Tourism Management,
KAPLAN, M. D., YURT, O., GUNERI, B., & KURTU- 28, 1529-1540.
148
BrandTrends Journal OUT/2015

TRUEMAN, M., KLEMM, M., & GIROUD, A. Can a


City Communi,cate? Bradford as a Corporate Brand.
Corporate Communications, 9(4), 2004, 317-330.

TUIK. Population of provinces by years, 2007-2014.


TUIK (Turkish Statistics Institution). 2014.

URAS, G. Antalya’da 5 yıldızlı 186 otel var. 08 11, 2015


tarihinde milliyet.com.tr: http://www.milliyet.com.
tr/antalya-da-5-yildizli-186-otel-var/gungor-uras/
ekonomi/ekonomiyazardetay/05.12.2010/1322355/
default.htm adresinden alındı

UYSAL, C. HISTORICAL EVOLUTION of TURKEY–


EUROPEAN UNION. Akdeniz I.I.B.F. Journal,
2001, 140-153.

VANOLO, A. The image of the creative city: Some


reflections on urban branding in Turin. Cities, 25(6),
2008, 370-382.

WAHYURINI, O. D. The Significance of City Logo in


City Branding Strategy. Recent Researches in Engi-
neering Mechanics, Urban & Naval Transportation
and Tourism, 2012, 79-84.

WAMABY, G., & MEDWAY, D. Semiotics and Pla-


ce Branding; the Influence of the BUilt and Natural
Environment in City Logos. E. A. Kavaratzis için-
de, Towards Effective Place Brand Management:
Branding European Cities and Regions 2010. (s.
173-190).

ZHANG, L., & ZHAO, S. X. City branding and the


Olympic effect: A case study of Beijing. Cities, 2008,
245-254.
149
PROTEÇÃO E AVALIAÇÃO DA MARCA BrandTrends Journal OUT/2015

Como estão
Protegidas as
marcas mais
valiosas do Brasil?
Uma Análise a partir do
Banco de Dados do INPI

Elaine VIANNA
Tecnologista em Propriedade Industrial no INPI, Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual, Inovação
e Desenvolvimento do INPI, email: elaineviann@gmail.com

Elizabeth PEREIRA
Tecnologista em Propriedade Industrial no INPI, Mestre em Gestão
e Estratégia em Negócios pela UFRRJ (2010), email: elizaper@
zipmail.com.br

Danièle HERVÉ
Tecnologista em Propriedade Industrial no INPI , Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual, Inovação
e Desenvolvimento do INPI, email: daniherve@gmail.com
150
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
Anualmente, são divulgadas as listas com as marcas brasileiras mais valiosas a fim de ratificar a importância desse ativo. Por
outro lado, se observa o grande volume de depósitos de pedido de registro de marcas junto ao Instituto Nacional da Propriedade
Industrial – INPI, o que fomenta as discussões sobre a utilização do sistema de proteção legal para as estratégias das empresas.
Segundo dados do INPI, em 2014, foram depositadas 156.898 marcas. Já a Interbrand, empresa que realiza avaliação de marcas,
em seu relatório do mesmo ano, afirma que a soma do valor das 25 marcas brasileiras mais valiosas ultrapassa 100 bilhões de
reais. A partir da listagem destas marcas brasileiras mais valiosas, segundo a metodologia empregada pela Interbrand, este traba-
lho levantou, junto à base de dados do INPI, os depósitos relacionados a estas marcas. De posse desses dados foi construído um
quadro quantitativo e realizada uma subsequente análise qualitativa desses sinais, no que concerne à sua natureza, apresentação
e classes de produtos ou serviços. O objetivo da pesquisa foi o de identificar a existência de uma relação entre o uso do sistema
de proteção legal dos sinais e as estratégias de gestão destes. Como resultado, foi possível confirmar que a proteção legal foi um
elemento presente nas estratégias de gestão das 25 marcas estudadas.

Palavras-chave: marcas; gestão; proteção legal.

Abstract
Annually, the lists are available with the most valuable brands in order to confirm the importance of this asset. On the other
hand, it’s observed the volume of demand deposits of trademark registration onto the Industrial Property Brazilian Office - INPI,
which promotes discussions on the use of the system of legal protection for business strategies. According to data from INPI, in
2014, they were deposited 156,898 brands. Interbrand, a company that conducts brand evaluation, in its report of that year, states
that the sum of the value of the 25 most valuable brands exceeds 100 billion reais. From the list of the most valuable brands,
according to study by Interbrand, this work collected from the INPI database, deposits related to these brands. With this data,
a quantitative framework was built and a subsequent qualitative analysis of these signals was held, with regard to their nature,
presentation and classes of products or services. The objective of the research was to identify the existence of a relation between
the use of the legal protection system of signs and the management strategies of these. As result, it was confirmed that the legal
protection is an element that composes the management strategies of 25 brands studied.

Keywords: trademarks, management; legal protection.

Resumen
Todos los años se divulga la lista de las marcas más valiosas con fines de ratificar la importancia de este activo. Por otro lado,
se observa la gran cantidad de solicitudes de registro de marcas junto al Instituto Nacional de Propiedad Industrial – INPI, lo
que fomenta las discusiones sobre la utilización del sistema de protección jurídica como estrategia de las empresas. Según datos
del INPI,en 2014, fueron solicitadas 156.898 marcas. Ya la Interbrand, empresa que hace evaluaciones de marcas, afirma, en
su informe del mismo periodo, que la suma del valor de las 25 marcas brasileñas más valiosas superan los cien mil millones de
reales. Desde la lista de las marcas brasileñas más valiosas, siguiendo la metodología empleada por la Interbrand por la Inter-
brand, este trabajo buscó, junto a la basis de datos del INPI, las solicitudes de registro relacionadas a estas marcas. Con estos
datos, se construyó un cuadro cuantitativo y, en seguida, se realizó un análisis cualitativo de esos señales, en lo que concierne a
su naturaleza, presentación y clase de producto o servicio. El objetivo de esta investigación fue identificar la existencia de una
relación entre el uso del sistema de protección juridica de los signos y sus respectivas estrategias de gestión. Como resultado, fue
posible confirmar que la protección jurídica fue un elemento presente en las estrategias de gestión de las 25 marcas estudiadas.

Palabras clave: Marcas; Gestión; Protección Juridica.


151
BrandTrends Journal OUT/2015

INTRODUÇÃO mas de utilização de agregação da proteção da


A marca é um sinal distintivo que identifica marca às estratégias empresariais.
produtos e serviços no mercado e o seu regis- A lista das marcas mais valiosas de 2014
tro garante a exclusividade de uso desse sinal representou uma oportunidade de explorar o
pelo titular do direito. Ela é uma modalidade banco de dados de marcas do INPI, uma vez
de propriedade industrial, como são as paten- que existe a pressuposição de que a proteção
tes, as indicações geográficas e os desenhos legal das marcas está aliada às estratégias de
industriais. valorização das mesmas.
Podem ser titulares de registro de marcas
pessoas físicas, empresas de pequeno, médio
1. METODOLOGIA
e grande porte. A proteção é garantida no ter-
Este trabalho consistiu em uma pesquisa ex-
ritório nacional e os requerentes podem ser
ploratória quantitativa aliada à revisão biblio-
nacionais ou estrangeiros. No ano de 2014,
gráfica. O ponto de partida foi a lista das mar-
foram depositados no Instituto Nacional de
cas brasileiras mais valiosas no ano de 2014,
Propriedade Industrial – INPI 157.0161 pedi-
segundo a metodologia aplicada pela Inter-
dos de registro de marcas, sendo que, cerca de
brand2.
81% são de depositantes residentes no país.
Delimitado o escopo da pesquisa nas 25
A Lei 9279 de 14 de maio de 1996, Lei da
primeiras colocadas do ranking, optou-se por
Propriedade Industrial - LPI é o instrumento
levantar pelo sistema IPAS as marcas mistas
que rege o que pode ser registrado como mar-
e nominativas que contivessem o termo ex-
ca, da mesma forma que apresenta os prazos
posto na lista3 , a fim de identificar os atuais
legais para todos os atos processuais que en-
titulares ou requerentes das 25 marcas. Sen-
volvem o processo de registro. Tal processo
do assim, os processos com transferência de
tem início com o depósito (entrada do pedido
titularidade por cessão, fusão ou incorpora-
no INPI), até a concessão, momento no qual
ção, não foram considerados para o presente
o registro passa ser vigente por dez anos, po-
estudo. Portanto, os requerentes ou titulares
dendo ser prorrogado quantas vezes houver
considerados foram: Banco Itaú, Banco Bra-
interesse por parte do titular.
desco, Cervejarias Reunidas Skol Caracu S.A,
O fato de o registro da marca estar con-
2 http://interbrand.com/assets/uploads/Inter-
dicionado à sua utilização efetiva no merca-
brand-Best-Brazilian-Brands-2014.pdf Acesso em:
do para identificar os produtos ou serviços 30/04/2015.
especificados nos pedidos de registro permite 3 A busca realizada consistiu em levantar o termo
como elemento constitutivo do sinal, mesmo que a
orientar investigações que se baseiem em for-
marca fosse composta por outros elementos também.
Exemplos: “Skol Draft”, “Skol Cerveja Pilsen”. Na
1 Dados fornecidos pela AECON/INPI – www.inpi. ferramenta de busca online do INPI, esse é o tipo de
gov.br/estatísticas pesquisa obtida na opção radical da ferramenta.
152
BrandTrends Journal OUT/2015

Banco do Brasil S.A., AMBEV, Natura, Pe- distintividade da marca, os 25 sinais foram
trobrás S.A., Telefônica Brasil, BTG Pactual, classificados de acordo com a sua relação com
Cielo, Via Varejo, Lojas Americanas S.A., Lo- os produtos ou serviços identificados por eles.
jas Renner S.A., Cia Hering, Ipiranga Produ- Existe um grande número de processos
tos de Petróleo S.A, Companhia Brasileira de de registro das marcas estudadas que se en-
Distribuição, TNL PCS S.A, Caixa Econômica contram arquivados ou indeferidos e o levan-
Federal, Porto Seguro Companhia de Seguros tamento quantitativo utilizou uma marca de
Gerais, Redecard, TOTVS S.A, Alpargatas S.A cada segmento presente no ranking: serviços
e Magazine Luiza S.A. financeiros (Banco do Brasil), telecomuni-
Em seguida, realizou-se o levantamento cações (Vivo), vestuário (Havaianas), bebi-
de cada marca combinada ao nome do titular das (Skol), petróleo/gás (Petrobrás) e varejo
ou requerente, o que levou ao total das marcas (Renner).
depositadas segundo o critério mencionado, Foram identificadas entre as marcas estu-
além do total de marcas com o registro vigen- dadas, aquelas que tiveram solicitação de alto
te e quantas estão aguardando decisão defini- renome a partir das novas regras estabeleci-
tiva. (Figura 1) das em 2013. A partir dessa identificação, foi
A lista da Interbrand contém os segmen- possível verificar a que tipos de marcas tais
tos de mercado nos quais as marcas atuam e, solicitações se referiram quanto à sua nature-
desta forma, a pesquisa procurou confirmar za e apresentação.
se os sinais foram depositados no INPI em Vale ressaltar que a presente pesquisa não
classes de produtos ou de serviços equiva- contemplou as marcas figurativas, com exce-
lentes ao respectivo segmento. Além disso, ao ção ao levantamento da marca de alto reno-
ser constatada uma multiplicidade de classes me, devido à opção expressa anteriormente
reivindicadas para cada marca, chegou-se ao em obter o quantitativo relacionado aos de-
percentual correspondente à NCL que recebeu pósitos de pedidos de registros de marcas que
o maior número de reivindicações (principal) contivessem a expressão nominativa presente
e as duas subsequentes quantitativamente. no ranking da Interbrand.
A pesquisa também contemplou um le-
vantamento temporal das marcas estudadas, 2. SOBRE AS MARCAS E A SUA
pelo qual, foi possível demonstrar a relação PROTEÇÃO LEGAL
que existe entre as datas de criação e a de en- O conceito de marca possui diferentes acep-
trada do pedido de registro no INPI na clas- ções.
se principal, ou seja, naquela em que a marca Segundo CHERNATONY (2005, p. 264-
apresenta maior número de depósitos no total. 271), existem diferentes interpretações para
A partir da revisão bibliográfica acerca da a definição de marca, e para este trabalho,
153
BrandTrends Journal OUT/2015

