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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUAL
Disciplina: TEORIA ECONÔMICA E DIREITO
Professora: Débora Santana

NOTA DE AULA 1 – Unidade I. Introdução à economia: conceito e inter-relação com


outras áreas. Sistemas Econômicos. História da ciência econômica.

1. Introdução à economia: conceito e inter-relação com outras áreas

Þ “Economia é o conjunto de atividades desenvolvidas pelos homens visando a


produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade
de vida. “

Þ “Economia é o estudo de como a sociedade administra seus recursos escassos”.


Mankiw, N.G.

Economia é o OBJETO DE ESTUDO da Ciência Econômica.

2. Escolas do Pensamento econômico

Costuma-se dizer que a teoria moderna econômica começou com Adam Smith (1723-1790), justamente
porque foi o primeiro a exercer influência no moderno pensamento econômico.
Os economistas buscavam responder às seguintes perguntas:
• Como o sistema capitalista funciona?
• Quais características principais desse sistema?
• O que determina volume de produção?
• Qual a origem do crescimento econômico?
• O que determina a distribuição da renda e da riqueza?
• Quão adequado o sistema é para a satisfação das necessidades humanas?
• Etc.

1.2.1 Teoria Clássica (Adam Smith 1723-1790/Robert Lucas Jr 1937- )

Þ O funcionamento natural do mercado garante estabilidade e prosperidade constante, ou seja,


deixar o mercado por conta de seus próprios mecanismos para que encontre naturalmente um
ponto de equilíbrio que trará estabilidade e prosperidade.

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Þ Os mercados se ajustam rapidamente aos choques econômicos sem que haja necessária
intervenção do Estado.
Þ As politicas de intervenção (ou melhor de estimulo) do governo so fazem limitar a capacidade
do mercado de criar novo equilíbrio, pois inflam artificialmente a renda, apoiando
temporariamente um equilíbrio cada vez mais instável, o que aumentaria problemas futuros.
A) Adam Smith (filósofo escocês) – A Riqueza das Nações, 1776: Formulou um modelo abstrato
completo da estrutura e funcionamento do sistema capitalista logo no inicio da Revolução
Industrial.

§ TEORIAS DE HISTORIA E SOCIOLOGIA: Analise das origens e do


desenvolvimento do conflito de classes na sociedade. Os tipos de relação de
propriedade determinavam a forma de governo de qualquer sociedade, sendo 4 os
estágios distintos de desenvolvimento econômico e social: a caça (igualdade e
inexistência de forma institucionalizada de poder/privilégios), o pastoreio
(propriedade: gado), a agricultura (propriedade: terra) e o comércio. Em uma
sociedade capitalista, as diferentes condições de propriedade eram a base das
grandes divisões de classes, uma vez que a propriedade determinava a fonte de
renda de um individuo e essa fonte de renda era o principal determinante do status
de classe social.

“Portanto, a aquisição de propriedades valiosas e extensas requer,


necessariamente, o estabelecimento do governo civil. Quando não existe
propriedade... o governo civil não é tão necessário.”
“O governo civil, instituído com a finalidade de oferecer segurança à propriedade, é
na realidade, instituído para defender o rico do pobre ou os que têm alguma
propriedade dos que não tem propriedade alguma.”

Tese típica de Smith: A “mão invisível” (= natureza) não era fruto do desígnio de
qualquer individuo, mas simplesmente o funcionamento sistemático de leis
naturais.. As pessoas são conduzidas por essa mão invisível no sentido de
promover o bem social, sem que essa promoção seja parte de seu intento ou motivo.
A natureza tinha criado uma ilusão nas pessoas: a de que a felicidade pessoal era
fruto, principalmente, da riqueza material.

“Toda a produção anual... de todo pais...divide-se naturalmente... em três partes –


o aluguel da terra, os salários ligados ao trabalho e os lucros do capital – e constitui
a renda de três ordens diferentes de pessoas: os que vivem de alugueis
(proprietários de terras), os que vivem de salários (operários que vendem sua força
de trabalho em troca de salario) e os que vivem de lucros (capitalistas). Essas são
as três ordens principais, originais e constituintes de todo pais civilizado.”

“O produto anual da terra e do trabalho de qualquer nação não pode ser aumentado
por qualquer outro meio, que não seja o aumento do numero de trabalhadores
produtivos ou da força produtiva dos trabalhadores já empregados.”

