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Economia

Política
A Fase Liberal (1820-
1914)

David Ricardo

Thomas Malthus

Karl Marx

Carlos Seixas

IMP.GE.086.2
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CONTEÚDO

I. A Fase Liberal

1. Ordem Liberal

II. David Ricardo

1. Comércio Internacional

2. Economia Doméstica

3. Equivalência Ricardiana

4. Exercício Prático

2. Condições de Vida

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CONTEÚDO

III. Thomas Malthus

IV. Karl Marx

1. Materialismo Histórico

2. A Economia Marxiana

3. A Engrenagem Infernal nos factos

4. A Economia de Direção Central

5. Exercício Prático

BIBLIOGRAFIA
▪ Buchholz (Caps. III, IV, VI);
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▪ Blaug (Caps. 3, 4, 7)
▪ Backhouse (Cap. 7).
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I.1. ORDEM LIBERAL – 1820 Choque Sistémico?


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I.1. ORDEM LIBERAL – 1820 Choque Sistémico?

▪ 1820 não corresponde a nenhum acontecimento

▪ É um ano que, devido a Maddison, se tornou num benchmark para o estudo do


crescimento económico.

▪ É nesta data que começam as séries anuais de PIB e PIBpc para a maior parte das
ECAs, disponíveis em http://www.ggdc.net/maddison/maddison-project/data.htm

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I.1. ORDEM LIBERAL – 1820 Choque Sistémico?

▪ Mas 1820 não é uma data completamente arbitrária

▪ Em 1815, ocorreu uma importante viragem na História.

▪ Congresso de Viena (1815) - sistema internacional estável, século de paz,


cooperação internacional.

▪ Em simultâneo, os países europeus adotam constituições liberais, com


consequências para o crescimento económico.

▪ Tem aspetos de choque sistémico: alteração profunda no mix político-institucional.

▪ Mudança de instituições a nível nacional + nível internacional = Ordem Liberal

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I.1. ORDEM LIBERAL – Nível Interno

▪ A partir de 1820, os estados europeus adotam instituições que se aproximam do


comportamento do soberano defendido por Adam Smith.

▪ Regime político constitucional, com parlamentos a assumirem o poder legislativo e


nomear governos

▪ Erradicação dos privilégios dos “estados” (clero e nobreza) e libertação dos


mercados (de terra, trabalho e bens) que passam a operar em concorrência

▪ Ou seja, as novas instituições liberais encorajam a livre iniciativa tanto na indústria


como na agricultura.

▪ A Ordem Liberal liberta a agricultura das limitações impostas aos produtores e aos
proprietários da terra pelas velhas instituições feudais.

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I.1. ORDEM LIBERAL – Nível Interno

▪ Na indústria, inovações inglesas difundem-se (sem que o estado inglês se oponha à


saída de cérebros e máquinas) em países com preços de fatores semelhantes ou
com minas de carvão.

▪ Importante notar que crescimento económico liberal ≠ industrialização

▪ ECA, como Dinamarca, Holanda e Noruega crescem sobretudo melhorando a


produtividade no setor primário, enquanto os seus parceiros comerciais (RU,
Alemanha) se industrializam

▪ A indústria, porém, é responsável pelos casos de crescimento mais intenso com:

• Aumento do consumo de carvão

• Difusão das maquinas a vapor

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I.1. ORDEM LIBERAL – Nível Externo

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I.1. ORDEM LIBERAL – Nível Externo

▪ Alargamento do mercado (bens, capital e trabalho) à escala mundial

1) Comércio Internacional

▪ A partir do primeiro quartel do século XIX, as ECA aproximam-se do “livre-


cambismo”, ou seja da liberdade das trocas de bens à escala internacional.

▪ Os Estados vão abandonando práticas mercantilistas:

• Limitação (mas não erradicação) das medidas protecionistas.

• Diminui a proteção alfandegária e outro privilégios das reais fábricas

• O estado limita a sua produção de bens transacionáveis.

