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Disciplina: História do Pensamento Econômico I

3 SESSÃO: O Valor e a divisão do Trabalho em Smith


Período letivo: 4º Período de 2021
Professor: Dr. Rafael Gonçalves Gumiero
Dia 01/abril

Referências:

SMITH, A. A riqueza das nações. Vol 1. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002.
Capítulos 1 ao 6.

HUNT, E. K.; LAUTZENHEISER, M. As ideias econômicas anteriores a Adam Smith.


In: HUNT, E. K.; LAUTZENHEISER, M (org.). História do Pensamento Econômico.
Editora Campus, Rio de Janeiro, 2012.
KUNTZ, Rolf (org.). François Quesnay: economia. São Paulo: Ática, 1984.

Questão de Aula:

I. Quais foram os determinantes para mudança da definição de valor pelos


mercantilistas para a dos fisiocratas?
II. As definições da divisão do trabalho e do valor abriram as cortinas de um
novo cenário na economia dos países. Em que medida esses conceitos
definiram uma nova forma produtiva dos países europeus? E como a
projetou a um nível macroeconômica das relações econômicas entre os
países?

Sumário

1. Aproximações teóricas dos mercantilistas sobre a definição Valor e Lucro;


2. Os fisiocratas e a contribuição do Tableau Economique.
3. Perfil intelectual de Adam Smith;
4. A origem da divisão do trabalho;
5. A formulação do valor para Smith.

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A visão liberal do comércio internacional, atualmente difundida pelas
instituições multilaterais como a OMC, FMI e Banco Mundial, tem sua raiz em Adam
Smith, por meio de sua principal e mais importante obra A riqueza das nações. Nela
Smith explicita que a divisão de trabalho cria oportunidades para que determinados
núcleos de pessoas se especializem em atividades diferentes, gerando uma maior
produtividade. E exemplo clássico é o da produção dos alfinetes, quando são
comparados os processos artesanal e manufatureiro. No primeiro há pouca
especialização, enquanto que no segundo a especialização é bastante elevado, a tal
ponto que pessoas desqualificadas realizassem operações simples e repetitivas. Como
resultado, verificou-se uma produtividade infinitamente superior na manufatura se
comparada com o artesanato.

Tomemos, pois, um exemplo, tirado de uma manufatura muito pequena, mas na


qual a divisão do trabalho muitas vezes tem sido notada: a fabricação de
alfinetes. Um operário não treinado para essa atividade (que a divisão do
trabalho transformou em uma indústria específica) nem familiarizado com a
utilização das maquinas ali empregadas (cuja invenção provavelmente também
se deveu a mesma divisão do trabalho), dificilmente poderia talvez fabricar um
único alfinete em um dia, empenhando o máximo de trabalho; de qualquer
forma, certamente não conseguira fabricar vinte. Entretanto, da forma como
essa atividade é hoje executada, não somente o trabalho todo constitui uma
indústria específica, mas ele está dividido em uma série de setores, dos quais,
por sua vez, a maior parte também constitui provavelmente um oficio especial
(SMITH, 1988, p. 65-66).

É identificada na teoria de Adam Smith que é mais prudente e produtivo a


divisão do trabalho, pois a partir da divisão do trabalho a produção de mercadorias seria
maior, devido a maior destreza existente em cada trabalhador. Além disso, por poupar o
tempo gasto pelo trabalhador saindo de um tipo de trabalho para outro e, finalmente,
pela invenção de máquinas facilitando o trabalho antes realizado por inúmeras pessoas,
sendo agora realizado por apenas uma pessoa.
Diante da teoria elaborada por Adam Smith é levantada a indagação, se é
coerente que pessoas se especializassem em determinadas atividades, porque os países
não podem se especializar em determinados ramos na produção de mercadorias?
Portanto Adam Smith deduz que é mais lucrativo comprar de um país o produto no qual
se especializou do que a sua produção interna. Smith (1988) defende A teoria das

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vantagens absolutas, privilegiando o livre comércio e a não intervenção do Estado na
economia.

