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REPÚBLICA DE ANGOLA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
IIº CICLO DO ENSINO SECUNDÁRIO

ELEMENTOS DE APOIO A DISCIPLINA DE


INTRODUÇÃO A ECONOMIA
PARA O CURSO DE C.E.J
12ª CLASSE

ELABORADO POR:
Professor António Massuengue

Nome:……………………………………………………...

Luanda, Outubro de 2022

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Índice
4. A problemática do desenvolvimento…………………………………………4
4.1 Organização económica da sociedade……………………………………………4.
4.1.1 Problemas básicos da organização económica da sociedade…………………4
4.1.2 Economia de Mercado. Funcionamento………………………………………6
4.1.3 Economia de Direcção Central. Funcionamento……………………………...7
4.1.4 A insuficiência dos modelos puros……………………………………………9
4.1.4.1 Economias Mistas…………………………………………………………9
4.2 Diferentes níveis de desenvolvimento das sociedades…………………………..10
4.2.1 Raízes históricas do Subdesenvolvimento……………………………………10
4.2.2 Crescimento e Desenvolvimento……………………………………………..11
4.2.2.2 Como Medir o Crescimento e o Desenvolvimento………………………12
4.2.3 Características dos países Subdesenvolvidos………………………………….17
4.2.3.1 Crescimento Populacional…………………………………………………18
4.2.3.2 Compartimentação da Economia………………………………………….18
4.2.3.3 Estrutura deficiente da actividade Económica…………………………….19
4.2.3.4 Desigual repartição dos Rendimentos……………………………………..19
4.2.3.5 Baixo nível de Investimento……………………………………………….19
4.2.3.6 Dependência Externa………………………………………………………20
4.2.3.7 Insuficiência de formação de Mão-de-obra………………………………..20
4.2.3.8 Estruturas mentais tradicionais…………………………………………….20
4.2.4 Factores de Subdesenvolvimento……………………………………………….21
4.2.4.1 Factores Externos…………………………………………………………..21
4.2.4.2 Factores Internos……………………………………………………………24
4.2.5 Teorias explicativas do Subdesenvolvimento…………………………………..26
4.2.5.1 Teorias Economicistas………………………………………………………27
4.2.5.2 Teorias Marxistas…………………………………………………………...28
4.2.6 Disparidade de situações………………………………………………………..29
4.2.6.1 Países de produção Pré-industrial – Países Menos Avançados (PMA)…….29
4.2.6.2 Países produtores de Petróleo………………………………………………29
4.2.6.3 Países com indústrias viradas para o Mercado interno……………………..30
4.2.6.4 Novos países industrializados (NPI) virados para o mercado externo……..30
4.2.6.5 Países com regime misto……………………………………………………31

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4.3 O processo de Desenvolvimento…………………………………………………31
4.3.1 A Evolução histórica da Economia do Desenvolvimento…………………….31
4.3.1.1 Anos 50/60 do Século XX………………………………………………….32
4.3.1.2 Anos 70 do Século XX……………………………………………………..34
4.3.1.3 Anos 80 do Século XX……………………………………………………..36
4.3.1.4 Anos 90 do Século XX……………………………………………………..37
4.3.2 A ajuda dos países Desenvolvidos: Doações, empréstimos, investimento……38
4.3.2.1 Causas da ajuda……………………………………………………………..39
4.3.2.2 Ajuda Pública ao Desenvolvimento (alimentar, de emergência, às ONG e aos
refugiados)………………………………………………………………………….....40
4.3.2.3 Ajuda Privada……………………………………………………………….41
4.3.2.4 Ajuda multilateral…………………………………………………………..42
4.3.2.5 Ajuda bilateral………………………………………………………………43
4.3.3 A dívida do Terceiro Mundo…………………………………………………..43
4.3.3.1 Uma visão geral do problema……………………………………………….43
4.3.3.2 O Crescimento através do endividamento dos anos 60-70 do Século XX….44
4.3.3.3 A falência da ajuda…………………………………………………………..45
4.3.3.4 O reescalonamento da dívida…………………………………………………46
4.3.3.5 A dívida contrariando o Desenvolvimento…………………………………..47
4.3.3.6 Programa de ajustamento estrutural………………………………………….49
4.3.4 Necessidade da mudança na política das ajudas…………………………………51
4.3.4.1 A desordem alimentar mundial………………………………………………52
4.3.4.2 A ajuda da Comunidade Europeia……………………………………………53

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Unidade IV - A problemática do desenvolvimento
4.1 - Organização económica das sociedades
4.1.1 Problemas básicos da organização económica da sociedade
Qualquer sociedade, desde os países mais industrializados do mundo até aos mais
pobres ou ilha dos mares do Sul, tem de resolver, de uma forma ou de outra, problemas
de natureza económica.
Tais problemas não surgiriam se os recursos fossem ilimitados. Se fosse possível
produzir todos os bens necessários, se fosse possível satisfazer completamente as
necessidades humanas, não se levantariam questões de organização económica. Como
todos poderiam ter tudo o que quisessem, a forma como os bens e rendimentos fossem
distribuidos pela população também deixaria de ter importância.
Mas a reallidade é bem diferente. Os bens são escassos, não é possível satisfazer de
igual modo as necessidades de todos e, por isso, é necessário organizar a economia para
que os bens escassos sejam utilizados de forma a satisfazer o máximo da necessidades.
Diariamente as pessoas querem e precisam de bens, como: alimentos, vestuários,
habitação, televisores, automoveis, lazer, água potável, ambiente saudável, etc. No
entanto, para que possam auferir esses bens é preciso prodizi-los, utilizando outros bens
como: aço, ferro, maquinas, água, etc.
Sabendo que as necessidades são ilimitadas e os recursos de que dispomos são escassos,
para a resolução dos problemas básicos da organização económica formula-se as
seguintes questões:
a) O que e quanto produzir?
A resposta a esta questão não involve apenas aspectos de natureza económica, pois já
sabemos que o consumo é influenciado por factores extra-económico: culturais,
históricas, geográficos, demográficos, etc. No entanto é necessário decidir porque os
recursos são escassos.
1- Quais as necessidades que devem ser prioritariamente satisfeitas.
2- Que quantidades de bens e serviços devem ser produzidas para as satisfazer.
b) Como produzir?
Face as várias alternativas que se colocam na organização do processo produtivo, é
preciso deciddir pela melhor combinação dos factores produtivos, com vista à
maximização da satisfação das necessidades.

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A opção pela tecnologia a utilizar depende essencialmente do nível de desenvolvimento
das sociedades, da maior ou menor preparação da mão-de-obra existente e dos recursos
naturais e financeiros disponiveis. Actualmente o conhecimento e a informçao
constituem factores cada vez mais importantes na organização da produção.
Mas as decisões sobre estas matérias não podem ser tomadas numa lógica estritamente
economicista, impondo-se considerações de natureza ambiental. Com efeito, o ambiente
é cada vez mais encarado como “capital” envolvendo um “custo” de utilização que deve
ser tomado em conta.
Assim, as opções de desenvolvimento económico têm de ter em consideração aspectos
qualitativos e não podem pôr em risco o bem-estar das gerações futuras, devendo
implicar uma combinação dos recursos existentes.
c) Onde e quando produzir?
A decisão da localização das unidades produtivas dependem de multiplos factores:
natureza dos bens e serviços produzidos, proximidade de matérias-primas, quantidade e
qualidade da mão-de-obra, acessibilidade, etc.
A localização das unidades produtivas, bem como a oportunidade das produções, devem
traduzir-se na adopção de opções que satisfaçam as necessidades colectivas. Todávia, é
preciso ter em consideração que a globalização e o desaparecimento de fronteiras
colocam novos problemas quanto à localização das actividades produtivas.
d) Para quem produzir?
A produção cria riqueza que irá ser repartida pelos diversos iintervenientes na
actividade produtiva: salário, renda, juros e lucros.
Uma das questões que se colocam às economias é decidir em que termos se processa a
repartição da riqueza entre o trabalho ( salário) e o capital ( rendas, juros e lucros) de
modo a promover a justiça distribuitiva.
Assim, os liberais dos séculos XVIII e XIX defendiam que as bases do modelo de
organização económica eram o individualismo e a livre-concorrência – o funcionamento
livre dos preços e do mercado levava automaticamente ao equilíbrio do sistema.
Em oposição, os críticos do sistema, influenciados pelo pensamento económico de
Marx, defendiam que o equilíbrio do sistema séria conseguido atráves do colectivismo e
do dirigismo estatal. Em substituição do livre funcionamento dos preços e do mercado
seriam implantados sistemas centralizados de controlo que coordenariam a produção , a
utilização dos recursos e a repartição do produto.

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Sendo, assim, se uma sociedade privilegia o valor liberdade, orientar-se-á
tendencialmente para a instauração de uma economia de mercado de pendor liberal. Se,
pelo contrário, uma sociedade considerar como prioritários os valores da igualdade e da
justiça, tenderá a introduzir mecanismos de planificação e de gestão da economia mais
ou menos próximos das economias de direcção central.
4.1.2 Economia de mercado. Funcionamento
Já fizemos refência à doutrina liberal, que defendia que a resposta aos problemas
económicos seria dada pelo livre funcionamento do mecanismo de mercado e pelo
sistema de preços.
Pode dizer-se que a característica essencial da economia de mercado é a propriedade
privada dos meios de produção. Como apenas alguns individuos são detentores dos
meios de produção, tal signífica que os outros (a larga maioria) têm de vender a sua
força de trabalho, a troco de um salário, para poderem sobreviver.
O papel animador da economia pertence à empresa, cabendo ao empresário as decisões
quanto aos bens e serviços a produzir. A empresa é, assim, o local onde se combinam os
elementos da produção, oriondos de agentes económicos distintos, para se obter um
produto que se vende no mercado ao preço que garante o máximo lucro.
Relembremos que o mercado é onde se confrontam vendedores (oferta) e compradores
(procura) a fim de se realizarem trocas (compras e vendas) a um preço acordado.
Com efeito, para obter o lucro pretendido pelo empresário, é fundamental que os bens e
serviços produzidos sejam adquiridos, ou seja, que satisfaçam necessidades.
É o mercado que sanciona a exactidão dos cálculos da empresa. O mercado estimula a
produção dos bens para os quais existe procura e dissuade aprodução de outros, atráves
do mecanismo dos preços. O empresário decide se a produção é rentável ao preço de
mercado e rege-se por ele. Será o livre jogo entre as variações da oferta e da procura que
irá determinar as quantidades transaccionadas e o preço de equilíbrio.
Dada a crescente interdependência da pessoas e dos países, a actual globalização esta
orientada pela expansão do mercado atráves do alargamento das fronteiras nacionais.
Ora, os mercados concorrenciais podem levar a uma maior eficiência, mas não garantem
o acesso de todas as pessoas aos bens essenciais.
O mecanismo dos preços assegura a adaptação entre a oferta e a procura, permintindo a
subsistência da economia e o equilíbrio entre o que se produz e o se consome.

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O conhecimento do comportamento previsível dos consumidores, bem como a actuação
de outras empresas concorrentes, constituem, assim, elementos fundamentais para que a
empresa possa planear a sua produção.
No início do capitalismo, o Estado não participa ddirectamente na actividade económica
para permitir o livre jogo dos interesses privados. No entanto, o desenvolvimento da
economia industrial e as sucessivas crises por que passaram as sociedades leva ao
aumento do papel do Estado que alarga o seu cammpo de actividade a vários domínios,
desde o assumir dde serviços e actividades não lucrativas, ao financiamento da
acumulação e produção privada, à concessão de subvenções e vantagens fiscais, etc.
Hoje, a intervenção do Estado assume especial signifícado na planificação, apontada
como um instrumento técnico fundamental ao serviço do desenvolvimento. Contudo
esta planificação é meramente indicada, uma vez em economia capitalista o Estado não
pode impor planos para não violar os direitos que derivam da propriedade privada,
nomeadamente a liberdade da empresa.
A planificação capitalista
A planificação capitalista não é mais do que a maneira como o Estado organiza a
intervenção pública em favor do interesse colectivo dos gupos capitalistas. Neste
sentido, a planificação é um fenómeno geral: em todos os países, mesmo naqueles como
EUA, Alemanha, onde o liberalismo é uma noção quase inexistente, existe um sistema,
mais ou mennos administrativo, destinado a programar a intervenção pública. Não há
que admirar: a planificação existe porque a organização económica e industrial é tal que
os grupos monopolistas não podem sobreviver sem ela. No EUA foi a grande crise de
1929 que levou o Estado Federal a apoiar a actividade nacional organizando a ajuda ao
sistema capitalista.
4.1.3 Econmia de direcção central. Funcionamento
Aceitavam os socialistas que as instituições básicas do liberalismo – lucro, concorrência
atráves do sistema de preço e propriedade dos meios de produção – eram responsaveis
pelas desigualdades na repartição do rendimento social e pelas seguidas crises
sectoriais. Eliminar essas instituições, substituindo-as por outras, constituiria o
objectivo específico da revolução socialista. A propriedade dos meios de produção
deveria pertencer à sociedade, e a organização da actividade não deveria ser guiada pelo
lucro, pelo individualismo e pela concorrência, mas sim por um único centro de
decisões, que actuaria no sentido de promover os interesses da colectividade.

