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A teoria clássica da produção

A identificação dos autores centrais de determinado domínio do conhecimento é importante para


nortear as discussões teóricas de suas linhas de pensamento e teses defendidas. Não é diferente nos
estudos econômicos – e, embora não haja exatamente uma unanimidade no meio acadêmico entre
os nomes que devem figurar no panteão dos economistas, ao menos três deles são de indiscutível
recorrência no tocante a examinar o tema da produção pela lente econômica: Adam Smith, David
Ricardo e Karl Marx.
Tais autores oferecem importantes contribuições para o construto econômico dos sistemas de
produção e temas associados (livre mercado, concorrência etc.) e são, de fato, objetos de estudo
até os dias atuais, em meio aos embates científicos que promovem ora sua confirmação, ora sua
refutação, pelos mais variados argumentos e teses derivadas.
ADAM SMITH (1723-1790)

Com a publicação em 1776 do seu clássicoThe Wealth of Nations (no Brasil, a obra ganhou o título
traduzido A Riqueza das Nações), o britânico Adam Smith inovava ao argumentar que a visão do
excedente diz respeito à produção em geral, e não apenas à produção agrícola, como costumava
ser sustentado pelos teóricos até então.
Smith ainda concebeu o lucro como um segundo componente do excedente, juntamente com o
aluguel da terra. Então, em condições de livre concorrência, supunha-se obter uma taxa de lucro
tendendo à igualdade em todos os setores. É essa perspectiva que definiu o quadro no qual a teoria
clássica de valor e distribuição foi elaborada.
A tentativa de entender o que são as forças fundamentais que governam a “sociedade comercial”
está bem delineada na distinção de Smith entre preço de mercado e preço natural. O entendimento
é de que o preço real pelo qual qualquer mercadoria é comumente vendida é chamado preço de
mercado, que pode estar acima, abaixo ou até mesmo corresponder exatamente ao preço natural.
O preço de mercado de qualquer mercadoria é regulado pela proporção entre a quantidade que é
ofertada no mercado, por um lado, e a demanda daqueles que estão dispostos a pagar o preço
natural da mercadoria ou o valor total do aluguel, mão de obra e lucro, que devem ser pagos
sustentar a oferta.
Para Smith, quando o preço de qualquer mercadoria não é nem mais nem menos do que o
suficiente para pagar o aluguel das instalações, o salário do trabalho contratado e os lucros das
ações empregadas na empreitada, a mercadoria é vendida pelo que pode ser chamado de preço
natural.
Evidentemente, o preço natural também precisa pagar as matérias-primas consumidas e a
amortização do capital fixo. No entanto, com o argumento de que os preços dos meios de produção
também são compostos de salários, lucros e aluguel, mais o capital utilizado, Smith conclui que o
preço de cada mercadoria, em última análise, define-se em uma ou outra, ou todas essas três
partes.
Esse viés de análise enseja, naturalmente, algumas considerações. Primeiramente, o preço de
mercado não é uma variável teórica: não sendo puramente empírica, ela envolve algum grau de
abstração. Smith não acreditava que os preços de mercado devessem ou pudessem ser objeto de
análises econômicas sistemáticas. Por estarem sujeitos ao impacto de uma multiplicidade de
fatores acidentais que interferem nas forças fundamentais do trabalho, os preços de mercado, por
sua própria natureza, resistem a uma explicação generalizante. Ainda, registre-se que o conceito de
Smith de “demanda eficaz” se refere a um único ponto definido na dimensão preço-quantidade, e
não a uma agenda de demanda, como tratado por correntes teóricas posteriores.
Algo que é considerado uma novidade é a abordagem do lucro, com seu papel na racionalização
dos preços relativos. Em abordagens teóricas anteriores, lucro era algo mais restrito ao rendimento
empresarial – sobretudo, o salário dos administradores do negócio. Mas Smith alertava que,
enquanto o lugar-comum do entendimento econômico instaurado até então era tomar lucro apenas
como a diferença entre salários de pessoas de chão de fábrica e de direção, ele teria uma definição
muito mais complexa, regulado por princípios bastante diferentes, sem proporção à quantidade,
dificuldades ou engenhosidade dos cargos funcionais em questão. O lucro seria totalmente
regulado pelo valor das ações empregadas pelo pessoal envolvido, sendo maior ou menor
proporcionalmente à extensão dessas ações.
A obra é valorizada pela tentativa de compreender toda a dinâmica e adaptação das forças de
produção, sobretudo em seu impacto junto às mais diversas classes sociais. Foi interesse de
investigação de Smith a compreensão das razões pelas quais, em sua época, a produtividade era
percebida como significativamente maior do que em séculos anteriores. Ele faz sua proposição
relacionando este cenário diretamente com a questão da divisão do trabalho. Para ele, é
inequívoco que um único trabalhador produzindo qualquer bem tem desempenho bastante inferior
ao da alternativa de composição de trabalho especializado, ou seja, dividido entre mais pessoas.
Se uma única pessoa, por exemplo, produz uma bolsa em quatro dias, o arranjo de mais pessoas –
cada uma delas responsável pela produção de um único estágio de produção, como corte, colagem,
acabamento etc – conseguiria resultar na entrega de muito mais bolsas em bem menos tempo.
Do ponto de vista de planejamento de sistemas de produção, a novidade foi bastante significativa
ao finalmente apontar, então, a relação causal entre produtividade fabril e grau de especialização
das funções da força de trabalho. Não foi meramente um ensaio teórico, mas bastante empírico,
uma vez que, naquela época, diversos empresários começaram a adotar a disposição defendida por
Smith em suas linhas de produção e, com isso, conseguiram de fato dispor de mais produtos
realizados em menor prazo – consequentemente, a produção de riqueza se tornava, de fato, maior.
Isso foi suficiente para que Smith propusesse clara distinção entre sociedades que adotaram ou não
a divisão do trabalho naqueles termos: essa passaria a ser a divisão entre sociedades
desenvolvidas e sociedades rudimentares.
Alguns fatores influenciam bastante o efeito proporcionado pela divisão do trabalho especializado,
a começar pelo aspecto do tamanho do mercado. Quanto maior a população de determinada
região, maior é o grau de especialização do trabalhador.

Como ninguém produz bens inteiros, mas apenas suas partes, é imperativo que haja um sistema de
trocas para que todas as pessoas possam, dessa forma, sobreviver (negociando seus próprios
excedentes de produção, que lhe são inúteis para particular consumo, pelo excedente de produção
de outros – desnecessários para esses terceiros, ao mesmo tempo em que são estritamente vitais
para si). Nesse sentido, é indispensável um equilíbrio entre o poder de troca e a quantidade de
riqueza – ou valor – que é produzido (equilíbrio este que envolve, entre outros, a ampla aceitação
social).
Tal poder de troca pode ser traduzido na forma de moeda: dinheiro é, pois, o articulador
necessário para viabilizar trocas entre diferentes produtores e trabalhadores assalariados. Afinal, é
muito mais fácil e prático a permuta de dinheiro por produtos do que trocar produtos por produtos
(escambo). E é com essa visão que Smith propõe a decomposição dos componentes formadores dos
preços na forma de salário dos trabalhadores contratados, o lucro do empreendedor e custos fixos,
tais como o aluguel de instalações.
Ele também é o precursor da definição de capital, uma vez que o conceito até a época feudal ainda
não havia sido tema de discussão central. Por definição, capital é o recurso que apresenta a
capacidade de proporcionar rendimento. Nesses termos, propõem-se três tipos: capital imediato,
capital circulante e capital fixo, com respectivas características descritas no Quadro 1.

Quadro 1. Tipos de capital.

