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Exame 4/01 sala ⅘ - Economia Política - Samuel Pires (sspires@iscsp.ulisboa.

pt)
Conceitos: unidade 1
- Economia: Ciência social, que estuda a forma como as pessoas, individualmente, e a sociedade, no
seu conjunto, tomam decisões e interagem para utilizar os recursos produtivos escassos de que
dispõem, na produção de bens e serviços, que serão distribuídos entre os vários indivíduos e grupos
sociais, com o objetivo de satisfazer as necessidades humanas.

Política:
Andrew Heywood: “A política, no seu sentido mais amplo, é a atividade através da qual as pessoas
fazem, preservam e alteram as regras gerais sob as quais vivem”
Maltez: “Influenciado por todos os outros, o sistema político tem as suas leis próprias de
desenvolvimento e, por seu lado, influencia todos os outros, dado que é através dele que são tomadas
as decisões que visam conseguir os objetivos da coletividade considerada como um todo”

Economia Política: Interação entre o sistema político e a esfera económica constitui-se como objeto de
estudo da economia política.

Economia Política e Economia:


Barry Clark: “A economia política foi a ciência social original. Teóricos como Adam Smith, John Stuart
Mill e Karl Marx desenvolveram visões abrangentes do sistema social, que revelaram conflitos e tensões
na sociedade.
Os economistas concentram-se na busca individual do bem-estar material no mercado. O pressuposto
da racionalidade individual e o uso do dinheiro como parâmetro para medir relações de causa e efeito
possibilitaram aos economistas construir um impressionante edifício teórico da física do século XIX.”

Interdisciplinaridade da economia: É uma ciência social em profunda interdependência e


interdisciplinaridade com outras ciências e conceitos.

Fundamentos da ciência económica:

Estudo da escolha em condições de escassez, sob o prisma da afetação de recursos à satisfação de


necessidades. A economia estuda as escolhas que fazemos e as suas consequências.
Problema Fundamental da Economia:
Como utilizar da melhor forma possível os recursos disponíveis (escassos e suscetíveis de usos alternativos)
por forma a satisfazer da melhor maneira um conjunto de necessidades, de importância desigual e,
virtualmente, ilimitadas.

Custo de oportunidade: corresponde ao valor da segunda melhor alternativa, que sacrificámos ao escolher
utilizar recursos de que dispomos de determinada forma. O que escolhemos perante essa escola
denomina-se de custo benefício.
Noção económica de necessidades:
Todos os desejos que as pessoas gostariam de ver satisfeitos (se não tivessem restrições de dinheiro ou
tempo) : - é uma noção subjetiva
Necessidade: corresponde a um “estado psicológico de insatisfação, consciente quanto à existência, e
quanto à acessibilidade, de um meio adequado a fazer cessar aquele estado e orientado para obter esse
meio”.

Satisfação de necessidades
Um bem é algo que satisfaz direta ou indiretamente uma necessidade, isto é, algo útil

Economia positiva: descrição e explicação

Descreve e explica o funcionamento das economias e os comportamentos dos agentes económicos.


Emite juízos de existência (afirmações positivas).
Economia normativa: ação e intervenção

Prescreve como deveriam funcionar as economias e como deveriam ser os comportamentos dos agentes
económicos (o que deveria ser feito).
Emite juízos de valor (afirmações normativas).

Ramos da ciência económica:

Microeconomia: Estudo da escolha individual em condições de escassez e das suas consequências no


comportamento dos preços e das quantidades dos mercados individuais. Composta por um sistema
(agentes económicos), pouca amplitude no tema e poucas interações de agentes económicos.

Macroeconomia: Estudo do desempenho das economias nacionais e das políticas que os governos
adotam para tentar melhorar esse desempenho.

Economia política internacional: área interdisciplinar que cruza a economia, a ciência política e as relações
internacionais. Estuda como é que a política molda os desenvolvimentos na economia global e como é que
esta molda a política. Compreender os desenvolvimentos na economia global obriga-nos a recorrer à teoria
económica, explorar a política doméstica, analisar as dinâmicas das interações políticas entre governos, e
familiarizarmo-nos com as organizações económicas internacionais.

Economia política comparada: parte da perspetiva abrangente da economia política clássica e introduz uma
metodologia comparativa na análise dos resultados económicos entre diversos países. Foca-se na “riqueza
das nações”, analisando modelos alternativos de capitalismo tendo em consideração a regulação e interação
entre domínios como o mercado de trabalho, relações industriais, corporate governance e o
Estado-providência.

A metodologia da ciência económica


- sistema de observação e análise de fatores (individualmente)
Problemas:
- Ausência de grupos de controlo (Estado)
- Possibilidade de ocorrência de falácias:
● Falácias da composição: verdade por dois lados
● Falácias do post hoc: atribui um nexo de causalidade, de relação direta causa-efeito, entre dois
acontecimentos que podem apenas ser contemporâneos e ocorrerem em simultâneo
OS MODELOS ECONÓMICOS
Os modelos económicos explicam a complexidade do comportamento humano na sua organização social.
Modelo do Diagrama Circular de Fluxos:

A Curva de Possibilidades de Produção (CPP):


Apresenta-se num gráfico as várias combinações de bens e serviços que uma economia poderá produzir,
dados os fatores de produção e a tecnologia disponíveis num dado momento temporal. Os recursos (fatores
de produção) são fixos e a tecnologia é um dado constante. Consideramos uma economia nacional que tem
recursos (fatores de produção) limitados para dividir entre a produção de dois bens.
Neste modelo pressupõe-se que todos os recursos da sociedade estão a ser utilizados e que não há
desperdício.

- Todos os pontos da curva são pontos de pleno emprego:


todos os recursos estão a ser utilizados na produção destes
bens;

- As escolhas da sociedade estão limitadas aos ponto na e


dentro da curva: as escolhas da sociedade estão limitadas
aos pontos na e dentro da curva;

- A curva é côncava relativamente à origem devido à lei dos


custos de oportunidade crescentes;
→ Com todos os recursos disponíveis empregues e sistema de eficácia máximo, só poderá aumentar a
produção de um determinado produto, ou dedicar-se à produção de novos produtos, se abdicar, total ou
parcialmente, da produção de outros.
→ Neste regime, a obtenção de quantidades adicionais de determinado tipo de bens implica
necessariamente a redução das quantidades de outros bens, o que traduz a existência de custos de
oportunidade.

Deslocações da Curva de Possibilidade de Produção:


- A capacidade produtiva da economia cresce quando:
● a quantidade de recursos base da economia
aumenta:
- um aumento do capital físico permite
produzir mais;
- um aumento do capital humano
permite produzir mais;
● os avanços na tecnologia permitem produzir
mais com a mesma quantidade de recursos;
● importância da poupança e do investimento:
sacrifício do consumo atual (custo de
oportunidade);
Lei dos Custos de Oportunidade Crescentes:
Em resposta a constantes reduções impostas aos bens dos quais estamos a abdicar, serão obtidas
quantidades adicionais cada vez menos expressivas dos bens cuja produção se pretende aumentar, devido à
relativa e progressiva inflexibilidade dos recursos de produção disponíveis e em uso.
3 QUESTÕES FUNDAMENTAIS EM ECONOMIA

- A resposta às 3 questões depende do tipo de sistema económico que tiver sido adotado:

Tipos de sistemas económicos:

Economia Pura de Mercado: Segue as bases do liberalismo económico, ou seja, resolve os problemas
económicos fundamentais através do livre jogo da oferta e da procura, quer no mercado de bens e serviços,
quer no mercado de fatores de produção.

