Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Seja em nosso cotidiano, seja nos jornais, no rádio e na televisão, deparamo-nos com
inúmeras questões econômicas, como:
■ aumentos de preços;
■ períodos de crise econômica ou de crescimento;
■ desemprego;
■ setores que crescem mais do que outros;
■ diferenças salariais;
■ crises no balanço de pagamentos;
■ vulnerabilidade externa;
■ valorização ou desvalorização da taxa de câmbio;
■ dívida externa;
■ ociosidade em alguns setores de atividade;
■ diferenças de renda entre as várias regiões do país;
■ comportamento das taxas de juros;
■ déficit governamental;
■ elevação de impostos e tarifas públicas.
Esses temas, já rotineiros em nosso dia a dia, são discutidos pelos cidadãos comuns, que,
com altas doses de empirismo, têm opiniões formadas sobre as medidas que o Estado deve
adotar. Um estudante de Economia, de Direito ou de outra área pode vir a ocupar um cargo de
responsabilidade em uma empresa ou na própria administração pública e necessitará de
conhecimentos teóricos mais sólidos para poder analisar os problemas econômicos que nos
rodeiam diariamente.
O objetivo do estudo da Ciência Econômica é analisar os problemas econômicos e
formular soluções para resolvê-los, de forma a melhorar nossa qualidade de vida.
Um sistema econômico pode ser definido como a forma política, social e econômica pela
qual está organizada uma sociedade. É um particular sistema de organização da produção,
distribuição e consumo de todos os bens e serviços que as pessoas utilizam buscando uma
melhoria no padrão de vida e bem-estar.
Os elementos básicos de um sistema econômico são:
■ estoque de recursos produtivos ou fatores de produção: aqui se incluem os
recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), o capital, a terra, as reservas
naturais e a tecnologia;
■ complexo de unidades de produção: constituído pelas empresas;
■ conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais: que são a base
da organização da sociedade.
Os sistemas econômicos podem ser classificados em:
■ sistema capitalista ou economia de mercado. É regido pelas forças de mercado,
predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção;
■ sistema socialista ou economia centralizada ou, ainda, economia planificada.
Nesse sistema as questões econômicas fundamentais são resolvidas por um órgão central de
planejamento, predominando a propriedade pública dos fatores de produção, chamados nessas
economias de meios de produção, englobando os bens de capital, terra, prédios, bancos,
matérias-primas.[1]
Os países organizam-se segundo esses dois sistemas, ou alguma forma intermediária entre
eles.
Pelo menos até o início do século XX, prevalecia nas economias ocidentais o sistema de
concorrência pura, em que praticamente não havia a intervenção do Estado na atividade
produtiva. Era a filosofia do Liberalismo, que será discutida mais adiante.
Principalmente a partir de 1930, passaram a predominar os sistemas de economia mista,
nos quais ainda prevalecem as forças de mercado, mas com a atuação complementar do Estado,
seja na produção de bens públicos, nas áreas de educação, saúde e saneamento, justiça, defesa
nacional etc., seja induzindo investimentos do setor privado, principalmente para setores de
infraestrutura, como energia, transportes, comunicações.
Em economias de mercado, a maioria dos preços dos bens, serviços e salários é
determinada predominantemente pelo mecanismo de preços, que atua por meio da oferta e da
demanda de bens e serviços e dos fatores de produção. Nas economias centralizadas, essas
questões são decididas por um órgão central de planejamento, a partir de um levantamento
dos recursos de produção disponíveis e das necessidades do país. Ou seja, grande parte dos
preços dos bens e serviços, salários, cotas de produção e de recursos é calculada nos
computadores desse órgão, e não pela oferta e demanda no mercado.
Após o fim da chamada ―Cortina de Ferro‖, ao final dos anos 1980, mesmo as economias
ainda guiadas por governos comunistas, como Rússia e China, têm aberto cada vez mais
espaço para atuação da iniciativa privada, caracterizando um ―socialismo de mercado‖ ou
―capitalismo de estado‖, com regime político comunista, mas economia de mercado.
Provavelmente, talvez apenas Cuba e Coreia do Norte sejam os únicos
remanescentes de um tipo de economia completamente centralizada.
O deslocamento da CPP para a direita indica que o país está crescendo. Isso pode ocorrer
fundamentalmente tanto em função do aumento da quantidade física de fatores de produção
como em função do melhor aproveitamento dos recursos já existentes, o que pode ocorrer com
o progresso tecnológico, maior eficiência produtiva e organizacional das empresas e melhoria
no grau de qualificação da mão de obra. Desse modo, a expansão dos recursos de produção e
os avanços tecnológicos, que caracterizam o crescimento econômico, mudam a curva de
possibilidades de produção para cima e para a direita, permitindo que a economia obtenha
maiores quantidades de ambos os bens.
Figura 1.3 Crescimento econômico.
Os bens de capital são utilizados na fabricação de outros bens, mas não se desgastam
totalmente no processo produtivo. É o caso, por exemplo, de máquinas, equipamentos e
instalações. São usualmente classificados no ativo fixo das empresas, e uma de suas
características é contribuir para a melhoria da produtividade da mão de obra.