“Logo que o capital se acumula nas mãos de certas pessoas, algumas delas o
empregam, naturalmente, dando trabalho a pessoas capazes... a fim de ter lucro
com a venda do trabalho delas ou com o que o trabalho delas adiciona ao valor das
matérias-primas...O valor adicionado às matérias-primas pelos trabalhadores,
portanto, se transforma no lucro do empregador.”

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“Os trabalhadores querem ganhar o máximo e os patrões querem pagar o mínimo
possível”.

O trabalho é o único criador de riquezas.


A divisão do produto do trabalho entre salários e lucros foi determinada na luta
DESIGUAL entre trabalhadores e capitalistas (classe mais poderosa e dominante)
para determinar a taxa de salários.
A principal base de diferenciação da classe era a propriedade da terra e do capital.
Segundo Smith, o poder dos capitalistas adivinha de varias fontes inter-
relacionadas: sua riqueza, sua capacidade de influenciar a opinião publica e seu
controle de governo.

§ TEORIA DO VALOR ou TEORIA DOS PREÇOS: Smith rejeitou tanto a teoria


do valor-utilidade como do valor-trabalho da determinação do preço.

§ TEORIA DO BEM-ESTAR ECONÔMICO:

O mercado proporcionava um lugar de realização da tendência humana natural a comerciar,


permutar e trocar, enquanto a “mão invisível “do mercado reconciliava essas atitudes
individuais a fim de manter um equilíbrio. Ao reunir todas as transações feitas pelos indivíduos,o
mercado também reúne suas respostas racionais aos momentos de crise.

“Em meio a todas as exigências do governo, o capital tem sido acumulado silenciosa e
gradativamente pela frugalidade privada e a boa conduta dos indivíduos, por seu esforço
universal, persistente e ininterrupto para melhorar a sua própria condição.”

Þ Robert Lucas Jr: As expectativas racionais dos indivíduos com relação a uma politica especifica
influenciam o modo como eles reagem e, portanto, determinam o impacto da própria politica.

CRÍTICA: Diante das crises econômicas periódicas (que ressaltam um desequilíbrio perigoso no lugar
de um equilíbrio estável), o mercado sozinho é capaz de sustentar o equilíbrio, a estabilidade e a
prosperidade, ou é necessária intervenção do Estado?

1.2.2 Marxismo

Para Marx, o valor de uso do trabalhador é sua capacidade de produzir mercadorias; em


contrapartida, ele recebe um valor de troca justo, o salario, que satisfaz suas necessidades básicas da
vida. O excedente da relação entre valor de uso e valor de troca, expropriado pelo empregador na
forma de lucro, a que Marx chama “exploração”.

O Marxismo chega à conclusão de que a expansão da exploração criava as desigualdades no


interior do sistema capitalista e acabaria levando os trabalhadores a assumir o controle dos meios de
produção (maquinas e fabricas) e a tomar o poder para instituir uma economia socialista.

CRÍTICA:

O colapso da União Soviética desacreditou o marxismo.

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1.2.3 Economia Keynesiana (Positiva)

Escola de pensamento criada pelo economista britânico John Maynard Keynes nos anos 1930, que
acreditava que o mercado precisava ser controlado pela intervenção do governo. Ele defendia o uso
de politicas fiscais anticíclicas, por meio das quais o governo injeta recursos na economia em momentos
difíceis, mas reduz o gasto nos períodos de bonança.

Para ele, a demanda agregada (demanda total efetiva de uma economia ) era um motor fundamental
dos ciclos econômicos (oscilações da atividade ecômica, ora o crescimento se acelera e o nível de
emprego é alto, ora as economias se contraem e o desemprego aumenta). Durante o declínio, a
demanda agregada tendia a cair, o que piorava o ciclo, levando a períodos prolongados de desemprego
desnecessário. Assim, ao manipulara demanda agregada, os governos poderiam influenciar o ciclo
econômico, suavizando-o e reduzindo a volatilidade do desenvolvimento capitalista.

O keynesianismo tornou-se a doutrina econômica mais popular da “era do outro é do capitalismo


(1945-1973). A ideia principal era de que os governos tinham de intervir na economia para garantir do
pleno emprego, então essa intervenção governamental assumiu a forma de gasto publico, corte de
impostos dos trabalhadores e redistribuição de renda.