1. Aproximações teóricas dos mercantilistas sobre a definição Valor e Lucro

Primeiros escritos mercantilistas sobre Valor e Lucro - A primeira


abordagem teórica a respeito dos conceitos lucro, valor das mercadorias estão
relacionados aos autores da época mercantilista. A produção de mercadorias estava
relacionada aos trabalhadores que tinham sob o seu comando os meios de produção.
O capital dos mercadores consistia em dinheiro e estoques de mercadorias a
serem vendidas. Portanto, os autores mercantilistas entendiam as trocas ou as compras
e vendas como fonte dos lucros. Por sua vez, os lucros eram trocados por
mercadorias que representavam parte do excedente, representado pelas trocas, que seja
pelo valor e compra e revenda do produto. Os senhores feudais controlavam a produção
e ficavam com o excedente.
Expressão das relações de Valor Mercantilista

Trocas entre
mercadorias

Uso do Lucro para


Compra de novas Geração de Lucro
mercadorias

Para os pensadores medievais os preços eram determinados pelos custos de


produção. Os primeiros mercantilistas abandonaram essa ideia baseada no custo de
produção para apresentar a ideia no ponto de venda para analisar os valores de troca.

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A teoria do valor segundo a interpretação mercantilista aponta que há 3
noções:
a) a primeira é o valor das mercadorias, que era seu preço real de mercado;
b) a segunda são as forças da oferta e demanda, que determinam o valor de mercado.
c) A terceira é que os autores mercantilistas chamam de valor intrínseco ou valor de uso,
como o fator mais importante na determinação da demanda.
Os condicionantes que colaboraram para que os autores mercantilistas tomassem
a interpretação do valor determinada pela oscilação do preço de mercado das
mercadorias adveio da instabilidade inflacionária na Inglaterra, nos séculos XVI e XVII,
causada pela compra de uma mercadoria e a venda dela pelo dobro ou triplo do valor de
compra, o que resultou em lucros extraordinários. Em segundo, as diferentes condições
de produção em várias regiões de um país ou em várias partes do mundo fizeram
com que os preços relativos de mercadorias fossem diferentes entre regiões e
países.
As diferenças no valor da mercadoria no comércio poderiam ainda oscilar de
acordo com o apreço ou desejo de compra de determinadas mercadorias pela população,
seu preço seria alto se ela tivesse uma oferta reduzida ou seria baixo o preço se sua
oferta fosse abundante. Por essa razão a estratégia dos monopólios eram adotados e
defendidos pelo Estado.
As leis formuladas pelo governo da Inglaterra foram muito rígidas para manter o
protecionismo, dentre elas podemos citar algumas: Estatutos dos Monopólios de 1624
(somente verdadeiras inovações poderiam ter monopólios); Estatuto dos Artífices de
1593 (previa salários máximos para serem pagos aos operários); Leis dos Pobres de
1531 (enfrentou os problemas do desemprego, da pobreza e da miséria; em 1572 o
Estado criou recursos tributários denominado imposto para os pobres compulsório; A
Lei dos Pobres de 1601 previu o reconhecimento formal dos direitos de os pobres
receberem auxílio.
O processo do capitalismo se expandiu e junto com ele a concorrência
diminuindo aquela 1@ diferença que existia entre os preços dos produtos produzidos
em diferentes regiões do país, o que rebateu na queda dos lucros pela diferença de
preços na compra e venda final do mercantilista. A segunda mudança está relacionada
2@ aos lucros conquistados pelas diferenças de preços que foram reduzidos em
detrimento da integração do controle capitalista, tanto em processos de produção,
quanto de comércio. A evolução das oficinas de artesoes para um processo produtivo

