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ROTEIRO DE QUESTÕES 1

Questões:
1. Qual é a crítica de Chang à definição dos estudos econômicos (Economics) como
“análise das escolhas racionais humanas”?
Sabe-se que atualmente a escola dominante é a chamada escola neoclássica,
onde usa-se como definição dos estudos econômicos a definição de Robbins, na qual
ele define a economia como “a ciência que estuda o comportamento humano como
relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos”. Desse modo, a
economia é dita, pelos neoclássicos, como o estudo da escolha racional, isto é, da
escolha feita com base num cálculo deliberado, sistemático, de até que ponto os fins
podem ser satisfeitos usando meios inevitavelmente escassos, sendo seu objeto de
cálculo qualquer coisa e não apenas questões econômicas.
Chang, em contrapartida, afirma que os estudos econômicos não devem ser
definidos em termos de sua metodologia, nem de sua abordagem teórica, mas de seu
objeto de estudo, – objeto esse que para os não-economistas deve ser, ou deveria ser,
emprego, dinheiro, comércio internacional, entre outros – assim como acontece com
todas as outras disciplinas. Ele argumenta que a economia parece sofrer de um sério
caso de megalomania, visto que, como é possível uma disciplina que não consegue
nem explicar muito bem sua própria área ter a pretensão de explicar quase tudo –
chamado pela crítica de imperialismo da economia, trata-se de uma tendencia de
aplicar a abordagem econômica a tudo.
Por fim, Chang reitera que o tema dos estudos econômicos deveria ser a
economia – a qual envolve dinheiro, trabalho, tecnologia, impostos, entre outros;
também às formas como produzimos bens e serviços, distribuímos os rendimentos
gerados nesse processo e como consumimos as coisas assim produzidas – em vez de
a vida, o universo e tudo mais, ou quase tudo, como pensam muitos economistas.
2. Por que Chang diz que toda teoria econômica é “específica do seu tempo e
espaço”? A partir da sua resposta, reflita sobre a importância do estudo de história e de
história do pensamento econômico para o economista em formação.
Chang, em seu segundo capítulo, descreve algumas mudanças ocorridas no
capitalismo entre 1776 até 2014. Durante esse período ocorreram mudanças
significativas como por exemplo os atores econômicos, ou seja, os envolvidos nas
atividades econômicas. Uma parcela desses indivíduos, chamados de capitalistas, –
aqueles que possuem os bens de capital, conhecidos também como meios de
produção, maquinários – passaram de fazendeiros proprietários de terras que
possuíam os bens de capital – produção de modo direto – para acionistas detentores
de ações – produção de modo indireto. Mudança essa que gerou as sociedades de
responsabilidades limitadas, onde Smith se diz contra, pois, argumentava que
aqueles que administram empresas de responsabilidades limitadas sem possuí-las
brincam com o dinheiro dos outros.
Houve também mudanças nos atores econômicos de maior número, ou seja,
os trabalhadores. Na segunda metade do século XVIII, uma pequena minoria
trabalhava como assalariada para os capitalistas agrícolas. A grande maioria
trabalhava como agricultores de subsistência ou arrendatários de proprietários
aristocráticos, além de ainda haver escravos e crianças no campo. Hoje grande parte
da população trabalha como assalariada e detém de direitos que foram conquistados
ao passar dos anos por meio de revoltas e revoluções.
Assim, Chang afirma que por melhor que seja uma teoria econômica, ela será
específica de seu tempo e espaço, ou seja, foi preciso todo um estudo por trás da
história de um certo período para criação e aperfeiçoamento daquela teoria em
questão. Existem casos que diferentes teorias se encaixam ou se complementam, mas
para isso é preciso um bom conhecimento das forças tecnológicas e institucionais, os
setores e os países que tentamos analisar para uma aplicação produtiva.
3. Segundo Heilbroner, quais são as características da tradição e do mando como
soluções para “o problema econômico”? Por que o autor diz que a solução de mercado é
“desconcertante” e causa “perplexidade” na mente de pessoas não-familiarizadas com a
essa forma de organização da sociedade?
Temos a tradição como, talvez, o modo mais antigo e dominante de resolver o
desafio econômico – trata-se de um mecanismo para a realizar as tarefas de
produção e distribuição necessárias à própria continuidade de uma sociedade.
Dominante no antigo Egito, a tradição conseguiu manter o problema da produção –
problema de assegurar que as tarefas indispensáveis serão realizadas – passando aos
filhos os ofícios de seus pais (hereditariedade). Para o problema da distribuição –
após produzido, assegurar que haja uma distribuição desses bens de forma certa
para garantir a continuidade do processo de produção – podemos citar um grupo de
bosquímanos do deserto de Kalahari, que dependem, para sua existência, de seus
talentos de caça. Dividindo entre si a caça, seguindo um sistema exclusivo onde o
caçador tinha direito a uma porção maior, tendo assim, alocado as mulheres a uma
porção mais escassa do produto social. Assim, a tradição foi uma força
estabilizadora e impulsora por trás de um grande ciclo repetitivo da sociedade,
assegurando a resolução do problema econômico, mas em detrimento do progresso
econômico.
Ademais, temos o mando que também revela uma linhagem antiga, assim
como a tradição, que trata de uma organização de um sistema de acordo com as
ordens estabelecidas por um comandante ou chefe econômico. Alguns exemplos são
os faraós do Egito, a China clássica e medieval e até mesmo em nossas sociedades
como forma de impostos, ou seja, o direito de arrecadação por parte do governo de
uma parcela da renda de um indivíduo para fins públicos. Em tempos de crises e
guerras, o mando pode ser a única forma de uma sociedade organizar sua força de
trabalho e distribuir os bens efetivamente, um exemplo é a chamada lei marcial,
onde uma área devastada pode mobilizar certos grupos de pessoas para prestarem
determinados serviços, ou até mesmo o uso de propriedades privadas como terras e
bens materiais. Com isso, diferente da tradição o mando é um forte instrumento
para impor a mudança econômica, sendo utilizado para realizar mudanças
econômicas rápidas e extensas, podendo assumir uma forma totalitária extrema
(ditaduras) ou uma forma de democracia moderada.
Por último, temos o sistema de mercado onde Heilbroner simula uma
conversa com líderes de uma nação emergente que ainda não decidiu qual será o seu
modo de organização econômico. Durante toda a conversa é perguntado coisas
como: “Como encaminharemos as pessoas as suas determinadas tarefas?”, “Qual a
garantia que as pessoas vão se voluntariar para os trabalhos considerados
essenciais?”, “Qual será a quantidade fixada de bens produzidos nessa economia?”,
“Qual a garantia que não sobrará ou faltará bens nessa economia?”. No fim das
contas, todas essas perguntas são respondidas com “O mercado cuidará disso”, o
que causa grande espanto e desistência dos líderes. Diferente da tradição e do
mando, quando uma pessoa não-familiarizada se volta para uma sociedade de
mercado ela se encontra perdida pois, não está absolutamente claro como os mais
simples problemas de produção e distribuição serão resolvidos sem orientação da
tradição ou mando, – problemas esses que nessas sociedades já sabemos como lidar
– ou em que medida esse sistema deve ser responsabilizado pelos males da sociedade.
Por fim, o sistema de mercado se torna um modo complexo de organização da
sociedade em que o equilíbrio desse sistema surge de forma “espontânea” de acordo
com os desejos pessoais de seus integrantes e aparentemente desprovida de controle.
4. Em A Riqueza das Nações, Smith formula que “não é da benevolência do
açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração
que eles têm pelos próprios interesses". A partir dessa famosa passagem, explique como
o mecanismo de mercado geraria de forma espontânea um resultado socialmente benéfico
em termos de produção e distribuição do consumo.

