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Stocker, Fabrício. Análise Microeconômica: Impactos no Funcionamento do Mercado e


na Sociedade. Rio de Janeiro: FGV, 2022.

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forma que é proibida a reprodução no todo ou em parte, sem a devida autorização
SUMÁRIO
ANÁLISE MICROECONÔMICA: IMPACTOS NO FUNCIONAMENTO DO MERCADO E NA SOCIEDADE
.......................................................................................................................................................... 5

PRESSUPOSTOS BÁSICOS DA ECONOMIA ...................................................................................... 6


História e evolução do pensamento econômico ...................................................................... 6
NÍVEIS DA ECONOMIA E ANÁLISE MICROECONÔMICA ................................................................. 9
Mercado e agentes econômicos ............................................................................................10
PRINCÍPIOS DA OFERTA, DEMANDA E ELASTICIDADE .................................................................11
Demanda e oferta ....................................................................................................................11
Curva da oferta.........................................................................................................................14
Elasticidade no mercado.........................................................................................................14
COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E DECISÃO ECONÔMICA .............................................15
PRODUÇÃO, CUSTOS E EFICIÊNCIA ECONÔMICA ........................................................................18
Função da empresa para a economia...................................................................................18
Função e período da produção ..............................................................................................19
Custos da produção.................................................................................................................20
Custos totais e custos médios ..........................................................................................21
Economias de escala ...............................................................................................................22

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 25

BIBLIOGRAFIA COMENTADA.......................................................................................................... 26

PROFESSOR-AUTOR ....................................................................................................................... 27

FABRICIO STOCKER ..................................................................................................................27


FORMAÇÃO ACADÊMICA .........................................................................................................27
EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS ...............................................................................................27
PUBLICAÇÕES E PRÊMIOS .......................................................................................................27
ANÁLISE MICROECONÔMICA: IMPACTOS
NO FUNCIONAMENTO DO MERCADO E NA
SOCIEDADE

Este curso tem por objetivo apresentar os pressupostos básicos e os fundamentos da ciência
econômica, tendo o seu foco na atividade econômica do indivíduo e da empresa. Partimos do ponto
de vista da análise microeconômica, em que são analisados os aspectos desagregados e mais
elementares da economia, para, posteriormente, entender o seu impacto no funcionamento do
mercado e na sociedade.
Os objetivos de aprendizagem para este curso são:
a) reconhecer a ciência econômica como a ciência que explica a forma como os agentes
econômicos alocam os seus recursos escassos;
b) listar os elementos que definem a oferta e demanda do mercado;
c) relacionar a quantidade demandada às variações de preço – elasticidade-preço da
demanda;
d) compreender o comportamento do consumidor para análise do mercado e
e) definir o custo de oportunidade das decisões de produção.

Para tanto, este curso está divido em cinco unidades: 1 – Pressupostos básicos da economia;
2 – Níveis da economia e análise microeconômica; 3 – Princípios da oferta, demanda e elasticidade;
4 – Comportamento do consumidor e decisão econômica; e 5 – Produção, custos e eficiência
econômica.
Pressupostos básicos da economia
O homem e a sociedade vêm aprendendo e desenvolvendo diferentes formas de administrar a
produção e o consumo dos bens e materiais. Diferentemente do início da civilização, quando o homem
produzia na sua própria fazenda tudo o que consumia e não negociava o que era excedente da sua
produção, hoje, e já a um bom tempo, a economia e aqueles que são responsáveis por essa área, estudam,
planejam e executam planos e estratégias de como maximizar a produção, buscando eficiência
econômica de modo a satisfazer as necessidades de cada indivíduo e também da sociedade.
Pode-se entender a Economia por meio da sua definição clássica, que, segundo Mochón
(2007), é “a ciência que estuda a maneira como se administram os recursos escassos, com o objetivo
de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu consumo entre os membros da sociedade”. Nessa
perspectiva, o conceito de economia, visto como a “alocação eficaz dos recursos escassos para
obtenção de um conjunto ordenado de objetivos” (MOCHÓN, 2007, p.1), apresenta-nos já os
princípios básicos da economia, relacionando-os com a escolha de como os recursos disponíveis na
sociedade serão utilizados; além disso, considerando que esses recursos são escassos (finitos), os
indivíduos estarão sempre preocupados com a oportunidade de melhor explorá-los e com o custo
da oportunidade em obtê-los.
O argumento constante sobre escassez de recursos dá ênfase à preocupação dos economistas
e de todos os agentes econômicos quanto à disponibilidade, na sociedade, de recursos como água,
alimento e energia bem como tempo e mão de obra, que, por serem “finitos”, precisam ser bem
administrados para que todos tenham acesso a curto, médio ou longo prazos.
Outra preocupação dos economistas é com relação ao processo de produção e de consumo,
ou seja, como serão produzidos esses bens (carros, casas e bens materiais) e o que leva os indivíduos
a consumirem e utilizarem determinados bens e serviços. Em outras palavras, é de interesse da
economia a análise dos fatores de produção – custo marginal, eficiência econômica de produção e
escalas de produção – bem como o comportamento do consumidor no que se refere à predição de
decisões de compra e ao monitoramento de oferta e demanda por bens e serviços.

História e evolução do pensamento econômico


A Teoria Econômica e a forma como a Economia é analisada hoje passaram por diversas
transformações e períodos de reflexão. É importante, portanto, conhecer quais as suas raízes e os
estágios pelos quais tais estudos passaram para você poder entender qual o atual estado da arte da
economia, ou seja, o que pensam, atualmente, os economistas e estudiosos dessa área.