O acúmulo de capital é o terceiro e o determinante fator para aumentar a riqueza das nações:
conforme exposto anteriormente, o primeiro fator é a divisão do trabalho e o segundo é o tamanho
do mercado. O argumento é de que o acúmulo possibilita a pessoas reinvestirem o capital, com
consequente aumento de produtividade e da riqueza da sociedade como um todo, em um ciclo
virtuoso.
A despeito de suas contribuições teóricas acerca da função do trabalho, do mecanismo das trocas,
da produção do lucro e do estabelecimento das relações sociais subjacentes a tudo isso, é certo que
Adam Smith ficou notoriamente conhecido nos meios acadêmico e econômico pela linha de
pensamento denominada liberalismo econômico, sendo praticamente sinônimo dela.
Ocorre que, com o término do período histórico correspondente à Idade Média, eclodem os assim
chamados Estados Nacionais, muito bem caracterizados por monarquias absolutistas e o
mercantilismo. Smith reflete que, apesar das diferentes estruturas políticas e econômicas surgidas,
a mentalidade da sociedade não consegue acompanhar o mesmo grau de mudança. A visão de que
a riqueza de uma nação era medida pela quantidade de ouro e prata que se consegue acumular era
bastante presente, inclusive no Império Romano. A partir da época dos grandes descobrimentos, a
vigorosa exploração de jazidas de minerais preciosos nas Américas passou a ser propelida com
essa motivação. Disto decorre a instituição do mercantilismo, com efeito de protecionismo
alfandegário: as tarifas sobre produtos importados eram majoradas visando desestimular a saída
de ouro e prata das nações. Todavia, observa-se que a mentalidade mercantil conflitava com
interesses de uma das partes mais enaltecidas por Smith com o liberalismo econômico: o
consumidor. O liberalismo é, por certo, merecedor da fama que lhe é atribuída de vanguardismo na
imputação de algum sentido para que as pessoas produzam na sociedade mediante o mecanismo
das trocas voluntárias e da onipresente “mão invisível” do mercado.
CITANDO
“Não é da benevolência do açougueiro, do fabricante de cerveja ou do padeiro que esperamos
nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse” (SMITH, 2010, p. 330).
Tal visão exprime, na teoria liberal, a explicação de que quando os indivíduos agem em função de
seus interesses pessoais (egoístas), eles são conduzidos por uma “mão invisível” do mercado: a
articulação das leis de oferta e demanda produziria, consequentemente, o bem-estar social.
A crítica liberal não se limita ao protecionismo, mas igualmente se opõe a qualquer iniciativa de
intervenção estatal que vise modificar as leis de mercado. De fato, Smith se notabilizou por ser um
ferrenho crítico das leis que interferiam no livre comércio. Seu entendimento é que tais
intervenções do poder público acabam por distorcer as leis de oferta e demanda com inevitável
desestímulo à produtividade e aumento irracional de custos.
Na cosmovisão liberal, esvaziado de outras funções que não lhe competem, o Estado ainda tem
atribuições essenciais e indispensáveis: a promoção da educação, a segurança pública e a justiça.
O entendimento de Smith é que a divisão do trabalho poderia eventualmente induzir à alienação, o
que é nocivo à saúde das pessoas. Essa seria, precisamente, a oportunidade do Estado se ocupar
de iniciativas que previnam o prejuízo social – bem como da responsabilidade pela defesa
nacional, coibindo a invasão de outras nações independentes, e da justiça, com seu objetivo de
garantia da propriedade privada e do cumprimento dos contratos. Estes são, aliás, aspectos
fundamentais para produzir a percepção de confiança na sociedade e do estímulo ao livre
comércio.
Em suma, Smith tem uma importância histórica indiscutível nas ciências econômicas. Afinal, pela
consolidação de suas ideias, se deu forma a uma explicação estrutural para tudo o que começou a
se manifestar no quadro social após o final da Idade Média. Há de se reconhecer que, na sociedade
feudal, não se ponderava acerca de divisão do trabalho como meio de aumentar a riqueza: juros
eram tidos como “pecado de usura”, a economia era movimentada pela tradição ou pela
imposição de governos – características completamente adversas ao posicionamento defendido por
Smith.
EXPLICANDO
A usura é entendida como a prática de cobrar uma remuneração abusiva pelo uso de capital. Isso
implica em um empréstimo pecuniário poder ser distorcido por juros excessivamente altos,
lesando, assim, o devedor. Além de ser uma prática que causa repulsa social, é ainda tipificada
como conduta criminosa em diversos ordenamentos jurídicos, inclusive no âmbito do Brasil.
Na ciência, nenhuma teoria é acabada em si – e isso não é diferente com as ciências econômicas. O
fato é que a teoria de Adam Smith serviu de substrato para desenvolvimentos subsequentes, a
exemplo do trabalho de economistas como David Ricardo, conhecido por aprofundar o
entendimento do liberalismo mediante a teoria do valor-trabalho e da vantagem comparativa. Na
sequência, Karl Marx viria a fazer oposição frontal, com base em suas propostas de socialismo
científico e comunismo.
Com efeito, é bastante comum que as linhas de pensamento econômico até hoje sejam comparadas
ao grau de adesão que possuem à visão de Smith. É o caso, entre inúmeros outros exemplos, de
Keynes, com sua leitura econômica da macroeconomia caminhando em sentido oposto à visão de
liberdade de Smith, por defender a figura de um Estado forte e desenvolvimentista, e de
Schumpeter, que, para além de suas críticas ao sistema concebido por Smith, se notabilizou pela
inserção variável da tecnologia no sistema de mercado. Reconhece-se que, talvez em função dos
ciclos tão típicos da história humana, a sociedade que Adam Smith preconizou e que de fato se
desenvolvia de forma vigorosa e produtiva em função da liberdade econômica e da propriedade
privada viria a sofrer um forte revés durante o século XX, época em que se observava uma maior
proliferação de governos de atuação mais intervencionista.
Ocorre que o liberalismo sempre é pauta para animar debates econômicos, não sendo diferente no
Brasil: é recorrente e permanente a discussão acerca de privatizações, do grau de intervenção do
estado na economia e da abrangência dos impostos. Às vezes, tratam-se de embates profundos e
sustentados por abordagens científicas consistentes, mas, em outras vezes, trata-se de um confronto
ideológico mais raso, de contexto eleitoreiro.
Em suma, em meio a apoiadores e detratores, a obra de Adam Smith é de importância inconteste
para a Eeonomia, com sua proposta assumidamente em defesa da liberdade e do livre comércio
operados por um sistema econômico que tem no livre mercado sua engrenagem principal.
Historicamente, sua contribuição teórica foi crucial para desestabilizar os antigos paradigmas,
abrindo espaço para o desenvolvimento das nações.
ASSISTA
Neste documentário do Canal Futura, o economista Samy Dana entrevista o também economista
Leonardo Lima, que explica como é possível reduzir a pobreza e a desigualdade no quadro social
das nações com os meios do próprio capitalismo.
DAVID RICARDO (1772-1823)