- Que tipo de bens e serviços serão produzidos: será decidido pela procura dos consumidores. A
quantidade a produzir será determinada pela atuação dos consumidores e dos produtores no
mercado, atingindo-se o equilíbrio entre a procura e a oferta através do ajustamento automático do
mecanismo de mercados.
- Como produzir: Concorrência entre produtores, aderindo ao método de produção mais barato e
eficiente, de forma a maximizar o seu lucro.
- Para quem produzir: Oferta e procura no mercado de fatores de produção, que oferecem as
remunerações: salários (trabalhadores); juros (capital); rendas (detentores da terra) e lucros
(empresários), formando o rendimento global.

Economias Centralizadas: as questões económicas são resolvidas através de um órgão central de


planeamento, predominando a propriedade pública dos meios de produção. O governo assume a maior
parte das decisões fundamentais do sistema económico (produção e distribuição), possuindo a maior parte
dos recursos e empregando a quase totalidade da força produtiva disponível.

Economia Mista de Mercado: Sistema híbrido; consiste em o mercado ter um papel fundamental como
produtor e distribuidor dos bens e serviços, funcionando o sistema de preços como mecanismo de exclusão,
e o Estado assumir um papel regulador da atividade dos agentes de mercado, tentando corrigir algumas das
suas limitações e cumprir funções que, pela sua natureza não cabem aos mecanismos de mercado.
→ O mercado não tem preocupações de justiça social e o preço acaba por funcionar como um instrumento
de exclusão ou de acesso aos bens e serviços transacionados.

Variedades do capitalismo - unidade 4


- Abordagem de Peter Hall e David Soskice aplicada a economias avançadas (Estados da OCDE)
- Centrada nas empresas como principais agentes económicos, omissa quanto ao papel do Estado.
- Economias capitalistas:
● liberal market economy (LME) - Estados Unidos
● coordinated market economy (CME) - Alemanha (economia social de mercado)
→ distinguem-se devido ao grau em que os mecanismos de mercado são responsáveis pela resolução dos
problemas de coordenação no que diz respeito a cinco esferas: relações industriais, educação e formação
profissional; corporate governance, relações entre empresas e relações intra-empresa entre a administração
e os trabalhadores.
● Seis países da OCDE ficam numa posição ambígua entre os dois ideais: Capitalismo Mediterrâneo

O novo capitalismo de Estado: antecedentes e o velho capitalismo de Estado


Mercantilismo (séculos XVI e XVIII)
Protecionismo (século XIX)
Embedded liberalism ou liberalismo intervencionista (keynesianismo)
Economia de planificação centralizada: URSS, Coreia do Norte
Developmental state na Ásia: Tigres Asiáticos (Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul, Singapura, Tailândia, Indonésia, Malásia)
- Os capitalistas de Estado encaram a intervenção na economia e o controlo de grandes empresas como
políticas de longo prazo conducentes ao sucesso económico que escapam ao fracasso do comunismo e da
autarcia por combinarem o controlo estatal com uma maior abertura ao comércio global.

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- É problemático generalizar o capitalismo de Estado devido à heterogeneidade entre os vários países.
- O sistema chinês assentou, no início da década de 1980, na descentralização do controlo estatal para
órgãos de governação provincial, municipal e local, permitindo ao sector privado desenvolver-se
através da competição. Atualmente o Governo detém grande parte das empresas e interfere na
governação das empresas privadas, nomeando membros do Partido Comunista Chinês para os
Conselhos de Administração destas.
- Na Rússia, o Governo detém menos empresas, mas a competição entre estas é estrangulada e as
grandes empresas estratégicas têm administradores nomeados pelo governo.
5 ameaças ao sistema internacional:
- Em democracias recentes, concentração de poder em poucos líderes e erosão democrática;
- Potencial instabilidade política nos países onde a liberdade política já foi erodida;
- Nos países economicamente menos eficientes, como a Rússia, possíveis colapsos económicos com
repercussões na economia global;
- Os economicamente mais eficientes, como a China, poderão promover o seu modelo como alternativo ao
livre mercado;
- Os mais autocráticos e poderosos podem utilizar as SOE’s como arma de guerra
ESCOLAS DE PENSAMENTO POLÍTICO - unidade 2

Tempo Autor (es) principal (is)

MERCANTILISMO 1500-1776 Thomas Mun ; Jean-Baptiste Colbert

Fisiocracia 1750-1780 François Quesnay

ESCOLA LIBERAL CLÁSSICA 1776-1860 Adam Smith ; David Ricardo

Nacionalismo económico - Alexander Hamilton ; Friedrich List

MARXISMO 1850-1989 Karl Marx ; Friedrich Engels

ESCOLA NEOCLÁSSICA: 1871-1930 John Stuart Mill ; Carl Menger ; Jeremy


marginalismo Bentham

Heterodoxos 1875-1973 -

ESCOLA AUSTRÍACA 1871-1954 Friedrich Hayek

KEYNESIANISMO 1929-1969 John Maynard Keynes


MERCANTILISMO: 1500-1776
Conhecido como um conjunto de ideias e práticas econômicas executadas pelos Estados absolutistas
europeus durante a Idade Moderna, posterior ao período do Feudalismo.

- Riqueza e o desenvolvimento de país era proporcional à quantidade de metais preciosos (ouro) que
tinham;
- Forte intervenção do Estado na atividade económica;
- Objectivos da política económica: exportações > importações;
- Política comercial restritiva: restrições às importações e pactos coloniais; medidas protecionistas
- Política industrial: selecção dos sectores a desenvolver, com apoios públicos;
- Importância das manufacturas: termos de troca (Colbert); Tratado de Methuen;
- Grandes limitações: tendência para gerar conflito;
- Beneficiários: nobreza e burguesia;

Fisiocracia: 1750-1780
Sofre influência do iluminismo e se opõe ao mercantilismo. O pensamento fisiocrata impõe que a
agricultura (classe produtiva) é o verdadeiro modo de gerar riqueza, possibilitando maior margem de lucro
mesmo com pouco investimento.