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Embora existam outras obras e filósofos estudiosos da área econômica e comercial, Adam
Smith é considerado o pai da economia, cuja obra A riqueza das nações foi publicada em 1776.
Nesse período, entre os séculos XVI e XVII, os países mais poderosos eram os que viviam sob a
forma das monarquias, em que o governo era ainda representado por reis, rainhas e os seus
monarcas. Um exemplo disso é a Grã-Bretanha – Inglaterra, que era símbolo de poder e riqueza
para a Europa e para todo o mundo.
Nessa época, a riqueza dos países era simbolizada pelo número de posses e controle de recursos
preciosos, como pedras e metais, muito utilizados para manufatura (ferrovias, indústrias e grandes
construções); porém os países europeus possuem uma limitação geográfica e, por isso, a preocupação
em expandir os seus territórios sempre foi muito grande. Nesse sentido, esses governos realizaram
uma grande exploração nas suas colônias e em todos os territórios ainda não explorados. Um exemplo
disso foi a grande exploração realizada pelo reino português nas terras brasileiras, quando grande parte
dos recursos naturais brasileiros eram levados para a Europa, transformados e negociados para gerar
riqueza, o que valorizava a moeda de Portugal. Esse pensamento de exploração do comércio e
valorização da moeda local foi chamado de mercantilismo e é o marco inicial da teoria e prática
econômica, que, neste curso, chamaremos de marco 1 do pensamento econômico.
Para os mercantilistas, os países deveriam preocuparem-se com uma produção suficiente,
utilizando o máximo possível dos seus recursos, principalmente o trabalho humano, que, nesta
época, ainda era representado por condições de trabalho análogas à escravidão. Nesse sistema, os
países-colônia forneciam recursos materiais (pedra, minério, madeira, etc.) para a metrópole e
somente no país principal é que a manufatura e o comércio se desenvolviam.
Ainda nesse mesmo período – próximo do século XVIII –, uma outra corrente econômica e de
pensamento de produção também se desenvolvia, a chamada fisiocracia. Nessa vertente, os bens de
produção e todo o funcionamento da sociedade eram baseados no excedente da produção agrícola.
Ou seja, diferente de antes, os produtores agrícolas e grandes latifundiários não deveriam se importar
apenas com a subsistência, e sim com o máximo de produção em determinada área agrícola, para que,
com os recursos gerados na sua terra (plantação, etc.), pudessem negociar com outras regiões e países.
Naquele tempo, os fisiocratas – todos indivíduos que faziam parte do sistema –, acreditavam
que somente o trabalho agrícola apresentaria possíveis ganhos para sociedade e, por isso, grande
parte da organização do trabalho e de toda a comunidade se via em torno das fazendas. Desse modo,
definia-se, na sociedade, quem eram os proprietários de terra (os donos das fazendas, responsáveis
pela exploração da riqueza), a classe produtiva (que eram os arrendatários de terra, responsáveis pelo
cultivo, plantio e, até, pela negociação) e a classe estéril (que eram todos os outros artesões e
trabalhadores que não estavam vinculados à produção agrícola). Embora esse modo de pensar não
tenha durado muito tempo, essa forma de organização do trabalho e geração de riqueza para os
países, chamada de Fisiocracia, trouxe importantes contribuições para o pensamento atual da
Economia. Esse movimento ficou determinado como o marco 2 do pensamento econômico.

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O marco 3 do pensamento econômico recebe o nome de Utilitarismo e representa um
momento histórico de disruptura no modo como a economia e a organização do trabalho deveriam
ser pensadas. Nesse período, os pensadores econômicos começaram a refletir sobre a utilidade do
homem, se deveria limitar-se a gerar riqueza para o país ou a realizar o trabalho agrícola. Dessa
maneira, novas formas de trabalho e perspectivas de progresso econômico começaram a ser
discutidas, tendo uma maior preocupação sobre o bem-estar social, sobre o desenvolvimento das
cidades e sobre como o aumento da população poderia influenciar a diversificação do trabalho e a
geração de riqueza para a sociedade.
Dentro desse contexto de pensamento sobre o progresso econômico e sobre como os países e
as regiões poderiam desenvolverem-se social e economicamente, Adam Smith lança a sua
contribuição para o pensamento econômico, introduzindo a “Teoria da Mão Invisível” e a reflexão
sobre a atuação dos agentes econômicos e do Governo na geração de riqueza e equilíbrio social e
econômico dos países. É a partir desse momento que surge o marco 4 do pensamento econômico,
o qual começamos a chamar de Economia Clássica.
Para Smith, não deveria haver regulação do governo no mercado, uma vez que a dinâmica de
oferta e demanda seria a principal responsável pelo equilíbrio da economia e das negociações entre os
países. Nessa fase, o crescimento econômico já estaria pautado em três diferentes etapas: 1) aumento
da produtividade; 2) especialização da mão de obra e 3) acumulação de capital. Mas, para conseguir
esse crescimento econômico, dois fatores seriam preponderantes – o liberalismo e o individualismo.
Na perspectiva da economia clássica, fundamentada pelos pensamentos de Adam Smith
(1723-1790) e David Ricardo (1772-1823), o sistema de livre comércio e produção de bens e
serviços passa a ter um caráter científico, enquanto os sistemas de produção baseados na eficiência
em custos, na vantagem comparativa entre países e regiões e nos princípios de tributação e
contabilidade são agregados às decisões sobre o funcionamento e regulação do mercado. Cabia,
contudo, ao Estado, a função de proteção e zelo das condições de equilíbrio do mercado, obras
públicas e administração e justiça social.
Outros importantes pensadores econômicos que têm influência até hoje na forma como políticas
públicas e decisões econômicas são tomadas são: (i) John Maynard Keynes (1883-1937), autor da obra
Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em 1936, cuja abordagem, denominada
keynesianismo, pressupõe a intervenção do Estado para o Bem-Estar social, em oposição ao modelo
liberalista econômico; e (ii) Milton Friedman (1912-2006), economista norte-americano, ganhador do
Prêmio Nobel em Economia em reconhecimento às significativas contribuições para a modelagem de
sistemas econômicos, considerado um dos principais economistas modernos.
A partir desses 4 marcos do pensamento econômico, você pode entender a economia
neoclássica, que é a que mais se aproxima do panorama atual, cujos pressupostos debatem sobre a
organização da sociedade e atuação do Estado, os fatores de produção, os modelos de
monitoramento da oferta e demanda do mercado bem como a distribuição de renda e demais
modelos macroeconômicos emergentes deste milênio.