▪ O comércio internacional cria grandes incentivos à divisão de


IMP.GE.086.2 trabalho/especialização e à inovação entre as ECA.
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I.1. ORDEM LIBERAL – Nível Externo

▪ Os bens são produzidos de acordo com as vantagens comparativas (David


Ricardo).

2) Investimento Externo

▪ Deslocação do Capital dos países onde é mais abundante para onde é mais
escasso e permite maior retorno/juro.

3) Migrações

▪ Deslocação do Trabalho dos países onde é mais abundante para onde é mais
escasso e logo permite maior salário.

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I.1. ORDEM LIBERAL – Globalização 1.0

▪ Com base nisto, a este alargamento do mercado à escala mundial atribui-se a


designação de Globalização 1.0.

▪ Quatro principais fatores explicam a Globalização 1.0:

• (Paz) Ordem Internacional que garante a paz (desde 1815)

• (Tarifas) Liberalização voluntária por parte dos estados (desde 1820)

• (Fretes) Diminuição dos custos de transporte por mar e por terra (desde
1850)

• (Padrão-ouro) Alterações institucionais que facilitam a integração dos


mercados (sobretudo a partir de 1870)

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II. DAVID RICARDO (1772-1823)

▪ Nasceu em Londres, filho de um imigrante, que era um dos doze “Corretores


Judeus” autorizados a operar na Bolsa de Londres.

▪ Os Ricardos eram originariamente judeus portugueses que tinham emigrado para


Amesterdão para escapar à perseguição

▪ Não ingressou na Universidade, tendo ido trabalhar com o pai quando tinha apenas
14 anos de idade.

▪ Com vinte e poucos anos estabeleceu-se por sua conta, e enriqueceu rapidamente
com operações na bolsa de valores.

▪ Em 1817 publica The Principles of Political Economy and Taxation.

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II.1. O COMÉRCIO INTERNACIONAL

▪ Com as Guerras Napoleónicas, o preço dos cereais subiu substancialmente.


Os proprietários rurais receavam uma descida súbita com o fim da guerra, e
lutavam para levar o Parlamento a aprovar uma lei limitadora da importação
dos cereais (linha mercantilsta).

▪ Na outra bancada parlamentar, estavam os representantes da burguesia,


emergente da Revolução Industrial. O seu interesse era outro. Tinham vantagem
em preços baixos nos bens alimentares, pois assim diminuíam os custos do
trabalho (salários de subsistência).

▪ Os proprietários rurais venceram: Em 1815, o Parlamento aprovou legislação


proibindo a importação de cereais abaixo de certo preço – “Corn Laws” – assim
restringindo o comércio internacional.

▪ Ricardo argumentava que “se os agricultores franceses estão dispostos a


alimentar-nos por menos do que nos «custaria», então optemos por comida
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II.1. O COMÉRCIO INTERNACIONAL - A Lei da Vantagem


Comparativa

▪ Porém, não venceu a “batalha contra os protecionistas”: A “Corn Laws” manteve-se


em vigor até 1846.

▪ Mas, desse combate nasceu um dos contributos mais relevantes do seu legado
intelectual: “A Lei da Vantagem Comparativa”:

• Um país deve especializar-se na produção e na exportação das


mercadorias que possa produzir a custos relativamente inferiores, e
importar os bens que produza a custos relativamente superiores

• Portanto, a especialização no comércio internacional deve realizar-se


na base do custo de oportunidade mais baixo.

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II.1. O COMÉRCIO INTERNACIONAL - A Lei da Vantagem


Comparativa: Exemplo

▪ Suponhamos que um veleiro, manobrado pelo homem-do-leme e um ajudante,


naufraga numa ilha deserta. Para sobreviverem, os náufragos vão precisar de
abrigo (palhotas) e alimentação (peixe).

▪ Os dados são os seguintes:

• O homem-do-leme dispõe de 2000 horas anuais; e gasta 10 horas


para fazer um jantar e 20 horas para construir uma palhota.

