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DESIGN, CULTURA E

SOCIEDADE
AULA 1

Profª Cristiana Miranda


CONVERSA INICIAL

Seja bem-vindo a nossa aula! Nossa proposta para esta disciplina é


possibilitar que você desenvolva uma visão sistêmica, crítica e reflexiva sobre as
relações entre o design e os meios culturais, sociais e ambientais, para a criação
de projetos de design humanísticos, inclusivos e de transformação sociocultural.
Esta aula tem como objetivo desenvolver capacidades acerca do conceito
de sociedade, visando à compreensão do mundo social e dos fundamentos da
ação humana. Para isso, os temas abordados serão:
• O que é sociedade?
• Elementos constitutivos de uma sociedade;
• Evolução histórica da sociedade ocidental – partes 1 e 2;
• Migração humana.

CONTEXTUALIZANDO

Você já pensou no porquê de falar português, tirar carteira de motorista


somente após completar 18 anos, eleger o presidente da república a cada quatro
anos, usar verde e amarelo em dias de Copa do Mundo de Futebol? Já se
perguntou por que corta o cabelo da maneira como está agora? Por que usa
tênis de uma determinada marca ou segue nas redes sociais aquele influencer?
Por que você prefere um gênero musical e não outro?
Cada indivíduo tem particularidades que o diferencia dos demais. No
entanto, uma análise mais detalhada revelará que muito daquilo que é
aparentemente único e pessoal, na realidade, é a conjunção de vários elementos
do meio social que influencia o indivíduo.
Com efeito, a coletividade impõe aos seus sujeitos rotinas e padrões pré-
estabelecidos, por meio dos quais os indivíduos são preparados para participar
de sistemas e grupos sociais. Esse processo é chamado de socialização e
apresenta um sistema complexo de relações entre indivíduos.

TEMA 1 – O QUE É SOCIEDADE?

A palavra sociedade deriva do latim societate, cujo significado pode ser


compreendido pelo agrupamento de seres que vivem sob normas comuns.
Vale mencionar que para esse conceito dispensa-se quantidade mínima ou

2
máxima de indivíduos em comunidade. O ponto-chave é que todos (conceito
relativo) adotam as mesmas regras. A palavra sociedade pode ser utilizada para
representar a população de um país, estado ou cidade, no presente ou no
passado, uma associação profissional ou acadêmica, uma empresa, um grupo
de pessoas que tem objetivos comuns a cumprir.
Sendo objeto de estudo de todos os campos das ciências sociais, o
conceito de sociedade tem concepções um pouco diferentes conforme cada área
específica, como em antropologia, sociologia e ciência política.
O foco da antropologia reside na posição do indivíduo frente às demais
estruturas sociais1. Assim, a antropologia social destina-se ao estudo da
inserção do ser humano na estrutura da sociedade, englobando as diferentes
instituições sociais2 e relações sociais3. Para a sociologia, a sociedade é
composta de grupos sociais4 que compartilham interesses e preocupações em
comum. O elemento principal é a identidade da comunidade5. Pelo campo da
ciência política, a sociedade é compreendida pela reunião de pessoas sob
determinadas condições em busca de uma mesma finalidade, ou seja, o núcleo
social reside no desenvolvimento do poder político-social para condicionar as
ações humanas a fim de cumprir com o propósito coletivo.
Nesta disciplina, vamos entender sociedade com base na sociologia,
como “um grupo autônomo de pessoas que ocupam um território comum, têm
uma cultura comum e possuem uma sensação de identidade compartilhada”
(Dias, 2004, p. 118). A organização de indivíduos em grupos sociais organizados
não é característica privilegiada da raça humana (veja como abelhas, formigas,
elefantes vivem em sociedade), mas é uma das principais razões que torna o ser
humano espécie dominante no planeta.
Viver em sociedade permite que o ser humano adquira conhecimentos e
desenvolva habilidades devido às interações sociais6 e aos meios de