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Níveis da economia e análise microeconômica
A economia, assim como outras áreas de conhecimento, divide-se em diferentes abordagens,
dado o foco de análise e a intenção de aprofundamento. Os níveis da economia são representados
pela micro e macroeconomia. A microeconomia está direcionada a estudar as unidades econômicas
de forma individual, focalizando o comportamento das famílias e dos consumidores, e,
principalmente, os fatores de produção e o seu funcionamento no nível da firma, ou seja, analisa
como são tomadas as decisões; além disso, também se ocupa em calcular o custo de produção e os
demais atributos do processo produtivo.
Já a macroeconomia está direcionada para entender o funcionamento dos mercados e o
conjunto das unidades econômicas, observando, por exemplo, como o aumento do desemprego
pode ocasionar problemas na economia de um determinado país, ou como as negociações entre
diferentes blocos econômicos (União Europeia e Mercosul) podem influenciar a economia do
mercado asiático.
Enquanto a análise macroeconômica está preocupada com o comportamento agregado dos
agentes, a análise microeconômica preocupa-se com o comportamento individual dos agentes
econômicos. A análise microeconômica tem por objetivo analisar as unidades individuais do
mercado econômico. Nesse contexto, por unidades de análise, pode-se considerar o indivíduo –
consumidor, a empresa e até mesmo o mercado.
Partindo do pressuposto básico de que a economia deve gerenciar a escassez dos recursos, a
análise microeconômica se concentrará na decisão dos indivíduos perante esse problema de escassez.
Ou seja, analisará como se dá o comportamento de desejo e de compra de um determinado grupo
de indivíduos ante um bem ou serviço que não está disponível para todos.
A limitação que o agente econômico sofre é denominada “restrição orçamentária”. Essa
restrição simboliza o máximo dos seus recursos disponíveis contra o seu desejo de aquisição de bens
e serviços. Em outras palavras, considerando-se que uma família tem uma quantia X de renda
(somados os salários de cada membro da família), a soma de todas as despesas da casa (aluguel,
água, luz, gastos com mercado, farmácia e gastos gerais) não poderá ultrapassar esse valor X, visto
que ele representa a restrição orçamentária dessa família.
Assim como temos esse termo de restrição orçamentária para indivíduos/famílias, no caso das
empresas e do governo, utiliza-se o conceito de orçamento. Tanto as empresas como o governo
planejam o uso dos seus recursos e a aplicação correta dos seus investimentos, considerando o
orçamento disponível; caso contrário, o fechamento mensal/anual não irá acontecer, ou melhor,
acontecerá, mas a empresa/governo ficará em dívida pelo fato dos débitos serem maiores que o total
de receitas disponível (orçamento).

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Mercado e agentes econômicos
O funcionamento de um país e da sua economia se dá por meio das operações que acontecem no
seu mercado. Neste sentido, a palavra mercado figura como a instituição (física ou não) onde os fatores
produtivos são vendidos e comprados. A exemplo disso, temos o mercado imobiliário (venda e compra
de imóveis, casas, apartamentos), o mercado de bens de consumo (automóveis, eletrodomésticos,
móveis, lojas de vestuário, supermercados, materiais de consumo em geral), entre outros.
Conceitualmente, Mochón (2007) define como mercado toda instituição social na qual bens
e serviços assim como os fatores produtivos são trocados livremente. Para a economia, o
funcionamento do mercado é representado pelo conjunto de regras que estabelecem toda a ordem
de comercialização, produção e venda dos bens gerados no país. Por isso, geralmente, ouvimos falar
sobre como “anda” o mercado brasileiro ou, então, o mercado de determinado setor. Isso representa
o modo como a economia de determinado país ou setor está se comportando e reagindo às
influências externas e internas.
As influências externas e internas representam todos os fatos e acontecimentos que podem
interferir no funcionamento e na regulação do mercado. Influências internas podem ser ilustradas
de diferentes formas, por exemplo, pelo aumento do número de desemprego, pelas condições
ambientais dos países com chuva em excesso ou seca, pela melhoria nas condições sociais da
população, etc. Todos esses fatores podem acelerar a dinâmica do mercado ou enfraquecê-lo.
Já as influências externas no mercado econômico podem ser representadas, por exemplo, pela
oscilação de câmbio (dólar, libra, euro – moedas que afetam diretamente os preços de diversos
produtos no Brasil) ou pelos acordos políticos e econômicos em outros países, que podem afetar a
negociação de produtos brasileiros, entre vários outros acontecimentos de ordem externa ao Brasil,
mas que, de alguma forma, interferem no andamento do comércio interno e externo.
No contexto geral do mercado, identifica-se, pelo menos, três agentes econômicos que
influenciam e são influenciados pelas atividades econômicas. O agente 1 – empresa – representa todos
os atores envolvidos no processo de produção e comercialização dos bens e serviços. Para esse agente
econômico, os pressupostos da economia direcionam-se para buscar a maximização dos lucros e as
melhores decisões de produção, frente aos custos e investimentos necessários para tais objetivos. A
empresa é entendida como a entidade produtiva, seja indústria, seja comércio, seja instituição social,
que participa do mercado como agente motor, impulsionando os demais agentes do mercado.
Um outro agente econômico – o agente 2 – é a família, que representa o conjunto de
indivíduos ou unidade familiar cujo comportamento de compra e cujas condições orçamentárias
são foco de análise para a economia. Esse agente é responsável tanto por fornecer capital intelectual,
mão de obra e trabalho para a empresa, como por demandá-la por meio da aquisição de recursos,
bens e serviços. Para a economia, analisar a restrição orçamentária, a decisão de consumo e o
comportamento desses atores, é fundamental para melhor prever e explicar as condições econômicas
de uma determinada região ou país.

