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Resumo (Aulas 1, 2 e 3)

(Texto adaptado do Manual de Economia, organizado pela equipe de professores do


Departamento de Economia da FEA/USP).

 Introdução geral à ciência econômica: Teoria Microeconômica e


Macroeconômica

Este resumo tem como objetivo estimular o estudante à percepção e ao


interesse pelos problemas econômicos; e a familiarizá-lo com as teorias
econômicas. O desafio é grande, mas a paciência, a vontade e o entusiasmo
devem ficar acima das dificuldades. Cada conceito deve ser rigorosamente
entendido, para que não se perca a coerência lógica do raciocínio analítico que é
inerente ao pensamento econômico.
O marco inicial da etapa científica da Teoria Econômica coincidiu com os
grandes avanços da técnica e das ciências físicas e biológicas, nos séculos XVIII
e XIX. Nesse notável período da evolução do conhecimento humano, a Economia
construiu seu núcleo científico, estabeleceu sua área de ação e delimitou suas
fronteiras com outras ciências sociais.
Etimologicamente, a palavra Economia vem do grego OIKOS (casa) e
NOMOS (lei). Ou seja, a “administração da casa”, que pode ser entendida como
“administração do ambiente em que o homem está inserido”.
A ciência econômica pode ser definida como a ciência social que estuda a
maneira pela qual os homens decidem empregar recursos escassos, a fim de
produzir diferentes bens e serviços e atender às necessidades de consumo da
sociedade Enfim, é uma ciência social que tem como objetivo atender às
necessidades humanas. No entanto, ela deve levar em consideração a escassez
de recursos ou fatores de produção (mão-de-obra, capital, terra, matérias-primas).
A escassez surge devido às necessidades humanas ilimitadas e à restrição
física dos recursos. Afinal, o crescimento populacional renova as necessidades
biológicas; o contínuo desejo de elevação do padrão de vida e a evolução
tecnológica fazem com que surjam “novas” necessidades (computador, freezer,
vídeo, CD, etc.). Por isso, países mais ricos também apresentam necessidades
ilimitadas em face de seus recursos. O Japão, por exemplo, precisa importar a
maior parte das matérias-primas que utiliza.
Se não houvesse escassez de recursos, ou seja, se todos os bens fossem
abundantes (bens livres), não haveria necessidade de estudarmos questões como
inflação, crescimento econômico, déficit no balanço de pagamentos, desemprego.
Esses problemas simplesmente não existiriam (e obviamente nem a necessidade
de se estudar Economia).
A Economia, é normalmente dividida em quatro áreas de estudo, são elas:

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Microeconomia: estuda o comportamento de consumidores e produtores e
o mercado no qual interagem. Preocupa-se com a determinação dos preços e
quantidades em mercados específicos. Em suma, analisa a formação de preços
no mercado a partir da compreensão de como a empresa e o consumidor
interagem e decidem qual o preço e a quantidade de determinado bem ou serviço
em mercados específicos.

Hipótese Ceteris Paribus


Na análise de um mercado específico, a Teoria Microeconômica
se vale da hipótese, em latim, ceteris paribus, que significa: tudo o
mais permanece constante. Com a condição ceteris paribus, o foco do
estudo é dirigido apenas àquele mercado, analisando-se o papel que a
oferta e a demanda nele exercem, supondo que outras variáveis
interfiram muito pouco, ou que não interfiram de maneira absoluta.
Então, adotando-se a hipótese ceteris paribus, torna-se
possível o estudo de um determinado mercado selecionando-se,
apenas, as variáveis que influenciam os agentes econômicos -
produtores e consumidores – nesse particular mercado,
independentemente de outros fatores que estão em outros mercados,
que poderiam influenciá-los.

Macroeconomia: estuda a determinação e o comportamento dos grandes


agregados como PIB, renda, consumo nacional, investimento agregado,
exportação, nível geral dos preços, balança de pagamentos, taxas de câmbio etc.
Preocupa-se com a resolução de questões como inflação e desemprego em curto
prazo através das metas de política macroeconômica: alto nível de emprego,
estabilidade de preços, distribuição de renda socialmente justa, e crescimento
econômico.
Desenvolvimento Econômico: estuda modelos de desenvolvimento que
levem à elevação do padrão de vida (bem-estar) a coletividade. Trata de questões
estruturais, de longo prazo (crescimento da renda per capita, distribuição de
renda, evolução tecnológica).
Economia Internacional: estuda as relações de troca entre países
(transações de bens e serviços e transações monetárias). Trata da determinação
da taxa de câmbio, do comércio exterior e das relações financeiras internacionais.
Atualmente outros enfoques são adotados para atender as novas
exigências do mercado e acompanhar a evolução econômica e tecnológica das
nações, como Economia Ecológica, Economia do Conhecimento, Economia da
Tecnologia, Economia do Turismo, Economia da Inovação etc. Mesmo existindo
diferentes abordagens, vale ressaltar que as duas grandes áreas da economia é a
Microeconomia e Macroeconomia.