3. Demanda agregada é a demanda total por bens e serviços numa economia em um determinado
momento. Ela pode ser influenciada pelo governo por meio da politica monetária (controlando
a quantidade de dinheiro na economia) e/ou politica fiscal (aumentando ou diminuindo o volume
de gastos do governo).

CRÍTICA:

A demanda agregada não é o único elemento que determina a forma de funcionamento da economia,
além disso a teoria não especifica os governos estão autorizados a manipular a demanda agregada.

1.2.4 Síntese Neoclássica (John Hicks, Paul Samuelson)

Para os neoclássicos ou neokeynesianos, no curto prazo, como os mercados podiam ser


imperfeitos, eles nem sempre removiam os obstáculos sem se ajustavam completamente como
previram os pensadores clássicos, sendo isso causado principalmente pela rigidez salarial e pelo
impacto dos monopólios sobre a concorrência. Nesse ponto, poderia o governo intervir para ajustar o
que tivesse imperfeito.

Assim, a intervenção do governo deveria se restringir ao curto prazo. Assim, os governos podem
promover ajustes e intervir para trazer estabilidade, porém uma vez alcançado o equilíbrio, deve-se
deixar o mercado fazer a regulação, pois a mão invisível do mercado determinaria o crescimento da
economia a longo prazo.

CRÍTICA:

Os neoclássicos reintroduziram a tese de que o mercado se autorregula e que a causa do desemprego


eram os altos salários.

1.2.5 Escola Austríaca (Ludwig von Mises e Friedrich von Hayek)

Para esse mercado, só o livre mercado é capaz de coordenar de maneira eficaz todas as
informações e atitudes que cada individuo tem com relação ao valor, ou seja, os indivíduos têm
capacidade de definir seus próprios custos e lucros, e o mercado coordena as preferências dos

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consumidores. Os preços então assumem um papel importante porque refletem todas as informações
discrepantes que existem na economia. Insistência na superioridade do laissez-faire absoluto (zero
intervenção do governo na economia).

1.2.6 Escola de Chicago (Milton Friedman)

Em 1976, Milton Friedman, autor de A Monetary History of the United States 1867-1960 e Capitalismo
e Liberdade e consultor de politica econômica do governo de Ronald Reagan (EUA), defende uma
abordagem empirica à teoria econômica. Friedman era ferrenho defensor da desregulamentação
governamental (inclusive, a favor da legalização da maconha e da prostituição) e se opunha ao sistema
de bem-estar social, defendendo um imposto de renda negativo no seu lugar. O Estado deve apenas
garantir o direito de propriedade e o cumprimento dos contratos e da defesa nacional.

Em sua obra Capitalismo e Liberdade, Friedman propugna a eliminação: dos impostos sobre as
empresas, do imposto de renda progressivo, da escola publica, da seguridade social, das licenças e
qualificações de médicos e dentistas, do monopólio do correio estatal, da legislação relativa ao salario
mínimo, das leis que proíbem a venda da heroina

• O que há de comum nessas duas escolas (neoclássicas conservadoras)?


As escolas austríaca e de Chicago descartam todas as preocupações dos economistas
neoclássicos liberais e defendem o laissez- faire extremado. Além disso, obscurecem as
diferenças ente trabalho e capital, ou seja, não há trabalhadores nem capitalistas, apenas
indivíduos que fazem trocas.
Þ Mantém a fé na Lei de Say do automatismo do mercado, o que significa dizer que
qualquer instabilidade observada no capitalismo é totalmente culpa do excesso de
governo.
Þ Negam que as empresas gigantes tenham qualquer poder de mercado significativo.
Þ O único bem “legitimamente” consumido de modo social que o governo deveria
oferecer é a defesa.
Þ Reduzem todo o comportamento humano a trocas maximizadoras racionais, ou seja,
os indivíduos agem em unidades que maximizam sua utilidade por meio da troca.
Þ Defendem que um sistema capitalista de livre-mercado é o melhor de todos os
mundos possíveis.

CRÍTICA:

Smith e Ricardo viram a economia tanto da perspectiva da utilidade (ou troca) como da do trabalho
(ou produção).

Visões exageradas da superioridade do mercado.

a. Sistemas econômicos

Definição de sistema econômico segundo o modo de produção (definido pelas forças produtivas e
relações sociais de produção) no qual se baseia.

