Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Abstract: The current consumption reflects the individual need to be more, can
more. This work makes a relation to consumer society with economic and political
freedom, and the current concept of happiness derived from utilitarian theory. The
reification and human pricing is a reflection of a model designed to produce,
distribute and degrade. Thus, could not speak about the consumer society without a
brief account of the capitalist model. This work aimed to show that the present
society is the result of a slow process of social and economic transformation, as a
relation of individual freedom and the current concept of happiness.
Revisão de Literatura
Não haveria como dissertar acerca desse tema proposto sem fazer uma breve
análise do capitalismo, entendendo-o como um modo de operar de diversos
sistemas, como o direito, a economia, a sociedade, a política, entre outros1. Esse
modelo capitalista é representado primordialmente por um complexo sistema
financeiro baseado na criação de ativos intangíveis, no crédito, nos juros e no débito.
Contudo, esse modelo deu azo a uma forma muito mais invisível aos olhos
humanos, criando um suporte cognoscível denominado consumo. Karl Marx, o
principal crítico a esse modelo, descreveu essa forma como o “fetichismo da
mercadoria”, denotando o imbróglio econômico e político das relações de trocas das
mercadorias, orientadas pelo dinheiro e capital. Para ele a mercadoria
representaria um objeto palpável a ser consumida, mas, também, corporificaria toda
uma agregação de tempo e trabalho, fator abstrato, intangível e impalpável
(MARX, 1996, p.217).
Essa forma capitalista de operar é o reflexo da transição ideológica de séculos
dominados pelo liberalismo econômico e político, pelos quais privilegiaram a
liberdade individual, com o lema de que esta traria reflexos positivos a toda
coletividade. Esse sistema pretendeu resguardar, dessa forma, todas as formas de
liberdade, como a propriedade privada, os direitos subjetivos, a soberania de um
povo, um país constitucionalmente limitado e, principalmente, para o presente
trabalho, a ordem do mercado (RAMOS, 2005).
Resta claro que diversos fatores, sendo eles ideológicos, econômicos, sociais e
filosóficos, contribuíram para o surgimento da sociedade de consumo. Sociedade
que é uma forma externada do sistema econômico e social vigente. Esse sistema é
a representação da importância dada à ordem do mercado, devendo, por suas
normas, sejam elas positivadas ou morais, deixar o livre fluir da produção, comércio
e consumo.
Nessa senda, em uma sociedade “livremente” preparada para o consumo, enseja-se
o mesmo entendimento dos pensadores utilitaristas e dos economistas clássicos do
final do século XVIII. Sejam eles, Jeremy Bentham (2000), John Stuart Mill (2006) ou
o próprio Adam Smith (1996), pelo lado dos economistas, que pregaram a
maximização da utilidade, como o ponto central para o desenvolvimento econômico-
social. Para esses pensadores, a utilidade era maximizada individualmente, na
medida em que o indivíduo buscava a sua felicidade, ao prazer proporcionado, e,
consequentemente, gerava um benefício a toda sociedade. Conforme Mill (1969,
1
Poderia entender o capitalismo como um sistema mais abrangente aos citados. Nesse sentido vale citar a
teoria autopoiética de Niklas Luhmann e a Teoria Crítica dos Sistemas, da Escola de Frankfurt. FISCHER‑
(LESCANO, Andreas. 2010)
p.952) menciona: “Eu não quero afirmar que a promoção da felicidade deva ser, ela
mesma, o fim de todas as ações, ou mesmo de todas as regras de ação. Ela é a
justificação, e deve ser o controle de todos os fins, mas não é em si mesma, o único
fim”.
Na conjectura atual, a felicidade denota outras concepções. Teria a felicidade um
vínculo ao consumo, ao poder de comprar. Para Orrell (2012, p. 206) “o dinheiro é
visto como uma loja de utilidades – um tipo de energia potencial que pode ser
transformada em prazer apenas por ser gasta”. O prazer, variante da felicidade para
os utilitaristas, seria tanto uma experiência subjetiva quanto uma emoção
compartilhada com efeitos positivos de renda (Orrell, 2012, p.208). Ou seja, a
sociedade de consumo é uma rede de indivíduos sustentada pelo agir individual,
tendo como paradigma o outro indivíduo. A felicidade em consumir dependeria do
poder de consumo que o indivíduo teria a mais ou menos do que o outro indivíduo.