• O ajudante dispõe de 3600 horas anuais; e gasta 15 horas para fazer


um jantar e 45 horas para construir uma palhota.

▪ Notar que o homem do leme é mais eficiente, em termos absolutos, em ambas


atividades. E em termos relativos?

• Precisamos de calcular os custos de oportunidade.

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II.1. O COMÉRCIO INTERNACIONAL - A Lei da Vantagem


Comparativa: Exemplo

▪ O custo de oportunidade é definido por aquilo que sacrificamos ao fazer uma


opção:

Custo Absoluto Custo Relativo


(horas por unidade) (custo de oportunidade)
Jantares Palhotas Jantares Palhotas
Homem-do-leme 10 20 10/20 = 1/2 20/10 = 2
Ajudante 15 45 15/45 = 1/3 45/15 = 3

▪ Quando o homem do leme decide fazer um jantar, então, sacrifica a construção de


1/2 palhota. O seu custo de oportunidade seria mais alto do que o do ajudante, o
qual apenas sacrificaria 1/3 de palhota.

▪ Quando o homem do leme decide construir uma palhota sacrifica 2 jantares. O seu
custo de oportunidade é, por conseguinte, mais baixo que o do ajudante, pois este
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sacrificaria 3 jantares.
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II.1. O COMÉRCIO INTERNACIONAL - A Lei da Vantagem


Comparativa: Autossuficiência vs Especialização

▪ Vamos agora avaliar os potenciais benefícios da especialização, comparando


os outputs em duas hipóteses alternativas:

• Hipótese A): Autossuficiência (autarcia). Como o homem-do-


leme é mais eficiente em ambas atividades, dedicaria todo o seu
tempo à produção para consumo próprio. Suponhamos então
que iria alocar 50% do seu tempo à pesca e 50% às palhotas.
Restava ao ajudante fazer o mesmo.

• Hipótese B): Especialização segundo o princípio da vantagem


comparativa. Neste caso, cada um dos produtores afetaria todo o
seu tempo à atividade em que é relativamente mais eficiente
(custo de oportunidade mais baixo). Portanto, o homem do leme
construía as palhotas e o ajudante tratava dos jantares.
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II.1. O COMÉRCIO INTERNACIONAL - A Lei da Vantagem


Comparativa: Os Benefícios do Livre Comércio

▪ Os ganhos com a especialização, feita com base nas vantagens comparativas,


seriam de 20 jantares (240-220) e de 10 palhotas (100-90).

AUTOSUFISSIÊNCIA (Autarcia)
Horas de Trabalho Produção
Dotação Alocação Jantares Palhotas
Homem-do-leme 2000 50% 1000/10=100 1000/20=50
Ajudante 3600 50% 1800/15=120 1800/45=40
Total 220 90

ESPECIALIZAÇÃO PELAS VANTAGENS COMPARATIVAS


Horas de Trabalho Produção
Dotação Alocação Jantares Palhotas
Homem-do-leme 2000 100% ─ 2000/20=100
Ajudante 3600 100% 3600/15=240 ─
Total 240 100
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II.1. O COMÉRCIO INTERNACIONAL – David Ricardo versus


Adam Smith

▪ A especialização no comércio internacional seria feita segundo os seguintes


princípios da:

• Vantagem Absoluta (Adam Smith): uma nação produz os bens


para os quais é mais produtiva. Uma pessoa, uma empresa ou
uma nação é mais produtiva quando utiliza uma menor
quantidade de inputs (recursos) para produzir um output
(bem).

• Vantagem Comparativa (David Ricardo): uma nação produz


os bens para os quais apresenta um menor custo de
oportunidade. Uma pessoa, uma empresa ou uma nação tem
um menor custo de oportunidade quando sacrifica menos numa
produção alternativa.

▪ Obs: A questão da vantagem comparativa é suscitada quando uma nação tem


vantagem absoluta nas duas atividades em consideração (ver o ex. anterior).
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II.2. ECONOMIA DOMÉSTICA

▪ Da teoria de David Ricardo resultaram dois princípios fundamentais:

• Sobre a formação da renda agrícola ou da renda diferencial;

• A teoria do valor-trabalho.