1.3.1 Mercantilismo

É preciso que o governo intervenha fortemente na economia para proteger indústria e as empresas
locais por meio de medidas protecionistas, como tarifas e subsídios, e restrinja ao máximo a importação

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de bens e serviços e a exportação de capital. Ou seja, deve-se vender mais produtos aos estrangeiros
do que importar deles, além de manter e investir os recursos no próprio país (investir no mercado
doméstico).

Atualmente conhecido como nacionalismo econômico ou teoria do crescimento voltado para a


exportação.

1.3.2 Capitalismo de livre mercado

Como sistema econômico, politico e social dominante surgiu muito lentamente e primeiramente na
Europa Ocidental. Liberdade de mercado (produção, venda e compra) + direito de propriedade. Os
indivíduos privados – e não o Estadi) que tomam as decisões mais adequadas à economia e agem com
uma regulamentação limitada por parte do Estado de modo a mover a economia à máxima
prosperidade.

1.3.3 Economia de planejamento

O Estado controla toda as máquinas e fábricas, ou seja, domina a produção e a distribuição, e toma
todas as decisões de investimento. Nesse caso, as forças de mercado não têm função alguma.

Nesse sistema, as decisões sobre o que produzir e como produzir são tomadas de forma
centralizada. O grupo de pessoas que compõe o governo central se reúne geralmente a cada cinco
anos e apresenta um planejamento do que deveria ser produzido, como, quando e com que objetivo.

Economias inteiramente planejadas existiram na maioria dos países orientais e na China até os
anos 1970.

1.3.4 Socialismo de mercado

O Estado é o dono dos meios de produção e uma autoridade central controla os investimentos e
fixa os preços por meio da tentativa e erro , ou seja, quando existe excedente ela baixa os preços,
quando existe escassez, ela os aumenta; mas as empresas são dirigidas por seus próprios
administradores.

Assim, nesse sistema, coexistem o principio da propriedade estatal do meios de produção com a
eficiência do mecanismo de mercado. Atualmente, China, Laos e Vietnã se aproximam do socialismo
de mercado.

2.1 Historia da Ciência Econômica

“A ciência econômica é uma ciência social, que estuda o funcionamento da Economia


Capitalista, sob o pressuposto do comportamento racional do homem econômico, ou seja, da busca da
alocação eficiente dos recursos escassos entre inúmeros fins alternativos.”

Nesse sentido, a Ciência econômica visa compreender como a Economia (objeto de


estudo) resolve os problemas econômicos básicos :

A) O que e quanto produzir? EFICIÊNCIA e


B) Como produzir?
C) Para quem produzir? EQÜIDADE
D) Como produzir de maneira SUSTENTÁVEL
para as gerações futuras?

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“A ciência econômica é multidisciplinar” = Estuda a produção e o consumo da imensa variedade
de bens e serviços existentes, o que envolve conceitos de outras ciências como a Política, o Direito, a
Saude, a Nutriçao, a Engenharia, a Agronomia e etc.

“A ciência econômica é, portanto, uma obra inacabada” = Os economistas estudam como as forças
sociais fundamentais explicam tudo: do preço do pão à disparidade de riqueza entre os Estados Unidos
e o Zimbabue. Os economistas desenvolvem inúmeras teorias que explicam como os mercados
funcionam e às vezes falham, como os consumidores, os trabalhadores, as empresas e os políticos
tomam decisões, e por que a economia cresce ou fica estagnada.

Do ponto de vista da corrente neoclássica, a Economia é estudada no nível MACROECONÔMICO e


no nível MICROECONÔMICO.

A Microeconomia é o ramo da Ciência Econômica que estuda a formação de preços, a principal variável
que orienta a alocação de recursos no contexto das Economias Capitalistas. Discute a funcionalidade
do mercado para garantir a organização e a distribuição eficientes de recursos escassos. Sua unidade
de analise são os mercados específicos, examinando o comportamento e a interação dos agentes
(consumidores e produtores).

A Macroeconomia é o ramo da Ciência Econômica que estuda o comportamento da Economia como


um todo, tendo como focos o produto, o emprego, a inflação e o comércio internacional. É o campo que
embasa a atuação do Estado em suas três funções fundamentais : Alocativa, Distributiva e
Estabilizadora.

CIÊNCIA ECONÔMICA

MICROECONOMIA : MACROECONOMIA :
comportamento de ECONOMIA comportamento da
consumidor e produtor economia como um todo.
(mercado específico).

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