“A busca da felicidade não é um objetivo solitário. Estamos ligados, e o mesmo vale
para a alegria” (FOWLER apud ORREL, 2012, p. 208).
Essa concepção de felicidade, do poder de consumir, retorna ao tema já discutido da
liberdade. A liberdade individual, muito diferente do que os filósofos entendem, pode
ser mensurada em termos de graus de liberdade. No sentido de que tudo é valor de
troca, do “fetichismo da mercadoria”, e poder desfrutar desse valor, ou seja, a
liberdade do indivíduo é ter capacidade de troca, ter acesso à cultura, à saúde e aos
bens de consumo. “A liberdade, portanto, não é algo que se tem ou não tem. A
liberdade, nesse, caso comporta graduação, comporta mediações; não é algo
absoluto” (ALVES, 2004, p. 92).
Nessa visão crítica à sociedade de consumo, ao utilitarismo e a capacidade
individual de ter liberdade, vale citar Amartya Sen:
O cálculo de utilidades pode ser demasiado injusto com
aqueles que são persistentemente destituídos: por exemplo, os
pobres-diabos usuais em sociedades estratificadas, as
minorias perpetuamente oprimidas em comunidades
intolerantes, os meeiros em propriedade agrícolas –
tradicionalmente em situação de trabalho precária, vivendo em
um mundo de incerteza -, os empregados exauridos por seu
trabalho diário em sweatshops, as donas de casa submissas
ao extremo em culturas dominadas pelo machismo (2010,
p.89).
Resultado e Discussões
Percebe-se que a discussão inicial do começo do trabalho, do modelo capitalista de
operar, é um instrumento ideologicamente criado para a formação de uma sociedade
de consumo, em que impera a liberdade individual, malgrado, na concepção de
poder consumir, e a ordem do mercado é voltada para essa concepção. Não se
tentou diminuir a importância das teorias filosóficas e econômicas dos pensadores
aqui citados, mas demonstrar o nítido aspecto cultural que a conjectura atual denota.
Conclusões
A sociedade de consumo é o resultado de um complexo sistema do modelo
capitalista, que privilegia grandes corporações, exalta o luxo, e precifica e coisifica
todos os elementos humanos. Traz a felicidade individual como o motor da
sociedade e a liberdade como um valor monetário.
Enquanto, o próprio indivíduo não entende que o maior valor social não pode ser
mensurado, que é o valor humano, o sistema se manterá inerte a mudanças.
Sociedade de consumo, liberdade e felicidade refletem a tendência individualista do
indivíduo, a criar um modelo centrado para o bem estar individual, aos anseios de
cada um, sem pensar no bem da coletividade.
REFERÊNCIAS
ALVES, Alaôr C. As Raízes Sociais da Filosofia do Direito: uma visão crítica. In:
Alaôr Caffé Alves, Celso Lafer, Eros Roberto Grau, Fábio Konder Comparato,
Goffredo da Silva Telles Junior, Tercio Sampaio Ferraz Junior: O que é filosofia do
direito?- Barueri, SP: Manole, 2004.
BENTHAM, Jeremy. An Introduction to the Principles of Morals and Legislation.
Kitchener: Batoche Books, 2000.
FISCHER‑LESCANO, Andreas. A Teoria Crítica dos Sistemas da Escola de
Frankfurt. Tradução de Rúrion Melo. Novos Estudos 86, Março 2010.
MARX, Karl. O Capital. Livro I, dois volumes. Tradução de Regis Barbosa e Flávio
Kothe. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
MILL, John S. A System of Logic. Book VI, Chapter xii §8. Ed. J.M. Robson.
Collected Works of John Stuart Mill. Toronto: Toronto University Press, 1969
____________. Ensaio Sobre a Liberdade. Tradução de Rita de Cássia Gondim
Neiva. São Paulo: Editora Escala, 2006.
ORREL, David. Economitos: Os dez maiores equívocos da Economia. Tradução:
Adriana Ceschin Rieche. Rio de Janeiro: Best Business, 2012.
RAMOS, Cesar A. O liberalismo político e seus críticos. In: Crítica: Revista de
Filosofia, Londrina, v.10, n.32, p.229-264, out. 2005.
SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas
causas. Tradução de Luiz João Baraúna. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda,
1996.