1
Estruturas sociais: “padrões relativamente estáveis e duradores em que estão organizadas as
relações sociais” (Dias, 2004, p. 118).
2
Instituição social: “é um sistema complexo e organizado de relações sociais relativamente
permanentes, que incorpora valores e procedimentos comuns e atende a certas necessidades
básicas da sociedade” (Dias,2004, p. 201).
3
Relação social: conjunto de interações sociais entre os indivíduos, sob um mesmo tema.
4
Grupo social: “conjunto de pessoas que partilham algumas características semelhantes
(normas, valores, expectativas) que regular e conscientemente interagem e apresentam algum
sentimento de unidade” (Dias, 2004, p. 132).
5
Identidade da comunidade: conjunto de características que distinguem uma comunidade de
outra, possibilitando a individualização do grupo social.
6
Interações sociais: processo no qual as pessoas se relacionam umas com as outras.
3
comunicação (linguagem oral, escrita, pictórica7). Quando pessoas convivem em
um mesmo local elas se relacionam, se influenciam mutuamente (interações
sociais) e determinam, preferencialmente de comum acordo, normas de
comportamento (individual e coletivo), para facilitar a convivência.
Citando alguns exemplos, temos: padrão de linguagem (se um diz não, o
outro obedece), tipo de alimentação (comer minhocas é saudável),
comportamentos aceitáveis (tomar banho a cada dois dias), distribuição de
atividades (você caça e eu planto milho) e o uso de determinadas tecnologias
(vamos usar machados bem afiados para cortar lenha).
Os diversos temas de interações sociais, quando agrupados, formam as
relações sociais. Por exemplo, relações sociais familiares ou religiosas ou
culturais ou políticas. Quando as relações sociais entre os indivíduos e os grupos
de uma comunidade se organizam, têm estabilidade (aprovação da maioria das
pessoas) e perduram por um tempo relativamente longo, dizemos então que a
comunidade tem uma estrutura social.
Toda sociedade tem uma estrutura social organizada em quatro
elementos básicos: os status, os papéis sociais, os grupos sociais e as
instituições sociais. Em sociologia, status é a posição social do indivíduo na
sociedade; papel social é o agrupamento de direitos, deveres e expectativas
definidas de um determinado status; grupo social é o conjunto de indivíduos que
seguem determinadas normas e valores, formando uma unidade; e instituição
social é um sistema de relações sociais organizado e adotado por todos os
membros, como família, educação, política, economia e religião (Dias, 2004).
Por exemplo, na instituição família brasileira, há o grupo social família
Silva, de Curitiba, em que Pedro é o filho mais velho (status) de João e Maria.
Como filho mais velho, os pais esperam que (papel social) Pedro, depois de
terminar o segundo grau, faça faculdade de direito e também trabalhe para
ajudar nas despesas da casa, bem como aos irmãos mais novos (expectativa
dos pais, dos irmãos, dos familiares etc.).
Com efeito, a sociedade impõe aos seus indivíduos rotinas e padrões
comportamentais pré-estabelecidos, pelos quais as pessoas são preparadas
para participar das estruturas sociais. Esse processo é chamado de socialização
e apresenta um sistema complexo de relações entre indivíduos. Diante do
mesmo cenário de deveres e obrigações, as pessoas que vivem em uma

7
Linguagem pictórica: comunicação por meio de imagens.
4
determinada sociedade adquirem uma identidade coletiva comum e, como
consequência, compartilham um estilo de vida comum.
Destaca-se que um indivíduo pode fazer parte de vários grupos sociais
simultaneamente, como núcleos familiares, acadêmicos ou profissionais em que
estamos habituados. E todos esses núcleos o influenciam em diferentes formas,
mas sempre dentro de padrões que se relacionam em função da sociedade mais
abrangente.
Nem sempre os traços de cada grupo podem ser nitidamente observados
dentro de cada indivíduo. É mais fácil visualizar cada indivíduo por suas
particularidades. No entanto, se observarmos as inter-relações daquele sujeito,
percebe-se a existência de um domínio social sobre atos e decisões realizados
pelo indivíduo.

