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Ética profissional, social, política

APRESENTAÇÃO

A Ética estabelece os princípios que servem de parâmetro e fundamentam o comportamento dos


indivíduos. Esses parâmetros acompanham o indivíduo em todas as esferas de atuação, na sua
vida social, na sua atuação profissional e no exercício político. Nesta Unidade de
Aprendizagem, você vai ver o que é a base comum da Ética e as características próprias de cada
uma das três áreas que serão abordadas. Na Ética Social, você vai conhecer a construção da
ideia de ser humano digno e sua relação com o próximo. Na Ética Profissional, verá as
especificidades do ambiente de trabalho, seus desafios e dilemas. Já na Ética Política, estudará o
conceito de poder e autoridade.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar os princípios gerais da Ética Social.


• Reconhecer as especificidades da Ética Profissional.
• Relacionar o papel da Ética com a prática política.

DESAFIO

A Ética está presente em todos os momentos de interação social pelos quais passamos, nossas
atitudes, ideologias, interação com outras pessoas, desde as atitudes mais básicas do cotidiano
até grandes questões globais.

Observe o exemplo a seguir:


Por conta da grande expectativa da população para que esse avanço saísse do papel, João foi
eleito. Ao assumir o comando da Prefeitura, João confirmou o que esperava. Os recursos não
eram suficientes e sequer seria possível realizar pequenas modificações na rede de saneamento.

O projeto caiu no esquecimento e, mais uma vez, a população esperançosa foi enganada.

Após refletir sobre o exemplo citado, elabore um texto crítico e argumentativo sobre o papel das
diferentes éticas na perspectiva apresentada.

É importante salientar que o texto deve ser escrito segundo sua perspectiva pessoal dos
acontecimentos e como você resolveria essa questão. Candidatos são lançados, promessas são
feitas, campanhas com forte apelo midiático são realizadas. Até onde vai o limite ético nessas
situações? Seria levar a ética até um limite ou estaria além?

INFOGRÁFICO

O conceito por trás da palavra Ética é baseado no duplo significado no original grego. Êthos
escrito com a letra inicial ‘eta’ utilizado para descrever o ambiente no qual vive o homem, o
modo de ser no qual se sente bem e, Éthos, escrito com a letra inicial ‘épsilon’, sendo este o
conjunto de hábitos e costumes, o comportamento habitual do homem.
A Ética aplicada aos campos Social, Profissional e Político possui diferentes conceitos e valores.
Entenda:

CONTEÚDO DO LIVRO

No capítulo a seguir, você poderá compreender mais a fundo os conceitos de Ética Social, Ética
Profissional e Ética Política. Você vai entender como se fundamenta a Ética em geral e as
peculiaridades de cada modalidade. Leia o capítulo Ética Profissional, Social e Política , do livro
Ética Social .

Boa leitura.
ÉTICA E CIDADANIA

Juliano Gomes
Ética social, profissional
e política
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os princípios gerais da ética social.


 Reconhecer as especificidades da ética profissional.
 Relacionar o papel da ética com a prática política.

Introdução
A ética estabelece os princípios que servem de parâmetro e fundamen-
tam o comportamento dos indivíduos. Esses parâmetros acompanham
o indivíduo em todas as esferas de atuação, na sua vida social, na sua
atuação profissional e no exercício político.
Neste texto, você vai ver o que é a base comum da ética e as caracte-
rísticas próprias de cada uma das três áreas que serão abordadas. Na ética
social, você vai conhecer a construção da ideia de ser humano digno e
sua relação com o próximo. Na ética profissional, verá as especificidades
do ambiente de trabalho, seus desafios e dilemas. Já na ética política,
estudará o conceito de poder e autoridade.

Ética social
O convívio social é permeado por regras, princípios e noções que fundamentam
a vida moral. O papel da ética é fazer a reflexão sobre esses princípios e noções.
Existem diversas concepções de ética que variam de acordo com a ideia de
ser humano com que se trabalha, desde a noção religiosa até o pragmatismo
122 Ética social, profissional e política

Figura 1. Aristóteles, filósofo grego que fundamentou o debate sobre ética.