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Podemos dizer que o traço fundamental de uma economia de direcção central é a
concentração nas mãos do Estado a responsabilidade de organizar a economia,
controlando a quase totalidade dos meios de produção.
A propriedade colectiva é uma propriedade social e pode revestir a forma de:
propriedade estatal (resultante de nacionalizações ou de empresas públicas criadas de
raiz) e de propriedade cooperativa.
Nestas economias, a actividade produtiva esta virada para a maximização da satisfação
das necessidades colectivas.
O predomínio das actividades dos Estado permite, atráves do plano, substituir os
mecanismos de mercado. Um organismo central de planeamento fixa os objectivos da
actividade económica, cabendo a essa autoridade central a determinação dos bens e
serviços a produzir, das técnicas a utilizar e o modo de repartir os resultados da
produção.
A planificação surge, assim, como um instrumento técnico imprescindível ao
funcionamento das economias de diirecção central. Pretende-se, atráves da melhor
gestão possível dos recursos disponiveis, maximizar os resultados da produção no
interesse da colectividade. A produção realiza-se em função dos objectivos previamente
fixados no plano.
O papel das empresas é executar o plano, o qual fixa igualmente os preços. Estes
constituem um instrumento de orientação da procura.
Os preços são fixados no plano de tal modo que, para um período dado, o valçor dos
bens de consumo produzidos ( ou a oferta global de bens de consumo) seja igual à
despesa global dos consumidores. Sendo fixados antes de se realizar a produção, são
independentes dos custos de produção.
Os preços constituem, assim, um importante instrumento de política económica.
Por exemplo, os preços dos bens de primeira necessidade podem ser inferiores ao seu
custo de produção, ao passo que os bens considerados supérfluos poderão ter preços
muito superiores àqueles custos.
É ainda o orgão central de planeamento que decide sobre a repartição da produção
nacional, de modo a conseguir o equilíbrio da produção e da procura, por um lado, da
poupança e do investimento, por outro.
De referir que a propriedade privada não é totalmente abolida: a casa de habitação, o
direito à propriedade da poupança e dos rendimentos do trabalho, os direitos
hereditários são reconhecidos. Admite-se ainda a propriedade privada dos meios de

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produção, desde que não sejam objecto de trabalho assalariado, uma vez que so se
distribuem rendimentos a titulo de trabalho.
4.1.4 A insuficiência dos modelos puros
4.1.4.1Economias mistas
Da exposição que acabámos de dessenvolver, infere-se que o laisser faire das econmias
de mercado e a planificação global das economias de direcção central se situam em dois
extremos opostos como formas de organoização da actividade económica.
A verdade é que, quando analisamos as economias reais, constatamos que todas elas
apresentam características das duas formas “puras”, ou seja, todas elas são sistemas
mistos.
Quanto às chamadas economias de mercado, é sobretudo o abalo provocado pela grande
depressão de 1929 que vai provar as insufciências do mercado e da livre-concorrência
para responder à profunda crise então vivida.
A intervenção do Estado foi inevitável para estabelecer a confiança dos agentes
económicos e minorar os efeitos das rupturas sociais. A adopção de políticas
intervencionistas foi preconizada sobretudo pelo economista John Maynard Keynes
(1883 – 1946) e até hoje a teoria keynesiana vem influenciando as políticas económicas
de muitos governos em quase todos os países.
Hoje, nos sistemas mistos de economia de mercado, todos reconhecem a
indispensabilidade do papel do Estado, sendo-lhe reconhecidos um conjunto de funções
económicas, a saber:
a) Enquadramento legal da actividade económica
b) Eficiência na afectação de recursos
c) Equidade na redistribuição dos rendimentos
d) Estabilidade económica e social
Quanto as chamadas economias de direcção central, sempre existiram sectores e
actividades que não estavam submetidos à autoridade central. É o caso de pequenas
propriedades agrícolas, da indústria artesanal e de algumas prestações de serviços. As
propria cooperativas, depois de venderem ao Estado o que estava estipulado no plano,
podiam vender no mercado, a preços mais elevados, o remanescente da sua produção.
A partir dos anos 60 do século XX, foi ensaiado um conjunto de políticas de
flexibilizaçao e descentralização, sendo adoptados alguns instrumentos próprios das
economias de mercado. Progressivamente abriram-se ao exterior, estabelecendo

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relações comerciais e admitindo, inclusivamente, algum investimento estrangeiro.
Surgiu então a designação de economia social de mercado.
4.2 – Diferentes níveis de desenvolvimento das sociedades
As diferenças de desenvolvimento económico entre os diferentes territórios do mundo
constituem um problema relativamente recente. A sua origem pode situar-se no século
XVIII e está intimamente relacionada com revolução industrial.
Em épocas anteriores ( e com excepção das chamadas sociedades primitivas, que
representam uma pequena percentagem da população mundial), os níveis de
desenvolvimento oscilavam entre 50 e 70 por cento.
É fundamentalmente entre 1750 e 1850 que, em consequência da revolução industrial,
se assiste a grandes transformações em alguns países e a um processo económico sem
precedentes, o que irá permitir um crescimento económico continuado, embora com
algumas flutuações.
Por essa razão, houve a tendêncina para aliar desenvolvimento a industrialização,
generalizando-se um fenómneno que teve lugar em circunstâncias históricas específicas.
Verificou-se depois que a industrialização não gera automaticamente o
desenvolvimento.
4.2.1 - Raízes históricas do subdesenvolvimento
O que explica estas diferenças no grau de desenvolvimento?
Por que razão alguns países progridem enquanto outros estagnam ou até mesmo
regriden?

Muita gente pensa que as diferenças de desenvolvimenton são tão velhas como o
mundo. Contudo, isto não é verdade. Antes das descobertas, os desniveis entre os
Europeus e os povos do Médio e extremo Oriente eram pouco significativos. Se a
Europa tem supremacia na navegação e na arte da guerra relativamente aos povos
orientais, as suas técnicas de produção não são superiores às daqueles países. A
desigualdade começa a partir da descoberta do caminho marítimo para a Índia,
resultante da organização do espaço económico mundial que os Europeus põem em
prática a seguir.
A Europa da idade média cobiçava os produtos orientais ( especiarias, sedas, algodões
finos). A descoberta do camninho marítimo para a Índia permite eliminar os
intermediários árabes e provocar uma diminuição de preços dos produtos do Médio e

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extremo oriente. Quase ao mesmo tempo, a America oferece novos produtos preciosos.
A África é menos rica e penetrável, mas as suas costas são assiduamente frequentadas
por toda a navegação em direcção ao Oceano Índico e America do Sul.
Que podem oferecer os Europeus em troca dos produtos que ambicionam?
Os artesão europeus superam os do extremo oriente só em alguns domínios – tecelagem
por exemplo -, mas trata-se de produtos cuja a procura é fraca nos países quentes da
Ásia do Sudoeste. A maior parte das vezes a única solução é pagar em metais preciosos
que vão buscar à America, subjugando os povos indígenas. Relativamente aos
Africanos, a situação torna-se mais fácil, na medida em que estes se entusiasmam por
quinquilharias, tecidos ou vidrilhos que os navegadoes lhes levam.
A Europa consegue, assim, unir os diferentes continentes num sistema planetário de
trocas e produzir o modo de pagamento que lhe convém. Mas a Europa, para aumentar o
seu domínio e diminuir a sua dependência relativamente ao extremo oriente, sempre que
pode, promove as culturas tropicais ( cana-de-açúcar, tábaco, café …) nos território que
controla na África e America.
As inovações técnicas e científicas do século XVIII permitem, quando aplicadas à
produção, um aumento espetacular de produtos e criam a necessidade de novos
mercados, pois os mercados nacionais depressa se encontram saturados. Este mercado
internacional é estruturado em redor das grandes praças comerciais e financeiras da
Europa do Norte, Londre, sobretudo.
O sistema mundial de trocas assegura, graças à acção discreta dos governos, mercados e
fontes de aprovisionamento aos industriais Europeus, fornecendo-lhe lucros avultados e
propiciando fortes investimentos. A expansão do comércio mundial aparece como
motor de crescimento industrial da Grã-Bretanha e de outros países da Europa do Norte
e, posteriormente, dos EUA.
A partir da revolução industrial, marcada sobretudo pelo aparecimento da força motriz,
da produção fabril, da evolução técnica e da acumulação de capital, que se assiste a um
crescimento continuado da produção.
4.2.2 - Crescimento e Desenvolvimento
O desenvolvimento é o crescimento mais a mudança; a mudança em questão é social e
cultural, e tanto qualitativa como quantitativa.
O crescimento e o desenvolvimento são fenómenos dinâmicos de longo prazo, que
traduzem realidades diferentes, embora tenham sido frequentemente utilizados como
sinónimos, quer na linguagem corrente, quer na linguagem especializada.

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O crescimento económico corresponde ao aumento da produção numa dada economia e,
consequentemente, ao aumento do consumo. Assim, podemos afirmar que o
crescimento económico se pode manifestar pelo aparecimento de mais produtos no
mercado: mais automóveis, mais alimentos, mais vestuário, mais electrodomésticos ou
mais divertimento e cultura.
A medida do crescimento económico pode ser feita atráves da volução do PNB.
Podemos assim dizer que há crescimento económico quando:
a) A produção aumenta, isto é, aumenta o PNB
b) O aumento da produção não é meramente ocasional, mantendo-se ao longo dos
anos.
Por outro lado, o desenvolvimento compreende a ideia de crescimento, mais é mais do
que o simples aumento da produção de um país.
O desenvolvimento é um processo essencialmente humana. Estão no âmago da
problemática do desenvolvimento questões de carácter eminentemente social, como o
emprego e a distribuição do rendimento, serviços básicos sociais, como a saúde e
educação.
François Perroux definiu o desenvolvimento como a combinação das mudanças mentais
e sociais de uma população que a tornam apta a fazer crescer, cumulativamente e de
forma duradoura, o seu produto real global.
Podemos então concluir que o crescimento é essencialmente quantitativo; e o
desenvolvimento é sobretudo qualitativo. Por isso se diz que o desenvolvimento é o
crescimento mais a mudança.
O desenvolvimento humano é um processo de alargamento das possibilidades de
escolha de toda a população, e não apenas de uma parte dela. Liberdade, democracia,
segurança, são, assim, aspectos fulcrais na perspectiva do desenvolvimento humano.
Por outro lado, o desenvolvimento não pode ignorar os dirreitos humanos: civis e
políticos, económicos e sociais e ainda os direitos colectivos. Em 1986, foi aprovado
pelas Nações Unidas o direito ao desenvolvimento como parte dos direitos colectivos, a
par do direito à paz ou do direito a um ambiente sadio.
4.2.2.2 - Como medir o crescimento e o desenvolvimento
São numerosos os índices que nos permitem analisar a importância do fenómeno do
crescimento: consumo de energia, produção de aço, dotaçao de capital, etc.

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No entanto, qualquer destes índices nos dá uma visão parcial do crescimento
económico, uma vez que nenhum deles cobre todos os aspectos desse crescimento que
vai desde o consumo privado e públco ao investimento, às exportações, etc.
Se quisermos exprimir por uma única grandeza os diferentes elementos que se
combinam no crescimento de uma economia, o PNB é o melhor indicador, pois
representa o valor total de bens e serviços criados anualmente pelos agentes nacionais.
O crescimento, em período longo, do produto real médio por habitante significa que o
crescimento dos recursos disponíveis é mais do que proporcional ao aumento da
população.
Contudo, este indicador – produto médio por habitante – não nos esclarece nem sobre o
conteúdo nem sobre a repartição do produto global. A repartição e a composição do
produto global podem ser mais ou menos favoráveis ao bem-estar humano: despesas
militar em período de preparação de guerra ou em período de guerra, produtos de luxo,
desperdício, etc., podem aumentar o PNB sem elevar o bem-estar em geral. Para além
disso, o PNB não tem em conta elementos de bem-estar não quantificáveis: por
exemplo, as vantagens inerentes à redução do tempo de trabalho, ou o melhoramento da
qualidade das mercadorias e serviços que o nível de preços só parcialmente reflecte.
Utilizam-se muitas vezes outors indicadores para analisar o progresso económico ligado
ao crescimento, em particular, o rendimento real por habitante – razão entre o
rendimento nacional a preços constantes e a população total – e o consumo por
habitante – relação entre o consumo privado e a população total, para o conjunto dos
bens e serviços ou mesmo para um produto-tipo.
A evolução destes indicadores mostra-nos que o crescimento dos recursos disponíveis e
dos rendimentos é acompanhado de um crescimento rápido do nível médio do consumo
privado por hahitante e de uma transformação da estrutura do consumo. Mas, como o
produto real médio por habitante, estes indicadores não nos dão sobre o modo como se
repartem as grandezas globais – produto, rendimento e consumo – entre os diferentes
agentes económicos, não nos permitem conhecer nem a evolução das disparidades das
remunerações individuais, nem as transformações que se operam na estrutura dos
consumos ao nível das categirias socioprofissionais.
Se estes indicadores, apesar das suas limitações, permitem uma medição mais ou menos
correcta do crescimento económico, são já manifestamente insuficientes para medir o
desenvolvimento.

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A medida do desenvolvimento exige o uso de outros indicadores de ordem sociocultural
e atémesmo política, como, por exemplo: número de hatantes por médico, taxa de
alfabetização, número de jornais editados, taxas de participação em eleições, etc.
Produto per capita e rendimento nacional per capita
Apesar das críticas a que são sujeitos, o Produto per capita e o Rendimento Nacional per
capita continuam a ser indicadores fundamentais quando se estudam problemas do
desenvolvimento.
Categorias das economias segundo o Banco Mundial:
a) Economias com fraco rendimento – Rendimento per capita igual ou inferior a
760 dólares.
b) Econmias com rendimento intermédio – Rendimento per capita compreendido
entre 761 e 9360 dólares.
c) Econmias com rendimento elevado – Rendimento per capita superior a 9360
dólares.
É necessário ter em atenção o facto de o comportamento global da economia não se
reflectir do mesmo modo em toda a população do país. Com efeito, nem sempre o
aumento do Produto ou do Rendimento per capita significam um avanço em termos de
desenvolvimento. Não podemos esquecer que se trata de uma médida que,
frequentemente, esconde enormes assimetrias na distribuição do rendimento. Como
veremos mais à frente, uma das características das sociedades subdesenvolvidas é,
justamente, a existência de minorias que usufruem de elevadíssimos rendimentos, a par
do grosso da população que vive na maior miséria.
Daí a necessidade de recorrer a outros indicadores quando se pretende estudar a
problemática do desenvolvimento.
Nos ultimos anos, com o aperfeiçoamento dos meios de recolha das informações e com
o recurso ás novas tecnologias no seu tratamento, os dados estatísticos vão ganhando
maior credibilidade. O certo é que existe hoje todo um conjunto de indicadores que nos
permitem obter dados importantes sobre o estádio de desenvolvimento dos países,
tomando em consideração aspectos relevantes de natureza social, demmográfica,
cultural, etc.
PIB ou PNB nominal » é usado para medir a actividade económnica total, a prreços
correntes.

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PIB ou PNB real » mede a actidade económica total a preços constantes, sendo muito
útil para acompanhar a evolução da economia ao longo do tempo, uma vez que revela as
variações da produção na ausência de inflação.
PIB per capita » é usado como indicador de bem-estar económico global, constituindo
um bom indicador de nível de vida. Cruzando esta informação com osrendimentos
mínimo e máximo, tiram-se algumas conclusões sobre o tipo de desenvolvimento da
sociedade em análise.
Produtividade » mede a produção por unidade de trabalho ou de capital e focaliza a
tendência, especiallmente em relação a outros países. O crescimento económico reflecte
o crescimento da força de trabalho mais o crescimento da produtividade do trabalho.
Se estes indicadores, apesar das suas limitações, permitem uma medição mais ou menos
correcta do crescimento económico, são já manifestamente insuficientes para medir o
desenvolvimento.
A medida do desenvolvimento exigem o uso de outro indicadores de ordem
sociocultural e até mesmo política, como, por exemplo: número de habitantes por
médico, taxa de alfabetização, número de jornais editados, taxas de perticipação em
eleições, etc.
Outros indicadores – Demográficos
Alguns indicadores demográficos, como taxa de mortalidade infantil, taxa de
mortalidade geral e esperança de vida à nascença, são extroardinariamente importantes
na medina em que reflectem largamente as condições as condições económicas e sociais
de um país.
Com efeito, estes indicadores estão em estreita correlação com os hátitos de higiene e
alimantação com as condições de assistência médica e hospitalar e com o nível de vida
das populações.
Estas taxas determinam-se da seguinte maneira:
Total de óbitos
Taxa de mortalidade geral = Total de população × 1000
ó𝑏𝑖𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑟𝑖𝑎𝑛ç𝑎𝑠 𝑑𝑒 0 𝑎 1 𝑎𝑛𝑜
Taxa de mortalidade infantil = × 1000
𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑛𝑎𝑑𝑜𝑠−𝑣𝑜𝑣𝑜𝑠

Outros indicadores – Económicos-sociais


Número de médicos por 100.000 habitantes (em 2002, Angola tinha 8 médicos por cada
100.000 Hab.), desequilíbrios na utilização dos recursos (em 2002 a despesa pública de

