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Roberto Alves Gomes

ECONOMIA E
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

1ª Edição
Sobral/2017

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Sumário

Unidade de Estudo I: A Ciência Econômica


Introdução
Interesse pela Economia
Conceitos Básicos
Escassez e Necessidades
Recursos ou fatores de Produção
A capacidade empresarial
Reservas Naturais
Agentes Econômicos

A atividade econômica e os agentes econômicos

As Empresas

Unidade de Estudo II: Sistema Econômico

Conceito de sistema econômico

Subsídios ou Transferências (Tr)

Sistemas de Trocas

Fluxo Real e Monetário

Curva de Possibilidade

Lei dos Rendimentos Decrescentes

Macroeconomia

Macroeconomia Keuesiana
Inflação
Conceitos, Tipos e Intensidade

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Unidade de Estudo III: Economia Política da Sustentabilidade

Situando a Economia Política do meio ambiente

Desenvolvimento sustentável - Perspectiva histórica

Desenvolvimento sustentável – perspectiva teórica

Valoração econômica e complexidade ecossistêmica

Capitalismo e meio ambiente

Dinâmica da tomada de decisões sob incerteza.

O Fundamento central da Economia Ecológica

Economia dos Recursos Naturais

Resumindo

Bibliografia

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A CIÊNCIA
ECONÔMICA

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Introdução

O Estudo da Economia pode ser dividida em duas partes: microeconomia e


macroeconomia. A primeira cuida do comportamento dos consumidores e das
empresas em seus mercados, as razões que levam os consumidores a comprar
mais, ou menos, de um determinado produto e a pagar mais, ou menos, por este
bem. Estuda ainda os motivos que levam empresas a produzir certa quantidade de
um produto e de que forma seus preços são estabelecidos. Leva-se em conta os
mercados nos quais as empresas e consumidores atuam.

A macroeconomia preocupa-se com o conjunto de decisões de todos os


agentes econômicos, que irá se refletir em maior ou menor produção e nível de
emprego. Inflação, taxa de juros, taxa de câmbio, nível de emprego global,
crescimento econômico são objetos estudados na análise macroeconômica, além de
cuidar das análises sobre as decisões tomadas pelo formulador de política
econômica do país.

O fenômeno recente da globalização da economia levou os governos a


buscarem apoio de outras economias, formando blocos econômicos, para
conseguirem melhor sustentação frente à força das novas tecnologias e da pressão
das multinacionais, do aumento da produtividade, do desemprego estrutural que
ameaça a estabilidade social mesmo dos países mais desenvolvidos. Isto reforça a
necessidade de aprofundar os conhecimentos na área das ciências econômicas.

Interesse pela Economia

No mundo globalizado, quando se fala em administração de organizações,


tem-se que pensar em administração estratégica e, quando se fala em administração
estratégica, pensa-se em organizações como parte de um ambiente que oferece, às
organizações nele inseridas, uma série de ameaças e oportunidades. (DALLAGNOL,
2008).

O objetivo principal do estudo da economia para o administrador de


organizações é compreender o ambiente econômico no qual as empresas estão
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competindo, enquanto fator de ameaças e oportunidades para as organizações.
Entender os conceitos econômicos podem ajudar na sobrevivência das empresas e
dos cidadãos.

O estudo sistemático da Economia é relativamente recente, embora a


atividade econômica e os problemas dela decorrentes tenham sempre despertado a
atenção dos povos. Em todas as épocas da História as nações procuram resolver
eficientemente seus problemas de natureza econômica. Mas, só a partir do século
XVII, é que a Economia apontou como ciência. (DALLAGNOL (2008).

Conceitos Básicos

Rosseti (2002) destaca que a palavra economia é de origem Grega oikos = casa e
nomos = governo, administração. Xenofontes (455 a 345 a.c.) foi o primeiro a usar o
termo Economia no sentido exposto anteriormente, ou seja, abrangendo apenas o
governo ou a administração do lar.

Economia é uma ciência social, pois estuda a situação econômica da


sociedade.

A economia ocupa-se das questões relativas à satisfação das necessidades


dos indivíduos e da sociedade.

Tipos de necessidades:

● Necessidades do indivíduo - Natural: por exemplo, comer. - Social:


decorrente da vida em sociedade; por exemplo, festa de casamento.
● Necessidades da sociedade – Coletivas: partem do indivíduo e passam a
ser da Sociedade; por exemplo, o transporte - Publicas: surgem da mesma
sociedade; por exemplo, a ordem pública. Necessidades vitais ou primarias:
destas depende a conservação da vida; por exemplo, os alimentos.

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● Necessidades civilizadas ou secundárias: são as que tendem a aumentar o
bem-estar do indivíduo e variam no tempo, segundo o meio cultural,
econômicos e sociais em que se desenvolvem os indivíduos; por exemplo, o
turismo.
● Definição de Economia
● A economia estuda a maneira como se administram os recursos escassos,
com o objetivo de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu consumo
entre os membros da sociedade.

Divisão do Estudo da Economia

É possível detalhar a divisão do estudo da economia pela visão de Rossetti


(2002), conforme segue:

● Economia Descritiva: trata da identificação do fato econômico. É a partir dos


levantamentos descritivos sobre a conduta dos agentes econômicos que se
inicia o complexo de conhecimento sistematizado da realidade no campo da
economia positiva. É através dela que a realidade começa a ser submetida a
um criterioso tratamento no sentido de que possam ser analisados as
relações básicas que se estabelecem entre os diversos agentes que
compõem o quadro da atividade econômica.
● Teoria Econômica: a teoria econômica é o compartimento central da
economia. É possível ver um ordenamento lógico aos levantamentos
sistematizados fornecidos pela economia descritiva, produzindo
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generalizações que sejam capazes de ligar aos fatos entre si, desvendar
cadeias de ações manifestadas e estabelecer relações que identifiquem os
graus de dependência de um fenômeno em relação a outro. Surgiram então
em decorrência conjunto de princípios, de teorias, de modelos e de leis
fundamentadas nas descrições apresentadas.
A teoria econômica adota duas posições distintas na apresentação e análise
do fenômeno econômico, estas posições são conhecidas como microeconomia e
macroeconomia.

A microeconomia é aquela parte da teoria econômica que estuda o


comportamento das unidades, tais como os consumidores, as indústrias e empresas,
e suas inter-relações.

A macroeconomia estuda o funcionamento da economia em seu conjunto.


Seu propósito é obter uma visão simplificada da economia que, porém, ao mesmo
tempo, permita conhecer e atuar sobre o nível da atividade econômica de um
determinado país ou de um conjunto de países.

Política Econômica: os desenvolvimentos elaborados pela teoria econômica


servem a política econômica. Nesse campo de estudo é que serão utilizados os
princípios, as teorias, os modelos e as leis. A utilização terá a finalidade de conduzir
adequadamente a ação econômica com vistas a objetivos pré-determinados.
Quando se emprega a expressão política econômica governamental está se
referindo as ações práticas desenvolvidas pelo governo com a finalidade de
condicionar, balizar e conduzir o sistema econômico no sentido de que sejam
alcançados um ou mais objetivos politicamente estabelecidos.

FATORES DE PROCUÇÃO

Você sabe os problemas econômicos fundamentais?

Para Pinho e Vasconcellos (1998), nas bases de qualquer comunidade se


encontra sempre a seguinte tríade de problemas econômicos básicos:
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● O QUE produzir? - Isto significa quais os produtos deverão ser produzidos
(carros, cigarros, café, vestuários etc.) e em que quantidades deverão ser
colocados à disposição dos consumidores.
● COMO produzir? - Isto é, por quem serão os bens e serviços produzidos, com
que recursos e de que maneira ou processo técnico.
● PARA QUEM produzir? - Ou seja, para quem se destinará a produção,
fatalmente para os que têm renda.
● QUAIS, QUANTO, COMO e PARA QUEM produzir não seriam problemas se
os recursos utilizáveis fossem ilimitados. Mas na realidade existem ilimitadas
necessidades e limitados recursos disponíveis e técnicas de fabricação.
Baseada nessas restrições, a Economia deve optar dentre os bens a serem
produzidos e os processos técnicos capazes de transformar os recursos
escassos em produção, conforme Pinho e Vasconcellos (1998).

Escassez e Necessidades

O problema econômico por excelência é a escassez. Surgiu porque as


necessidades humanas são virtualmente ilimitadas, e os recursos econômicos,
limitados, incluindo também os bens. Esse não é problema tecnológico, e sim de
disparidade entre os desejos humanos e os meios disponíveis para satisfazê-los. A
escassez é um conceito relativo, pois existe desejo de adquirir uma quantidade de
bens e serviços maior que a disponibilidade.

Portanto eficiência produtiva e eficácia alocativa são as duas questões


básicas com que defrontam todos os agentes econômicos.

● Eficiência: maximizar o emprego dos recursos.


● Eficácia: otimizar as escolhas.

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As necessidades, os bens econômicos e os serviços

O conceito de necessidade humana, isto é, a sensação de carência de algo


unida ao desejo de satisfazê-la é algo relativo, pois os desejos dos indivíduos não
são fixos. Assim, pois, o fato real que enfrenta economia é que em todas essas
sociedades, tanto nas ricas como nas pobres, os desejos dos indivíduos não podem
ser completamente satisfeitos. Nesse sentido, bens escassos são aqueles que
nunca se tem em quantidade suficiente para satisfazer os desejos dos indivíduos.

● Os bens econômicos caracterizam-se pela utilidade, pela escassez e por


serem transferíveis.
● Os bens livres – como, por exemplo, o ar - são aqueles cuja quantidade é
suficiente para satisfazer a todo o mundo.
● Para Pinho e Vasconcellos (1998), em Economia tudo se resume a uma
restrição quase que física - a lei da escassez, isto é, produzir o máximo de
bens e serviços a partir dos recursos escassos disponíveis a cada sociedade.

Já Dallagnol (2008) cita Albert L. Meyer que parte de uma observação para
explicar a lei da escassez. Diz que se fosse possível dar a cada indivíduo uma
lâmpada de Aladim, todos os problemas que se ocupam os economistas seriam
resolvidos. Se tivéssemos posse da lâmpada, teríamos todos os bens que
desejássemos, e não haveria necessidade de coordenação, divisão ou procura de
maior eficiência para o trabalho humano/ os problemas decorrentes da produção em
massa, da expansão tecnológica e da ciência nas atividades produtivas deixariam de
existir. Não haveria necessidade de pesquisa para o aumento da produtividade
agropecuária. Não faria mais sentido as lutas de classes, os conflitos entre os
grupos sociais, as negociações comerciais internas e externas, a repartição da renda
e da riqueza, as disputas ideológicas e os problemas de ajustamento da oferta
global. E, como a Economia é a “ciência que cuida da melhor administração dos
escassos recursos disponíveis para a satisfação das necessidades humana”, não
teria mais por que existir.

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Todavia, a realidade é outra. As sociedades humanas sempre se defrontam
com a necessidade de trabalhar para atender às suas necessidades fundamentais.
Nenhum sistema econômico até hoje conseguiu satisfazer todas as necessidades da
coletividade. A escassez é a mais severa das leis milenares. Para explorar a
natureza e extrair dela os bens, toda a sociedade defronta com as limitações de
seus recursos produtivos humanos e patrimoniais. O suprimento desses recursos
sempre foi limitado, pois “à medida que os recursos produtivos se expandem e se
aperfeiçoam, os desejos e as necessidades crescem mais que proporcionalmente”.
(DALLAGNOL, 2008).

Considerando, nas modernas economias, a incorporação da ciência e da


tecnologia na produção, poderia dizer que o problema da escassez estaria superado,
pois provavelmente, o suprimento de bens destinados a atender as necessidades
biofisiológicas dos habitantes das economias mais afluentes estaria solucionado.
Mas não é assim, pois as necessidades primárias, de natureza biofisiológica,
renovam-se dia-a-dia e exigem contínuo suprimento de bens destinados a atendê-
los; e, a constante criação de novos desejos e necessidades, motivados pela
perspectiva que se abre a todos os povos de sempre aumentarem o seu padrão de
vida e o seu bem-estar material, faz o problema da produção ser perpetuado pela
contínua necessidade, e o problema da escassez torna-se mais grave que nas
economias primitivas. Dallagnol (2008) salienta que a medida que todos esses bens
vão alcançando elevado nível de produção em massa, de tal forma que o volume de
sua oferta possa atender satisfatoriamente à sua procura, a saturação do mercado
será compensada pela criação de outros bens, perpetuando-se, assim, o problema
das necessidades insatisfeitas. Conduzidos pelo despertar de novos desejos, as
necessidades materiais parecem ilimitadas. Coisas ontem supérfluas são hoje
imprescindíveis. E não podemos imaginar onde seremos levados pela produção em
massa, pelas novas necessidades que dia-a-dia são criadas e pela incapacidade de
renunciarmos a posições materiais de bem-estar já conquistados.