Fonte: MidoSemsem/Shutterstock.com.

mais radical. Diferentemente da moral – que é relativa à um grupo social,


uma cultura –, a ética pretende ser universal. Enquanto a moral pergunta “o
que devo fazer?”, a ética pergunta “o que é o bem?“. A primeira é normativa,
enquanto a segunda é reflexiva.
Aristóteles (384-322 a.C.) considerava a felicidade a finalidade da vida
e a consequência do único atributo humano, a razão. As virtudes intelectuais
e morais seriam apenas os meios destinados à sua consecução.
O epicurismo, doutrina idealizada por Epicuro (341-270 a.C.), por sua
vez, identificava como sumo bem o prazer, principalmente o prazer intelectual,
e – tal como os adeptos do estoicismo, escola fundada por Zenão de Cítio
(340-264 a.C.) – preconizava uma vida dedicada à contemplação.
No fim da Idade Média, São Tomás de Aquino (1225-1274) viria a fun-
damentar na lógica aristotélica os conceitos agostinianos de pecado original
e da redenção por meio da graça divina.
Conforme a Igreja Medieval se tornava mais poderosa, desenvolvia-se
um modelo de ética que trazia castigos aos pecados e recompensa à virtude
pela imortalidade.
Ética social, profissional e política 123

Para Baruch Spinoza (1632-1677), a razão humana é o critério para uma


conduta correta, e apenas as necessidades e interesses do homem determinam
o que pode ser considerado bom e mau, o bem e o mal.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), por sua vez, em seu Contrato Social
(1762), atribuía o mal ético aos desajustamentos sociais e afirmava que os seres
humanos eram bons por natureza.
Uma das maiores contribuições à ética foi a de Emmanuel Kant (1724-
1804), em fins do século XVIII. Segundo ele, a moralidade de um ato não
deve ser julgada por suas consequências, apenas por sua motivação ética.
As teses do utilitarismo, formuladas por Jeremy Bentham (1748-1832),
sugerem o princípio da utilidade como meio de contribuir para aumentar a
felicidade da comunidade.
Já para Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), a história do mundo
consiste em “disciplinar a vontade natural descontrolada, levá-la a obedecer
a um princípio universal e facilitar uma liberdade subjetiva”.
A ética contemporânea é fragmentada, pois se abandonam as pretensões
de montar um conjunto de postulados e passa-se a analisar situações, temas
e questões pontuais. Ainda se encontram divisões no modo de análise, e as
duas principais visões são:
Morais deontológicas (ou do dever ou da lei) – que afirmam que o critério
supremo é o dever ou as leis. O termo deontologia surgiu das palavras gregas
“déon, déontos”, que significam “dever”, e “lógos”, que significa “discurso”
ou “tratado”.
Morais situacionais e relativistas – que se recusam a construir a moral
sobre um princípio absoluto, seja ele o fim último ou o dever.

Seis princípios da ética social


A ética social se apoia em seis princípios clássicos, veja quais são:

Dignidade da pessoa humana

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969, estabelece, em


seu art. 11, § 1º, que “Toda pessoa humana tem direito ao respeito de sua
honra e ao reconhecimento de sua dignidade.”. É característica intrínseca e
inalienável de cada ser humano, colocando-o como merecedor do respeito e
da consideração do estado e da sociedade.
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Direito de propriedade

O direito de propriedade é o direito das pessoas de possuírem coisas para


atender às suas necessidades, para seu uso; é um direito pacificamente reco-
nhecido por todos.

Primazia do trabalho

O trabalho – atividade que o ser humano realiza para sobreviver, ganhar a


vida e crescer como pessoa – é a atividade de primordial importância, sem
dúvida a mais expressiva da pessoa humana. A pessoa mesma está em seu
trabalho. É comum as pessoas apresentarem-se pelo nome e pelo trabalho.
Não só a subsistência pessoal e de familiares depende do trabalho, mas antes
a própria pessoa, seu crescimento, seu desenvolvimento.