TEMA 2 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE UMA SOCIEDADE

É comum que um grupo de pessoas se reúna em determinado lugar em


função de algum objetivo comum. Tal reunião, mesmo que seja realizada por um
grande número de indivíduos e/ou motivada por um interesse social relevante,
não pode ser considerada como uma sociedade (Dallari, 2011). Para que ocorra
a efetiva caracterização de sociedade, o agrupamento humano deve apresentar
os seguintes elementos: finalidade social, manifestações de conjunto ordenadas
e poder social.

2.1 Finalidade social

Quando se vive em uma sociedade humana, pergunta-se se pode existir


uma finalidade e qual seria se existisse. Diante de tal indagação, tem-se duas
vertentes doutrinárias: de um lado há aqueles que negam a possibilidade de uma
escolha – deterministas. De outro lado, estão aqueles que sustentam ser
possível a fixação de uma finalidade social por meio de um ato de vontade –
finalistas.
Para os deterministas, o indivíduo está submetido, irrevogavelmente, a
uma série de leis naturais, sujeitas ao princípio da causalidade. Dessa forma, as
teorias deterministas negam a possibilidade de escolha de finalidades de um
grupo social. Opondo-se a essa visão, os finalistas sustentam que a finalidade
social é uma livre escolha do sujeito inserido e atuante na sociedade. O homem,

5
portanto, tem conhecimento de que se deve viver de maneira associativa e busca
fixar, como objetivo da vida social, uma finalidade condizente com suas
necessidades fundamentais diante daquilo que lhe parece ser mais valioso.
A finalidade almejada, portanto, deverá ser algo (bem material ou
conhecimento imaterial) que todos considerem como tendo valor. Assim, a
finalidade social é o bem comum e deve indicar valor reconhecível por todos os
integrantes da sociedade, sejam quais forem as propensões individuais. Quando
uma sociedade está ordenada para que só se promova o bem de uma parte de
seus integrantes, é sinal de que ela está mal organizada e afastada dos objetivos
que justificam sua existência.

2.2 Manifestações de conjunto ordenadas

Agrupar-se em pessoas com um objetivo comum a ser atingido –


finalidade social – não é suficiente para garantir a concretização desse objetivo
planejado. É indispensável que os componentes da sociedade passem a se
manifestar em conjunto de forma ordenada, preservando a liberdade de todos,
sempre visando àquele objetivo em comum.
As manifestações de conjunto ordenadas devem atender a três requisitos
– reiteração, ordem e adequação – a fim de garantir que a finalidade social seja
atingida.

2.2.1 Reiteração

É fundamental para a coletividade ter noção que sua finalidade (bem


comum) é um objeto permanente, uma vez que em cada momento surgem novos
fatores, influenciando a própria noção de bem comum. Diante disso, é
fundamental que o grupo social se manifeste em conjunto, pois somente por
meio da ação conjunta continuamente reiterada é que o todo social terá
condições para a consecução de sua finalidade.
Assim, é necessário que a coletividade realize constantemente
exteriorizações conjuntas, e os atos praticados isoladamente devem ser
integrados em um todo harmônico, surgindo assim a exigência de ordem.

6
2.2.2 Ordem

É complicado coordenar ações humanas para um fim comum existindo


uma vasta diversidade de preferências, aptidões e possibilidades entre os
indivíduos do grupo social. A fim de que os constantes movimentos da sociedade
se mantenham em harmonia, a coordenação em tais movimentos deve ser
realizada em conformidade com determinadas leis.
A ordem é composta de leis e normas que existem para possibilitar que a
sociedade atue em função do bem comum. Todavia, essa ordem não exclui a
vontade e a liberdade individuais, uma vez que todos os membros de uma
sociedade participam da escolha das normas de comportamento social, restando
ainda a possibilidade de optar entre o cumprimento de uma norma ou o
recebimento da punição que for prevista para a desobediência.