Embora Smith tivesse um entendimento claro da tendência da uniformidade da taxa de lucro em


condições competitivas, ele não conseguiu oferecer uma solução consistente e lógica para o
problema da determinação do nível da taxa de lucro. É esse, precisamente, o tema dos estudos
econômicos principais do economista britânico David Ricardo.
Em termos de método econômico, Ricardo expressa plena concordância com Adam Smith. Na sua
obra, encontram-se elogios pela habilidade acerca da proposição de preços naturais versus os de
mercado. Ele se sustenta de forma lúcida em Smith, diferenciando-se, no entanto, em função da
maior ênfase dada às decisões dos proprietários de capital aplicado com fins lucrativos em geral e
dos membros da assim chamada “classe monetária”,
ou seja, capitalistas financeiros, em particular.
Ricardo pondera que, embora todo homem seja livre para empregar seu capital quando e como
quiser, naturalmente ele procurará aplicá-lo de forma mais vantajosa. Diante da possibilidade, por
exemplo, de auferir 15% de lucratividade, conseguir 10% vai naturalmente descontentá-lo. Essa
inquietude por parte de todos os investidores (empreendedores ou não) quanto ao abandono de um
negócio menos vantajoso em detrimento de outro mais vantajoso, tem em si a forte tendência de
igualar a taxa de lucros de todos, ou fixá-los proporcionalmente, como na estimativa de
compensação de qualquer vantagem que uma parte possa ter, ou possa parecer ter sobre a outra.
Ricardo acrescenta que talvez seja muito difícil traçar os passos pelos quais essa mudança é
realizada. De todo modo, o que se pode afirmar é que o processo de ajuste não exige que os
capitalistas mudem radicalmente seus negócios: mudanças mais brandas servem ao intento. E é
exatamente nesse contexto que ele enaltece o papel dos empresários e dos banqueiros. Essas partes
detêm um capital circulante – ou seja, fundos líquidos – de grande quantia. A tese é de que não há
empreendedor, por mais rico que seja, que limite seus negócios na medida em que seus próprios
recursos permitem: sempre se parte desse capital flutuante, aumentando ou diminuindo seu
emprego de acordo com o nível de demanda de suas mercadorias. Por causa desse capital
flutuante, as variações da lucratividade são reduzidas mais efetivamente. No geral, o princípio de
que se distribui capital a cada operação na quantidade exata necessária é mais próximo da
verdade do que geralmente se supõe.
Em síntese, é a ambição que todo capitalista tem de desfavorecer a destinação de seus recursos de
uma opção menos lucrativa frente a outra mais lucrativa o que impede que o preço de mercado das
mercadorias perdure algum tempo em patamar muito acima ou muito abaixo do preço natural. É
justamente essa competição que ajusta o valor permutável das mercadorias: assim, depois de se
pagar os salários pelo trabalho necessário à produção e assumir todas as outras despesas
necessárias para colocar o capital empregado em seu estado original de eficiência, o valor restante
ou excesso produzido pelo negócio se torna proporcional ao valor do capital empregado.
Na premissa de que tal argumentação seja válida, e ainda na premissa adicional de que uma
análise geral dos preços de mercado seja praticamente impossível de ser feita, parece
perfeitamente sensato deixar de lado os “efeitos temporários” produzidos por casualidades e
concentrar-se nas leis que regem os preços naturais, os salários naturais e os lucros naturais –
efeitos em absolutos independentes das causas acidentais.

Ricardo criticava a explicação de Smith sobre os níveis normais de preços e as variáveis


distributivas. Como na visão dele o problema da distribuição de renda é a questão principal da
política econômica, sua maior preocupação foi tentar elaborar uma teoria coerente quanto à taxa
de lucro, com base no conceito de superávit. Afinal, os lucros provêm do excedente de produção.
Nestes termos, o desenvolvimento da linha de pensamento de Ricardo sobre o tema pode ser
dividido em quatro etapas. Essas etapas refletem as tentativas consecutivas de Ricardo de
simplificar o problema de distribuição.
O primeiro passo consistiu em eliminar o problema do aluguel da terra em termos da teoria do
aluguel. Isso permitiu que ele concentrasse a atenção nas terras marginais, ou seja, sem aluguel.
Ao livrar-se da variável do aluguel, o que se pode fazer com a mercadoria produzida com o último
capital empregado e com todas as demais mercadorias produzidas pelo trabalho de manufatura, a
questão da distribuição entre capitalista e trabalhador torna-se algo muito mais simples. A teoria
do aluguel também serviu de base para uma primeira crítica ao que Ricardo chamou de erro
original em relação ao valor de Smith, ou seja, a doutrina deste último de que o preço natural em si
varia com a taxa natural de cada uma de suas partes componentes, de salário, lucro e aluguel.
Como ele enfatizou em seus estudos, o preço do produto não é alto porque o aluguel é pago, mas o
aluguel é pago porque o produto é caro.
O segundo passo consistia em tentar se livrar do problema do valor assumindo o “modelo do
milho”: com o grão de milho como o único bem de capital e os salários pagos em termos de milho,
a taxa de lucro obtida na produção pode ser apurada diretamente como uma relação entre as
quantidades de milho – nesse caso, a do produto excedente e o capital do milho empregado – sem a
necessidade de recorrer aos preços. Com o alimento entrando na hipotética produção de todas as
outras mercadorias (na forma de único salário possível e possivelmente também como insumo), os
preços dessas mercadorias teriam que se ajustar de modo que a mesma taxa competitiva de retorno
pudesse ser obtida em sua produção.
No entanto, Ricardo teve que aceitar a objeção de Malthus de que não existe um setor em que a
composição do produto seja exatamente igual à do capital avançado. É neste aspecto que as
teorias da distribuição baseadas no conceito de superávit social são confrontadas com o problema
do valor.

EXPLICANDO
Thomas Robert Malthus é considerado o pai da demografia em função da sua teoria para o
controle do aumento populacional, conhecida como malthusianismo. Muitas vezes creditado como
“cientista econômico da desesperança”, para Malthus, a diferença entre as classes sociais é, em
última análise, inevitável, de tal forma que a pobreza e o sofrimento seriam o destino para a
grande maioria das pessoas.
Afinal, em termos físicos, a taxa geral de lucro é a razão entre o excedente social e o capital social.
Contudo, como os dois agregados de mercadorias heterogêneas geralmente diferem na
composição, eles não podem ser comparados a menos que sejam expressos como magnitudes de
valor. Portanto, em uma terceira etapa, Ricardo apresentou uma teoria do valor segundo a qual os
valores de troca das mercadorias são regulados pelas quantidades de trabalho necessárias direta e
indiretamente em sua produção. O produto excedente e o capital social, isto é, as duas magnitudes
cuja razão fornece a taxa geral de lucro, poderiam, assim, ser mensuradas em termos de trabalho
incorporado. Por isso, a proposta passou a ser conhecida como teoria do valor do trabalho,
introduzida precisamente para superar a dificuldade analítica encontrada na tentativa de explicar
os lucros em termos do produto excedente deixado depois de considerar o custo de produção,
incluindo os salários dos trabalhadores produtivos.
A suposição de que as mercadorias são trocadas de acordo com as quantidades de trabalho nelas
incorporadas permitiu a Ricardo dissipar a ideia, sugerida pela noção de preço de Adam Smith
como uma soma de salários e lucros (e aluguel), de que a taxa salarial e a taxa de lucro podem ser
determinadas independentemente uma da outra. As mudanças vinculativas das restrições nas duas
variáveis distributivas, ou, mais exatamente, a quantidade de trabalho incorporada no agregado de
bens salariais, ou consumo necessário e a taxa de lucro, se fundamentam na visão de que os lucros,
que não podem ser repetidos com muita frequência, dependem dos salários – não dos salários
nominais, mas reais. Igualmente, na tese de que quanto maior a parte do resultado do trabalho que
é dada ao trabalhador, menor deve ser a taxa de lucros e vice-versa. Portanto, na visão de Ricardo,
Smith havia abandonado prematuramente a regra do valor da quantidade de trabalho, como se,
quando os lucros e o aluguel fossem pagos, existisse alguma influência sobre o valor relativo das
mercadorias, independentemente da mera quantidade de trabalho necessária à sua produção.