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Recursos ou Fatores de Produção

Trabalho

É representada por um segmento da população total, delimitado pela faixa


etária apta para o exercício de atividades de produção, conforme descrito por
Possamai (2001).

Os limites desta faixa variam em função do estágio de desenvolvimento da


economia, sofrendo ainda a influência de definições institucionais, geralmente
expressas através da legislação de cunho social. Nas economias menos
desenvolvidas observa-se que a idade de acesso às funções produtivas, sobretudo
no meio rural, é acentuadamente mais baixa do que nas economias maduras que
ostentam altos padrões de desenvolvimento econômico.

De forma geral, porém, o acesso se realiza entre 15 e 25 anos e as


atividades se desenvolvem ao longo de um período variável que alcança, em média
de 30 e 35 anos. A extensão da faixa de ingresso é justificada pela variação dos
períodos de preparação do indivíduo e ainda pelas diferenças que se encontram na
legislação social de cada país quando à idade mínima de acesso ao trabalho. De
outro lado, o tempo de dedicação à produção varia, essencialmente, em função do
tipo de atividade desenvolvida, observando-se também aqui variações de natureza
legal quanto ao período mínimo exigido para a aposentadoria espontânea ou
compulsória. Além disso, há que considerar as diferenças institucionais – também
decorrente do estágio de desenvolvimento e do meio em que se realizam as
atividades de produção – aplicáveis à mobilização do homem e da mulher. Há
diferenças acentuadas não só quanto aos regimes legais de proteção, como ainda
quanto às formas de organização social, resultando diferentes períodos de vida
produtiva. (POSSAMAI, 2001).

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Os recursos de Capital

Para o exercício de suas atividades de produção, a população ativa mobiliza


um variado e complexo conjunto de instrumentos e de elementos infra estruturais
que dão suporte às operações produtivas, tornando-as mais produtivas e mais
eficientes. Este conjunto constitui o estoque de capital da economia. (POSSAMAI,
2001).

O desenvolvimento e meios de produção, associado às primeiras


manifestações de construções infra estruturais, identifica-se claramente com
processo de formação de capital. Com o passar do tempo com a acumulação e a
transmissão de conhecimentos, o acervo de recursos aumentaria em progressão
extraordinária. O processo de instrumentação do trabalho humano assumiria
crescente complexidade, tornando cada vez mais eficiente o esforço social de
produção, mas exigindo, em contrapartida, que uma considerável parcela desse
mesmo esforço passasse a ser canalizada sistematicamente para o aperfeiçoamento
e produção de novos e mais complexos recursos de capital.

Tecnologia

Para Possamai (2001) tecnologia pode ser considerada como um fator de


produção de natureza qualitativa. Trata-se de um elo de ligação entre a população
economicamente mobilizável e os recursos de capital. Esta capacidade acumula-se,
transforma-se e evolui pela permanente transmissão de conhecimento. De geração a
geração, a evolução dos processos de produção, decorrentes do extraordinário
desenvolvimento de recursos de capital cada vez mais avançados e sofisticados, os
sistemas econômicos exigem um paralelo desenvolvimento da tecnologia aplicada.

Esta capacidade é inerente à qualificação dos recursos humanos. O saber


fazer, imprime características extremamente variadas a dado conjunto de população
economicamente mobilizável. As nações desenvolvidas contam não apenas com
extraordinária base de recursos de capital acumulados, mas com recursos humanos
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preparados para operar o complexo aparelhamento de produção do sistema. Já as
economias subdesenvolvidas não apenas apresentam estoques de capital pouco
eficazes e sub-dimensionados, como ainda recursos humanos tecnicamente
despreparados. De certa forma, os processos de criação, aperfeiçoamento e
acumulação de capital caminham paralelamente com o de formação de capacidade
tecnológica. São, por assim dizer, duas engrenagens que se ajustam. O movimento
de uma delas está necessariamente vinculado ao movimento da outra.

A Capacidade Empresarial

À semelhança da capacidade tecnológica, a capacidade empresarial é


também um fator de natureza qualitativa. Trata-se do espírito empreendedor que
movimenta, combina e anima os demais recursos de produção do sistema.

Tanto empreendedorismo de caráter privado ou público. Assume-a o Estado,


ao mobilizar recursos para atividades econômicas de produção ou de formação da
infra-estrutura de apoio. Assume-a, dentro das condições institucionais da livre
iniciativa, o empresário privado ou os grupos de constituição privada, quando a
implantação, ampliação e operação de seus empreendimentos econômicos de
produção. E, tanto, num caso como no outro, a capacidade empresarial enquadra-se
no domínio dos agentes dinâmicos da vida econômica.

Reservas Naturais

O elenco de recursos com que contam os sistemas econômicos para o


exercício das atividades de produção completa-se com a disponibilidade das
reservas naturais. Em seu significado econômico, este recurso é constituído pelo
conjunto dos elementos da natureza utilizados no processamento primário da
produção. O solo e a parte explorável do subsolo, as terras de pastagem e de
cultura, os cursos d’água, os lagos, as florestas e ainda o próprio clima e o índice
pluviométrico incluem-se entre os recursos naturais de que toda economia deve
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dispor, face às necessidades de suprimento manifestadas pela sociedade.
(POSSAMAI, 2001).

A disponibilidade das reservas naturais não depende apenas das suas


quantidades físicas disponíveis, mas ainda de outros fatores que viabilizam o seu
efetivo aproveitamento. O estágio dos conhecimentos tecnológicos, associado à
disponibilidade de recursos de capital, tem ligações diretas com o volume das
reservas naturais economicamente aproveitáveis. As formas e a extensão da
ocupação territorial também influenciam o nível em que as reservas naturais
disponíveis serão efetivamente empregadas no processamento básico da produção
– quer através da extração de matérias primas, quer aproveitando os potenciais
energéticos existentes. Sendo assim, o próprio conhecimento de sua existência e o
pré-levantamento de suas potencialidades condicionam as disponibilidades
econômicas das reservas.

Agentes Econômicos

Os agentes econômicos - as famílias, as empresas e o setor público - são os


responsáveis pela atividade econômica. Em relação ao seu comportamento, supõe-
se que são coerentes quando tomam decisões.

A atividade econômica e os agentes econômicos

Atividade econômica caracteriza-se na produção de ampla gama de bens e


serviços, cujo destino último é a satisfação das necessidades humanas. Os homens,
mediante sua capacidade de trabalho, são os organizadores e executores da
produção.

A organização dos fatores produtivos (terra, trabalho e capital) dentro das


empresas, assim como a direção de suas atividades, recai sobre pessoas ou grupos
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de caráter privado ou público. Na economia, os diversos papéis que desempenham
os agentes econômicos, isto é, as famílias ou unidades familiares, as empresas e o
setor público, podem ser agrupados em três grandes setores.

O setor primário abrange as atividades que se realizam próximas às bases


dos recursos naturais, isto é, as atividades agrícolas, pesqueiras, pecuárias e
extrativas.

O setor secundário inclui as atividades industriais, mediante as quais são


transformados os bens.

O setor terciário ou de serviços reúne as atividades direcionadas a


satisfazer as necessidades de serviços produtivos que não se transformam em algo
material.

As empresas

Na sociedade moderna, as empresas produzem e oferecem praticamente


totalidade dos bens e serviços.

A empresa é a unidade de produção básica. Contrata trabalho e compra


fatores com o fim de fazer e vender bens e serviços.

As famílias ou unidades familiares

Os diferentes agentes econômicos podem ser divididos em privados e


públicos. Os agentes privados básicos são as famílias e as empresas. As funções
das famílias constituem em, por um lado, consumir bens e serviços; por outro,
oferecer seus recursos, isto é, trabalho e capital as empresas. Entretanto as famílias
que pretendem maximizar a satisfação obtida no consumo são limitadas pelo
orçamento de que dispõem.

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O setor público

Entende-se por setor público mais do que somente o Estado-Nação das


organizações políticas atuais. O governo destaca-se como agente econômico devido
às particularidades que envolvem suas ações econômicas. O governo é um agente
coletivo que contrata diretamente o trabalho de unidades familiares e que adquire
uma parcela da produção das empresas para proporcionar bens e serviços úteis à
sociedade como um todo. Trata-se, pois, de um centro de produção de bens e
serviços coletivos. Suas receitas resultam de retiradas compulsórias do poder
aquisitivo das unidades familiares e das empresas, feitas por meio do sistema
tributário.

Além de interagir com os demais agentes econômicos, o governo é um


centro de geração, execução e julgamento de regras básicas para a sociedade como
um todo.

Bens Econômicos

Dallagnol (2008) destaca que a produção de bens e serviços – ou produção


econômica – pode ser classificada em três categorias, de acordo com a sua
destinação:

● Bens e serviços de consumo: são aqueles bens e serviços que satisfazem às


necessidades das pessoas quando consumidos no estado em que se
encontram como alimentos, roupas, serviços médicos etc.

Possamai (2001) afirma que os bens e serviços de consumo, de uso


imediatos ou duráveis, são destinados ao atendimento das necessidades da
população. Nos sistemas econômicos modernos, as solicitações de bens e serviços
de consumo evolvem não somente a satisfação de necessidades da biofisiológicas,
como principalmente o desejo (em grande parte dos casos artificialmente
estimulados) de diversificação e sofisticado conjunto de produtos resultantes de
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atividades secundárias e terciárias. É, exatamente em decorrência destas últimas
solicitações, em geral excitada por promoções desenvolvidas pelas próprias
unidades de produção, que as necessidades de bens e serviços de consumo são
consideradas como ilimitadas.

● Bens e serviços intermediários: são os bens e serviços que não atendem


diretamente às necessidades das pessoas, pois precisam ser transformados
para atingir sua forma definitiva. Como exemplo, podemos citar as chapas de
aço que são empregadas na produção de automóveis; os serviços de
computação que preparam as folhas de pagamentos para empresas etc.
(DALLAGNOL, 2008).

Os bens e serviços intermediários são constituídos por insumos destinados


ao reprocessamento. Esses bens reingressam no aparelho de produção da
economia, para que sejam transformadas em bens capazes de atender a
necessidades finais. As sementes, as fibras naturais ou sintéticas, os minérios e uma
multiplicidade de outros bens da mesma natureza são identificados como
intermediários. No campo dos serviços, há também os que apenas se destinam a
servir de suporte para as atividades de produção do sistema. Esses também são
considerados intermediários, uma vez que se destinam a atender às exigências
operacionais das empresas e não às necessidades finais da sociedade. A todos os
bens e serviços desta categoria, ao retornarem às unidades de produção, são
adicionados novos esforços ativos, que não apenas modificarão suas características,
como também o seu valor econômico. Em cada uma delas mobilizam-se novos
recursos e combinam-se novos fatores, elevando-se em consequência a soma dos
valores adicionados. (POSSAMAI, 2001).

● Bens de capital: também não atendem diretamente às necessidades dos


consumidores, mas destina-se a aumentar a eficiência do trabalho humano no
processo produtivo, como as máquinas, as estradas etc. (DALLAGNOL, 2008)

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Para Possamai (2001), os bens de capital são constituídos por uma
categoria especial de bens filiais. São bens que, embora não destinados ao
consumo, consideram-se como terminais em relação aos fluxos de produção de que
se originaram. As bases da infraestrutura de uma economia (constituídas por
ferrovias, portos hidrelétricas, rodovias, entrepostos de abastecimento e outros
recursos fixos de utilização coletiva), somadas às edificações fabris, aos
implementos agrícolas, aos equipamentos industriais e a outros instrumentos de
produção, são exemplos típicos de bens desta terceira categoria. Estes bens,
através das atividades de investimento, destinam-se a se incorporar ao estoque de
capital da economia. Nesse sentido, não atendem diretamente às necessidades
humanas de consumo. Todavia, ao se incorporarem ao estoque disponível de
capital, quer para sua manutenção, renovação ou ampliação, aumentam a eficiência
do trabalho humano, constituindo-se numa das fontes mais significativas do
processo de crescimento econômico.