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Já o agente econômico 3 – governo – representa a atuação do Estado nas atividades
econômicas, seja na sua esfera municipal, seja na estadual, seja na federal. Esse importante ator
assume, por vezes, o papel de produtor de bens e serviços, por meio de empresas públicas e de
economia mista, mas assume, também, o papel de regulador e intermediador das atividades
econômicas por meio do seu sistema político e econômico.
Por meio da atuação desses diferentes agentes econômicos e do funcionamento do mercado, é
que a economia, especificamente a microeconomia, analisa e desenha os modelos econométricos para
predição e compreensão da situação econômica bem como das condições da empresa e dos indivíduos
em satisfazer as suas necessidades, em função da restrição de recursos e do seu próprio orçamento.

Princípios da oferta, demanda e elasticidade


Compra de produtos, venda de bens, troca de mercadorias, financiamento de imóveis e bens
de alto valor agregado, todas essas operações são possíveis graças à existência e regulação dos mercados.
A formação dos mercados é composta, basicamente, por grupos de compradores e vendedores,
podendo ter mais agentes operadores ao passo que a complexidade desse mercado aumenta.
Esse sistema de mercado é ilustrado por um fluxo monetário e um fluxo de produtos, ou seja,
o fluxo do pagamento pelos produtos (dinheiro, financiamento e demais formas monetárias) e o
fluxo dos fatores produtivos (produto, terra, trabalho humano e demais itens que podem ser
negociados e pagos).
O mercado econômico é representado por dois tipos de agentes: os compradores e os
vendedores, os quais, na Economia, são responsáveis por dois diferentes fenômenos – demanda e
oferta. Os compradores são os agentes responsáveis pela busca de determinado bem ou produto e,
por essa razão, estimulam a demanda por esse bem. Para a Economia, demanda é a quantidade de
um bem ou serviço de que os compradores/clientes estão em busca para efetuar o pagamento por
um preço definido pelo mercado.
Já a oferta é o resultado do que os agentes vendedores efetuam no mercado ao
disponibilizarem um determinado bem ou serviço, podendo também estimular o seu consumo, o
que gera uma elasticidade entre a oferta e a demanda. Esses conceitos e a forma como a Economia
interpreta as suas variações e implicações práticas serão aprofundados nesta unidade.

Demanda e oferta
A demanda de um determinado bem ou serviço refere-se à quantidade que um indivíduo tem
intenção de adquirir, em um determinado tempo, em razão do preço definido pelo mercado para a
sua aquisição (MOCHÓN, 2007).

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Nesse sentido, a intenção de compra de um indivíduo está relacionada com o preço do
produto, ou seja, quanto maior o preço de um produto, menor será a quantidade que o consumidor
estará disposto a pagar. Sob as mesmas condições, quanto menor o preço do produto, maior será a
demanda pela sua aquisição, uma vez que mais consumidores terão acesso para compra.
A Lei da Demanda, como é denominada na economia, explica a relação inversa existente
entre o preço de um bem e a quantidade demandada, no sentido de que o aumento dos preços
diminui a quantidade demandada, e, em contrapartida, a diminuição do preço aumenta a
quantidade demandada.
Exemplificando:
Imagine um determinado produto, que você use todos os dias e que tem um valor médio
determinado pelo mercado – por exemplo, um calçado. A definição do preço do calçado é levada
em conta somando-se todos os seus custos de produção, distribuição e venda, além da margem de
lucro do operador de vendas. O aumento do custo na produção e, consecutivamente, do preço dos
calçados vai gerar uma demanda baixa pelo produto, uma vez que as pessoas terão menos chance
de adquirir o produto em função do seu valor alto.
Da mesma forma, quando o número de unidades produzidas aumenta e, com isso, o custo é
diluído, o preço de venda pode vir a diminuir. Nessa dinâmica, o produto custará menos e terá uma
oferta maior para os consumidores, gerando, desse modo, uma demanda menor de consumo e uma
oferta maior de produtos. Essa dinâmica de oferta e demanda pode ser aplicada a praticamente
todos os bens na sociedade, desde alimentos – laranja, feijão, tomate –, até bens de alto valor
agregado, como carros e imóveis.
Para analisar a tabela de demanda e a relação entre o preço de um determinado produto e a
quantidade demandada, utilizaremos o exemplo do lançamento de uma nova linha de calçados.
Atribuindo os fatores de produção, custos e mão de obra, esse produto é oferecido a um valor de
R$ 300,00 no mercado. Para tal, apenas 10 unidades são demandadas, uma vez que apenas 10
indivíduos têm a possibilidade de gastar essa quantia de valor por esse determinado produto.
Conforme a empresa maximiza a eficiência de produção desse produto, diluindo os seus custos, o
produto é oferecido a um preço mais baixo, chegando a custar até R$ 30,00. Nessas condições,
haveria uma procura de até 1 mil unidades, ou seja, considerando a compra de uma unidade por
consumidor, teríamos até mil consumidores dispostos a pagar esse valor pelo produto.

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Figura 1 – Tabela de demanda

preços e quantidades demandadas

preço quantidade demandada

R$ 30,00 1.000 unidades

R$ 45,00 700 unidades

R$ 90,00 300 unidades

R$ 180,00 50 unidades

R$ 300,00 10 unidades

Figura 2 – Gráfico da curva de demanda – relação entre preço e quantidade demandada

Fonte: elaboração própria.

Cabe ressaltar que a análise da demanda leva em consideração a intenção de compra e a


restrição orçamentária dos indivíduos, uma vez que consideramos que o aumento do preço de um
determinado bem pode levar à procura de outro bem; além disso, a intenção de compra também
pode afetar a disponibilidade e oferta no mercado. Um fenômeno existente que tem relação com a
oferta e demanda refere-se ao efeito substituição, cuja relação está na decisão de substituir o produto
desejado por um outro produto similar, em contextos em que a condição financeira do indivíduo
possibilita apenas a compra do item/bem substituto. Esse fenômeno é, frequentemente,
mencionado em períodos de crise ou recessão econômica, quando o índice de inflação é alto, o que
faz com que os consumidores mudem os seus hábitos de compra, tendo que tomar a decisão de
compra por itens mais baratos, ainda que estes não satisfaçam as suas necessidades.