serão abordadas três delas: leira, somente podem ser protegidas marcas
Marca como logomarca4 - Marca é visíveis e não proibidas.
um nome, termo, sinal, símbolo ou
CERQUEIRA 9 (1946 apud MORO, 2003)
design, ou uma combinação de tudo
isso, destinado a identificar os pro- destacou a função diferenciadora da marca:
dutos ou serviços de um fornecedor Marca é todo o sinal distintivo apos-
ou grupo de fornecedores para dife- to facultativamente a produtos e ar-
renciá-los das de outros concorren- tigos das indústrias em geral para
tes (definição da American Marke- identificá-los e diferenciá-los de
ting Association - AMA). outros idênticos ou semelhantes de
Marca como instrumento legal - A origem diversa. É um bem imaterial
marca assegura uma declaração de que possui proteção por seu caráter
propriedade apoiada legalmente. patrimonial, traduzindo-se esta pro-
Uma vez que o branding representa teção um privilégio de uso e explo-
um investimento, as empresas procu- ração. Fazendo parte da propriedade
ram obter a propriedade legal do títu- industrial, cujo princípio geral é o da
lo como proteção contra imitadores. repressão à concorrência desleal, as
marcas se regem por este princípio.
Marca como um aglomerado de va-
lor - Uma marca é considerada um A proteção legal da marca resguarda o si-
aglomerado de valores. Conceber
nal, seu nome, seu logo, seu simbolismo, os
uma marca como um aglomerado de
valores provê a base para fazer com valores e atributos associados a ele, constru-
que ela fique diferente das outras. ídos junto ao público com as ferramentas de
De acordo com a Lei de Propriedade In- branding. Todo esse investimento deve ser
dustrial 5 (LPI), que legisla sobre a proteção defendido para que concorrentes não utilizem
de marcas no país, “são suscetíveis de registro ou copiem um sinal idêntico ou semelhante
como marca 6os sinais distintivos visualmen- para usufruir ganhos com essa apropriação.
te perceptíveis7 , não compreendidos nas proi- Assim, o registro da marca torna-se mais im-
bições legais8 ”. Portanto, segundo a lei brasi- portante ainda quando o sinal é famoso, pois
quanto mais forte a marca, mais valor ela pos-
4 Segundo CHERNATONY (2005, p. 264), “A diferenciação sui e mais interesse terceiros têm em se apro-
da marca é mais que torná-la distintiva. É descobrir um
atributo importante para os clientes e procurar sustentar veitar de sua fama. Segundo MORO (2003),
essa característica exclusiva de maneira lucrativa. Desenvol- as marcas notórias, por serem mais conheci-
ver a logomarca é algo que deve ser feito a nível estratégico
e não tático”. das, e, consequentemente, mais atraentes ao
5 Lei 9279 de 14 de maio de 1996.
letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando
6 Art. 122 da LPI. revestidos de suficiente forma distintiva; sinal que
7 Marcas não-visíveis são as marcas sonoras, olfativas, induza a falsa indicação quanto à origem, procedência,
gustativas e de textura ou táteis. natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço
a que a marca se destina; entre outros.
8 A lei define em seu art. 124, o que não pode ser
protegido como marca como por exemplo, sinal ou ex- 9 CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da proprieda-
pressão empregada apenas como meio de propaganda; de industrial. 1946, p. 365-366.
154
BrandTrends Journal OUT/2015

público consumidor, são mais suscetíveis de Por este motivo, justifica-se a proteção sob o
serem usurpadas e, por isso, merecem uma ponto de vista legal deste sinal, já que muitos
proteção mais ampla. investimentos foram realizados, tanto finan-
Uma vez que este trabalho trata das mar- ceiros, quanto de marketing e junto ao consu-
cas brasileiras mais valiosas, importante midor, para que esta marca obtivesse o reco-
abordar o conceito de marca forte. nhecimento e fosse tão valorada no mercado.

Uma marca forte10 segundo KELLER e As marcas muito famosas e, portanto,


MACHADO (2006) é construída por meio de mais expostas a prejuízos causados por tercei-
eficientes estratégias de branding que conce- ros, têm atenção específica na legislação, no
deram a ela um diferencial entre as demais artigo que aborda marcas de alto renome11 , uma
marcas presentes no mercado e certa vanta- proteção a mais contra a diluição12 e o aprovei-
gem competitiva. Algumas vantagens em re- tamento parasitário1314.
lação às demais marcas foram descritas por A marca de alto renome (AR), segundo a
KELLER e MACHADO (2006, p. 36): maior Resolução INPI 107/2013, é:
fidelidade e menor vulnerabilidade às ações A marca registrada cujo desempe-
da concorrência; maiores margens; melhor nho em distinguir os produtos ou
serviços por ela designados e cuja
relacionamento com os varejistas e interme- eficácia simbólica levam-na a extra-
diários; aumento da eficácia dos programas polar seu escopo primitivo, exorbi-
de comunicação; oportunidades de licencia-
mento; oportunidades de extensão da marca; 11 Art. 125 da LPI.
empresa atrai melhores funcionários; gera
12 “A teoria da diluição foi construída pela doutrina e
maior interesse da parte dos investidores; jurisprudência norte-americanas e refere-se aos casos
obtém maior apoio dos acionistas. Os auto- de marcas que se tornaram suficientemente distinti-
vas a ponto de ganharem uma certa notoriedade no
res citaram também: melhor percepção do mercado. A diluição da marca ocorre com a usurpação
desempenho do produto ou serviço; menor pelo titular ou utente de um signo idêntico ou simi-
lar, para produtos diferentes daqueles assinalados
vulnerabilidade a crises; resposta mais inelás- pela marca famosa, com o aproveitamento indevido
tica do consumidor a aumentos de preço; res- da fama e dos valores por ela transmitidos. Dentre
os efeitos diretos prejudiciais produzidos, os mais
posta mais elástica do consumidor a reduções nefastos são a perda da distintividade e a ofensa à sua
de preço. Ou seja, uma marca forte é um ati- reputação” (TAVARES, 2007, p. 175).

vo intangível de grande valor para a empresa. 13 “Sempre que uma pessoa se utilizar do prestígio,
fama, renome, das criações e experiências de terceiro,
obtidos e construídos com dispêndio de numerário e
criatividade, para promover-se, sem nenhum risco, a
10 Consideramos, neste estudo, sinônimos os termos custo daquele, ainda que não exista uma relação de
marca forte, marca famosa, marca reconhecida, marca concorrência ou ainda intenção de prejudicar, estará
conhecida, marca líder sob o ponto de vista de marke- caracterizado o aproveitamento parasitário” (MAZZO-
ting. Sob o ponto de vista jurídico, uma marca forte LA, 2004, p. 48).
pode ser considerada como uma marca com relevante
grau de distintividade. 14 Resolução 107/2013, Art. 1 parágrafo 1.
155
BrandTrends Journal OUT/2015

tando assim, o chamado princípio teção muito ampla, concedida a marcas com
da especialidade, em função de sua
alto grau de reconhecimento e prestígio junto
distintividade, de seu reconheci-
mento por ampla parcela do público, ao público em geral presente em todo o país.
da qualidade, reputação e prestígio a Ao depositar uma marca, o requerente
ela associados e de sua flagrante ca-
deve estar atento à construção do sinal para
pacidade de atrair os consumidores
em razão de sua simples presença. que este seja visualmente perceptível e não
infrija as proibições legais e assim possa ser
No caso do Brasil, uma marca para ser
concedido o seu registro. Um dos fatores de
protegida em todo o território nacional deve
dificuldade de se obter uma marca no INPI
ser registrada perante o INPI (Instituto Na-
está relacionado ao fato das empresas esbar-
cional de Propriedade Industrial), órgão fede-
rarem nas proibições legais e terem seus si-
ral responsável pela concessão deste direito.
nais não aceitos para o registro. As proibições
O processo de pedido de marca, ao ser pro-
estão elencadas na lei17 e para este trabalho
tocolado no instituto, deve preencher alguns
cabe destacar duas delas, a saber, os incisos
aspectos formais, como por exemplo, o reque-
VI18 e XIX da LPI. Esses são os principais mo-
rente do sinal deve exercer atividade lícita e
tivos de indeferimentos de marcas.
efetiva15 referente aos produtos ou serviços
para os quais está solicitando a marca. Além O inciso VI determina que não é permi-
disso, o pedido da marca deve ser realizado tido registrar marcas formadas por termos
para identificar produtos ou serviços perten- comuns ou vulgares, genéricos, necessários,
centes a uma única classe. É o chamado prin- descritivos, ou seja, termos que não podem
cípio da especialidade16. ser concedidos a título exclusivo a nenhum
requerente de marca, por serem de domínio
As marcas de alto renome (AR) são uma
público. O Manual de Marcas considera gené-
exceção a este princípio, já que, quando con-
rico o termo, a expressão nominativa ou a sua
cedidas, permitem que o titular tenha a prote-
representação gráfica que expressa a catego-
ção em todas as classes de produtos e serviços,
ria, a espécie ou o gênero ao qual pertence um
inclusive àquelas que pertencem a segmentos
determinado produto ou serviço. Os termos,
ou atividades em que ele não atue. É uma pro-
as expressões nominativas ou o elementos fi-

15 Art. 128, parágrafo 1 da LPI. 17 Art. 124 da LPI.


16 Princípio da Especialidade segundo o manual de 18 Art. 124. Não são registráveis como marca: VI - sinal
marcas: “a proteção assegurada à marca recai sobre de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simples-
produtos ou serviços correspondentes à atividade do mente descritivo, quando tiver relação com o produto ou
requerente, visando a distingui-los de outros idênti- serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para
cos ou similares, de origem diversa”. Disponível em: designar uma característica do produto ou serviço, quanto à
http://manualdemarcas.inpi.gov.br/projects/manual/ natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de
wiki/02_o_que_% C3%A9_marca #242-Especialida- produção ou de prestação do serviço, salvo quando revesti-
de. dos de suficiente forma distintiva.
156
BrandTrends Journal OUT/2015

gurativos indispensáveis para designar ou re- imitação segundo o Manual de Marcas20 é de-
presentar o produto ou o serviço, ou, ainda, finida como “a semelhança gráfica, fonética
seus insumos são considerados necessários. e visual em relação a uma marca anterior de
Já o sinal de caráter comum é o “termo ou ex- terceiro suscetível de causar confusão ou asso-
pressão nominativa ou o elemento figurativo ciação com aquela marca alheia, seja quanto ao
que, embora não corresponda ao nome ou à próprio produto ou serviços, seja com relação
representação pelo qual o produto ou o servi- à sua origem ou procedência”. Com relação a
ço foram originariamente identificados, tenha este inciso, a lei proíbe que um sinal reproduza
sido consagrado, pelo uso corrente, para essa ou imite marcas de terceiros já registradas para
finalidade, integrando, assim, a linguagem co- assinalar produtos ou serviços idênticos, seme-
mercial.”. O sinal considerado vulgar é aquele lhantes ou afins e desta forma, evite a confusão
constituído por gírias, denominações popula- ou associação com a marca protegida.
res ou familiares que também identificam um O inciso VII da LPI,21 que impede o regis-
produto ou serviço. Por fim, o sinal descriti- tro de marcas para expressões de propaganda
vo é, segundo o Manual de Marcas, o “termo também é relevante para a presente pesquisa,
ou expressão nominativa que não se presta a tendo em vista a incidência de pedidos indefe-
distinguir produto ou serviço, mas que visa a ridos por essa norma.
indicar seu destino, sua aplicação ou a descre-
A proteção legal das marcas difere de outros
vê-lo em sua própria constituição”.
regimes de propriedade intelectual (PI), tanto na
Não é permitido que um único titular pos- sua base legal, quanto na sua função econômi-
sua como marca um elemento que pertence ca. BESEN e RASKIND (1991, p.5) destacaram o
à coletividade, não podendo ser propriedade fato de que, embora a proteção das marcas não
exclusiva dele. Entretanto, uma vez que uma derive de incentivos à inovação ou criatividade,
das funções da marca é distinguir, caso o si- ela promove um incentivo econômico.
nal seja formada por termo genérico, neces-
RAMELLO (2006) afirmou que as mar-
sário, comum ou descritivo, mas possua certa
cas são signos com origem nas necessidades
distintividade, o requerente poderá obter seu
do comércio, já que a capacidade de diferen-
registro. Esta é uma ressalva a essa proibição.
ciar um produto dos seus concorrentes no
O outro inciso proibitivo a ser abordado mercado é uma de suas funções mais impor-
é o XIX19 e diz respeito à reprodução ou imi- tantes. Segundo esse autor, embora a marca
tação de marca anteriormente registrada. A
20 http://manualdemarcas.inpi.gov.br/projects/manual/wi-
ki/5%C2%B711_An%C3%A1lise_do_requisito_da_dispo-
19 XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, nibilidade_do_sinal_marc%C3%A1rio#5111-An%C3%A-
ainda que com acréscimo, de marca alheia registrada, para 1lise-da-colid%C3%AAncia-entre-sinais
distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico, seme-
lhante ou afim, suscetível de causar confusão ou associação 21 VII - sinal ou expressão empregada apenas como meio
com marca alheia. de propaganda.
157
BrandTrends Journal OUT/2015

em si não tenha a faculdade de dizer neces- No que se refere à sua apresentação23, às


sariamente algo sobre as características ou marcas podem ser divididas em nominativas,
composição dos produtos, os compradores figurativas, mistas e tridimensionais. A marca
podem através delas, obter as informações nominativa é constituída de palavras, combi-
de que necessitam acerca deles. E foi, segun- nações de letras e números. A marca figura-
do RAMELLO (2006), pela capacidade que tiva é composta por desenho, imagem, ideo-
a marca adquiriu de veicular as informações grama, forma fantasiosa de letra ou algarismo
que influenciam nas decisões de compra, que além de palavras de alfabetos como hebraico,
é dada a ela a proteção legal. Portanto, a re- cirílico, árabe, etc. A marca mista combina
gulamentação sobre a sua proteção nasceu do elementos nominativos e figurativos. A forma
processo que elevou a marca ao status de veí- de um produto que seja capaz de distingui-lo
culo de significados necessários nos processos de outros produtos semelhantes é protegida
e práticas comerciais. Além disso, em teoria, como marca tridimensional.
a marca não precisaria ser registrada, pois a Em relação à sua natureza24, as marcas de
sua validade pode ser verificada pelo uso no produtos, serviços, coletivas e de certificação
mercado, porém, o seu registro confere aos ti- são protegidas no INPI.
tulares algumas vantagens significativas, que
No entanto, para chegar a receber a prote-
inclui um direito seguro que não requer prova
ção legal que assegura a exclusividade de uso
de utilização anterior.
ao seu titular, é necessário que, antes de tudo,
Como já foi exposto anteriormente, o ela seja distintiva. A distintividade é o requi-
INPI utiliza a Classificação Internacional de sito essencial para que um sinal seja reconhe-
Produtos e Serviços de Nice (NCL), que possui cido legalmente como marca. GONÇALVES
uma lista de 45 classes com informação sobre (1999, p.25) denominou como “função dis-
os diversos tipos de produtos e serviços cor- tintiva” à capacidade da marca de diferenciar
respondentes a cada uma delas. Esse sistema os produtos numa “uniformidade derivada da
de classificação é dividido entre produtos que produção em série”.
estão nas classes de 1 a 34 e serviços que es-
tão nas classes de 35 a 4522. A compatibilidade 23 www.inpi.gov.br.
entre a atividade econômica que o requerente 24 A marca coletiva identifica produtos ou serviços feitos
exerça e o segmento que engloba a NCL rei- por membros de uma determinada entidade coletiva (as-
sociação, cooperativa, sindicato, entre outros). Apenas tal
vindicada é observada para a obtenção do re- entidade pode solicitar este registro e ela poderá estabelecer
gistro de marca. condições e proibições de uso para seus associados por
meio de um regulamento de utilização. Esta marca indica
que os produtos ou serviços são certificados pelo titular da
22 É importante saber que as classes não incluem todos os marca quanto a sua origem, modo de fabricação, qualidade
tipos de produtos e serviços que existem. Por isso, o INPI e outras características. A marca de certificação somente
criou listas de apoio, que são as Listas Auxiliares. Fonte: poderá ser utilizada de acordo com os padrões definidos no
www.inpi.gov.br processo. Fonte:inpi.gov.br
158
BrandTrends Journal OUT/2015

