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GESTÃO PÚBLICA – SEMANA 2

Professor: Vinicius Bonfim Pacheco


Contato: viniciuspacheco@unipampa.edu.br
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1) LIBERALISMO

• Embora o pensamento científico sobre as questões sociais retroceda pelo menos a


Sócrates na Grécia Antiga, em tempos modernos ela retrocede ao Iluminismo, sob o
Renascimento (sécs. XVI, XVII);
• Os ideais do renascimento se concretizaram pouco depois na Revolu- ção Francesa,
que é a chave do mundo moderno.
• Contudo, os 3 grandes ideais dessa revolução – Liberdade, Igualdade, Fraternidade
– frequentemente conflitam entre si.
• Exemplo antigo: a minha liberdade é tão absoluta que inclui o direitode escravizar
alguém?
• Exemplo mais moderno: deve existir algum tipo de legislação trabalhis- ta que limite
a liberdade dos empresários em estabelecer os salários e as condições de trabalho
dos seus empregados?

1. O Liberalismo

Obra magna: 1776 – A Riqueza das Nações – Adam Smith

Tese Central: Indivíduos livres, procurando egoisticamente seu interesse próprio, muitas
vezes acabam servindo ao interesse geral da sociedade.

A mão invisível do mercado: “Ele (o empresário) procura apenas o próprioganho, mas


nisso, como em muitos casos, é levado por uma mão invisível a promover um fim que
não estava entre as suas intenções”.

Exemplos:
• A Microsoft não produz software porque acha isso socialmente útil,mas porque
seus donos consideram este tipo de produção lucrativa; mas, ao procurarem obter
lucro, produzem alguns bens de grande uti- lidade;
• Poucos escolheram a profissão pensando no bem que poderiam fazem à sociedade,
mas sim no seu próprio interesse: gostos pessoais e perspectivas de ganho; contudo,
ao trabalharem na profissão assim escolhida, normalmente prestam serviços que
aumentam o bem-estar social.
• O sistema financeiro não empresta dinheiro para “ajudar” ninguém, e sim porque
consideram tais operações as mais lucrativas; contudo, a existência desses
empréstimos permite que certas pessoas tenham acesso a bens que não teriam
condições de adquirir se esses emprés- timos não existissem;

• Em resumo, os liberais defendem a idéia de que a ação descentralizada e egoísta por


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parte dos indivíduos gera um sistema econômico social- mente eficiente, que em
geral otimiza o bem-estar social. Em condi- ções ideais de concorrência, o sistema
tenderia a gerar:
o Pleno emprego dos recursos disponíveis (inclusive mão-de-obra);
o Distribuição de renda “justa” (baseada no esforço e no risco in-corrido);
o Alocação eficiente dos recursos disponíveis.

• Justificativa: pode parecer estranha, à primeira vista, a idéia de que o egoísmo


humano seja capaz de produzir bem-estar social. Mas o libera-lismo defende a idéia
de que o funcionamento do sistema de preços relativos compatibiliza o egoísmo e
o bem-estar social.
o Explicar o que são preços relativos;
• Exemplo: imagine por exemplo uma situação em que há inicialmente falta de certa
mercadoria (demanda > oferta ao preço atual).
o A escassez gera aumento de preços;
o O aumento do preço aumenta a lucratividade de produzir este bem;
o Agindo egoisticamente, várias empresas resolvem começar a produzir este
bem (ou, se já o produziam, a aumentar a quanti- dade produzida), de modo
que a oferta (produção) aumenta;
o Por outro lado, agindo egoisticamente os compradores dessebem reagirão
ao aumento dos preços diminuindo as compras do mesmo, por exemplo, por
que preferiram substituir o bem em questão por algum produto mais barato;
o Os dois processos, juntos, resultarão em um equilíbrio no qual o novo preço
vigente será capaz de equalizar a oferta e a deman- da, eliminando a escassez
inicial;
o O mesmo ocorreria (ao contrário) no caso de desemprego acima do normal;
a queda dos salários incentivaria a contratação pelas empresas e
desincentivaria a oferta de mão-de-obra, até que se restaurasse o equilíbrio;