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II.2. ECONOMIA DOMÉSTICA – A Renda Diferencial (ou Renda


Ricardiana)

▪ Há medida que a agricultura, pelo aumento da população, utilizava terras menos


férteis, com custos de exploração mais elevados, os preços dos bens alimentares
aumentava.

▪ Isto faz com os salários (para subsistir) se tornem mais altos, e por conseguinte
lucros menores para os empresários

▪ Assim, os proprietários agrícolas das terras mais férteis, como irão permitir custos
de exploração mais baixos aos empresários, captam o ganho do aumento de
preços e praticam rendas mais elevadas.

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II.2. ECONOMIA DOMÉSTICA – A Renda Diferencial (ou Renda


Ricardiana)

▪ O preço dos apartamentos à venda na Baixa do Porto são elevados porque os


terrenos são mais caros nos locais premium?

• Dica: enquadre a questão à luz do princípio da renda diferencial,


considerando que o terreno urbano é um bem com uma oferta fixa.

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II.2. ECONOMIA DOMÉSTICA – A Teoria do Valor-Trabalho

▪ Na economia não existia apenas o setor agrícola, mas também a indústria.

▪ Daí decorria a necessidade de uma teoria de valor com a qual se pudesse


explicar o preço relativo dos bens produzidos (alimentos e produtos
manufaturados).

▪ Ricardo focou-se na teoria do valor-trabalho, segundo a qual o preço de um


bem seria proporcional ao trabalho requerido para a sua produção.

▪ Todavia, suscitando-se um problema: em concorrência, os preços são


proporcionais aos custos de produção, que também dependem do capital
utilizado.

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II.2. ECONOMIA DOMÉSTICA – A Teoria do Valor-Trabalho

▪ Ricardo procurou encontrar uma solução para esta questão e com um exemplo
numérico sustentou que o tempo de trabalho explicava virtualmente todas as
variações nos preços relativos (93% no seu exemplo).

• Assume que o tempo de trabalho está correlacionado com o rácio


capital-trabalho

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II.3. A EQUIVALÊNCIA RICARDIANA

▪ Os governos têm duas vias para financiar a despesa pública: a cobrança


de impostos e a emissão de títulos de dívida pública.

▪ Segundo o Teorema da Equivalência Ricardiana o método de financiamento de


um dado plano da despesa pública é irrelevante:

• Suponhamos um novo plano de investimento. Se o governo


decide financia-lo emitindo obrigações, os contribuintes,
antecipando impostos agravados no futuro, fazem uma poupança
adicional.

• Ou seja, reduzem o consumo atual tal como sucederia se o


governo tivesse optado por lançar novos impostos para financiar o
mesmo plano de investimento.

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II.3. A EQUIVALÊNCIA RICARDIANA

• Com ressalvas do próprio Ricardo: “…não se infira que eu


considere o sistema de endividamento como sendo o melhor para
suportar despesas extraordinárias do estado. É um sistema que
tende a tornar-nos menos poupados ─ a ofuscar a nossa situação
real”

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II.4. EXERCÍCIO PRÁTICO

Para ilustrar a sua teoria sobre o comércio internacional, David Ricardo


apresentou o seguinte caso exemplificativo:

“Suponhamos que o mundo consiste em apenas dois países, a Inglaterra e Portugal. E


que as duas únicas mercadorias produzidas são o vestuário e o vinho. O custo de
produção é definido em termos de horas de trabalho. A Inglaterra gasta 100 horas
para produzir uma unidade de vestuário e 120 horas para produzir uma unidade de
vinho. Portugal gasta 90 horas para produzir uma unidade de vestuário e 80 horas
para produzir uma unidade de vinho.”