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mais afinado, definido por posições dentro da fábrica, entre mestres ou capitalistas e
aprendiz ou operário.
As políticas econômicas do individualismo – Desde meados do século XVII
quase todos os autores mercantilistas condenaram os monopólios concedidos pelo
Estado e outras formas de proteção na economia interna. A livre concorrência seria
preferível pois condicionaria uma redução automática dos preços, condicionados antes
pela oferta e procura e a sua venda, encontrando um equilíbrio do mercado.
Em 1714, Mandeville publicou A fábulas das abelhas: ou lucros privados e
benefícios públicos, ele afirmou que se os sentimentos de ambição, egoísmo, guiaria a
economia para um processo de industrialização e ela prosperaria. As restrições de
concorrência no mercado beneficiavam somente as companhias de comércio mais
antigas, já estabelecidas e monopolistas, remanescentes da visão paternalista do estado.
A integração do mercado interno da Inglaterra e de outros países que estavam na
rota comercial assegurou que o lucro não seria mais obtido com a simples exploração
das diferenças de preços, passou a ser dada prioridade aos custos de produção,
particularmente na indústria.
A criação da mão de obra livre significou o abastecimento de trabalhadores nas
frentes produtivas das fábricas, obrigados a vender a sua força de trabalho para
sobreviver, o que esteve relacionado ao controle desses produtores para a obtenção de
lucros pelos empresários.
William Petty afirma que o capital é resultado do acúmulo do trabalho das
pessoas, portanto, as pessoas são as mercadorias principais, mais básica e mais preciosa,
no qual reproduzem pelo trabalho os produtos industrializados, naturais.
Na indústria a produtividade decolou após a reorganização dos postos de
trabalho, balizado pela divisão de funções do trabalho na cadeia produtiva. Os autores
economistas do início do século XVIII identificaram dois princípios para aumentar a
produtividade. Primeiramente, viram que os recursos naturais só se transformavam em
mercadorias com valor de troca depois do trabalhador os ter transformado em produtos
com valor de uso. Em segundo, com o aumento da especialização e a divisão do
trabalho, ficou evidente que uma troca de mercadoria poderia ser vista como uma troca
dos diferentes trabalhos especializados incorporados nessas mercadorias.
O trabalho é o mais importante determinante dos preços e fonte de lucros,
obtidos pela compra e venda dos produtos. O lucro é a diferença entre o valor gasto para
comprar os insumos necessários à produção e a quantidade produzida, que após vendido

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o produto a diferença do valor gasto inicialmente com o de venda é o lucro, denominado
de excedente.
Os fisiocratas, escola francesa de economistas do século XVIII, teve como um
dos seus principais representantes François Quesnay (1694-1774) na sua obra Tableau
Economique.
1. Um primeiro ponto em que os fisiocratas defenderam foi a reforma política, com
a extinção das guildas e a remoção de todas as tarifas que prejudicasse o
comércio. Em sua percepção deveria existir somente um imposto relacionado a
agricultura cobrado pelo governo, gerando a renda do governo;
2. Em segundo lugar propuseram a substituição da agricultura de pequena escala
pela grande agricultura voltada para o mercado capitalista;
3. Mudanças sociais que exigem a remoção de uma classe dominante por outra.
Somente com a Revolução Francesa de 1789 as mudanças que foram defendidas
pelos fisiocratas foram colocadas em prática.
4. As principais ideias do Tableau e que reverberaram no pensamento econômico
foram: 1) noção do trabalho produtivo e improdutivo e de excedente econômico;
2) a interdependência mutua dos processos de produção; 3) os fluxos circulares
da moeda e das mercadorias e as crises econômicas que podem ser causadas pelo
entesouramento do dinheiro.

Na obra Tableau Economique, Quesnay apresenta um modelo utilizado na economia em


que os processos de produção, circulação da moeda e das mercadorias e a distribuição
de renda podem ser definidos pela produção anual, contabilizado em ciclos, em que
tudo que é produzido em um ano é consumido naquele ano ou se transforma em
insumos para a produção do ano seguinte. O setor produtivo analisado é a agricultura.
Se o produto bruto é 6 bilhões, resultado de 5 bilhões produzidos na agricultura e
um bilhão na indústria, o valor de 1 bilhão é direcionado para a agricultura para gastar
com o ativo durável utilizado na produção.
Do produto agrícola 2 bilhões ficam com o produtor para os cursos de reposição
dos ativos consumidos na produção agrícola. O valor excedente é resultante dos gastos
utilizados pelos produtores agrícolas para a produção e o valor restante. Nesse caso, o
estoque de 2 bilhões está nas mãos dos agricultores, como arrendamento da terra. Essa é
o excedente gerado ao final de um ciclo.

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Citação página 31.

Esse modelo ilustra que os dois setores de produção são interdependentes e que
o produto de cada um deles é um insumo necessário para o outro. Os fisiocratas
apontaram como as práticas de entesouramento da moeda ou criação de pontos de
estrangulamento no processo de circulação monetária poderia atrapalhar a alocação de
insumos e de produtos, provocando crises econômicas.