Primazia do bem comum

O interesse do coletivo deve se sobrepor ao interesse individual, pois o avanço


de uma sociedade depende do esforço conjunto das pessoas e só pode ser
alcançado com a colaboração de todos os integrantes do grupo. Os seres
humanos buscam naturalmente a união, primeiramente porque são essencial-
mente sociais e em segundo lugar porque sentem inúmeras limitações ao agir
isoladamente. É o conjunto de condições sociais que permite e favorece aos
membros da sociedade o seu desenvolvimento pessoal e integral.

Solidariedade 

Um dos traços mais fortes da natureza humana. A pessoa imediatamente


identifica o próximo como seu igual, ainda que não o conheça, ainda que
de outra raça ou de outra língua. A solidariedade entre os seres humanos
decorre diretamente do fato de todos serem da mesma natureza. É a chamada
fraternidade humana.

Subsidiariedade

A participação ativa das pessoas e de todos os grupos sociais nas esferas


superiores, econômicas, políticas e sociais, de cada país e do mundo é a base
desse princípio. Em latim, subsidere significa “sentar-se debaixo”, estar na
reserva. Subsídio é o auxílio dado; quem recebe é dito subsidiado; quem doa
Ética social, profissional e política 125

é o subsidiário. Devido à presença do sufixo -idade, a palavra subsidiariedade


significa o estado ou a qualidade de subsidiário. A organização social funciona
porque o ser humano a sustenta na base.

Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) demonstrou uma definição de felicidade que se
encaixa muito com os elementos da ética social. Para ele, o homem feliz é “[...] aquele
que é ativo de acordo com a virtude completa e é adequadamente fornido de bens
externos, não por um período de tempo não específico, mas em uma vida completa,
destinado a viver e a morrer, consequentemente [...]”.

Ética profissional
A ética profissional diz respeito tanto ao comportamento do indivíduo em um
ambiente de trabalho quanto à atuação de empresas e organizações. Para o
indivíduo, é a observância dos comportamentos adequados ao convívio com
colegas, chefias e clientes e dos compromissos assumidos com o trabalho.
Para as empresas e organizações, é pautar sua atuação sempre pensando em
algo melhor para a sociedade, pelo uso de boas práticas, como transparência,
respeito às diversidades, respeito às leis, entre outras. Um conceito ampla-
mente utilizado atualmente é o da sustentabilidade. Empresas e organizações
procuram hoje o título de “sustentáveis”. Para tanto, precisam demonstrar suas
práticas corretas em três esferas: ambiental, econômica e social.
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A definição mais usada para o desenvolvimento sustentável, conforme o Retaório


Bruntland (1987) é:
“O desenvolvimento que procura satisfazer às necessidades da geração atual, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias
necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível
satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural,
fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da Terra e preservando as
espécies e os habitats naturais” (BRUNDTLAND, 1987).

Códigos de ética
O profissional deve seguir tanto os padrões éticos da sociedade quanto as nor-
mas e regimentos internos das organizações. A ética profissional proporciona ao
profissional um exercício diário e prazeroso de honestidade, comprometimento,
confiabilidade, entre tantos outros, que conduzem o seu comportamento e
tomada de decisões em suas atividades. Por fim, a recompensa é ser reco-
nhecido – não só pelo seu trabalho, mas também por sua conduta exemplar.
Algumas profissões contam com Conselhos de Representação que têm
a responsabilidade de criar Códigos de ética específicos para cada área de
atuação. Você já deve ter ouvido falar no Conselho Federal de Medicina (CFM)
ou no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), dois exemplos
bastante conhecidos.
Esses Códigos de ética criados pelos Conselhos existem para padroni-
zar procedimentos operacionais e condutas de comportamento, garantindo a
segurança dos profissionais e dos usuários de cada serviço. Eles estabelecem
princípios ético-morais de determinada profissão e preveem penas disciplinares
aos trabalhadores que não obedecerem aos procedimentos e normas de sua
área, protegendo a sociedade de injustiças e desrespeito em qualquer esfera.
Por isso, cabe ainda aos Conselhos a função de fiscalizar o cumprimento dos
Códigos de ética.
O processo de produção de um código de ética deve ser por si só um
exercício de ética. Caso contrário, nunca passará de um simples código moral
defensivo de uma corporação. A formulação de um código de ética precisa,
pois, envolver intencionalmente todos os membros do grupo social que ele
abrangerá e representará. Isso exige um sistema ou processo de elaboração de
Ética social, profissional e política 127

baixo para cima, do diverso ao unitário, construindo-se consensos progressivos,


de tal modo que o resultado final seja reconhecido como representativo de
todas as disposições morais e éticas do grupo.