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educação foi de 3.9%; para saúde foi de 2.1% e para serviços militar foi de 4.7%),
estrutura da produção, consumo de energia, índice de desenvolvimento humano (IDH).
Índice de desenvolvimento humano, desede 1990, o indicador estatístico da ONU que
maior interesse desperta na análise das questões do desenvolimento é o chamado índice
de desenvolvimento humano. O IDH mede as realizações médias do desenvolvimento
humano básico num único índice composto. Baseia-se em três elementos essenciais da
vida humana: a longevidade o saber e o nível de vida, que são calculados da seguinte
maneira:
- A longevidade é medida pelo número médio de anos de esperança de vida;
- O saber é medido por um índice em que intrvém a taxa de alfabetização de adultos,
com o peso de dois terços (2/3), e o nível de instrução ( número médio de ano de
instrução), com o peso de um terço (1/3).
- O nível de vida é medido pelo poder compra calculada a partir da ponderação do PIB
real por habitante (em dólares), pelo custo de vida ( paridade e poder compra).
O valor do IDH para cada país indica a distância a percorrer para obter certos
objectivos: um tempo médio de vida de 85 anos, acesso à educação para todos e um
padrão de vida decente, a que corresponde o valor máximo de 1. A diferença entre o
valçor máximo do IDH e o valor alcançado por um país mostra o défice do país em
IDH.
A ONU considera como possuindo um desenvolvimento elevado, os países em que os
índices se situa ent e 0,8 e 1; como possuindo um desenvolvimento médio, entre 0,5 e
0,8; e com um baixo nível de desenvolvimento, aqueles cujo IDH é inferior a 0,5.
As disparidades de género estão entre as mais profundas e penetrantes desigualdades. A
partir de 1995, a ONU introduziu um novo índice – Índice de Desenvolvimento
Ajustado ao Género (IDG) – o qual mede o nível de realização quanto às mesmas
capacidades básicas do IDH, mas tem em conta a desigualdade de realização entre
homens e mulheres. Quanto maior a disparidade entre os sexos quanto às capacidades
básicas, mais baixo o IDG de um país, comparado com o seu IDH.
Para avaliar a desigualdade entre os sexos utiliza-se ainda a Medida de Participação
Segundo o Género (MPG), construída explicitamente para medir a aquisição relativa de
poder por homens e mulheres, nas esferas da actividade política e económica.
É assim que, no seu esforço para apresentar dados que permitam um cada vezmelhor
cohecimento da realidade, em 1997, um novo índice – Índice de Pobreza Humana
(IPH), em que a pobreza, nos países em desenvolvimento, é encarada não apenas como

16
simples privação de rendimentos, mas como privação nos três elementos essenciais da
vida humana já identificados no IDH: longevidade, conhecimento e padrão de vida
adequado.
a) A primeira privação relaciona-se com a sobrevivêncnia – percentagem de
pessoas que não esperam sobreviver aos 40 anos.
b) A segunda privação relaciona-se com o conhecimento – percentagem de adultos
analfabetos.
c) A terceira privação relaciona-se com o padrão de vida adequado – representada
por um compósito de três variáveis: percentagem de pessoas sem acesso a água
potável, percentagem de pessoas sem acesso a serviços de saúde e percentagem
de crianças com menos de 5 anos com peso deficiente.
Trata-se de uma tentativa de mensuração do complexo problema da pobreza, sendo
importante constatar que não os países com maior rendimento que melhor
colocados. Com efeito, o combate à pobreza está mais relacionado com políticas de
distribuição do rendimento e com políticas sociais do que com a riqueza global do
país.
Essa constatação levou a que, em 1998, um novo índice tenha surgido para medir a
pobreza humana nos países industrializados, a qui foi dado a designação do IPH2 ( o
anterior passou a designar-se por IPH1), o qual veio demostrar que, nesses países, 7
a 17% da população é pobre.
Mas, dado que a privação humana varia com as condições económica e sociais de
uma detrminada comunidade, embora o IPH2 incida sobre as mesmas privações do
IPH1, os critérios foram adaptados e introduziu-se uma dimensão adicional – a
exclusão social.
Assim, para o cálculo do IPH2 consideram:
- Percentagem de pessoas que provavelmente morrem antes dos 60 anos;
- Percentagem de pessoas cuja capacidade de leitura e escrita está longe de ser
adequada ( analfabetismo funcional);
- Proporção de pessoas com rendimentos inferiores a 50% da média;
- proporção de desempregados de longa duração (1 ano ou mais).
4.2.3 – Características dos países subdesenvolvidos
As características dos países subdesenvolvidos constituem obstáculos à sua
modernização, traduzindo-se em factores de subdesenvolvimento. No entanto
podem ser identificados os seguintes aspectos como características dos países

17
subdesenvolvidos: crescimento populacional, compartimentação da economia,
estrutura deficiente da actividade económica, desigual repartição dos rendimentos,
baixo nível de investimento, dependência externa, insuficiência de formação da
mão-de-obra e estruturas mentais tradicionais.
4.2.3.1 Crescimennto populacional.
Foi após a segunda guerra mundial que se iniciou o feómeno da exploração
demográfica, acentuando-se a discrepância entre as taxas anuais de cresimento
populacional nas nos países industrializados (0,8%) e os países do terceiro mundo,
tendo atingido os 3% na America Latina.
A melhoria dos cuidados médico-sanitários fez diminuir as taxas de mortalidade,
mantendo-se, todavia, as elevadas taxas de natalidade. estas devem-se aos seguintes
factores. analfabetismo, crenças religiosas, falta de informação sobre os métodos
anticoncepcionais, casamentos muito jovens e ainda o facto de os filhos serem
encarados como fonte de rendimento e um sustento na velhice dos pais.
O cresimento populacional constitui um obstáculo ao desenvolvimento quando o
aumento da produção não acompanha o aumento da população, pois o PIB per
capita diminui. O agravamento da pobreza e da desigualdade, a fraca educação das
crianças, a degradação da saúde ( das mães e das crianças) e a maior pressão sobre
os solos, com repercussões na alimentação e no ambiente.
Vários países têm posto em prática políticas de controlo de nascimento e de
planeamento familiar, acompanhadas da promoção do estatuto da mulher, da
educação e do emprego. É preciso encontrar um equilíbrio entre a capacidade de
criação de riqueza – e, portanto, de rendimento – e a população do país.
4.2.3.2Compartimentação da economia
O colonialismo provocou nestes países uma forte desestruturação das suas
economias, que passaram a estar sujeitas à lógica e aos interesses dos países
colonizadores. Sacrificaram-se culturas de subsistência, em prol de grandes
explorações destinadas à exportações, em geral uma ou duas produções ( café,
borracha, algodão, petróleo), traduzindo uma situação de monoprodução e,
consequentemente, de monoexportação.
Esta estrutura económica deformada é agravada pelo facto de o principal cliente ser
o país colonizador, numa situação de monomercado. A economia torna-se frágil e
dependente, sem possibilidade de influir nas condições de mercado.

18
Ocupando o sector primário um peso elevado na estrura de produção, verifica-se
que, a par de uma agricultura moderna e produtiva ( frequentemente ligada ao
capital estrangeiro), predomina uma agricultura de subsistência e pouco produtiva.
Quanto ao sector secundário, é, em regra pouco significativo, com excepção de
algumas indústrias ligeiras, muitas vezes resultantes da deslocalização, para
beneficiar da mão-de-obra barata. O sector terciário é pouco relevante.
O desequilíbrio e a desarticulação entre os sectores, a par do dualismo económico,
impedem a modernização da economia.
4.2.3.3 Estrutura deficiente da actividade económica
Para além do desequilíbrio entre os sectores de actividade económica, a baixa
produtividade dos factores produtivos é outro problema com que se defrontam as
economias subdesenvolvidas.
Faltam infra-estruturas, como colheita e distribuição de água para a indústria, redes
de energia e de transporte, equipamentos assistenciais e de saúde para o pessoal.
refira-se, ainda, a ausência de uma estrutura produtiva circundante favorável, o
abastecimento adequado de matérias-primas e o apoio na reparação e mannunteção
de equipamentos.
4.2.3.4 Desigual repartição dos rendimentos
Com efeito, verifica-se que, por um lado, os consumos das classes ricas destes
países são acentuadamente dirigidos para bens e serviços importados e, por outro, a
maior parte das suas poupanças é colocada no estrangeiro.
A verdade é que, nos países subdesenvolvidos, a repartição dos rendimentos é muito
desigual, detendo uma pequena parte da população uma grande parcela dos
rendimentos, enquanto a maior parte da população fica com uma pequena parcela, o
que vai originar profundas desigualdades sociais. Estas desigualdades, além de um
desperdício, são socialmente desestabilizadoras. Vencer as forças estruturais que
criam e perpetuam a extrema desigualdade é um dos caminhos mais eficazes para
vencer a extrema pobreza e acelerar o progresso.

4.2.3.5 Baixo nível de investimento


Tendo em conta o baixo nível de rendimento per capita e ainda o facto de uma parte
do rendimento nacional ser constituida pelo lucro dos investidores estrangeiros, que

19
o enviam para os respectivos países, o investimento nos países subdesenvolvidos é
fraco.
Com efeito, se a população aufere magros rendimentos, que muitas vezes nem chega
para satisfazer as suas necessidades de consumo, não admira que a poupança seja
baixíssima. Por outro lado, como já vimos, os ricos canalizam as suas poupanças
para os países desenvolvidos, o que agrava a situação.
Ora, sem poupança, não há investimento; sem investimento, não há produção; e sem
produção, não há criação de riqueza que proporcione a repartição de rendimentos. A
solução tem sido o recurso ao capital estrangeiro, com o agravamento da dívida
externa.
4.2.3.6 Dependência externa
Dados os saldos comerciais desfavoráveis, a saída dos lucros das empresas
estrangeiras, os juros dos empréstimos obtidos noutros países, a balança de
pagamento dos países subdesenvolvidos apresenta-se, em regra, deficitária. Tal
provoca uma fuga permanente de divisas e o agravamento da dívida externa e, com
isso, a dependência dos países ricos.
Essa dependência faz-se sentir a vários níveis ( comercial, financeiro, tecnológico,
político…) Constituindo uma característica dos países subdesenvolvidos,
transforma-se num pesado obstáculo ao desenvolvimento e num factor de
manunteção do subdesenvolvimento.
4.2.3.7 Insuficiência de formação da mão-de-obra
Nas estruturas económicas subdesenvolvidas, o trbalho é pouco produtivo. Basta
pensar nas elevadas taxas de analfabetismo e nas grandes carências a nível da
educação e formação. Ora, é a escolarização e a formação profissional que permitem
ao trabalhador adquirir competências imprescindíveis para criar condições de
empregabilidade, além de melhorar a produtividade em geral.
O baixo nível de escolarização constitui um factor bloqeador. Por essa razão, a
educação constitui um objectivo crucial do desenvolvimento humano e uma chave
do progresso. A universalização do ensino básico e a anulação dos hiatos entre os
sexos simbolizam a esperança de que a transmissão da pobreza entre as gerações
possa ser quebrada.
4.2.3.8 Estruturas mentais tradicionais
A existência de uma fraca mobilidade vertical entre grupos – onde predomina a
família patriarcal, clã, a tribo – dá à sociedade uma certa rigidez, não permitindo o

20
aparecimento da mobilidade social e o aparecimento de classes médias. A
consequência é a dependência em relação ao grupo a que se pertence, pouco
significando a iniciativa e o esforço pessoal.
O respeito pelas tradições miniza estimulo económicos. Há também valores de
natureza religiosa que questionam o esforço económico, como a contemplação de
certos fins superiores ( resignação, ascetismo) ou a visão determinista da vida. Do
sistema de valores de uma comunidade e da estrutura dos grupos sociais resultam
atitudes. As atitudes sociais são, muitas vezes, tradicionalistas e pouco dispostas a
aceitar modificações.
As políticas de desenvolvimento terão de vencer os obstáculos, nomeadamente
atráves de reformas, modernizando os valores. A difusão do ensino, a promoção do
sindicalismo, a transformação das estruturas da família patriarcal fazem perte do
esforço de desenvolvimento em que se atende aos aspectos extra-económicos.
4.2.4 – Factores de subdesenvolvimento
4.2.4.1 – Factores externos
O subdesenvolvimento da maior parte das regiões do globo é em grande parte um
reflexo ou consequência do desenvolvimento do capitalismo. E o
subdesenvolvimento não pode ser visto como um atraso, no sentido de um simples
desfasamento de uma caminhada comum, mas atraso numa corrida em que uns vão à
frente dos outros.
Há na realidade caminhos diferentes, em que um grupo de economias desenvolvidas
centrais vai dominando e arrastando um outro conjunto de economias
subdesenvolvidas, periféricas e dependentes que não evoluem nem qualitativa nem
quantitativamente da mesma forma do núcleo central.
Vejamos os factores externos que originam o subdesenvolvimento dos países do
terceiro mundo:
4.2.4.1.1 A expansão do comércio internacional
Ligada à manunteção de uma certa divisão internacional do trabalho, a estrutura do
comércio internacional é um dos aspectos que contribui para a situação de
subdesenvolvimento.
Após a segunda guerra mundial, o comércio faz-se cada vez mais entre os países
ricos. A participação das economias subdesenvolvidas no comércio internacional
teve uma quebra bastante grande. A participação no total das exportações passou de
cerca de 30% em 1950 para 17% em 1970. Em compensação, a participação dos

21
países desenvolvidos passou de 50% para cerca de 70%. Contudo, a composição das
exportações dos dois grupos de países não se alterou. Os primeiros continuam a
exportar essencialmente produtos agrícolas, alimentares e combustíveis e os
segundos artigos manufacturados. Mais do que a diminuição da participação nas
exportações é a sua composição que influência negativamente o desequilíbrio do
comércio internacional sobre as economias dos países subdesenvolvidos.
4.2.4.1.2 O processo de acumulação do capital
Indispensável ao desenvolvimento capitalista, a acumulação de capital processa-se
de forma diferente nos países desenvolvidos e nos subdesenvolvidos. Nestes
últimos, a acumulação de capital é dominada e condicionada pelos interesses
fundamentais dos primeiros.
Muitos autores que estudam o problema do desenvolvimwnto consideram que o
processo de acumulação de capital dos países desenvolvidos é incrementado por
uma certa divisão internacional do trabalho em que as economias subdesenvolvidas
asseguram o fornecimecimento de matéria-primas e alimentos indispensáveis ao
funcionamento das economias industrializadas, o que permite a sua especialização
como produtoras mundiais de manufafacturas.
Este crescimento, assente na exploração e exportação dos recursos naturais, é
reprodutor das desigualdades dentro do próprio país. Acentua as diferenças entre
minorias que podem ascender a níveis e estruturas de consumo elevados – com
recurso à importação desses bens – e uma minoria que se mantém ao nível da
subsistência e integrada nas estruturas produtivas tradicionais.
4.2.4.1.3 Dependência estrutural relativamente ao centro
Esta dependência traduz-se na incapacidade de um país por si só e de forma
automática superar o estado de dependência que se encontra face ao exterior.
Os dois aspectos estudados – divisão internacional do trabalho e a acumulação de
capital – permitem nos concluir da forte dependência dos países subdesenvolvidos,
que se manifesta aos mais diversos níveis – económico, político e cultural.
O subdesenvolvimento é, pois, estrturalmente dependente, emboa essa dependência
possa assumir graus diferentes, que podem ir até formas extremas de domínio do
capital estrangeiro, como acontece em muitos países da América Latina.
Para mais facilmente podermos estudar a dependência destes países, vamos analisar
separadamente as diversas formas de que se pode revestir:

22
- Dependência comercial – se manifesta pela progressiva substituição dos produtos
tradicionalmente exportados pelos países subdesenvolvidos – matérias-primas e
produtos alimentares – por sucedâneos sintéticos ultimamente descobertos, bem
como pela crescente produção de bens alimentares por parte dos países
industrializados. A produção de borracha sintética, de fibras têxteis artificiais, dos
plásticos, etc., veio competir com a borracha, com o algodão. A redução da procura
dos produtos que estes países exportavam contribui para a degradação dos seus
preços nos mercados internacionais.
- Dependência tecnológica – o progresso tecnológico refere-se tanto à produçao
mais económica de produtos existentes como à criação de novos produtos.
A história do capitalismo está ligada às inúmeras inovações tecnológicas que sempre
facilitaram a acumulação de capital.
Como decorre o movimento de transfência de tecnologia?
» Transferência de conhecimentos resultantes do simples contacto cultural;
» Importação de produtos que incorporam a tecnologia, quer se trate de bens de
consumo, quer de bens de capital;
» Contratos de modernização da estrutura produtiva entre os países desenvolvidos
tecnologicamente e os países meos desenvolvidos em que os primeiros fornecem os
projectos e a tecnologia e os segundos se obrigam a determinados compromissos,
normalmente pagamento sob a forma de “royalties”(percentagem fixa das vendas do
produto fabricado com a tecnologia em questão)
Dependência financeira - A análise da dependência financeira está relacionada
com muitos dos aspectos já estudados e com os processos de forrmação e
exportação do excedente criado. A dependência financeira estaá ligada ao
desequilíbrio estrutural das balanças de pagamentos e às necessidades de
financiamento externo daí decorrente.
Dependência política – A maior parte dos países subdesenvolvidos, após a
descolonização, proclamaram a sua independência política, assumindo um papel
importante nas instâncias internacionais, nomeadamente na ONU.
Todavia, no plano económico, as suas fragilidades eram enormes, como já vimos, o
que implicava o recurso às ajudas externas.
O certo é que a dependência económica gerou a dependência política que se
reflectiu internamente nos mais diversos aspectos, não só ideológicos mas também
cultural.