2.2.3 Adequação

O terceiro e último requisito das manifestações de conjunto é a


adequação. Os membros da sociedade devem sempre considerar exigências e
possibilidades da realidade social, a fim de que as ações não se desenvolvam
em sentido diferente daquele que conduz efetivamente ao bem comum (Dallari,
2011).
Para que seja assegurada a permanente adequação é indispensável que
não se impeça a livre manifestação e a expansão das tendências e aspirações
dos membros da sociedade. Logo, os próprios componentes da sociedade é que
devem orientar suas ações no sentido do que consideram seu bem comum.

2.3 Poder social

Vamos pontuar algumas características gerais do poder. A primeira


consiste em que o poder é um fenômeno social, jamais podendo ser explicado
em face de fatores individuais. A segunda característica é a bilateralidade, isto
é, existirá poder sempre que existir correlação de duas ou mais vontades,
havendo predominância de uma sobre a outra.
Portanto, o poder social legítimo deve ser aquele que é consentido por
todo o grupo social. Assim, o governo que utiliza a força a serviço do poder sem
o consentimento social torna-se totalitário, substituindo a vontade dos
governados pela dos próprios governantes.
7
A terceira característica do poder social é a objetivação: o governante dá
precedência à vontade objetiva dos governados ou da lei, desaparecendo a
característica de poder pessoal, sendo um poder totalmente despersonalizado a
fim de buscar o bem comum.

TEMA 3 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE OCIDENTAL – PARTE 1

A história de uma sociedade é analisada e entendida por toda a produção


material e cultural do seu povo, compreendendo o contexto social, a tecnologia
e os recursos disponíveis. Por questões didáticas, vamos analisar brevemente a
evolução das sociedades ocidentais por critérios socioeconômicos.
Os primeiros hominídeos surgiram há mais ou menos 2,5 milhões de anos.
Há 150-180 mil anos, as comunidades de humanos modernos8 já estavam bem
organizadas. A autoridade era natural, ou seja, o indivíduo mais forte ou a mulher
com maior prole comandava o grupo social. Havia propriedade coletiva dos
meios de produção, divisão natural do trabalho; não havia especialização e a
população era nômade.
Houve grande avanço nessas sociedades a partir do controle do fogo e
do desenvolvimento de instrumentos de pedra, madeira, ossos, peles e de peças
de cerâmica fria e queimada. Durante todo esse período (de 2,5 milhões a 20 mil
anos atrás), dizemos que a sociedade era de coletores-caçadores ou de
subsistência, pois sobrevivia de caça, pesca, coleta de frutas e raízes
comestíveis.
A agricultura e domesticação de animais surgiram há 15-20 mil anos,
construindo uma sociedade de horticultura e pastoreio, com possibilidades de
troca (escambo) de alguns poucos itens ou quantidades. Naturalmente, as
atividades de caça e coleta continuaram, mas não eram mais a fonte principal de
alimentos. Os métodos agricultura eram primitivos, como falta de rodízios de
culturas plantadas, o que enfraquecia a terra; de sistemas de irrigação para
atenuar períodos de seca e de técnicas de drenagem para as temporadas de
chuvas. Por isso, as pessoas eram obrigadas a constantes movimentações, com
ocupação territorial temporária.
A autoridade natural foi substituída para uma autoridade de base religiosa
ou militar, e a divisão natural do trabalho evoluiu para a especialização:

8
Humanos modernos: o que somos hoje, Homo sapiens sapiens.
8
caçadores, coletores, pastores e agricultores, com o artesanato sendo uma
segunda ocupação comum. Foi nessa época que apareceram os conceitos de
propriedade privada (rebanhos e produção agrícola) e escravidão.
Devido ao crescimento e à melhoria das técnicas de agricultura e
pecuária, a sociedade agrária teve início no Oriente Médio, em 8000 a.C.
Gradativamente, houve a sedentarização das tribos, formando cidades muito
povoadas, com estruturas religiosas, políticas e militares cada vez mais
complexas. A constituição do direito paterno sobre propriedades e família
desenvolveu novas práticas sociais, como a poliginia9. Instituiu-se a monarquia
despótica de direito divino e a religião politeísta.
Os grandes avanços tecnológicos dessa época foram possíveis devido à
criação e popularização da escrita e ao desenvolvimento de sistemas de troca
(sal, peças de ouro, prata, moedas); a contagem e as medidas favoreceram o
comércio. A divisão da sociedade em classes sociais se ampliou: rei, nobre,
sacerdote, militar, dono de terras, comerciante, artesão, serviçal, escravo.
A partir de 3000 a.C., surgiram as grandes civilizações precursoras da
sociedade ocidental: fenícios, mesopotâmios, hititas, hebreus, egípcios,
macedônicos, gregos, romanos, entre outros. A produção agrária poderia ser
economicamente majoritária, mas também havia grande produção de bens
duráveis (móveis, joias, cerâmicas, grandes construções, tecidos, equipamentos
de guerra) por imensas oficinas de artesãos e serviços diversos que também
geravam riqueza.
Até o século V (da era cristã), houve avanços significativos em artes
(literatura, arquitetura, escultura), filosofia, organização jurídica e política, mas
estruturas sociais e critérios econômicos e produtivos eram praticamente os
mesmos. Isso se modificou com as invasões dos povos bárbaros a cidades
romanas na Europa e com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476.
As pessoas fugiram das cidades romanas e passaram a viver em pequenos
vilarejos, sítios e fazendas isolados e o comércio desapareceu. Por quase 600
anos a Europa Ocidental era formada por sociedades de horticultura e pastoreio.
A partir do século X, grande parte da população já vivia em feudos10. Com
as Cruzadas, os saques às cidades prósperas do Império Bizantino e Oriente

9
Poliginia: o homem tem direito a mais de uma esposa, enquanto as mulheres só podem se
relacionar com o homem em questão.
10
Veja mais em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/feudalismo/481274>. Acesso em: 17
ago. 2020.
9
Médio encheram os cofres dos senhores feudais e também facilitaram o
comércio entre regiões mais distantes, ressurgindo o comércio em larga escala
e o retorno das sociedades agrárias.
Os próximos séculos foram de crescente desenvolvimento técnico-
científico, com aumento considerável da população europeia e descoberta das
Américas. Em torno de 1760, a Revolução Industrial11 começou na Inglaterra,
depois migrando para outros países da Europa e América do Norte. É importante
destacar a relação entre o Iluminismo12, a Revolução Industrial e o combate à
escravidão pela Inglaterra, a partir de 180713. Resumidamente, a Inglaterra tinha
tecnologia para alta produção (no contexto da época) e visava aos escravos
como futuros consumidores dos seus produtos industrializados.
Independente de questões éticas, a produção seriada e com
equipamentos mecanizados (força de máquinas a vapor) permitia usar novos
materiais, alta produtividade, mão de obra não especializada e barateamento no
custo dos produtos. Era o início da sociedade industrial.
As mudanças sociais que ocorreram entre 1760 e 1860, foram muito
negativas para as classes sociais europeias mais baixas (aqueles que
trabalhavam no chão da fábrica). O êxodo rural (migração das pessoas do campo
para a cidade em busca de melhores condições de vida) piorou a situação das
cidades, já populosas e sem saneamento básico, escolas e hospitais para a
população. As péssimas condições de trabalho e remuneração, o emprego de
crianças pequenas e a falta de segurança na execução da tarefa causavam
miséria e grande mortalidade. No entanto, o mesmo não acontecia com classes
sociais ligadas ao comércio dos produtos industrializados, profissionais
qualificados (engenheiros, administradores, contadores, advogados) e donos
das fábricas que tiveram crescimento socioeconômico elevado.
Depois de várias décadas, pressões sociais, como greves e
manifestações agressivas, promoveram a criação de leis específicas para
regulamentar atividades de trabalho, melhorando a situação dos trabalhadores
em geral. Com a regulamentação do trabalho e do crescimento da indústria