- O Universo é gerido pelas leis da natureza: absolutas, imutáveis e universais;


- Razão: o que permite aos homens incorporar as leis da natureza na actividade de geração e
distribuição de riqueza;
- Base do liberalismo económico: “laissez-faire, laissez passer” - “deixar fazer, deixar passar”
- Economia funciona sem obstáculos - o sistema autorregula-se;
- Classe estéril (comércio e serviços): reacção contra o mercantilismo;
- Perspectiva Macroeconómica;

ESCOLA LIBERAL CLÁSSICA: 1776-1860


Objetivo: estudar as causas do desenvolvimento dos países e de como a riqueza se distribuía entre os
indivíduos.
- Crítica ao Mercantilismo ; Inspiração na corrente Fisiocrata
- Elemento central: teoria do valor trabalho
- Iluminismo ecocês
- Conceito de concorrência perfeita, como estrutura preferencial de mercado, assente num conjunto
de premissas;
→ O Papel do Estado é importante: criar o ambiente para os agentes económicos desenvolverem de forma
eficiente a sua atividade (condições de concorrência equitativas); proteger os direitos de propriedade;
investir na educação, obras públicas; emissão de moeda; defesa etc.
Autores da Escola Clássica:
Adam Smith:
- Síntese do Mecanismo Económico:
Elemento essencial de geração de riqueza: Trabalho produtivo → A especialização do trabalho aumenta a
produtividade e leva à acumulação de capital → Aumento do produto, comércio e expansão do mercado
→ Aumento do investimento

David Ricardo - 1819 é eleito no parlamento britânico


→ defende a abolição das corn laws: lei que impedia a importação de cereais a partir do continente
europeu e, por isso, provocava um aumento dos preços porque tinham de ser cereais produzidos no RU e os
solos não eram férteis, ou seja, os proprietários das terras lucravam.
→ o RU tem se desenvolver a nível industrial (revolução industrial) e as corn laws estavam a atrasar o
processo
● Distribuição dos rendimentos pelos fatores de produção:
a riqueza que o produto gera divide-se em 3 partes: 1- proprietários da terra recebem rendas; 2- os
trabalhadores recebem salários; 3- capitalistas recebem os lucros
● Lei dos rendimentos marginais decrescentes:
se a quantidade de um bem for aumentada e a quantidade dos outros bens permanecer constante, a
produção total por bem irá cair
ex: exploração agrícola está no ponto ótico da produção - contrata mais pessoas - ultrapassando o
ponto ótico, o rendimento que os novos trabalhadores não traz acréscimo à empresa →
mantendo-se tudo o resto constante
● Teoria das vantagens comparativas:
problema: se o mesmo país possuir vantagem absoluta na produção dos dois bens - custos unitários
mais reduzidos - de acordo com esta teoria não existe vantagem na realização das trocas comerciais.
ex: vinho e panos
- 2 países e 2 produtos, mesmo que um dos países seja eficiente em 1 produto compensa a
especialização do produto mais eficiente.
Tratado entre Portugal e Inglaterra: Tratado de Methuen - Tratado dos Panos e Vinhos
→ compensava a Portugal especializar-se na produção do vinho e a inglaterra do pano
→ como o pano demandava mais trabalho a nível industrial, portugal atrasou-se na revolução industrial

Thomas Malthus: crescimento demográfico - aumento da produção agrícola (diminuição dos padrões gerais
de vida porque os recursos utilizados são finitos e, por isso, deixaria de haver comida, face ao grande
crescimento populacional).
Jean Baptiste Say: Lei de Say: a oferta cria a procura - a oferta de um produto cria a procura de outros
produtos. Os trabalhadores e capitalistas que produzem um produto investem os seus rendimentos em
outros produtos, criando oferta em outros produtos.

Nacionalismo económico
Protecção das indústrias nascentes nos EUA e na Alemanha em face do liberalismo e comércio livre da
Grã-Bretanha industrializada.
Alexander Hamilton:
- “os Estados Unidos apenas poderiam preservar a sua independência e segurança ao promoverem o
desenvolvimento económico por via da industrialização, intervenção governamental e
proteccionismo”
- o governo dos EUA teria de promover o uso de tecnologia estrangeira, capital e mão-de-obra
qualificada e adoptar políticas proteccionistas, como tarifas e quotas para impulsionar as suas
indústrias nascentes

Friedrich List:
- Categoria de análise: a nação, em vez do Estado (mercantilismo) e do indivíduo (liberalismo)
- A capacidade produtiva de uma nação, que determina o seu poder e influência na economia
mundial, depende das condições sociais e políticas. O mercado não é ‘natural’. A economia nacional,
o Estado e as suas políticas e instituições encontram-se socialmente incorporados num amplo
projecto nacional e conjuntos de condições históricas, sociais e culturais.
- Para List a riqueza é um fenómeno nacional, não individual. A criação de riqueza resulta de um
esforço coletivo enquadrado por um projecto nacional, não da auto-suficiência individual.
- List rejeita o individualismo metodológico do liberalismo e adota um nacionalismo metodológico.

• Os interesses privados têm de ser subordinados ao interesse público, naquilo que se chama uma
“economia social da nação''. A capacidade produtiva desta depende do desenvolvimento e refinamento
do intelecto, das capacidades e do ‘capital mental’.
• O nacionalismo económico baseia-se na identidade nacional, nas tradições, ideias e instituições
especificamente nacionais, ou seja, um propósito nacional, contrastando com o individualismo
metodológico liberal.
• Toda a atividade económica é moldada e até talvez subordinada às relações de poder políticas e às
instituições como o Estado. Disto decorre também que não existe “livre comércio” e “competição
irrestrita''.
• List defendeu um sistema protetor da economia nacional, em particular das indústrias nascentes alemãs,
assente em taxas alfandegárias, regulamentações comerciais e intervenção do estado com projectos
nacionais.
• As indústrias nascentes, sem proteção, não conseguem competir com as indústrias consolidadas de
nações mais desenvolvidas. Esta ideia encontra-se em John Stuart Mill e tem ecos em Smith, que
concordava com restrições temporárias em casos de necessidade (medidas temporárias para os liberais e de
médio prazo para List, como instrumentos importantes para o desenvolvimento das nações).

MARXISMO: 1850-1989
Karl Marx:
• Associado a regimes autoritários e totalitários com economias planificadas no século XX, o que não afeta o
seu contributo enquanto crítico do capitalismo, tendo fornecido um arsenal de ferramentas para o analisar,
ainda que se deva salientar o seu viés normativo anti-capitalista.
• Parte dos trabalhos de Smith e Ricardo para chegar a conclusões diferentes e críticas (ignoraram o papel
das classes sociais).
• Materialismo dialéctico: base do pensamento marxista. Materialista porque assume o primado da
matéria sobre as ideias. Marx inspira-se em Hegel e vai buscar a dialética, a evolução por oposições
sucessivas (tese, antítese, síntese), mas revendo-a, passando da primazia do idealismo para a do
materialismo.
• Materialismo histórico ou conceção materialista da história: análise da evolução histórica pela aplicação
do materialismo dialéctico, observando as condições materiais que enformam os modos de produção e
visando “descobrir a lógica interna dos acontecimentos históricos e explicá-los de maneira a compreender o
passado e o presente, mas também a prever o futuro”.