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Curva da oferta
Seguindo o mesmo princípio da demanda, a curva da oferta estará intimamente relacionada
aos fatores de produção e à intenção dos produtores de determinado bem/produto/serviço em
oferecer no mercado uma quantidade desse item por uma quantia de valor. Aqui, a curva é analisada
sob a perspectiva do ofertante: o quanto ele estará disposto a vender e por qual preço, considerando
o seu custo marginal de produção, ou seja, o preço do produto a ser ofertado precisa ser superior
aos custos de produção, e essa decisão estará, ainda, condicionada à eficiência econômica e técnica
da produção.
Nesse contexto, a lei da oferta representa a relação entre o preço do produto e a quantidade
que está sendo ofertada, sendo que, quanto maior o preço, maior será a quantidade ofertada, uma
vez que os ofertantes buscarão um lucro maior frente ao aumento da oferta.
A curva de oferta também pode sofrer com deslocamento em razão de alguns aspectos, como
os preços dos fatores de produção e a tecnologia disponível. Quando ocorre uma melhoria nos
meios de fabricação de determinado bem, seja pelo uso de tecnologia ou não, e, por alguma razão,
o preço dos fatores de produção é reduzida, a curva de oferta é alterada uma vez que uma maior
quantidade de produtos estará disponível para venda.

Elasticidade no mercado
A curva de oferta e demanda pode sofrer alterações por uma série de fatores, e o reflexo dessa
alteração é o que se denomina na economia de elasticidade de oferta e demanda no mercado. Alguns
fatores podem interferir na curva de oferta e demanda, tais como: alteração do nível de renda dos
consumidores, mudanças do comportamento do consumidor com relação a gostos e preferências e
também alteração dos preços de outros bens relacionados, que podem substituir o item que está
sendo analisado.
Quando há um aumento na renda média da população, argumenta-se que a economia será
aquecida, uma vez que esses consumidores estarão dispostos a comprar mais bens/produtos; como
o seu poder de compra foi elevado, isso certamente movimentará a curva de demanda, sem que,
necessariamente, o valor do preço do item seja diminuído.
Vale ressaltar que alguns bens podem ser classificados como “bem normal” e outros como
“bem inferior”: a diferença básica entre eles é que a demanda por cada um tem uma dinâmica
diferente, conforme a renda do consumidor aumenta ou diminui. Exemplo: um alimento como
margarina – à medida que a renda é aumentada, a demanda pela sua procura poderá ser diminuída,
uma vez que o consumidor terá recursos para adquirir outros produtos que a substituem.

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Em ambos os casos, a economia irá se preocupar com a elasticidade da demanda dos
consumidores e a elasticidade da oferta dos produtores desses bens. Toda variação entre demanda e
oferta, busca e procura, pelos bens e serviços na sociedade pode ser explicada pelas diferentes
tipologias de elasticidade econômica.

Figura 3 – Deslocamentos da demanda

Fonte: elaboração própria.

O ponto de equilíbrio entre a curva de oferta e demanda simboliza a satisfação entre os


compradores e vendedores, ou seja, consumidores e ofertantes sobre o preço que está sendo
praticado e a quantidade de unidades e preço que os consumidores estão dispostos a comprar. A
figura anterior apresenta o gráfico dos preços (P1 e P2) e das quantidades (Q1 e Q2), para os quais
teríamos dois pontos diferentes de demanda (D1 e D2), considerando que diferentes fatores
influenciaram essa demanda. O ponto de equilíbrio, nesse caso, representaria o preço de equilíbrio
(linha S), cujas quantidades demandas e ofertadas seriam igualadas.

Comportamento do consumidor e decisão econômica


Um dos princípios da Economia refere-se ao fato de os indivíduos estarem sempre envolvidos
em trade-offs – escolhas. Dessa forma, a teoria da escolha do consumidor vai olhar o trade-off,
observando o que os consumidores, formando a demanda no mercado, vão fazer para escolher, em
um determinado momento, uma quantidade de qualquer bem, ou seja, como a decisão é tomada
quando, para comprar uma quantidade de um bem, deverá renunciar a outro. O ponto principal é
a limitação das escolhas representada pela renda – restrição orçamentária, que é o limite das
combinações de consumo dos bens que o consumidor poderá adquirir.

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Analisar as preferências e escolhas dos consumidores, envolve entender como se comporta a
linha orçamentária dos indivíduos, que está condicionada à sua renda média, observar as curvas de
indiferença, considerando-se a taxa marginal de substituição de produtos, assim como compreender
os efeitos das variações de preço nas decisões de consumo. Todos esses fatores influenciam a curva
de oferta e demanda, conforme mencionado na unidade anterior.
Para a abordagem econômica, duas premissas principais regem a teoria do consumo: a
maximização da utilidade e a minimização do gasto. Na maximização da utilidade, o consumidor é
limitado pela sua restrição orçamentária. Dessa forma, a escolha para o consumo de determinado
bem ou serviço está relacionada ao máximo de satisfação ou utilidade em adquirí-lo. Essa premissa
parte do princípio da racionalidade, ou seja, considera-se que o consumidor é racional, uma vez que
são analisados os benefícios da utilidade e do consumo, dadas as suas condições orçamentárias.
O pressuposto da racionalidade, nesse sentido, reforça o argumento de que os indivíduos e a
família, entre as diversas possibilidades de escolhas de produtos, optarão por aquele que trará maior
utilidade e bem-estar individual. É o que se chama de comportamento padrão, isto é, o consumidor
tem as suas escolhas e julga as suas preferências de modo a otimizar a decisão de compra, sem incluir
mais variáveis e viezes para a decisão. Sabe-se, contudo, que outras abordagens teóricas,
principalmente nas áreas de Marketing, Consumo e Economia Comportamental, analisam o
processo de compra e decisão de forma a abranger a sua complexidade, as suas heurísticas e os seus
viezes, porém sem ignorar o pressuposto básico, abordado pela economia, sobre a decisão racional
e econômica do indivíduo.
A segunda premissa da teoria do consumo pela abordagem econômica refere-se à intenção de
minimizar os gastos, ou seja, o consumidor irá escolher o número de mercadorias em face da sua
intenção de gastos, limitando-se, dessa maneira, a um nível de utilidade da compra. Esse ponto de
equilíbrio, entre a restrição orçamentária e a curva de indiferença, representa o quanto de um
determinado bem o consumidor está disposto a comprar em relação ao consumo de outro bem.
Quando se fala da teoria do consumidor, outros conceitos são apresentados e discutidos, tais
como: preferência, curva de indiferença, utilidade, taxa marginal de substituição e o próprio ponto
de equilíbrio.
A conceito de preferência refere-se ao fato de que, na diversidade de produtos, o consumidor,
tendo recursos para adquirí-los, irá ordenar, de acordo com a sua preferência, quais produtos irá
comprar/consumir. A representação disso se dá da seguinte forma: produto A é preferido ao produto
B; produto C não é preferido ao produto B; produto D é indiferente ao produto E.
A análise econômica da preferência do consumidor irá considerar o seu desejo de compra,
uma vez que o consumo de cada indivíduo irá influenciar na curva de demanda, conforme já
discutimos anteriormente.