No entanto, Ricardo logo perceberia que o princípio de que a quantidade de trabalho concedido à
produção de mercadorias regula seu valor trocável não pode ser sustentado como uma regra geral
de valor: afinal, ele é consideravelmente modificado pelo emprego de máquinas e outros
equipamentos fixos e duráveis. Ocorre que, com diferentes proporções de mão de obra direta e
meios de produção em diferentes indústrias (e com diferentes durabilidades desses meios de
produção), os preços relativos dependeriam não apenas da quantidade de trabalho total
incorporado nas várias mercadorias, mas também do nível da taxa de lucro, mudando de acordo
com esse nível. Isso ocorre porque, com juros compostos, o peso do componente de lucro nos
preços depende da taxa de lucro. A taxa e as variações contrárias associadas na taxa de lucro
podem ser consideradas como a etapa final dos esforços do economista para simplificar a teoria
da distribuição. A medida de valor que Ricardo procurava pretendia corroborar sua convicção de
que as leis da distribuição não estão essencialmente ligadas à doutrina do valor.
A constatação de que os preços relativos dependem da distribuição do produto entre salários e
lucros poderia ser considerada como uma confirmação da doutrina de valor de Smith. No
entanto, Adam Smith sustentava que um aumento no preço da mão de obra seria uniformemente
seguido por um aumento no preço de todas as mercadorias. Isso não foi sustentado. Como parte
da crítica à doutrina de valor de Smith, Ricardo pensava ter conseguido demonstrar que apenas
as mercadorias que subiam de preço têm menos capital fixo empregado.
Em suma, embora devidamente ciente de que o princípio da quantidade de trabalho incorporado
não pode servir como uma regra de valor, Ricardo a considerava a aproximação mais próxima da
verdade – e, por isso mesmo, a entendia como suficiente justificativa para desenvolver sua análise
em seus termos.

KARL MARX (1818-1883)

O alemão Karl Marx elogiou Ricardo por ter elaborado a teoria do valor do trabalho, que em sua
opinião, era o instrumento mais poderoso da política econômica, embora o tenha acusado de não
ter percebido que os desvios de preços em relação aos valores trabalhistas não exigiam
modificações da lei do valor, mas que podiam ser explicados com base nessa mesma lei.
O relato do processo competitivo apresentado por Marx parece ser amplamente consistente com o
de Smith e Ricardo. Marx explica que o capital se retira de uma esfera com uma baixa taxa de
lucro e invade outras, que produzem um lucro maior. Por meio desta incessante distribuição entre
as várias esferas, cria-se uma proporção de oferta e demanda que resulta no lucro médio nas
várias esferas de produção.
Marx enfatiza ainda que, esse movimento de capitais é causado principalmente pelo nível de preços
de mercado, que elevam os lucros acima da média geral em um lugar e os deprimem abaixo em
outro. Ele ressalta que várias circunstâncias podem impedir a mobilidade do capital e do trabalho
e, assim, diminuir a velocidade da equalização das taxas de lucro.
Sua visão é de que assim que a produção capitalista atinge certo nível de desenvolvimento, a
equalização das diferentes taxas de lucro nas esferas individuais com a taxa geral não procede
mais apenas pelo jogo de atração e repulsa, pelo qual os preços de mercado atraem ou repelem o
capital. Depois que os preços médios e seus correspondentes preços de mercado se tornam
estáveis por um tempo, fica claro aos capitalistas individuais que essa equalização equilibra
diferenças definidas, de modo que podem ser incluídas em seus cálculos mútuos.
Ele conclui que o lucro médio é a concepção básica – a concepção de que capitais de igual
magnitude devem produzir lucros iguais em períodos de tempo iguais. Isso, novamente, baseia-se
na ideia de que todo capital individual deve ser considerado meramente uma parte do total. Marx
chama o preço, incluindo a margem de lucro, de “preço de produção”. Assinala, ainda, que o que
realmente Adam Smith chama de preço natural, Ricardo chama de preço de produção ou custo de
produção, e os fisiocratas chamam de preço necessário, porque, em longo prazo, é um pré-
requisito de suprimento, de continuidade de produção de mercadorias em todas as esferas
individuais.

CURIOSIDADE
Fisiocracia, que do original em grego se traduz por “governo da natureza”, é uma teoria
econômica desenvolvida por um grupo de estudiosos franceses do século XVIII que defendiam que
a riqueza das nações era derivada unicamente do valor de “terras agrícolas” ou do
“desenvolvimento da terra”, de tal forma que os produtos agrícolas deveriam ter preços elevados –
dado o enorme valor da atividade. Foi uma linha de pensamento que ecoou mais fortemente na
segunda metade do século XVIII; para muitos, esta talvez seja a primeira teoria bem desenvolvida
no campo econômico.
Na visão de Marx, a teoria do valor do trabalho é indispensável porque, supostamente, permitiria
determinar a taxa de lucro independentemente dos preços relativos. Em um segundo momento, essa
taxa de lucro pode então ser usada para calcular preços, começando pelos custos setoriais de
produção ou “preços de custo” medidos. Um primeiro e óbvio erro diz respeito ao fato de que, em
suas equações, os capitais constantes e variáveis devem ser expressos em termos de preços, não de
valor.
Marx parecia ciente dessa falha em seu argumento, mas pensou que poderia ser remediado. No
entanto, ao tentar executar as correções necessárias, fica claro que não se pode presumir que a
transformação de valores em preços de produção seja relevante apenas em relação a mercadorias
únicas, enquanto é irrelevante em relação a agregados de mercadorias, como o excedente de
produção ou capital social, cuja razão fornece a taxa de lucro. Em outras palavras: geralmente,
não se pode excluir que a suposta redistribuição da mais-valia envolva um desvio do preço do
produto excedente e do capital social de suas expressões de valor da mesma maneira que envolve
um desvio dos preços de mercadorias únicas de seus valores. Assim, preços e taxa de lucro devem
ser determinados simultaneamente, não sucessivamente.

Em suma, a teoria da mais-valia é calcada na teoria do valor-trabalho. Mas entender como se


determina o valor de uma mercadoria não é algo trivial. A teoria do valor-trabalho é considerada
ultrapassada pelos economistas modernos. De fato, já nos idos do século XIX, muitos economistas
já tinham se dado conta que não é a quantidade de trabalho embutida em um bem que determina o
seu valor.
Por exemplo, supondo-se que um operário trabalhe oito horas em uma empresa, ele receberá
salário proporcional a essas oito horas de disponibilidade. Ocorre que, esse salário está sempre
situado no nível de subsistência – Marx e grande parte dos economistas daquela época assumiam
que os salários sempre eram posicionados nesse nível. No mesmo exemplo, pode-se supor ainda
que tempo de trabalho necessário para que o funcionário produza o valor equivalente ao custo de
sua subsistência seja de três horas. Nesse caso, o que aconteceria com as cinco horas que sobram?
O valor produzido nesse período é capturado pelo capitalista. Por isso, o conceito da mais-valia é
a materialização do trabalho excedente. Na visão de Marx, a exploração no capitalismo se dá pela
extração de mais-valia.
Das inúmeras críticas que essa linha de pensamento induz, algumas refutações se destacam como
mais facilmente evidentes. Afinal, reconhece-se apenas o trabalho humano como elemento gerador
de valor. A figura do capitalista apenas parasitaria a relação do trabalho, extraindo mais-valia dos
trabalhadores. É um cenário em que o capital, na forma de máquinas, equipamentos, instalações,
entre outros, é assumido como simplesmente incapaz de produzir valor. Logo, para que não exista
exploração, é necessário que todo valor gerado na produção pertença à classe operária.
Heinz Kurz e Neri Salvadori afirmam em sua obra de 1995, Theory of production: a long-period
analysis, que essa é uma concepção claramente enviesada. Afinal, o capitalista, em algum
momento, precisou se esforçar e poupar recursos para reunir condições de empreender. É
indiscutível que todo fruto da riqueza resulte do sacrifício das pessoas. O sacrifício dos operários é
bastante evidente. Contudo, possuir meios de produção exige também sacrifícios por parte dos
capitalistas. Diante deste quadro, trabalhadores e capitalistas têm justificativas morais plausíveis e
semelhantes para seus ganhos.
A elasticidade, função exponencial e os rendimentos da escala de produção
É importante que gestores disponham de ferramentas para tentar entender o comportamento de
indivíduos, seja como consumidores, seja como trabalhadores, sobretudo no que diz respeito ao
impacto de incentivos alternativos nas decisões do dia a dia. Não é algo tão trivial: os seres
humanos usam processos complexos de pensamento para tomar decisões. Essa complexidade é
explicada pelos níveis de volatilidade, ambiguidade e incerteza que caracterizam as informações
que transitam pelo cotidiano das pessoas. Não à toa, o cérebro humano se mostra capaz de
processar tamanha quantidade e qualidade de informação.
A despeito da complexidade inerente aos processos de pensamento humano, o fato é que os
gestores e os economistas precisam de um modelo que explique como os indivíduos se comportam
no mercado e no ambiente de trabalho. Obviamente, as tentativas de modelar a conduta individual
não podem capturar toda a gama de comportamentos do mundo real, mas uma aproximação válida
já ajuda.
Nesses termos, o modelo de comportamento é uma abstração da maneira como os indivíduos
realmente tomam decisões. Ele começa por um modelo simples, que se concentra no essencial em
vez de se dispersar em características comportamentais que pouco fariam para melhorar a
compreensão dos padrões de decisão. Tal modelo é, com efeito, o que fundamenta as ferramentas
analíticas da economia, como a elasticidade dos preços, possíveis efeitos de função exponencial e
rendimentos da escala de produção.

COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
É desafiador entender como os consumidores responderão às escolhas alternativas que os
confrontam. E ocorre ainda que nem sempre quem compra um produto ou serviço é quem o
consome: gestores empresariais se interessam, então, não apenas em quem consome o bem, mas
principalmente em quem o compra. Por exemplo, um bebê de poucos meses de idade consome
mercadorias, mas não é responsável pelas decisões de compra. Nesse caso, para quem trabalha
em uma fábrica de comida para bebês, é o comportamento dos pais que precisa ser compreendido
(muito mais do que o do bebê).
Na caracterização do comportamento do consumidor, há dois fatores importantes a serem
considerados: oportunidades e preferências do consumidor. As oportunidades do consumidor
representam os possíveis bens e serviços que os consumidores podem se dar ao luxo de consumir.
Por sua vez, as preferências do consumidor determinam quais desses produtos serão consumidos.
A distinção é muito importante: embora alguém eventualmente possa pagar (e, portanto, ter a
oportunidade de consumir) um quilo de picanha por semana, suas preferências podem ser tais
que, dificilmente, se escolheria consumir esse alimento nessa proporção.
A despeito dos milhões de produtos e serviços à venda hoje na economia global, uma modelagem
simples começa pela suposição da existência hipotética de apenas dois produtos.
Trata-se de uma suposição feita apenas para simplificar a análise: evidentemente, todas as
conclusões que se tiram desse cenário de dois bens ainda permanecem válidas quando há muitos
bens. Considere, portanto, que X representa a quantidade de um bem e Y a quantidade do outro
bem. Ao usar essa notação para representar os dois produtos, prevalece um modelo geral, no
sentido de que X e Y podem ser quaisquer dois bens.
Suponha-se que um consumidor possa ordenar suas preferências por pacotes ou combinações
alternativas de bens, do melhor para o pior. Denota-se essa ordenação pelo símbolo ≻, resultando
escrever A ≻ B sempre que o consumidor preferir o pacote A ao pacote B. Se o consumidor entende
os dois pacotes como igualmente satisfatórios, diz-se que ele é indiferente aos pacotes A e B,
adotando-se A ~ B como notação abreviada. Em suma, se A ≻ B, ao ser dada uma escolha entre o
pacote A e o pacote B, o consumidor escolherá o pacote A. Por sua vez, se A ~ B, o consumidor,
tendo a opção entre o pacote A e o pacote B, não se importa em receber qualquer um deles. A
ordem das preferências precisa satisfazer quatro propriedades básicas: completude, mais é melhor,
taxa marginal de substituição decrescente e transitividade.
Se o pacote A tiver ao menos o tanto de bens do pacote B acrescido de alguns adicionais, o pacote A
será preferido ante o pacote B.

Se mais é melhor, o consumidor entende que quantidade é qualidade. Graficamente, isso implica
que, à medida que se avança na direção nordeste no Gráfico 1, passa-se a pacotes que o consumidor
entende como melhores do que pacotes na direção sudoeste. Por exemplo, o pacote A é preferido em
relação ao pacote D, porque ele, apesar de deter a mesma quantidade do bem X que o pacote D,
possui mais do bem Y. O pacote C também tem a preferência em relação ao D, porque ele possui
mais dos dois produtos X e Y. Por razões análogas, o pacote B tem a preferência, quando
comparado com o pacote D.

Gráfico 1. Curva da indiferença. Fonte: BAYE; PRINCE, 2016 (Adaptado).


Embora a suposição de que mais é melhor forneça informações importantes sobre as
preferências do consumidor, isto por si só não é fator decisivo na tarefa de determiná-la. Por
exemplo, conforme o Gráfico 1, a propriedade “mais é melhor” não revela se o pacote B tem a
preferência em relação ao A ou vice-versa. Para poder fazer essas comparações, é preciso fazer
algumas suposições adicionais.

A exemplo do ilustrado no Gráfico 1, denomina-se curva de indiferença o gráfico que define as


combinações de bens X e Y que dão ao consumidor o mesmo nível de satisfação; isto significa
afirmar que o consumidor é indiferente entre qualquer combinação de bens ao longo de uma curva
de indiferença. Assim, todas as combinações de X e Y localizadas na curva de indiferença fornecem
ao consumidor o mesmo nível de satisfação. Por exemplo, se fosse perguntado ao consumidor:
“qual você prefere: pacote A, pacote B ou pacote C?”, ele responderia que não importa, porque os
pacotes A, B e C estão todos na mesma curva de indiferença.
O formato da curva de indiferença depende das preferências do consumidor: diferentes perfis de
consumidores geralmente resultam em curvas de indiferença de diferentes formas. Uma maneira
importante de resumir informações sobre as preferências de um consumidor se dá através dos
termos da taxa marginal de substituição, comumente abreviada por TMS ou TMgS.

Essa taxa é o valor absoluto da inclinação de uma curva de indiferença. Assim, a TMS entre dois
bens é a taxa na qual um consumidor está disposto a substituir um bem pelo outro e ainda
manter o mesmo nível de satisfação.
O conceito de TMS é simples. Na Gráfico 1, o consumidor é indiferente entre os pacotes A e B. Ao
passar de A para B, o consumidor ganha uma unidade do bem X. Para permanecer na mesma
curva de indiferença, ele abre mão de duas unidades do bem Y. Assim, ao passar do ponto A para o
ponto B, a TMS entre as mercadorias X e Y é 2.
Um olhar atento mostra que a taxa marginal de substituição associada à mudança de A para B
difere da taxa na qual o consumidor está disposto a substituir entre as duas mercadorias na
mudança de B para C. Em particular, na mudança de B a C, o consumidor ganha uma unidade do
bem X. Mas agora fica disposto a desistir de apenas uma unidade do bem Y para obter a unidade
adicional de X. O motivo é que essa curva de indiferença satisfaz a propriedade de diminuir a
TMS.
Para quaisquer três pacotes, A, B e C, se A ≻ B e B ≻ C, então A ≻ C. Da mesma forma, se A ~ B
e B ~ C, então A ~ C.
A premissa de preferências transitivas, juntamente com a propriedade “mais é melhor”, implica
que as curvas de indiferença não se cruzam. Isso também elimina a possibilidade de o consumidor
ser pego em um ciclo perpétuo em que nunca se faz uma escolha.
As implicações dessas quatro propriedades estão sintetizadas no Gráfico 2, que discrimina três
curvas de indiferença. Cada pacote situado na curva de indiferença III é preferido ante a qualquer
um na curva II, assim como todo pacote presente na curva de indiferença II é tem a preferência em
relação aos pacotes da curva I. As três curvas de indiferença são convexas e não se cruzam. As
curvas mais distantes da origem implicam níveis mais altos de satisfação do que as curvas mais
próximas da origem.