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SISTEMA
ECONÔMICO

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Conceito de Sistema Econômico

Sistema econômico é o conjunto de relações técnicas, básicas e


institucionais que caracterizam a organização econômica de uma sociedade. Essas
relações condicionam o sentido geral das decisões fundamentais que se tomam em
toda a sociedade e os ramos predominantes de sua atividade.

Para Dallagnol (2008), um sistema econômico pode ser definido como sendo
a forma política, social e econômica pela qual está organizada a sociedade. É um
particular sistema de organização da produção, distribuição, consumo de todos os
bens e serviços que as pessoas utilizam buscando uma melhoria no padrão de vida
e bem-estar.

Sistema Econômico: reunião dos diversos elementos participantes da


produção e do consumo de bens e serviços que satisfazem as necessidades
da sociedade, organizados do ponto de vista econômico, social, jurídico e
institucional.

Os sistemas econômicos podem ser classificados em:

● Sistema capitalista ou economia de mercado: É regido pelas forças de


mercado, predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores
de produção;
● Sistema socialista ou economia centralizada ou ainda economia
planificada: Nesse sistema as questões econômicas fundamentais são
resolvidas por um órgão central de planejamento, predominando a
propriedade pública dos fatores de produção, chamados nessas economias
de meios de produção, englobando os bens de capital, terra, prédios, bancos,
matérias-primas.

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Os países organizam-se segundo esses dois sistemas, ou de forma
intermediária entre elas.

Pelo menos até o início do século XX, prevalecia nas economias ocidentais
o sistema de concorrência pura, em que não havia a intervenção do Estado na
atividade econômica. Era a filosofia do Liberalismo.

Principalmente a partir de 1930, passaram a predominar os sistemas de


economia mista, no qual ainda prevaleciam as forças de mercado, mas com a
atuação do Estado, tanto na alocação e distribuição de recursos como na própria
produção de bens e serviços, nas áreas de infraestrutura, energia, saneamento e
telecomunicações.

Em economia de mercado, a maioria dos preços dos bens, serviços e


salários são determinados predominantemente pelo mecanismo de preços, que atua
por meio da oferta e da demanda dos fatores de produção. Nas economias
centralizadas, essas questões são decididas por um órgão central de planejamento,
a partir de um levantamento dos recursos de produção disponíveis e das
necessidades do país. Ou seja, grande parte dos preços dos bens e serviços,
salários, quotas de produção e de recursos é calculada nos computadores desse
órgão, e não pela oferta e demanda no mercado.

● Economia Fechada
Economia típica de um país isolado. Não há importação nem exportação de
produtos. O intercâmbio de mercadorias não se realiza além dos limites territoriais
determinados pelos agentes econômicos locais: produtores, intermediários e
consumidores. Esse tipo de economia praticamente não existe no mundo atual. Mas
é útil como modelo para se analisar de que forma o total das despesas de consumo,
gastos governamentais, investimentos e tributos interagem para determinar os níveis
do emprego e renda nacional. Então, constitui-se num modelo em que não a
interveniência do setor externo (importação e exportação). Exemplos atuais
praticamente inexistentes, sendo o mais próximo: Cuba.

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● Economia Aberta
Economia baseada na livre ação dos agentes econômicos, objetivando a
concorrência, ao investimento, ao comercio e ao consumo. Corresponde aos
princípios do liberalismo econômico, pelo qual a única função do Estado seria
garantir a livre concorrência entre as empresas. Constitui-se num modelo em que há
a interveniência do setor externo (importação e exportação). Exemplo: Brasil.

Além destes conceitos, outros se destacam como as Funções renda,


consumo, etc.

Renda (Y) - É aquela percebida pelo indivíduo em forma de salário, lucro,


juro, aluguel, arrendamento ou remuneração por serviços prestados. É a renda total
de todos os indivíduos antes que tenha pago o Imposto de Renda e os demais
impostos pessoais. Inclui um volume substancial de pagamentos de transferências
do governo, que não são incluídos na renda nacional. Inclui também pagamento de
transferência feitos pelo setor privado.

Consumo (C) - Utilização, aplicação, uso ou gasto de um bem ou serviço


por um indivíduo ou uma empresa. É o objeto e a fase final do processo produtivo,
precedido pelas etapas de fabricação, armazenagem, distribuição e comercialização.
A função consumo depende substancialmente da renda.

Impostos (Tx) - Taxas obrigatórias pagas ao Estado, que devem reverter à


coletividade sob forma de benefícios de interesse geral: transporte, educação,
saúde, etc.

Subsídios ou Transferências (Tr)

Tecnicamente, pode ser definido de várias formas:

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a) Benefícios a pessoas ou a empresas, pagos pelo governo, sem contrapartida
em produtos e serviços;
b) Despesas correspondentes da transferência de recursos de uma esfera do
governo em favor de outra;
c) Despesas do governo visando a cobertura de prejuízos das empresas
(públicas ou privadas) ou ainda para financiamento de investimentos;
d) Benefícios aos consumidores, na forma de preços inferiores que, na ausência
de tal mecanismo, seriam fixados pelo mercado;
e) Benefícios a produtores e vendedores mediante preços mais elevados, como
acontece com a tarifa aduaneira protecionista; e
f) Concessões de benefícios pela via do orçamento público ou outros canais.

Poupança (s) - Em economia, parte da renda nacional ou individual que não


é utilizada em despesas, sendo guardada e aplicada depois de deduzidos os
impostos.

Investimento (I) - Aplicação de recursos (dinheiro ou títulos) em


empreendimentos que renderão juros ou lucros, em geral em longo prazo. Num
sentido amplo, o termo se aplica tanto à compra de máquinas, equipamentos e
imóveis para a instalação de unidades produtivas, como à compra de títulos
financeiros (letras de câmbio, ações, etc.).

Exportações (X)

Vendas, no estrangeiro, de bens e serviços de um país. Resulta, como a


importação da divisão internacional do trabalho, pela qual os países tendem a se
especializar na produção dos bens para os quais tem maior disponibilidade de
fatores produtivos, garantindo um excedente exportável.

Importações (Z)

Entrada de mercadorias e serviços estrangeiros num país. Os serviços, cujo


valor não figura na receita comercial, constituem as chamadas importações
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invisíveis. Para manter a balança comercial favorável ou menos equilibrada, os
países submetem as importações a diversas formas de controle.

As funções de Exportações e Importações pertencem única e


exclusivamente a Economias Abertas, as demais funções são passivas ocorrer nos
dois tipos de economias.

Sistemas de Trocas

Além da produção e do consumo, existe outra atividade que é comum em qualquer


sistema econômico e que tem grande importância: as trocas. A forma de adoção das
trocas é diferente em cada sistema.

Cada sujeito geralmente possui habilidades e recursos diferentes dos demais e


deseja consumir bens diversificados. Por isso, a tendência natural é colocar-se em
contato entre si para trocar aquilo que se possui abundância pelo que não se tem e
beneficiar-se mutuamente pelo intercâmbio. O intercâmbio faz possível a
especialização e a divisão de trabalho, e esta contribui para a eficiência, entendida
como a obtenção do maior volume de produção possível com a menor quantidade
de recursos.

A divisão de trabalho em várias fases permite:

a) a especialização;

b) maior capacidade de cada operário; e

c) a introdução de ferramentas e maquinarias específicas.

Todos esses fatores favorecem o aumento da produção por pessoa.

A especialização e a divisão do trabalho precisam de um sistema em que os


indivíduos possam vender os seus excelentes e adquirir o que necessitam. A forma
primitiva de intercâmbio é a troca. Por meio dela, cada indivíduo pode trocar um bem
por outro.

33
A troca significa uma transação em que dois indivíduos permutam bens entre si,
baseados no escambo. Eles se desfazem do produto que possuem em excesso e
adquirem os produtos de que necessitam.

A troca realizada dessa forma tem sérios inconvenientes. Por um lado, levaria muito
tempo, já que exige que cada indivíduo encontre alguém disposto a adquirir
precisamente o que ele pretende trocar; ou seja, a troca requer uma coincidência de
necessidades. Outro inconveniente da troca deriva da indivisibilidade de alguns
bens. Quando envolvem muitos participantes, as trocas tornam-se muito complexas
e as limitações básicas das trocas fazem com que ela seja praticamente inviável.

Trocas indiretas

As mercadorias-moeda solucionaram os principais inconvenientes do escambo


primitivo. Os mercados se ampliaram e o comércio evoluiu com seu emprego. A
divisão social do trabalho e a especialização foram estimuladas. Iniciava-se uma
nova era, caracterizada pela crescente intensificação das trocas indiretas entre os
agentes econômicos. As mercadorias-moeda possibilitavam as trocas indiretas.

Fluxo Real e Monetário

Para entender o funcionamento do sistema econômico, imagina-se uma economia


de mercado que não tenha interferência do governo e não tenha transações com o
exterior (econômica fechada). Os agentes econômicos são as famílias (unidades
familiares) e as empresa (unidades produtoras). As famílias são proprietárias dos
fatores de produção e os fornecedores às unidades de produção (empresas) no
mercado dos fatores de produção. As empresas, pela combinação dos fatores de
produção, produzem bens e serviços e os fornecem às famílias no mercado de bens
e serviços.

A esse fluxo de fatores de produção, bens e serviços denominam fluxo real da


economia.

34
Como pode ser observada na figura acima, família e empresa exercem um duplo
papel. No mercado de bens e serviços, as famílias demandam bens e serviços,
enquanto as empresas os oferecem; no mercado de fatores de produção, as famílias
oferecem os serviços dos fatores de produção (que são de sua propriedade),
enquanto as empresas os demandam. No entanto, o fluxo real da economia só se
torna possível com a presença da moeda, que é utilizada para remunerar os fatores
de produção e para o pagamento dos bens e serviços.

Desse modo, paralelamente ao fluxo real, temos um fluxo monetário da economia.

35
Em cada um dos mercados atuam conjuntamente as forças da oferta e da demanda,
determinando o preço. Assim, no mercado de bens e serviços formam-se os preços
dos bens e serviços, enquanto no mercado de fatores de produção, são
determinados os preços dos fatores de produção (salários, juros, aluguéis, lucros,
royalties, etc.).

O fluxo completo incorpora o setor público, adicionando-se os efeitos dos impostos e


dos gastos públicos ao fluxo anterior, bem como com o setor externo, que inclui
todas as transações com mercadorias, serviços e movimento financeiro com o resto
do mundo.

A introdução do governo nesse modelo simplificado de fluxos reais e monetários não


modifica, quanto aos seus funcionamentos, as características e o funcionamento
36
deste sistema. Embora exerça também funções normativas e regulatórias, ao
coparticipar dos fluxos econômicos fundamentais, o governo é um agente econômico
como outro qualquer. Ele se apropria de uma parte da renda social e, com ela,
proporciona à sociedade o suprimento de bens e serviços de uso coletivo que, de
outra forma, não seriam disponibilizados. Para tanto, ele também emprega e
remunera fatores de produção, interagindo assim com as unidades familiares. E
adquire produtos, conectando-se com as empresas.

Os fluxos básicos entre as unidades familiares e as empresas são mantidos, mas


com três diferenças substanciais:

- Redução do poder aquisitivo e da capacidade privada de acumulação. Tanto as


unidades familiares quanto as empresas sofrem redução de seu poder aquisitivo ou
em sua capacidade de acumulação. A redução é imposta pelo governo, através de
cobrança de tributos diretos e indiretos – proporcionais à renda, progressivos ou
regressivos.

- Realocação de renda. Operando o sistema de previdência social, o governo retira


parte da renda da sociedade, tanto das unidades familiares quanto das empresas,
realocando através do pagamento de transferência (seguro desemprego e
aposentadoria).