• Modo de produção: resulta da combinação das forças produtivas e das relações de produção.
• Meios de produção: também chamados bens de capital, são as matérias-primas, infraestruturas,
máquinas e ferramentas.
• Forças produtivas: mão de obra.
• Relações de produção: relações entre cada pessoa com diferentes posicionamentos no processo
produtivo; determinam as classes sociais.
• Infraestrutura e superestrutura:
- Infraestrutura: económica (modo de produção)
- Superestrutura: ideológica (instituições jurídicas e políticas, ideologias filosofias)

Capitalismo para Marx:


• Capitalismo: modo de produção composto por dois elementos, capital e trabalho assalariado. O capital
não é estático, está em contínua circulação (Money-Commodities-M).
• Classes sociais do capitalismo: capitalistas ou burgueses (classe dominante/opressores) e
trabalhadores/proletariado (classe dominada/oprimidos).
• Teoria do valor trabalho: a classe trabalhadora depende da venda da sua capacidade de trabalho no
mercado de trabalho (comodificação do trabalho). Os salários que recebe apenas remuneram a sua
capacidade de trabalho, não o valor que esta cria, ou seja, a mais valia (diferença entre o preço a que um
bem é vendido e o custo da sua produção), que é o lucro do capitalista.

• Luta de classes: as relações entre as duas classes (relações de produção), são antagónicas e conflituais. A
dependência é desequilibrada em favor dos capitalistas, visto que os trabalhadores não têm controlo sobre
o seu próprio trabalho e os capitalistas exploram-nos ao expropriá-los das mais valias. Apropriam-se dos
produtos do trabalho enquanto pagam aos trabalhadores menos do que o seu trabalho vale. Exploram
parasiticamente os trabalhadores. Aos trabalhadores é pago o salário que lhes permite subsistir de forma a
continuarem a produzir bens e o aumento dos desempregados permite continuar a explorar os
trabalhadores.
- Marx e Engels consideraram que o fim da luta de classes entre os homens significaria também o fim
dos conflitos entre as nações, pois desapareceriam as causas estruturais da guerra. (...) a solução
para as dificuldades do capitalismo é uma revolução a nível mundial, algo que era inevitável, dadas
as dinâmicas que se haviam identificado, e que era desejável, formando, portanto, a base de
trabalho dos partidos comunistas.

• Alienação dos trabalhadores: provocada pela divisão do trabalho: desligamento do significado do que o
Homem produz.
• Exploração dos trabalhadores: A exploração é uma dinâmica inerente ao capitalismo. A mais valia criada
pelo trabalho, mas apropriada pelo capitalista sob a forma de lucros gerados pela venda de bens é a fonte
de riqueza no capitalismo, pelo que os capitalistas são impelidos a aprofundar a exploração para
aumentarem os lucros e acumulem capital que leva ao aumento dos mais de produção. A exploração
conduz à sobreprodução, manutenção de salários baixos leva ao subconsumo e com o crescimento
demográfico aumenta o desemprego- contradição na origem das crises do capitalismo.

Lenine:
• Lenine segue a visão principal, em que o Estado é um instrumento de dominação, de opressão, por parte
da classe dominante, ou seja, o aparelho repressivo da burguesia.
• É o Estado burguês, capitalista, que deve ser destruído por uma revolução violenta que o substitua por
uma ditadura do proletariado. A revolução abole o Estado burguês.
• O Estado proletário coletiviza os meios de produção e acaba com as desigualdades e antagonismos de
classe, chegando-se a uma sociedade sem classes em que o próprio Estado proletário se extingue, é
superado, pois não há classe a oprimir, deixa de ser necessário como instrumento de repressão.
Antonio Gramsci:
• A hegemonia é a prática não coercitiva da classe dominante que visa persuadir a classe dominada para os
seus valores morais, políticos e culturais elaborando uma ficção de um interesse geral. É a hegemonia
ideológica, exercida através de instrumentos de dominação (como o Estado), mas não pela força ou
repressão.
• É uma abordagem de cariz ideológico e cultural, que não nega a importância da repressão exercida pelo
Estado, mas salienta a capacidade de a classe dominante influenciar e moldar as percepções das classes
dominadas, convencendo-as da legitimidade do sistema existente ou da futilidade da resistência.

ESCOLA NEOCLÁSSICA: marginalismo: 1871-1930


Jeremy Bentham e John Stuart Mill:
Utilidade: é a propriedade de um objeto que tende a aumentar o prazer, bem-estar ou felicidade (satisfação
de uma necessidade) e evitar a dor ou a infelicidade.
William Stanley Jevons, Leon Walras e Carl Menger:
Revolução marginalista:
● O problema central da economia passa a ser o da alocação de recursos escassos para a satisfação de
necessidades, ou seja, para a maximização da utilidade. Ficam excluídas da análise económica
questões como a evolução dinâmica do capitalismo ou a análise das relações sociais de produção.
Em termos disciplinares, a economia separa-se da política, deixa de ser economia política, informada
por preocupações éticas e sociais, e para a ser apenas economia, uma ciência supostamente livre de
valores.
• Abordagem microeconómica, com o indivíduo e a empresa no centro da análise, e com ênfase na procura
(a abordagem clássica enfatizava a oferta).
• Teoria subjetiva do valor: os bens valem pela utilidade, não pelo trabalho incorporado.
• Menger e Jevons desenvolveram a análise marginal, a noção de que a a decisão de produzir/consumir vai
depender do custo/benefício da última unidade produzida/consumida (custo marginal e utilidade marginal).
- utilidade total: traduz a satisfação total que um consumidor obtém com o consumo de um
determinado bem
- utilidade marginal: representa a satisfação adicional que um consumidor obtém com o consumo de
uma unidade adicional de um determinado bem
• Lei da utilidade marginal decrescente: À medida que se consomem unidades adicionais de um mesmo
bem, num determinado período de tempo, a satisfação adicional que se obtém com cada uma das unidades
do bem vai diminuindo, ceteris paribus (individualismo metodológico).
De facto, em geral, quando temos uma necessidade ou um desejo, a primeira unidade do bem que
consumimos para satisfazer essa necessidade/desejo tem uma utilidade elevada, no entanto, à medida que
saciamos essa necessidade/desejo a satisfação adicional obtida com consumo de unidades adicionais do
bem vai diminuindo.
- Torna-se central a análise dos ajustamentos subjetivos que os consumidores realizam quando
decidem sobre que combinação de bens maximiza a utilidade → Individualismo metodológico
- Parte-se da assunção de que o indivíduo é um ser atomístico (associal) e racional que calcula como
maximizar a utilidade estando em posse de informação perfeita: o homo economicus. É outra
assunção irrealista, porque não nos comportamos consistentemente desta forma nem possuímos
informação perfeita.

• Para Jevons e Walras, a economia, para ser considerada científica, tinha de ser uma ciência matemática:
- Os que acolheram a modelização matemática tiveram de partir de modelos altamente simplificados
da economia baseados nas assunções já mencionadas e também na assunção de concorrência
perfeita como estrutura dos mercados. São estas assunções simplificadoras que permitem formular
leis que podem ser generalizadas para todas as épocas e lugares.