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Dependência cultural – As diversas formas de dependência referidas geram
inevitavelmente uma dependência cultural que abrange os mais diversos aspectos. A
minoria privilegiada da população, muitas vezes formadas em Universidades da
Europa e dos EUA, adopta modos de vida e padrões de comportamento idêntico aos
dos países desenvolvidos, o que não deixa de surtir efeito sobre a maioria da
população colonizada culturalmente.
4.2.4.2 – Factores internos
Como vimos atrás, o domínio das economias do terceiro mundo pelos grupos
monopólistas foi frequentemente gerador de grandes desigualdades nesses países e
de uma estrutura económica e social deformada. Vejamos os factores internos de
subdesenvolvimento.
4.2.4.2.1 Estrutura económica e social deformada
Esta estrutura económica deformada apresenta os seguintes traços:
» Monoprodução – desenvolvimento unilateral e relativamente exagerado de um
dos dois ramos da produção pertecentes ao sector primário ou a indústria extractiva.
» Monoexportação – exportação de um ou dois produtos do sector primário, cujas
receitas são quase a única fonte de divisas. Esta estrutura conduz a uma enorme
dependência dos mercados estrangeiros.
Monomercado – normalmente as exportações dos países subdesenvolvidos bem
como as suas importações estão dependentes de um único país desenvolvido a que
se encontra ligado por razões históricas – é a metrópole económica.
Vemos, assim, que o sector primário é largamente predominante nos países
subdesenvolvidos. Com efeito, o sector secundário é pouco significativo, limitando-
se, em regra, a algumas indústrias ligeiras, encontrando-se o sector terciário também
pouco desenvolvido, com serviços escassos e mal organizados.
4.2.4.2.2 Dualismo económico
Dualismo económico traduz-se na coexistência, dentro da mesma economia
nacional, de um vasto sector de economia pré-capitalista assente numa agricultura
de subsistência e em actividades artesanais, paralelamente com um pequeno sector
de economia capitalista integrado na economia mundial. Dedicado
fundamentalmente à exploração mineira ou à monocultura extensiva para
exportação.
Na verdade, os países ditos em via de desenvolvimento não têm uma mas duas
economias:

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Uma economia dita moderna, mas diferindo completamente de uma economia
desenvolvida em que cada indústria encontra nas outras indústrias clientes e
fornecedores. Ela funciona como simples prolongamento da economia dos países
mais avançados, como parte integrantes dos seus sistemas de produção numa
situação de dependência total.
A outra, autónoma, é completamente desligada da primeira. Funcionando em
circuito fechado, está condenado à ineficiência e à regressão.
4.2.4.2.3 Impreparação da mão-de-obra
A maior parte da mão-de-obra dos países subdesenvolvidos encontra-se na
agricultura. Todavia, o desconhecimento de técnicas agrónomas adequadas, a
dependência da situação climática, a erosão dos solos, as devastações causadas pelas
guerras têm vindo a provocar um decrescimo de produtividade da agricultura, com
conssequências funestas na situação alimentar Das populações.
Quanto à reduzida taxa de população activa nos outros sectores, revela também uma
baixa taxa de produtividade. Os baixos índices de alfabetização e educação, a
dificuldade de acesso a meios de informação e o reduzido número de equipamentos
são factores que explicam uma fraca produtividade do trabalho.
Apenas uma uma minoria inferior a 5% constitui a elite que domina o poder
económico e político, quando não opta por ir trabalhar para o estrangeiro,
frequentemente nos países desenvolvidos. Esta fuga de cérebros para o estrangeiro é
outro problema com que os países subdesenvilvidos se deparam. Como forma de
superar esta grave questão, que constitui um bloqueio ao desenvolvimento, impõe-se
um investimento sério na educação.
4.2.4.2.4 Exploração demográfica
Inicialmente resultante da melhoria dos cuidados médicos e sanitários de combate às
epidemias, com a consequente redução da taxa de mortalidade infantil, a exploração
demográfica é um grave problema na maioria dos países subdesenvolvidos, uma vez
que a população cresce a um ritmo superior à produção, não permitindo a
alimentação de todos.
Vários países, sobretudo na Ásia, tentam soluciona-lo atráves de madidas de
planeamento famíliar.
Valores culturais e religiosas funcionam frequentemente como obstáculo à adopção
de medidas de limitação da natalidade, indispensáveis para se poder alcançar um
aumento do nível de vida das populações.

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4.2.4.2.5 Estrutura agrária desequilibrada
Uma estrutura agrária desequilibrada traduz-se na distribuição muito desigual das
terras, com grandes latifúndios no mmeio de um pequeno número de proprietários,
frequentemente empresas estrangeiras, que praticam uma cultura extensiva virada
para exportação. As pequenas parcelas de terreno disponíveis para a maioria da
população propiciam apenas a possibilidade de uma agricultura de subsistência
manifestamente insuficiente.
4.2.4.2.6 Estrutura social heterogéea
Nos países subdesenvolvidos a disparidade de rendimentos e consequentes níveis de
vida é enorme. A opulência(abundância de riqueza) de uma minoria corresponde a
grande miséria da maioria da população, não se verificando a existência de uma
classe média significativa.
Exemplo claro dessa segregação social é a desigualdade na divisão dos rendimentos.
O fosso que se cava nos países em desenvolvimento é um dos indicadores essenciais
do subdesenvolvimento. É por isso que os valores médios do PIB por habintante
podem induzir em erro.
O milagre económico ocorrido no Brasil entre 1960 – 1980 é disso um bom
exemplo. Durante este período, o Brasil tornou-se uma potência económica.
Todavia, 1% dos mais ricos arrecadavam tanto como 50% dos mais pobres.
4.2.5 – Teorias explicativas do subdesenvolvimento
Como vimos, o fenómeno do subdesenvolvimento é relativamente recente. Assim,
também as teorias que tentam explicar o fenómeno do subdesenvolvimento são
recentes. Elas surgem após a segunda guerra mundial, como consequência da
descolonização, e estão directamente ligadas a preocupações políticas.
Durante muito tempo, as principais decisões da economia mundial não tomaram em
consideração as consequências que teriam sobre dois terços da humanidade. O
subdesenvolvimento só se impõe como realidade nos anos 50 do século XX e leva
ao aparecimento de diversas teorias explicativas.
Procuraram-se teorias do desenvolvimento simples, quase unicausais, que levaram à
criação de modelos implícitos ou explícitos de prescrições políticas. Afrontaram-se
teses contraditórias, esquecendo-se de que se tratava de uma problemática não só
económica, mas também histórica, cultural, antropológica e, obviamente, política.
Assim, a origem do subdesenvolvimento tem sido atribuída a factores diversos:
a) Subdesenvolvimento como fenómeno natural;

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b) Subdesenvolvimento como atraso de desenvolvimento;
c) Subdesenvolvimento como bloqueamento ao crescimento.
Este diverso entendimento sobre as origens do subdesenvolvimento tem conduzido ao
aparecimento de diferentes teorias explicativas do subdesenvolvimento que se podem
classificar em dois grandes grupos:
A. Teorias economicistas
- Teoria do crescimento económico de Rostow
- Teoria do ciclo vicioso da pobreza
B. Teorias marxistas
- Teoria do imperialismo
- Teoria do dualismo económico
4.2.5.1 – Teorias Economicistas
As teorias economicistas pretendem explicar o subdesenvolvimento como um fenómeno
autónomo, independente de quasquer factores externos. Ignoram os circunstancialismos
históricos, culturais e sociológicos e buscam apenas uma explicação económica. Estão
neste caso a teoria do crescimento económico de Rostow e a teoria do ciclo vicioso.
A teoria de Rostow não toma em consideração o papel desempenhado pelos
investimentos na saúde e educação, por exemplo, nem explica o fosso crescente entre os
países desenvolvidos e subdesenvolvidos, para além de outras críticas que lhe podem
ser feitas.
4.2.5.1.1 – Teoria do crescimento económico de Rostow
Segundo este autor, cada país percorre, ou é levado a percorrer várias etapas até se
tornar num país desenvolvido:
1. Sociedade tradicional – produção muito baixa, tecnologia rudimentar e fraca
produtividade.
2. Criação de condições de arranque – fase mais ou menos longa em que a
acumulação de capital assume particular importância. A divisão do trabalho e o
aumento de produtividade teriam de ocorrer.
3. Arranque (take off) – assiste-se ao aumento das taxas de investimento, à
modernização da tecnologia, ao aumento da produtividade e ao consequente
aumento do rendimento per capita. A poupança derivada deste aumento de
rendimento garantiria a continuação do investimento.
4. Maturidade – intensa actividade comercial e industial, elevada produtividade,
crescimento do produto interno bruto (PIB).

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5. Era do consumo de massa – afirmação do sector terciário, que abrange a maioria
da população activa. Trocas intensas.
Assim, para o Rostow, o subdesenvolvimento seria apenas uma fase pela qual os países
tinham de passar até atingirem o desenvolvimento. Justificam-se assim as ajudas que
iriam permitir aos países subdesenvolvidos a criação de condições para o arranque do
processo de desenvolvimento.
4.2.5.1.2 – Teoria do ciclo vicioso da pobreza
Esta teoria pretende explicar o subdesenvolvimento de um país a partir da sua pobreza “
característica”: um país é pobre porque é pobre.
O rendimento nacional baixo seria a causa e a consequência do subdesenvolvimento. O
raciocínio desenvolvido era o seguinte:
Baixa produtividade → Fraca produção → Baixo rendimento → Poupança
reduzida → Escassez de capital → Fraco investimento → Baixa produtividade…
Só que a análise, para além de estar viciada, esquece completamente o papel dos
factores externos do subdesenvolvimento.
4.2.5.2 – Teorias marxistas
Teorias que consideram subdesenvolvimento de alguuns países como consequência do
desenvlvimento dos outros. Desenvolvimento e subdesenvolvimento seriam assim o
verso e o reverso da mesma moeda. São exemplos desta abordagem a teoria do
imperialismo ( Lenine, Pierre Jallée, Samir, entre outros) e a teoria do dualismo
económico de Celso Furtado.
4.2.5.2.1 – Teoria do imperialismo
Para esta teoria a colonização constitui a verdadeira causa da actual situação que se vive
nos países subdesenvolvimento, outrora “o quintal das grandes potências capitalistas”,
segundo a expressão de Maurice Dobb.
Durante cinco séculos, os monopólios das metrópoles exploraram não só as matérias-
primas como os próprios seres humanos ( escravatura, nomeadamente) desses
territórios. Os lucros obtidos dessa exploração teriam beneficiados exclusivamente as
metrópoles que, inclusivamente, impediram o desenvolvimento das colónias. Basta
pensar em dois aspectos: a industrialização das colónias foi impedida com receio da
concorrêncina; à data da independência, as metrópoles deixaram as populações quase
100% analfabetas. Isto após séculos de dominação.

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4.2.5.2.2 – Teoria do dualismo económico
Celso Furtado põe a tónica sobretudo no papel que o capitalismo europeu teria tido ao
destruir o equilíbrio das sociedades colonizadas, no que respeita à auto-suficiência
alimentar e às estruturas socioeconómicas existentes.
A impossibilidade do desenvolvimento normal das economias derivaria da existência de
duas economias paralelas: uma virada para exportação e para a maximização dos lucros
e outra, mantendo formas pré-capitalistas de produção, virada para a subsistência. A
desarticulação gerada constituiria um obstáculo ao desenvolvimento.
Assume particular relevância nestas análises a denúncia de uma ordem internacional
profundamente injusta e desequilibrada que seria preciso alterar, a par da co-
responsabilização dos próprios países subdesenvolvidos.
4.2.6 – Disparidade de situações
Como vimos, as tentativas de desenvolvimento levadas a cabo pelos países em vias de
desenvolvimento não seguiram todas o mesmo caminho, nem conduziram ao mesmo
resultado.
A complexidade das situações vividas por cada país e o encadeado das relações
internacionais ditaram muitas vezes o sucesso ou o insucesso das políticas seguidas.
4.2.6.1 – Países de produção pré-capitalistas – Países menos avançados (PMA)
São aquelas a que corresponde hoje a designação de países menos avançados (PMA),
sendo exemplo a maior parte dos países africanos. Caracterizam-se pela desarticulação
do aparelho produtivo, pela forte dependência do exterior e pela fraca industrialização.
A sua produção é praticamente limitada a produtos agrícolas e matérias-primas não
estratégicas destinadas a exportação, cujas cotações no mercado internacional estão
sujeitas a grandes flutuações.
4.2.6.2 – Países produtores de petróleo
Trata-se de países em que a indústria petrolífera se sobrepõe a todas as outras estruturas
de produção. O crescimento elevado da formação bruta de capital fixo permitiu-lhes
investimentos em grandes projectos de infra-estruturas e em algumas indústrias,
sobretudo petroquímicas.
A grande viragem nestes países deu-se a partir da criação da OPEP (Organização dos
Países Exportadores de Petróleo), em 1960. Tal organização teve como objectivo a
unificação das plíticas petrolíferas dos diversos países-membros, determinando as
melhores formas de salvaguardar os seus interesses. Na prática, a OPEP funciona como