- Reconfiguração da procura e da oferta de bens e serviços. Como agente


econômico, o governo, de um lado, adquiri bens e serviços fornecidos pelas
empresas e, de outro lado, fornece bens e serviços à sociedade, seja através da
formação bruta de capital fixo (infraestrutura de interesses econômicos e sociais),
seja pelo atendimento direto de necessidades através do suprimento de bens e
serviços públicos.

Curva de Possibilidade

A curva de possibilidades de produção é um recurso que os economistas utilizam


para ilustrar o problema da escassez. Por ser um conhecimento abstrato, vamos
fazer uma aproximação do que seria esta curva numa situação mais próxima da

37
realidade: suponhamos que uma empresa tenha 10 máquinas e 40 trabalhadores e
que tenha apenas dois produtos na sua linha de fabricação: parafuso tipo A e
parafuso tipo B. adicionalmente, suponhamos que a empresa, por um determinado
prazo de tempo, não possa mais comprar máquinas e nem contratar mais
trabalhadores adicionais e que não haja nenhuma inovação tecnológica no processo
de fabricação do produto. (DALLAGNOL, 2008).

Assim, os pressupostos são:

a) os recursos produtivos são fixos ou constantes;

b) o conhecimento tecnológico é constante;

c) somente dois produtos são passíveis de fabricação.

O Diretor da empresa encomenda ao engenheiro responsável pelo Departamento de


Produção um levantamento de quais são as possibilidades de produção da empresa
utilizando-se plenamente e da forma mais eficiente possível todos os fatores de
produção da empresa (ou seja, os 40 trabalhadores e as 10 máquinas da empresa).
O engenheiro, obedecendo tais ordens, faz o seguinte levantamento de produção:

O gráfico a seguir poderia ser montado para ilustrar as possibilidades de produção


contidas no mapa levantado pelo engenheiro, colocando-se no eixo das abscissas a
produção de A e no das ordenadas, a de B.

38
Algumas constatações podem ser tiradas da análise do gráfico da empresa:

1. A produção de parafusos B é mais difícil de ser feita do que a do parafuso A;

2. Os pontos da curva de possibilidade de produção expressam a quantidade


máxima possível da produção de um dos bens, dada a produção do outro. Por
exemplo, se a empresa desejar produzir 11 unidades do bem A, ela poderá fabricar
no máximo, utilizando todos os fatores de produção da forma mais eficiente possível,
3 unidades do bem B;

3. Um ponto dentro da curva significa uma produção abaixo ou aquém das


possibilidades da empresa;

4. Um ponto fora da curva significa uma produção acima ou além das possibilidades
de produção;

5. O fato mais importante a ser constatado é de que aumentos na produção de um


bem, se a empresa estiver trabalhando em pontos situados na curva de
possibilidades de produção, só poderão ser efetuados à custa de decréscimos na
produção do outro.

A eficiência máxima e o pleno emprego são alcançados, portanto, quando se


mobilizam todas as possibilidades de produção da economia; e a escolha das
melhores alternativas depende das opções sociais ou políticas feitas pela própria
39
sociedade ou pelos seus governantes. Sejam quais forem essas opções, haverá
sempre um limite máximo para o seu atendimento, devido à limitação dos recursos,
dado que jamais será possível produzir quantidades infinitas de todos os bens e
serviços desejados. (DALLAGNOL, 2008).

Como regra geral, o aumento da produção de dada classe de bens implica,


necessariamente, a redução da produção de uma outra classe, a não ser que tenha
ocorrido um aumento nos recursos acumulados.

Por isso não tem como aumentar a produção de um bem sem sacrificar a do outro,
pois qualquer combinação envolverá custo de oportunidade, ou seja, a transferência
dos fatores de produção de um bem A para produzir um bem B implica em um custo
de oportunidade que é igual ao sacrifício de deixar de produzir parte do bem A para
produzir mais do bem B.

Concluindo, Dallagnol (2008) afirma que a escassez de recursos faz com que haja
um custo de oportunidade, quando se opta por certo bem. O deslocamento da curva
de possibilidade de produção para a direita indica que o País está crescendo. Isso
pode ocorrer fundamentalmente tanto em função do aumento da quantidade física
de fatores de produção como em função de melhor aproveitamento dos recursos já
existentes, o que pode ocorrer com o progresso tecnológico, maior eficiência
produtiva e organizacional das empresas e melhoria no grau de qualificação da mão-
de-obra. Desse modo, a expansão dos recursos de produção e os avanços
tecnológicos, que caracterizam o crescimento econômico, mudam a curva de
possibilidade de produção para cima e para direita, permitindo que a economia
obtenha maiores quantidades de ambos os bens.

No deslocamento negativo, há um deslocamento da curva de possibilidade de


produção para a esquerda, devido a fatores que influenciam, tais como; pestes,
epidemias e guerras que devastam a população, desarranjos institucionais e
depressões econômicas que sucateiam os bens, redução dos investimentos de
formação de capital fixo, o que implica em redução da capacidade produtiva e a
prática de explorações extensivas que resultam em devastação de recursos naturais.

Fatores que causam o crescimento econômico:

40
- Aumento do investimento, sendo que mais bens de investimento tornam os
trabalhadores mais produtivos, para investir mais, as pessoas têm que reduzir seu
consumo corrente e poupar mais, de modo que sua poupança esteja disponível para
o investimento;

- Inovações surgem quando alguém descobre uma maneira de produzir mais ou


melhor a partir da mesma quantidade de insumos. As inovações em tecnologia,
gerenciamento e em técnicas de mercadologia podem contribuir para o crescimento
econômico;

- Maior divisão do trabalho, ao longo dos últimos dois séculos, permitiu que os
trabalhadores se tornassem mais produtivos em suas áreas de especialização. A
maior divisão do trabalho também quer dizer que os trabalhadores não estão
produzindo para si mesmos, mas para outras pessoas. Assim, a especialização e o
comércio caminham juntos;

- Aumento nos insumos, por exemplo, mais trabalhadores, mais máquinas e mais
terra. Um aumento no número de insumos leva a um maior produto e ao crescimento
econômico.

41
CURVA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO/CUSTO DE OPORTUNIDADE
CRESCENTE/CRESCIMENTO ECONÔMICO

Lei dos Rendimentos Decrescentes

Dallagnol (2008) afirma que a Lei dos Rendimentos Decrescentes está intimamente
relacionado com a constância e a intensidade dos deslocamentos das curvas de
possibilidade de produção. Os deslocamentos produtivos são provocados pela
expansão ou melhoria dos recursos humanos e patrimoniais disponíveis para fins
produtivos. Um maior suprimento destes recursos induzirá à dilatação das fronteiras
de produção da economia.

Para que a expansão das possibilidades de produção realmente ocorra, em escala


constante, deve-se registrar um aumento de suprimento dos recursos de produção.
Quando o suprimento de um dos produtos não se altera, permanecendo fixo ao
longo de vários e sucessivos períodos produtivos, não ocorreram deslocamentos

42
constantes, mas sim decrescentes. A fixidez de um único recurso poderá dificultar a
expansão normal das fronteiras de produção do sistema, e os aumentos da
capacidade serão menos que proporcionais, tornando-se decrescente ou mesmo
nulo a partir de certo ponto. (DALLAGNOL, 2008).

A Lei dos Custos Crescentes. Dadas como inalteradas as capacidades tecnológicas


de produção de uma economia e estando o sistema a operar a níveis de pleno
emprego, a obtenção de quantidades adicionais de determinada classe de produto
implica necessariamente na redução das quantidades de outra classe. Ou seja, se
uma economia está produzindo o produto x, e transfere recursos de sua produção
para outra produção y, irá determinar a expansão da produção y; todavia, essa
expansão será cada vez menor se a sociedade continuar insistindo na transferência
de recursos de uma atividade para outra, e implicará em custos sociais crescentes,
devido a um grau maior de inflexibilidade.

Na ocorrência de Custos de Oportunidade Crescentes – os rendimentos


decrescentes estão basicamente relacionados a fixidez dos recursos de produção.
Na ocorrência de custos de oportunidade crescentes, não estaremos considerando o
suprimento de recursos, nem supondo qualquer variação em sua disponibilidade,
pois todos os recursos permanecem inalterados. O que se altera é a destinação que
se dá aos recursos, nas diferentes alternativas originalmente supostas. Exemplo:
quando as economias estão em período de paz ou guerra.

43
Na visão de Pinho e Vasconcellos (1998) a título de ilustração, imagine-se uma
empresa agrícola produtora de arroz. O fator fixo é representado pela área de terra
disponível associada ao equipamento existente. O fator variável é representado pela
mão-de-obra empregada, ou seja, pelo número de empregados contratados. Se
várias combinações de terra e mão-de-obra forem utilizadas para produzir arroz e se
a quantidade de terra for mantida constante, os aumentos da produção dependerão
do aumento da mão-de-obra utilizada na lavoura. Quando isso ocorrer, alterar-se-ão
as proporções de combinação entre os fatores fixo (terra) e variável (mão-de-obra).
Nesse caso, a produção de arroz aumentará até certo ponto e depois decrescerá,
isto é, a maior quantidade de homens para trabalhar, associada à área constante de
terra, permitirá que a produção cresça até um máximo e depois passe a decrescer.

MACROECONOMIA

A macroeconomia estuda o comportamento dos grandes agregados, tais como PIB,


renda, nível geral de preços, taxa de juros, taxa de câmbio, emprego/desemprego,
balanço de pagamentos, moeda, etc.

44
Ao estudar esses agregados, a macroeconomia deixa para um segundo plano o
comportamento das unidades e constituições individuais e dos mercados
específicos, que são estudados pela microeconomia.

A macroeconomia trata o mercado de bens s serviços em um todo (agregando


produtos agrícolas, industriais, serviços, transportes) bem como o mercado de
trabalho, não se preocupando com as diferenças de qualificação (sexo, origem, etc).

A abordagem macroeconômica tem a vantagem de permitir uma melhor


compreensão dos fatos mais relevantes da economia, representada assim um
importante instrumento para a política e programação econômica.

OBJETIVOS DA POLÍTICA ECONÔMICA


a) Alto nível do emprego
b) Estabilidade dos preços
c) Distribuição justa da renda
d) Crescimento econômico

As questões relativas ao emprego e inflação são consideradas conjuntamente de


curto prazo. As questões relativas ao crescimento econômico são
predominantemente de longo prazo.

Nível de emprego: a questão do emprego/desemprego não preocupava os


economistas até 1930. Eles acreditavam que o mercado conduziria automaticamente
ao pleno emprego. A preocupação com o emprego como meta de governo surgiu
com Keynes, que forneceu a teoria para se recuperar o nível do emprego no longo
prazo.
Keynes defendeu a necessidade da intervenção do Estado na economia, pela qual o
Estado deveria garantir a demanda agregada e através do gasto público, manter o
equilíbrio econômico.

45
Estabilidade dos preços: A busca da estabilidade dos preços se dá em função do
processo inflacionário que é um aumento generalizado do preço das mercadorias.
A inflação é um fenômeno inerente ao capitalismo e existe em todos os países, No
entanto, nas economias em desenvolvimento os aumentos da inflação são
constantes, em função dos desequilíbrios da economia. Portanto, a estabilidade dos
preços é uma meta de governo, uma vez que a inflação, a partir de um determinado
patamar, desestabiliza a economia.

Distribuição de renda: é um tema que está ligado ao perfil da participação dos


trabalhadores na riqueza social. Nas economias desenvolvidas, a participação dos
salários no produto é de cerca de 2/3, enquanto no Brasil é de cerca de 1/3.
O perfil salarial tem influência direta nos processos de distribuição da renda. Nas
economias de baixos salários, a renda é mais concentrada enquanto nas economias
desenvolvidas a renda é menos concentrada.

Crescimento econômico pode ser induzido pelo investimento e pela ação


governamental.
O investimento empresarial aumenta a produção, o emprego e a renda

O investimento governamental induz não só o investimento empresarial como


também estimula a economia e reverte a estagnação econômica

Uma política de estímulo ao capital financeiro, com estabilidade a qualquer custo,


leva a economia a recessão e ao desemprego.

Uma política de estímulo a produção aumenta o emprego e a renda.

Os objetivos da política econômica não são independentes um do outro. Há uma


inter-relação entre eles. É importante que a política econômica seja realidade de
maneira coordenada para que se obtenha os objetivos desejados.