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 Escassez de recursos e necessidades ilimitadas e Fundamentos dos
Problemas econômicos;

Na ciência econômica tudo se resume a uma restrição quase que física - a


lei da escassez, isto é, produzir o máximo de bens e serviços a partir dos recursos
escassos disponíveis a cada sociedade. Se uma quantidade infinita de cada bem
pudesse ser produzida, se os desejos humanos pudessem ser completamente
satisfeitos, não importaria que uma quantidade excessiva de certo bem fosse de
fato produzida. Nem importaria que os recursos disponíveis: trabalho, terra e
capital (este deve ser entendido como máquinas, edifícios, matérias-primas etc.)
fossem combinados irracionalmente para produção de bens. Não havendo o
problema da escassez, não faz sentido se falar em desperdício ou em uso
irracional dos recursos e na realidade só existiriam os "bens livres". Bastaria fazer
um pedido e, pronto, um carro apareceria de graça.
Outros conceitos importantes da economia são: bem e necessidade
humana. Bem é tudo aquilo capaz de atender uma necessidade humana. Eles
podem ser: materiais - pois se pode atribuir-lhes características físicas de peso,
forma, dimensão etc. Por exemplo: automóvel, moeda, borracha, café, relógio etc.;
imateriais - são os de caráter abstrato, tais como: a aula ministrada, a
hospedagem prestada, a vigilância do guarda noturno etc. (em geral todos os
serviços prestados são bens imateriais, ou seja, se acabam quase que
simultaneamente à sua produção).
O conceito de necessidade humana é concreto, neutro e subjetivo, porém,
para não se omitir da questão, definir-se-á a "necessidade humana" como
qualquer manifestação de desejo que envolva a escolha de um bem econômico
capaz de contribuir para a sobrevivência ou para a realização social do indivíduo.
Assim sendo, ao economista interessa a existência das necessidades humanas a
serem satisfeitas com bens econômicos, e não a validade filosófica das
necessidades.
Para se perceber a dificuldade da questão, é melhor exemplificar: para os
muitos pobres, a carne seca pode ser uma necessidade e não o ser para os mais
ricos; para os pobres um carro pode não ser uma necessidade, porém, para os da
classe média já o é; para os ricos a construção de uma mansão pode ser uma
necessidade, ao passo que pode não o ser para os de renda média.
O fato concreto é que no mundo de hoje todos pensam que desejam e
"necessitam" de geladeiras, esgotos, carros, televisão, rádios, educação, cinemas,
livros, roupas, cigarros, relógios etc. As ilimitadas necessidades já se expandem
para fora da esfera biológica da sobrevivência. Poder-se-ia pensar que o
suprimento dos bens destinados a atender às necessidades biológicas das
sociedades modernas seja um problema solucionado e com ele também o
problema da escassez. Todavia, numa contra-argumentação dois problemas
surgem: o primeiro é que essas necessidades renovam-se dia a dia exigem
contínuo suprimento dos bens a atendê-las; o segundo é a constante criação de

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novos desejos e necessidades, motivadas pela perspectiva que se abre a todos os
povos, de sempre aumentarem o padrão de vida. Da noção biológica, devemos
evidentemente passar à noção psicológica da necessidade, observando que a
saturação das necessidades, e sobretudo dos desejos humanos, está muito longe
de ser alcançada, mesmo nas economias altamente desenvolvidas de nossa
época. Conseqüentemente, também o problema de escassez se renova.
Em outras palavras: o grande dilema econômico se encontra na
compreensão ou na incompatibilidade existente entre o binômio recursos
escassos versus necessidades ilimitadas.
Nesse contexto, outros problemas econômicos vão surgindo, e nas bases
de qualquer comunidade se encontra sempre a seguinte tríade de problemas
econômicos básicos:
O QUE produzir e QUANTO produzir? - Isto significa quais os produtos
deverão ser produzidos (carros, cigarros, café, vestuários etc.) e em que
quantidades deverão ser colocados à disposição dos consumidores.
COMO produzir? - Isto é, por quem serão os bens e serviços produzidos,
com que recursos e de que maneira ou processo técnico.
PARA QUEM produzir? - Ou seja, para quem se destinará a produção,
fatalmente para os que têm renda.
Todas as sociedades (sejam economias de mercado, sejam planificadas) são
obrigadas a fazer opções, escolhas entre alternativas, uma vez que os recursos
não são abundantes. Elas são obrigadas a fazer escolhas sobre O QUE,
QUANTO, COMO e PARA QUEM produzir:
Todavia, na realidade existem ilimitadas necessidades e limitados recursos
disponíveis e técnicas de fabricação. Baseada nessas restrições, a Economia
deve optar dentre os bens a serem produzidos e os processos técnicos capazes
de transformar os recursos escassos em produção. Veja a figura abaixo:

 A eficiência Produtiva: as curvas de possibilidades de produção

A Curva de Possibilidades de Produção (CPP) é a fronteira máxima que a


economia pode produzir, dados os recursos produtivos limitados. Mostra as

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alternativas de produção da sociedade, supondo os recursos plenamente
empregados.
Trata-se de um conceito teórico, cujo principal objetivo é ilustrar a questão
de escassez de recursos e as opções ou escolhas que as sociedades devem fazer
(os chamados problemas econômicos fundamentais: o que, quanto, como e para
quem produzir).
Suponhamos que a economia produza apenas dois bens: canhões e
manteiga, nos quais são empregados todos os recursos produtivos (mão-de-obra,
capital, terra, matérias-primas, recursos naturais. As alternativas de produção são
as seguintes:

ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO
A B C D E F
Manteiga (em mil toneladas) 0 3 6 8 9 10
Canhões (em mil toneladas) 15 14 12 10 7 0

Colocando as informações acima num diagrama, e unindo os pontos temos:

Ou seja, a CPP é o limite máximo de produção, com os recursos de que a


sociedade dispõe, num dado momento. Dada a escassez de recursos, a
sociedade deve decidir qual ponto da curva escolherá: A,B,C,D,E ou F. No ponto
A, decidiu-se alocar todos os recursos na produção de canhões; no ponto F,
aloca-se tudo para produzir manteiga.
Verificando a CPP, podemos afirmar que é nos pontos A, B, C, D, E e F
que a economia está operando na máxima eficiência produtiva. Entretanto,
sempre que optarmos em aumentar a produção do bem Y (manteiga) teremos que
reduzir, necessariamente, a produção de X (canhão).
Evidentemente, pontos além da fronteira não poderão ser atingidos com os
recursos disponíveis, apenas com investimentos em capital ou tecnologia. Pontos

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internos à curva representam situações nas quais a economia não está
empregando todos os recursos (ou seja, está operando em sua capacidade
ocisosa).
Já o custo de oportunidade é o grau de sacrifício que se faz ao optar pela
produção de um bem, em termos da produção alternativa sacrificada.
A CPP é um conceito estático ( refere-se a um dado momento do tempo),
no entanto se houver aumento na disponibilidade de recursos produtivos, ou então
desenvolvimento tecnológico (melhoria na eficiência dos recursos já existentes), a
curva se coloca para a direita conforme a figura abaixo:

Já no caso de ocorrer uma melhoria tecnológica apenas na produção de manteiga


teríamos:

EXERCÍCIOS

1) De acordo com o Manual de Economia, elaborado por uma equipe de


professores da USP, “Economia é a ciência social que se ocupa da
administração dos recursos escassos entre usos alternativos e fins

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competitivos”. Com base na literatura estudada, discuta o dilema da
escassez e as necessidades ilimitadas citando exemplos na sua área.

2) Quais são os problemas econômicos fundamentais da sociedade? Como


sua área pode ser associada a estes problemas?

3) De acordo com o quadro abaixo, responda:

Quantidade Possibilidades intermediárias Quantidade


máxima de máxima de
Serviços viagens de viagens
ônibus aéreas
A B C D E F
Viagens (ônibus) 150 140 120 90 70 0
Viagens (avião) 0 10 20 30 40 50

a) Faça o gráfico demonstrando a “curva de possibilidades de produção”.


b) O que representam os pontos A, B, C, D, E e F?
c) Caso o empresário invista em tecnologia no departamento de
transportes, o que acontece com a curva? Demonstre graficamente.
d) O que significa dizer que a empresa está operando em sua capacidade
ociosa? Demonstre o ponto no gráfico com a letra W.

4) A partir do gráfico abaixo da CPP responda as questões

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a) Partindo do princípio que os recursos são raros e a partir do gráfico
acima como se exprime a raridade dos recursos?
b) Caso o empresário decida produzir 100 camisas, qual será a produção
total de cortes de cabelo?

5) No quadro e no gráfico seguintes estão representadas as possibilidades de


produção máximas de uma economia no período t=1.

a) Suponha que houve progresso técnico o que se traduziu em t=2 por


aumentos de produtividade de 100% na produção de alimentos, tudo o resto
invariante. Construa o novo quadro de possibilidades máximas de produção e
apresente um gráfico com as duas curvas (a inicial e a que incorpora o progresso
técnico).

b) Só o progresso técnico é que poderá deslocar a curva para direita?


Justifique sua resposta.

6) Faça um gráfico de CPP, demonstrando as vantagens comparativas entre


dois países (Brasil com o café; e Alemanha com satélites). Através de um
texto analise o gráfico.

Referências Bibliográficas
FILHO MONTORO, A. F.; et.al. Manual de economia. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. Sao Paulo:

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