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Exemplificando:
A curva de indiferença surge exatamente para exemplificar os possíveis pontos e momentos
de decisão do consumidor em relação a querer comprar número x de produtos A e, ao mesmo
tempo, comprar número x-1 de produtos B. Em outras palavras, suponhamos que um determinado
consumidor tem a intenção de consumir até R$ 500,00 por mês em refeições prontas. Para tanto,
ele pode ir seis vezes a um restaurente e pedir duas vezes a entrega de refeição na sua casa, ou o
mesmo consumidor poderá pedir seis vezes a entrega de refeição em casa e ir duas vezes a um
restaurante. Considerando a diferença entre os valores e a restrição orçamentária do indivíduo, esse
consumidor terá de optar pela forma como irá usar os seus recursos.
No exemplo do mapa de preferências (figura seguinte), você poderá observar que o indivíduo
(ou a família) estará satisfeito com o consumo tanto no ponto “C” como no ponto “G” da curva de
indiferença. Ou seja, a curva ilustra as combinações de consumo que se mostram indiferentes, mas
ainda preferíveis pelo consumidor.

Figura 4 – Mapa de preferência e taxa marginal de substituição

Fonte: PARKIN (2008, p. 170).

Nesse momento, cabe, ainda, analisar a taxa marginal de substituição, quer dizer, o custo pelo
qual o consumidor está disposto a pagar para adquirir mais de um bem em detrimento de outro. A
inclinação na curva de indiferença representa a taxa marginal de substituição, ou o quão disposto o
consumidor está para trocar as suas combinações de consumo.
Essa margem de substituição pode ser acentuada quando o consumidor é apresentado a bens
substitutos próximos, em que o benefício e a utilidade de determinado bem ou serviço é bem
parecido e análogo ao do produto a ser adquirido, como no caso de produtos similares cuja
diferenciação de dá pela marca. A menos que a compra pela marca tenha um apelo social – via
aceitação de grupo, status social ou outros atributos da marca, as demais características do produto
podem ser muito similares e, por isso, facilmente substituído. Além disso, o consumidor pode optar
por bens complementares, ou seja, deixa de optar pelo produto A e B, em razão do produto C
atender todas as necessidades.

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Acompanhar a tendência de consumo e as preferências dos consumidores, auxilia as decisões
de produção e funcionam como um termômetro do ambiente econômico, uma vez que essas
informações estão intrinsicamente relacionadas ao orçamento das famílias e indivíduos e, dessa
forma, à possibilidade de movimentação das curvas de oferta e demanda do mercado.

Produção, custos e eficiência econômica


Função da empresa para a economia
Para a economia, a função principal da empresa é dada pela sua função produtiva. Ou seja, a
empresa é encarregada de combinar os fatores de produção (trabalho, capital e recursos naturais),
utilizando-os para gerar os bens e serviços que serão vendidos no mercado.
Para a Teoria Econômica, a atividade fundamental da empresa é a produção, e o seu principal
objetivo é maximizar o lucro (PARKIN, 2008). Para isso, o foco da empresa será na alocação dos
seus recursos, como mão de obra, máquinas, equipamentos e espaço físico, de modo a minimizar
os custos de produção da quantidade oferecida, buscando sempre alcançar a eficiência econômica e
maximização dos lucros.
Um importante pressuposto do pensamento econômico deriva-se da Teoria da Firma, a qual
é responsável por discutir as variáveis econômicas das empresas, tais como preço, produção e
crescimento. Para a Teoria da Firma, o objetivo principal de uma empresa é a maximização dos
lucros. Mas o que isso significa?
No processo produtivo, a empresa está envolvida por uma série de custos por conta dos seus
inputs no processo de produção, ou seja, trata-se de atividades que indicam o quanto a empresa está
gastando para adquirir os recursos e materiais necessários para a produção de um determinado bem,
o quanto a empresa está investindo na contratação do capital humano (trabalhadores) e o quanto a
empresa investiu para a aquisição das suas instalações físicas, equipamentos e maquinários. Ao final
do processo de produção, o produto gerado deverá ser precificado de modo que todos esses custos
na produção sejam recompensados e, além disso, ainda há as taxas de impostos e os lucros esperados
pela empresa.
O foco da Teoria da Firma, centrado nesse pensamento econômico racional, argumenta que
as empresas devem ser o máximo possível eficientes para que os custos sejam minimizados e, dessa
forma, os lucros sejam cada vez maiores. É um discurso voltado para a centralização do
acionista/proprietário da empresa, sendo este o responsável e também o maior beneficiário dessa
eficiência econômica.

