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Economia

Política
História do Aula Teórica 4 ─ Adam Smith (V2)*
Pensamento
Económico
José Sá Carneiro
2021/22

Nota: *A numeração dos slides acrescentados ou alterados


encontram-se marcada a bold.

IMP.GE.086.1
CONTEÚDO

1. Síntese
2. Contexto
3. Obra
3.1 Funcionamento do mercado
3.2 Divisão do trabalho: O Progresso Técnico
3.3 Comércio Livre: o Princípio da Vantagem Absoluta
3.4 Implicações Políticas
4. Discusão de um Caso da Atualidade
5. Apêndice

Suporte Bibliográfico
• Buchholz (Cap. II)
• Blaug, Mark (1985, 1989). História do Pensamento Económico
• Great Economic Thinkers: An Introduction, Ed. Colin, Jonathan (2018)
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• Adam Smith (1776), A Riqueza das Nações, Edição da Gulbenkian
2
• Luís Cabral (2021) Introduction to Microeconomics, Luís x Cabral: index_html (luiscabral.net)
Adam Smith (1723–1790)
• Fundador da moderna ciência económica / Autor de “A Riqueza das Nações
(1776)”/ Explica o funcionamento da economia de mercado.
• Viveu num período revolucionário:
o O Século das Luzes (o Iluminismo)
o O dealbar da revolução industrial / e da economia de mercado
• “Os benefícios da economia de mercado assentam em dois pilares:
o Os ganhos de produtividade que advêm da divisão do trabalho
o Os ganhos de eficiência que advêm do comércio livre”*
• Nasceu em Edimburgo, estudou em Glasgow e Oxford, ensinou em Glasgow.
Estadias em Paris e Londres.

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Luis Cabral, p. 16 Balliol College, Oxford
2 Contexto

• No Sec. XVIII a assistimos a uma viragem na história da humanidade:


o No plano das ideias, o Iluminismo;
o No domínio económico, a Revolução Industrial (1760-90)*.
o Na política: a independência da América em 1776 e a Revolução Francesa
1789 ( “age of revolutions”, que abrange também a Revolução Haitiana
contra a escravatura, 1791-1804).

• “Enquanto Adam Smith escrevia a Riqueza das Nações, os


mercadores britânicos negociavam entre si e através dos sete
oceanos, a população aumentava, surgiam as primeira fábricas, e o
sistema bancário expandia-se no Reino Unido e na Europa
Continental.”**
o Ou seja, a emergência da economia de mercado.
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* Blaug, p. 75; ** Buchholz (p. 10)
2 Contexto (cont.): O Iluminismo e antecedentes

• “Da Idade Média até ao tempo de Cristóvão Colombo, os teólogos


dominavam o pensamento intelectual na Europa. “
• Daí em diante, Copérnico (astrologia) e depois Galileu (física)
desafiam a predomínio da doutrina religiosa na explicação dos
fenómenos naturais.
• Descarte, em o Discurso do Método (1637), antecipa o Iluminismo ao
argumentar que através da prática científica os homens poderiam
tornar-se “senhores da natureza”.
• Chegados ao Iluminismo, sobressai Isaac Newton (1642 – 1727) na
revolução científica, com as leis da gravidade e o cálculo moderno.
• “Adam Smith advém deste movimento. Tal como Galileu e Newton,
Smith procurava relações de causa-efeito. Porém, em lugar de se
focar nos planetas, visava as pessoas.”
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* Buchholz (pp. 10-11)
3 Obra

• A Riqueza das Nações foi publicada em 1776. Apesar das suas 900
páginas, conheceu um sucesso imediato: a primeira edição esgotou
em seis meses.

• Pressupostos fundamentais:
o Os “atores económicos”, i.e., as pessoas, desejam sempre viver melhor,
desfrutar de melhores condições do que aqueles que já possuem, e agem
na prossecução dos interesses próprios com essa finalidade.

o Justamente daí decorre o impulso para a criação da riqueza:


“ Não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro que
podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm
o seu próprio interesse”*.

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* A Riqueza das Nações (Ed. Gulbenkian, p. 95)
3.1 Funcionamento do Mercado

• Os mercados são guiados por uma “mão invisível”. Como assim?

• A coordenação dos atores económicos – consumidores e produtores


– é feita através de um sistema descentralizado, v.g. os preços
formados em mercados concorrenciais, que harmonizam os bens que
uns desejam comprar e outros planeiam produzir.

o É através dos preços que se dispõem a pagar por um dado bem que os
consumidores sinalizam o seu interesse (a “procura efetiva”).

o Tal como as empresas veiculam o seu interesse em vender certa


quantidade de um dado bem mediante o preço oferecido (a “oferta”).

o O equilíbrio de mercado forma-se mediante o jogo da oferta e da procura.


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3.1 Funcionamento do Mercado (cont.)

• Mais especificamente, as empresas são orientados pelas seguintes


informações livremente transmitidas pelos mercados:
o O preço dos fatores produtivos (matérias-primas, trabalho) que podem
utilizar e bem assim o da venda dos bens ou serviços a produzir;
o O lucro resultante da sua atividade.