• O liberalismo moderno reconhece que às vezes, porém, a busca do in- teresse


próprio não gera uma solução ótima. Exemplos:
o Poluição;
o Congestionamento de trânsito;
• Nesses casos, diz-se que ocorreu uma falha de mercado, e a interven- ção estatal é
aceitável.
o Contudo, tais casos são tratados como exceções, e os casos em que os mercados
funcionam adequadamente, como a regra;
o Admite-se ainda a possibilidade de flutuações, ou seja, de alternância de períodos
de crises ou recessões (produção relativamente baixa, de- semprego acima do
normal) e de superaquecimento (vendas crescem mais depressa do que a
produção, desemprego abaixo do normal, in- flação em elevação);
o Admite-se ainda que em condições de concorrência imperfeita, por vezes há
desperdício de recursos (que permanecem ociosos, como o desemprego
involuntário de trabalhadores), bem como distorções na alocação dos recursos e na
distribuição da renda entre os indivíduos;
o Contudo, desde que certos pré-requisitos institucionais se cumpram (em especial
o respeito ao direito de propriedade privada e a preser- vação da liberdade de ação
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das empresas, com pouca interferência do Estado no funcionamento da economia,
etc.), aceita-se que tais flutua-ções se darão ao redor de uma certa tendência de
crescimento econômico.
o Admite-se que o próprio funcionamento da economia capitalista, pela ação do
setor privado, conduzirá a este movimento de enriquecimento progressivo das
sociedades.

o O ponto fundamental da análise econômica para o liberalismo moder- no é a teoria


da escolha individual:
o Individualismo metodológico: o indivíduo (consumidor, trabalhadorou empresa
individual) é a unidade básica de análise;
• Princípios que regem a escolha individual:
o Princípio da escassez: necessidades ilimitadas x recursos limitados; preços se
tornam índices de escassez relativa;
o Princípio do custo de oportunidade: o verdadeiro custo de algo é o que se abre
mão para obter;
o Princípio da análise marginal: decisões tomadas com base nos custos e
benefícios adicionais decorrentes de mais um pouco de produção / consumo;
o Princípio da racionalidade: agentes econômicos buscam as melhores
oportunidades disponíveis de acordo com o maior interessepróprio;

❖ Resultados previstos da interação das escolhas individuais:


➢ Trocas geram ganhos de bem-estar para todos os nela envolvidos;
➢ Tendência ao equilíbrio dos mercados;
➢ Utilização eficiente dos recursos;

❖ Prescrições normativas:
➢ Defesa da livre iniciativa dos agentes privados;
➢ Restrição da atuação estatal às (supostamente poucas) situaçõesem que há
falhas de mercado;
➢ Internacionalismo: defesa do livre comércio e do livre fluxo de capi- tais e de
mão-de-obra;
➢ Busca do equilíbrio fiscal (contas do governo);
➢ Equilíbrio monetário: quantidade de moeda em circulação deve ser controlada
pelos governos de forma a evitar inflação (vista como decorrente de emissão
excessiva).

2) SOCIALISMO

❖ Bibliografia: Spindel (1980).

❖ Definição: Conjunto de doutrinas que se propõem promover o bem comum pela


transformação da sociedade e das relações entre as classes sociais, mediante a
alteração do regime de propriedade.
➢ Alteração do regime de propriedade: abolição da propriedade privada do capital
e sua substituição pela propriedade coletiva (estatal, cooperativas, empresas em
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auto-gestão, etc.).
▪ Observação1: afora esse aspecto comum, a multiplicidade de idéias entre os
autores que se declaram socialistas é enorme!
▪ Observação2: não confundir socialismo com marxismo!

“O socialismo moderno está longe de ser uma análise apenas econômica. É muito mais
do que isso, pois visa permitir ao homem a sua livre expressão em todos os campos, e
libertar-se de todas as opressões econômicas, políticas e espirituais” (Moch, Jules).

“(...) o Socialismo é o estudo, a pesquisa e a aplicação de leis e meios suscetíveis de


melhorar a situação material, intelectual e moral da Humanidade. Nessas condições são
numerosas as nuances, as variedades de opiniões, de sistemas, desde o Socialismo
Cristão até o Comunismo, e todo homem cuidadoso com a sorte de seus semelhantes
pode se dizer socialista (...)” (Denis, León).

❖ A crítica socialista ao capitalismo


➢ Origem da propriedade privada dos meios de produção: a
violência;

➢ Origem dos lucros (em sentido amplo): toda riqueza é produzida pelo trabalho;
qualquer parcela da renda que não seja direcionada ao trabalhador (como o
lucro), portanto, é também um roubo;

➢ Finalidade da produção capitalista: não é o bem-estar do homem, mas o lucro;


o sistema reage a incentivos gerados pelo potencial de lucro, e não pelas
necessidades humanas; ex.: inovações tecnológicas introduzidas são as mais
lucrativas, e não as socialmente mais necessárias; parcela significativa da
produção atende à demanda de bens de luxo dos mais ricos, e não dos bens
básicos pelos mais pobres; e assim por diante; resultado: irracionalidade, no
sentido de que há seres humanos morrendo de fome e/ou vivendo nas condições
mais abjetas, ao lado do enorme desperdício em bens de consumo supérfluos e
mesmo em meios de destruição (armas);

➢ Exploração: a sujeição mundo afora dos trabalhadores a salários miseráveis,


condições de trabalho precárias, etc., enquanto outros lucram com isso;
configura-se como situação cruel de exploração de um grande número de seres
humanos por pequeno número de privilegiados;
▪ Capitalismo: Liberdade para poucos ricos... escravizarem os demais.
Socialismo: liberdade substancial para todos, mas não para explorar os
demais.