2. Perfil Intelectual de Smith – Influências e inspirações teóricas

Adam Smith nasceu em Kirkaldy – Escócia, em 1723, formado em filosofia,


proferiu em aulas e palestras a sua especialidade em retórica, literatura e jurisprudência
na Universidade de Edimburgo. Lecionou na Universidade de Glasgow, a partir de
1751, nas cadeiras de lógica e filosofia moral.
As principais obras publicadas por Smith foram: A teoria dos sentimentos
morais, de 1759, A Riqueza das Nações de 1776, que passaram a balizar o movimento
das ideias pela inflexão do debate sobre o que é Valor.
As principais influências de Smith estiveram no campo da filosofia, relacionada
aos temas das paixões individuais e bem comum ou a da crença da existência de leis
universais que tudo determinam.
Na economia Smith teve como premissa argumentativa a doutrina dos
fisiocratas1, em sua passagem pela França nos anos 1764 e 1766. Algumas ideias vieram
dessa escola do pensamento econômico francês, como a defesa do livre comércio e o
deslocamento do eixo da explicação da origem da riqueza, transitando da órbita das
relações comerciais para o da produção. O cerne do ponto de vista de Smith estava na
questão “Como a riqueza das nações era gerada e ampliada?”
O seu principal antagonista discursivo era o mercantilismo2. A ênfase da crítica
do mercantilismo é que a valoração está relacionada à obtenção de riqueza por meio da
pujança econômica pela abundância de ouro. O seu ponto de vista discorda, dado que a
riqueza é a soma de bens necessários e confortos disponibilizados aos indivíduos.
Silvia Possas se deteve na análise da obra A Riqueza das Nações, no ponto que
diz respeito das temáticas: 1) criação e distribuição dos bens e serviços, 2) do dinheiro;

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3) do crescimento econômico; 4) do papel das diversas classes sociais e do Estado; 5)
do comércio nos planos nacional e mundial e dos mercados; 6) e, dos tributos e da
política econômica.
Mas, o ponto central da sua análise é balizado pela temática da criação e
ampliação da riqueza. Como ela é determinada?
A resposta para Possas está no fenômeno social determinada pelo trabalho
humano, do qual é possível incorporar meios de se ampliar a produtividade do trabalho,
e o principal deles é a DIVISÃO DO TRABALHO.
Segundo Smith a divisão do trabalho é o fator determinante para a expansão da
produtividade. A expansão e liberação de mercados e a acumulação de capital3 são
meios para obter esse processo produtivo.
A professora Silvia Possas optou em tratar neste artigo dos temas da obra A
Riqueza das Nações, de Smith: 1) a Teoria do Valor; 2) O capital e a sua
acumulação; 3) A mão invisível; 4) O livre comércio.
O primeira tema é a 1º TEORIA DO VALOR. A premissa para pensar o valor é
a criação de uma métrica que seja utilizada por diferentes países, como um lastro para a
determinação do valor dos produtos e subsequentemente para a sua troca na
comercialização. O esforço de Smith para a criação do Valor Absoluto considere fatores
que lastreie o valor, sem ficar vulnerável à valores relativos das trocas com outras
mercadorias.
Os avanços de Smith em relação à conceptualização do valor advêm da
distinção do valor de troca – o valor alcançado no mercado, valor de uso, determinado
pela utilidade do bem. O segundo ponto foi a identificação de sua medida real. Os
mercantilistas utilizaram o dinheiro como uma forma de representação da riqueza,
porém, vulnerável às oscilações do mercado, por isso era denominado o preço em
dinheiro de preço nominal4.
O terceiro ponto se refere as partes componentes do valor de troca e as suas
fontes. Para Smith as fontes de valores são: a) Os salários que remuneram o trabalho; b)
a renda da terra que paga a utilização da terra; c) Os lucros que remuneram a riqueza
sob a forma de capital.