Virtudes da ética profissional


Algumas virtudes são destacadas como primordiais para o bom desempenho
profissional, como:

Comprometimento

O compromisso do profissional se aplica sistemicamente. Em primeiro lugar,


ele deve se comprometer com o próprio desenvolvimento contínuo e se com-
portar de maneira congruente com sua linha de pensamento, ou seja, agir para
alcançar suas metas e objetivos, e o único caminho é a entrega dos resultados
solicitados pela empresa. Em segundo lugar – e não menos importante –, ele
deve estar comprometido com os colegas de trabalho, com os líderes e com o
público da marca. Ao desempenhar sua função com excelência, automatica-
mente estará contribuindo para o todo.

Responsabilidade

Para a preservação de uma marca ou produto, o profissional deve manter uma


postura congruente com seu trabalho e manter para si os dados que lhe foram
confiados, a fim de garantir o sigilo necessário.

Integridade

É indispensável manter a transparência nas atividades exercidas, ser honesto


com o gestor direto e demais profissionais, garantindo que todos sejam in-
fluenciados positivamente por seu trabalho, de forma direta ou indireta.

Para se aprofundar no estudo da ética profissional, leia o texto “Ética profissional”


(JORGE, 2017).
128 Ética social, profissional e política

Ética política
A ética política se distingue pelo modo como as decisões tomadas afetam um
grande número de pessoas. Não se trata mais de pensar “o que devo fazer?”
ou refletir sobre o conceito de “bem”, mas de atuar de forma pragmática nos
assuntos da coletividade.
Para os antigos gregos, os dois termos nunca eram tratados separadamente.
O lugar da ética era a discussão política (do grego polis, que significa “cidade”).
Toda atuação social do indivíduo era política.
Foi com o ”liberalismo moderno” que se romperam os laços com a polis,
com a comunidade política, e a dimensão humana do individualismo cresceu.
Entretanto, antes mesmo do liberalismo moderno, Nicolau Maquiavel (1469-
1527), pensador italiano, provocou uma ruptura entre a ética e a política,
afirmando que a política tem lógica própria e razões nem sempre compatíveis
com princípios consagrados pela tradição. Isso abriu precedentes para a prática
política se distanciar das pessoas comuns e passar às mãos de minorias que
controlariam os rumos das nações, entre regimes totalitários ou democráticos.
Dessa divisão surgiu também a necessidade justamente da ética política,
pois era preciso estabelecer limites para a atuação de representantes do povo
e instituições públicas. O fato de alguns indivíduos tomarem decisões que
afetam a vida de muitas pessoas merece atenção especial, pois, entre outras
coisas, eles decidem sobre o uso da força e o início ou término de guerras.
São importantes para o entendimento da ética política os conceitos de
poder e autoridade. Os governos constituídos se apoiam nesses dois pilares,
o poder delegado pela população ou exercido de maneira autocrática e a auto-
ridade, que lhes permitem agir mesmo contra o interesse de algum indivíduo
particular. Na teoria Marxista, o poder seria “[...] a capacidade de uma classe
social de realizar os seus interesses objetivos específicos [...]” (FARGANIS,
2016), enquanto na teoria Funcionalista seria “[...] a capacidade de exercer
certas funções em proveito do sistema social considerado no seu conjunto
[...]”(FARGANIS, 2016), já que, segundo Farganis (2016, p. 145): “A maior
contribuição do Funcionalismo tem sido sua perspectiva da ordem social como
acordo consensual [...]”. A autoridade deriva do poder, mas só se mantém
enquanto é legitimada pela população sobre a qual ela é exercida.
Gerenciar o âmbito público exige um grau de comprometimento que ultra-
passa o nível pessoal, pois o acesso a recursos e decisões poderiam significar
benefícios para o indivíduo em detrimento de uma comunidade. Assim, é
preciso zelar pelo bem de uma maioria. Para tanto, são importantes alguns
princípios como:
Ética social, profissional e política 129

 Probidade Administrativa: É a retidão das ações administrativas.