CASTRO (2007, p.100) sintetizou a na- catachrestic. The relation involves


a signifier whose ordinary meaning
tureza do direito sobre as marcas como “um
could not reasonably be understood
direito subjetivo patrimonial de exclusivida- to describe or suggest any characte-
de, que possui seu fundamento na tutela con- ristic of its referent. This is akin to
correncial da atividade desempenhada pelo Saussure’s usage of the term “arbi-
trary.”236 Finally, in a fanciful tra-
empresário que se apropria de um sinal para demark, the signifier takes the form
afetá-lo a um determinado mercado”. Neste of a neologism that conveys no defi-
sentido, a exclusividade do uso de um sinal nite semantic content. Strictly, spe-
aking, FLEXITIZED, 237 BASSER,
está ligada inerentemente à sua função de di-
238 and STEEM239 are neologisms,
ferenciação no contexto concorrencial. as is BREADSPRED240 for jam, but
these terms are not fanciful. They
A discussão acerca da distintividade da
are rather suggestive. In contrast,
marca incorpora conceitos da semiologia, EXXON, XEROX, CLOROX, and
onde o signo é o resultado da combinação de ACELA are both neologistic and fan-
pelo menos dois elementos: o significante e o ciful (BEEBE, 2004, p.671).

significado. Sobre isso, BEEBE (2004, p.626) Outro aspecto da proteção das marcas re-
afirmou que a apresentação visual é o signifi- levante para estudos baseados em dados de
cante (composta pelo logo ou a parte verbal, depósitos é o fato de a marca somente receber
não o sinal inteiro), o referente é o produto proteção caso esteja destinada a atuar no seg-
ou serviço assinalado e o significado é o senti- mento de mercado onde efetivamente o seu
do acumulado pela construção e veiculação da titular atue e, além disso, o seu uso deve ser
marca, ou seja, a sua identidade. Esse autor efetivo, sob o risco de extinção do direito por
também classificou as marcas de acordo com caducidade.
o seu caráter distintivo em relação aos produ-
tos ou serviços a identificar: 3. RESULTADOS
Suggestive, arbitrary, and fanciful
marks are held to be inherently dis-
a) Quantitativo total
tinctive of source. Suggestive marks, A figura 1 apresenta a lista das 25 primeiras colo-
such as ATLAS for moving servi-
cadas no ranking da Interbrand das marcas mais
ces or ROACH MOTEL for insect
traps, are textbook metaphors and valiosas de 2014. Na tabela, é possível observar
are described as such by the doc- que 68% (17) das marcas identificam serviços e
trine. They require “imagination, estão distribuídas entre varejo (6); serviço finan-
thought and perception to reach a
ceiro (5); telecomunicações (2); serviço de paga-
conclusion as to the nature of the
goods.”235 In arbitrary marks such mento (2); tecnologia (1) e serviço de seguros (1).
as APPLE for computers or SHELL As oito marcas de produtos estão divididas em:
for gasoline, the figurative relation bebidas (3); petróleo e gás (2); vestuário (2) e cos-
is not so much metaphorical as it is
méticos (1).
159
BrandTrends Journal OUT/2015

Figura 1 : As 25 marcas brasileiras mais valiosas em 2014 e os pedidos de registro no INPI.


Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Sistema IPAS – INPI
160
BrandTrends Journal OUT/2015

b) As classes depositadas Outro aspecto levantado foi que 48% das


A figura 2 traz as classes de produtos ou servi- marcas com classes de serviços como princi-
ços que receberam o maior número de reivin- pais em número de depósitos, apresentaram
dicações. Esses dados são relevantes para a como segundas classes mais requisitadas, ou-
confirmação do interesse em proteger marcas tra classe de serviços. O primeiro exemplo é

no segmento exposto na lista da Interbrand. a Oi que tem 73% dos depósitos na classe 38
( serviços de telecomunicações) e 9% na clas-
Além disso, através do quantitativo apresen-
se 41 (eventos não comerciais, treinamentos,
tado, foi possível identificar tendências de
etc). A Magazine Luiza possui 33% dos pedi-
mercado, como no caso das marcas Antarc-
dos na classe 35 (comércio) e 27% na classe 36
tica que, embora apresente o maior número
(serviços financeiros).
de depósito para bebidas, como pressuposto,
reivindicou na classe 41 (eventos não comer- Foi observado que duas marcas perten-
ciais, treinamento, etc) e 35 (comércio). A centes ao segmento de varejo não apresen-
Petrobrás, empresa situada no segmento de taram como classe de mais depósitos a 35
produtos de petróleo e gás, apresentou como (comércio) e sim, como segunda classe mais
classe líder em reivindicações a NCL (35) rela- representativa. Foram elas: as Lojas America-
cionada à comercialização de produtos, como nas com liderança em depósitos na 36 (servi-
exposto na figura 1. ços financeiros) e a Renner na classe 25 (ves-
tuário e calçados).
Observou-se a tendência de 24% das mar-
cas reivindicadas para identificar produtos Os pedidos de registro das Lojas America-
como classe principal, receberem depósitos nas levantados, curiosamente, apresentaram
para a classe de comercialização destes produ- com maior quantitativo de depósitos a classe
tos como a segunda mais solicitada. Podemos 36 (serviços financeiros), seguida pela classe
citar com exemplos as marcas Skol e Brahma, 35 (comércio) diferente do que era espera-
cuja classe principal é a 32 (bebidas) ambas do, já que atua no segmento de varejo. Outra
com 60% de solicitações, sendo a segunda, a constatação que merece destaque foi a Renner
classe 35 (comércio) com 17% e 28% respecti- ter apresentado mais classes
vamente. Por outro lado, apenas 12% das mar- Na lista, estão presentes marcas que, em-
cas que tiveram como classe principal de pe- bora apresentem depósitos em mais de uma
didos a 35 apresentaram como segunda mais classe de produtos ou serviços, têm uma di-
reivindicada uma classe de produtos, como ferença expressiva entre o percentual da pri-
ocorre com a Petrobrás, cuja segunda classe meira em relação à segunda reivindicada. Po-
mais reivindicada é a de produtos de combus- demos destacar as marcas Itaú (86% e 7%),
tíveis (4) e o Extra, com a classe 30 (alimentos) Bradesco (98% e 0,5%), Natura (75% e 3%),
mais solicitada em segundo lugar. Antártica (86% e 5,5%), Casas Bahia (54% e
161
BrandTrends Journal OUT/2015

5%) e Havaianas (92% e 3%). A marca BTG Brahma e Antarctica apresentaram estraté-
Pactual apenas foi depositada na classe 36, gias de depósitos distintas. A Skol e a Brahma
que corresponde a serviços financeiros. Os de- têm como segunda classe mais depositada, a
pósitos da marca Cielo estão distribuídos nas 35 (comércio), enquanto que, a Antarctica tem
classes de serviços 36, 42 e 35 e de produtos 9, o segundo maior volume de depósitos na clas-
sendo que as duas primeiras receberam 29% se 41 (eventos não comerciais, treinamentos,
cada e as demais, 22%. etc). No segmento de telecomunicações, as
As marcas BTG Pactual, Bradesco e Havaia- marcas Vivo e Oi diferem em relação à segun-
nas receberam grande parte dos seus pedidos da maior classe em depósitos, sendo a Vivo
de registro nas classes principais, que são 36 na classe 9 (produtos) e a Oi na classe 41. As
(100%), 36 (98%) e 25 (92%), respectivamente. marcas Havaianas e Hering do setor de vestu-
As marcas Casas Bahia e Rede apresenta- ário apresentaram a mesma estratégia, sendo
ram empatadas em segundo lugar por núme- a classe 25 (vestuário e calçados) a principal
ro de depósitos, duas classes distintas, a sa- e a segunda a classe 18 (bolsas e malas, além
ber: classes 9 e 11 para a primeira e 9 e 42 para de outros produtos confeccionados em cou-
a segunda. Ressalte-se que no caso da Rede, ro). No segmento petróleo e gás, verificou-se
uma das classes identifica produtos de infor- que a Petrobrás tem o maior quantitativo em
mática (classe 9), enquanto que a segunda re- comércio (classe 35) e logo em seguida, está a
fere-se a serviços do mesmo segmento (42). classe de combustíveis (4), e a Ipiranga apre-
sentou o inverso.
Os resultados obtidos neste trabalho res-
saltaram a presença significativa do setor de Ao ser observado o quantitativo geral das
serviços, seja pela área de atuação das marcas três classes mais reivindicadas pelas 25 mar-
do ranking, ou pelo quantitativo de classes de cas, verifica-se que os segmentos de varejo e
serviços reivindicadas para registro. A tabe- de serviços financeiros foram os que recebe-
la confirma a preponderante presença de de- ram o maior número de pedidos.
pósitos para de marcas do setor de serviços, Esses dados podem servir a estudos seme-
mesmo quando houve a pressuposição de que lhantes ao realizado por SCHMOCH (2003),
a classe de produtos seria a principal, como é que propôs a utilização dos dados relaciona-
o caso da Petrobrás. Por outro lado, as marcas dos às marcas de serviços registradas como
da Vivo, receberam percentual aproximado de indicadores de inovação. Ele baseou sua ideia
depósitos na classe principal 38 (serviços de na pressuposição de que as marcas novas são
telecomunicações) e na classe 9 (produtos re- registradas para identificar produtos ou ser-
lacionados ao segmento onde atua) com 24% viços novos no mercado (p.150). Esse autor
e 22%, respectivamente. afirmou que o uso da propriedade intelec-
As marcas do segmento bebidas Skol, tual nos setores manufatureiros é maior do
162
BrandTrends Journal OUT/2015

Figura 2 : Classe pressuposta e percentual das três principais reivindicadas


Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Sistema IPAS – INPI

que no setor de serviços, porém, a indústria e procedimentais dos escritórios oficiais de


de serviços usa as marcas mais intensamente propriedade industrial. Os serviços intensivos
do que as patentes. No entanto, SCHMOCH em conhecimento e os serviços pós-venda de
(2003) alertou para as especificidades legais produtos foram considerados por ele como os
163
BrandTrends Journal OUT/2015

que possuíam maior potencial em relação à sito no INPI no mesmo ano. Isso permitiu ob-
utilização dos dados de marcas. servar uma tendência de que proteção da mar-
ca está inserida em suas estratégias de gestão.
c) Criação e proteção
Por outro lado, as marcas Banco do Brasil,
A figura 3 apresenta a relação temporal exis- Brahma, Antárctica, Hering e Caixa tiveram
tente entre a criação das marcas estudadas e a um tempo significativo entre a sua criação e
data do seu primeiro depósito para proteção seu depósito de pedido de registro de marca
no INPI dentro de sua classe principal. no INPI, o que demonstrou que à época, a pro-
Foi possível constatar a aproximação as- teção legal da marca não era priorizada.
cendente entre o ano de criação das marcas No universo das sete marcas que possuem
e o seu depósito no INPI, como forma de ga- data de criação muito próxima ou coinciden-
rantir a exclusividade do direito de uso pelas te à de depósito, seis surgiram após o ano de
empresas que detêm a sua titularidade. 2000, sendo pertencentes aos segmentos de
As marcas Vivo, BTG Pactual, Cielo, Extra, telecomunicações (2), serviços financeiros (1),
Oi, Rede e Totvs apresentaram criação e depó- serviços de pagamento (2) e tecnologia (1).

Figura 3: Relação temporal entre a criação da marca e o seu primeiro depósito na classe principal no INPI.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Sistema IPAS – INPI, dos sites das empresas e do site www.mundodasmarcas.
blogpot.com.br
164
BrandTrends Journal OUT/2015

d) Arquivamentos e indeferimentos anteriores, semelhantes e de outros titula-


A partir do levantamento realizado com res. Do total dos pedidos indeferidos, apenas
seis marcas selecionadas como representan- 2 foram pelo inciso VII, sinal de propaganda
tes de cada segmento de mercado foram obti- (Vivo Conectados por uma vida melhor e Vivo
dos os seguintes resultados: Conectados vivemos melhor).