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um cartel do lado da oferta, controlando, assim, o preço do petróleo no mercado
mundial.
Nesta categoria de países incluem-se dois casos distintos:
a) Aqueles cuja actividade produtiva é inteiramente dominada pela extracção
petrolífera, sendo pouco industrializados. Os produtos petrolíferos chegam a
repressentar cerca de 90% das suas exportações, como é o caso da Arábia
Saudita
Todavia, dada a sua monoprodução, são países altamente dependentes. Desde
logo, estão dependentes das variações dos preços do petróleo no mercado
mundial. Por outro lado, têm de importar tecnologia ( máquinas e pessoal
técnico), alimentos e outros bens de consumo. Incluem-se neste grupo a Arábia
Saudita, o Kuwait, Omã etc.
b) Aqueles que apresentam já um grau de industrialização rasoável, sendo menor o
peso das receitas do petróleo no PIB, uma vez que a sua produção é mais
diversificada, nomeadamente no sector agrícola. Mesmo assim, alguns são
grandes exportadores, como a Argélia e a Venezuela. Refira-se que o petróleo se
destina fundamentalmente para a exportação, sendo reduzido o impacto na
industrialização virada para o mercado interno.
4.2.6.3 – Países com indústrias viradas para o mercado interno
Este grupo de países é constituido por aqueles que orientam o seu processo de
industrialização sobretudo para o mercado interno, atráves de substituição de
importações.
Se numa primeira fase esta opção pode ter dado bons resultados, a médio prazo, a falta
de competitividade impede o acesso aos mercados internacionais. Refira-se ainda a
dependência relativamente ao exterior no que diz respeito a bens de equipamento e
matérias-primas.
4.2.6.4 – Novos países industrializados (NPI) virados para o mercado externo
A desinação genérica de novos países industrializados aplica-se a um conjunto de
estados muito heterogéneos, quer quanto à superfície e população, quer quanto a
recursos naturais, características culturais e sistemas políticos.
Os primeiros a entrar nesta categoria foram ao quatro dragões asiáticos: Coreia do Sul,
Singapura, Hong-Kong e Formosa, seguidos pela Malásia, Tailândia, Indonésia e China.
A verdade é que, no início da década de 60 do século XX, o Japão e os dragões asiáticos
eram considerados países subdesevolvidos. O rendimento per cappita ascilava entre 600

30
e 1670 dólares, valores equivalentes a países como Argélia, Gana, Sri Lanka ou o
Iraque. Nos dez anos que se seguiram, este grupo de países expermentou um
desenvolvimento económico notável, com taxas de crescimento do PIB acima de 6% e
chegaram aos anos 90 do século XX no grupo dos países mais avançados do mundo.
Como se explica este fenómeno e que lições se pode tirar?
No processo de industrialização dos NPI asiáticos podemos considerar duas fases:
1. Começou por produtos de consumo corrente que exigiam pouco capital,
aproveitando sobretudo a mão-de-obra barata e alfabetizada ( ex. têxteis e
brinquedos). Procurando obter economias de escala com as exportações,
utilizavam selectivamente medidas proteccionistas e recorriam, por vezes, ao
dumping.
2. A partir dos anos 70 do século, orientam a sua indústria para sectores mais
sofisticados (ex.: electrónica, construção naval, automóveis) e selecionam os
seus mercados, conquistando quotas no mercado mundial.
As elevadas taxas de poupança e investimento e a ênfase na acumulação de capital
humano e na internacionalização da economia são, numa primeira análise, factores
fundamentais. Além disso, os governos asiáticos foram particularmente hábeis na
definição depolíticas activas na transferência de tecnologia.
4.2.6.5 – Países com regime misto
É o caso de países como o Brasil, o México e a Índia. Têm em comum o facto de o
Estado assumir um papel importante, quer na definição de políticas de incentivo ao
desenvolvimento tecnólogico, quer atráves de grandes empresas públicas, com todas as
vantagens e desvantagens que daí advêm.
A abertura ao capital estrangeiro é grande, e, sobretudo o Brasil e a Índia afirmam-se
como potências emergentes neste século XXI.
4.3 – O processo de Desenvolvimento
4.3.1 – A evolução histórica da economia do desenvolvimento
Decorridas décadas de esforços no sentido de promover o desenvolvimento, constata-se
que muitos problemas estão ainda por resolver. E se alguns países conseguiram realizar
progressos notáveis, a verdade é que noutros a situação se agravou.
Embora a preocupação central sobre as questões do desenvolvimento continue a ser a
mesma, têm sido diversos os meios considerados necessários para o alcançar.

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Neste ponto, vamos tentar compreender como é que aciência económica tem evoluído
quanto às explicações que formula para os problemas do desenvolvimento e quanto às
propostas que apresenta para o atingir.
4.3.1.1 – Anos 50/60 do Século XX
A descolonização fez surgir novos países que, numa primeira fase, buscam um
crescimento elevado, adoptando políiticas económicas que tinham como objectivo
fundamental o aumento da acumulalação do capital. Além disso, dava-se prioridade à
industrialização, funcionando a agricultura como fornecedor de “ Imputs” para a
indústria, à custa da deterioração dos termos de troca.
4.3.1.1.1 – A industrialização
Dois modelos de industrialização eram propostos:
- Industrialização para substituir impotações
- Industrialização para promover exportações
A primeira assentava numa indústria virada para o mercado interno, longo, fomentando
a indústria ligeira ou as indústrias industrializantes.
A segunda, recorrendo aos recursos internos, apostava nas indústrias em que o país
apresentava vantagens com vista ao mercado externo. Normalmente, na indústria de
mão-de-obra intensiva.
Em termos teóricos, a Ciência Económica apoiava estas medidas, considerando que o
crescimento, embora pudesse inicialmente beneficiar apenas uma minoria, acabaria por
se alargar aos grupos sociais. A preocupação dominante era então o crescimento do PIB.
Neste quadro, a formação de capital surgia como a chave do crescimento e como meio
de resolver as carências das populações.
Mas a reduzida poupança interna constituía um obstáculo á implementação destas
políticas, o que levou à necessidade do recurso às ajudas externas. Defendia-se que estas
ajudas seriam necessárias apenas no início, até que a taxa de poupança interna atingisse
um nível razoável.
Segundo a teoria de Rostow, a fase do arranque tinha justamente como objectivo o
aumento da taxa de poupança interna até a economia do país atingir à velocidade
cruzeiro.
Os planos de desenvolvimento dos anos 50 e 60 do século XX foram largamente
influenciados por estas teorias. Refira-se que este optimismo quanto à possibilidade de
acelerar o desenvolvimento era em grande parte sustentado pela então generalizada de

32
que existiam “ recursos inexplorados” no terceiro mundo à espera de serem
aproveitados.
A verdade é que não se relacionava crescimento com pobreza. Discutiam-se problemas
técnicos, mas não se explicitavam os efeitos possíveis sobre a pobreza e a repartição dos
rendimentos. O crescimento era discutido como um fim em si mesmo. Só mais tarde se
considerou o problema da pobreza como algo autónomo, passando o combate àquela
constituir um objectivo do dessenvolvimento.
Ainda nos anos 60 do século XX surgiu a chamada teoria da modernização que,
ultrapassando uma visão meramente economicista, considerava como obstáculo ao
desenvolvimento os modelos de vida da sociedade tradicional. Atribuia um papel
fundamental às “ elites modernizadoras” , dotadas de espirito empresarial, a quem
incumbiria a difusão dos novos padrões culturais, orientando a estrutura do consumo.
Outros, porém,optaram por uma via socializante, defendendo que o planeamento
económicco era essencial para romper rapidamente com o subdesenvolvimento, já que o
produzido capital disponível nas mãos do sector privado impunha ao Estado um papel
activo.
Todas estas análises e propostas confrontavam-se com duas fontes de pessimismo: O
comportamento antieconómico das populações e o meio internacional.
4.3.1.1.2 – O comportamente antieconómico das populações
(São homo sapiens, não homo oeconomicus)
- Não aumentam a sua produção mesmo que lhes ofereçam preços mais aliciantes.
- Perante salários mais elevados trabalham menos. Mas…
À cruzeta dos lucros e dos preços sobrepõem os costumes e os valores culturais.
Apeldar de “irracional” o comportamento destes povos denuncia uma visão
etnocêntrica, pois, frequentemente, são animados por motivações económicas
completamente difeentes, futo de uma herança cultual e intelectual.
Theodore Schultz (Prémio Nobel da Economia, 1979) afimou a este respeito: «A
questão não deve ser posta “ como é que os camponeses eagem aos preços?”, mas “A
que preços este conjunto de camponeses reagirá?”».
4.3.1.1.3 – O meio internacional
No pós-guerra, vários economistas manifestaram a sua apreensão face à evolução do
comércio exteno e propuseram que as estratégias de desenvolvimento se voltassem para
dentro de cada país, optando pela promoção de produções locais em vez de importações.

33
Estes economistas defendiam a política de industrialização por substituição de
importações que levaria os países subdesenvolvidos a apostarem num ccrscimento
equilibrado, assente na configuração da procura interna. Havia já então o receio de que
os termos de troca dos produtos de sector primário se deteriorassem cada vez mais.
A experiência veio demonstrar que, afinal, os problemas internos eram bem mais
complexos do que se suponha e que o receio dos factores externos, embora justificados,
nem sempre tinha a acuidade que se receava.
Os países que optaram pela promoção das exportações tiraram algum proveito disso. É
o caso dos NPI. Mas estes países têm sido governados com pulso de ferro (e não pela
“mão invisível”…) e há estudos de algumas organizações internacionais (Banco
Mundial, por exemplo) que falam em pauperização(degradação do padrão económico)
do proletariado.
A verdade é que as políticas de industrialização seguidas não conduziram ao
desenvolvimento, tendo-se chegado ao final da década com um agravamento das
desigualdades entre os países.
4.3.1.1.4 – O novo desenvolvimento
Enquanto nos modelos assentes na industrialização o desenvolvimento é considerado
como uma consequência, os defensores do novo desenvolvimento fazem do
desenvolvimento autocentrado a condição da industrialização. O que se pretende é um
desenvolvimento global, integrado e endógeno. Mas, por detrás desta definição, é
importante sublinhar o ponto de ruptura com a corrente industrialista. O
desenvolvimento não deve confundir-se com o crescimento, os grandes agregados e o
rendimento per capita são mistificadores.
É preciso ainda acentuar que esta nova concepção de desenvolvimento está ligada à
partida a uma corrente recente: o ecodesenvolvimento. Manifestando preocupações com
o meio ambiente, defende a valorização dos recursos locais próprios de cada
ecossistema, crítica os melefícios do crescimento industrial e destaca as consências
sociais e económicas do “mão desenvolvimento” para as populações mais
desprotegidas.
4.3.1.2 – Anos 70 do século XX
Os anos 70 do século XX foram dominados pela preocupação de introduzir medidas que
permitissem alterar as regras do sistema, com vista a corrigir os desequilíbrios
mundiais. Falava-se então na criação de uma nova ordem económica internacional, uma

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vez que começava a surgir a ideia de que são as condições em que se desenrola o
comércio internacional que gera o desenvolvimento.
O primeiro choque petrolífero ocorrido em 1973, de onde resultou uma subida brutal do
preço do petróleo em cerca de 400%, ao mesmo tempo que mostrava algumas
fragilidades dos países industrializados, conferiu força negocial aos países di terceiro
mundo.
4.3.1.2.1 – A nova ordem económica internacional (NOEI)
A ossatura(esqueleto) da Nova Ordem Económica Internacional foi definida pela ONU
em 1974 e repousa em três textos fundamentais:
- A declaração, que enuncia os prncípios e os objectivos a atingir e que, embora não se
tendo concretizado na prática, tem servido de referência âs reivindicações do terceiro
mundo.
- O programade acção, onde se enumeram as medidas a tomar para reestabelecer o
equilíbrio Norte/Sul.
- A carta dos direitos e deveres económicos dos Estados, que pretende ser um
complemento à Declaração Universal dos Direitos do Homem, introduzindo uma nova
ética nas relações internacionais.
4.3.1.2.2 – Correntes alternativas do desenvolvimento
Os dirigentes dos países do terceiro mundo mobilizaram os seus esforços para a política
externa, visando a alteração das relações económicas internacionais.
Perante o fracasso das teorias até esta altura dominantes, algumas, algumas
organizações internacionais preconizaram estratégias centradas na ideia de crescimento
em articulação social, com vista à satisfação das necessidades básicas da população e
fundamentallmente viradas para uma política interna de desenvolvimento rural
integrado.
Segundo esta corrente, as políticas económicas deveriam ter como objectivos
fundamentais os seguintes:
a) Aumento do poder de compra da população mais pobre
b) Aumento da produtividade
c) Adopção de tecnologias que favoreçam o emprego
d) Aposta em sectores criadores de emprego e que induzissem efeitos sobre grupos
marginalizados (ex.: construção civil).
e) Esboço de reformas agrárias.

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Por outro lado, a Ciência Económica procura investigar factores explicativos da relação
crescimento/desenvolvimento, atráves de indicadores muito variados.
Um estudo de 1973/74 (Adelman e Morris) isolou um conjunto de factores considerados
decisivos para explicação da relação crescimento/desenvolvimento:
1- Grau de desenvolvimento dos recursos humanos
2- Abundância de recursos naturais
3- Grau de intervenção do Estado
4- Grau de dualismo existente
5- Importância das instituições económicas
6- Grau de participação política das populações
Algumas correntes altrnativas do desenvolvimento
Desenvolvimennto integrado – exige o crescimento articulado dos diferentes sectores:
agricultura e indústria, o económico e o social
Desenvolvimento socioeconómico – defende que o planeamento deveria abranger não
só o económico como também as actividades que influenciam directamente a satisfação
das necessidades.
Desenvolvimento unificado – conceito largamente utilizado pela ONU nos anos 70 do
século XX apresenta como objectivo a eliminação da pobreza, pondo a tónica na
repartição da riqueza.
Ecodesenvolvimento – corrente nascida dos movimentos de contestação das formas de
crescimento económico que degradam o meio ambiente, destruindo abusivamente
recursos não renováveis. Reclama um desenvolvimento altrnativo a nível mundial, que
tenha em atenção os “limites” de degradação dos recursos e doambiente.
Desenvolvimento autónomo ou autocentrado – denunciando a situação de
dependência em que se encontra a generalidade das economias subdesenvolvidas,
defende que “cada sociedade tem o direito de ser responsável pelo seu próprio
desenvolvimento”, o qual deve assentar na mobilização das potencialidades dos seus
habitantes, tendo em atenção os seus recursos e a sua herança cultural.
4.3.1.3 – Anos 80 do século XX
4.3.1.3.1 – A década perdida
Os anos 80 do século XX foram anos de crise económica – anos em que a atenção se
centrava prioritariamente sobre a reforma económica e o crescimento, atráves de
instrumentos de política macroeconómica. Assim, os orçamentos foram equilibrados à
custa de desequillíbrios na vida das populações. Com efeito, o financiamento do