➢ Desumanização: a promoção dos objetivos egoísticos como o lucro máximo, o


consumo desenfreado e perdulário, a acumulação incessante de recursos
transforma o homem em escravo do sistema econômico, ao invés de seu
objetivo; reificação do homem, fetichismo das mercadorias (Marx);

➢ Promoção do egoísmo: não apenas o capitalismo parte da “liberdade egoísta”


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individual, mas promove ativamente o egoísmo, na medida em que afirma que
ele é compatível com o bem-estar coletivo;

➢ Destruição ambiental: o grau de destruição ambiental criado pelo capitalismo já


coloca a vida humana na Terra em risco, mas o funcionamento desigual do
sistema certamente despejará a maior parte do problema sobre os mais pobres,
que possuem menor capacidade de proteção frente às consequências das
mudanças climáticas.

❖ Propostas socialistas:
➢ Muitas propostas socialistas já foram colocadas em prática em vários países: voto
universal; legislação trabalhista; previdência social; saúde e educação públicas
gratuitas, entre outros; várias delas foram absorvidas como necessárias e hoje
são consideradas como parte do que se considera minimamente civilizado em
qualquer país;
➢ Formas de propriedade: propriedade estatal x propriedade coletiva;
manutenção da pequena propriedade privada?
▪ Dificuldade: como manter a eficiência?

➢ Organização da produção: planejamento centralizado x


planejamento descentralizado x mercado;

➢ Nacionalismo x internacionalismo:
▪ Posição internacionalista: nacionalismo é uma criação burguesa (“dividir para
governar”);
▪ Posição nacionalista: internacionalismo serve aos interesses dos
proprietários de capital dos países ricos;

➢ A transformação do homem egoísta no capitalismo no homem fraternal


socialista: automática ou progressiva, pela educação?

➢ Como colocar as idéias em prática: Reforma x revolução x colapso interno;


▪ Início do socialismo: pelos países mais ricos ou pelos mais pobres?
▪ “Ditadura do proletariado” realmente necessária?

❖ O “socialismo real” resultante da Revolução Russa (1917):


➢ Inspiração teórica: prática stalinista da interpretação leninista de Marx;
➢ Na prática: socialismo de verdade ou capitalismo de Estado?
➢ Criação de uma nova “classe ociosa” (tese de Miroslav Djlas);
➢ Vencido pela própria ineficiência, ou “derrota militar” na Guerra Fria?
➢ Cuba, Coréia do Norte, Vietnã... despojos?
➢ E a China?

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3) INTERVENCIONISMO / KEYNESIANISMO

❖ Bibliografia: Dillard (1993: cap. 1, págs. 3-6).

❖ Definição: Conjunto de idéias que propõe a manutenção da propriedade


majoritariamente privada do capital, mas com importante intervenção do Estado na
atividade econômica como fundamental para o bom desempenho das economias de
mercado.

❖ Os objetivos da intervenção do Estado deveriam ser: conduzir a uma melhoria da


situação social, em particular, pela geração do pleno emprego sem inflação e pela
melhoria da distribuição de renda.
➢ Nos países e regiões pobres, em particular, o Estado também deve se preocu- par
em promover o desenvolvimento – ou seja, a superação do atraso em re- lação
aos países / regiões mais rico(a)s.

❖ Suas idéias centrais foram consolidadas pelo economista inglês John Maynard
Keynes (1883-1946) em seu livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda
(1936). Contudo, elas são bem mais antigas, remetendo às idéias mercantilistas
(sécs. XV, XVI).

❖ Meio termo entre socialismo e liberalismo, na tentativa de compatibilizar liberda-


de e igualdade.
➢ As implicações da teoria são, na opinião do próprio Keynes, “razoavelmente
conservadoras”1.

❖ Divergências em relação ao liberalismo / convergências em relação ao socialismo:


➢ Não considera o sistema de preços como capaz de compatibilizar plenamente
liberdade e igualdade; o sistema capitalista apresentaria falhas macroeconômi-
cas fundamentais (“macro falhas”), e não apenas falhas de mercado localiza-
das;
▪ Exemplo: a incapacidade da queda dos salários para eliminar o desemprego
excessivo e conduzir ao pleno emprego2;
▪ Diagnóstico: Consequentemente, o capitalismo teria uma tendência a:
• gerar amplas flutuações dos níveis de produção e emprego;
• manter desemprego acima do ideal a maior parte do tempo.
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▪ Causa: a insuficiência de gastos totais (demanda) na economia:

Indivíduos, empresas e
governos gastam pouco Pouco emprego
Empresas vendem
(em relação à capaci- (elevado desem-
e produzem pouco
dade de produção da prego)
economia)

➢ Em particular, considera o capitalismo como incapaz de, sem intervenção im-


portante do Estado:
▪ Proporcionar o pleno emprego da mão de obra;
▪ Tornar a distribuição de renda e de riqueza minimamente justa (meritória);
▪ Promover o desenvolvimento (países mais pobres).

