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ÉTICA

AULA 3

Prof. Nivaldo Vieira Lourenço


CONVERSA INICIAL

Esta aula tem como propósito expor a experiência ético-moral desde a


modernidade até o período contemporâneo na sociedade ocidental; para tanto,
estudaremos os diferentes critérios éticos no mundo contemporâneo, com
os seguintes temas:

1. Ética existencialista;
2. Ética da ação comunicativa;
3. Ética da alteridade e da transcendência religiosa;
4. Ética da civilização tecnológica;
5. Teoria ética da justiça.

Esses temas nos ajudarão a entender a questão da experiência ético-


moral na sociedade ocidental, assimilando os diferentes modos de ver a ética na
sociedade ocidental, desde o período moderno do século XX, até o
contemporâneo do século XXI.
Em meio a tais conceitos e referências, teremos a oportunidade de
compreender as condições históricas do período contemporâneo, tais como: o
desafio extremo para o alcance da compreensão interindividual, da convivência
e do respeito às diferentes expressões culturais e sociais; a necessidade de
buscar soluções para os diversos problemas vivenciados na sociedade
contemporânea; e a necessidade de implantar uma sociedade multicultural
equânime, qualitativa e mais colaborativa para todos.

TEMA 1 – ÉTICA EXISTENCIALISTA

A ética existencialista tem como centro principal a existência do indivíduo;


ela propõe que o indivíduo é aquilo que faz de si e de sua vida, nos limites das
determinações físicas, políticas e histórico-sociais. Essa corrente de
pensamento considera que não existe uma natureza humana ideal e que a
existência real está sempre em desenvolvimento.
O ponto principal dessa teoria é a capacidade de o indivíduo
contemporâneo responder às crises da civilização, pela própria capacidade
humana de prover criações e artefatos sociais e industriais destrutivos, fazendo
assim relacionar-se a uma nova dimensão: a da liberdade – necessidade –
responsabilidade participativa. O existencialismo tem se desenvolvido como

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reflexão sobre a condição humana, sendo assim possível falar de uma ética
existencialista. Há duas grandes linhas são evidentes no existencialismo:

 O existencialismo ateu, com Jean-Paul Satre (1905-1980) e Martin


Heidegger (1889 – 1976);
 O existencialismo cristão, com Gabriel Marcel (1889-1973), Emmanuel
Mounier (1905-1950) e Martin Buber (1878-1965).

Há uma grande diversidade de ideias e teorias, mas poderemos observar


que o existencialismo se constitui em duas bases principais. O existencialismo
ateu enfatiza:

 Indivíduo como ser-no-mundo, o que o leva a procurar o ser absoluto no


fundo da subjetividade;
 Eu individual concreto;
 O próprio sujeito como fundamento básico de todo valor.

Por sua vez, o existencialismo cristão enfatiza:

 Realidades concretas do indivíduo (que vive, luta e sofre) permanecem


definidas por valores externos a ele;
 Valores humanos.

Para compreendermos essa teoria, é importante compreender que os


indivíduos devem se recriar em suas limitações, seguindo dois caminhos:

1. O da experiência do desespero, da solidão e da angústia;


2. O da experiência da comunicação, do diálogo e do amor.

TEMA 2 – ÉTICA DA AÇÃO COMUNICATIVA

O principal pensador desse critério ético é o filósofo alemão da segunda


fase da Escola de Frankfurt, Jurgen Habernas, que apresenta uma nova
concepção de racionalidade, com um modo diferente de entender os valores e
os princípios da sociedade capitalista, fazendo os seguintes questionamentos:
Atualmente, é fundamental comunicar-se? Como comunicar-se efetivamente? É
necessário buscar consenso?
As duas características principais da ética na ação comunicativa são: ser
participativa e discursiva. Habermas (1989) afirma que a busca pelo consenso
só poderá ser atingida quando o discurso for produzido por uma regra de

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argumentação, ou seja, pela superação do critério ou do princípio de
universalização teórica.
O princípio mediador é a indução, no caso do discurso teórico, e a
universalização no caso da ação prática; o princípio da universalização é o
princípio ponte, pois possibilita o acordo com argumentações morais, excluindo
qualquer aplicação monológica na argumentação discursiva. Os estudos
referentes à ética participativa e discursiva afirmam que todos têm o direito de
emitir sua opinião no grupo de argumentação e deliberação.
De acordo com Habermas (1989), a participação efetiva dos indivíduos
“pode prevenir a deformação da perspectiva na interpretação dos interesses
próprios dos demais participantes, e isso somente é possível pela ação
comunicativa de cada indivíduo”.

TEMA 3 – ÉTICA DA ALTERIDADE E DA TRANSCENDÊNCIA RELIGIOSA

Apresenta como foco principal os princípios da ação humana, com base


em princípios de encontro e reencontro consigo e com o outro. Surge no século
XX, com os pensamentos de Emmanuel Lévinas (1906-1995), que faz críticas à
moralidade e à eticidade da sociedade contemporânea, por meio dos princípios
bíblicos do judaísmo e do Talmud, com fundamentos de religiosidade, não
apenas embasados no passado, mas também em uma crítica aos valores que
originaram seus princípios éticos. É importante lembrar que eticidade é um
substantivo feminino que expressa a qualidade do que é ético e moral,
caracterizando alguém que age dessa forma.
Na ética da transcendência religiosa de Lévinas, a alteridade
(singularidade) é um princípio fundamental que precisa permear o caminho da
moralidade como um de seus fundamentos definitivos. Lévinas repudia os
princípios que sustentam a sociedade ocidental, propondo uma síntese
pacificadora caracterizada por uma “ética da presença do outro”, chamada ética
da alteridade, que se sustenta por uma ação não autoritária entre ações dos
sujeitos.
Podemos afirmar que a ética da alteridade de Lévinas, propõe uma
postura humanizante do e sobre o homem, baseada em princípios de encontro
e reencontro consigo e com o outro, do humano com o humano, assumindo a
responsabilidade de autotransformação.