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Função e período da produção

Para explicar a produção na perspectiva econômica, é importante dar atenção a alguns


conceitos relevantes, quais sejam: função de produção, produção de curto e longo prazo, produto
total e produto médio do trabalho, rendimentos de escala, eficiência técnica e eficiência econômica.
A seguir, adentraremos em cada um desses conceitos.
A função de produção representa a quantidade máxima de produção de um determinado
produto, dadas as condições produtivas da empresa, considerando os seus recursos e materiais
disponíveis.
Exemplificando:
A função de produção de uma indústria de móveis irá representar o número total de itens que
a indústria pode produzir (seja guarda-roupas, seja camas, seja outros itens), considerando o seu
espaço físico, os equipamentos e maquinários e também os trabalhadores que estão operando. Essa
função de produção é utilizada para calcular a capacidade máxima de produção de uma empresa.
A produção de curto e longo prazo representa, no processo de produção, o período de tempo
em análise, seja ele de curto, seja de longo prazo; o que pode trazer variáveis significativas para a
análise da função de produção e eficiência da produção. Na produção, alguns fatores são
denominados como fixos e outros como fatores variáveis, e a variação entre esses fatores influenciará
a quantidade da produção.
Em outras palavras, no processo produtivo, a empresa pode aumentar a sua função de
produção, porém, em um curto prazo, ela terá alguns fatores de produção disponíveis, enquanto no
longo prazo, mais funcionários, equipamentos e outros fatores de produção precisariam ser
incorporados na operação da empresa.
Produto total e produto médio do trabalho é um conceito que remete à quantidade de um
bem, produzido em uma empresa, que pode ser representado de duas formas: (i) produto total, que
é a quantidade total da produção obtida por diferentes níveis de trabalho, e (ii) produto médio do
trabalho, que é a média/quociente entre o total da produção e a quantidade de trabalho gasto para
a produção; essa média pode ser calculada em razão do tempo, do material ou dos trabalhadores.
O que é importante destacar nesses dois conceitos é que a produtividade não é constante
conforme se aumenta os níveis de produção, isso porque os demais itens da produção serão
utilizados ao mesmo tempo e, além de outras razões, a curva de produtividade não será sempre
ascendente/positiva.

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Figura 5 – Produto médio e produtividade

Rendimentos de escala remete aos rendimentos de produção, que podem ser de economias
de escala crescentes ou rendimentos constantes de escala. Para o primeiro tipo de rendimento de
escala, a proporção de utilização dos fatores de produção é a mesma em relação à quantidade que
será obtida de produtos. Nesse esquema de produção, se dobrarmos a quantidade de fatores,
obteremos o dobro de produtos produzidos. Já no rendimento constante de escala, à medida que a
utilização dos fatores de produção é aumentada, ocorre uma variação na quantidade de produção.
Eficiência técnica refere-se à maximização da produção diante do total de fatores de
produção disponíveis. Ou seja, empregando oito horas de trabalho com quatro funcionários, a
técnica de produção “A” entregará um produto. Enquanto isso, a técnica de produção “B”
despenderá 17 horas de trabalho com três funcionários. Na proporção final, a técnica B é mais
ineficiente, enquanto a técnica A é a mais eficiente.
Eficiência econômica: enquanto a eficiência técnica irá se preocupar com a quantidade de
produtos, entregues com determinado número de fatores de produção; a eficiência econômica avaliará
qual produção será mais eficiente economicamente, ou seja, qual permitirá produzir determinado
produto com o menor preço. Para esse fator, a escolha é feita pelos custos envolvidos nos fatores de
produção. Isso é utilizado, principalmente, quando se tem técnicas de produção similares, em que
ambas são eficientes, porém a diferenciação pode ocorrer por meio da eficiência econômica.

Custos da produção
Como atividade principal produtiva, as empresas estão, frequentemente, preocupadas com a
aplicação eficiente dos seus recursos e a diminuição dos seus custos. De fato, a própria alocação correta
e eficiente dos recursos já é uma forma de diminuição dos custos, mas há, também, uma série de
outras possibilidades de gerenciamento que vão afetar o processo produtivo e os custos da produção.
Para melhor discutir o processo de produção, a economia de custos se baseia em diferentes funções
de análise do custo, como os custos totais, custos fixos e outros, que serão esclarecidos na sequência.

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Custos totais e custos médios
A quantidade de itens produzidos e a variação dos custos envolvidos no processo irão
determinar os custos totais da produção. Esse montante final de custo pode ser representado pela
soma dos custos fixos (todos os gastos com fatores fixos já programados, como instalação física,
trabalhadores, entre outros fatores que não dependem da quantidade de produtos que será
produzida) e também pelos custos variáveis (custos condicionados à quantidade de itens a serem
produzidos), de modo que, quanto maior o volume de produção, maior serão os custos variáveis.
Exemplificando:
No caso de uma indústria de calçados, os custos fixos da produção estão relacionados à
instalação física do imóvel, incluindo custos com o aluguel, a energia elétrica, os impostos da
propriedade, entre outros; também são custos fixos os salários dos funcionários e todos os outros
gastos que a empresa terá, operando na sua capacidade mínima ou máxima.
Já os custos variáveis estão relacionados com o volume da produção, logo, se a empresa
produzir 200 calçados no mês, será necessário um determinado volume de matéria prima, que gerará
um custo para a empresa. Mas, se a empresa produzir 400 calçados no mês, consecutivamente, a
empresa terá um custo maior por conta da compra de mais matéria-prima. Nesse sentido, os custos
variáveis estarão, proporcionalmente, relacionados ao volume de produção.
Outra forma de analisar os custos da produção é por meio do cálculo dos custos médios. Esse
valor representa o quanto os custos totais da produção estão diluídos em cada unidade produzida.
Para cálculo dos custos médios, deverão ser divididos os custos totais pelo total da quantidade de
unidades produzidas.
Na representação a seguir, temos um exemplo em que a produção de um único produto tem um
custo total de R$ 200,00; por ser uma produção única, o custo médio permanece o mesmo. Quando é
aumentado o número de unidades produzidas, o custo total aumenta, mas o custo médio diminui.

Figura 6 – Exemplo da diluição dos custos totais da produção

unidades do produto custo total custo médio

1 200 200

2 280 140

3 330 110

4 450 112,50

5 625 125

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O que é interessante notar é que o custo médio é representando por um valor que, após uma
determinada quantidade de produção, irá diminuindo até chegar a um ponto em que ele voltará a
aumentar. Desse modo, é possível identificar que o número de quantidades ideal para produção é
três, em que o custo médio da produção ficou menor, em R$ 110,00. A partir de três unidades, o
custo total da empresa ficará mais alto e o custo médio por unidade produzida deixará de diminuir,
o que pode representar uma menor margem de lucro.