Alfred Marshall:
● ”A curva da oferta é construída pela interação de indivíduos dispostos a fornecer bens e serviços ao
mercado baseados nas considerações individuais sobre o custo de oportunidade, o custo da
alternativa não escolhida para o uso do tempo, trabalho e energia”.
● “Similarmente, as preferências individuais da procura acumulam-se para moldar a curva da procura,
mas estas preferências podem ser muito específicas devido aos gostos dos indivíduos e não podem
simplesmente ser assumidas como crescendo em função do crescimento populacional, como os
economistas clássicos sugeriram.”
● Assumiu que a natureza volátil das preferências dos consumidores impediria comportamentos
monopolísticos abusivos.
Equilíbrio de mercado: Da interação entre a procura e a oferta, num mercado em concorrência perfeita,
resulta um preço de equilíbrio e uma quantidade de equilíbrio. Este equilíbrio dá-se quando para um
determinado preço a quantidade procurada iguala a quantidade oferecida.

• Mas os marginalistas não defenderam que os seus modelos refletiam acertadamente o funcionamento
dos mercados na prática. Eram apenas ferramentas para tornar a análise económica mais científica, o que
levou à separação entre a economia e a economia política, ou seja, a despolitização da economia política,
com a economia assente nos princípios liberais.
• O mercado deve ser deixado por sua própria conta e a interferência política deve ser reduzida ao
mínimo (laissez faire). A partir disto, os economistas construíram modelos que assumem a propensão para o
equilíbrio como inerente aos mercados livres.

Concorrência Concorrência Oligopólio Monopólio


Perfeita Monopolística

Número de Muitas Muitas Poucas Uma


pessoas

Tipo de bem Homogéneo Diferenciado Homogéneo ou Único sem substituto


diferenciado próximo

Procura menos elástica


Procura dirigida Tomadora de Procura elástica do que a dirigida às A procura dirigida à
a cada empresa preços: procura mas não empresas em empresa é a procura de
perfeitamente perfeitamente concorrência mercado
elástica monopolística

Condições de Não existem Não existem Existem barreiras Existem barreiras


entrada e saída barreiras barreiras significativas significativas

Trigo, sementes Escovas de dentes, Automóveis Medicamentos


Exemplos de soja roupa protegidos por patente
Curva da oferta:

Curva da procura:

Heterodoxos: 1875-1973
ESCOLA AUSTRÍACA: 1871-1954
Friedrich A. Hayek (1899-1992):
- O edifício teórico hayekiano:

Democracia Liberal Marxismo, Facismo, totalitarismo

Ordem espontânea (kosmos, grown order, Ordem de organização (taxis, made order, simples,
complexa, sociedade civil, sociedades abertas) sociedades fechadas)

Regras de conduta (economia de mercado) Comandos específicos (economia planificada)

Conhecimento tácito/prático (disperso) Conhecimento técnico (centralizado)

Racionalismo crítico, evolucionista ou Racionalismo cartesiano, dogmático ou construtiva


tradicionalista

Mudança evolucionista (gradual, reformista, Mudança revolucionária (abruta, frequentemente


engenharia social parcial) total, engenharia, social utópica)

Pluralismo (tolerância) Monismo (intolerância)

- individualismo metodológico, rejeição dos métodos matemáticos e ênfase no papel da teoria


económica
- teoria subjetiva do valor
- marginalismo
- custo de oportunidade
- problema do cálculo económico
- teoria monetária dos ciclos económicos

individualismo falso, racionalismo construtivista ou dogmático (Francis Bacon e René Descartes)


- conhecimento técnico, ordem de organização, mudança revolucionária, economia planificada com
comandos específicos
individualismo verdadeiro, racionalismo evolucionista, crítico ou tradicionalista (Iluministas escoceses)
- conhecimento tácito, ordem espontânea, mudança evolucionária, economia de mercado com regras de
conduta gerais
KEYNESIANISMO: 1929-1969
Keynes:
- Integrou a delegação britânica à Conferência de Paz de Paris (1919) e liderou a delegação à
Conferência de Bretton Woods (1944)
GATT- acordo que promovia a redução das barreiras de comércio entre países
- não existem mecanismos automáticos de equilíbrio
- a análise clássica e neoclássica traduzem situações particulares
- teoria geral do emprego, do juro e da moeda (1936)
- a intervenção do estado é fundamental para salvar o capitalismo, não para o liquidar
- a lei de Say não resolve os desequilíbrios, o papel da procura é fundamental
- Primazia do mercado e do mecanismo de preços: supply side economics (todos os preços são
flexíveis- ajustamento automático)

keynesianismo (embedded liberalism):


1- A procura (agregada) é que vai determinar o nível da oferta e o crescimento económico.
2- Expectativas: ingrediente fundamental. Cabe ao Estado actuar sobre as expectativas.
3- Critica a Lei de Say: a oferta não gera a sua própria procura porque as pessoas não investem todo o seu
rendimento: preferência pela liquidez.
4- Não existe equilíbrio automático no mercado de trabalho: os salários são rígidos e não resolvem o
problema do desemprego.

PIB= C + I + G + X - M (pib=consumo+investimento+despesa governamental + exportações - importações)

pós 1º guerra: optimismo generalizado, ascensão dos EUA, crescimento económico

protecionismo
1929
crash bolsa
colapso do sistema financeiro
Divergência entre economistas:
- crise revela desequilíbrio temporário (liberais)
- crise revela contradições fundamentais do sistema capitalista (marxismo)
- crise é a consequência do predomínio da finança sobre a economia (intervenção mais ativa do
Estado com políticas económicas e sociais)

Política macroeconómica: análise que trata o comportamento da economia como um todo no que respeita
ao produto, ao rendimento, nível de preços, so comércio externo, ao desemprego e a outras variáveis
económicas agregadas
- Política Orçamental e Fiscal: Decisões que determinam a quantidade e a composição das despesas e
receitas públicas: Despesa pública (Gastos e Transferências do Estado) e Impostos.
- Política Monetária: Controlo da oferta de moeda para determinar as taxas de juro.
- Política Comercial e Cambial: Medidas tendentes a dinamizar relações equilibradas com o exterior.
- Política Estrutural: Políticas governamentais no sentido de reformar a estrutura subjacente, ou as
instituições da economia.
Ciclos económicos:
- flutuações do produto, preços, emprego
- fases: expansões, pico (viragem), recessões, fundo (viragem)
- recorrentes, mas não têm sempre a mesma duração (duração,ocorrência)
- vários tipos: juglar (7-11) Kuznets (15-25), Kondratiev (45-60)
- Política económica: alisar os ciclos. Os ciclos são indesejáveis.