11
Veja mais em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/Revolu%C3%A7%C3%A3o-
Industrial/481567>. Acesso em: 17 ago. 2020.
12
Iluminismo. Veja mais em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/Iluminismo/481232>.
Acesso em: 17 ago. 2020.
13
Veja mais em: <https://reporterbrasil.org.br/2008/09/museu-mostra-como-europeus-se-
aproveitaram-da-escravidao/>. Acesso em: 17 ago. 2020.
10
bélica e complementares (vestiário, alimentação enlatada, aviação, motores etc.)
entre as décadas de 1920 e 1950, a sociedade industrial consolidou-se.
Todavia, é importante destacar que os países subdesenvolvidos entraram
tardiamente na Era Industrial. Como exemplo, as primeiras estruturas políticas e
econômicas para incentivo à construção de parques industriais no Brasil
surgiram de após de 1950.

TEMA 4 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE OCIDENTAL – PARTE 2

Podemos citar duas grandes transformações sociais que surgiram após o


fim da Segunda Guerra Mundial: a luta pelos direitos humanos para promoção
da melhoria social e combate à discriminação, e o início da globalização,
principalmente baseada nos novos meios de comunicação e de informação e na
disseminação dos princípios da economia industrial.
A discussão sobre os direitos humanos começou com a criação da
Organização das Nações Unidas (ONU) em outubro de 1945, que entre outras
ações proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 10 de
dezembro de 1948. Entre 1948 a 1980, os avanços da ONU e suas organizações
e programas14 para erradicar a extrema pobreza, promover maior equidade
social e eliminar a discriminação (racial, de gênero, de idade etc.) foram lentos e
com geraram poucas transformações concretas na sociedade mundial.
Por exemplo, na década de 1960 era notável nos países com parque
industrial bem desenvolvido o aumento de especialização acadêmica, técnica e
profissional, de diversidade cultural, de fonte de renda e padrão social, de
expectativa de vida e de participação política. Em contrapartida, alguns grupos
sociais específicos ainda sofriam com elevada desigualdade social e
preconceito, como negros e índios nativos americanos nos Estados Unidos.
Os avanços tecnológicos e da produção industrial proporcionaram
aumento do poder de consumo em diversos setores da sociedade, bem como
geraram pensamentos e comportamentos uniformizados em diversos países. No
entanto, a ausência de políticas adequadas para melhor aproveitamento dos
recursos naturais e resíduos do consumo acarretou impactos ambientais
negativos à vida no planeta.

14
ONU. Veja mais em: <https://nacoesunidas.org/>. Acesso em: 17 ago. 2020.
11
Dessa forma, o final do século XX trouxe uma nova filosofia que visava ao
desenvolvimento econômico e social à proteção ambiental. O conceito de
sustentabilidade, inicialmente restrito ao tema sobre meio ambiente,
reorganizou-se sobre um tripé: base econômica, base social e base ambiental.
A partir de 1985, surgiram as primeiras discussões sobre um paradigma social
emergente15 que se fortaleceu depois de 1995 com a revolução da internet16 e a
Web 2.0 (com melhor conexão, interatividade e velocidade): a sociedade pós-
industrial.
Como estamos vivenciando esse momento, ainda não sabemos como a
sociedade pós-industrial realmente é. No entanto, várias características já
podem ser identificadas: grandes avanços na distribuição e agilidade do
conhecimento e da informação, predominância do setor de serviços,
descentralização urbana, valorização da diversidade, da ética e da
responsabilidade econômica, social e ambiental das organizações.
O que se identifica nos países economicamente desenvolvidos e em
menor grau nos emergentes, é o processo de transformação social com
abordagens solidárias, inclusivas, éticas e, sob vários aspectos, individualizadas.
Isso somente é possível devido à quantidade, qualidade17 e velocidade na
transmissão de informação que temos hoje, assim como o poder que grupos
sociais anônimos exercem sobre governos e empresas a partir de manifestações
públicas e/ou campanhas de não consumo e desvalorização de marcas.
Nas sociedades em transformação social, os indivíduos desejam os
benefícios da produção industrial (produtos com preços compatíveis ao poder de
compra, manutenção dos padrões de qualidade esperados, inovação
tecnológica), aliados à melhoria de vida de toda a população (não apenas alguns
grupos sociais) e a não exploração dos recursos ambientais.
Essas pessoas também esperam que produtos e serviços possam ser
personalizados às suas necessidades físicas e emocionais, que a vida seja
constituída por momentos de trabalho (com renumeração financeira), lazer e,
principalmente, com significado (porque eu sou importante). Esse
comportamento diferenciado nas sociedades em transformação social é causado
18
pela geração Y ou millennials (nascidos no final da década de 1970 a 1990)