Agir de forma reta e honesta não somente de acordo com as normas,
mas também de acordo com a ética (código de ética do servidor), dentro
dos princípios de moralidade.
 Decoro: Acatamento das normas morais: dignidade, honradez, pundonor.
 Valores Democráticos: De maneira simplificada, podemos dizer que a
democracia se sustenta em três princípios: o Princípio da Maioria, que
garante a soberania popular pela representação de uma parte expressiva
de indivíduos; o Princípio da Igualdade, que visa garantir a participação
efetiva de todos os segmentos sociais, evitando a segregação e o mono-
pólio de grupos específicos; e o Princípio da Liberdade, que permite a
atuação política de todo cidadão sem ser coagido ou censurado.

Ética e política são temas de uma longa tradição do pensamento filosófico


e continuam a permear nossa realidade contemporânea por uma razão muito
simples: não há como pensar a vida em sociedade sem valores morais e sem
organização política, mas nem por isso foram tratadas como sinônimo em
todos os momentos. Ao longo da história, filósofos divergiram de opinião
sobre o assunto e ainda hoje esse tema é motivo de conflitos de ideias. Afinal,
ética e política podem convergir? Ou estão muito distantes um do outro? Para
Cherchi (2009, p. 15), “[...] a ética na política diz respeito à conduta de cidadãos
investidos em funções públicas, que, como agentes, públicos são responsáveis
por manter uma conduta ética compatível com o exercício do cargo público
para os quais foram eleitos [...]”. Entretanto, diversos autores alegam que é
preciso considerar que o âmbito da esfera política não pode ser reduzido ao
universo da ética e da moral. Nesse sentido, Frota (2012, p. 14) afirma: “Os
valores políticos transcendem os valores éticos, e o universo da política não
pode ser confundido com o da ética.”
O uso da mentira nas ações políticas pode também ultrapassar o conjunto
dos casos caracterizadamente decorrentes de “razão de Estado” e continuar
tendo aceitação, muitas vezes até mais consensual, sob o ponto de vista da
crítica feita segundo a ética. Por analogia, seria possível invocar para esses casos
uma justificativa reconhecida como “razão de Governo”. Um exemplo típico
é o de um congelamento de preços, ou qualquer outra medida de governo que
não possa ser conhecida com antecedência, sob pena de provocar especulações
e manobras destruidoras dos efeitos intentados; a negação desses atos pelo
governante até o dia em que são decretados é uma mentira política bastante
aceitável pelos critérios éticos correntes, desde que explicada imediatamente
após pelos próprios fatos.
130 Ética social, profissional e política

A dialética da política com a mentira tem ainda outras áreas de contato. A


atividade política necessariamente tem uma dimensão que é o “fazer imagem”
– construir e cultivar a imagem do líder, a imagem do candidato, a imagem do
partido –, algo que fácil e corretamente escorrega para o “forjar imagem”, com
o sentido de forçar os limites da verdade, e que se confunde frequentemente
com a impostura e a mentira útil para o forjador.
Ao contrário da dialética de conflito que caracteriza as relações correntes
da ética com a política – mediadas pela compreensão da tolerância e tendentes,
provavelmente, a uma afirmação crescente e paulatina da ética com a evolução
da cultura democrática –, ocorrem momentos históricos de verdadeiro encontro
ou identificação dos conceitos quando uma sociedade ou nação mergulha em
crise profunda de desestruturação. Nesse debate, recorre-se naturalmente aos
clássicos do pensamento filosófico para se examinar a realidade nacional à luz
de suas meditações. E a referência básica da qual se parte mais frequentemente é
a fundamentação da moral kantiana com seu imperativo de universalidade: agir
como se cada ação respeitasse uma regra ou máxima absolutamente universal a
que todos se submetessem. No entanto, a moral do indivíduo em sociedade, como
referido anteriormente, não chega a responder completamente às preocupações
e exigências desses momentos éticos, que são mais amplas na medida em que
abrangem as relações da atividade pública. A crítica de Hegel é definitiva ao mostrar
que a nação pode ter como princípio decisivo de suas ações a soma algébrica das
vontades individuais e corporativas em competição na sociedade civil, mesmo
que pautadas pelos imperativos da moralidade e da legalidade. A ética da nação
é muito mais; é a responsabilidade verdadeiramente coletiva, é o princípio que
rege a esfera do poder público na qual todos estão presentes como um todo maior
do que a soma das partes. Repetindo o que foi dito, a ética é a moral da nação em
seu conjunto e na atividade pública; é na política que ela se consubstancia e se
revela. ética e política se completam necessariamente; nos momentos críticos, esta
conclusão se explicita com clareza e verifica-se, então, que é pela política, e só pela
política, que se pode e se deve empreender a reconstrução da ética desestruturada.