Figura 4: Total de depósitos de seis marcas na principal classe e seu total de pedidos arquivados e indeferidos no INPI
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Sistema IPAS – INPI

Observa-se pelos dados que, entre as seis Para a marca Havaianas, observa-se como
marcas listadas, a Vivo é a que possui o maior resultado de busca, um total de 178 pedidos
número de depósitos, num total de 189, entre depositados na sua principal classe, a de ves-
pedidos (arquivados, indeferidos, sobresta- tuário (classe 25). Deste montante, apenas 1%
dos, etc) e registros de marca (em vigor e ex- (2) foram arquivados por falta de pagamento
tintos). Porém, 29% dos pedidos (55) não ob- da taxa de concessão. Já para os indeferimen-
tiveram o registro por falta de pagamento da tos, o percentual representou cerca de 6% do
taxa de concessão. Ou seja, passaram por todo total de depósitos, sendo que 10 pedidos fo-
o trâmite administrativo de exame, mas ao fi- ram indeferidos pelo inciso XIX.
nal, não pagaram a quantia para a concessão Ainda conforme observado na figura 1,
do certificado da marca. Quanto aos indeferi- para a marca Banco do Brasil, dos 52 depósi-
mentos, foram 7, cerca de 4% do total, sendo tos realizados no INPI na classe 36, cerca de
que 5 deles (Plano Vivo e Você; Vivo Twittan- 27% (14 pedidos) foram arquivados por falta
do; Vivo Ligue Saúde; Vivo Mais e Vivo TV de pagamento da concessão e, os únicos inde-
SAT) foram indeferidos pelo inciso XIX do ferimentos (2) foram pelo uso de expressões de
art. 124 da LPI, havendo portanto registros propaganda (inciso VII do art 124 da LPI) na
165
BrandTrends Journal OUT/2015

composição da marca (Banco do Brasil, Bom ridas pelo inciso VII. Por falta de pagamento
para todos e Banco do Brasil, Bom para Você). da concessão do registro, cinco pedidos da Pe-
Dos depósitos de marca listados anterior, trobrás e três da Skol foram arquivados.
observou-se que a Renner, em sua principal e) Classificação quanto à distintivida-
classe, a de vestuário (25), não possui registro de do sinal
concedido no INPI, uma vez que, dos 7 pedi-
Com base nas contribuições de BEEBE
dos encontrados no banco de dados, 2 foram
(2004), foi possível classificar as marcas de
arquivados por falta de pagamento da taxa de
acordo com o significado das palavras já exis-
concessão e 5 foram indeferidos, por haver
tentes e a sua relação com os serviços ou pro-
anterioridades semelhantes e de outros titu-
dutos a identificar.
lares. No entanto, vale informar que existem
A figura 5 mostra o grande número de si-
depósitos relacio-
nados a essa mar-
ca pendentes de
transferência de
titularidade para
a empresa Lojas
Renner SA, que
foi a considerada
para o presente
estudo, como an-
teriormente ex-
posto na metodo-
logia.
Os pedidos
de marca “Skol, a
cerveja que des-
ce redondo”, “Pe-
trobrás de olho
no combustível”
e “Petrobrás uma
nova energia” fo-
ram consideradas
expressões de pro-
Figura 5: Classificação quanto à distintividade do sinal
paganda e indefe- Fonte: Elaboração própria
166
BrandTrends Journal OUT/2015

nais “arbitrários”, ou seja, aqueles cujas pala- processo de alto renome está em análise de
vras têm significados próprios, porém visam cessão de titularidade, razão pela qual, não
identificar produtos ou serviços não relacio- está presente na lista dos registros do titular
nados a esses significados. Essa presença ma- Lojas Renner SA.
ciça das marcas arbitrárias na lista das mais Os segmentos representados pelas mar-
valiosas do país, além de demonstrar uma cas que solicitaram alto renome foram: ser-
tendência, pode servir à elaboração de outras viço financeiro (5 marcas), bebidas (2 mar-
pesquisas relacionadas à distintividade das cas), telecomunicações (2 marcas); varejo (1
marcas registradas. marca) cosméticos (1 marca); combustíveis
f) Alto renome (1 marca); e vestuário ( 2 marcas). O Banco
do Brasil se destaca com três pedidos de AR
Em relação ao alto renome, o estudo demons-
sendo, uma figurativa e duas nominativas
trou que, entre as dez primeiras marcas mais
(Banco do Brasil e BB). Não possuem solici-
valiosas da lista pesquisada, oito solicitaram
tação de AR os segmentos de serviços de pa-
o reconhecimento do alto renome, de acordo
gamentos; de serviços de seguros e de tecno-
com o levantamento realizado em julho de
logia no universo das 25 marcas estudadas.
2015 no site do INPI.
Observe-se que a totalidade das marcas dos
No grupo das 25 marcas estudadas, oito segmentos de cosmético (Natura) e de tele-
já tiveram o alto renome e hoje esse reconhe- comunicações (Vivo e Oi) foram objetos de
cimento encontra-se expirado, porém sete solicitação de alto renome.
delas solicitaram um novo reconhecimento, A apresentação nominativa liderou as
são elas: Itaú, Skol, Banco do Brasil, Brahma, solicitações com dez pedidos, em seguida,
Natura, Petrobrás e Havaianas. Cabe ressal- estão as marcas mistas em número de três e
tar que a marca Antarctica não solicitou novo apenas uma solicitação refere-se à marca fi-
reconhecimento após sua expiração. Além gurativa. Esses dados confirmam a força da
disso, mais cinco marcas requereram o AR: marca enquanto signo verbal. No entanto,
Vivo, Renner, Extra, Oi e Caixa. Apesar de uma vez reconhecido o alto renome apenas
nenhuma dispor dessa proteção, a manifes- para o elemento nominativo, os outros ele-
tação de interesse por parte dos seus titula- mentos relacionados à marca, tais como sím-
res em garantir que os sinais não possam ser bolos, figuras e composição de cores, ficam
protegidos por terceiros independentemente sujeitos à proteção por terceiros em segmen-
do segmento onde atuem, confirma o impor- tos distintos. A marca mista de alto renome
tante papel que essas marcas desempenham preservaria, portanto, a exclusividade de to-
nas estratégias das respectivas empresas. Em dos os elementos contidos no sinal ao deten-
relação à marca Renner, vale destacar que o tor do direito.
167
BrandTrends Journal OUT/2015

Figura 6: Marcas de alto renome por apresentação e segmento


Fonte: Elaboração própria a partir do site do INPI

CONCLUSÃO de intelectual e o amadurecimento do uso do


sistema. Ao mesmo tempo, a consolidação da
A utilização do sistema de propriedade in-
marca como um dos mais importantes ativos
dustrial pelas empresas brasileiras sofreu um
confirmou a inserção da proteção legal nas es-
acréscimo significativo nas últimas décadas e
isso pode ser atribuído a diversos fatores, tais tratégias empresariais.
como as ações de disseminação da proprieda- Observar como as marcas de maior valor
168
BrandTrends Journal OUT/2015

no país foram (ou serão) protegidas ofereceu Registradas. 2006. Disponível em:<http://de-
a oportunidade de um olhar sobre os dados nisbarbosa.addr.com/generifica.pdf>. Acesso em:
dez 2009.
dos pedidos de registro de marcas que extra-
polou a reflexão jurídica acerca da matéria. Os BEEBE, Barton. The semiotic Analysis of Trade-
mark Law. UCLA Law Review, 2004.
documentos de marcas depositadas no INPI
representam um importante manancial de BRASIL. Projeto de lei n.° nº 4.890 de 2009. Al-
informações que, aliadas a demais dados de tera o art. 125 da Lei nº 9.279, de 14 de maio de
1996, que regula direitos e obrigações relativos à
fontes específicas, pode oferecer à sociedade
propriedade industrial, para instituir o registro
instrumentos de prospecção, elaboração de de marca de alto renome a pedido de interessado.
planos de gestão e escolhas mercadológicas. Brasília, 2009.
O número representativo de marcas no CASTRO, Marco Túlio de Barros e. A degeneres-
segmento de serviços na lista da Interbrand cência da Marca no Ordenamento Jurídico Bra-
e a confirmação dos numerosos depósitos em sileiro, Monografia apresentada ao programa de
pós-graduação da faculdade de Direito da UERJ,
classes para este segmento confirmam ten-
para obtenção de título de especialista em Direito
dências e podem apontar caminhos para fu- da Propriedade Industrial, 2007.
turas pesquisas sobre o setor. Os segmentos
CHERNATONY, Leslie de. Construção de Mar-
como o varejo, serviços financeiros e de paga- ca. In: BAKER, Michael J. (org). Administração
mento possuem o maior número de marcas lí- de Marketing. São Paulo: Ed. Elsevier, 2005. p.
deres em valor e foram reivindicados para re- 263–279.
gistro de marcas ainda que a classe com maior INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE IN-
número de depósitos fosse para produtos. DUSTRIAL (INPI). Normaliza os procedimentos
para a aplicação do art. 125 da Lei nº 9.279, de 14
Com a realização deste trabalho também
de maio de 1996. Resolução 107 de 19 de agosto
foi possível constatar a diminuição do inter- de 2013.
valo entre a criação das marcas e a busca por
INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE IN-
seu registro, como forma de garantir a exclu- DUSTRIAL (INPI). Manual de Marcas. Resolução
sividade do direito de uso pelas empresas que nº 142 de 27 de novembro de 2014. Disponível
detêm a sua titularidade. em: http://manualdemarcas.inpi.gov.br/

Sendo assim, a marca mista garantiria KELLER, Kevin Lane; MACHADO, Marcos. Ges-
maior proteção de todos os elementos ineren- tão estratégica de marcas. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2006.
tes à marca.
MAZZOLA, Marcelo Leite da Silva. As entrelinhas
da indenização nos casos de parasitismo. Revista
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS da ABPI. nº 71, p. 42-48, jul/ago. 2004

BARBOSA, Denis Borges; PORTO Patrícia; PRA- MORO, Maitê Cecília Fabbri. Direito de Mar-
DO, Elaine Ribeiro do. Generificação e Marcas cas: abordagem das marcas notórias na Lei
169
BrandTrends Journal OUT/2015

9.279/1996 e nos acordos internacionais. São


Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003.

RAMELLO, Giovanni B. What’s in a sign? Trademark


law and economic theory. Universitá del Piemonte
Otientali, Journal of Economic Surveys, Vol.20.Nú-
mero 4. Oxford: BlackWellPublishing, 2006.

SCHMOCH, Ulrich. Service marks as novel inno-


vation indicator. In: Research Evaluation, volume
12, number 2, August 2003, pages 149–156, Bee-
ch Tree Publishing, 10 Watford Close, Guildford,
Surrey GU1 2EP, England.

TAVARES, Maria de Lourdes Coutinho. Marca


Notoriamente Conhecida: Espectro de Proteção
Legal. Revista da Escola de Magistratura Regio-
nal Federal: 2º Região. Cadernos Temáticos Pro-
priedade Industrial. Rio de Janeiro: EMARF- TRF
2º Região. 2. ed. ampliada. p. 147-191, fev. 2007.
170
O DISCURSO DA MARCA E IDEOLOGIA
BrandTrends Journal OUT/2015

A mística
cristã e a
política
mundana

Aryovaldo de Castro AZEVEDO JUNIOR


Professor Doutor DECOM e PPGCOM/UFPR, pesqui-
sador dos grupos de pesquisa Comunicação Eleitoral
(CEL), email: prof.ary.azevedo@uol.com.br.

Gabriel Alexandre BOZZA


Mestre em Comunicação na Universidade Federal do
Paraná (UFPR), email: gabrielbozz@gmail.com.

Fernando CASTRO
Mestrando PPGCOM/UFPR, pesquisador dos grupos de
pesquisa Comunicação Eleitoral (CEL), email: castro.
jorn@gmail.com.
171
BrandTrends Journal OUT/2015

Resumo
O processo eleitoral de 2014 iniciou a consolidação de alguns partidos políticos enquanto representantes de valores sociais,
num contraste significativo com a maioria destas associações, normalmente unidas em torno de propostas mutáveis ao sabor de
pesquisas de mercado. O artigo pretende identificar o posicionamento do Partido Social Cristão (PSC), que conta com 1 senador,
12 deputados federais, 34 deputados estaduais e 74 prefeitos, com o cotejamento entre o estatuto partidário e as propostas de seu
candidato, Pastor Everaldo, nas eleições presidenciais de 2014, com uma plataforma eminentemente privatista e com a defesa ge-
nérica de valores como conservação do meio ambiente, desenvolvimento sustentável, bem-estar dos idosos e aposentados, segu-
rança no trânsito, manutenção do emprego, acesso à saúde e manutenção de conforto e dignidade dos cidadãos, com a defesa de
menos intervenção estatal na economia e a crença na auto regulamentação dos mercados. Isto rendeu 780.513 votos (0,75% dos
votos válidos) e um esboço de posicionamento que pode representar os valores do PSC no cenário político-partidário nacional.
Para entender a correlação entre valores organizacionais e discurso público, será analisada a campanha do candidato pastor Eve-
raldo e sua comunicação de marketing na construção de identidade de marca de sua candidatura e do seu partido político, o PSC.

Palavras-chave: marca; marketing político; partidos políticos; comunicação promocional; eleições.