Os bens de consumo destinam-se diretamente ao atendimento das necessidades
humanas. De acordo com sua durabilidade, podem ser classificados como duráveis (por
exemplo, geladeiras, fogões, automóveis) ou como não duráveis (alimentos, produtos de
limpeza).
Os bens intermediários são transformados ou agregados na produção de outros bens e
são consumidos totalmente no processo produtivo (insumos, matérias-primas e componentes).
Diferenciam-se dos bens finais, que são vendidos para consumo ou utilização final. Os bens de
capital, como não são ―consumidos‖ no processo produtivo, são bens finais, e não
intermediários.
A Economia é uma ciência social e utiliza fundamentalmente uma análise positiva, que
deve explicar os fatos da realidade. Os argumentos positivos não envolvem juízo de valor, e
referem-se a proposições objetivas, do tipo se A, então B. Por exemplo, se o preço da gasolina
aumentar em relação a todos os outros preços, então a quantidade que as pessoas irão comprar de
gasolina cairá. É uma análise do que é.
Desse ponto de vista, a Economia se aproxima da Física e da Química, que são
ciências consideradas virtualmente isentas de juízo de valor. Em Economia, entretanto,
defrontamo-nos com um problema diferente. Ela trata do comportamento de pessoas, e não de
moléculas, como na Química. Frequentemente nossos valores interferem na análise do fato
econômico.
Nesse sentido, definimos também argumentos normativos, relativos a uma análise
que contém, explícita ou implicitamente, um juízo de valor sobre alguma medida econômica.
Por exemplo, na afirmação ―o preço da gasolina não deve subir‖ expressamos uma
opinião ou juízo de valor, ou seja, se é uma coisa boa ou má. É uma análise do que deveria
ser.
Suponha, por exemplo, que desejemos uma melhoria na distribuição de renda do país
(argumento normativo). É um julgamento de valor em que acreditamos. O administrador de
política econômica (policymaker) dispõe de algumas opções para alcançar esse objetivo
(aumentar salários, combater a inflação, criar empregos). A Economia Positiva ajudará a
escolher o instrumento de política econômica mais adequado. Se a economia estiver próxima
da plena capacidade de produção, aumentos de salários, por encarecerem o custo da mão de
obra, podem gerar desemprego; isso é o contrário do desejado quanto à melhoria na distribuição
de renda. Esse é um argumento positivo, indicando que aumentos salariais, nessas
circunstâncias, não constituem a política mais adequada.
1.7 Inter-relação da Economia com outras áreas do conhecimento
Embora a Economia tenha seu núcleo de análise e seu objeto bem definidos, ela tem
intercorrências com outras ciências. Afinal, todas estudam a mesma realidade e, evidentemente,
há muitos pontos de contato.
Nesta seção, tentaremos estabelecer relações entre a Economia e outras áreas do
conhecimento. As inter-relações entre Economia e Direito serão discutidas com mais
profundidade no Capítulo 2.
Apesar de ser uma ciência social, a Economia é limitada pelo meio físico, dado que os
recursos são escassos, e se ocupa de quantidades físicas e das relações entre essas quantidades,
como a que se estabelece entre a produção de bens e serviços e os fatores de produção utilizados
no processo produtivo.
Daí surge a necessidade da utilização da Matemática e da Estatística como ferramentas para
estabelecer relações entre variáveis econômicas.
A Matemática torna possível escrever de forma resumida importantes conceitos e relações
de Economia e permite análises econômicas na forma de modelos analíticos, com poucas variáveis
estratégicas, que resumem os aspectos essenciais da questão em estudo.[5] Tomemos como
exemplo uma importante relação econômica:
―O consumo nacional está diretamente relacionado com a renda nacional‖.
Essa relação pode ser representada da seguinte forma:
A primeira expressão diz que o consumo (C) é uma função (f) da renda nacional (RN); ou
seja, as variações do consumo dependem de variações da renda nacional. A segunda informa que,
dada uma variação na renda nacional ( RN), teremos uma variação diretamente proporcional (na
mesma direção) do consumo agregado ( C).
As relações entre variáveis econômicas não são exatas, como são na Matemática e na Física, mas
probabilísticas. Por exemplo, não existem em Economia relações matemáticas exatas. Se a Economia
tivesse relações matemáticas, tudo seria previsível. No entanto, ―não existem no mundo econômico
regularidades como c = 2πr (o comprimento da circunferência é igual a dois ‗pí‘ radianos),
equivalência entre massa e energia, leis de Newton. Na Economia, o ‗átomo‘ aprende, pensa, reage,
projeta, finge. Imagine como seria a Física e a Química se o átomo aprendesse: aquelas belas
regularidades desapareceriam. Os átomos pensantes logo se agrupariam em classes para defender seus
interesses: teríamos uma ‗Física dos átomos proletários‘, ‗Física dos átomos burgueses‘ e outros‖. [6]
Entretanto, a Economia apresenta muitas relações entre variáveis com razoável regularidade, que
podem ser calculadas utilizando-se a Estatística, tais como:
■ o consumo nacional depende diretamente da renda nacional;
■ a quantidade demandada de um bem tem uma relação inversamente proporcional com
seu preço, tudo o mais constante;
■ as exportações e as importações dependem da taxa de câmbio.