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crescimento atráves dos empréstimos elevados, contrídos nos anos anteriores e
destinados a financiar projectos ambiciosos, gerou graves problemas.
As crises que explodiram nos finais dos anos 70 do século XX vão agravar-se com o
abrandamento da actividade económica no início dos anos 80 do século XX. Os
mercados mundiais vão ser abalados com o segundo choque petrolífero.
Perante o insucesso das políticas seguidas, a década de 80 do século XX é designada
como a década perdida para o desenvolvimento.
4.3.1.3.2 – O desenvolvimento sustentável
O coonceito de desenvolvimento sustentável é introduzido, pela primeira vez, em 1987
no relatório da comissão mundial do ambiente e do desenvolvimento. A ideia-chave é
que odesenvolvimento sustentável é aquele cuja grandefinalidade é a satisfação das
necessidades básicas das populações, impondo, ao mesmo tempo, limite ao uso dos
recursos, de modo a não pôr em causa a sobrevivência das gerações futuras.
O desenvolvimento sustentável implica um processo de mudança orientada no sentido
da minimização dos problemas ambientais, atráves de um modelo de desenvolvimento
que prserve e administre os recursos existentes e que contrarie os processos de
crescimento destruitivos do ambiente.
Embora o ccrescimento económico seja condição do processo de desenvolvimento,
impõe-se a adopção de estratégias de desenvolvimento ecologicamente correctas e a
intensificação da cooperação internacional, uma vez que os problemas ambientais
ultrapassam as fronteiras nacionais.
Os objectivos primordiais para a política ecológica e de desenvolvimento que decorrem
do conceito de desenvolvimento sustentável são:
1- Reactivar o crescimento
2- Alterar a qualidade do crescimento
3- Dar satisfação às necessidades essenciais nos campos do emprego, alimentação,
energia, água e saneamento
4- Manter a população num mundo sustentável
5- Conservar a base dos recursos
6- Reorientar a tecnologia e atenuar os riscos
7- Integrar o ambiente e a economia na tomada de decisões.
4.3.1.4 – Anos 90 do século XX
No âmbito do programa das nações unidas para o desenvolvimento (PNUD), surge um
conceito novo – Desenvolvimento Humano – definido como um processo que permite o

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alargamento do leque de escolhas que são oferecidas ao indivíduo: saúde, educação,
emprego, condições de vida e gozo das liberdades económicas e políticas.
O relatório mundial sobre o desenvolvimento humano, que o PNUD vem publicando
anualmente, constitui um ponto de partida importante para pesquisa.
4.3.1.4.1 – O desenvolvimento humano (centrado no homem)
Hoje parece ser já possível assentar algumas ideias-chave a cerca do desenvolvimento:
- O desenvolvimento não pode estar divorciado do crescimento
- O desenvolvimento não se restringe apenas a uma orientação para os grupos mais
débeis.
- O desenvolvimento não restringe a sectores: é uma estratégia para o desenvolvimento
humano durável e sustentado no tempo. O que exige:
+ Eliminação da pobreza
+ Diminuição do crescimento demográfico
+ Gestão racional dos recursos
+ Mellhoria do nível de instrução e formação
+ Sistema de trocas mais equitativo
+ Governo descentralizado e participado.
A ciência económica confronta-se com a necessidade de construir indicadores para este
conceito. Surge o indicador de desenvolvimento humano (IDH), do qual já falamos
quando estudamos os indicadores.
A noção do desenvolvimento humano ultrapassa em muito a medida do
desenvolvimento humano.
O IDH deve ser tomado por aquilo que é: um instrumento de medida dinâmico que se
afirma progressivamente e não como um indicador acabado.
Embora constituindo um contributo importante para o estudo da problemática do
desenvolvimento, levando a abandonar a ideia de que maior rendimento significa mais
desenvolvimento, é preciso ter consciência da relatividade destes estudos. Assim,
quando se tenta medir o desenvolvimento a nível mundial, surgem, desde logo, duas
dificuldades: a multidimensionalidade dos problemas e o carácter normativo que tudo
isso tem.
4.3.2 – A ajuda dos países desenvolvidos: doação, empréstimos, investimentos
Ao longo do estudo da problemática do desenvolvimento verifícamos já que as políticas
seguidas implicavam o recurso às ajudas prestadas pelo mundo desenvolvido. Devido a
complexidade das situações vividas nos países subdesenvolvidos e a

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circunstancialismos do comércio internacional, nem sempre as ajudas resultaram, tendo,
por vezes, originado outros problemas que acabariam por constituir novos obstáculos ao
processo de desenvolvimento dos países que as recebiam. Sob a mesma designação de
ajuda, encontramos agrupadas acções muito diferentes, abrangendo doações,
emprestimos e investimentos directos. Para alguns dos paíes mais pobres, os PMA, o
auxílio traduzido em doações constitui a principal fonte de recursos.
As ajudas prestadas pelo mundo desenvolvido aos países em desenvolvimento surgem
já na década de 1960/70, influenciadas pela teoria de que o desenvolvimento destes
países se faria apartir do PIB. A falta de capital e a reduzida propensão à poupança das
populações eram factores impeditos do crescimento, peol que os países desenvolvidos
deveriam ajudar os países em desenvolvimento, quer através de instituições públicas,
quer privadas.
Numa segunda fase, e perante malogro das políticas de desenvolvimento seguidas, com
o consequente agravamento das situações de pobreza, o mundo desenvolvido intensifica
as suas ajudas, quer em termos financeiros, quer em termos materiais, sobretudo ajudas
alimentares.
Todavia, a meta fixada pelas organizações internacionais, de os países mais ricos darem
1% do seu PIB para auxílio ao terceiro mundo só foi atingida por um número muito
reduzido de países.
A ajuda ao desenvolvimento pode ainda funcionar como agente de disseminação do
conhecimento, através do financiamento de programas de colocação de estudantes em
escolas e universidades de países desenvolvidos. Ao voltarem para os seus países como
trabalhadores qualificados, são importantes agentes de desenvolvimento.
4.3.2.1 Causas da ajuda
A ajuda internacional assenta na ideia de que o desenvolvimento é, sobretudo, uma
questão técnica e financeira. Perante a carência de capital verificada nos países
subdesenvilvidos, os fluxos da ajuda permitiriam aceder ao nível de capital necessário
para iniciar o processo de desenvolvimento.
Não é pacífica aopinião sobre o papel das ajudas, surgindo vozes que se opõem à sua
eficácia, quer nos países que a dão, quer nos países que arecebem. Mesmo assim, é
inquestionável que a ajuda tem desempenhado umpapel importante no desenvolvimento
e transformação dos países subdesenvolvidos, permitindo que cresçam a taxas mais
elevadas, obtendo ganhos sociais e combatendo a pobreza.

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As principais causas apontadas para a ajuda aos países do terceiro mundo são as
seguintes:
a) Compensar as elevadas dívidas externas que estes países possuem, devido aos
déffices comerciais elevados.
b) Melhorar onívelde vida das populações desses países, o que geralmente envolve
projectos de grande envergadura, mas que, na realidade, acabam por beneficiar
poucas pessoas (ex.: costruir um aeroporto internacional)
c) Ajudar as populações afectadas por catástrofes naturais ou por situações
desastrosas induzidas pelo homem (ex.: guerras, desertificação).
Mas, por melhores que sejam as intensões, os efeitos, preversos provocados têm levado
ao questionamento da sua real eficácia.
É preciso destacar que só uma pequena parte constitui dádiva desinteressada, porquanto
a maior parte das ajudas assume a natureza de emprestimo, muitas vezes sob a forma de
linha de crédito, destinada ao pagamento dos bens e serviços adquiridos ao país doador.
Esta situação é geradora de dependência.
Além disso, os paíse doadores prestavam ajudas no quadro da guerra fria,
frequentemente com objectivos políticos. Assim, mais de metade da ajuda fornecida
pelos Estados Unidos foi concedida a cinco países considerados de importância
estratégica: Israel, Egipto, Turquia, Filipinas e El Salvador. Como vemos nenhum deles
pertencente ao grupo dos PMA.
4.3.2.2 Ajuda pública ao desenvolvimento (alimentar, de emergência, às ONG e aos
refugiados)
Não é pela forma que assume, mas mas também peols organismos que apresta, podemos
encontrar situações muito diversas de ajuda.
A Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) é a ajuda prestada por entidades públicas e
compreende doações e emprestimos concedidos a taxas inferiores às do mercado,
operando sempre em condições mais vantajosas para os países subdesenvolvidos.
No entanto existe sempre um preço político a pagar. Quanto aos organismos financeiros
internacionais, sobretudo o Banco Mundial e o FMI, condicionam as suas ajudas a
programas de ajustamento estrutural, destinados a alcançar equilíbrios
macroeconómicos que acarretam consequências sociais graves.
Actualmente, a APD dirige-se sobretudo para projectos de erradicação da pobreza,
sendo, todavia, impotante o seu contributo no desenvolvimento de infra-estruturas,
como hospitais, escolas, estradas ou infra-estruturas agrícolas.

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A Ajuda humanitária engloba a ajuda de emergência, alimentae e aos refugiados e tem
um carácter diferente da restante ajuda. Embora seja incluída em todos os quadros e
tabelas da APD, escapa à filosofia do longo prazo, por não criar estruturas de
desenvolvimento. Não procura resolver as causas mas sim os efeitos de determinadas
situações de crise. Tenta solucionar situações de excepção que põem em causa a vida
das populações. Insere-se nesta rubrica a assistência a regiões atingidas por catástrofes
naturais, como inundações, secas prolongadas, incêndios, sismos e pragas. Incluem-se
também situações de graves carências alimentares e de saúde (epidemias, entre outras),
muitas vezes como resultado de guerras e conflitos violentos, mais ou menos
prolongados, que conduzem ao êxodo de populações e à criação de campos de
refugiados.
A ajuda alimentar é destinada a países ou regiões com problemas graves de fome, sendo
distribuídos gratuitamente alimentos às populações mais carenciadas ( refugiados,
crianças incapacitados, idisos e doentes), destacando-se o Programa Alimentar Mundial
(PAM).
A ajuda de emergência destina-se a vítimas de catástrofes naturais ou de circustâncias
excepcionais que têm efeitos idênticos e fornece desdemedicamentos a abrigos, roupas,
alimentos e outros apoios essenciais às populações afectadas.
A ajuda aos refugiados, repatriados e deslocados procura fomentar a auto-suficiência
entre a fase de emergência e o estabelecimento definitivo das populações, podendo ser
integrada numa ajuda a médio prazo.
Parte-se do pressuposto de que a ajuda humanitária é pontual e de curta duração. O seu
prolongamento leva-nos a questionar a sua validade e a que efectivamente serve.
4.3.2.3 Ajuda Privada
Dá-se esta designação à ajuda fornecida por organizações não governamentais (ONG)
sob forma de doações, e por outras entidades privadas, tais como empresas, bancos e
multinacionais, podendo revestir a forma de créditos à exportação, empréstimos
directos, lucros reinvestidos.
A componente principal da ajuda privada é o investimento directo (IDE). Estes
investimentos são realizados sobretudo por empresas multinacionais, que aproveitam
algumas vantagens, como o baixo preço da mão-de-obra ou os recursos naturais,
repatriando os lucros obtidos para o seu país de origem. Por vezes, o volume de capitais
que estas empresas movimentam é superior ao PIB dos países ondem se instalam,
podendo influenciar pliticamente esses países.

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Quanto aos empréstimos bancários concedidos, são-no, em regra, a taxas de juro do
mercado, o que nem sempre favorével ao país devedor.
As organizações não governamentais são independentes dos Estados e não têm fim
lucrativo. O seu número tem vindo a crescer e, frequentemente, conseguem uma maior
eficácia na resolução dos problemas a que se dedicam, pela maior proximidade das
populações. Alguns exemplos relevantes de ONG ( ONG para o desenvolvimento) são a
Cruz Vermelha, Fundo Lwini, Lar Cusola, etc.
Os destinos do IDE variam conforme os apetites dos investidores. Actualmente, a China
e a Índia são destinos privilegiados de IDE. Em África, Angola e a Guiné Equatorial são
grandes receptores de investimento directo estrangeiro, sobretudo destinado à
exploração do petróleo e extacção mineira.
4.3.2.4 Ajuda multilateral
Trata-se de ajuda multilateral quando transita por organizações internacionais
especializadas, como as diversas agências da ONU ( FAO,UNICEF, etc), a EU, a
OPEP, o Banco Mundial ou FMI, que redistribuem o dinheiro. Embora teoricamente
esta possa ser uma forma mais isenta de ajuda, estas organizações podem suspendê-la se
discordarem do sistema económico ou político do país receptor. Geralmente, só os
países possuem uma economia de mercado ou um governo democraticamente eleito são
beneficiados por este tipo de ajuda.
Vejamos duas das principais agências da ONU na prestação de ajuda multilateral.
Depois de 1946, a ONU dotou-se de uma agência especializada, a Food and
Almentation Organization (FAO). Esta agência faz o inventário de recursos, favorece a
cooperação internacional e estimula os programas de ajuda e armazanamento que
evitem a escassez. As multinacionais não apreciam muito a acção da FAO na defesa das
culturas tradicionais em vez das culturas de exportação. A verdade é que esta agência
serve, por vezes, para escoar os excedentes dos países ricos.
Quanto ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) defende, primeiro que
tudo, os direitos das crianças e, para além de implementação de acções concretas,
ddenuncia situações gritantes. Assim, um relatório da UNICEF denuncia que, na
decada de 90 do século XX, dois milhões de crianças foram mortas nas guerras em
África e mais de 15 milhões ficaram física ou psicologicamente incapacitadas. No
mundo milhões vivem entregue a si próprios, no meio da violência e sem nenhuma
esperança.

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Se ao menos uma parcela dos recursos destinados a fins militares fosse para metas de
desenvolvimento, em pouco tempo estaríamos a viver num mundo com menos
problemas sociais e ambientais, conclui a UNICEF.
4.3.2.5 Ajuda bilateral
Trata-se de ajuda bilateral quando a ajuda é concedida por um Estado a outro Estado
directamente, assumindo a forma de doação ou empréstimo. Por vezas, este tipo de
ajuda encontra-se ligada a contratos em que o país receptor é obrigado a comprar bens e
serviços ao país doador. No fundo, constitui uma forma de encontrar novos mercados
para os produtos dos países ricos, sendo o comério financiado com juros a longo prazo.
Além disso, os bens nem sempre correspondem às reais necessidades do país receptor.
Os países em vias de desenvolvimento designam de colonialismo económico este tipo
de ajuda ligada, pois é preferencialmente dirigida para as antigas colónias dos países
doadores, podendo inserir-se na lógica colonizador/colonizado.
4.3.3 A dívida do Terceiro Mundo
4.3.3.1 Uma visão geral do problema
O endividamento do terceiro mundo não é uma questão de hoje. Após as
independências, a generalidade dos novos países recorreu a empréstimos externo para
financiar o seu processo de industrialização, como já vimos atrás.
O crescimento da dívida dos PVD durante a década de 70 do século XX deveu-se
fundamentalmente a investimentos directos. Desde 1973 e até 1982, a dívida cresceu
quase 500 milhões de dólares. Todavia, em termo de dívida/habitante, metade da dívida
cabe apenas a meia dúzia de países grandes produtores de matérias-primas.
Enquanto ataxa de crescimento das exportações acompanhou de perto a taxa de
crescimento da dívida, não houve problemas. Mas o abrandamento verificado na
economia mundial, a partir de 1980, e a subida das taxas de juro internacionais fizeram
despoletar uma crise financeira.
Vários países da América Latina – os grandes devedores – não conseguiram pagar os
juros da dívida, que absorviam uma enorme fatia das suas exportações, e tiveram de
renegociar os seus compromissos.
A partir dessa altura, o endividamento externo dos países do Terceiro Mundo, em vez de
favorecer o seu financiamento, constitui um verdadeiro ostáculo ao seu
desenvolvimento. É que, quando a dívida se torna excessiva, os seus custos absorvem os
excedentes necessários ao financiamento do progresso dos países devedores.