Abstract
The electoral process of 2014 has initiated the consolidation of some political parties as representatives of social values, in a
significant con-trast with the majority of these organizations, usually united around proposals that mutate according to market
researches. This article in-tends to identify the Social Christian Party (PSC), which counts with 1 senator, 12 federal deputies,
34 state deputies e 74 mayors, compar-ing party statute and the proposals of its candidate, Pastor Everaldo, on the presidential
elections of 2014, with an eminently privatist plata-form and generic defense of values such as environmental preserva-tion,
sustainable development, well-being of the elderly and the retired people, traffic security, employment maintaining, access to
health care and ensure of citizens comfort and dignity, defending the reduction of state intervention on economy and the belief
in markets self-regulation. That resulted in 780.513 votes (0.75% of valid votes) and a sketch of positioning that may represent
PSC’s values on the national political-party scene. To understand the correlation between organiza-tional values and public spee-
ch, it will be analyzed the campaign of the candidate Pastor Everaldo and his marketing communication on the construction of
brand identity, both of his candidature and his political party, PSC.

Keywords: Brand; Political Marketing; Political Parties; Promotional Com-munication; Elections.

Resumen
Com el proceso electoral de 2014 inició la consolidación de algunos partidos políticos como representantes de los valores so-
ciales, un contraste significativo para la mayoría de estas asociaciones, por lo general unida en torno de propuesta cambiante al
sabor de la investigación de mercado. El articulo tiene como objetivo identificar la posición del Partido Social Cristiano (PSC),
que tiene 1 senador, 12 diputados federales, 34 representantes estatales y 74 alcaldes, con la comparación entre el estatuto de
los partidos y las propuestas de sus candidatso, el Pastor Everaldo, en las elecciones Presidencial 2014, con una plataforma
eminentemente privatizadora y con la defensa general de valores como la conservación del medio ambiente, el desarrollo
sostenible, el bienestar de los ancianos y jubilados, la seguridad del tráfico, la conservación del empleo, el acceso a la salud
y el mantenimiento de la comodidad y la dignidad los ciudadanos, a la defensa de una menor intervención del Estado en la
economía y la creencia en la autorregulación de los mercados. Esto produjo 780.513 votos (0,75% de los votos) y un esbozo de
posicionamiento que puede representar los valores del PSC en la escena política nacional del partido. Para entender la corre-
lación entre los valores organizacionales y el discurso público, será analizada la campaña del candidato pastor Everaldo y su
comunicación de marketing en la construcción de la identidad de marca de su candidatura y su partido político, el PSC.

Palabras clave: marca; marketing político; partidos políticos; comunicación promocional; las elecciones.
172
BrandTrends Journal OUT/2015

INTRODUÇÃO cenário eleitoral, e decorrente da legislação


Os partidos políticos são pessoas jurídicas de eleitoral vigente, a formação de coligações
direito privado e têm sua criação e funciona- partidárias tornou-se fundamental para a con-
mento regulados pela Lei n.9.096, de 19 de solidação de candidaturas, forjadas sobre in-
setembro de 1995. O artigo 2º dessa lei esta- teresses práticos, não programáticos, princi-
belece que “é livre a criação, fusão, incorpo- palmente decorrentes do tempo de exposição
ração e extinção de partidos políticos cujos no Horário Gratuito Político Eleitoral (HGPE)
programas respeitem a soberania nacional, e do acesso a cargos em variados níveis da ad-
o regime democrático, o pluripartidarismo ministração pública. Neste contexto, nota-se
e os direitos fundamentais da pessoa huma- um esvaziamento de aspectos ideológicos,
na”. Enquanto isso, o artigo 3º assegura aos tornando a construção da maioria, necessária
partidos autonomia para definir sua estrutura para a gestão do Poder Executivo, nos níveis
interna, organização e funcionamento. Além Federal, Estadual e Municipal, numa troca de
disso, garante autonomia também para a de- interesses circunstanciais.
finição dos critérios de escolha e o regime das Na disputa pela Presidência da República,
coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de a coligação governista, formada por PT, PMDB,
vinculação entre as candidaturas em âmbi- PDT, PCdoB, PP, PR, PSD, PROS e PRB, ree-
to nacional, estadual, distrital ou municipal. legeu a candidata Dilma Rousseff, que obteve
Cabe a cada partido, estabelecer as normas de 54 milhões dos votos válidos com tempo de ex-
disciplina e fidelidade partidária. A seguir, o posição no HGPE de 11 minutos e 24 segundos
artigo 7º define o acesso ao Fundo Especial de no primeiro turno. Nas oposições, a coligação
Assistência Financeira aos Partidos Políticos, formada por PSDB, PTB, PTC, PMN, PTdoB,
destinado a todas as organizações que tenham PTN, SD, DEM e PEN, do candidato Aécio Ne-
seu estatuto registrado no Tribunal Superior ves, obteve 51 milhões de votos com tempo de
Eleitoral e com prestação de contas regular exposição no HGPE de 4 minutos e 35 segun-
perante a Justiça Eleitoral. O acesso ao Fun- dos no primeiro turno. A outra coligação uniu
do representa mais que dinheiro, representa PSB, PRP, PPS, PSL, PPL e PHS e foi encabe-
também tempo de exposição em mídia, basea- çada por Marina Silva, que obteve 22 milhões
do principalmente na representação que cada de votos com tempo de HGPE de 2 minutos e 3
legenda conquistou na última eleição para a segundos no primeiro turno. Ainda concorre-
Câmara dos Deputados. ram Pastor Everaldo (PSC) com 70 segundos,
Nas eleições de 2014 havia 32 partidos re- Luciana Genro (PSOL) com 51segundos, além
gistrados e habilitados a participar da disputa de Eymael (PSDC), Zé Maria (PSTU), Levy
eleitoral aos cargos de presidente da Repúbli- Fidelix (PRTB), Mauro Iasi (PCB), Eduardo
ca, governadores, senadores, deputados fede- Jorge (PV) e Rui Pimenta (PCO), que somados
rais e deputados estaduais e distritais. Neste tiveram 290 segundos e amealharam 3,6 mi-
173
BrandTrends Journal OUT/2015

lhões de votos. No segundo turno, as candida- Saúde, Infraestrutura, Meio-ambiente, Políti-


turas de Dilma e Aécio tinham 10 minutos de co-Sociais e Segurança. Por fim, serão levan-
exposição cada1. tadas as posições defendidas pelo PSC quanto
Esta profusão de siglas e posicionamentos a temas recentes e com grande reverberação
políticos dificulta a compreensão das propos- social, como: a) redução da maioridade penal;
tas dos partidos e acaba por comoditizá-los, b) descriminalização do aborto; c) união ho-
tornando-os indistintos, de tal modo que a moafetiva; d) descriminalização das drogas;
construção de marcas de partidos políticos e) regulamentação da terceirização e, f) apoio
torna-se uma oportunidade para a consolida- ou oposição ao governo federal. Deste modo,
ção de diferenciais que vão resultar num po- procuramos identificar a representativida-
sicionamento mais claro e consistente, o que de desta agremiação no cenário político na-
tem potencial de se refletir na identificação cional, e de como a manutenção de posturas
com propostas pelo eleitorado e redundar em enfáticas em relação a temas variados defen-
votos, cargos e verbas para o partido, num ci- didos em seu estatuto pode servir como base
clo virtuoso que pode mudar o cenário políti- para a criação de uma identidade de marca do
co nacional. Cabe aos partidos, dentre outras partido político consistente e duradoura, de
variáveis, utilizarem ferramentas de marke- modo a consolidar esta agremiação em torno
ting para que este processo seja exitoso. de propostas concretas que não mudem ao sa-
bor de pesquisas de opinião e que consolidem
O artigo pretende identificar o posicio-
a sua participação na democracia representa-
namento do Partido Social Cristão (PSC, 20)
tiva nacional com a defesa de posições ideoló-
considerando informações oficiais do partido
gicas consistentes, dentro do amplo espectro
referentes a sua história, visão, missão, valo-
que cabe aos partidos políticos representar.
res, identidade visual. Irá levantar a represen-
tatividade do PSC nos cargos eletivos em nível
nacional e identificar seus principais atores MARKETING E PARTIDOS POLÍTI-
políticos, que visibilizam o partido, sendo COS
seus porta-vozes junto à sociedade. Também O termo marketing se refere ao conjunto
serão apontadas as suas propostas temáticas, dos métodos e dos meios que uma organiza-
seguindo a metodologia desenvolvida pelo ção dispõe para promover nos públicos pelos
grupo de pesquisa em Comunicação Eleito- quais se interessa os comportamentos favorá-
ral da Universidade Federal do Paraná (CEL/ veis à realização dos seus próprios objetivos.
UFPR), nas seguintes áreas: Administração Inicialmente centrado na ação de mercado, o
Pública (Governança), Economia, Educação e marketing ganhou amplitude e é utilizado em
diversos segmentos, com conceitos específicos
1 Raio-X Presidente. Disponível em: <http://eleicoes.
uol.com.br/2014/raio-x/>. Acesso em: 07 jul. 2015. direcionados para cada atividade relacionada.
174
BrandTrends Journal OUT/2015

No sentido original (empresarial), marke- partidárias por meio de variadas platafor-


ting é o processo que estimula o consumidor a mas, físicas ou virtuais, e deve-se considerar
comprar produtos e serviços que lhe propor- que para impactá-los de modo consistente, as
cionem algum tipo de benefício. Quanto maior propostas precisam representar seus valores
a percepção de qualidade que o consumidor e influenciar positivamente suas qualidades
tem de determinada marca, maior o valor de vida ao gerar melhorias à economia, à ci-
pelo qual ele está disposto a investir para que dadania, ao meio ambiente, à cultura e outros
possa possuí-la (KOTLER, 2006, p.142). Para elementos de relevância social. Assim, no caso
isto, as empresas procuram identificar neces- de partidos políticos, os valores da organiza-
sidades latentes e desejos dos consumidores ção estão associados à sua missão, que é a
para definir as características dos produtos ou própria razão de ser do partido. A visão pode
serviços a serem elaborados a fim de oferecer ser definida como o desejo de transformação
soluções que gerem o consumo. Quanto mais do país de acordo com as propostas defendi-
efetiva é a solução oferecida ao mercado, mais das pelo partido para a construção do futuro
valorizada a marca se torna. nacional. Os valores podem ser considerados
A marca partidária tem relação com con- como os padrões de comportamento presen-
sistência ideológica, histórico de atuação, cre- tes em suas relações com a sociedade. Soma-
dibilidade, qualidade percebida, etc., sendo dos, articulam um conjunto de prioridades e
afeitos a influências da imprensa, formadores propostas de gestão, inclusos em suas práticas
de opinião, relacionamento com eleitor/cida- cotidianas, o que tende a fortalecer comporta-
dão, publicidade, etc. Neste âmbito, deve-se mentos que beneficiam a sociedade enquanto
considerar o uso da abordagem inerente ao reforçam os próprios valores da organização
discurso mercadológico, que objetiva reforçar partidária (KOTLER, 2010, p.44).
a relação entre marca e consumidor, reforça- Estes conceitos basilares da cultura orga-
do o seu share of mind (lembrança da marca). nizacional partidária devem permear todas
Aplicado às especificidades da política, as relações do partido, pois representam seu
por seu caráter eminentemente conceitual e conjunto de crenças e valores e são determi-
imaterial, a marca partidária requer relacio- nantes para a definição de objetivos e estra-
namento permanente com os cidadãos para tégias de marketing e da consequente imple-
continuar existindo em sua lembrança, evi- mentação de ações comunicacionais junto aos
tando que estes busquem outras opções ide- seus públicos de interesse (ARANTES, 2002,
ológicas para a realização de seus desejos na p.38).
construção de uma sociedade adequada aos A construção de valores associados à mar-
seus interesses – pessoais e/ou sociais. ca é um aspecto fundamental ao se considerar
Cidadãos se relacionam com as marcas a questão da (in)distinção entre os milhares de
175
BrandTrends Journal OUT/2015

produtos e serviços existentes à disposição no As marcas estabelecem ou reforçam


a identidade e o amor-próprio dos
ato do consumo. No caso da política nacional,
consumidores, que nelas procuram
nota-se uma grande similaridade em muitos âncoras funcionais/racionais (pra-
aspectos programáticos dos partidos políti- ticidade, performance, qualidade,
cos, o que acaba por dificultar a escolha em rendimento, durabilidade) e simbó-
licas/emocionais (conferir status,
termos de marca partidária e reforça a predi-
visibilidade, alavancar autoestima e
leção por candidatos – personalismo político. encorajar autoexpressão) (SCHWE-
Isto tende a enfraquecer os partidos, que se RINER, 2011, p.77).
tornam reféns de nomes, o que enfraquece as Quanto maior a percepção de qualidade
ideologias e esvazia a relevância de suas pro- que o consumidor tem de determinada mar-
postas e projetos para a nação, invertendo a ca, maior o valor pelo qual ele está disposto a
lógica da relação partido-candidato – carac- pagar para que possa possuí-la. Em política,
terística dominante na política nacional desde podemos associar este conceito com a com-
a instalação da República (SAMUELS, 1997). petência em propor, implementar e executar
Esta dissociação entre políticos e partidos programas que reflitam os interesses do eleito-
é deletéria para a construção de partidos for- rado que segue as propostas partidárias. Neste
tes, o que torna o fenômeno de coligações re- sentido, mais do que preocupações ideológi-
gionais e quociente eleitoral, previstos na le- cas, os partidos políticos procuram identificar
gislação eleitoral, ainda mais perniciosos para necessidades latentes e desejos dos consumi-
a consolidação das marcas partidárias e da dores (eleitores) para definir as características
democracia representativa visto que reforçam programáticas a fim de oferecer soluções que
situações casuísticas de “compra casada” nas gerem voto. Conforme alerta Schulz (2000):
quais vota-se num político e elege-se outros, A ampliação do número de eleitores,
a fragmentação de interesses destes
sem saber.
vastos contingentes populacionais,
os diferentes sujeitos que tem de ser
atingidos pelos discursos dos candi-
MARCAS E PARTIDOS POLÍTICOS datos, o grande leque de temas que
Em busca de valorização e diferenciação, são tem de ser debatidos nos pleitos elei-
procuradas abordagens que singularizem os torais, entre outros fatores, levam
os partidos políticos a construção
partidos e estimulem a predileção do cidadão.
de programas e plataformas muito
Gostar, ter empatia, desejo, respeito ou qual- amplos e impossíveis de serem cum-
quer outro sentimento por uma marca pode pridos, projetando a frustração nos
eleitores e a busca de outros locais de
ser o diferencial que gera o consumo (voto).
expressão de reivindicações e/ou in-
É neste conjunto de valores emocionais e ra- teresses (SCHULZ, 2000, p. 04-05).
cionais que o branding atua na tentativa de
Paradoxalmente isto pode resultar num
construir marcas (AAKER, 1998).
176
BrandTrends Journal OUT/2015