Por exemplo, na relação vista anteriormente (C = f(RN)), conhecendo o valor da renda
nacional num dado ano, não é possível prever o valor exato do consumo, mas sim uma estimativa
aproximada. Embora a renda seja a variável mais importante, o consumo não depende só da renda
nacional, mas de outros fatores (como condições de crédito, juros, patrimônio).
A área da Economia que está voltada para a quantificação das relações entre variáveis e
quantificação de modelos é a Econometria, que combina Teoria Econômica, Matemática e
Estatística.
A Matemática e a Estatística são instrumentos, ferramentas de análise que permitem testar
as proposições teóricas da ciência econômica com os dados da realidade, além de serem muito
úteis para previsões econômicas, que auxiliam tanto no planejamento estratégico das empresas,
como na política econômica do governo.
A Geografia não é o simples registro de acidentes geográficos e climáticos. Ela nos permite
avaliar fatores muito úteis à análise econômica, como as condições geoeconômicas dos mercados,
a concentração espacial dos fatores produtivos, a localização de empresas e a composição setorial
da atividade econômica.
Atualmente, algumas áreas de estudo econômico estão relacionadas diretamente com a
Geografia, como a economia regional, a economia urbana, as teorias de localização industrial e a
demografia econômica.
Antes da Revolução Industrial, no século XVIII, a atividade econômica era vista como parte
integrante da Filosofia, Moral e Ética. A Economia era orientada por princípios morais e de justiça.
Não existia ainda um estudo sistemático das leis econômicas, e predominavam princípios como a
lei da usura, o conceito de preço justo (discutidos, entre outros filósofos, por São Tomás de
Aquino).
Ainda hoje, as encíclicas papais refletem a aplicação da filosofia moral e cristã às relações
econômicas entre homens e nações.
1.8 Divisão do estudo econômico
Como vimos, a economia parte do princípio de que os recursos são escassos diante do
conjunto de necessidades que tentamos satisfazer, que é sempre crescente. Sendo assim, como essa
ciência poderia ajudar a sociedade a escolher os melhores usos para esses recursos? A resposta é
que o papel da economia é mostrar-nos quais são os custos e benefícios associados a cada escolha.
Ou seja, poderíamos afirmar que a chamada abordagem econômica não é outra coisa senão uma
análise de custo-benefício aplicada às decisões da sociedade.
Desse modo, por exemplo, se uma empresa deseja decidir se deve ou não lançar um produto
novo, deverá avaliar quais serão os custos adicionais associados a esse projeto, posto que precisará
contratar mão de obra, comprar mais insumos, mais matérias-primas etc. Além disso, a empresa
deverá garantir que seu proprietário receba pelo menos o rendimento equivalente à melhor
aplicação que poderia realizar com os recursos financeiros que estaria investindo no lançamento
desse produto novo. Ou seja, além dos custos explícitos anteriores, a empresa deverá incluir como
despesa, ainda que implícita, o custo de oportunidade (implícito) de seu acionista.
Por sua vez, também será importante estimar o aumento de receitas (benefícios) que a venda
desse produto significará para a empresa. Assim, se os custos superam os benefícios adicionais,
sua decisão deverá ser não lançar o produto, e vice-versa, se a relação custo-benefício for positiva.
Esse tipo de análise configura o que se chama de análise de viabilidade econômica de um
projeto, uma das principais aplicações práticas da
abordagem de custo-benefício que caracteriza a ciência econômica.
Contudo, a utilização da abordagem custo-benefício não tem por que ficar restrita às
decisões econômicas individuais (microeconômicas), também podendo ser aplicada para
analisar a conveniência de realizar uma determinada política macroeconômica. Assim, por
exemplo, o aumento das transferências de renda (Bolsa Escola, Bolsa-Família, aumentos
reais do salário mínimo, benefícios da Previdência Social) praticado durante os governos
Fernando Henrique e Lula ajudou a reduzir a desigualdade da distribuição de renda brasileira,
uma das mais perversas do mundo. Isso certamente poderia ser considerado um benefício
para a sociedade brasileira, tanto em termos éticos como no tocante à estabilidade política e
social. Todavia, essas transferências fazem parte do gasto do governo, o que leva o setor
público a aumentar impostos e a se endividar para poder financiá-las. O aumento de impostos
reduz a capacidade de compra das famílias, inclusive no caso daquelas que recebem as
transferências, e o maior endividamento público diminui o crédito disponível para famílias e
empresas, elevando a taxa de juros, constituindo-se, portanto, em importantes custos para a
sociedade.
Em síntese, qualquer decisão, seja ela individual (microeconômica) ou coletiva
(macroeconômica), implicará custos e benefícios para a sociedade, independentemente de se
esses últimos são maiores que os primeiros e vice-versa. Como afirmou certa vez Milton
Friedman, famoso economista norte-americano, ―em economia não existe almoço gráti