Valor =Salários + Renda daTerra+ Lucros

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O quarto ponto diz respeito as circunstâncias em que os preços de mercados podem se
afastar dos preços naturais. A denominação dos preços naturais é determinados pela
soma dos salários, preços e lucros. Os preços de mercado podem situar se acima ou
abaixo dos naturais, devido as discrepâncias entre oferta e demanda. De modo que,
preços de mercado acima dos naturais tendem a favorecer ampliação da oferta e vice-
versa.
A dicotomia relacionada ao trabalho incorporado e a do trabalho comandado
deve se as contribuições que Ricardo fez em relação à obra de Smith, em relação à
teoria do valor.
i) A teoria do valor incorporada está presente no estágio primitivo de
acumulação, na qual a formação de capital é determinada pelo pagamento do
trabalho despendido, como a única fonte de valor;
ii) A teoria do trabalho comandado remete a quantidade de trabalho dispendida
para a produção do produto;
O segundo tema tratado é 2º O CAPITAL E A SUA ACUMULAÇÃO,
associado ao processo produtivo e fonte de apropriação de valor, sob a forma de lucro.
A ideia de vender a preço maior do que o de compra é superada pelo da riqueza
acumulada, a partir da elevação da produtividade.
O terceiro tema é o da 3º DIVISÃO DO TRABALHO, que apresenta a
ampliação como forma mais importante para acrescentar riqueza e essa produtividade se
baseia na divisão do trabalho entre os membros de uma sociedade.
A divisão do trabalho possui alguns fatores essenciais para a nossa
compreensão: Primeiro – ampliação da riqueza previamente acumulada:
a) Sobrevivência dos que não produzam bens para a sua própria subsistência;
b) A aquisição de bens de capital fixo e circulante;
c) União entre diversos trabalhadores na produção de um único bem, como o caso
da produção de alfinetes;
Segundo – ampliação dos mercados, por intermédio dos meios de transportes e do livre
comércio.
(POSSAS, 1997, p. 21)

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A última temática é o 4º O LIVRE COMÉRCIO, se trata do debate sobre o
estímulo à ampliação dos mercados, por meio da divisão do trabalho e do grau de
especialização dos produtos. A mão invisível do mercado é uma imagem metafórica
para expressar que os processos produtivos especializados provêm do grau de expertise
técnica aplicada na produção e que o aprofundamento da divisão do trabalho amplia a
eficácia entre as decisões que implicam em interesses privados e bem público.

3. A ORIGEM DA DIVISÃO DO TRABALHO

LIVRO I – Capítulo 1 – Da divisão do trabalho


O foco de Smith é a divisão do trabalho e os seus efeitos para a atividade
produtiva na sociedade. Há dois modos produtivos que estavam de forma
concorrentes operando naquele momento na Inglaterra:
i. um deles em que é possível reunir em uma mesma oficina todos os
trabalhadores que ocupam os diferentes ramos do trabalho.
ii. O segundo caso, era realizado nas grandes manufaturas, caracterizadas pela
ausência de mão de obra suficiente para ocupar os postos de trabalho, cada
um estava disposto em um ramo específico do trabalho, distribuindo de
forma estratégica todos os trabalhadores pelo espaço da fábrica.
O exemplo utilizado por Smith é sobre a forja de alfinetes. A divisão do trabalho
está organizada no conjunto do trabalho, constitui uma atividade específica, no qual as
tarefas estão subdivididas em ocupações especializadas:

Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o


corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a
colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete
requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma
atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem
dos alfinetes também constitui uma ati- vidade independente. Assim, a

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importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em
aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas
manufaturas são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, em
outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas (SMITH,
1988, p. 66).

A divisão do trabalho resulta em um aumento proporcional das forças produtivas


do trabalho. A distinção entre as diversas atividades e empregos parece ter sido
realizada em consequência dessa vantagem.
A otimização da produtividade em decorrência da separação das atividades foi
questionada por Smith em outros setores produtivos, como na agricultura. Nela, foi
constatado que nem sempre acompanhou o aprimoramento como nas manufaturas.
O grande aumento da quantidade de trabalho, em consequência da divisão do
trabalho, possibilitado pela execução do mesmo número de pessoas deve se a três
diferentes justificativas:
1. O aumento da destreza de cada trabalhador;
2. A economia do tempo, que normalmente se perdia ao passar de uma tarefa a
outra;
3. A invenção de um grande número de máquinas que facilitam e abreviam o
trabalho, permitindo que um homem faça o trabalho de muitos.
Leitura da sala páginas: Página 68.
Capítulo 2 – Do princípio que dá origem à divisão do trabalho
A divisão do trabalho surgiu originalmente da necessidade do homem de fazer
troca, compras, obtenção de serviços de outros, o que determinou que as especializações
de serviços, produtivas combinadas poderiam gestar um mercado interno, em que
haveriam homens especializados em ser ferreiro ou caldeireiro, carpinteiro. Com as
atribuições distribuídas, foi possível compreender que o excedente de produção gerado
pelo trabalho poderia ser destinado para consumo pessoal e às trocas, vendas, estimulou
o homem a aperfeiçoar o seu talento ou gênio de ocupação.
Capítulo 3 – A divisão do trabalho é limitada pela extensão do mercado
Para Smith é o poder de troca que fundamenta a divisão do trabalho ou pela
extensão do mercado interno. A ampliação do mercado interno estimula a
diversificação produtiva, pois a troca realiza-se a partir do excedente de produção
de trabalho que supera o próprio consumo pelo excedente de produção do trabalho de
outros homens de que tenha necessidade.