Gráfico 2. Uma família de curvas de indiferença Fonte: BAYE; PRINCE, 2016 (Adaptado).
RESTRIÇÕES

Ao tomar decisões, os indivíduos enfrentam restrições de todas as naturezas: legais, de tempo,


físicas e, invariavelmente, restrições orçamentárias. Por isso, é importante examinar o papel que
os preços e a renda desempenham na restrição do comportamento do consumidor.
Em síntese, a restrição orçamentária limita o comportamento do consumidor, forçando-o a
selecionar um pacote de mercadorias que lhe seja financeiramente acessível. Para demonstrar
como a presença de restrição orçamentária restringe a escolha do consumidor, é necessário
compor a seguinte notação: M representa a renda do consumidor, que pode ser qualquer valor. Ao
se utilizar M em vez de um valor específico de renda, entende-se melhor o fato de que a teoria é
válida para consumidores de qualquer nível de renda. Além disso, PX e PY representam os preços
dos produtos X e Y, respectivamente. Nesses termos, o conjunto de oportunidades (também
chamado de horizonte orçamentário) pode ser expresso matematicamente como:

PXX + PYY ≤ M

Ou seja, a equação do orçamento define as combinações de bens X e Y acessíveis ao consumidor:


os gastos do consumidor com o bem X mais suas despesas com o bem Y não excedem a renda do
consumidor. Observa-se que, se o consumidor gasta toda a sua renda com os dois bens, essa
equação torna-se uma igualdade (“=” no lugar de “≤”). Essa configuração é chamada de linha do
orçamento, que define todas as combinações dos bens X e Y que exaurem por completo a renda do
consumidor.

PXX + PYY = M

Isolando-se Y na equação, tem-se:


Y = (M ÷ PY) – (PX ÷ PY)X

Resulta-se, assim, na verificação de que Y é uma função linear de X, com uma interceptação
vertical de M/PY e uma inclinação de -PX / PY. Com base nessa equação, a restrição orçamentária
do consumidor está ilustrada no Gráfico 3. A área hachurada representa o horizonte de orçamento
ou de oportunidades do consumidor. Em particular, qualquer combinação de mercadorias X e Y
dentro da área hachurada, como no caso do ponto G, representa uma combinação acessível de X e
Y. Qualquer ponto acima da área sombreada, como o ponto H, representa uma composição de
mercadorias inacessível.

Gráfico 3. Horizonte orçamentário Fonte: BAYE; PRINCE, 2016 (Adaptado).


A inclinação da linha do orçamento é dada por -PX/PY e representa a taxa marginal de
substituição entre os bens X e Y. Para melhor compreensão das implicações decorrentes dessa taxa,
o Gráfico 4 exemplifica uma linha de orçamento para um consumidor que tenha R$ 10 em renda
disponível e se depara com o preço de R$ 1 pelo bem X e R$ 2 pelo bem Y. Ao substituir esses
respectivos valores de PX, PY e M na fórmula da linha de orçamento, observa-se que a
interceptação vertical da linha do orçamento (ou seja, a quantidade máxima acessível de bens Y) é
M/PY = 10/2 = 5. A interceptação horizontal é M/PX = 10/1 = 10 e representa a quantidade
máxima de mercadorias do bem X que podem ser compradas. A inclinação da linha do orçamento é
-PX / PY = -(1/2).
Gráfico 4. A linha do orçamento Fonte: BAYE; PRINCE, 2016 (Adaptado).

A inclinação da linha do orçamento representa a taxa de substituição do mercado entre dois bens, e
facilitar essa visualização é a principal contribuição da ferramenta gráfica. Supondo um pacote A
adquirido pelo consumidor no Gráfico 4, que representa a situação em que ele compra três
unidades do bem Y e quatro unidades do bem X: se o consumidor comprasse o pacote B em vez do
pacote A, ele obteria uma unidade adicional do bem Y. Mas, para isso, ele deve abrir mão de duas
unidades (4 - 2 = 2) do bem X. Para cada unidade do bem Y que o consumidor compra, ele deve
desistir de duas unidades do bem X. Assim, a taxa de substituição do mercado é ΔY / ΔX = (4 - 3) /
(2 - 4) = -1/2, que é a inclinação da linha do orçamento.

MUDANÇAS NA RENDA
O horizonte de oportunidades do consumidor depende dos preços de mercado e de sua renda.
Assim, à medida que esses parâmetros mudam, as oportunidades do consumidor também
mudam. Por isso, convém examinar os efeitos no horizonte de oportunidades advindos de
mudanças na receita, assumindo que os preços permaneçam constantes.
Supondo-se que a renda inicial do consumidor no Gráfico 5 seja M0, o que acontece se M0
aumentar para M1 enquanto os preços permanecerem inalterados? Uma vez que a inclinação da
linha do orçamento é dada por -PX/PY, ante a premissa de que os preços permaneçam inalterados,
o aumento da receita não afeta a inclinação da linha do orçamento.

Gráfico 5. Mudanças na renda encolhem ou expandem oportunidades Fonte: BAYE; PRINCE,


2016 (Adaptado).

No entanto, as intercepções verticais e horizontais da linha do orçamento aumentam à medida que


a renda do consumidor aumenta, porque mais de cada bem pode ser comprado com uma renda
mais alta. Assim, quando a renda aumenta de M0 para M1, a linha do orçamento muda para a
direita de maneira paralela. Isso reflete um aumento no horizonte de oportunidades do consumidor,
porque mais bens se tornam acessíveis. Da mesma forma, se a receita diminuir para M2 a partir de
M0, a linha do orçamento se aproximará da origem, com a inclinação da linha do orçamento
permanecendo inalterada.

MUDANÇAS NO PREÇO
Gráfico 6. Mudanças no preço alteram a inclinação da linha de orçamento Fonte: BAYE; PRINCE,
2016 (Adaptado).

EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR

O interesse do consumidor é escolher o pacote de consumo que maximiza sua utilidade ou


satisfação. Não fosse pela escassez, a propriedade “mais é melhor” implicaria que o consumidor
poderia escolher quantidades infinitas de mercadorias. No entanto, uma das implicações da
escassez é a de que o consumidor precise selecionar um pacote incluído no orçamento, ou seja, um
pacote acessível. Combinar a teoria das preferências do consumidor com a análise de restrições
permite visualizar como o consumidor seleciona o melhor pacote acessível.
Por exemplo, considerando um pacote como A no Gráfico 7, a combinação de bens X e Y está na
linha do orçamento, de modo que o custo do pacote A exaure completamente a receita do
consumidor.
Gráfico 7. Equilíbrio do consumidor Fonte: BAYE; PRINCE, 2016 (Adaptado).

Dada a renda e os preços correspondentes à linha do orçamento, o consumidor pode se posicionar


melhor – ou seja, o consumidor pode obter uma curva de indiferença mais elevada. Se o
consumidor optar pelo pacote B em vez do pacote A, a vantagem é maior, pois a curva de
indiferença II, que passa por B, fica acima da curva de indiferença I, que passa por A.
Além disso, o pacote B está na linha do orçamento e, portanto, é acessível. Em suma, não é a
melhor decisão para o consumidor optar pelo pacote A porque o pacote B, além de igualmente
acessível, proporciona-lhe um maior nível de bem-estar.
Contudo, isso não significa que o pacote B seja ideal: ele esgota o orçamento do consumidor, mas
há outro pacote acessível ainda melhor, que é o C. Cabe observar que existem pacotes, como D,
que o consumidor preferiria em relação ao pacote C, mas pacotes nessa região não lhe são
acessíveis. Assim, o pacote C representa a escolha de equilíbrio do consumidor. O termo equilíbrio
se refere ao fato de que o consumidor não tem incentivo para mudar para um pacote acessível
diferente quando esse ponto é alcançado.