Suponha ainda que a Inglaterra tem uma dotação de recursos produtivos


correspondente 2400 horas de trabalho. E que a dotação de Portugal era de 1800
horas de trabalho

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II.4. EXERCÍCIO PRÁTICO

1. Se não existissem trocas comerciais entre Portugal e a Inglaterra, qual seria a


produção realizada conjuntamente em vestuário e vinho? Para o efeito, assuma
que cada país vai afetar 50% do seu tempo à produção de cada um dos bens.

2. Sob o regime de comércio livre, qual o seria padrão de especialização adotado.


Justifique apresentando os cálculos pertinentes. Para o efeito, utilize o conceito de
custo de oportunidade.

3. Com base neste exemplo, explique a evolução do pensamento de Adam


Smith para David Ricardo no domínio do comércio internacional. Para o efeito,
evidencie os ganhos eficiência alcançados quando se aplica a “ Lei da Vantagem
Comparativa”.

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I.2. CONDIÇÕES DE VIDA

▪ Nas décadas de 1780/90 até a meados do séc. XIX, mesmo em Inglaterra, o


problema da pobreza das classes operárias agrava-se, com o crescimento
populacional (the labouring poor - Seria esperado ser pobre quando se trabalha?)

• Cf. A Condição de Classe Operária em Inglaterra em 1844, de


Engels, que tanto impressionara Marx.

▪ Nos anos 1840, existe na Europa um período de grande convulsão social com
exceção de Inglaterra:

• Sublevações populares contra os preços dos produtos agrícolas (Irlanda,


Bélgica)

• Levantamentos a favor do sufrágio universal e direitos políticos (Paris,


Berlim)

• Levantamentos nacionalistas (Nápoles, Budapeste, Bucareste, Praga)


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I.2. CONDIÇÕES DE VIDA

▪ “Que há entre nós que tenha sombra de semelhanças com a situação do povo
inglez? As nossas fábricas são poucas, e (...) nessas mesmas os salários são
rasoáveis, porque não há superabundância de braços. Nação essencialmente
agricola, a industria manufactora parece-nos que nunca chegará a desequilibrar-se
com a agricultura. Nesta além de ser avultadíssimo o numero de proprietários
rurais e de predominar a pequena cultura (...), é sabido que para os simples
rendeiros não são gravosas as rendas, sobretudo se as compararmos com o
avaro, e, diremos até, feroz systema dos arrendamentos na Grã-Bretanha. Simples
seareiros há em Portugal que vivem mais abastadamente que alguns lavradores
proprietarios inglezes; (...) a sorte dos trabalhadores ruraes portuguezes é sem
comparação mais feliz que a dos de Inglaterra (...)

Herculano, Alexandre, Das Caixas Económicas, 1844.

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III. THOMAS MALTHUS (1766-1834)

▪ Nasceu em “the Rookery” (Surrey, Inglaterra), a casa de campo do seu pai, um


apaixonado por David Hume e Jean-Jaques Rousseau.

▪ Desde muito cedo deu sinais de uma inteligência brilhante e beneficiou da


educação por um professor privado.

▪ Em 1784 entrou no Jesus College, Cambridge, estudando para ser padre. Irá
eventualmente deixar o colégio quando aos 38 anos se casa.

▪ Interessava-se por matemática e filosofia. Tal como Adam Smith, ficou


impressionado com os Principa Matematica de Newton.

▪ Em 1798 publica a primeira edição do Essay on Population.

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III. THOMAS MALTHUS (1766-1834) - “Uma teoria


assustadora”

▪ Poucos ensaios terão sido mais chocantes

▪ Segundo Malthus uma explosão demográfica seria inevitável.

▪ Para Malthus, enquanto a população crescia em progressão geométrica (1, 2,


4, 8, 16, 32…), a produção de bens alimentares aumentava em progressão
aritmética (1, 2, 3, 4, 5, …).

▪ Um rápido aumento das colheitas de bens alimentares estaria fora de questão,


dado que a oferta de terras era limitada e que os melhoramentos técnicos na
agricultura não fariam sentir os seus efeitos com a rapidez necessária.