Objetivos fundamentais da política macroeconómica:

Objetivos Agregados Exemplos de indicadores

PIB
Nível adequado/elevado e Produto Taxa de variação em cadeia do PIB real
crescimento do produto PIB per capita
Hiato do produto

Nível elevado de emprego e Taxa de desemprego


redução do desemprego Emprego Taxa de emprego
Taxa de variação trimestral da população

Estabilidade do nível de Nível geral de Índice de Preços no Consumidor


preços (taxa de inflação preços Taxa de variação homóloga do IPC
reduzida) Taxa de inflação anual

- outros objetivos: equilíbrio externo, equilíbrio das finanças públicas, (re)distribuição de rendimento, etc.
1º objectivo da PE: Promover o crescimento económico:
Produto: (Medida do) Produto: valor dos bens e serviços finais produzidos numa economia, em
determinado período de tempo (normalmente um ano), medido em unidades monetárias - geralmente
medido pelo PIB. Se medido a preços constantes de um determinado ano base: produto real. Se medido a
preços correntes: produto nominal.

Paridade de Poder de Compra (PPC): capacidade de aquisição de bens e serviços em cada país:
- Unidade ‘monetária’ artificial que elimina as diferenças ao nível do poder de compra, isto é,
diferentes níveis de preços entre países. Assim, o mesmo agregado nominal em dois países com
diferentes níveis de preços pode resultar em diferentes valores de poder de compra.
Produto Efetivo:
- Valor dos bens e serviços finais produzidos numa economia, em determinado período de tempo,
medido em unidades monetárias.
Produto Potencial:
- Produção máxima que a economia pode alcançar, em determinado período de tempo dados a
tecnologia, o capital, o trabalho e os recursos disponíveis, na ausência de ciclos económicos
(fronteira de possibilidades de produção).

2º objectivo da PE: Estabilidade de Preços:


Evitar quer a subida generalizada do nível de preços de bens e serviços [inflação], quer a sua descida
[deflação].
Índice de Preços no Consumidor (IPC): Mede, num dado período, o custo de um cabaz fixo de bens e
serviços adquiridos por um consumidor médio em relação ao custo do mesmo cabaz de bens e serviços,
num ano de referência (chamado ano base).

Equilíbrio macroeconómico:
O Estado e o mercado - unidade 3

→ O Estado moderno, criação do Renascimento, é todavia o herdeiro de um fenómeno que acompanhou


sempre a sedentarização dos grupos sociais. Para enfrentar uma série inevitável de problemas
organizacionais, a sociedade estabilizou-se de acordo com um modelo em que se encontram três
elementos: território, população, principado. - Adriano Moreira
→ O primeiro marco do Estado moderno, segunda as teses weberianas, está, pois, no surgimento da
distinção entre o público e o privado e na consequente distinção entre doméstico e um espaço político, um
espaço da sociedade e um espaço do Estado, distinção impossível de estabelecer no patrimonialismo, onde
os negócios públicos sempre se confundem com os negócios domésticos, nomeadamente pela confusão
entre governo e casa do rei. - Maltez

O Estado e a emergência do mercado

A dicotomia público/privado reaparece sob a forma da distinção entre a sociedade políticas (de desiguais) e
a sociedade económica (de iguais). Do ponto de vista do agente característico de cada uma, realizou-se uma
distinção entre a sociedade do cidadão que atende ao interesse público e a do burguês que cuida dos seus
próprios interesses privados em competição ou colaboração com outros indivíduos. - Bobbio

História do Estado moderno

• “A partir de então, as democracias ocidentais assistem a um gigantesco crescimento do aparelho de poder


estadual, chamado a intervir na economia, na educação, na segurança social, no emprego e nos serviços de
saúde e, durante algumas décadas, esse crescimento até se vai conjugando com a estabilidade e com o
próprio desenvolvimento.”
•A história do Estado moderno mostra que o Estado e o mercado desenvolveram-se e evoluíram por
referência a ideias, instituições e interesses.
• Estas condicionam e moldam o Estado e o mercado e vão evoluindo em função dos desenvolvimentos
históricos e do pensamento político, económico e social.
• Na esteira de List, a atividade económica em qualquer Estado assenta na identidade nacional, nas
tradições, ideias e instituições da sociedade na qual os indivíduos estão incorporados. Estes factores
condicionam o processo histórico e as possíveis trajectórias de desenvolvimento, permitindo a distinção
entre diversas formas de Estado (liberal, Estado-providência, Estado desenvolvimentista).
As instituições:
→ “Instituições são restrições desenvolvidas por indivíduos de forma a estruturar a interacção humana.” -
Douglas North
→ “Num mundo em que o conhecimento está disperso, dependente do contexto, e é frequentemente
tácito, as instituições são necessárias para a emergência de qualquer tipo de ordem social.” - Steve Horwitz

Instituições formais Instituições informais

Restrições escritas – regras, regulamentos, leis, Restrições não escritas, como sejam
constituições, contratos, direitos de propriedade, acordos normas de comportamento, convenções,
de negociação – ou organizações, que são definidas, antes códigos de conduta.
de mais, por um sistema de regras, regulamentos e ou leis
determinando a posição e funções que cada agente ocupa
numa estrutura hierárquica.

tipos de mecanismos de coordenação:

Mercado Forma mais descentralizada (sistema de preços)

Cooperação informal (não organizada) Partilha valores ou normas de comportamento

Cooperação (organizada) Organizações voluntárias (empresas, associações,


partidos políticos, etc.)

Controlo Um agente tem poder para tomar decisões e


impô-las aos outros. Tipicamente associada ao
setor público.

Para o mercado existir: necessita de um conjunto de instituições: “propriedade privada, contratos, leis de
defesa da concorrência, tribunais que dirimam litígios e polícias.”
E para funcionar através da mão invisível os indivíduos prosseguem os seus interesses privados, mas acabam
por contribuir para o bem-estar geral da sociedade. O mercado necessita de ser competitivo (sem poder de
monopólio) para a produção de bens privados seja realizada de forma eficiente pelos mercados.

Situações em que o mercado falha:

Quando se pretende fornecer bens públicos (defesa nacional, certas infra-estruturas)

Quando as decisões de certos agentes afetam o bem-estar de outros e esse efeito externo não é
transmitido pelo sistema de preços (externalidades - poluição)

Quando certos agentes têm muito mais informação do que outros acerca dos bens transaccionados
O papel do Estado
As funções do Estado num contexto de economia mista
O papel do Estado enquanto regulador da atividade económica tem constituído um tema permanente de
discussão na teoria económica. Para uns, é necessária uma maior intervenção do Estado em determinados
domínios da vida económica. Para os economistas de índole mais liberal, o Estado deve limitar-se à
atividade legislativa de regulamentação do funcionamento de mercados.

Atualmente, os poderes públicos intervêm na atividade económica com determinadas funções específicas
(Estado regulador), utilizando as políticas económicas que têm ao seu dispor (monetária, fiscal, orçamental,
cambial,..)
FUNÇÕES PRIMORDIAIS do Estado Regulador (economia mista)
- Aumentar da eficiência
- Promoção da equidade
- Crescimento económico e estabilização macroeconómica

Aumentar da eficiência:
- Corresponde a uma situação em que a utilização de recursos para a satisfação dos desejos e das
necessidades da população é realizada de tal forma que não é possível alterar a produção e a
afetação de bens de forma a aumentar o bem-estar económico de um indivíduo sem piorar o de
outro.