Para ver um exemplo de como é importante a observância desses princípios na prática


política, leia a notícia sobre a investigação de um prefeito por suspeita de improbidade
administrativa: “Prefeito de Mariana e vice têm mandatos cassados por suspeita de
compra de votos, diz MP” (ÂNGELO, 2017).
Ética social, profissional e política 131

ÂNGELO, P. Prefeito de Mariana e vice têm mandatos cassados por suspeita de compra
de votos, diz MP. G1, 15 mar. 2017. Disponível: <http://g1.globo.com/minas-gerais/
noticia/prefeito-de-mariana-e-vice-tem-mandatos-cassados-por-suspeita-de-im-
probidade-administrativa-diz-mp.ghtml>. Acesso em: 18 jul. 2017.
G. H. (Org.) Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: FGV, 1987
CHERCHI, G. S. Renúncia do mandato parlamentar na Câmara dos Deputados por falta
de ética ou quebra do decoro. Monografia (Especialização em Política e Representação
Parlamentar) – Programa de Pós-Graduação do Centro de Formação, Treinamento
e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados/CEFOR, Câmara dos Deputados,
Brasília, 2009.
FARGANIS, J. Leituras em teoria social: da tradição clássica ao pós-modernismo. 7. ed.
Porto Alegre: AMGH, 2016.
FROTA, G. S. N. Implicações da quebra de ética e decoro parlamentar na 4ª e 5ª legislaturas
da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Monografia (Especialização em Política e
Representação Parlamentar) – Programa de Pós-Graduação do Centro de Formação,
Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados/CEFOR, Câmara dos
Deputados, Brasília, 2012.
JORGE, C. ética profissional. WebArtigos, 12 jun. 2017. Disponível em: <http://www.
webartigos.com/artigos/etica-profissional/9551>. Acesso em: 18 jul. 2017.
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS INTERAMERICANOS. Convenção Americana sobre Direitos
Humanos. San José: OEA, 1969. Disponível em: <https://www.cidh.oas.org/basicos/
portugues/c.Convencao_Americana.htm>. Acesso em: 18 jul. 2017.

Leituras recomendadas
BELSHAW, C.; KEMP, G. (Org.). Filósofos modernos. Porto Alegre: Artmed, 2010.
BOVERO, M. ética e política entre maquiavelismo e kantismo. Lua Nova, São Paulo,
n. 25, p. 141-166, abr. 1992.
RACHELS, J.; RACHELS, S. A coisa certa a fazer: leituras básicas sobre filosofia moral. 6.
ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
DICA DO PROFESSOR

Acompanhe a nossa Dica do Professor e amplie a sua compreensão sobre os conceitos


trabalhados na unidade. Você vai ver o caminho da Ética na história da Filosofia e os elementos-
chave dos três aspectos específicos trabalhados: Ética Social, Profissional e Política.

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EXERCÍCIOS

1) A Ética Social se apoia em seis princípios clássicos: Dignidade da Pessoa, Direito de


Propriedade, Primazia do Trabalho, Primazia do Bem Comum, Solidariedade e
Subsidiariedade. Sobre a Primazia do Bem Comum, é correto dizer que:

A) A participação ativa das pessoas e de todos os grupos sociais nas esferas superiores,
econômicas, políticas e sociais de cada país e do mundo.