Instrumentos da política macroeconômica

46
A política macroeconômica envolve atuação do governo no conjunto da economia.
Para que a política seja efetivada, o governo lança mão de uma série de
instrumentos para atingir as metas macroeconômicas.

Política fiscal, política monetária, política cambial e comercial e política de


rendas

Política fiscal: está relacionada aos instrumentos de que o governo dispõe para
arrecadar impostos, controlar despesas, estimular ou desestimar o consumo, bem
como os gastos privados.

- Tributos a impostos em geral


- Controle de despesas a funcionalismo
- Estimulo / desestimulo do consumo
- Gastos gerais

Se o governo pretende reduzir a inflação diminui os gastos públicos e aumenta a


carga tributária. Se o governo quer aumentar o emprego, aumenta os gastos
governamentais
Se o governo quer atuar na distribuição de renda ou na desigualdade regional,
impõe imposto sobre a natureza ou incentivos para as regiões mais pobres.

A política fiscal obedece ao princípio da autoridade segundo o qual a implementação


de uma medida fiscal só pode ocorrer a partir do ano seguinte ao de sua aprovação
no congresso.

Política monetária: está relacionada ao estoque monetário do país. Envolve


emissão de moeda, renda e compra de títulos públicos, bem como a regulação do
sistema bancário.

47
Emissão de moedas: mecanismo pelo qual o governo pode aumentar ou diminuir o
volume de moeda na economia, de acordo com os interesses de estimular ou
desestimular o consumo.

Reservas compulsórias: mecanismo pelo qual o governo impõe aos bancos


comerciais a retenção de uma parcela dois depósitos

Mercado aberto: estrutura a partir da compra e venda de títulos públicos

Redesconto: são empréstimos do banco central aos bancos com dificuldades


passageiras.

Taxa de juros: instrumento pelo qual o governo pode incentivar ou desacelerar o


crescimento econômico

Política cambial e comercial: são políticas voltadas para o setor externo da


economia

Política cambial: refere-se à capacidade do governo de definir a taxa de cambio,


através do banco central. A taxa de cambio pode ser definida pelo mercado se assim
o governo definir

Política comercial: tem como instrumentos os incentivos a exportação, de estimulo


ou desestimulo as importações, através de instrumentos fiscais e creditívos além das
barreiras tarifarias

Política de rendas: está ligada à capacidade do governo de atuar na formação e


apropriação da riqueza, mediante a fixação dos salários e o controle dos preços. No
Brasil não existe uma estratégia para a política de rendas, no sentido de sua
distribuição mais justa. As políticas governamentais nessa área atendem muito mais
os interesses do capital do que do trabalho.

48
MACROECONOMIA KEYNESIANA

A política keynesiana nasceu em função da crise capitalista de 1930. Esta crise


colocou por terra o mito liberal de que o mercado se encarregaria de proporcionar
equilíbrio e prosperidade à economia.

Com a crise veio a recessão econômica, o desemprego em massa e a miséria para


grande parte da população. O liberalismo entrou em declínio.
Foi a partir de contestação da política liberal que Keynes elaborou sua teoria
econômica. Para ele, o sistema capitalista deixado ao sabor das forças do mercado,
tende estruturalmente para as crises, com enormes consequências econômicas e
sociais. Para reverter o processo de crise, Keynes advogou a necessidade de
intervenção do Estado na economia, por meio de gastos e investimentos de forma a
restabelecer a demanda agregada e o equilíbrio econômico.

Dessa forma, para Keynes, o objetivo da política econômica é encontrar o


equilíbrio econômico, mediante o pleno emprego dos fatores de produção.
Assim, a política econômica deve concentrar-se em elevar a demanda agregada, por
meio de instrumentos que proporcionem aumento dos gastos familiares em
consumo; aumento do investimento; aumento dos gastos governamentais e busca
de superávits convencionais.

O que é demanda agregada? É a soma dos gastos das famílias com consumo; das
empresas com investimento, mais os gastos do Governo e as despesas líquidas do
setor externo. Para Keynes, quando a economia entra na crise é necessário a
intervenção do Estado para restabelecer a demanda agregada e o equilíbrio da
economia.
O modelo Keynesiano divide-se em dois estágios: o lado real, que envolve o
mercado de bens e serviços e o mercado de trabalho, e o lado monetário, que
compreende o mercado monetário e o mercado de títulos.

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Oferta agregada: valor total da produção de bens e serviços finais colocados à
disposição da sociedade, num dado período. A oferta agregada varia em função da
disponibilidade dos fatores de produção: terra, trabalho e capital.

Oferta agregada potencial: Refere-se a produção máxima da economia, quando


todos os fatores de produção estão plenamente empregados.

Oferta agregada efetiva: É a produção que está sendo efetivamente colocada no


mercado, de acordo com a demanda desejada pelos agentes econômicos. Para
Keynes, como a oferta agregada potencial não se altera no certo prazo, em função
dos estoques de fatores de produção, as modificações no nível da renda e do
produto devem-se exclusivamente as variações da demanda agregada de bens e
serviços.

Assim, Keynes estabeleceu o princípio da demanda agregada, ou seja, as alterações


no produto ou na renda ocorrem em funções das variações da demanda agregada.
Numa situação de crise a política econômica deve procurar elevar a demanda
agregada. Ou seja, o Estado deve entrar no processo gastando. Isso permitirá a
criação de renda na economia e as empresas sentir-se-ão estimuladas a aumentar a
produção com o aumento da produção eleva-se o emprego e a renda assim
sucessivamente.
Dessa forma, a economia recupera novamente o equilíbrio, pois esse processo de
retomada da produção em um setor se irradiará para o conjunto da economia num
efeito multiplicador.

Multiplicador Keynesiano

É o fenômeno pelo qual um gasto, quer em forma governamental ou privado,


provoca num efeito multiplicador nos vários setores da economia. Ou seja, o
aumento da renda de um setor significa que assalariados e empresários gastarão
sua renda em outros setores, que por sua vez gastarão na compra de outros bens e
serviços e assim continuadamente.

50
MODELO IS-LM

Uma Visão Geral

O modelo IS/LM, na sua versão mais simples, descreve, formalizando analítica e


graficamente, o comportamento de uma economia constituída por três mercados:
bens e serviços, monetário e títulos. O modelo estabelece a ligação entre os três
mercados através de duas variáveis endógenas, o produto ou rendimento (Y) e a
taxa de juro (i), mantendo-se o pressuposto Keynesiano da rigidez dos preços.
Como tal, o modelo revela-se apropriado para uma análise conjuntural de curto
prazo, onde a oferta de bens e serviços se ajusta passivamente à procura. Para
além da análise de uma economia fechada propriamente dita, este modelo também
é adequado para a análise de uma grande economia aberta, onde é natural que a
maior parte das relações económicas e financeiras se processem dentro das
próprias fronteiras, sendo as relações com o exterior relativamente pouco relevantes.
Desta forma podemos admitir que o equilíbrio geral destas grandes economias
abertas (e.g., E.U.A., Área Euro) acaba por coincidir com o equilíbrio interno

Equilíbrio do lado real: a curva IS

A curva IS mostra as condições de equilíbrio no mercado de bens e serviços, ou


seja, a taxa de juros e o nível de renda nacional em que a oferta agregada iguala-se
à demanda agregada.
Dessa maneira, o modelo de determinação da renda é expandido da seguinte forma:

51
Aqui, consideramos o nível de investimento endógeno. Nesse caso, uma taxa de
juros r1 maior que r2, temos um nível de investimento maior do que aquele
prevalecente com uma taxa de juros menor. Essa relação inversa decorre do fato de
o investidor comparar a taxa de retorno esperada do investimento (ou eficiência
marginal do capital) com a taxa de juros para tomar a decisão de investimento.

Assim, reduções da taxa de juros levam a elevações no investimento e,


consequentemente, na demanda, necessitando de maior produção para equilibrar o
mercado de bens, como observamos nos gráficos seguintes.

Nota-se que, para cada taxa de juros, existe um nível de renda correspondente que
iguala a oferta e a demanda de bens e, combinando-se cada taxa de juros com a
respectiva renda de equilíbrio, chegamos à curva IS (os pares (y,r) que igualam o
mercado de bens).

A inclinação da IS é negativa, mostrando que uma redução na taxa de juros eleva o


investimento e este, junto com o efeito multiplicador, provoca a elevação da renda.

52
Já a posição da IS dependerá basicamente do volume de gastos autônomos, nos
quais se incluem o consumo e o investimento autônomo e os elementos da política
fiscal, com destaque para os gastos públicos.

Deslocamentos da IS

Deslocamentos da IS para a direita:


● Política fiscal expansionista (aumento de G ou queda de T)
● Aumento da confiança do consumidor (ou da riqueza do consumidor)
● Melhora das expectativas dos investidores.

Deslocamentos da IS para a esquerda:

● Política fiscal contracionista


● Queda da confiança do consumidor
● Piora nas expectativas dos investidores.

53
Equilíbrio do lado monetário: a curva LM

Admitindo que o BACEN controle a oferta monetária, esta pode ser considerada
exógena (por causas externas). A demanda por moeda ocorrerá por dois motivos:
transação e portfólio. Podemos, contudo, notar que a demanda de moeda aumenta
conforme aumenta a renda, e a taxa de juros atuará como o custo de oportunidade
de se reter moeda. Logo, a demanda por moeda mantém relação inversa com a taxa
de juros.

O equilíbrio do mercado monetário ocorre quando a demanda por moeda se iguala à


oferta de moeda, ou seja,

Onde:

M = oferta de moeda
P = nível de preços
ky= demanda de moeda por transação
l r = demanda de moeda por motivo portfólio (especulativa)

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Os pontos de encontro entre a curva de oferta monetária e a curva de demanda por
moeda, para cada nível de renda, representará um ponto sobre a LM. Um aumento
da renda desloca a demanda de moeda para cima, determinando, então, um novo
ponto de equilíbrio.

Inclinação da LM: é positiva, pois dada a oferta de moeda, quando um dos


componentes da demanda de moeda se eleva, o outro deve reduzir-se. Então, se há
uma elevação na renda que gere aumento da demanda por motivo transação, a taxa
de juros deve elevar-se para diminuir a demanda por motivo portfólio (especulativo).

Posição da LM: é dada pela oferta real de moeda, afetada basicamente pela política
monetária.

● Expansão da oferta de moeda desloca a LM para a direita;


● Contração da oferta de moeda desloca a LM para a esquerda.

Interligação entre o lado real e o lado monetário

Para determinar a renda e a taxa de juros de equilíbrio, é preciso verificar as


condições de equilíbrio simultâneo dos mercados de bens e ativos: a economia
estará em equilíbrio quando um par (y,r) se encontrar tanto na IS quanto na LM. Isso
ocorre no ponto E.

55
Quando a economia se encontrar em desequilíbrio, os mecanismos de mercado
agirão no sentido de levá-la novamente a um ponto de equilíbrio. Este novo ponto de
equilíbrio poderá ter outro nível de produto e de taxa de juros ótimo.

Impactos de políticas econômicas no modelo IS-LM

Política Monetária

Efeito de uma expansão monetária: desloca a LM para a direita, levando a um novo


ponto de equilíbrio com queda da taxa de juros e expansão da renda.

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Política fiscal

Efeito de uma política fiscal expansionista: desloca a IS para a direita, levando a um


novo ponto de equilíbrio com aumento da taxa de juros e expansão da renda.

INFLAÇÃO

Conceitos, Tipos e Intensidade

Para Pinho e Vasconcellos (1998), a inflação pode ser conceituada como um


aumento contínuo e generalizado no nível geral de preços. Ou seja, os movimentos
inflacionários representam elevações em todos os bens produzidos pela economia e
não meramente o aumento de um determinado preço. Outro aspecto fundamental
refere-se ao fato de que o fenômeno inflacionário exige a elevação contínua dos
preços durante um período de tempo, e não meramente uma elevação esporádica
dos preços.

Dado que a inflação representa uma elevação dos preços monetários, ela significa
que o valor real da moeda é depreciado pelo processo inflacionário. Assim, por
definição, a inflação é um fenômeno monetário. Entretanto, isto não significa que a
sua solução passe simplesmente por um controle do estoque de moeda.