Um ponto importante do equilíbrio sobre o consumidor é o fato de que, exatamente no ponto de


equilíbrio, a inclinação da curva de indiferença é igual à inclinação da linha do orçamento. É
importante lembrar que o valor absoluto da inclinação da curva de indiferença é chamado de taxa
marginal de substituição e que a inclinação da linha do orçamento é dada por -PX/PY, resultando
no ponto de equilíbrio do consumidor, TMS = PX/PY.
Se essa condição não se mantiver, a taxa que o consumidor estaria disposto a adotar na
substituição entre os bens X e Y seria diferente da taxa de mercado com a qual se pode substituir
entre esses bens. Por exemplo, no ponto A do Gráfico 7, a inclinação da curva de indiferença é
mais acentuada que a inclinação da linha do orçamento. Isso significa que o consumidor está
disposto a desistir de mais bens Y para obter uma unidade adicional do bem X com base nos preços
de mercado. Consequentemente, é do interesse do consumidor consumir menos do bem Y e mais do
bem X. Essa substituição contínua até que o consumidor esteja em um ponto como C no Gráfico 7,
em que a TMS é igual à razão dos preços de X e Y.
Custo econômico de produção
É fato que diferentes configurações de curvas de indiferença e de horizontes de orçamento
acarretam em diferentes custos de produção, permitindo, desta maneira, o estudo da composição
ideal entre capital e trabalho. Cada uma dessas configurações corresponde a um nível diferente de
produção, de tal modo que o custo efetivo da produção se dá pela função das escolhas dessas
configurações.
Evidentemente, o conhecimento mais apurado (e real) de custos de um sistema produtivo se mostra
altamente valioso, afinal, através dele são fornecidas as informações essenciais que um gestor
precisar dispor para poder determinar um nível de produção que maximize o lucro do
empreendimento. Não obstante, a função de custo resume informações cruciais sobre o processo de
produção. Na prática, esta função reduz a quantidade de informações que o gerente precisa
processar para tomar decisões mais efetivas sobre o sistema produtivo.

CUSTOS DE CURTO PRAZO

Em uma análise econômica, o que precisamente define o termo “curto prazo” é o período que
possui uma duração curta o suficiente para que os valores de algumas entradas sejam, para todos os
efeitos, fixos. Na prática, no curto prazo, o gestor é livre para ajustar o uso de recursos e insumos
variáveis, mas fica sem a mesma ação no que se refere aos níveis existentes de entradas fixas (no
sentido de não haver variação em função do nível de produção).

Enfim, como os insumos são costumeiramente caros, sejam eles fixos ou variáveis, vale frisar que o
custo total (CT) da produção no curto prazo consiste no somatório de custo fixos (CF) e de custos
variáveis (CV). Os CV incluem os custos de insumos que variam com a produção.
Como todos os custos se enquadram em uma categoria ou outra, a soma dos custos fixos e
variáveis é a função de custo de curto prazo da empresa. Na presença de fatores fixos de produção,
a função de custo de curto prazo resume o custo mínimo possível para produzir cada nível de
produção quando fatores variáveis estão sendo usados com vistas à minimização de custos.
O Gráfico 8 ilustra as relações entre CT, CV e CF. Como os CF não mudam com a produção, são
constantes para todos os níveis da mesma, devendo ser pagos mesmo com produção zero. Os CV,
por outro lado, são zero em caso de nenhuma produção, mas expandem à medida que a produção
aumenta acima de zero. Visto que CT é a soma de CV e CF, a distância entre as curvas CT e CV no
Gráfico 8 é simplesmente o nível de CF. Observa-se que as curvas se aproximam à medida que
ficam mais íngremes; no entanto, isso se deve ao fato de que, com uma diferença vertical fixa nas
curvas, a diferença horizontal fica menor à medida que elas ficam mais exponenciais, fazendo com
que pareçam mais próximas dessa dimensão (ou seja, quando os CV começam a se tornar
proporcionalmente muito maiores que os CF).
Observa-se que as curvas se aproximam à medida que ficam mais íngremes; no entanto, isso se
deve ao fato de que, com uma diferença vertical fixa nas curvas, a diferença horizontal fica menor
à medida que elas ficam mais exponenciais, fazendo com que pareçam mais próximos dessa
dimensão (ou seja, quando os CV começam a se tornar proporcionalmente muito maiores que os
CF).

Gráfico 8. A relação entre os custos

CUSTO MÉDIO E CUSTO MARGINAL


Uma suposição equivocada e muito comum sobre custos é a de que as grandes empresas os têm em
patamares mais baixos que as pequenas, pois produzem maiores quantidades de produto. Contudo,
um fato fundamental sobre a escassez é que, para produzir mais, é preciso gastar mais. O que o
senso comum provavelmente considera quando reflete acerca das vantagens de produzir grandes
quantidades de produção é o fato de que o esforço se distribui por um nível maior de produção.
Trata-se da ideia intrinsecamente relacionada ao conceito econômico de custo fixo médio. O custo
fixo médio (CFM) é definido como o patamar de CF dividido pelo número de unidades de
produção (Q):

CFM = CF ÷ Q

Como os CF não variam com a produção, à medida que mais e mais produtos são produzidos, os
CF são alocados por uma quantidade maior de produtos. Como consequência, o CFM diminui à
medida que a produção é expandida.
De forma análoga, o custo variável médio fornece uma medida de custos variáveis por unidade. O
custo variável médio (CVM) é definido como custo variável (CV) dividido por Q:

CVM = CV ÷ Q

Consequentemente, o custo total médio (CTM) se dá pela razão entre o custo total (CT) e Q.

CTM = CT ÷ Q

O conceito de custo mais importante é o custo marginal (ou incremental). Conceitualmente, o


custo marginal (CM) é o custo de produção de uma unidade de produção adicional, ou seja, a
alteração no custo atribuível à última unidade de produção:

CM = ΔC ÷ ΔQ

Quando apenas um insumo de produção é variável, o CM é o preço deste dividido pelo seu produto
marginal. É interessante observar que o produto marginal aumenta em um primeiro momento,
atinge o máximo e depois diminui. Como o CM é o inverso do produto marginal multiplicado pelo
preço do insumo, ele diminui à medida que o produto marginal aumenta, e aumenta quando o
produto marginal está diminuindo.
O Gráfico 9 sintetiza o comportamento dos custos CM, CTM, CFM e CVM. Convém observar que
as formas das curvas indicam a relação entre os custos marginais e os médios. São relações que
revelam importantes informações, a começar pela observação de que a curva de CM cruza as
curvas CTM e CVM em seus pontos mínimos.
Gráfico 9. A relação entre custo médio e custo marginal Fonte: BAYE; PRINCE, 2016 (Adaptado).
Quando o CM está abaixo de uma curva de custo médio, ele está diminuindo e quando o CM está
acima do custo médio, ele aumenta.
Outra informação importante é o fato de que as curvas CTM e CVM se aproximam à medida que a
produção aumenta. Isso ocorre porque a única diferença entre elas é o CFM. Como os patamares
de CFM diminuem à medida que a produção é expandida, essa diferença diminui conforme os
custos fixos são distribuídos por níveis crescentes de produto.
CUSTOS FIXOS E IRRECUPERÁVEIS

Existe uma importante distinção entre custos fixos e os chamados custos irrecuperáveis (ou
“afundados”). Por definição, custo fixo é aquele que não muda quando a saída de produção é
alterada. Um conceito relacionado é o custo irrecuperável, que é aquele que se perde
irreversivelmente após o pagamento.