15
Paradigma emergente: Padrão ou modelo em desenvolvimento e ainda não aceito pela maioria.
16
Veja mais em: <https://escola.britannica.com.br/artigo/internet/481573 />.
17
Qualidade na informação também é combater as fake news.
18
Veja mais em: <https://rockcontent.com/blog/dossie-das-geracoes/>.
12
que agora são grande parte da população economicamente ativa. Entre outras
características, os millennials são mais flexíveis com mudanças, preocupam-se
com a sustentabilidade ambiental e participam mais em causas sociais.
Naturalmente, nos dias atuais ainda encontramos comunidades que se
caracterizam como sociedade de coletores-caçadores (algumas tribos indígenas
na Amazônia), de horticultura e pastoreio ou agrárias. Existem regiões que ainda
vivenciam, majoritariamente, os princípios da sociedade industrial, inclusive no
plantio de alimentos e na criação de animais. No entanto, mudanças sociais
estão em contínuo processo evolutivo e nós fazemos parte disso.

TEMA 5 – MIGRAÇÃO HUMANA

Para melhor compreensão, é necessário diferenciarmos os termos


migração, imigração e emigração.

• Migração: movimento que uma pessoa, grupo ou animal realiza de


determinado local para outro.
• Imigração: entrada de uma pessoa em um país estrangeiro para
estabelecer nova residência. O indivíduo que imigra é chamado imigrante.
• Emigração: saída da pessoa de seu país de origem para viver em outro.
O indivíduo que emigra é chamado emigrante.

A migração humana é um movimento que existe desde as sociedades


mais primitivas. Assim, mesmo na pré-história, o sujeito já se deslocava de um
local para outro, seja por melhores condições de produção agrícola, pecuária,
hídrica, climática, entre outras, que impactavam diretamente a vida daqueles
indivíduos. Existem vários tipos de migrações humanas:

• Sazonal: quando o deslocamento de uma região para outra está


relacionado ao clima ou aos períodos específicos, com vantagens para
caça, pesca, plantio etc.
• Pendular: quando o indivíduo se desloca regularmente entre duas
regiões, geralmente por questões de trabalho. Por exemplo, a pessoa
mora em uma cidade-dormitório e trabalha em outra.
• Forçada: quando o deslocamento é feito sem o consentimento ou
vontade do migrante. É o caso de pessoas escravizadas ou expulsas da
região onde moram por questões de domínio político, religioso ou étnico.

13
• Voluntária: quando o indivíduo vai para outra região para atingir
determinados objetivos pessoais/familiares.