57
De início, pode-se dizer que a inflação representa um conflito distributivo existente
na economia, mal administrada. Em outras palavras, a disputa dos diversos agentes
econômicos pela distribuição da renda representa a questão básica no fenômeno
inflacionário. Dada a diversidade de agentes econômicos existentes, o processo
inflacionário pode estar acoplado a inúmeras facetas.

O exemplo mais típico, tradicionalmente enfatizado pelos monetaristas, refere-se ao


desequilíbrio financeiro do setor público, que induz a uma elevação do estoque de
moeda em taxas acima do crescimento do produto. No âmbito do conflito distributivo,
poderíamos representar esse tipo de inflação como decorrente de um conflito entre o
setor privado e o setor público pela disputa do produto. Nesta hipótese, caso o setor
público reduza seus gastos e assim consiga evitar o acréscimo de moeda, o
problema inflacionário pode ser resolvido.

Causas e Efeitos

Conforme cita Dallagnol (2007), existem várias teorias que são capazes de explicar
todos os tipos de inflação; geralmente são diferenciados por qualificativos que
remetem às causas, às magnitudes dos processos de alta e a suas características
visíveis. Podem ser agrupadas em quatro principais troncos teóricos:

a) Inflação de procura.

Uma das principais explicações teóricas da inflação sustenta que as altas


generalizadas de preços resultam de uma procura agregada excessiva em relação à
capacidade de oferta da economia. A inflação resultante de gastos agregados
excessivos pode originar-se tanto no setor real, quanto no setor monetário. Podem
resultar de expectativas sobre insuficiências nas cadeias de suprimento, ou seja, o
consumidor passa a consumir mais com medo que faltem suprimentos.

Podem resultar de excessivos gastos públicos sem correspondência de poupança do


governo. Ou pela inadequada condução da política monetária, conduzindo à

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prostração da oferta de moeda e à multiplicação dos meios de pagamento em escala
mais que proporcionais à capacidade efetiva de geração de bens e serviços. Trata-
se, portanto, de um tipo de inflação fortemente correlacionada à expansão da
moeda.

b) Inflação de custos.

Trata-se de movimentos de alta originários da expansão dos custos dos fatores


mobilizados no processamento da procura de bens e serviços; ou se, é um processo
inflacionário gerado pela elevação dos custos de produção, especialmente dos
salários ou dos preços de importação. No Brasil, por exemplo, no final da década de
70, os sindicatos dos trabalhadores na indústria metalúrgica teriam assumido o papel
de agentes propulsores de elevações reais das taxas salariais.

Além de ser explicada pela variação nas taxas salariais, a inflação de custos pode
resultar de acréscimos nos preços de matérias-primas de alta participação na
estrutura de custos das principais indústrias da economia.

A teoria da origem da inflação nos custos supõe que aumentos reais das taxas
salariais são as causas da inflação. Pressões que resultem em elevações salariais
desse tipo são, em geral, decorrentes de negociações coletivas conduzidas por
sindicatos organizados e poderosos e da capacidade de esses setores influenciarem
os sindicatos menos organizados. A base desse argumento supõe que elevações de
custos de produção se incorporem como regra geral, aos preços de mercado.

c) Inflação estrutural

Trata-se de inflação que se apoia em fatores estruturais básicos, relacionando


essencialmente com a inelasticidade da oferta de produtos agrícolas, com o
desequilíbrio crônico no comércio exterior, com a distribuição desigual da renda e
com a rigidez dos orçamentos públicos.

59
A teoria estrutural contém muitos elementos das outras teorias. A originalidade está
em ser voltada para países em desenvolvimento. Foi desenvolvida por
pesquisadores da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL),
órgão da Organização das Nações Unidas. Em resumo, a origem da inflação nos
países pobres decorre de características particulares da estrutura dos países em
desenvolvimento, quais sejam:

a) Inelasticidade da oferta agrícola. Na América Latina, temos uma estrutura


fundiária concentrada (terra em poucas mãos), o setor agrário é tecnologicamente
atrasado e a região está em processo de urbanização (parcelas crescentes da
população dependem da oferta de produtos agrícolas). O resultado é o aumento de
preço dos produtos agrícolas.

b) Desequilíbrio crônico no comércio exterior. Os países em desenvolvimento, em


geral, são importadores de bens de capital (máquinas e equipamentos), objetivando
aparelhar seu parque industrial. Os bens de capital são comercializados em moedas
fortes (dólar, libra esterlina, marco alemão, franco
suíço, iene), gerando desequilíbrios no balanço de comércio (importações maiores
do que as exportações) dos países em desenvolvimento.

c) Distribuição desigual de renda. Com a produção de novos produtos, os grupos


assalariados de baixa renda pressionam para a ampliação de sua capacidade
aquisitiva. Obtendo êxito, teremos pressões inflacionárias de custo, desde que as
empresas tentem manter as margens de lucro. Por conta dos aumentos salariais,
manter o lucro significa aumentar os preços. A solução seria a aceitação, por parte
dos setores empresariais, da nova distribuição de renda mais favorável aos
assalariados de baixa renda.

d) Rigidez do orçamento público. Nos países de crescimento acelerado, o


governo assume responsabilidades na implantação de infraestrutura industrial
(abastecimento de água, energia, esgoto e transportes). Em geral, não existe
um mercado no qual a colocação de títulos do governo financie a
infraestrutura. A solução seria a emissão de moeda (fabricação de dinheiro),

60
aumentando o dinheiro em circulação, origem monetária da inflação. No caso
da existência do mercado de títulos, via de regra, o volume disponível de
recursos é pequeno diante das necessidades do governo e dos empresários
privados. O resultado da disputa por recursos escassos é um aumento na
remuneração dos proprietários dos recursos (aumento da taxa de juros).
Nesse caso, quem recorreu a empréstimos aumenta preços em função do
aumento na parcela a ser paga aos credores.

d) Inflação inercial

A abordagem inercialista fundamenta-se na capacidade de auto propagação da


inflação e na prática generalizada da indexação, ou seja, é um processo inflacionário
muito intenso, gerado pelo reajuste pleno de preços, de acordo com a inflação,
observado no período imediatamente anterior. Com isso, ocorre a indexação
generalizada dos preços, os contratos e os preços passam a se reajustar num
período cada vez menor. A indexação generalizada e outros mecanismos iniciais de
manutenção da inflação dificilmente são controláveis pelos instrumentos tradicionais
da política monetária.

61
62
ECONOMIA POLÍTICA DA
SUSTENTABILIDADE

63
64
Situando a Economia Política do meio ambiente

No esquema analítico convencional, o que seria uma economia da sustentabilidade é visto


como um problema. A ação coletiva (estado) se faz necessária apenas para corrigir as
falhas de mercado que ocorrem devido ao fato de boa parte dos serviços ambientais se
constituir de bens públicos (ar, água, capacidade de assimilação de desejos, etc), não tendo,
portanto, preços.

O problema da economia política da sustentabilidade é visto como um problema de recursos


naturais finitos, o que pressupõe a definição de limites para seu uso. Além disso, trata-se de
um processo envolvendo agentes econômicos cujo comportamento é complexo em suas
motivações e que atuam em um contexto de incertezas e de riscos de perdas irresistíveis
que o progresso da ciência tem como eliminar.

Trata-se de um processo de escolha pública onde caberá à sociedade civil, em suas várias
formas de organização, decidir, em última instância, com base em consideração morais e
éticas.

O desafio do desenvolvimento sustentável não tem como ser enfrentado a partir de uma
perspectiva teórica que considera as dimensões financeiras, culturais e éticas no processo
de tomado de decisão.

Desenvolvimento sustentável - Perspectiva histórica

Um ecossistema em equilíbrio não quer dizer um ecossistema estático. É um sistema


dinâmico, que se modifica, embora lentamente, graças a interações entre as diversas
espécies nele contidas, em um processo conhecido como coevolução.

Com a invenção da agricultura há cerca de dez mil anos, a humanidade deu um passo
decisivo no modo de inserção na natureza em relação aos demais animais.

A agricultura provoca uma modificação radical nos ecossistemas. A imensa variedade de


espécies de um ecossistema florestal, por exemplo, é substituída pelo cultivo/ criação de
umas poucas espécies, selecionadas em função de seu valor.

Apesar de modificar radicalmente o ecossistema original é possível construir um


ecossistema agrícola baseado em sistemas de produção que preservem a regulação
65
ecológica. Por exemplo, pode-se reduzir a infestação de pragas nas culturas com a
alternância do cultivo de espécies distintas em uma mesma área.

A manutenção da fertilidade do solo, para garantir a sustentabilidade é preciso não apenas


repor os nutrientes exportados com as culturas, mas fazê-lo de modo equilibrado. Uma
fertilização química desequilibrada tem impactos negativos no solo, bem como sobre os
recursos hídricos do ecossistema.

Com a Revolução Industrial a capacidade da humanidade de intervir na natureza deu um


novo salto colossal e que continua a aumentar sem cessar.

A “capacidade de carga do planeta” não poderá ser ultrapassada sem que ocorram grandes
catástrofes ambientais. Entretanto, como não se conhece qual a capacidade de carga, e
será muito difícil conhece-la com precisão, é necessário adotar uma postura precavida que
implica agir sem esperar para ter certeza. Precisamos criar quanto antes as condições
socioeconômicas, institucionais e culturais que estimulem não apenas um rápido progresso
tecnológico poupador de recursos naturais como também uma mudança em direção a
padrões de consumo que não impliquem o crescimento contínuo do uso de recursos
naturais.

Desenvolvimento sustentável – perspectiva teórica

Desenvolvimento sustentável é um conceito normativo que surgiu com o nome de eco


desenvolvimento no início da década de 70. Ele surgiu num contexto de controvérsia sobre
as relações entre crescimento econômico e meio ambiente, exacerbada principalmente pela
publicação do relatório do Clube de Roma que pregava o crescimento zero como forma de
evitar a catástrofe ambiental.

“Clube de Roma é um grupo de pessoasilustres que se reúnem para debater um vasto


conjunto de assuntos relacionados a política, economia internacional e, sobretudo, ao
meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Foi fundado em 1968 por Aurélio
Peccei, industrial e acadêmico italiano e Alexander King, cientista escocês”.

No debate acadêmico em economia do meio ambiente, as opiniões se dividem entre duas


correntes principais de interpretação:

a) A primeira corrente é representada principalmente pela chamada Economia Ambiental e


considera que os recursos naturais não representam, a longo prazo, um imite absoluto à

66
expansão da economia. O sistema econômico é visto como suficientemente grande para
que a indisponibilidade de recursos naturais se torne uma restrição à sua expansão, mas
uma restrição apenas relativa, superável indefinidamente pelo progresso científico e
tecnológico. Tudo se passa como se o sistema econômico fosse capaz de se mover
suavemente de uma base de recursos para outra à medida que cada uma é esgotada,
sendo o progresso científico e tecnológico a variável chave para garantir que esse processo
de substituição não limite o crescimento econômico a longo prazo.

b) A segunda corrente de interpretação é apresentada principalmente pela chamada


Economia Ecológica, que vê o sistema econômico como um subsistema de um todo maior
que o contém, impondo uma restrição absoluta à sua expansão. Capital e recursos naturais
são essencialmente complementares. O progresso científico e tecnológico é visto como
fundamental para aumentar a eficiência na utilização dos recursos naturais em geral e,
nesse aspecto, esta corrente partilha com a primeira a convicção de que é possível instituir
uma estrutura regulatória baseada em incentivos econômicos capaz de aumentar
imensamente esta eficiência. A questão central para essa corrente de análise e’, neste
sentido, como fazer com que a economia funcione considerando a existência destes limites.

Valoração econômica e complexidade ecossistêmica

Para a abordagem econômico-ecológica, o conhecimento aprofundado da dinâmica


ecológica dos ecossistemas é uma condição necessária para que a valoração econômica
dos serviços possa efetivamente subsidiar a adoção de políticas de gestão sustentável dos
recursos naturais. O Conjunto de indivíduos e comunidades de plantas e animais, sua idade
e distribuição espacial, juntamente com os recursos minerais, terra e energia solar compõe a
estrutura ecossistêmica, que fornece as fundações sobre as quais os processos ecológicos
ocorrem. A variabilidade dos ecossistemas consiste nas mudanças dos estoques e fluxos ao
longo do tempo. O entendimento da dinâmica dos ecossistemas requer um esforço de
mapeamento das chamadas funções ecossistêmicas, as quais podem ser definidas como as
constantes interações existentes entre os elementos estruturais de um ecossistema,
incluindo transferência de energia, regulação de gás, regulação climática e do ciclo da água.