▪ Porém, foi uma previsão não confirmada: nos EUA, por ex., o emprego na
agricultura representa hoje menos de 2% da população ativa, e ainda assim são
produzidos excedentes para exportação.
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IV. KARL MARX

▪ Nasceu em Tréveris, Alemanha, numa família de ascendência judaica, culta, da


classe média-alta.

▪ O pai era um distinto advogado; e o pai da sua futura mulher um membro da


aristocracia local.

▪ Estudou direito em Bona e depois em Berlim, mas o seu interesse maior


residia na filosofia.

▪ Aderiu, por isso, aos “Jovens Hegelianos”, seguindo as ideias de Hegel, um


filósofo de Berlim, falecido alguns anos antes;

▪ Hegel haveria de tornar-se numa referência fundamental na construção da teoria


marxista da história.

▪ A primeira profissão Marx foi a de jornalista na Alemanha e depois em Paris, onde


participa ativamente em círculos políticos revolucionários.
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IV. KARL MARX

▪ Junta-se aqui Fredrich Engels. Mais tarde, coautor do Manifesto Comunista (1848)
─ um pilar fundamental na formação da ideologia comunista.

▪ Na sequência do seu envolvimento no período revolucionário que a França e


outros países europeus atravessavam, exila-se em Londres.

▪ Aqui passa viver com a família numa zona pobre, em condições por vezes a tocar
a indigência, embora contando com ajuda material do seu amigo Engels.

▪ A partir dos anos de 1850, “enterrou-se a ele próprio em pilhas de textos


económicos no British Museum”. Finalmente, em 1867 é publicado o primeiro livro
de o Capital.

▪ Trata-se de uma obra imensa com cerca de 2.500 páginas, citando mais de 1.500
trabalhos, em três volumes, dos quais apenas o primeiro foi publicado em vida de
Marx. Os dois restantes foram publicados por Engels.

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IV. KARL MARX - Essencial

▪ Autor de O Capital (Das Kapital, 1867), que escreveu em Londres.

▪ O pensamento marxista assenta numa crítica radical da economia política


“burguesa”, e previa o colapso do “sistema capitalista”.

▪ Conjuntamente com Freud e Darwin, Marx teve um impacto tremendo no mundo


intelectual do Sec. XX.

▪ E mais do qualquer outro economista, um impacto na política e na economia à


escala global, v.g. URSS (1917) e China (1949)

▪ Impacto que se desvanece com o queda do muro de Berlim, em 1989.

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IV. KARL MARX - A Obra

▪ Podemos considerar a obra teórica e a influência de Max em três domínios


fundamentais:

• Na filosofia e na história, onde desenvolve a conceção do mundo e


de análise da história designada por materialismo histórico.

• Na economia, onde analisa o “sistema capitalista” baseado no


principio de que o lucro advém da mais-valia gerada pelo trabalho.
Propõe-se a explicar de forma sistemática as “leis do movimento” do
capitalismo.

• Na política, onde lança os fundamentos doutrinários do movimento


comunista, que vem a culminar na revolução de Outubro de 1917 na
Rússia, na implantação de regimes comunistas ainda na China em
1949, e em Cuba em 1959, entre outros

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IV.1. O MATERIALISMO HISTÓRICO

▪ A filosofia e a conceção da história de Marx procedem da dialética Hegeliana,


segundo a qual as ideias percorriam um movimento incessante de tese,
seguindo-se a antítese e uma nova síntese.

▪ Porém, enquanto Hegel centrava-se na evolução das ideias, em Marx a dialética


aplicava-se à analise do mundo material.

▪ Cada estádio da história produzia tensões [contradições] internas, com as quais


a sociedade avançava para um novo patamar.

• A escravatura dera lugar ao feudalismo e este ao capitalismo, do


qual haveria de nascer o socialismo e, finalmente, o comunismo.

▪ A luta de classes é apontada como o motor da história: uma classe emergente


aniquila a classe dominante precedente, implantando um novo sistema
económico, até ao estádio supremo do comunismo.