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O mercado interno não se restringe as fronteiras geográficas de um país, mas
pode ser expandido a partir dos transportes. No caso apontado por Smith o transporte
marítimo possui vantagens em relação ao terrestre, por ter maiores condições de levar
mercadorias a um menor custo. A expansão do comércio pela costa litorânea é um
primeiro movimento, que depois é aperfeiçoado pela interiorização dos transportes.
Capítulo 4 – Da origem e do uso do dinheiro
Os três primeiros capítulos foram dedicados para explicitar o conceito de divisão
do trabalho. A partir do quarto capítulo, a prioridade de Smith é explicar o que é valor.
Para Smith a troca é a origem do comércio e que originou a definição de valor das
mercadorias.
Há mercadorias em que há demanda pela sua troca, porém, outros não são
exigidos na mesma proporção, o que dificulta as relações de troca. Por conta disso,
Smith investiga como é possível realizar compras e vendas de produtos a partir do seu
valor. Ler segundo parágrafo do capítulo 4.
Os metais passaram a serem utilizadas para cunhar dinheiro, pois é mais fácil
para ser guardado e carregado. Os metais para dar em troca da mercadoria, poderia ser
regulado e quantificado exatamente no momento em que necessita da mercadoria.
As regras utilizadas pelos homens nas trocas por bens de dinheiro ou por outros
bens. Essas regras determinam o conceito de valor relativo e valor dos bens. O valor é
determinada para Smith por duas razões:
a) expressa a utilidade de algum objeto em particular,
b) e em outros casos, o poder de comprar de outros bens, que a posse desse objeto
permite.
No primeiro caso é denominado o valor de uso e no segundo o valor de troca. A
maior parte das mercadorias com maior valor de uso possuem pouco ou nenhum valor
de troca (H2O), e os que possuem maior valor de troca tem pouco ou nenhum valor de
uso (Diamantes).
Por exemplo nada é mais útil do que a água e no entanto ela não permite
comprar nada, poucas coisas podem ser obtidas em troca dela, ao passo que, o diamante
possui pouco valor de uso e muito valor de troca.

4. A FORMULAÇÃO DO VALOR PARA SMITH.

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Capítulo 5 – Do preço real e nominal das mercadorias ou de seu preço em trabalho
e em dinheiro

O preço real de todas as coisas, o que elas de fato custam ao homem


que deseja adquiri-las, é a labuta e o esforço que deve empreender
para as obter. O que qualquer coisa vale realmente para o homem que
a adquiriu, e que deseja dispor dela ou trocá-la por alguma outra coisa,
é a labuta e o esforço que tal coisa pode poupar, atribuindo-os a outra
pessoa. O que compramos, com dinheiro ou em troca de outros bens, é
adquirido pelo trabalho, exatamente como o que obtemos com o
esforço do nosso próprio corpo. Esse dinheiro e esses bens de fato nos
poupam esse esforço. Contêm o valor de uma certa quantidade de
trabalho que trocamos pelo que, no momento, se supõe conter o valor
de idêntica quantidade. O trabalho foi o primeiro preço, a moeda
original com que se pagaram todas as coisas. Não foi com ouro ou
prata, mas com trabalho, que toda a riqueza do mundo foi
originalmente adquirida; e seu valor para os que o possuem e desejam
trocá-lo por novos produtos, é precisamente igual à quantidade de
trabalho que lhes permite comprar ou ter à disposição (SMITH, 1988,
p. 39).