Mão invisível: na prática, não há (existem poucos) mercados de concorrência perfeita, havendo falhas de
mercado (externalidades negativas, que conduzem a um resultado ineficiente ao nível das quantidades
produzidas/ transacionadas dos bens - segunda falha da mão invisível)

Promoção da equidade:
- Os poderes públicos dispõem de um conjunto de políticas económicas que podem manusear, no
sentido de aproximar a distribuição da riqueza da noção de justiça existente nessa sociedade
(através da implementação de impostos progressivos, de subsídios ou de reforços nos mecanismos
de segurança social).
- Coeficiente de Gini: medida utilizada para medir o nível de desigualdade na distribuição de
rendimentos que existe no interior de uma sociedade (medido de 0 a 1).
Crescimento económico e estabilização macroeconómica:
A função de estabilização requer que o Estado reduza a amplitude dos ciclos económicos, recorrendo às
políticas económicas (fiscal, monetária, orçamental,..)
Um dos objetivos mais importantes da política económica é a procura do pleno emprego e a estabilidade
dos preços (crítica à inflação).

O crescimento económico permite o aumento do nível de rendimento e bem-estar da população. Também


há necessidade de procurar reduzir os desequilíbrios a nível regional, já que há disparidades entre as várias
regiões do país.

Justificações para a intervenção do Estado na economia:

Falha da mão invisível Intervenção dos poderes públicos Exemplos

Ineficiência: Incentivo à concorrência Leis anti-trust


Monopólios; Externalidades; Bens Intervenção nos mercados Leis anti-poluição
públicos Subsídios às atividades em causa Fortalecimento e/ou apoio ao
fortalecimento de bens públicos

Desigualdade: Públicas de redistribuição (fiscalidade) Impostos progressivos sobre o


Desigualdades inaceitáveis de rendimento e a riqueza
rendimento e riqueza Programas de apoio ao rendimento:
prestações familiares, subsídios

Problemas macroeconómicos: Políticas de estabilização Política monetária


Ciclos económicos (inflação e Políticas de estímulo ao crescimento Política fiscal
desemprego elevados) Política orçamental
Crescimento económico fraco Política cambial
O Estado e o desenvolvimento - unidade 5
• Desenvolvimento sustentável: Relatório Brundtland (1987), Comissão Mundial para o Ambiente e
Desenvolvimento das Nações Unidas: “development that meets the needs of the present generation
without compromising the ability of future generations to meet their own needs”. Solidariedade
intergeracional na gestão de recursos.
• Desenvolvimento humano:
- Inicialmente (década de 1970), satisfação de necessidades básicas. Segundo o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (1990), três componentes: vida longa e saudável, nível de
conhecimentos aceitável e nível de vida digno.
- Atualmente, inerente ao desenvolvimento como redução da pobreza, inclui dimensões de
liberdade, igualdade de oportunidades, sustentabilidade e segurança humana.
Estratégias de desenvolvimento (Cohn e Oatley):
Substituição de importações:
• Estruturalismo e teorias da dependência. Diferenças entre Norte (centro) e Sul (periferia) aumentam a
longo prazo com a diminuição do preço de produtos primários em relação ao preço dos manufacturados
(deterioração dos termos de troca).
• Proteção de indústrias nascentes em países que se industrializam tardiamente (século XIX: nos EUA,
Alexander Hamilton; na Alemanha, Friedrich List).
• Redução de importações de produtos manufaturados e industrialização com o objetivo de passar a
produzi-los localmente.

Estratégia com antecedentes nas décadas de 1920 e 1930, fortemente prosseguida entre as décadas de
1950 e 1970 na América Latina (Brasil, Argentina, México, Chile) e em África (Nigéria, Gana, Tanzânia,
Zâmbia).
Problemas:
• Défices orçamentais: investimentos, subsidiação de empresas - muitas delas ineficientes -, subsidiação de
bens essenciais, expansão do número de funcionários públicos;
• Défices da balança corrente: aumento da procura por importações de maquinaria e partes não
produzidas localmente e diminuição das exportações (indústrias pouco competitivas internacionalmente);
• Reformas impossibilitadas por grupos domésticos com poder de veto: rent- seeking, cronyism.
• Recurso à dívida externa para sustentar esta situação: crise na década de 1980.

Socialismo (planificação centralizada):


• Crítica de teóricos da dependência à substituição de importações: demasiado moderada, necessidade de
romper ligações ao Norte e implementar o socialismo à imagem da União Soviética.
• Colectivização dos meios de produção. Substituição do mercado e do sistema de preços deste pela
planificação estatal centralizada na alocação de recursos e definição de objetivos, salários e preços.
• China, Coreia do Norte, Cuba, Etiópia, Moçambique, Tanzânia, Vietname, Laos, Camboja, Birmânia.
• Países em desenvolvimento não tinham as infraestruturas e o aparato burocrático necessário para o
desenho e monitorização dos planos.
Orientação para exportações:
• O developmental state: Tigres Asiáticos (Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul, Singapura), Tailândia,
Indonésia, Malásia.
• Promoção de determinados setores industriais pelo Estado através de incentivos como benefícios fiscais
e eliminação de tarifas nas importações de bens necessários para a produção de bens a exportar.
• Diferentes interpretações do “milagre asiático”
- Liberais: importância do mercado;
- Neomercantilistas: ênfase no papel do Estado;
- Marxistas: desenvolvimento não é genuíno, dependência do centro;
• Crise financeira em 1997: mercados ou Estado?
Liberalismo ortodoxo (ajustamentos estruturais):
• Crises das décadas de 1970 e 1980 → ascensão de Ronald Reagan e Margaret Thatcher: privatização,
desregulação, mercado livre – o disembedded liberalism ou liberalismo ortodoxo.
• Globalização, fim da Guerra Fria e colapso da União Soviética.
• Consenso de Washington: John Williamson: Interligação entre democracia liberal, mercado livre, sector
privado dominante e abertura ao comércio.

Resultados: mais eficazes em países de rendimento médio e exportadores de manufacturas (Brasil,


Marrocos, Filipinas, Coreia do Sul, Tailândia, Uruguai). Nos países de menores rendimentos perpetuam a
pobreza e têm maior impacto nos grupos sociais mais pobres.
• Interpretações:
- Liberais: necessários para lidar com os problemas da dívida e combater ineficiências domésticas;
- Marxistas: perpetuam a dependência e as desigualdades globais;
- Neomercantilistas: redução do Estado é um erro porque a industrialização tardia requer um Estado
intervencionista.