Vejamos um exemplo de uma pequena aldeia, nela vive um homem que possui
grande engenho e destreza na fabricação de flechas. Esse começa a realizar trocas
com um caçador que está o interessado nas flechas e oferece em troca uma parte de
sua caça. Com o passar do tempo, outros moradores começam a procurá-lo
interessados em sua pequena produção de flechas, assim, com o passar do tempo,
esse indivíduo realizando outras trocas percebe que tornaria mais vantajoso
dedicar-se a produção de suas flechas, obtendo desse modo outros produtos com a
troca de seus excedentes tornando-se um tipo de armeiro. Um outro homem, com
habilidades em construção servirá os seus vizinhos na construção de cabanas em
troca de diversos tipos de produtos tornando-se um tipo de construtor. Assim, de
forma espontânea, começa a surgir um pequeno mercado naquela aldeia, pois, a
certeza de poder trocar o excedente de sua produção, depois de satisfeitas as suas
próprias necessidades, pelo excedente da produção de outros homens que levará
cada homem a dedicar-se a uma única tarefa. “Dê-me aquilo que quero, e terá aquilo
que deseja” vejamos o significado de todas as propostas, dessa maneira que obtemos
uns dos outros grande parte dos bens e serviços dos quais necessitamos.

Entretanto, caso haja uma limitação no mercado, ou seja, não exista tantas
pessoas demandando não haveria motivos para uma pessoa se especializar em
apenas um bem ou serviço, tendo em vista que não conseguirá escoar toda a sua
produção. Sendo assim, nesse mesmo exemplo, o armeiro deixará de fabricar
somente flechas e passará a fabricar outros armamentos. Já o construtor deixará de
construir somente cabanas e começará a produzir móveis e outros bens que sejam
feitos com madeira. Logo, essa divisão do trabalho de origem espontânea poderá se
tornar limitada caso não haja extensão do mercado.
5. Apresente a definição de “capitalismo” segundo o autor marxista Maurice Dobb.
Em seguida, explique como esse sistema tenderia a gerar grandes desigualdades de renda
e de propriedade.
Segundo Dobb, o capitalismo é um sistema do qual os utensílios, ferramentas,
edifícios e matérias primas – resumidamente, capital – com que é obtida a produção,
são predominantemente de propriedade privada ou individual, seja ela em forma de
sociedade anônima ou empresa comercial, onde parte da propriedade de cada um se
distingue sob forma de ações – definição essa advinda de Marx e dos movimentos
socialistas e trabalhistas. Assim, esse sistema resulta em meios de produção
concentrados em poucas mãos resultando em, segundo Dobb, uma sociedade
estratificada em classes.
Conseguinte, nota-se que uma grande concentração de propriedade nas mãos
de uma pequena parte da população implica em seu oposto, ou seja, a falta de
propriedade para a maior parcela da população. Sendo assim, enquanto poucos
detém dos meios de produção, a maior parcela da população, sem outra opção, se vê
obrigada a trabalhar para os detentores de capital, já que nada possuindo e não
tendo acesso aos meios de produção, não dispõem de outros meios de subsistência,
tendo assim que trabalhar para os capitalistas.
Por fim, sabendo o objetivo principal do capitalismo é a obtenção de lucro e
acumulação de riquezas, o que ocorre nesse sistema é o enriquecimento de uma
pequena parcela da população e o empobrecimento dos chamados proletariados.
Pois, como existe concorrências e os capitalistas almejam aumentar as vendas, eles
reduzem os custos de produção. E como os salários fazem parte dos custos de
produção, eles também entram nessa redução ocasionado assim uma maior
desigualdade de renda entre as classes.

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