O valor da mercadoria (VM) é correspondente a quantidade de trabalho (QT). O


trabalho (T) é a medida real do valor de troca (VT) de todas as mercadorias.
Para Smith a importância do trabalho é ser considerado como a moeda
original para o pagamento do consumo dos homens. O seu valor para que possuem e
desejam troca-lo por novos produtos é igual a quantidade de trabalho, que lhes permite
comprar ou ter à disposição.
Sabemos que o trabalho está intrínseco à dimensão econômica, referente ao
valor, e o trabaho é a medida real do valor de troca entre as mercadorias, mas como
estimamos ou conhecemos o valor das mercadorias?
O tempo utilizado para fazer uma mercadoria não é suficiente para
compreendermos a noção de valor.
Para calcular o valor das mercadorias é preciso calcular as variáveis como o
tempo de trabalho mais o engenho do trabalhador mais a fadiga.
Valor das Mercadorias = Tempo + Técnica + Fadiga

Não será sempre só o tempo gasto em dois tipos diferentes de trabalho
que determinará essa proporção. Deve-se levar em conta também os
graus diferentes de dificuldade e de engenho empregados nos respec-
tivos trabalhos. Pode haver mais trabalho em uma tarefa dura de uma
hora do que em duas horas de trabalho fácil; como pode haver mais

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trabalho em uma hora de aplicação a uma ocupação que custa dez
anos de trabalho para aprender, do que em um trabalho de um mês em
uma ocupação comum e de fácil aprendizado. Ora, não é fácil en-
contrar um critério exato para medir a dificuldade ou o engenho
exigidos por um determinado trabalho. Efetivamente, ao permutar
entre si pro- dutos diferentes de tipos diferentes de trabalho, costuma-
se considerar uma certa margem para os dois fatores. Essa, porém, é
ajustada não por medição exata, mas pela pechincha ou regateio do
mercado, de acordo com aquele tipo de igualdade aproximativa que,
embora não exata, é suficiente para a vida diária normal (SMITH,
1988, p. 88).

Para os indivíduos é mais comum compreender o significado do valor pela


quantidade da mercadoria, do que a quantidade de trabalho. Uma consiste em algo
simples e palpável, e a outra em uma noção abstrata, não muito conveniente e natural
para compreensão dos indivíduos sobre o conceito de valor.
Quando não é possível realizar a troca da mercadoria A pela mercadoria B,
é preciso aplicar a noção de compra e venda pelo dinheiro, como instrumento comum
do comércio, cada mercadoria é mais frequente trocada por dinheiro do que por
qualquer outra mercadoria.

Raramente o açougueiro leva suas carnes de boi ou de carneiro ao


padeiro ou ao cervejeiro, para trocá-las por pão ou por cerveja; o que
faz é levar as carnes ao mercado, onde as troca por dinheiro, e depois
troca esse dinheiro por pão ou cerveja. A quantidade de dinheiro que
recebe pelas carnes determina também a quantidade de pão e de
cerveja que poderá comprar depois. É, pois, mais natural e mais óbvio,
para ele, estimar o valor das carnes pela quantidade de dinheiro — a
mercadoria pela qual as troca direta e imediatamente — do que pela
quantidade de pão e cerveja — as mercadorias pelas quais ele pode
trocar as carnes somente por meio de uma outra mercadoria (o
dinheiro); para ele, é mais fácil e mais óbvio dizer que suas carnes
valem 3 pence ou 4 pence por libra-peso, do que dizer que valem 3 ou
4 libras-peso de pão ou 3 ou 4 quarters de cerveja. Ocorre, portanto,
que o valor de troca das mercadorias é mais freqüentemente
estimulado pela quantidade de dinheiro do que pela quantidade de
trabalho ou pela quantidade de alguma outra mercadoria que se pode
adquirir em troca da referida mercadoria (SMITH, 1988, p. 89).

O ouro e a prata possuem cotação do seu valor determinado pela quantidade de


circulação dessas matérias-primas no mercado e a demanda por eles. No caso do
trabalho o seu valor jamais varia, é o único padrão genuíno e real que pode servir em
todos os tempos e lugares para avaliar e comparar o valor de todas as mercadorias. O
trabalho é igual ao preço real, enquanto que o dinheiro é o valor preço nominal.