esvaziamento dos partidos que passam a refle- prazer ou desapontamento resultante da com-
tir demandas sociais ao invés de criar alterna- paração entre o desempenho (ou resultado)
tivas que influenciem nas diretrizes nacionais. percebido de um produto e as expectativas do
Por exemplo, a polêmica questão da legaliza- comprador. Se o desempenho não alcançar as
ção das drogas não é abertamente encarada expectativas, o cliente fica insatisfeito. Se al-
em campanhas, pois gera reações negativas cançá-las, ele ficará satisfeito. Se o desempe-
de parte do eleitorado religioso. Embora seja nho for além das expectativas, o cliente ficará
uma questão de saúde e segurança públicas, altamente satisfeito ou encantado (KOTLER,
que merece debate e posições condizentes 2006, p.142). Em política, a satisfação e repe-
com o século XXI, é um tema que normal- tição do voto dependem de a oferta atender ou
mente é evitado por partidos e candidatos. não a essa expectativa de valor – seja em rela-
ção aos valores ideológicos, seja em relação à
É comum a tergiversação sobre assuntos
qualidade técnica dos projetos pelos políticos.
polêmicos, evitando confrontar parte do elei-
torado que pode decidir uma eleição. Mas se Para tanto, a comunicação da marca pre-
constitui numa postura reticente de partidos cisa ser consistente em todas as etapas de sua
que buscam criar identidade de marca para relação com o consumidor e a avaliação da
representar segmentos sociais. No mundo sua performance e credibilidade é permanen-
ideal, o marketing político seria a consonân- te pois a experiência do cliente está em todos
cia de três conceitos: identidade, integridade os pontos de contato entre ambos, daí a re-
e imagem. Marketing deveria significar defi- levância entre o que uma marca promete e o
nir com clareza sua identidade e fortalecê-la que ela realmente entrega (KOTLER, 2010,p.
com integridade autêntica para construir uma 39). Como pôde ser notado na ultima campa-
imagem forte (KOTLER, 2010, p. 48). Ou seja, nha, com a exposição maciça entre promessas
há ainda um longo caminho a ser percorrido e de campanha e realizações de governo, tanto
algumas exceções despontam no cenário par- de Dilma Rousseff quanto de Aécio Neves,
que foram expostos de modo extenuante, com
tidário nacional, como nota-se em propostas
fatos e interpretações dos mesmos que leva-
defendidas pelo PSC.
vam ambas as candidaturas a uma guerra de
O marketing (político) deve estimular a
informações que, se não conseguia adesões,
percepção de valor oferecido pelo partido /
reificava opções adotadas pelos seus eleito-
candidato e construir relações sólidas e pere-
res. Ou, após a vitória e posse da presidente
nes com os cidadãos / eleitores, para que se
Dilma Rousseff, quando parte significativa de
tornem apologistas da marca, dispostos a de-
promessas de campanha foi deixada de lado
fendê-la de ataques e a propagar seus valores
e políticas defendidas pelo seu principal ad-
e qualidades para o mundo. versário foram absorvidas e implementadas.
De modo geral, satisfação é a sensação de Este procedimento acabou por gerar um vá-
177
BrandTrends Journal OUT/2015

cuo de apoio que agora redunda em taxas de que estar em sintonia com as aspirações e ne-
rejeição que beiram os 70%2 e que instigam a cessidades dos segmentos sociais a serem al-
oposição a agir de modo oportunista, buscan- cançados (MANHANELLI, 2004, p.14).
do isolar e enfraquecer o poder executivo por O marketing eleitoral pode ser definido
conta de ações orquestradas entre a oposição como um conjunto de ações e ferramentas
e parte da base de apoio ao tentar minar varia- que objetivam adequar o político aos anseios
das ações governamentais, seja com o envio dos eleitores, sendo o canal de aproximação
de emendas impossíveis de serem implemen- entre esses dois lados. Configura-se numa
tadas sem afetar as contas públicas, seja por ciência com características próprias e subje-
conta do aumento da pressão para conseguir tivas, sobre a qual interferem fatores como es-
cargos e nacos do poder em troca de apoio paço, tempo e público. É aplicado num espaço
parlamentar. Um universo no qual a ideologia de tempo determinado, curto, com o objetivo
repousa enquanto o fisiologismo cresce verti- central de eleger um candidato. Os destinatá-
ginosamente, gerando uma situação delicada rios das ações do marketing eleitoral são os
para o próprio estado democrático. eleitores, que por sua vez serão convencidos a
votar em determinado candidato.
MARKETING POLÍTICO O marketing governamental é destina-
O marketing político engloba o marketing do à sociedade e organizações que sofrerão a
eleitoral, marketing pós-eleitoral (ou gover- ação direta ou indireta dos órgãos de governo,
namental) e o marketing institucional (ou e tem como principal característica a publici-
partidário). Cada um com características, ob- zação de propostas e realizações implemen-
jetivos e estratégias distintos, embora num tadas pelo governo eleito durante sua gestão.
contexto amplo, integrados e inter-relaciona- É uma forma de comunicação que transcende
dos. Do ponto de vista prático, o marketing partidos e deve se notabilizar por seu caráter
político representa um trabalho permanente informativo, ao mesmo tempo em que corro-
de construção de imagem e produção de res- bora na construção da identidade de marca
postas/ações que atendam aos interesses dos do governo estabelecido em seu período de
públicos em potencial. Ou seja, desenvolve gestão, o que infere uma comunicação de per-
um conjunto de ações a médio e longo prazo manência duradoura mas determinada exata-
que estabelece diferenças entre um projeto mente pelo período do mandato.
político e seus concorrentes. Além disso, tem O marketing partidário é focado na di-
fusão de ideias e propostas defendidas pelo
2 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ partido político, com o intuito de gerar rela-
poder/2015/08/1665135-reprovacao-de-dilma-cresce cionamento que resulte na identificação do ci-
-e-supera-a-de-collor-em-1992.shtml>. Acesso em: 13
de agosto de 2015. dadão com sua plataforma política, angarian-
178
BrandTrends Journal OUT/2015

do apoio para a defesa desta e resultando num vinte e duas horas para, com exclu-
sividade:
relacionamento de longo prazo, que culmina
I – difundir os programas partidários;
no período eleitoral e deve gerar, além do voto
II – transmitir mensagens aos filia-
em si, também a difusão da ideologia partidá-
dos sobre a execução do programa
ria na construção de uma base maior de apoio partidário, dos eventos com este re-
– eleitores. A defesa apaixonada de ideias e a lacionados e das atividades congres-
busca pelo voto engajam os militantes polí- suais do partido;

ticos, e seu relacionamento com outros cida- III – divulgar a posição do partido em
relação a temas político-comunitários;
dãos pode construir uma maior base de apoio
IV – promover e difundir a partici-
que possibilite a conversão no momento elei- pação política feminina, dedicando
toral e, um resultado favorável nas urnas. às mulheres o tempo que será fixado
pelo órgão nacional de direção par-
A premissa deste artigo é de que os três
tidária, observado o mínimo de 10%
tempos do marketing político estão integra- (dez por cento).
dos e se retroalimentam, de tal modo que a re- Art. 46. As emissoras de rádio e de
levância destes momentos distintos na cons- televisão ficam obrigadas a realizar,
para os partidos políticos, na forma
trução das marcas partidárias é considerada
desta Lei, transmissões gratuitas em
em seu conjunto para a efetividade de resul- âmbito nacional e estadual, por ini-
tados no processo de branding dos partidos ciativa e sob a responsabilidade dos
respectivos órgãos de direção.
políticos. Na construção de identidade mar-
Art. 48. O partido registrado no Tri-
cárias, as ferramentas midiáticas represen-
bunal Superior Eleitoral que não
tam um importante espaço de reprodução de atenda ao disposto no art. 13 tem
conteúdo político, sendo regidas por legisla- assegurada a realização de um pro-
ções específicas conforme o momento e eixo grama em cadeia nacional, em cada
semestre, com a duração de dois mi-
da comunicação. nutos.
Assim, a comunicação partidária se adéqua Art. 49. O partido que atenda ao dis-
ao disposto na Lei dos Partidos Políticos - Lei nº posto no art. 13 tem assegurado:

9.096, de 19 de setembro de 1995, na qual mere- I – a realização de um programa, em


cadeia nacional e de um programa,
cem destaque a definição do fundo partidário e
em cadeia estadual em cada semestre,
a difusão gratuita de programas partidários em com a duração de vinte minutos cada;
rede gratuita de rádio e televisão para a exposi- II – a utilização do tempo total de
ção de temas político-comunitários: quarenta minutos, por semestre,
para inserções de trinta segundos ou
Art. 45. A propaganda partidária
um minuto, nas redes nacionais, e de
gratuita, gravada ou ao vivo, efetua-
igual tempo nas emissoras estaduais.
da mediante transmissão por rádio e
televisão será realizada entre as de- Art. 52. (Vetado.)
zenove horas e trinta minutos e as Parágrafo único. As emissoras de
179
BrandTrends Journal OUT/2015

rádio e televisão terão direito a com- III - outras atividades de comunica-


pensação fiscal pela cedência do ho- ção social.
rário gratuito previsto nesta Lei. Na Lei 12.232 merece destaque:
Em relação à comunicação eleitoral, há a Art. 2o Para fins desta Lei, consi-
Lei das Eleições - Lei nº 9504, de 30 de se- dera-se serviços de publicidade o
conjunto de atividades realizadas in-
tembro de 1997, com destaque para: tegradamente que tenham por obje-
Art. 36. A propaganda eleitoral so- tivo o estudo, o planejamento, a con-
mente é permitida após o dia 5 de ceituação, a concepção, a criação, a
julho do ano da eleição. execução interna, a intermediação e
Art. 44. A propaganda eleitoral no rá- a supervisão da execução externa e a
dio e na televisão restringe-se ao horá- distribuição de publicidade aos veí-
rio gratuito definido nesta Lei, vedada culos e demais meios de divulgação,
a veiculação de propaganda paga. com o objetivo de promover a venda
de bens ou serviços de qualquer na-
§ 1o A propaganda eleitoral gra-
tureza, difundir ideias ou informar o
tuita na televisão deverá utilizar a
público em geral.
Linguagem Brasileira de Sinais - LI-
BRAS ou o recurso de legenda, que § 1o Nas contratações de serviços de
deverão constar obrigatoriamente publicidade, poderão ser incluídos
do material entregue às emissoras. como atividades complementares os
serviços especializados pertinentes:
§ 2o No horário reservado para
a propaganda eleitoral, não se per- I - ao planejamento e à execução de
mitirá utilização comercial ou pro- pesquisas e de outros instrumentos
paganda realizada com a intenção, de avaliação e de geração de conhe-
ainda que disfarçada ou subliminar, cimento sobre o mercado, o públi-
de promover marca ou produto. co-alvo, os meios de divulgação nos
quais serão difundidas as peças e
No tocante à comunicação governamen- ações publicitárias ou sobre os re-
tal, há a Lei 6650, de 23 de Maio de 1979, que sultados das campanhas realizadas,
respeitado o disposto no art. 3o des-
dispõe sobre a criação da Secretaria de Comu-
ta Lei;
nicação Social e a Lei 12.232, de 29 de Abril de
II - à produção e à execução técni-
2010, que dispõe sobre as normas gerais para ca das peças e projetos publicitários
licitação e contratação pela administração pú- criados;
blica de serviços de publicidade.
Decorrente deste tripé composto pela co-
Na Lei 6.650 merece destaque: municação partidária, pela comunicação elei-
Art 2º - Constituem a área de com- toral e pela comunicação governamental, to-
petência da Secretaria de Comuni-
das regulamentadas em leis específicas, dá-se
cação Social - SECOM os seguintes
assuntos: a construção da identidade político-partidária
I - política de Comunicação Social; que poderá resultar numa melhor compreen-
II - divulgação de atividades e re- são da relevância social da representatividade
alizações governamentais; política por meio de partidos políticos e sua
180
BrandTrends Journal OUT/2015

relação com a manifestação pública de de- o verde e branco. O 20 é o número utilizado