Essas funções se traduzem em serviços ecossistêmicos na medida que beneficiam as


sociedades humanas. Serviços de provisão: incluem os produtos obtidos dos ecossistemas,
tais como alimentos, madeira, produtos farmacêuticos, etc. Sua sustentabilidade não deve
ser medida apenas em termos de fluxos, isto é, quantidade de produtos obtidos em
67
determinado período. Deve-se proceder a uma análise que considere a qualidade e o estado
do estoque do capital natural que serve como base para sua geração, atentando para
restrições quanto à sustentabilidade ecológica. Serviços de regulação: como manutenção da
qualidade do ar, regulação climática, controle de erosão, reprodução vegetal, etc. Sua
avaliação não se dá pelo seu “nível” de produção, mas sim pela análise da capacidade de os
ecossistemas regularem determinados serviços. Tendo em vista a importância dos fluxos de
serviços gerados pelos ecossistemas para o bem-estar humano e para o suporte da vida no
planeta, é inegável a necessidade de valorá-los economicamente de modo a fornecer
subsídios para políticas ambientais.

Capitalismo e meio ambiente

A grande dificuldade para a adoção de uma atitude precavida de buscar estabilizar o nível
de consumo de recursos naturais está em que essa estabilização pressupõe uma mudança
de atitude que contraria a lógica do processo de acumulação de capital em vigor desde a
ascensão do capitalismo.

Sob muitos aspectos, pode-se dizer que as organizações e instituições feudais


representavam uma espécie de expressão organizacional e institucional de motivações não
econômicas da sociedade. Isto porque através destas instituições e organizações, a
sociedade feudal buscava submeter as atividades produtivas a minuciosas regulações que
refletiam o que ela entendia ser justo, de acordo como uma determinada ordem considerada
ideal: desde regras detalhadas de apropriação dos recursos naturais e especificações
técnicas sobre como produzir para garantir uma determinada qualidade, passando pela
regulação da qualidade a ser produzida, até a determinação da distribuição do excedente
e/ou do preço que seria justo. Ou seja, era uma sociedade que buscava submeter a
racionalidade econômica a um conjunto de restrições de ordem não econômica. Com o
capitalismo, portanto, o uso dos recursos tanto humano como os naturais, passa a ter quase
nenhum controle social. Em relação aos recursos naturais, só muito recentemente os
agentes econômicos passaram a sofrer restrições em relação à forma como os vinham
usando. Ainda assim essas restrições regulatórias se concentraram fundamentalmente
sobre aquelas atividades cujos efeitos degradantes atingiam a qualidade de vida da
população em seus locais de origem. O problema destes modelos é que ignoram o fato
básico de que as consequências dos problemas ambientais globais recairão muito mais à
frente no tempo, sobre uma descendência remota de cada família.

68
Existe também um conjunto de fatores, não estritamente ecológicos, que podem ter um
papel coadjuvante importante em uma mudança de valores socioculturais que permita a
adoção de padrões de consumo mais equilibrados ecologicamente. O caso recente da “vaca
louca” é um dos mais emblemáticos problemas que resultam da dinâmica de funcionamento
das sociedades industriais modernas. A lógica econômica prevalecente induziu o
agronegócio a uma busca por inovações na área de nutrição animal que reduzissem custos,
inovações estas que foram aprovadas pelos órgãos reguladores com base em critérios
científicos estabelecidos para a determinação de padrões de segurança. O que é importante
ressaltar em casos como este é que eles mostram a existência de graves riscos que não são
previsíveis pela ciência e, portanto, não mensuráveis. Nas sociedades pós-industriais
existem vários tipos de risco que deixam os agentes econômicos em uma nuvem de
incertezas, e isso exige um processo peculiar de tomada de decisão.

Outro fator são os protestos cada vez mais intensos contra a globalização em cada encontro
de chefes de estado e seus representantes para discutir temas correlatos, vem se tornando
emblemáticos do sentimento de que o sistema pode ser eficiente, mas não produz justiça.
Com a globalização e a internet, a interação ao assunto fez com que a população
participasse do que antes era uma espécie de “alta cultura” de contestação, provocando
uma disjunção inédita entre economia e cultura.

Esse quadro geral já deu origem a uma mudança com o crescimento do peso do que se
convencionou chamar de “terceiro setor” no processo de tomada de decisões. Sua atuação,
por sua vez, tem sido extremamente importante também para o aprofundamento do
processo de conscientização ecológica e da consequente mudança de valores culturais que
esta conscientização tende a estimular. Nesse sentido estão sendo criadas as condições
objetivas que vão permitir o surgimento de novas instituições capazes de impor restrições
ambientais que atinjam a racionalidade econômica atual.

Dinâmica da tomada de decisões sob incerteza.

Durante o século XIX, a obrigação moral de cada cidadão em relação a si próprio e aos
demais concidadãos era vista como mais importante do que as obrigações jurídicas. O
cidadão era responsável e prudente no uso de sua liberdade o que implicava, para começar,
tomar as necessárias providências para proteger a ele e a sua família. Durante o século XX,

69
com o sistema de seguridade social, as obrigações legais tenderam a se tornar mais
importantes que as obrigações morais. Um conjunto de novos direitos sociais emergiu do
sentimento crescente de que cada cidadão possuía uma espécie de direito geral, de ser
compensado pelos danos resultantes de quase todo tipo de evento em sua vida. Essa nova
maneira de pensar resultou em grande medida de um sentimento em relação à capacidade
da ciência e da tecnologia de prever e controlar todos os riscos. Foi o que permitiu a
estruturação de sistemas, de proteção social, que se baseiam na presunção de que todos os
riscos são mensuráveis. Desse modo, um sentimento de solidariedade social baseado em
riscos mensuráveis, substituiu o sentimento individual de obrigação moral. Essa é a analogia
correta para definir um comportamento precavido em face de problemas ambientais como
aquele do “efeito estufa”, sobre cuja evolução a ciência deixa os tomadores de decisão em
uma nuvem de incertezas, sem respostas para a questão central: se é verdade que o
aquecimento global tem origem antropogênica (alteração da concentração de ozônio na
atmosfera por compostos manufaturados, resultante de atividades humanas e que, através
de reações químicas provocam a sua destruição) e que este aquecimento não pode ser
naturalmente revertido, qual o ritmo de redução das emissões de carbono necessário para
evitar uma catástrofe? Do ponto de vista da redução do risco, o ideal seria mudar
imediatamente a matriz energética, de modo a eliminar a emissão de gases geradores do
efeito estufa.

Do ponto de vista político/econômico, entretanto, esta opção teria um custo insuportável. A


atitude precavida é, portanto, aquela de reduzir o máximo possível as emissões ao mesmo
tempo que se aceleram as pesquisas científicas destinadas a avaliar melhor os riscos
envolvidos e encontrar alternativas de energia limpa. Entretanto, a definição de qual seria
esse máximo possível é controvertida, opondo considerações de ordem político econômica a
considerações de ordem tecnocientífica, em meio a conflitos de interesses entre grupos e
países.

A relutância dos governos americanos em relação ao protocolo de Quioto (É o único tratado


internacional que estipula reduções obrigatórias de emissões causadoras do efeito estufa. O
documento foi ratificado por 168 países. Os Estados Unidos, maiores emissores mundiais, e
a Austrália não fazem parte do Protocolo), por exemplo, reflete em última análise o
sentimento de que a opinião pública americana não aceitaria pagar este preço que
implicaria, entre outras coisas, o aumento no preço da gasolina.

Sempre que se chega a um consenso sobre os limites para determinado tipo de impacto
ambiental, novas decisões se impõe, embora com níveis menores de incertezas:
metodológica e técnica. A incerteza tecnológica, por exemplo, ocorre quando se vai decidir

70
entre as opções de política energética de um país para atender aos limites negociados.
Ainda não é uma decisão que se possa tomar como um resultado incontestável de uma
análise científica, pois entram em jogo valores e confiabilidade. É necessário chegar a um
compromisso de equilíbrio entre opções tecnocientífica e os interesses em jogo.

A incerteza técnica, aparecem em situações que podem ser enfrentadas com o recurso a
rotinas padrão derivadas de estatísticas e suplementadas por técnicas e convenções
desenvolvidas para cada campo em particular, como, por exemplo, no processo de
otimização de uma dada opção energética.

O FUNDAMENTO CENTRAL DA ECONOMIA ECOLÓGICA

Inúmeras questões teóricas que separam economia ecológica da convencional podem ser
entendidas como uma clarificação do caráter realmente paradigmático da ruptura com a
economia convencional, cujo desdobramento prático é essencial a contestação do lugar nela
ocupado pelo crescimento econômico.

Ponto de partida: uma das principais diferenças entre as duas correntes econômicas, a
ecologia e a dominante, chamada “Neoclássica”, que chamaremos de convencional, está em
seus respectivos pontos de partida. No fundo são duas concepções de mundo, pois a
convencional enxerga a economia como um todo, e quando chega a considerar a natureza,
o meio ambiente, ou a biosfera, estes são entendidos como partes ou setores da
macroeconomia: florestal, pesqueiro, mineral, agropecuário, áreas protegidas, pontos eco
turísticos, etc. Exatamente o inverso da economia ecológica, para a qual a macroeconomia é
parte de um todo bem mais amplo, que a envolve e a sustenta: a ecossistêmica. A economia
é vista dessa última perspectiva como um subsistema aberto de um sistema bem maior, que
é finito e não aumenta. Sistemas Isolados são os que não envolvem trocas de energia nem
matéria com seu exterior. O único exemplo razoável é o próprio universo. No extremo oposto
estão os sistemas abertos, que regularmente trocam matéria e energia com seu meio
ambiente, como é o caso da economia. E os sistemas fechados só importam e exportam
energia, mas não matéria. A matéria circula no sistema, mas não há entrada nem saída de
matéria do mesmo. Na prática é o caso do planeta Terra, pois são irrisórios os casos de
meteoros que entram ou de foguetes que não voltam. Em outras palavras, o crescimento
econômico não ocorre no vazio. Muito menos é gratuito. Ele tem um custo que pode se
tornar mais alto que o benefício, gerando um “crescimento antieconômico”, ideia sem
sentido para qualquer economista convencional.
71
Metabolismo: Chamado como diagrama de fluxo circular, pretende mostrar como circulam
produtos, insumos e dinheiro entre empresas e famílias, em mercados de fatores de
produção e de bens e serviços. As empresas produzem bens e serviços usando insumos
classificados como trabalho, terra e capital, os chamados três fatores de produção. As
famílias consomem todos os bens e serviços produzidos pelas empresas.

Compram das empresas nos mercados de bens e serviços. E nos mercados de fatores são
vendidos os insumos, comprados pelas empresas, necessários à produção. O circuito
interno do diagrama mostra os fatores fluindo das famílias para as empresas e os bens e
serviços fluindo das empresas para as famílias. O circuito externo mostra o fluxo monetário.
É uma circulação interna do dinheiro e dos bens, sem absorção de materiais e sem
liberação de resíduos. Se a economia não gerasse resíduo e não exigisse novas entradas
de matéria e energia, então ela seria o sonhado moto perpétuo, capaz de produzir trabalho
ininterruptamente consumindo a mesma energia e valendo-se dos mesmos materiais. Seria
um reciclador perfeito. É uma visão que contradiz a mais básica ciência da natureza, a física
e, particularmente a termodinâmica, ramo que estuda as relações entre energia, calor e
trabalho. A segunda lei da termodinâmica diz que nem toda energia pode ser transformada
em trabalho, pois uma parte se dissipa em calor e a energia dissipada não pode mais ser
utilizada.

As mudanças sociais nunca foram nem poderão ser independentes das relações que os
humanos mantêm com o resto da natureza. Daí a importância da ideia de metabolismo
socioambiental, que capta os fundamentos da existência dos seres humanos como seres
naturais e físicos, com destaque para as trocas energéticas e materiais que ocorrem entre
os seres humanos e seu meio ambiental natural. De um lado, o metabolismo é regulado por
leis naturais que governam os vários processos físicos envolvidos. De outro, por normas
institucionalizadas que governam a divisão do trabalho, a distribuição de riqueza etc.