• No conjunto da economia a produção é determinada da seguinte


forma:
o Se a produção de um bem é insuficiente, o seu preço sobe, gerando-se
lucros supranormais. Estes atraem novos empresários, aumentando a
oferta, a qual diminui os preços, fazendo retornar aos lucros normais.
o Se a produção é excessiva, o movimento ocorre em sentido contrário.

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3.2 Divisão do Trabalho

• Adam Smith exemplificou com uma fábrica de alfinetes o impacto da


divisão do trabalho no “acréscimo dos poderes produtivos”, ou seja, o
progresso técnico (na linguagem atual):

“ Um operário não treinado nesta atividade…mal poderia, talvez, …, produzir


um alfinete num dia e não seria, com certeza, capaz de produzir 20. Mas,
da forma como esta atividade é atualmente levada a cabo, não só o
conjunto do trabalho constitui uma arte específica [distinta da tecelagem,
por ex.], como a maior parte das fases em que está dividido constituem
de igual modo trabalhos especializados. Um homem puxa o arame, outro
endireita-o, um terceiro corta-o, …; e a importante tarefa de produzir um
alfinete é, deste modo, dividida em cerca de 18 operações distintas…. Eu
próprio vi uma pequena fábrica deste tipo, …[na qual] cada homem
produziria [à razão] de 4.800 alfinetes num dia”.
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* A Riqueza das Nações (Ed. Gulbenkian, p. 77-80)
3.2.1 Divisão do Trabalho: O Progresso Técnico

• “Smith apontou três vias que levavam a um aumento da produção por


efeito da divisão do trabalho e, por essa via, da especialização:
o Cada trabalhador desenvolve capacidades especificas e destreza na sua
atividade particular;
o Perdem menos tempo a mudar de uma para outra atividade;
o Trabalhadores especializados serão provavelmente mais aptos a
inventarem novas máquinas e ferramentas.”

• Por conseguinte, a divisão do trabalho incrementava a produtividade


e contribuía decisivamente para o avanço tecnológico.
o E na produtividade assenta a riqueza das nações e no avanço tecnológico
o crescimento da mesma [independentemente de ser proveniente da
divisão do trabalho, do avanço do conhecimento tácito, ou da investigação
aplicada, poderíamos hoje acrescentar].
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* Buchholz (p. 25)
3.3 Comércio Livre e o Princípio da Vantagem Absoluta

• “Smith não defendia que a divisão do trabalho por si só traria a


riqueza a uma nação. O comércio livre entre produtores,
fornecedores, cidades e [países] são também necessários. De que
serviria produzir 10.000 alfinetes se não pudessem ser
comercializados?”*
o Portanto, o comércio livre (a expansão dos mercados) é uma condição
necessária da prosperidade.

• Notar que a divisão do trabalho realizada entre diferentes regiões e


países contribui para o aumento da produtividade, tal como a que
observamos entre diferentes unidades produtivas na mesma cidade.
E daí a importância do comércio internacional.

• Para Smith, “os países deveriam importar os bens daquele país no


qual se verificasse uma vantagem absoluta na sua produção [um
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custo mais baixo]”
11
* Buchholz (p. 27)
3.3.1 Saldo da Balança Comercial

• Smith qualificou de “absurda” a política aduaneira britânica da época,


que restringia as importações de França para “equilibrar” a respetiva
balança comercial. Explicação:

“Embora fosse um facto que no caso de um comércio livre entre a França e


a Inglaterra, por exemplo, a balança viesse a ser favorável à França, de
modo algum isso significaria que esse comércio fosse desvantajoso para a
Inglaterra,… Se os vinhos de França são melhores e mais baratos que os de
Portugal, ou seus linhos melhores que os da Alemanha, seria mais vantajoso
para a Grã-Bretanha adquirir tanto o vinho como o linho de que necessita à
França, do que a Portugal e à Alemanha. Embora o valor das importações
anuais da França fosse assim grandemente aumentado, o valor da
totalidade das importações anuais seria diminuído.”*

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* A Riqueza das Nações (Ed. Gulbenkian, p. 785-86)
3.4 Implicações Políticas

• “A visão de um mercado livre de Adam Smith não o condenava a um


otimismo naif do tipo do Dr. Pangloss de Voltaire [Candide], que vivia
‘no melhor dos mundos’ não obstante todas as evidências contrárias
ao seu redor.”*

• Na verdade, Smith também alertava para os obstáculos ao livre


funcionamento dos mercados, nomeadamente as práticas limitadoras
da concorrência impostas por “interesse especiais” [lobbies], quer
sobre o mercado externo, como no mercado doméstico.

“É raro que pessoas que exercem a mesma atividade se encontrem, mesmo


numa festa ou diversão, sem que a conversa acabe numa conspiração
contra o público, ou numa maquinação para elevar os preços.”**

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*Buchholz (p. 34); ** A Riqueza das Nações (Ed. Gulbenkian, p. 280)
3.4.1 A função do Estado

• Para Smith, Governo não deve imiscuir-se no funcionamento dos


mercados, fixando preços ou salários, regulando o trabalho, ou
protegendo industrias.