43
Mas este entrave ao desenvolvimento acaba por ser prejudicial aos próprios países
credores, dada a interdependência económica e financeira das relações internacionais.
O endividamento dos países do Terceiro Mundo torna-se assim um problema que
interessa a todos.
4.3.3.2 o crescimento através do endividamento dos anos 60 – 70 do século XX
Durante a década de 60 do século XX, os capitais afluíram aos países do Terceiro
Mundo, concedidos sobretudo por instituições internacionais, como o Banco Mundial e
FMI, a juros muito baixos. Esperava-se que, com esse apoio, as economias crescessem a
taxas elevadas e que o reembolso da dívida fosse feito com o produto das exportações,
tendo a dívida sido mantida a níveis relativamente baixos.
Na década de 70 do século XX, o mundo vai ser abalado pelo primeiro choque
petrolífero, que ocorreu em 1973, tendo os preços do petróleo quintuplicados entre
Outubro e Dezembro desse ano.
As consequências afectam todos os países, embora de maneira diferente, assim:
a) Os países desenvolvidos, altamente dependentes do petróleo, vêem a sua factura
de energia aumentar, entram em crise, sendo obrigados à conteção. Diminuem as
importações e a ajuda aos países subdesenvolvidos. Além disso, o preço de
muito bens primários sofre uma queda.
b) Os países subdesenvolvidos não produtores de petróleo são obrigados a afectar
grande parte das suas receitas ao pagamento das importações de petróleo.
c) Os paises exportadores de petróleo acumulam enormes fortunas, dada a grande
afluência de capitais para pagamento das importações de petróleo. Esses capitais
designados dpor petrodólares, são depositados em bancos dos países
desenvolvidos (EUA, Europa e Japão), sob a forma de reserva que é preciso
fazer circular.
d) Grandes quantidades de petrodólares são canalizadas para os países
subdesenvolvidos, a títulos de empréstimo, para fazer face aos desequilíbrios das
suas balanças de pagamentos.
Quando, no início dos anos 80 do século XX, o presidente da reserva Federal dos EUA
decidiu subir a taxa de juro, a dívida do Terceiro Mundo agravou-se, pois o serviço da
dívida amortizações dos empréstimos mais juros) atingiu valores elevadissimos,
obrigando vários países a recorrer a novos empréstimos para fazer face aos seus
compromissos. Como a maioria dos empréstimos era feita em dólares, a valorização do
dólar fez crescer a dívida.

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Para agraver a situação, regista-se uma baixa dos preços dos produtos primários nos
mercados mundiais, que são cada vez mais substituídos por produtos sintéticos
fabricados nos países desenvolvodos.
Em Agosto de 1982, o Mexico declara que suspende o reembolso da sua dívida. Perante
esta insolvência, a comunidade financeira internacional sofre um choque, sobretudo por
vir de um país que beneficiava de grande confiança dos credores, por ser produtor de
petróleo e próximo dos EUA.
Rapidamente a situação estendeu-se à Argentina, Brasil e Peru. O grande montante das
dívidas abre uma crise no Sistema Monetário Internacional.
4.3.3.3 A falência da ajuda
A ajuda nem sempre desempenhou um papel positivo no apoio ao desenvolvimento
humano, por causa dos fracassos do lado dos receptores da ajudae porque os países
doadores permitiram que considerações estratégicas se sobrepusessem às preocupações
com o desenvolvimento.
4.3.3.3.1 causas
Responsabilidade dos países do Terceiro Mundo (devedores)
Existem causas internas nos países beneficiários que limitam a eficácia da ajuda
externa.
a) Má canalização da ajuda, muitas aplicada em consumos sumptuários e despesas
militares, em vez de ser canalizada para o desenvolvimento.
Quanto as ajudas canalizadas para a industrialização, levaram ao abandono da
agricultura, agravando os problemas do desenvolvimento.
b) Instalação de um clima de inércia, fomentando a fraca propensão a poupança,
impendindo a acumulação e desenvolvimento a produção local
c) Apropriação da ajuda pelas elites no poder, levando ao enriquecimento de uma
minoria e ao aparecimento de fenómenos de corrupção e de fuga de capitais, em
detrimento da melhoria das condições de vida da generalidade da população.
d) Aumento das assimetrias regionais e sectoriais, dada a não distribuição
equitativa, o que faz agravar as desigualdades económicas e sociais.
Responsabilidade dos países desenvolvidos (credores)
É preciso referir, desde logo, o incitamento excessivo ao longo dos anos 60/70 do
século XX, através da concessão de empréstimos em condições pouco onerosas,
configurando, por vezes, actos de pura imprevidência. Além disso, foram sobrestimadas
as perspectivas do comércio internacional. Mas outras causas são apontadas:

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a) Insuficiência da ajuda, ficando os objectivos de primeiro 1% e depois de 0,7%
longe de serem compridos
b) Ajuda interessada, uma vez que os países doadores buscam vantagens em seu
proveito, impondo condições ou repatriando os lucros.
c) Desadequação dos modelos de desenvolvimento que se pretende impor à
realidade dos países receptores.
d) Critérios discutíveis na atribuição da ajuda, uma vez que os maiores
beneficiários não são os países mais pobres e que mais necessitam, mas aqueles
que se encontram na área de interesse político-económico dos países doadores.
4.3.3.4 O reescalonamento da dívida
Os países devedores, ao verem-se estrangulados pela espiral de endividamento,
começaram por pedir o reescalonamento da dívida, negociando prazos mais dilatados
para o pagamento dos juros e amortizações. Mas estas medidas não melhoraram a
situação financeira dos devedores.
Convém lembrar que a maior parte da dívida externa do terceiro mundo estava
concentrada num reduzido número de países e num reduzzido número de bancos.
Quando o México, em 13 de Agosto de 1982, encerrou o seu mercado de câmbios e
declarou que não podia fazer face ao pagamento dos juros da dívida, calculada em 80
biliões de dólares, abriu-se uma enorme crise financeira no sistema bancário americano,
para além do abalo que provocou no sistema financeiro internacional. Até ao final do
ano de 1982, 40 países pediram o reescalonamento das suas dívidas.
Ao tomarem conhecimento da gravidade da situação, os países credores viram-se
obrigados a ter em conta as reais possibilidades dos devedores, aceitando negociações
para um reescalonamento. Esse reescalonamento foi obtido através de acordos com os
credores públicos (Clube de Paris) e com os credores privados.
O FMI e o Banco Mundial aceitam dar o seu contributo, aumentando o volume dos seus
empréstimos para pagamento de juros e amortizações, na condição de os Estados
devedores reajustarem os seus objectivos económicos em função das directrizes que
lhes são impostas.
A estratégia de reajustamento assim definida em 1982 deveria permitir em 3 ou 4 anos o
retorno a uma situação de financiamento normal para os países em dificuldades e a
resolução do seu problema de endividamento externo. Mas isso supunha uma
conjuntura mundo favorável, o que não veio acontecer.

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A precariedade dos resultados obtidos, a persistência dos problemas financeiros e o seu
impacto no crescimento de numerosos países do terceiro mundo levaram a pôr em causa
a estratégia adoptada.
É assim que, no final da década de 90 do século XX, os EUA, seguidos pelos restantes
países desenvolvidos, se sentem a propor o perdão das dívidas acumuladas de alguns
países altamente endividados.
Reescalonamento – reestruturação do calendário das prestações da divida, cobrindo o
seu montante e juros.
A iniciativa da dívida para os Países Pobres Altamente Endividados (PPAE) é um
mecanismo para o alívio da dívida, supervisionado peolo FMI e pelo Banco Mundial.
Os credores bilaterais e multilaterais tê proporcionado o alívio da dívida através deste
mecanismo desde 1996. Os benefícios do alívio da dívida devem ser canalizados para
apoiar a Educação, os cuidados de Saúde, o Crédito e o desenvolvimento Rural a favor
dos pobres.
A conclusão é que os reembolsos da dívida têm estado a desviar recursos de áreas
prioritárias, decisivas para os objectivos do desenvolvimento.
PPAE, ponto de decisão – a data em que um país pobre altamente endividado, com um
percurso reconhecido de bom desempenho no quadro de programas de ajustamento
apoiados pelo FMI e pelo BM, se compromete, no quadro da iniciativa PPAE, o
empreender reformas adicionais e a desenvolver e executar uma estratégia de redução
da pobreza.
PPAE, ponto de conclusão – a data em que um país incluído na iniciativa PPAE
completa, com sucesso, as reformas estruturais fundamentais acordadas no ponto de
decisão PPAE, incluindo o desenvolvimento e execução de uma estratégia de redução
da pobreza. O país recebe, então, o volume do seu alívio da dívida sob a iniciativa
PPAE, sem novas condicionantes políticas.
4.3.3.5 A dívida contrariando o desenvolvimento
Logo a seguir ao primeiro choque petrolífero, os países produtores de petróleo
começaram a colocar na banca internacional os dólares provenientes da sua venda. A
banca deu aplicação aos seus excedentes, pondo em circulação os petrodólares. Surgiu
então no mercado uma grande massa monetária disponível a juros baixos, tendo os
países em via de desenvolvimento recorrido a empréstimos, resolvendo assim os seus
problemas de financiamento.

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Por volta de 1982, mais de 60% da dívida dos grandes países em via de
desenvolvimento tinha sido contraido junto de bancos e, em grande parte, tratava-se de
créditos a curto prazo.
Quando chegou o momento de receber os reembolsos acumulados começaram a surgir
as dificuldades.
Um volume da dívida excessivo vai acarretar efeitos nefastos sobre a economia do país,
na medida em que:
- Encarecem os preços, reduzindo a competitividade nacional nnos mercados externos
- Reduzem-se as exportações
- Verifica-se uma contração no rendimento nacional
- Diminui-se o rendimento distribuído
- Reduz-se a capacidade de poupança nacional
Mais cedo ou mais tarde, o endividamento vai implicar uma redução das importações e
medidas tendentes a aumentar as exportações em detrimento do consumo interno e das
necessidades de equipamento do país.
Perante a impossibilidade de financiamento integral do serviço de dívida, surgiu a
necessidade de recorrer a novos empréstimos, seguindo-se um processo um processo
cumulativo: os países devedores tinham de obter novos empréstimos para pagar os
encargos com os empréstimos anteriores, ficando na total dependência dos credores.
Com efeito, a dívida constitui um pesado encargo para os países do terceiro mundo,
nomeadamente para a África Subsariana.
Após 1984, o fluxo liquido de capitais inverte-se e dirige-se do Sul para o Norte, ou
seja, o terceiro mundo passa a transferir para os países ricos mais recursos financeiros
do que aquilo que recebe.
As multinacionais contribuem, através da sua forma de actuação, para acentuar os
desequilíbrios dos recursos financeiros do Sul ao promover a transferência de capitais
integrada no ciclo do processo produtivo. Mesmoa assim, muitos países esforcam-se por
incentivar o IDE, na expectativa de incentivar o crescimento económico e diminuir o
défice externo.
Quanto ao FMI e ao BM, compensam os défices comerciais, mas pioram a situação de
endividamento externo dos PVD; por outro lado impõem condições rígidas ( como
programas de ajustamento estrutural) para a manunteção do crédito.

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Vemos, então, que grande parte das receitas destes países é directamente canalizada
para o pagamento do serviço da dívida e não para projectos de desenvolvimento e
melhoria das condições de vida das suas populações.
O Estado, fragilizado, diminui o investimento em áreas fundamentais como a educação
e a saúde, degradando ainda mais as condições das populações.
Perante a degradação dos termos de troca e do baixo nível de poupança, é reduzida a
capacidade de investimento. O crescimento económico é travado ainda pela fraca
capacidade de importar bens de equipamento indispensáveis à melhoria dos processos
produtivos.
Factores da exploração da dívida no Terceiro Mundo
Subida das taxas de juro; Valorização do dólar; Fuga de capitais; Elevação dos preços
do petróleo e Evolução das receitas de exportação.
Consequências da dívida
Económicas Sociais
*Redução do nível de investimento *Sofrimento das populações
*Estrangulamento das importações *Restrição das despesas de saúde e de
educação
*Diminuição das expotações *Diminuição do poder de compra
4.3.3.6 Programa de Ajustamento Estrutural
Os programas de ajustamento estrutural consistem num conjunto de políticas
económicas de ensência liberal, que visa ampementação de um conjunto de acções
coerentes nos países com elevadas dívidas externas, impostas pelas instituições
financeiras internacionais – FMI e BM. Por exemplo, redução das despesas públicas, o
controlo dos défices comerciais e da inflação, orientação da economia para a
exportação, substituição das importações, abertura ao investimentno estrangeiro.
4.3.3.6.1 Medidas e objectivos
Após a crise do início da década de 80 do século XX, numerosos países em
desenvolvimento foram obrigados a alterar as suas políticas económicas. Tiveram de
adoptar políticas macroeconómicas conducentes à estanbilidade dos preços e instaurar
um equilíbrio monetário interno e externo duradouro para cumprir os programas de
ajustamento estrutural.
Com efeito, a renegociação da dívida tem por base medidas de reajustamento que
visam reduzir a despesa pública, abrir a economia à concorrência, sanear o sistema
financeiro e instaurar uma econmia de mercado.

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Vejamos as principais medidas e os seus objectivos:
Para combater o défice público:
- redução das despesas públicas
- supressão dos subsídios à importação
- privatização das empresas públicas
Para combater o défice comercial:
- diminuição da procura interna
- desvalorização da moeda
- abertura das fronteiras ao exterior
Para controlar a inflação:
- limites a emmissão da moeda
- congelamento dos salários
- subida das taxas de juro
4.3.3.6.2 Impacto soobre os países endividados
A aplicação destes programas tem sido objecto de grande controvérsia. Com efeito, as
exigências impostas pelas instituições financeiras internacionais aos países endividados
levam à tomada de decisões altamente gravosas para as populações, sobretudo as
camadas mais pobres. As medidas impostas traduzem-se num abaixamento do seu poder
de compra, o que vai afectar directamente as já fracas condições de alimentação e
habitação. O controlo forçado da despesa afecta o investimento público, piorando os
serviços de saúde e educação, bem como os restantes serviços à colectividade.
É possível o ajustamento estrutural com crescimento e redução da pobreza? Nos anos 80
do século XX, muitos países em desenvolvimento enfrentaram desequilíbrios
macroeconómicos sérios; alguns conseguiram ajustar-se, melhorar os desequilíbrios
orçamentais, tornar-se competitivos nos mercados globais e, também, alcançar
crescimento e redução da pobreza, incuíndo o Chile, Colombia, Indonésia e, de certo
modo, o Gana. Mas muitos não conseguiram recuperar e crescer, estando ainda a lutar
pela recuperação de um crescimento econímico sustentado.
As políticas de estabilização podem contribuir para a contenção da actividade
económica e pode funcionar contra o crescimento. Nos países onde o sector público é
dominante, a redução da despesa pública tem efeitos propagadores. Muitos pequenos
empreiteiros e fornecedores, para os mais variados tipos de actividades, entram em
dívida à medida que o negócio escasseia e o Governo falha nos pagamentos.