Novo capitalismo de Estado:


• Os capitalistas de Estado encaram a intervenção na economia e o controlo de grandes empresas como
políticas de longo prazo conducentes ao sucesso económico que escapam ao fracasso do comunismo e da
autarcia por combinarem o controlo estatal com uma maior abertura ao comércio global (Kurlantzick 2016,
11).
• China e o Consenso de Pequim: ênfase no papel do Estado e não ingerência nos assuntos internos de
outros Estados (contrariamente às cláusulas de condicionalidade dos programas do Banco Mundial e Fundo
Monetário Internacional). -

O papel do Banco Mundial:


• É o maior financiador não-privado de projectos de desenvolvimento, é uma instituição de investigação e
geradora de ideias e aconselha os países em desenvolvimento.
• De 1945 até ao final da década de 1960, focou-se em grandes projectos de infraestruturas de transportes,
energia e comunicações.
• A partir da década de 1970, mudou para uma abordagem centrada nas necessidades básicas, focando-se
nos sectores da saúde, educação e planeamento familiar e no papel das mulheres e financiou mais
projectos nas áreas da agricultura, desenvolvimento rural e alojamento.
• Na década de 1980, adota a abordagem dos ajustamentos estruturais. As críticas conduzem à adoção de
uma dimensão de redução da pobreza que levam a uma nova fase idêntica à da década de 1970.
A globalização e as suas disrupções - unidade 6
3 VAGAS DA GLOBALIZAÇÃO:
- 1870 – 1913: 1a Vaga da Globalização (Gold Standard)
- 1945-1973: 2a Vaga da Globalização (Bretton Woods)
- 1975- 2007: 3a Vaga da Globalização (Neoliberalismo)
- 2008 - : 4a Vaga? Ou Desglobalização?

Ciclo Económicos ao longo do Séc. XX: Os Mercados não se Auto-Ajustam


Efeitos positivos: Efeitos negativos:

-Crescimento da economia mundial - Aumento das desigualdades


-Milhões de pessoas atingiram melhores padrões de vida -Predominância da especulação sobre a
-Vários países integraram-se na economia e comércio actividade económica e da esfera
mundiais financeira sobre a esfera real da economia
-Melhoria da eficiência na afectação - dos recursos -Aumento da instabilidade económica, e
produtivos (liberalização da circulação dos factores de perda da autonomia na condução da
produção) política económica
- Incentivo ao progresso técnico e à inovação

Terceira vaga da globalização:


• Importância das relações económicas internacionais e dos desenvolvimentos tecnológicos.
• Multiplicação de atores e de assuntos na agenda internacional.
• Crescente relevância de atores não-estatais.
• Tendência para a formação de “grandes espaços”.
• Crescente relevância do multilateralismo.
• Interpenetração das esferas doméstica e internacional.
• Ameaças globais: crises económicas, crises ambientais, conflitos violentos, migrações e refugiados,
pobreza, fome, pandemias, segurança internacional, terrorismo internacional, nacionalismos.
• Erosão da soberania estatal: crise do Estado soberano.

A internacionalização das economias:


• Nova componente da atividade económica: as relações com o exterior.
• Não existem economias fechadas (em autarcia).
• Existem vários fluxos que são trocados entre os países: mercadorias, serviços, capitais, etc.
• O comércio internacional e os fluxos de capitais (principalmente o Investimento Directo Estrangeiro (IDE))
têm assumido uma importância crescente ao longo dos últimos anos (principalmente a partir da segunda
metade do século XX).
• O comércio internacional e os fluxos de capitais registam taxas de crescimento muito superiores à da
produção global que é gerada.

A globalização propulsionada pelo comércio e IDE:


• A globalização económica fez aumentar rapidamente o comércio internacional, subjazendo-lhe também a
eliminação de barreiras ao comércio livre e, a partir da década de 1970, os processos de desregulação e
privatização que abriram as economias internacionais às importações e estimularam diversas economias a
aumentar o seu setor exportador.
• Em conjunto com a criação de novos instrumentos financeiros e avanços tecnológicos nas comunicações
e transportes, a globalização económica contribuiu para aumentar significativamente o nível de integração
do sistema financeiro internacional.
• Neste panorama ganharam especial relevância as empresas multinacionais e transnacionais, responsáveis
por elevados fluxos de investimento direto externo em diversos países e pelo aumento do comércio
internacional, contribuindo para transformar significativamente a economia internacional.

A crise do Estado soberano:


• Tendência para reduzir a dimensão dos setores do Estado e entregar ao mercado ou à sociedade civil
funções que tinham sido anexadas de forma inadequada. Ao mesmo tempo, o crescimento da economia
global tem provocado um desgaste acentuado na autonomia dos Estados-nação soberanos, ao aumentar a
mobilidade da informação, do capital e, em menor grau, do trabalho.

• A contestação ao papel do Estado não ocorre apenas no nível doméstico, mas também no internacional:
- Globalização do modelo político da democracia liberal e do modelo económico capitalista.
- Aumento do comércio internacional, dos fluxos financeiros, dos processos de desregulação e de
privatização.
- Relevância das empresas transnacionais, das Organizações Internacionais e regionais e das
Organizações Internacionais Não Governamentais (sociedade civil global).

• As Organizações Internacionais, como a Organização das Nações Unidas, bem como organizações de
âmbito regional, como a União Europeia, são parte essencial da governação sem governo, no âmbito da
qual tanto os Estados pressionam aquelas organizações, como estas pressionam os Estados.
• “A soberania do Estado tem sido desgastada também a partir de um outro setor. Surgiram várias
organizações internacionais e multilaterais que foram concebidas para assumir algumas das funções
governativas dos Estados-nação. A sua capacidade para fazer isto com eficácia varia muito. Outras, de
natureza mais política, têm tendido a desgastar a legitimidade dos Estados-nação sem colocar no seu lugar
instituições internacionais eficazes.”
• David Held: época de transição, com tendências para o enfraquecimento dos Estados-nação em face dos
mercados internacionais e progressiva concentração de poder no capital multinacional, ao mesmo tempo
que a ONU tem uma elevada susceptibilidade às agendas dos Estados mais poderosos, resultando num
sistema multilateral desproporcional. Por isso, a política internacional parece estar dependente da
economia global e do multilateralismo conduzido por clubes ou diretórios como o G7 ou o G8.

• Contestações:
- Robert Gilpin: os Estados continuam a ser os principais atores das relações internacionais, ainda
que não os únicos considerados importantes.
- José Adelino Maltez: são os Estados que fomentam a globalização.

A globalização contribui para a crise do Estado soberano em três domínios:


• Abaixo do Estado: reprodução da dicotomia entre esferas pública e privada, em favor da última, na base
de políticas que pretendem reduzir o âmbito de atuação do Estado e aumentar o da sociedade civil, em
especial o dos agentes económicos privados.
• Acima, ao lado e atravessando os Estados: globalização económica e desenvolvimento das relações
económicas internacionais assente nas ideias liberais. Parcela da sociedade civil que se preocupa
essencialmente com as relações económicas.
• Atravessando os Estados e para lá dos Estados: sociedade civil global. OING 's, clubes, sindicatos,
associações, igrejas, movimentos sociais transnacionais. Parcela da sociedade civil que trata das relações
associativas não económicas.

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