mandas sociais, o que caracteriza a transição pelo partido. Durante muito tempo, o partido
que vivenciamos neste início de século XXI. observou que suas representações estaduais
O processo eleitoral de 2014 reforçou o po- ainda estavam confusas com relação ao uso
sicionamento de alguns partidos políticos en- de seu logotipo e de como proceder em caso
quanto representante de valores de segmen- de verticalização ou a posição horizontal de
tos sociais, num contraste significativo com sua marca. A seguir, apresentamos o logotipo
a maioria destas associações, normalmente usado nas eleições.
unidas casuisticamente. Apresentamos a se-
guir, o conjunto de variáveis associadas ao
Partido Social Cristão (PSC) no cenário políti-
co partidário nacional a partir de apontamen-
tos de suas propostas eleitorais e respectivas
atuações políticas.
Figura 04: Modelo de sacolas do programa Consumo
Consciente
Fonte: Imec Supermercados 2015
PARTIDO SOCIAL CRISTÃO (PSC)
O Partido Social Cristão, segundo o seu Atualmente, o PSC conta com 1 senador,
manual de marca3 , adota como um dos sím- 12 deputados federais, 34 deputados estaduais
bolos conhecidos do cristianismo o Ichthys, e 74 prefeitos. O estatuto partidário foi refleti-
que significa peixe grego. O símbolo é um do nas propostas de seu candidato nas eleições
peixe estilizado, usado durante muito tempo presidenciais de 2014, Pastor Everaldo, com
como um sinal secreto de fé, e seu significado uma plataforma eminentemente privatista e
é o de “Jesus Cristo filho de Deus Salvador”. com a defesa genérica de valores como con-
O cristão, na identificação de um irmão na fé, servação do meio ambiente, desenvolvimento
desenhava um arco na areia. Se o outro era sustentável, bem-estar dos idosos e aposen-
cristão, ele desenhava um arco ao contrário, tados, segurança no trânsito, manutenção do
em forma de peixe. O seu estatuto, aprovado emprego, acesso à saúde e manutenção de
em 01 de outubro de 2007, define que o seu conforto e dignidade dos cidadãos, com a defe-
símbolo deve ter o logotipo e a sigla PSC em sa de menos intervenção estatal na economia
seu interior. Deve ser acrescida a bandeira, e a crença na autorregulamentação dos mer-
com o fundo verde ou branco, e o logotipo do cados. Isto rendeu 780 mil votos (0,75% dos
peixe em verde e branco. As suas cores são votos válidos) e um esboço de posicionamento
que pode representar os valores do PSC no ce-
3 Disponível em: <http://www.psc.org.br/comuni- nário político-partidário nacional.
cacao-psc/identidade-visual.html>. Acesso em: 11 de
agosto de 2015. Na campanha eleitoral de 2014, o plano
181
BrandTrends Journal OUT/2015

de governo do PSC continha em um dos ei- serviços públicos essenciais (Estado mí-
xos de diretrizes programáticas 18 ações para nimo); descentralização administrativa
melhoria da qualidade de vida: agronegócio, para os Estados e Municípios; criação de
assistência social, educação, energia, esporte metas e incentivos para o setor público;
e cultura, família, indústria e comércio, liber- parcerias público-privadas, o reforço da
dades civis, livre-empreendedorismo, meio Lei de Responsabilidade Fiscal para evitar
ambiente, previdência social, propriedade déficits públicos e, principalmente, a bus-
privada, reforma política, trabalho, transpor- ca de um plano de longo prazo para paga-
te, turismo, saúde e vida. Além disso, o par- mento da dívida pública, que hoje destrói
tido apresentou ações de segurança, forças a possibilidade de investimentos maiores
armadas e segurança nacional para garantia na economia.
do poder nacional; medidas de administração b) Educação e Saúde
pública, reforma tributária e pacto federativo
O PSC acredita que uma reforma na edu-
e política monetária também foram apresen-
cação e na saúde deve ser pautada na
tadas para a garantia de governança.
descentralização da gestão; ampliação da
Em seu programa, destaca-se entre suas participação dos agentes privados; foco no
ações humanistas: o combate ao aborto, trá- investimento nas matérias de matemática
fico de entorpecentes e desburocratização da e língua portuguesa; participação da famí-
adoção de crianças abandonadas. Na educa- lia nas escolas públicas e da comunidade
ção e saúde a sua meta era desburocratizar o nas unidades de saúde locais; expansão do
sistema, propor parcerias e investir o devido modelo do PROUNI para o ensino médio,
percentual assegurado constitucionalmente. fundamental e infantil; investimento no
Valendo-se da metodologia desenvolvi- ensino profissionalizante; revisão da ta-
da pelo grupo de pesquisa em Comunicação bela do SUS e fim da tributação incidente
Eleitoral da Universidade Federal do Paraná sobre remédios e materiais médicos.
(CEL/UFPR) foram apontados os principais
c) Segurança
aspectos que identificam a posição ideológica
do PSC, presentes em seu estatuto ou em do- O PSC defende a reestruturação das po-
cumentos oficiais do partido, sendo: lícias, com investimento, capacitação e
valorização da remuneração. A investiga-
a)
Administração Pública (Gover- ção criminal deve ser aprofundada com
nança) investimento em inteligência. A redução
O PSC prega eficiência administrativa da maioridade penal é uma demanda da
pela simplificação e modernização dos sociedade brasileira. A administração
trâmites burocráticos; redução de tribu- presidiária pelo Estado deve ser revista
tos e competências estatais para focar em em prol da administração e investimentos
182
BrandTrends Journal OUT/2015

privados no setor. A condenação criminal lar esta participação com mecanismos de


deve ter foco na restituição pecuniária da compensação para o desenvolvimento de
vítima com resposabilização do crimino- tecnologias não-poluentes; fortalecer um
so. Reforma no processo penal, com redu- sistema privado para gerir recursos natu-
ção de benefícios e fim dos recursos exces- rais e reduzir a burocracia na expedição de
sivos é uma medida de moralização social. licenças ambientais. Também estimular a
abertura do mercado nacional ao capital
d) Infraestrutura
estrangeiro para a produção e distribuição
A modernização da infraestrutrura e da de variadas matrizes energéticas, como
mobilidade urbana, com parcerias públi- energia solar, hidrelétrica, eólica, nuclear
co-privadas e plena concorrência, é a me- e biomassa.
lhor solução para o fim do chamado “custo
f) Político-sociais
Brasil” que hoje impede a competitividade
do nosso empresariado no exterior, des- i) Esporte e cultura
trói nosa produtividade e reduz a criação Investimento público pritoritário em pro-
de riquezas, afetando a vida dos brasilei- gramas de inclusão social pelo esporte e
ros de todas as classes sociais. pela cultura para população jovem e ca-
rente; crescente desoneração fiscal em
e) Economia
virtude do revelante serviço social pres-
Estímulo ao empreendedorismo indivi-
tado e demais ações que garantam acesso
dual com a redução dos tributos e da bu-
de toda a sociedade brasileira ao esporte
rocracia, além da facilitação de acesso ao
à cultura.
crédito. Crença na mínima intervenção
ii) Previdência e Assistência Social
estatal e proteção do consumidor para ge-
rar desenvolvimento econômico. Integra- Adoção de um sistema previdenciário pú-
ção ao mercado global, com o fim do pro- blico de capitalização, onde parte do orça-
tecionismo, o qual reduz o acesso a bens mento dos trabalhadores economicamente
e serviços, gera defasagem tecnológica e ativos é poupada em conta vinculada para
estimula a inflação. fins de aposentadoria futura, com direito
a escolha entre os serviços da atual previ-
e) Meio ambiente dência pública e os oferecidos pelas previ-
O meio ambiente seguro e limpo gera bem dências privadas, em regime de capitali-
-estar, devendo ser observado tanto no zação, com regulação pública pela Susep.
campo quanto nas cidades, com o incen- No tocante a Assistência Social, será valo-
tivo à participação da iniciativa privada. rizada a utilização de vales e instrumentos
Assim, deve-se buscar meios de estimu- afins para entrega de bens materiais essen-
183
BrandTrends Journal OUT/2015

ciais, os programas Cheque-cidadão (RJ) e delimita sua atuação num segmento da socie-
Bolsa-Família; Reforma dos mecanismos dade que sofre forte influência religiosa, prin-
de assistência social estatal, garantindo cipalmente dos setores cristãos vinculados às
investimento na capacitação do assistido igrejas evangélicas:
para retorno ao mercado de trabalho; cria-
a) Maioridade penal
ção de um amplo programa de acessibili-
dade de portadores de necessidades espe- No estatuto do PSC, este aspecto não é
ciais e a desburocratização da importação, mencionado diretamente como princípio
com extinção de tributos que incidam em de regência e fidelidade do partido. No
produtos usados por portadores de neces- programa de governo proposto em 2014,
sidades especiais, tais como carros adapta- pelo candidato Pastor Everaldo, a única
dos e cadeiras de rodas; apoio às ONGs na menção a criminalidade acontece apenas
promoção de suas finalidades sociais com no valor à vida. O combate à violência é
a desregulamentação do setor, facilitação mencionado, de forma breve, com a pro-
para registro e, aumento do teto de do- posta de aumento de pena para crimes
ações para OSCIPs debitáveis do imposto graves e diminuição para crimes leves e;
de renda. a ênfase na restituição pecuniária dos da-
nos sofridos pelas vítimas da violência por
iii) Reforma Política
parte de seus agressores.
Fim da obrigatoriedade de voto; criação de
No caso da PEC 171/1993, que apresenta
um sistema de impressão de votos feitos
a possibilidade de redução de 18 para 16
na urna eletrônica para depósito em urna
física, garantindo duplo sistema de recon- anos da penalização legal, uma comissão
tagem; simplificação da burocracia para especial foi nomeada para analisar o as-
registro de candidaturas e prestação de sunto, além de mais de 38 propostas apre-
contas e demais ações que garantam a ple- sentadas sobre o tema. O deputado An-
na liberdade política do cidadão brasileiro. dre Moura (PSC) presidente da comissão
especial, é favorável à redução, de acordo
com a sua posição durante a discussão da
PSC E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA PEC na Comissão de Constituição e Justi-
O PSC apresenta um discurso para a família ça (CCJ). A bancada do PSC foi liberada.
brasileira, em defesa dos princípios cristãos e
pró-vida, favorável à manutenção da crimina- b) Descriminalização do aborto
lização do aborto e do uso de drogas, além da Jean Wyllys (PSOL) propôs o Projeto de
redução da maioridade penal. Sua postura em Lei (PL) 882/15, que descriminaliza o
discussões recentes no Congresso Nacional aborto e assegura sua realização até a 12ª
evidencia esta abordagem neoconservadora e semana de gravidez, além de definir que
184
BrandTrends Journal OUT/2015

escolas públicas e privadas tenham pro- d) Descriminalização das drogas


gramas de educação sexual, e que a popu- Jean Wyllys (PSOL) apresentou projeto
lação possa ter acesso gratuito a métodos de lei de regulação da produção e comer-
contraceptivos e a programas de planeja- cialização da maconha e descriminaliza-
mento familiar. O PSC é contra, sendo que ção da posse de drogas para consumo pes-
em seu plano de governo, o candidato pas- soal. Nos princípios defendidos pelo PSC,
tor Everaldo defendia o “combate à prá- há menção contra as drogas e o aborto e
tica do aborto enquanto recurso paliativo a favor da valorização da família. No seu
de uma política inconsequente de planeja- plano de governo, nas eleições de 2014,
mento familiar”. Também há a clara defe- esta era uma das premissas contidas nos
sa dos valores da família e da vida presen- pilares em defesa da família e de um pla-
tes no estatuto do partido. no de ações para a preservação da vida do
PSC.
c) União homoafetiva
Em seu estatuto, o PSC prevê o respeito e) PL da terceirização
ao Cristianismo, e consequentemente não O PSC teve parecer favorável à PL, na
segrega, não exclui, nem discrimina o in- proporção de 08 deputados a favor e 02
divíduo em várias questões, como com re- contra. No programa de governo do PSC
lação ao sexo. Entretanto, a comunicação não está contida nenhuma menção a esta
partidária tem se caracterizado pelo uso liberdade de contratação de trabalhadores
de imagens de famílias reunidas – sempre terceirizados para prestação de serviço.
formadas por um homem, uma mulher e No livre-empreendedorismo e no traba-
filhos. O candidato pastor Everaldo res- lho não estão contidas relações com esta
saltava a importância dos valores fami- proposta.
liares e cristãos em suas propostas. Res-
salte-se a ação da deputada Júlia Marinho CONSIDERAÇÕES FINAIS
(PSC-PA), após o reconhecimento legal da No conjunto de propostas e ações vinculadas
união homoafetiva por parte do Supremo ao PSC, nota-se que o partido tem agido de
Tribunal Federal, a parlamentar apresen- modo coerente com os princípios defendidos
tou um projeto de lei com o intuito de alte- em seu estatuto. Embora, em muitos aspec-
rar o Estatuto da Criança e do Adolescen- tos, o mesmo seja amplo e genérico, nota-se
te (ECA), de maneira que seja proibida a a valorização de elementos que reforçam al-
adoção de crianças por casais homoafeti- guns aspectos que podem enquadrar o partido
vos ao incluir uma condicionante para as como representante da neo-direita brasileira,
adoções: “É vedada a adoção conjunta por com um discurso que alia o liberalismo eco-
casal homoafetivo”. nômico com a preocupação com a qualidade
185
BrandTrends Journal OUT/2015

de vida social, passando pela valorização da consolidando o 20 (número do partido) como