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São necessárias novas formas de ajustamento para promover o crescimento e a
redução da pobreza. Uma opção a explorar é o ajustamento através da reafectação e
crescimento em vez de ajustamento através de contrançõa. Isto significa manter os
investimentos em recursos humanos, físicos e naturais, mas reafectando-os as
actividades que correspondem às oportuidades de mercado. Reformas orientadas para o
mercado na China, Indinésia e Vietname mostram que o ajustamento, redução da
pobreza e crescimento podem ser compatíveis.
É preciso encarar ainda a adopção de políticas de apoio de emergência. Durante a
recessão e estabilização económica, o apoio de emergência pode possibilitar às pessoas
a garantia de condições mínimas de sobrevivência, evitar a subnnutrição e manter as
crianças na escola, evitando espirais descendentes até à pobreza crónica. Políticas bem
sucedidas incluem esquemas de emprego, pensões a inválidos e idosos, subsídios
alimentares orientados ou alívio da seca, por exemplo.
4.3.4 Necessidade da mudança na política das ajudas
Foi a constatação da falência das ajudas que levou à tómada de consciência da co-
responsabilização dos países doadores e dos países receptores. Hoje, existe consenso
sobre a necessidade de se introduzir uma viragem no sentido de garantir que as
ajudas sejam realmente canalizadas para projectos de desenvolvimento das
populações carenciadas. E apontam-se as seguintes linhas de orientação:
a) Consagrar a ajuda essencialmente a questões sociais prioritárias – saúde, educão
básica, controlo do crescimento demográfico, defesa do ambiente.
b) Tomar em consideração os níveis de pobreza nos critérios de repartição de APD
– as ajudas deveriam ser dirigidas às pessoas e não aos países. Por exemplo, os
10 países onde se encontram 3/4 dos pobres deveriam receber 3/4 das ajudas e
não apenas o actual 1/4.
c) Ligar as ajudas as preocupações comuns, satisfazendo os interesses dos
beneficiários e dos doadores. Quanto aos primeiros, têm razão ao exigir que as
ajudas devem ser em função das suas prioridades no domínio do
desenvolvimento humano, da criação de empregos e do crescimento económico
acelerado. Relativamente aos doadores, parece legítimo que subordinem as suas
dádivas às suas preocupações em matéria de direitos humanos, redução dos
fluxos migratórios internacionais, luta contra o terrorismo e tráfico de drogas,
combate à poluição.

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d) Promover uma boa gestão dos negócios públicos nos países em vias de
desenvolvimento. A APD deve ser orientada para domínios sociais e não para
despesas militares.
e) Utilizar a assistência técnica para contribuir para o reforço das capacidades
nacionais, formando especialistas e investindo em organizações locais.
f) Permitir as nações pobres tirarem benefícios do mercado mundial.
g) Criar uma nova motivação para a ajuda dos países desenvolvidos. Desaparecida
a guerra fria, a nova motivação tem de ser a luta contra a pobreza à escala
mundial, assente na consciência clara de que se trata de um investimento nas
nações pobres, mas igualmente na segurança das próprias nações ricas.
Nem toda a ajuda funciona – e alguma é desperdiçada. Mas, nas condições certas, a
ajuda pode fazer progredir o desenvolvimento humano através de vários canais. Esses
canais vão desde os efeitos macroeconómicos – incluindo maior crescimento e
produtividade – até à provisão de bens e serviços vitais para a construção das
capacidades dos pobres. Com efeito, a ajuda desempenha um papel crucial no
financiamento dos investimentos na saúde e educação necessários para criar capital
humano.
4.3.4.1 A desordem alimentar mundial
Enquanto que as grandes potências agrícolas se arruínam em subsídios para escoar o
trigo ou a carne que produzem, os países em vias de desenvolvimento recebem
alimentos a baixo preço, quais presentes envenenados, que não fazem mais do que
aumentar as suas dependências alimentar.
Por incrível que pareça, são os Estados que mais recebem os excedentes que mais são
encorajados a produzir. Aceitando a livre circulação de produtos tropicais, as grandes
potências económicas acabam por não contribuir em nada para uma ajuda aos países do
Sul. Com esta medida, estes países aumentam a sua especialização em produtos como o
cacau, o café, a juta e a borracha, continnuando dependentes do maná das produções
agrícolas ocidentais.
No mundo existem milhões de seres humanos que estão gravemente subalimentados e
diariamente pessoas morrem de fome ou das suas sequelas. Estima-se em menos de 10
segundos, a vítima é uma criança com menos de 10 anos.
Segundo a FAO, no actual estádio de desenvolvimento, o planeta tem condições para
alimentar o dobro da população mundial existente. Chega-se, então, à conclusão de que

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este massacre quotidiano não obedece a qualquer fatalidade, mas a uma ordem absurda:
quem tem dinheiro come e vive. Quem o não tem sofre, torna-se inválido ou morre.
A Ásia é o continente mais afectado, milhões de pessoas subalimentadas. Mas,
proporcionalmente, é a África Subsariana que paga o tributo mais pesado, milhões de
seres humanos estão permanentemente subalimentados.
A maior parte deles sofre daquilo a que a FAO chama fome extrema, o que quer dizer
que a sua ração diária se situa em média em 300 calorias, abaixo do regime que permite
sobreviver em condições suportáveis.
Uma criança que não se alimenta convenientemente desde o nascimento até aos 5 anos
sofrerá sequelas pela vida inteira. Se um adulto pode ter esperança na recuperação de
um período temporário de subalimentação, através de terapias adequadas, o mesmo não
acontece com uma criança. Privadas de alimentação, as suas células cerebrais sofrem
danos irreparáveis.
A fome e a má nutriçaão crónicas constituem uma maldição hereditária: todos os anos,
centenas de milhar de mulheres africanas gravemente subnutridas põem no mundo
centenas de milhar de crianças irremediavelmente atingidas.
Entrentanto, os EUA e a UE confrontam-se com excedentes da sua agricultura
largamente subsidiada. São esses excedentes que são canalizados para a ajuda
alimentar. Com efeito, a ajuda alimentar, se é certo que contribui para a segurança
alimentar das populações receptoras, permite aos doadores acabarem com o excedentes
de cereais, leite e manteiga.
E pode ter efeitos adversos: induzir novos hábitos alimentares, pelo fornecimento de
produtos diferentes dos produzidos localmente; colocar problemas aos respectivos
mercados, baixando o preço dos produtos e desincentivando a produção local; e criar
dependências crescentes ( no curto prazo, aumenta o consumo, não diminui a
vulnerabilidade).
A fim de minorar as consequências desastrosas das políticas extremistas de liberalização
e de privatizações, a Assembleia-geral da ONU decidiu criar um novo direito do homem
– o direito à alimentação, que se define como o direito ao acesso regular a uma
alimentação quantitativa e qualitativamente adequada e suficiente, de acordo com as
tradições culturais do povo a que o consumidor pertence, e que assegureuma vida física
e psíquica livre de angústia, satisfatória e digna.
4.3.4.2 A Ajuda da comunidade Europeia
A União Europeia é o maior dador em termos de auxílio ao Terceiro Mundo.

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Se em volume total de ajudas, os maiores doadores são a França, a Alemanha e o Reino
Unidos, em relação ao PNB, os países mais generosos são a Holanda (1%) e a
Dinamarca (0.89%). Refira-se ainda o contributo de outros dois países europeus, um
deles não integra a Comunidade: a Noruega, que afecta 1,2% do seu PNB às ajudas ao
Sul, e a Suécia (0,85%).
Os maiores benefiários da ajuda europeia são os países da África a Sul do Sara.
Mas uma coisa é a ajuda dos países-menbros e a outra é a ajuda comunitária
propriamente dita. Enquanto as primeiras são ajudas bilaterais, as segundas enquadram-
se nas ajudas multilaterais. Por proposta do Parlamento Europeu, hoje, os países
doadores esforçam-se por promover uma articulação das respectivas políticas e destas
com as da comunidade.
A política comunitária de ajuda ao desenvolvimento absorve cerca de 6% das despesas
comunitárias.
Razões que levam a UE a ter uma política de desenvolvimento
• A solidariedade humana
• Interesse político pela Paz – a fome é má conselheira e a instabilidade tem
tendência a manifestar-se em todos os países.
• Interesses económicos mútuos – os PVD são mercados potenciais. Assim,
ajudando os países a desenvolverem-se, criam-se novos mercados.
4.3.4.2.1 A integração económica
Na linguagem corrente a palavra integração significa ajunção de várias partes num todo.
Na literatura económica – encarada como processo, implica medidas destinadas à
abolição de descriminações entre unidades económicas de diferentes Estados; como
situação, pode corresponder à ausência de váris formas de descriminação entre
economias nacionais.
Deve distinguir-se uma integração de cooperação; a dirença é não só qualitativa, mas
também quantitativa. Enquanto cooperação incui uma acção tendente a diminuir a
disriminação, o processo de integração económica pressupõe medidas que conduzem à
supressão de algumas formas de discriminação, por exemplo, cabem no âmbito d
cooperação internacional os acordos internacionais sobre políticas comerciais, ao passo
que a supressão de barreiras aduaneiras é um acto de integração.
A integração económica, tal como é definida, pode revestir várias formas que traduzem
diferentes graus de integração, são estas: zona de comércio livre, união aduaneira,
mercado comum, união económica e integração económica total.
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Sendo apontado como principal objectivo da integração o aumento da eficciência na
afectação de recursos pela eliminação de discriminações e de restrições ao livre
movimento de mercadorias e factores produtivos, conseguidos através de:
a) Aumentos de produção resultantes de fenómenos de especialização, de acordo
com a dotação de factores de cadfa país.
b) Aumentos de produção derivados da exploração de economias de escala.
c) Melhoria dos termos de troca do grupo, relativamente ao resto do mundo.
d) Aumento de eficiência, resultante do acrescimmos de concorrêncnia dentro do
grupo.
e) Mudanças na quantidade e na qualidade de imputs, tais como aumento dos
fluxos de capital e avanço da tecnologia.
A integração visa também a consecução do pleno emprego, mais elevadas taxas de
crescimento, o equilíbrio dos desenvolvimentos regionais e da industrialização.
4.3.4.2.1.1 Conceito e formas de integração
Vimos que a integração económica consiste na criação de espaços de liberalização das
trocas entre países, pressupondo a abolição de obstáculos à livre circulação dos
recursos. Mas o processo de integração é gradual e pode assumir diversas formas.
Sistema de preferências aduaneiras
Considerado por alguns autores como uma forma elementar de integração, o sistema de
preferências aduaneiras traduz-se em acordos bilaterais em que se define conjuntos de
benefícios recíprocos entre países signatários. Em regra, resume-se na definição para
cada mercadoria do tipo de redução ou eliminação de direitos aduaneiros a beneficiar
nas transações comerciais entre os países em causa.
Zona de comércio livre
As vezas de comércio livre são a forma de integração mais simples e que implicam um
menor envolvimennto dos países-membros.
Consiste num acordo em que os países-membros aceitam abolir entre si todos os direitos
aduaneiros e restrições quantitativas ao comércio de mercadorias. No entanto cada país
é livre de manter as suas pautas próprias e as restrições quantitativas que entender em
relação a países não membros.
Um dos problema levantado nesta forma de integração é o da origem das mercadorias
envolvidas no comércio entre os países-membros.
Como cada país mantém as suas tarifas em relação a países terceiros e, à partida, essas
tarifas não são iguais, pode acontecer que mercadorias vinda do exterior entre na área

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atrvés do país com pauta aduaneniras mais baixas e depois circulem livremente para os
restantes países, neutralizando as suas políticas de comércio externo.
Imaginemos um país A, membro de uma zona de comércio livre, que, por razões de
protecção à sua indústria nascente, impunha tarifas altas a países concorrentes. Estes
países podiam ultrapassar essa barreira, fazendo entrar os seus produtos no país através
de outros países parceiros de A na zona de comércio livre, boicotando assim a política
de protecção à indústria deste país.
Estes problemas obrigaram os países-membros das zonas de comércio livre a
estabelecer regras rígidas para a definição da origem dos produtos.
União Aduaneira
As uniões aduaneiras são formas de integração mais avançadas que implicam um maior
comprometimento dos países-membrmos.
A unnião aduaneira, para além da eliminação dos direitos aduaneiros e das
contingentações no que se refere aos movimentnos de mercadorias no interior da união,
obriga à aplicação da mesma estrutura tarifária em relação às mercadorias vindas do
exterior.
Isto significa que cada país-membro tem de de adoptar para com terceiros uma Pauta
Exterior comum. A comunidade económica europeia assumiu, na sua primeira fase,
forma de uma união aduaneira.
Mercado comum
Num mercado comum atinge-se uma forma mais elevada de integração económica, em
que são abolidas não só as restrições ao llivre movimento de mercadorias, mas também
as restrições aos movimentos dos factores produtivos, trabalho, empresas e capital.
O avanço para esta forma de integração exige a adopção de um conjjunto de medidas
que permitem:
a) A mobilidade efectiva dos trabalhadores e a sua fixação no país que lhes
proporcione maior vantagens profissionais.
b) A fixação de empresas onde as condições forem mais vantajiosas (crédito mais
barato, menor burocracia, disponibilidade de força de trabalho qualificada, etc.).
c) O livre acesso às fontes de capitais em todos os Estados-membros, quer por
parte das empresas, quer por parte dos particulares.
A comunidade económica europeia, com a criação do mercado único, após a assinatura
do acto único europeu, adoptou esta esta forma de integração. A criação de grande
mercado interno unificado visa possibilitar a livre circulação de pessoas, mercadorias,

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serviços e capitais. A comunidade europeia e os seus Estados-membros transformaram
os então doze mercados nacionais distintos numa unnidade única. Ora, isso exige a
supressão de numerosas barreiras para conseguir harmonizar as legislações e
regulamentações dos diversos Estados-membros.
União Económica
A união Económica é uma forma de integração ainda mais elaborada e que exige dos
países-membros um elevado grau de comprometimento, pois que, para além da
supressão das restrições aos movimentos de mercadorias e factores de produção, associa
a harmonização das políticas económicas nacionais, de forma a acabar com as
discriminações resultantes das disparidades existentes entre essas políticas.
A adopção de políticas económicas e saociais visa alcançar uma maior convergência
económica e social, particularmente a redução do desenvolvimento entre as regiões mais
desfavorecidas e as que causam o atrso económico ou o que se encontram em crise.
União política
Numa união política, os países signatários definem como objectivo a adopção de
políticas comuns em matérias que ultrapassam o domínio económico, tais como política
externa e de segurança ou justiça e assuntos internos.
Integração económica ( união económica e monetária)
Quando a integração ultrapassa as fases antriores e pressupõe, para além de
harmonização de algumas políticas económicas, a unificação das políticas monetárias,
fiscais, sociais e exige o estabelecimento de uma autoridade supranacional, cujas
decisões sejam obrigatórias para os Estados-membros, estamos perante uma integração
económica total, ou seja, perante uma união económica e monetária.
A construção da união europeia constitui uma forma absolutamente original de
integração e o seu futuro dependerá das vontades expressas pelos Estados-membros em
cada momento, respeitando as diversidades nacionais e valorizando, ao mesmo tempo,
aspectos que podem conferir à união uma identidade própria.
Os governos dos Estados-membros, independemente das suas tendêncnias políticas,
sabem quem a era das soberanias nacionais absolutas está ultrapassada e que apenas a
visão de um destino para sempre partilhado.

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