▪ Sobressai um carácter determinístico na evolução da história. O qual, sugere-se,


irá sustentar a fé na nova ideologia pelos seus militantes.
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IV.2. A ECONOMIA MARXIANA

▪ Para Marx o sistema económico capitalista assentava na exploração do trabalho


das classes operárias pela burguesia. Considerando:

• A burguesia era detentora do capital


• A classe operária não tinha meios de produção próprios.

▪ O capital tomava duas formas específicas:

• O “capital constante” - investimento em equipamento e em


matérias primas;

• O “capital variável” - valor do capital necessário para financiar o


pagamento da mão-obra contratada.

▪ Porém, só o segundo seria fonte de lucros, baseados na extração das mais-valias


produzidas pelo trabalho.

▪ Aliás, o valor de um produto é determinado ─aliás, tal como em Smith e Ricardo ─


pela quantidade de trabalho necessário para o produzir.
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IV.2. A ECONOMIA MARXIANA

▪ As máquinas representariam a incorporação de trabalho passado

▪ Após a revolução industrial, o trabalho transforma-se numa mercadoria


(commodity) como outra qualquer.

▪ E o seu preço, ou seja o salário, seria determinado pelas necessidades de


subsistência, ou seja, do trabalhador e família (o operário e a prole).

▪ Segundo Marx, o “capitalista” tinha o poder de obrigar o operário, que não possuía
meios de produção próprios, a trabalhar mais horas do que as correspondentes à
subsistência. E apropriava-se do excedente, i.e. da diferença entre o preço de
venda dos bens produzidos e os salários pagos.

▪ Tal excedente é dedignado por mais-valia. Correspondia ao “tempo de trabalho


expropriado” e constituía o lucro do “capitalista”.

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IV.2. A ECONOMIA MARXIANA

▪ Além disso, o “modo de produção capitalista” implica concorrência entre os


burgueses que recorrem às máquinas, substituindo trabalho por capital/máquinas.

▪ Isto levaria, por um lado, a uma concentração progressiva do poder económico


dado que as empresas mais eficientes ganham dimensão, esmagando as mais
pequenas.

▪ Por outro lado, a concorrência leva o capitalista a investir em equipamentos mais


eficientes. Assim, a base para extração de mais-valias contrai-se em termos
relativos: haverá cada vez menos trabalhadores por máquinas instaladas – Taxa
de Lucro Decrescente.

▪ Do mesmo modo, a economia capitalista implica competição entre os proletários


(que perderam acesso à terra e capital e contam apenas com o seu trabalho) pelos
postos de trabalho.

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IV.2. A ECONOMIA MARXIANA

▪ A passagem da Agricultura para a Indústria, junto com a tecnologia, num mercado


livre dispõe os trabalhadores a descerem os seus salários.

▪ Com os salários, degradam-se as condições de vida dos trabalhadores.

▪ Os próprios trabalhadores desempregados, constituem o chamado “Exército de


Reserva da Indústria” que exerce uma pressão negativa sobre os salários.

▪ Isto leva à pauperização crescente da classe operária que verificar-se-ia em


termos relativos, i.e., traduzido pela diminuição do peso dos salários no rendimento
nacional.

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IV.2. A ECONOMIA MARXIANA

▪ Todas estas consequências levariam ao agravamento das crises e ciclos


económicos: Quando os capitalistas substituem operários por máquinas, e como
os desempregados deixam de poder comprar bens, a procura agregada diminui. E
por consequência também o produto na economia (PIB). O nível geral de preços
desce, seguidamente, permitindo restaurar a procura inicial. Até que o processo se
reinicie, desencadeando um novo ciclo depressivo.