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Na ética da alteridade de Lévinas, reencontro e responsabilidade são
termos-chave para que, numa ação de alteridade, haja a re-humanização dos
indivíduos e da sociedade, a fim de impedir todas as formas de violência, de
autoritarismo e de dominação.

TEMA 4 – ÉTICA DA CIVILIZAÇÃO TECNOLÓGICA

Este tema poderá ser estudado como ética responsabilizante da


civilização tecnológica, simplesmente porque uma ética para a civilização
tecnológica tem como princípios a igualdade e a responsabilidade entre os
homens, em face de suas conquistas e invenções.
Sobre esse tema, Hans Jonas (1903-1993), pensador alemão, propõe em
seus estudos uma reflexão sobre e do campo tecnológico, e suas conquistas na
sociedade contemporânea. Afirma que as éticas tradicionais estão “caducas”, e
que o mundo necessita de novos princípios, também questionando a tecnologia
e a ciência em seus modelos artificialistas, voltados à tentativa de prolongar a
vida, controlar os comportamentos, e proceder à manipulação da vida pela
engenharia genética
Hans Jonas considera a humanidade fragilizada pelos avanços
tecnológicos, e encarada apenas como objetos das tecnologias inquietantes. Ele
resume seus imperativos em quatro necessidades e modos de ação entre os
sujeitos, sugerindo a importância de se estabelecerem as seguintes ações:

 Permanência de uma vida autêntica e humana;


 Ações não subservientes, mas de responsabilidade e solidariedade;
 Ações que não tenham efeitos destrutivos e que possibilitem a existência
de redes de comunicação colaborativas em prol do agir comunicativo;
 Ações integradas para possibilitar um futuro de sobrevivência global para
toda a humanidade.

Concluímos que uma sociedade altamente tecnológica torna


imprescindível uma ação responsabilizante, que edifique relações de poder.
Porém, há consequências que determinam a necessidade de reflexões éticas.

TEMA 5 – TEORIA ÉTICA DA JUSTIÇA

A dinâmica de desenvolvimento de valorações e de princípios teóricos


define muitos dos problemas e necessidades humanas, objetivando entender os
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fundamentos valorativos dessa sociedade. Para entendermos esse tema, iremos
estudar as análises apresentadas por John Rawls (1921-2002), apresentadas
em duas de suas obras: Ética da justiça e Uma teoria da justiça.
Vamos então entender a teoria e os princípios da ética da justiça,
considerando como principais questões as respostas às seguintes perguntas:

1. O que é justiça?
2. O que é uma ordem justa e estável?
3. Como se explicam as regras que presidem a distribuição dos bens e as
vantagens entre os indivíduos?

Para responder tais perguntas devemos, assim como Rawls, raciocinar


com base nos princípios do estabelecimento da justiça entre homens e mulheres,
num esforço para reconduzir a relação de liberdade, verdade e justiça, em uma
nova ordem cultural, na qual prevaleçam as relações de equidade e harmonia,
visando o bem coletivo.
Dois princípios de justiça caracterizam o pensamento de Rawls, o da
diferença e o da igualdade. Não seriam idealmente nem os princípios do
liberalismo capitalista, nem os do socialismo estatizante, mas os princípios da
equidade (igualdade), com base nos quais há uma conjunção de esforços dos
iguais para respeitar os diferentes. Rawls propõe o convívio justiça-virtude-
princípio, que confere sentido ao sonho humano de todas as civilizações: viver
feliz numa ordem social justa.

NA PRÁTICA

A reflexão filosófica contemporânea tem como objetivo descobrir as


premissas ético-morais que se desencadeiam no meio da sociedade, e a partir
de então elaborar projeções para o futuro, pertinente às linhas de conduta que
livre e conscientemente os indivíduos constroem.
Diante do exposto, e considerando os diferentes critérios éticos no mundo
contemporâneo, analise uma situação de direitos humanos violados na
sociedade do século XXI e apresente suas considerações.

FINALIZANDO

A condição histórica contemporânea, em seus princípios éticos, foi


analisada com base em aspectos primordiais do pensamento filosófico, e
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também em ações históricas e seus desdobramentos. Nesses desdobramentos,
se encontram os elementos constitutivos para o estabelecimento das reflexões
éticas e de normas de condutas consideradas adequadas à sociedade.
Desse modo, devemos assimilar que é nas ações históricas que
percebemos a importância de se estabelecer uma circularidade, que além de
revelar a continuidade da experiência ética da humanidade, garanta a clareza
das teorias apresentadas.

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REFERÊNCIAS

BITTAR, E. C. B. Curso de filosofia política. São Paulo: Atlas, 2007.

HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de janeiro:


Tempo Brasileiros, 1989.

LIMA VAZ, H. Ética e racionalidade moderna. São Paulo: Loyola, 1988.

RODRIGUES, Z. A. L. Ética na gestão pública. Curitiba: InterSaberes, 2016.

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