família tradicional e seus valores morais. uma possibilidade a ser considerada. O que
Assim, o PSC defende bandeiras como a já é bastante significativo se considerarmos
participação mínima do Estado; estímulo ao a volatilidade ideológica da quase totalidade
empreendedorismo privado nas mais diversas dos partidos nacionais.
áreas da economia; manutenção de valores
cristãos como o direito à vida (contra o aborto REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e drogas). Quando as temáticas não são deri-
AAKER, David A. Marcas: Brand Equity. São
vadas de seus princípios estatutários, como Paulo: Negócio Editora, 1998.
no tocante às questões da maioridade penal e
ARANTES, Nélio In KUNSCH, Margarida M.K.
terceirizações, o partido não chega a uma po- Planejamento de Relações Públicas na Comuni-
sição consensual. Nestes casos, o PSC reflete cação Integrada. São Paulo, Summus Editorial,
o indicativo de pesquisas de opinião pública 2002.
e acaba por segui-las, posicionando-se majo- BRASIL. Decreto-lei nº 9.096, de 19 de setembro
ritariamente de modo a flexibilizar as leis tra- de 1995. Dispõe sobre partidos políticos, regula-
balhistas com o discurso da meritocracia e do menta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constitui-
ção Federal. Disponível em <http://www.planal-
empreendedorismo e; pela defesa da seguran- to.gov.br/ccivil_03/leis/l9096.htm>. Acessado
ça do cidadão e sua família com propostas que em 02/03/2015.
aumentam o rigor das penas, como no caso da
BRASIL. Decreto-lei nº 9.504, de 30 de setembro
redução da maioridade penal. de 1997. Dispõe sobre as eleições para Presiden-
Este pragmatismo decorrente da inter- te e Vice-Presidente da República, Governador e
Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal,
pretação elástica do estatuto do partido, per- Prefeito e Vice-Prefeito, Senador, Deputado Fe-
meado de colocações genéricas, possibilita o deral, Deputado Estadual, Deputado Distrital e
rápido crescimento do PSC em decorrência de Vereador. Disponível em: < http://www.planalto.
atender anseios captados em amplo setores gov.br/ccivil_03/LEIS/L9504.htm>. Acessado
em 02/03/2015.
do eleitorado, o que gerou uma bancada com
um senador, doze deputados federais, trinta e BRASIL. Decreto-lei nº 6.650, de 23 de Maio de
1979. Dispõe sobre a criação, na Presidência da
quatro deputados estaduais e setenta e quatro
República, da Secretaria de Comunicação Social,
prefeitos, além de 780.513 votos nas eleições altera dispositivos doDecreto lei nº 200, de 25 de
presidenciais para o candidato do partido, fevereiro de 1967, e dá outras providências. Dispo-
Pastor Everaldo. Esse poder de adaptação so- nível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L6650.htm>. Acessado em 02/03/2015.
mado a valores conservadores têm possibili-
tado ao PSC a consolidação de elementos ide- BRASIL. Decreto-lei nº 12.232, de 29 de Abril de
2010. Dispõe sobre as normas gerais para licita-
ológicos que definem de modo mais efetivo,
ção e contratação pela administração pública de
junto ao eleitorado, a identidade do partido, serviços de publicidade prestados por intermédio
potencializando o share of mind da marca e de agências de propaganda e dá outras providên-
186
BrandTrends Journal OUT/2015

cias. Disponível em <http://www.planalto.gov.


br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12232.
htm>. Acessado em 02/03/2015.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Deputados, lide-


ranças e bancadas. Brasília, 2015. Disponível em
<http://www2.camara.leg.br/deputados/lideran-
cas-e-bancadas>. Acessado em 20/03/2015

KOTLER, P. & KELLER, K. L. Administração de


Marketing. S.Paulo, Prentice Hall, 2006.

KOTLER, P. et al.. Marketing 3.0. Rio de Janeiro,


Rio de Janeiro: Elsevier, c2010.

MANHANELLI, Carlos Augusto. Marketing Pós


-eleitoral: técnicas de marketing para um can-
didato de sucesso. Editora Summus, 1ª. Edição,
2004

SAMUELS, David. Determinantes do Voto Parti-


dário em Sistemas Eleitorais Centrados no Can-
didato: Evidências sobre o Brasil. Dados, Rio de
Janeiro, v. 40, n. 3, 1997.

SCHWERINER, Mário Ernesto René. Brandscen-


dência. São Paulo: Saraiva, 2011.

SCHULZ, Rosangela. A crise de representação e


o espaço da mídia na política. Artigo apresentado
no XXIV Encontro Anual da ANPOCS, 2000.

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Marke-


ting e propaganda eleitoral: bibliografia selecio-
nada. Brasília, 2012. Disponível em http://www.
tse.jus.br/hotSites/ CatalogoPublicacoes/pdf/
bibliografias_selecionadas/bibliografia_sele-
cionada_marketing_eleitoral.pdf.Acessado em
25/03/2015
187
BrandTrends Journal OUT/2015

Normas de
publicação
da revista
BrandTrends

Autora:
Carminda SILVESTRE (1)
Instituto Politécnico de Leiria, ESTG
(Leiria/Portugal)
188
BrandTrends Journal OUT/2015

A revista digital BrandTrends aceita a sub- ter entre três e cinco páginas, ou de 8 a 16 mil
missão de trabalhos como artigos, resenhas, toques, com espaço.
entrevistas que sejam inéditos, isto é, que não
tenham sido publicados em journals, revistas 3. Configuração de página: papel A4, com
científicas ou livros nacionais ou internacionais. adentramento de parágrafo, espaço simples
entre linhas, 6 pt depois de cada parágrafo,
1. Os trabalhos devem ser enviados por e- margens esquerda e superior de 3,0 cm, dire-
mail, em três arquivos, com páginas numera- ita e inferior de 2,0 cm.
das, digitados em programa Word-for-Win-
dows recente, sem nenhuma informação que 4. Cabe à Comissão Editorial sugerir ao(s)
identifique a autoria, para garantia de sigilo, autor(es) modificações de estrutura ou de con-
quando enviado para pareceristas. No arquivo teúdo, bem como rejeitar os trabalhos. É do(s)
completo, deve constar a identificação do(s) autor(es) a inteira responsabilidade pelo con-
autor(es) com o apelido em maiúsculas, se- teúdo do material enviado, inclusive a revisão
guido do nome. Esta informação deve ser se- gramatical e adequação às normas de publi-
guida da afiliação por extenso. Em arquivo à cação. Os autores serão sempre contactados
parte deve vir o nome do(a) autor(a), o título após envio do resultado dos pareceres.
do trabalho e o programa utilizado, bem como
um título em português, espanhol ou francês 5. Com a publicação do trabalho, os dire-
(conforme língua usada no trabalho) e um em itos de autor são automaticamente cedidos à
inglês, além do endereço completo, com tele- revista BrandTrends. Os autores devem assi-
fone, e-mail do(s) autor(es), bem como infor- nar, digitalizar e enviar por e-mail o termo de
mação da área em que se insere o trabalho. cessão de direitos autorais, a ser obtido aqui
Nos dois trabalhos sem identificação de autor, (formulário). É possível também assinar e en-
inclusive as auto-referências ao longo do texto viar o documento digitalizado para o e-mail:
deverão ser substituídas por “xxxx”. O original brandtrendsjournal@brandtrendsjournal.com
deve ser mantido em arquivo do destinador
para eventuais modificações propostas pelos 6. Os artigos deverão ter a seguinte estrutura:
pareceristas. 6.1 Elementos pré-textuais:
a. Título e subtítulo: na primeira linha,
2. Os trabalhos poderão ser escritos em centralizados, em negrito, fonte Times New
português, espanhol, inglês ou francês. Os ar- Roman, corpo 12, somente primeira letra em
tigos deverão ter, no mínimo, quinze páginas maiúscula em ambos.
e, no máximo, vinte páginas, ou de 25 ou 30 b. O nome do autor: duas linhas abaixo do
mil toques, com espaços; as resenhas (de liv- título, alinhado à direita.
ros com até dois anos de publicação) deverão c. Resumo: três linhas abaixo do nome do
189
BrandTrends Journal OUT/2015

autor. Colocar a palavra RESUMO em caixa New Roman, corpo 12. Maiores do que três
alta, seguida de dois pontos. Redigir o texto linhas seguem em destaque, na seguinte for-
em parágrafo único, espaço simples, justifica- matação: fonte Times New Roman corpo 10,
do. O resumo deve, obrigatoriamente, conter em espaço simples, com recuo de 2,5 cm à dire-
os seguintes elementos: área em que se insere ita e à esquerda para toda a citação e 6 pt depois
o estudo, objeto de estudo, objetivo do estudo, de cada parágrafo. As referências deverão ser
metodologia adotada, síntese dos resultados. indicadas entre parênteses, como no exemplo:
Fonte: Times New Roman, corpo 10, para todo (SOARES, 2006, p. 1-3).
o resumo. d. Notas de rodapé: devem ser colocadas
As versões em português (RESUMO), em na mesma página, fonte Times New Roman,
inglês (ABSTRACT), em espanhol (RESU- corpo 10. Alinhamento justificado, sem es-
MEN) e em Francês (RÉSUMÉ) devem seguir paçamento entre notas, espaço simples dentro
imediatamente a versão na língua original, da nota.
obedecendo as normas da versão original. e. Títulos e subtítulos das secções: em
d. Três palavras-chave (keywords, pal- numeração árabe, sem recuo de parágrafo,
abras-clave e mots-clés), duas linhas abaixo em negrito, com maiúscula somente para a
do resumo. Colocar o termo “Palavras-chave”, primeira palavra da seção. Usar o sistema
em caixa baixa, primeira letra em maiúscula “número seguido de ponto final”. Exemplo:
e o restante em caixa baixa, separada das de- 1.1. A construção dos sentidos. Não numerar
mais por ponto e vírgula. Fonte: Times New Introdução, Conclusão, Referências e ele-
Roman, corpo 10. Lembramos que as pala- mentos pós-textuais.
vras-chave são de extrema importância no f. Elementos ilustrativos: tabelas, figuras,
processo de indexação do artigo em bases de fotos. devem ser inseridas no texto, logo após
dados nacionais e internacionais. Portanto, a serem citadas, contendo a devida explicação na
escolha adequada é fundamental. parte inferior da mesma, numeradas sequen-
cialmente.
6.2 Elementos textuais:
a. Fonte: Times New Roman, corpo 12, 6.3 Elementos pós-textuais:
alinhamento justificado ao longo de todo o a. Referências: seguir normas atuais da
texto. ABNT, espaçamento simples, alinhamento
b. Espaçamento: simples entre linhas, 6 justificado, sem espaçamento entre as referên-
pt após cada parágrafos, duplo entre partes cias (vide exemplos a seguir).
do texto (tabelas, ilustrações, citações em des- b. Observação: ensaios, traduções e re-
taque, etc.); parágrafos com adentramento. senhas seguirão, na medida do possível, as
c. Citações: no corpo do texto, serão de até normas dos artigos.
três linhas, entre aspas duplas. Fonte: Times 6.4 Imagens
190
BrandTrends Journal OUT/2015

Deve-se manter as imagens em baixa res- Veredas, Juiz de Fora, v. 10, n.1 e n.2, p. 123-
olução no texto original e, além disso, enviar 128, jan./dez. 2006.
um arquivo separado com as imagens em al-
Teses:
ta resolução. As imagens devem ser enviadas YOUNG, Lynne Weiss. Language as Be-
separadamente, no formato jpg ou gif, com o haviour, Language as Code: A Study of Ac-
tamanho de 200 dpi. Caso os arquivos ultra- ademic English. Catholic University of Leu-
passem o limite de tamanho permitido pelo ven Ph.D. thesis, 1987.
seu provedor de email, os mesmos podem ser
Documentos electrônicos:
enviados por www.sendspace.com ou o aplica- BELLATO, M.A.; FONTANA, D.C. El nino
tivo de download online que preferir. e a agricultura da região Sul do Brasil. Di-
sponível em:<http://www.mac.usp.br/ni-
no2.> Acesso em: 6 Abril 2001.
EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS
CD-ROM:
KOOGAN, A.; HOUASSIS, A (ed.) Enci-
Livro: clopédia e dicionário digital 98. Direção ger-
ATKIN, Douglas. O Culto das Marcas. Lisboa: al de André Koogan Breikman. São Paulo:
Tinta-Da-China, 2008. Delta: Estadão, 1998. 5 CD-ROM. Produzida
CHEVALIER, Michel, MAZZALOVO, Gérald. por Videolar Multimídia.
Pró Logo – Marcas como fator de progresso.
São Paulo: Panda Books, 2007.
SIM-SIM, Inês et al. A língua materna na
Educação Básica: Competências Nucleares e
Níveis de Desempenho. Lisboa: Ministério da
Educação - Departamento da Educação Bási- NOTA
ca, 1997. 1 Doutorada em Linguística Aplicada pela Universi-
HALLIDAY, M. A. K. and MARTIN, J. R. dade de Lisboa. É Professora Coordenadora de no-
(eds.). Readings in Systemic Linguistics. Lon-
meação definitiva na Escola Superior de Tecnologia
don: Batsford Academic, 1981.
e Gestão (ESTG), do Instituto Politécnico de Leiria.
Capítulo de livro: É investigadora no ILTEC (Instituto de Linguística
ATKINSON, P. and HAMMERSLEY, M. Teórica e Computacional). É diretora editorial do
Etnography and participant observation. Observatório de Marcas e Editor Regional da revista
In NORMAN K. DENZIN and YVONNA S.
científica BrandTrends.
LINCOLN (eds.). Handbook of Qualitative
Research. Thousand Oak, CA: Sage, 1994,
pp.248-261.

Artigo de revista científica:


SILVESTRE, Carminda. Rethinking ratio-
nality: locating thinking in gender. Revista
191
BrandTrends Journal OUT/2015

Você também pode gostar