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IV.2. A ECONOMIA MARXIANA – A Engrenagem Infernal

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IV.3. A ENGRENAGEM INFERNAL NOS FACTOS

▪ Evolução dos Salários Reais no RU (1780-1870)

INTERVALOS Taxa de crescimento


do PIB per capita Taxa de crescimento dos salários reais (aa. vv.)
Maddison; Crafts e
Harley

Feinstein Allen 2001 Clark 2006


1998

1780-1820 25% 14% 12% 35%

1820-50 33% 20% 4% 13%

1850-70 37% 9% 20% 24%

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IV.3. A ENGRENAGEM INFERNAL NOS FACTOS

▪ Apesar das forças adversas do mercado de trabalho e da demografia, os salários


reais cresceram durante o período

“os salários não diminuíram face ao rápido crescimento demográfico (...). Em períodos
anteriores (...) o rápido crescimento populacional resultou [frequentemente] numa forte
diminuição dos salários reais.” (Pamuk e v. Zanden, 225)

▪ No entanto, o crescimento dos salários reais foi menor do que o crescimento do


PIB pc (exceção: 1780-1820, Clark 2006)

▪ Ou seja, o crescimento dos rendimentos do trabalho abaixo da média.

▪ Aumento da desigualdade.

▪ E os outros indicadores da época o que indicam? Melhorias só no final do seculo

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IV.3. A ENGRENAGEM INFERNAL NOS FACTOS

▪ O peso relativo do trabalho no rendimento nacional (labour share) tem oscilado,


porém no final do Sec. XX era superior ao prevalecente quando Marx escrevia “ O
Capital”.

Gráfico reproduzido de Charpe M, Bridji S, McAdam P (2020) Labor share and growth in the long run. Macroeconomic Dynamics 24(7):1720-1757.

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IV.3. A ENGRENAGEM INFERNAL NOS FACTOS

▪ Mas a percentagem no valor acrescentado bruto da compensação do trabalho tem


vindo a diminuir.

NBER The Reporter: No. 4, December

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IV.3. A ENGRENAGEM INFERNAL NOS FACTOS

▪ As margens de lucro das empresas americanas têm vindo a aumentar nas duas
últimas décadas (ver Figura abaixo)

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* Aghion et all, (2021), p. 66). The Power of Creative Destruction
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IV.3. A ENGRENAGEM INFERNAL NOS FACTOS

▪ A concentração das empresas tem vindo a aumentar (ver Figura abaixo)

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NBER The Reporter: No. 4, December
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IV.4. A ECONOMIA DE DIREÇÃO CENTRAL

▪ Marx profetizou o colapso do capitalismo, um sistema que “cavava a sua própria


sepultura”.

▪ Dado que “dava origem a guerras, à exploração colonial e, acima de tudo, a um


desperdício de recursos humanos através do desemprego”.

▪ E previu o advento de uma sociedade socialista. Na qual:

• Os meios de produção (terrenos agrícolas, fábricas) passariam


para a posse do Estado. A propriedade privada seria abolida.

• A alocação dos recursos passaria, então, a ser feita por uma


direção de planeamento central, em lugar de guiada pelo sistema de
preços formados de forma descentralizada na economia de mercado
(Marx não foi específico neste tópico, o qual viria a ser desenvolvido
pelos seus seguidores Lenin, Trotsky e Stalin).

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IV.4. A ECONOMIA DE DIREÇÃO CENTRAL - As duas Coreias

▪ A propósito da “experiência natural” oferecida pelas duas Coreias, a qual pode ser
ilustrada pela fotografia abaixo inserta, Acemoglu et al (2005) “Why Nations
Fail?”, referiram o seguinte: “Few social scientists today would deny that a
lengthy period of totalitarian centrally planned rule has significant economic costs.”

Liverpool
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IV.5. EXERCÍCIO PRÁTICO

Considere a “teoria da mais-valia” de Karl Marx.

a) Explique qual a fonte do lucro do “capitalista”, não deixando de mencionar a


distinção entre “capital constante” e “capital variável” e referir a determinação do
valor de um bem produzido numa dada economia.

b) A evidência empírica desde a publicação do Capital até aos nossos dias confirmou
a previsão marxiana sobre a diminuição da taxa de lucro dos capitalistas?

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