➢ Portanto, julga necessário o estabelecimento de certos “controles centrais” pe-


lo Estado, que exigirão “uma considerável extensão das funções tradicionais de
governo”3:
▪ Tributação progressiva (particularmente de heranças), visando desconcen-
trar a renda;
▪ Controle do Estado sobre a taxa de juros de modo a:
• Reduzir o desemprego deslocando recursos das aplicações financeiras
para investimentos “produtivos”, que geram emprego;
• Desconcentrar a renda, eliminando a parcela injusta dos lucros (causada
por uma taxa de juros “cronicamente elevada”4) e, permitindo a conti-
nuidade apenas da remuneração do capital decorrente apenas do risco
e da inovação;
▪ O Estado deve assumir a responsabilidade por realizar investimentos produ-
tivos, mas apenas nas áreas e nos momentos em que a iniciativa privada
não estiver disposta a realizá-los;
▪ O Estado deverá exercer uma influência orientadora sobre o consumo (via
tributação e outros meios);
▪ Para compatibilizar a ampliação da produção e do emprego com a estabili-
dade de preços, Keynes propõe a introdução de controles que limitem o
crescimento dos salários.
▪ Intervencionistas / keynesianos / desenvolvimentistas costumam ser tam-
bém mais nacionalistas do que os liberais, frequentemente propondo con-
troles e limitações:
• Ao comércio internacional (“protecionismo”), seja diretamente,
via bar- reiras tarifárias (tributação das importações, visando encarecê-
las em relação à produção nacional) e não tarifárias; seja indiretamente,
atra- vés de desvalorizações cambiais (vide explicação mais adiante no
curso);
• Às aplicações financeiras internacionais.

❖ Divergências em relação ao socialismo / convergências em relação ao liberalismo:


➢ Considera ser necessária a manutenção da propriedade majoritariamente pri-
vada do capital, devido aos “ganhos da eficiência”;
▪ A despeito dos controles, “há muitas áreas que devem permanecer sem in-
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terferência”, nas quais “deveria se permitir o exercício da livre iniciativa e
da responsabilidade privadas”;
• Julga portanto possível compatibilizar a busca do pleno emprego sem in-
flação, uma melhor distribuição de renda e o desenvolvimento com a
manutenção do capitalismo.
▪ “O individualismo, se puder ser purgado de seus defeitos e abusos”, é con-
siderado por Keynes a melhor garantia:
• Da liberdade pessoal (amplia o campo das escolhas pessoais);
• Da variedade de vida, que desabrocha desse campo de escolhas amplia-
do e cuja perda é a mais sentida em um Estado ditatorial; tal variedade
seria “o mais poderoso instrumento para conduzir à melhoria do futu- ro”
(através dos estímulos às inovações tecnológicas);

➢ Portanto, não vê nenhuma necessidade de um “Socialismo de Estado abran-


gendo a maior parte da vida econômica da nação”:
▪ Não convém ao Estado assumir a propriedade (majoritária) do capital.
▪ O sistema capitalista emprega os recursos de forma insuficiente (daí o ele-
vado desemprego), mas a parte deles que está de fato empregada teriauma
alocação eficiente.
▪ Salvação do capitalismo: a intervenção significativa do Estado nos assuntos
econômicos não deveria ser entendida como uma “terrível transgressão do
individualismo”, mas como “o único meio exequível de evitar a destruição
total das instituições econômicas atuais e como condição de um bem-
sucedido exercício da iniciativa individual”;

➢ Defesa de “certo grau de desigualdade de renda e riqueza” não apenas como


inevitável, mas até mesmo como desejável: ele afirma existir “justificativa soci-
al e psicológica para grandes desigualdades nas rendas e na riqueza, embora não
para as grandes disparidades existentes na atualidade”5, por que:
▪ “A tarefa de modificar a natureza humana não deve ser confundida com a
de administrá-la”;
▪ “Embora na comunidade ideal os homens possam ser acostumados, inspi-
rados ou ensinados a desinteressar-se do jogo, a sabedoria e a prudência da
arte política devem permitir a prática do jogo, embora sob certas regras
elimitações, em se considerando que o homem comum, ou mesmo uma fra-
ção importante da comunidade, é altamente inclinado à paixão pelo lucro”.

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