• Ao Estado compete:
o Assegurar a defesa nacional.
o Administrar a justiça através de tribunais independentes
o Manter as instituições públicas, assegurar as infraestruturas básicas e o
sistema educativo

• “Pouco mais é necessário para elevar um estado, da mais primitiva


barbárie, ao mais elevado grau da riqueza do que a paz, impostos
moderados e uma razoável administração da justiça: tudo o resto
acontece pelo curso natural das coisas” . (Adam Smith, 1755)*

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* <https://www.adamsmith.org/adam-smith-quotes/>
4 Discussão de um Caso da Típico

• Os Governos devem “proteger” os seus empresários e trabalhadores da


concorrência externa?
o Enquadre a resposta nos “princípios fundamentais da economia” (prof
Mankiw) e no pensamento de Adam Smith

Notas
1) a taxa de desemprego
nos EUA era de 3.5% em
Dezembro/2019 (ou seja, uma
situação de pleno emprego,
dado que a taxa natural de
desemprego ronda 4%)

2) As campanhas eleitorais de Biden


e Trump serão reapreciadas quando
abordarmos a teoria da “Public
Choice”.
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New York Times, 29/09/2020 15
Apêndice

• No Ano de 1776
• Economia de Mercado
• O Crescimento Económico em Perspetiva Histórica
• Biografia de Adam Smith
• Leituras (para férias)

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No Ano de 1776

• EUA: Declaração da Independência (4 July)


• James Watt patenteia a sua máquina a vapor
• Adam Smith publica a Riqueza das Nações

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• Luis Cabral (p. 15)
Economia de Mercado*

• A ECONOMIA DE MERCADO é definida por um dado conjunto de condições e


instituições.
o Instituições: “As leis e normas sociais que governam a produção e
distribuição de bens e serviços.

• No caso as instituições que enquadram


o A propriedade privada
o Os mercados
o As empresas (sendo estas as instituições que combinam e articulam o
capital e o trabalho)

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Balliol College, Oxford
18
* Luis Cabral, p. 13, ao defenir “capitalism”)
O Crescimento Económico em Perspetiva Histórica

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Balliol College, Oxford
19
* Luis Cabral, p. 14
Biografia

• Nasceu em Kircaldy, próximo de Edimburgo, Escócia.


• O pai, funcionário da alfandega, morreu antes do seu nascimento.
• “Um bom estudante, entrou aos 14 anos na Universidade de Glasgow, e
recebeu seguidamente uma bolsa para o Balliol College, Oxford. Como era
habitual na época, a sua intenção era estudar teologia e ingressar no clero.”*
• Rejeita a censura a académica, ainda prevalecente em Oxford, que lhe
confiscara o Tratado da Natureza Humana, de David Hume.
• O subtítulo deste Tratado, “Uma Tentativa para Introduzir o Método
Experimental no Estudo dos Temas da Moral”, ilustra bem a mudança de
paradigmas que despontava.

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Balliol College, Oxford
20
* Buchholz (p. 11)
Biografia, cont.(i)

• Consequentemente, Smith abandona os planos clericais, retorna a Kircaldy,


onde começa a ensinar Retórica e Direito.
• Em 1759, Adam Smith torna-se famoso com a publicação de um livro sobre a
ética, A Teoria dos Sentimentos Morais.
• Smith nunca ensinou economia, tal como aliás ninguém o havia feito: até ao
sec. XIX a economia era considerada um ramo da filosofia.
• Em 1748, Smith regressa à Universidade de Glasgow para ensinar Lógica.
• Dá ali continuidade às abordagens disruptivas do seu antigo mestre, o
“académico radical” Hutcheson, que cometera a “heresia” de não ensinar em
latim, ou ainda de argumentar que “era possível distinguir o bem do mal sem
conhecer Deus”.

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Biografia (cont. ii)

• Não obstante, algumas ideias fundamentais da Riqueza das Nações


afloravam já nas suas aulas.
• Assim, numa nota escrita por um dos seus alunos podia ler-se:
“A divisão do trabalho é a causa maior do aumento da opulência pública
[bem-estar], que é sempre proporcional ao esforço das pessoas, que não a
quantidade de ouro ou prata tal como é tontamente imaginada”.*
• De notar as ideais ali subjacentes (em contraposição com o “mercantilismo”):
o a produtividade na raiz da riqueza das nações,
o a relação entre o trabalho e a criação de valor.

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* Buchholz (p. 13)
Biografia (cont. iii)

Em 1764 parte para França,


aceitando um convite para tutor do
filho de uma família nobre e
com grande influência e recursos.

Em Paris, “frequenta os salons onde


circulavam os grandes filósofos
do Iluminismo,”* a quem fora apresentado
pelo seu amigo David Hume,
então a trabalhar na Embaixada Britânica.

• Em 1766 regressa a Kircaldy. Nos dez anos seguintes, entremeados por


algumas deslocações ao Clube Literário de Londres, haveria de completar a
Riqueza das Nações, cuja escrita iniciara em França.

IMP.GE.086.1 Colin (2018, Loc. 487)


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Leituras para férias

• Motivação: O Iluminismo
• Personagem marcante: Dr. Pangloss

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