B) O interesse do coletivo deve se sobrepor ao interesse individual, pois o avanço de uma


sociedade depende do esforço conjunto das pessoas e só pode ser alcançado com a
colaboração de todos os integrantes do grupo.

C) O esforço de cada um para fortalecer a si próprio, em detrimento do coletivo.

D) A pessoa imediatamente identifica o próximo como seu igual, ainda que não o conheça,
ainda que de outra raça ou de outra língua.

E) É o direito de cada cidadão possuir coisas para satisfazer suas necessidades.

2) Entre as virtudes primordiais para uma Ética Profissional é importante que se aja
com transparência nas atividades e honestidade com gestores e colegas de trabalho.
Essas atitudes dizem respeito a qual virtude da Ética Profissional?
A) Responsabilidade.

B) Comprometimento.

C) Integridade.

D) Pontualidade.

E) Assiduidade.

3) O homem feliz é “aquele que é ativo de acordo com a virtude completa e é


adequadamente fornido de bens externos, não por um período de tempo não
específico, mas em uma vida completa, destinado a viver e a morrer
consequentemente”. A definição de Aristóteles encaixa em qual conceito de Ética?

A) Ética Profissional.

B) Direito de Propriedade.

C) Ética Política.

D) Ética Social.

E) Ética da Solidariedade.

4) Um conceito amplamente utilizado atualmente é o da Sustentabilidade. Empresas e


organizações procuram hoje o título de “sustentáveis” e, para tanto, precisam
demonstrar suas práticas corretas em três esferas: ambiental, econômica e social.
Assinale a alternativa correta sobre a definição de Sustentabilidade:
A) Sustentabilidade é trabalhar em prol de organizações sem fins lucrativos.

B) É uma diretriz organizada de forma a não prejudicar as pessoas e a garantir a segurança do


trabalho.

C) O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração futura, sem


comprometer a capacidade das gerações atuais de satisfazerem as suas próprias
necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível
satisfatório de desenvolvimento social e econômico sem compromisso com os recursos
naturais.

D) É o uso de recursos naturais sem depender de outros países.

E) O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem


comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias
necessidades. Significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível
satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural,
fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as
espécies e os habitats naturais.

5) A Ética Política se distingue pelo modo como as decisões tomadas afetam um grande
número de pessoas. Não se trata mais de pensar “o que devo fazer” ou refletir sobre o
conceito de “Bem”, mas atuar de forma pragmática nos assuntos da coletividade. O
fato de alguns indivíduos tomarem decisões que afetam a vida de muitas pessoas
merece atenção especial, pois, entre outras coisas, decidem sobre o uso da força e o
início ou término de guerras. São importantes para o entendimento da Ética Política
os conceitos de poder e autoridade. Os governos constituídos se apoiam nesses dois
pilares, o poder delegado pela população ou exercido de maneira autocrática e a
autoridade, que lhes permite agir mesmo contra o interesse de algum indivíduo
particular. Sabendo disso, assinale a alternativa correta em relação à teoria
Funcionalista:

A) É a capacidade de exercer certas funções em proveito do sistema social considerado no seu


conjunto.

B) É a capacidade de uma classe social de realizar os seus interesses objetivos específicos.

C) É a autoridade de exercer violência sobre os outros sem motivos.

D) É a prática facilitadora de aprovar leis em seu benefício.

E) É o uso do poder para financiar guerras.

NA PRÁTICA

Leia um trecho da reportagem da Revista Época:

É possível observar que muitas empresas fazem campanhas publicitárias para melhorar sua
imagem, muitas delas têm o intuito exclusivo de fazer cair no esquecimento a conduta imoral de
seus gestores. Em um caso como o apresentado, em que parte da concepção de um produto visa
somente burlar normas estabelecidas, percebe-se a ausência de Ética Profissional por parte da
empresa.

SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

"HOMEM" - Este vídeo não te vai deixar indiferente.

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