Para ilustrar, suponha que o gerente de uma empresa de carvão acabou de pagar R$ 10.000 para
alugar um vagão de trem por um mês. Essa despesa reflete um custo fixo para a empresa – incorre
em R$ 10.000 independentemente de se usar o vagão para transportar dez quilogramas ou dez
toneladas de carvão. O quanto desse dinheiro é um custo irrecuperável depende dos termos do
aluguel. Se o contrato não permitir que se recupere parcela alguma, uma vez pagos, os R$ 10.000
por inteiro são um custo irrecuperável – afinal, já incorreu no custo, e não há nada se possa fazer
para alterá-lo. Contudo, se o contrato de locação indicar que se recebe R$ 6.000 de “bônus” no
caso de não se colocar o vagão para trabalhar, apenas R$ 4.000 de R$ 10.000 em custos fixos
serão um custo irrecuperável. Os custos irrecuperáveis são, em última análise, o valor desses
custos fixos que não podem ser recuperados sob nenhuma hipótese.
Mesmo que os custos irrecuperáveis sejam perdidos para sempre depois de pagos, eles não devem
ser considerados irrelevantes para a tomada de decisões, especialmente para formulação de
estratégias mais elaboradas de gestão financeira.
Para ilustrar com mais clareza: continuando no mesmo exemplo, suponha que o gestor, de fato,
pagou uma quantia não reembolsável de R$ 10.000 para alugar um vagão por um mês, mas
imediatamente após a assinatura do contrato ele se dá conta que não precisa dele (eventualmente,
a demanda por carvão pode se mostrar significativamente menor do que o esperado). Um
fazendeiro se aproxima e propõe a sublocação do vagão por R$ 2.000. Se os termos do contrato de
locação permitirem sublocar o vagão, o gestor deveria aceitar a oferta recebida?
Há quem possa pensar que não, afinal, a empresa aparentemente perde R$ 8.000 sublocando um
vagão de R$ 10.000 por míseros R$ 2.000. Contudo, não é um raciocínio consistente. O pagamento
da locação de fato não é reembolsável, o que significa que os R$ 10.000 são um custo inevitável
que já foi perdido. Como não há nada que se possa fazer para eliminar diretamente esse custo de
R$ 10.000, a única questão relevante é se algo pode ser feito para aumentar o fluxo de caixa. Nesse
caso, é evidente que a decisão ideal é sublocar o vagão, pois isso gera R$ 2.000 em receitas que a
empresa não obteria de outra forma. Observe-se que, embora os custos irrecuperáveis sejam
irrelevantes na tomada de sua decisão pela perspectiva do custo de um insumo em si, eles não o
são em termos de equacionamento financeiro como um todo, afetando o cálculo do lucro total.
Afinal, se a empresa não sublocar o vagão, simplesmente perde R$ 10.000; se o sublocar, perde
apenas R$ 8.000.

CUSTOS A LONGO PRAZO


Em uma perspectiva de longo prazo, todos os custos são variáveis, afinal, o gestor é livre para
ajustar os níveis de todos os insumos. Observe, no Gráfico 10, que a curva de custo médio de curto
prazo CTM0 é traçada sob a suposição de que existem alguns fatores fixos de produção. O custo
total médio da produção do nível de produção Q0, dados os fatores fixos de produção, é
CTM0(Q0). No curto prazo, se a empresa aumentar a produção para Q1, não poderá ajustar os
fatores fixos e, portanto, os custos médios subirão para CTM0(Q1). Todavia, no longo prazo, a
empresa pode ajustar os fatores fixos (como, por exemplo, uma nova planta fabril). Considere
CTM1 a curva de custo médio após a empresa ajustar os fatores fixos da maneira ideal. Agora a
empresa pode produzir Q1 com curva de custo médio CTM1. Se a empresa produzisse Q1 com
curva de custo médio CTM0, seus custos médios seriam CTM0(Q1).

Gráfico 10. Tamanho ideal de sistema produtivo e custo médio a longo prazo Fonte: BAYE;
PRINCE, 2016 (Adaptado).

Ao ajustar os fatores fixos de maneira a otimizar a escala de operação, a empresa economiza na


produção e pode produzir Q1 unidades a um custo médio mais baixo, CTM1 (Q1). Observe que a
curva denominada CTM1 é uma curva de custo médio de curto prazo com base nos novos níveis de
insumos fixos que foram selecionados para minimizar o custo de produção de Q1. Se a empresa
deseja expandir ainda mais a produção – por exemplo, para Q2 – seguiria a curva CTM1 no curto
prazo para CTM1(Q2) até mudar novamente seus fatores fixos para incorrer em custos médios
mais baixos da produção de Q2 unidades, identificado como CTM2(Q2).
A curva de custo médio de longo prazo, denotada como CMLP no Gráfico 10, define o custo médio
mínimo para produzir níveis alternativos de produção, permitindo a seleção ideal de todas as
variáveis de produção (fatores fixos e variáveis).
Ela é o envelope mais baixo de todas as curvas de custo médio de curto prazo. Isso significa que a
curva de CMLP fica abaixo de cada ponto nas curvas de custo médio de curto prazo, exceto onde
ela é igual a cada curva de custo médio de curto prazo, nos pontos em que a curva de curto prazo
usa fatores fixos de maneira ideal. Em essência, podemos interpretar cada curva de custo médio de
curto prazo no Gráfico 10 como o custo médio de produção em uma planta fabril ou sistema
produtivo de tamanho fixo. Diferentes curvas de custo médio de curto prazo estão associadas a
diferentes tamanhos de sistemas produtivos. A longo prazo, o gestor da empresa é livre para
escolher o tamanho ideal da planta fabril para operar o nível desejado de produção,
determinando, desta maneira, o CMLP para trabalhar nesse nível de produção.
Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?!

SINTETIZANDO
Ao menos três teóricos são de indiscutível recorrência quanto ao exame do tema da produção pela
lente econômica: Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx. Smith, considerado o "pai" do
liberalismo econômico, é conhecido pelos mais básicos estudos, tais como o da divisão do trabalho
e do lucro como racionalizador dos preços relativos.
Ricardo se dedicou à determinação do nível da taxa de lucro, propondo, entre outras abordagens
de análise econômica, a teoria do valor do trabalho. Calcado na teoria do valor de trabalho de
Ricardo, Karl Marx apresenta sua explicação da mais-valia para fundamentar sua visão sobre a
suposta exploração parasitária dos empresários nos sistemas produtivos, o que gera discussões até
os dias de hoje.
É sempre desafiador entender como os consumidores respondem às escolhas alternativas que os
confrontam. Modelos simples, embora úteis, mapeiam aspectos como oportunidade e preferência
do consumidor.
Ao tomar decisões, os indivíduos enfrentam restrições de todas as naturezas, sobretudo
orçamentárias. Então, é importante examinar o papel que os preços e a renda desempenham na
restrição do comportamento do consumidor. A inclinação da linha do orçamento representa a taxa
de substituição do mercado entre dois bens. No gráfico do horizonte de orçamento, interpretamos
que mudanças na renda encolhem ou expandem oportunidades, e que mudanças no preço alteram a
inclinação da linha de orçamento.
O interesse do consumidor é escolher aquilo que maximiza a utilidade ou satisfação. Combinar a
teoria das preferências do consumidor com a análise de restrições nos permite visualizar a
maneira como o consumidor seleciona a melhor alternativa possível.
Finalmente, o conhecimento dos custos de um sistema produtivo se mostra valioso porque fornece
as informações essenciais que um gestor precisar dispor para poder determinar um nível de
produção que maximize o lucro do empreendimento.
Quanto aos custos de curto prazo, é importante identificar os componentes variáveis e fixos dos
custos totais, bem como saber trabalhar com o custo médio e o custo marginal.
Observe que, embora os custos irrecuperáveis sejam irrelevantes na tomada de sua decisão pela
perspectiva do custo de um insumo em si, eles não o são em termos de equacionamento financeiro
como um todo, afetando o cálculo do lucro total.
Em uma perspectiva de longo prazo, todos os custos são variáveis, porque o gestor é livre para
ajustar os níveis de todos os insumos. A curva de custo médio de longo prazo define o custo médio
mínimo para produzir níveis alternativos de produção, permitindo a seleção ideal de todas as
variáveis.

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