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O trabalho, assim como as mercadorias, possui um preço real e um preço
nominal. Para Smith o preço real consiste na quantidade de coisas necessárias a vida e
ao conforto dada em troca dele, e o seu preço nominal, na quantidade de dinheiro. O
trabalhador é rico ou pobre em decorrência ao preço real e não ao preço nominal do seu
trabalho.
A distinção entre o preço real e o preço nominal na prática podem serem
conceitualizados como: o preço real exprime sempre o mesmo valor; mas, por conta
das VARIAÇÕES NO VALOR DO OURO E DA PRATA, o mesmo preço nominal
exprime, às vezes, valores muito diferentes.
Portanto, Smith afirma que o trabalho é a única medida universal, que consegue
captar o valor, ou seja, o único padrão que nos permite comparar os valores de
diferentes mercadorias em todos os tempos e em todos os lugares. A estimativa é feita a
partir da quantidade de trabalho que podemos estimar com maior precisão.
Capítulo 6 – Das partes componentes do preço das mercadorias
Em um determinado momento da história o produto do trabalho pertence
inteiramente ao trabalhador (pré-capitalismo) e a quantidade de trabalho empregado
para produzir ou adquirir qualquer mercadoria é a única circunstância que pode regular
a quantidade de trabalho que tal mercadoria poderia comprar, adquirir ou obter em
troca.
Há outra perspectiva, em que começa a acumular o capital nas mãos de
determinados indivíduos. Nesse caso são empregados trabalhadores, com salários a
preço de subsistência, e que fornecerão matérias primas e subsistência, para
obterem lucro com a venda de seu trabalho.
O valor que os trabalhadores adicionam as matérias primas dividi-se em
duas partes, uma das quais paga 1. os seus salários e 2. a outra os lucros de seu
empregador sobre a soma das matérias primas e salários por ele adiantados. O emprego
da mão de obra é consequência da busca pelo lucro do empregador.
O valor real do preço é medido pela quantidade de trabalho que cada um
pode comprar ou adquirir. O trabalho mede o valor. Porém, não apenas dessa parte do
preço que se resolve em trabalho, mas também em renda e em lucros.
O preço do trigo (P.t.) é gerado por:
1. A renda do proprietário da terra (Rt);
2. Paga aos salários ou manutenção dos trabalhadores, como dos animais de
trabalho empregados na produção (T);

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3. Lucro do arrendatário (L).
P .t .=R . t .+T + L

No preço do trigo, por exemplo, uma parte paga a renda devida ao


dono da terra, uma outra paga os salários ou manutenção dos tra-
balhadores e do gado empregado na produção do trigo, e a terceira
paga o lucro do responsável pela exploração da terra. Essas três partes
perfazem, diretamente ou em última análise, o preço total do trigo.
Poder-se-ia talvez pensar que é necessária uma quarta parte, para
substituir o capital do responsável direto pela exploração da terra, ou
para compensar o desgaste do gado empregado no cultivo e o desgaste
de outros equipamentos agrícolas. Todavia, deve-se considerar que o
próprio preço e qualquer equipamento ou instrumento agrícola, como
por exemplo de um cavalo utilizado no trabalho, se compõe também
ele dos mesmos três itens enumerados: a renda da terra na qual o
cavalo é criado, o trabalho despendido em criá-lo e cuidar dele, e
os lucros do responsável pela exploração da terra, que adianta
tanto a renda da terra como os salários do trabalho. Eis por que,
embora o preço do trigo possa pagar o preço e a manutenção do
cavalo, o preço total continua a desdobrar-se, diretamente ou em
última análise, nos três componentes: renda da terra, trabalho e lucros
(SMITH, 1988, p. 103-104).

Portanto, assim como o valor da mercadoria é resultado dessas 3 variantes,


também o preço de todas as mercadorias compõe todo o produto anual do trabalho de
cada país. A produção oriunda de cada habitante do país é a somatória salário do
trabalho, como lucros de seu capital ou como renda de suas terras. A totalidade do que é
anualmente arrecadado ou produzido pelo trabalho de toda a sociedade, o rendimento é
gerado a partir do valor gasto pelo empresário no salário dos trabalhadores, lucros e
renda da terra.

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