Economias de escala

Cada empresa tem um fluxo produtivo e uma dinâmica de trabalho. Em alguns casos, porém,
as economias de escala são utilizadas como estratégia para a minimização dos custos e, dessa forma,
aumentar os lucros sobre a produção. A economia de escala nada mais é que encontrar o ponto de
equilíbrio entre a máxima produtividade e o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis e,
com isso, um melhor custo médio por unidade produzida.
As economias de escala são representadas por curvas gráficas que simbolizam a quantidade de
unidades de produtos pelo valor dos custos médios a longo prazo. Dessa maneira, pode-se ter dois
tipos de curvas, crescente e decrescente, conforme é ilustrado na figura seguinte.

Figura 7 – Gráfico das economias de escala

O que se pode observar é que o custo médio dos produtos vai diminuindo até certo ponto,
conforme a quantidade de unidades que são produzidas. Nesse movimento, a expansão da produção
está associada à redução do custo unitário do produto e, por isso, tem-se um rendimento crescente
ou uma economia de escala.

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Por outro lado, quando a produção é aumentada, os custos médios por unidade de produto
também aumentam e, então, os rendimentos serão decrescentes, resultando na curva de produção
que será chamada de deseconomia de escala. Nesse esquema de produção, a empresa precisa se
ajustar e repensar a utilização dos seus recursos – materiais, humanos e outros – para que o aumento
da produção não represente um aumento proporcional de custos médios, impedindo uma melhor
geração de lucro.

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BIBLIOGRAFIA
BANCO CENTRAL DO BRASIL – Política Monetária do Governo Federal. Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/controleinflacao. Acesso em: 08 ago. 2022.

BRANDENBURGER, Adam M.; NALEBUFF, Barry J. The right game: use game theory to shape
strategy. Chicago: Harvard Business Review, 1995

COMEX – Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços – Comex estatísticas. Disponível


em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis. Acesso em: 01 ago. 2022.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. Sistema De Contas Nacionais Trimestrais –


SCNT. 2.Trimestre 2020. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-
nacionais/9300-contas-nacionais-trimestrais.html?=&t=resultados. Acesso em: 01 ago. 2022.

IBRE/FGV– Instituto Brasileiro De Economia Da Fundação Getúlio Vargas. Disponível em:


https://portalibre.fgv.br/. Acesso em: 26 jul. 2022.

IBRE/FGV– Portal da Inflação do Instituto Brasileiro De Economia Da Fundação Getúlio Vargas.


Disponível em: https://portal-da-inflacao-ibre.fgv.br/. Acesso em: 26 jul. 2022.

MOCHÓN, Francisco. Princípios de economia. São Paulo: Editora Pearson Prentice Hall. 2007.

PARKIN, Michael. Economia. 8. ed. São Paulo: Editora Pearson. 2008.

WORLD BANK – Indicados De Desenvolvimento Do Banco Mundial - Databank. Disponível em:


https://databank.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.KD.ZG/1ff4a498/Popular-Indicators.
Acesso em: 01 ago. 2022.

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BIBLIOGRAFIA COMENTADA
PARKIN, Michael. Economia. 8. ed. São Paulo: Editora Pearson. 2008.
Nesta obra, já tradicional na área de economia, o renomado autor apresenta os princípios das
ciências econômicas e aprofunda o conteúdo, exemplificando como a ação econômica tem
impacto na vida cotidiana da população, no desenvolvimento e na decisão dos negócios bem
como no crescimento e desenvolvimento econômico dos países.

MOCHÓN, Francisco. Princípios de economia. São Paulo: Editora Pearson Prentice Hall. 2007.
Neste livro de Mochón, somos apresentados a toda a base conceitual da economia e também
temos a sua aplicação ferramental no contexto das empresas brasileiras, graças à contribuição
do professor Rogério Mori da FGV/EESP. Nesta obra, são aplicados e analisados os conceitos
de oferta e demanda em todos os aspectos da economia, além de ser apresentado o seu reflexo
tanto no viés macro quanto no microeconômico para a decisão dos países e das empresas.

ROTH, Alvin. Como funcionam os mercados: a nova economia das combinações e escolhas. São
Paulo: Portfolio Penguin, 2016.
Ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2002, Roth apresenta, neste livro, os novos
desdobramentos do pensamento econômico, refletindo os atuais problemas de competição
entre os mercados e a organização das estruturas de mercado. Nesta obra, são discutidos,
ainda, conceitos econômicos clássicos, que têm grande impacto no cotidiano de qualquer
indivíduo, e também novas estruturas de negócios, com o surgimento de empresas baseadas
em alta tecnologia e criação de demanda em mercados até então não explorados.

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PROFESSOR-AUTOR
FABRICIO STOCKER

FORMAÇÃO ACADÊMICA
 Pós-Doutor pela FGV/EBAPE
 Ph.D pela Rotterdam School of Management – Erasmus
University of Rotterdam.
 Doutor em Administração pela Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da Universidade de São
Paulo (FEA/USP).

EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS
 Possui experiência profissional em cargos de gestão na indústria de alimentos, tecnologia
e inovação, indústria farmacêutica e serviços.
 Consultor técnico na área de estratégia, risco e stakeholders na FGV Projetos.
 Atua como professor em cursos de graduação e pós-graduação, nas áreas de economia,
gestão, estratégia para negócios, responsabilidade corporativa, ESG e gestão
de stakeholders.

PUBLICAÇÕES E PRÊMIOS
 Como pesquisador, é autor de publicações em revistas científicas nacionais e internacionais
como Public Management Review, Corporate Social Responsibility and Environmental
Management, The Bottom Line, International Journal of Management and Decision Making,
Brazilian Business Review bem como recebeu destaque acadêmico e a premiação de melhor
pesquisa em diversas categorias.

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