Mecânica versus termodinâmica

Parte do princípio de que é possível entender os fenômenos, independentemente de onde,


quando e por que ocorrem. Entusiasmados pela elegância e capacidade de previsão da
mecânica, os pioneiros da economia moderna consideram que há algo no sistema
econômico que se mantém constante: o valor seria como a energia. A lei da conservação da
energia, ou primeira lei da termodinâmica, diz que não há criação ou destruição de energia,
apenas transformação de uma forma em outra.
72
A mecânica, ao contrário, parte do princípio de que todos os movimentos são reversíveis.

Já as transformações promovidas pelo processo econômico têm direito no tempo e são


irreversíveis. O sistema produtivo transforma matéria prima em produtos que a sociedade
valoriza e gera algum tipo de resíduo, que não entra novamente na cadeia.

A economia capta recursos de qualidade de uma fonte natural, e depois devolve resíduos
sem qualidade à natureza, então não é possível trata-a como um ciclo isolado.

O processo produtivo

A abordagem convencional ignora as diferenças qualitativas entre fatores de produção. A


rigor, o que normalmente se chama de produção deveria ser denominado transformação
para que não ficasse obscuro o que acontece com os elementos da natureza no processo
econômico. É preciso diferenciar o que entra e sai relativamente inalterado do processo
produtivo daquilo que se transforma dentro dele. Em intervalo de tempo curto não se alteram
os chamados fundos: patrimônio natural (terra), recursos humanos (trabalho) e meios de
produção (capital). Os três fatores que passaram a ser chamados de “capital
natural/ecológico”, “capital humano/social” e “capital físico/construído”.

Todavia, os denominados fluxos, a energia e os materiais advindos diretamente da natureza


ou de outro processo produtivo, se transformam em produtos finais, em resíduos e em
poluição. Há fluxos de entrada (materiais e energia) e de saída (produtos e resíduos) no
processo produtivo. Um dos problemas básicos da abordagem convencional da produção,
está em reduzir o processo a uma questão de alocação. Essa abordagem trata todos os
fatores como se fossem da natureza semelhante, supondo que a substituição entre eles não
tem limites e que o fluxo de recursos naturais pode ser fácil e indefinidamente substituído
por capital. Para a economia convencional, há substituição quando um fator de produção se
torna relativamente escasso do que os outros e, portanto, mais caro. Se o preço de um
recurso natural aumenta, sua participação relativa no processo produtivo diminui. Máquinas
e equipamentos não podem substituir fatores primários de produção, insto é, elementos da
natureza. O capital natural não pode ser substituído por capital construído são
complementares. A pesca já foi limitada pelo número de barcos pesqueiros no mar, pois
eram poucos barcos para grandes populações de peixe. Hoje, o limite é a quantidade de
peixes e sua capacidade de reprodução. Construir mais barcos não aumentará a captura de
peixes. As populações de peixe se tornaram o fator limitador da pesca. São, portanto, as

73
duas maiores distorções da abordagem convencional: ignorar o fluxo inevitável de resíduos
e apostar na substituição sem limites dos fatores.

Otimismo

Os recursos naturais transformados pelo processo econômico são caracterizados pela sua
fraca organização material, concentração e capacidade de realizar trabalho. Trata-se de um
otimismo ingênuo que supõe que a tecnologia dependa apenas da engenhosidade humana
e de preços relativos. Além disso, considera que a tecnologia é capaz de promover qualquer
substituição que se mostre necessária. Assim, não se percebe os limitantes biofísicos das
tecnologias nem a singularidade dos serviços prestados pela natureza – serviços
insubstituíveis e essenciais para a sobrevivência humana, embora sem preço de mercado. A
visão econômica convencional sobre a sustentabilidade ambiental tem origem, portanto, na
maneira como ela aborda o processo produtivo, tratando os fatores de produção sem
qualquer distinção qualitativa, e por isso considerando-o substitutos.

Ceticismo

São duas as fontes mais básicas para a reprodução material da humanidade: os estoques
terrestres de minerais e energia, e o fluxo solar. Os estoques terrestres são limitados e sua
taxa de utilização pela humanidade é facultativa. A fonte solar, por outro lado, é
praticamente ilimitada em quantidade total, mas altamente limitada em termos da taxa que
chega à Terra. Há ainda outra diferença: os estoques terrestres abastecem a base material
para as manufaturas, enquanto o fluxo solar é responsável pela manutenção da vida. A
humanidade pode ter total controle sobre a utilização dos estoques terrestres, mas não
sobre o fluxo solar. É possível determinar o ritmo de consumo de minérios e combustíveis
fósseis, mas sempre tendo em vista que são recursos finitos. Dessa forma, a taxa de
utilização determinará em quanto tempo esses insumos estarão inacessíveis. O segundo
aspecto da reprodução material da humanidade, a produção de resíduo, gera um impacto
físico geralmente prejudicial a uma ou outra forma de vida, e direta ou indiretamente à vida
humana. Deteriora o ambiente de várias maneiras. Exemplos conhecidos são a poluição por
mercúrio e a chuva ácida, o lixo radioativo e a acumulação de CO2 na atmosfera. Os
resíduos do processo econômico estão se revelando um problema anterior à escassez de

74
recursos devido a seu acúmulo e visibilidade na superfície. Nesse contexto, o aquecimento
causado por atividades tem provado ser um obstáculo maior ao crescimento econômico sem
limites do que a finitude dos recursos acessíveis.

ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS

Estudo da economia dos recursos naturais tem adquirido importância crescente em várias
correntes de pensamento econômico, mas a abordagem dominante ainda é a da economia
convencional. É por isso que é preciso compreendê-la em seu método e em suas propostas.
Foi somente a partir dos anos 70 que os recursos naturais foram reinseridos no escopo
principal da teoria econômica, após os intensos debates sobre os limites do crescimento
econômico promovidos pelo famoso “Clube de Roma” e outros fóruns.

Classificação dos recursos naturais

Os recursos físicos são resultantes de ciclos naturais do planeta Terra que duram milhões e
milhões de anos. A capacidade de recomposição de um recurso no horizonte do tempo
humano tem sido o principal critério para a classificação dos recursos naturais que podem
ser renováveis, ou reprodutíveis, e não renováveis, também conhecidos como exauríveis,
esgotáveis e não reprodutíveis.

Em tese, os solos, o ar, as águas, as florestas, a fauna e a flora são considerados recursos
naturais renováveis, pois seus ciclos de recomposição são compatíveis com o horizonte de
vida do homem. Os minérios em geral e os combustíveis fósseis (petróleo e gás natural) são
tidos como não renováveis, uma vez que são necessárias eras geológicas para sua
formação. Exemplos de alguns recursos naturais no Brasil: esgotamento dos recursos
renováveis, ampliação das reservas minerais:

Estudos da ONG ambientalista Conservação Internacional Brasil (CIBrasil) indicam que o


cerrado deverá desaparecer até 2030. Dos 204 milhões de hectares originais, 57% foram
completamente destruídos e a metade das áreas remanescentes estão bastante alteradas,
podendo não mais servir à conservação da biodiversidade. A taxa anual de desmatamento é
alarmante, chegando a 1,5%, ou 3 milhões de ha/ano. As principais pressões sobre o

75
cerrado são a expansão da fronteira agrícola, as queimadas e o crescimento não planejado
das áreas urbanas.

A degradação é maior em mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso, no Triângulo Mineiro e
no Oeste da Bahia. No nordeste brasileiro o uso dos solos está sendo comprometido pela
ampliação da taxa de desertificação que a cada ano se amplia mais. O estado do Ceará
representa 9,6% da área do Nordeste, e sua economia é baseada em modelo inadequado e
predatório dos recursos naturais, de modo que tal exploração, sem consciência de
preservação, põe em torno de 25.483 Km2, correspondentes a 17,7% da superfície da
superfície total do estado sob um perigoso processo de desertificação. De acordo com a
Organização para Agricultura e alimentações das Nações Unidas (FAO, sigla em inglês), o
Brasil possui o pior balanço florestal do planeta. Entre 2000 e 2005, graças à alta taxa de
desmatamento que temos na Amazônia, o país atingiu um déficit de 3,1 milhões de hectares
de florestas, área que representa um estado e meio de Sergipe. Por balanço florestal,
entende-se a diferença entre o tanto de florestas que são plantadas e o quanto está sendo
perdido em um país. Isso não leva em conta, por exemplo, que uma floresta de eucalipto
não se compara em biodiversidade com as matas da Amazônia ou da Mata Atlântica, mas
indica que um país ainda tem como opção primária de desenvolvimento a destruição de
áreas virgens.

De acordo com informações divulgadas pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos


(CGEE) o total de água globalmente retirada de rios, e outras fontes aumentou nove vezes,
enquanto o uso por pessoa dobrou e a população cresceu 3 vezes. Em 1950, as reservas
mundiais representavam 16,8 mil metros cúbicos por pessoa, atualmente esta reserva
reduziu-se para 7,3 mil metros cúbicos por pessoa e espera-se que venha a se reduzir para
4,8 metros cúbicos por pessoa nos próximos 25 anos. Até início dos anos 70, o
conhecimento das reservas de petróleo no Brasil era incipiente. Outras reservas
descobertas além dos recursos do pré-sal, descobertos em 2008, há expectativas de que
levarão o Brasil a ser uma das dez maiores reservas mundiais, passando de dez milhões, no
início dos anos 2000, para algo em torno de 60 bilhões no final da década de 2010. Quando
o aço é produzido inteiramente a partir da sucata, a economia de energia chega a 70% do
que se gasta com a produção à base do minério de origem. Além disso, há uma redução de
poluição do ar e do consumo de água, eliminando-se, ainda, todos os impactos decorrentes
da atividade de mineração.

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RESUMINDO

É preciso que o otimismo da vontade contido no ideal de desenvolvimento sustentável seja


aliado ao ceticismo da razão. E esse ceticismo da razão só está presente na economia
ecológica, não na convencional. A qualidade de vida que poderá ser desfrutada por futuras
gerações da espécie humana, depende de sua pegada ecológica. Principalmente dos
modos de utilização de recursos naturais finitos e da acumulação dos efeitos prejudiciais das
decorrentes formas de poluição ambiental.

Por isso, algum dia a continuidade do desenvolvimento humano exigirá que a produção
material se estabilize e depois decresça. Em vez de o desenvolvimento depender do
crescimento econômico, como nos últimos 10 anos, ele passará a requerer o inverso, o
decrescimento. Ou. Ao menos, daquilo que economistas clássicos chamaram de “condição
estacionária”: Situação na qual a melhoria da qualidade de vida não mais depende do
aumento de tamanho do sistema econômico.

Aquilo que hoje parece uma espécie de lei natural, o crescimento econômico medido pelo
PIB, é radicalmente questionado pela economia ecológica. Nem sempre o crescimento é
mais benéfico que custoso para a sociedade. A partir de certo ponto, o aumento da
produção e do consumo pode ser antieconômico. O fundamento central da economia
ecológica não se refere, portanto, à “alocação de recursos”, ou “repartição da renda”, as
duas grandes problemáticas que praticamente absorveram todo o pensamento econômico
ao longo dos séculos. Esse fundamento, que, ao contrário, foi inteiramente desprezado por
todas as abordagens que hoje fazem parte da economia convencional: a questão da escala,
isto é, do tamanho físico da economia em relação ao ecossistema em que está inserida.
Para a economia ecológica, existe uma escala ótima além da qual o aumento físico do
subsistema econômico, passa a custar mais do que o benefício que pode trazer ao bem-
estar da humanidade.

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BIBLIOGRAFIA

DALLAGNOL, RENATA C. CHIARINI, Apostila Economia I, FAG- FACULDADE


ASSIS GURGACZ, Cascavel, 2008.

PINHO, D. ;VASCONCELLOS, M. ET AL. Manual de Economia, Saraiva, São


Paulo, 1998.

POSSAMAI, Ademar, Apostila Economia, UNERJ, Jaraguá do Sul, 2001.

ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 19 Ed. Editora Atlas, São


Paulo, 2002.

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