Podemos identificar várias migrações humanas que impactaram na


evolução das sociedades: humanos modernos da África migrando para a
Eurásia, onde encontraram os neandertais e promoveram troca de conhecimento
e material genético; quando o Império Romano invadia uma região com milhares
de soldados e funcionários de governo, divulgava também a cultura greco-
romana; imigrantes alemães, italianos, portugueses, espanhóis e tantos outros
que vieram ao Brasil a partir de1850 e moldaram a identidade do povo brasileiro.
Analisando as migrações humanas entre países, no século XX, Martine
(2005) faz uma lista de vantagens e desvantagens da migração internacional.
São vantagens:

• Para o local de origem, a migração promove melhoria na economia,


devido às remessas que o migrante faz à família; alivia tensões sociais
onde a economia está estagnada e a população é de maioria jovem;
agiliza a modernização, pois quando o migrante volta ao local de origem,
as ideias e valores aprendidos no exterior são compartilhados localmente.
• Para o migrante, a migração propicia novos conhecimentos e
experiências; permite mobilidade social19 que o local de origem não
oferece; em certas situações, ajuda na emancipação da mulher.
• Para o local de destino, a migração revitaliza sociedades com população
envelhecida; preenche cargos e funções de trabalho que a comunidade
do destino não deseja realizar; aumenta a base de consumidores da
região de destino.

Quanto às desvantagens:

• Para o local de origem, a migração de pessoas com qualificação


específica gera a “fuga de cérebros” e há perda de pessoas criativas e
empreendedoras.
• Para o migrante, a migração é um fator de risco, especialmente para
mulheres e crianças; pode haver dificuldade com comunicação e
adaptação a outra cultura; pode ocasionar discriminação social e racial.

19
Mobilidade social: movimento de indivíduos ou grupos por meio das classes sociais.
14
• Para o local de destino, a migração causa conflitos sociais entre migrantes
e pessoas do local por questões discriminatórias ou diminuição na oferta
de empregos; aumenta a pressão nos serviços sociais, educacionais e de
saúde, bem como nos relacionados à segurança nacional.

TROCANDO IDEIAS

Sugerimos que você entre no fórum e conte para seus colegas como é a
estrutura social da sua família, os status e papéis sociais de cada indivíduo do
grupo familiar. E, o mais importante: como você foi influenciado por eles.

NA PRÁTICA

Para aprender mais sobre as gerações, leia o texto Dossiê das Gerações,
de Camila Casarotto, disponível no link: <https://rockcontent.com/blog/dossie-
das-geracoes/>. Aprofunde seu conhecimento lendo outros conteúdos
semelhantes que estão na internet, e então faça um texto com 500 palavras
respondendo: você tem características correspondentes à geração em que
nasceu? Por quê?

FINALIZANDO

Nesta aula, entendemos que toda sociedade tem uma estrutura


organizada e os indivíduos pertencentes a ela influenciam e são influenciados
pelo todo. Vimos que, para um agrupamento humano se constituir como
sociedade, deve apresentar finalidade social, manifestações de conjunto
ordenadas e poder social.
Estudamos brevemente a evolução da sociedade ocidental em aspectos
socioeconômicos e percebemos que hoje a sociedade pós-moderna é formada
por grandes avanços na tecnologia da informação e na responsabilidade
econômica, social e ambiental das organizações. Terminamos a aula
comentando sobre vantagens e desvantagens da migração humana.

15
REFERÊNCIAS

AQUINO, R. S. L. de et al. História das sociedades: das comunidades


primitivas às sociedades medievais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.

AQUINO, R. S. L. de et al. História das sociedades: das sociedades modernas


às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Record, 2001.

BATISTA, S.; FREIRE, E. Sociedade e tecnologia na era digital. São Paulo:


Érica, 2014.

CASAROTTO, C. Dossiê das Gerações: o que são as gerações Millennials,


GenZ, Alpha e como sua marca pode alcançá-las. Rockcontent.com, 2020.
Disponível em: <https://rockcontent.com/blog/dossie-das-geracoes/>. Acesso
em: 06 ago. 2020.

CORREIA, P. D. Manual de geopolítica e geoestratégia. Lisboa: Edições 70,


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