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AULA 1

HABILIDADES SOCIAIS

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


INTRODUÇÃO

Aristóteles já dizia: “o homem é um animal social”. Para o importante


filósofo da Grécia antiga, a união entre os homens é natural, por ser naturalmente
carente, isto é, que necessita de coisas e de outras pessoas para alcançar a sua
plenitude.
O que nos coloca nesta condição de “animais sociais” é o desejo de contato
com os outros para apoio, bem-estar e entretenimento. Isso se observa quando
assistimos nos jornais televisivos matérias sobre níveis de saúde e bem-estar em
comunidades, em que as pessoas convivem de modo real, próximo, com contatos
entre amigos e pessoas que se amam. O cenário existencial do mundo
contemporâneo, contudo, é cada vez mais transitório e dependente de
ferramentas digitais e as interações humanas mais simples parecem mostrar
sinais de ameaça.
O contato social tem o efeito de nos ajudar a lidar com o estresse, com as
transformações do dia, as mudanças, as perdas e as adversidades. Ser valorizado
pelos outros é um importante fator psicológico para nos ajudar a lidar com os
aspectos negativos de nossas vidas e contemplar positivamente o ambiente em
que vivemos. É aqui que entram as Habilidades Sociais (HS).

TEMA 1 – ORIGEM DAS HABILIDADES SOCIAIS

Aprendemos na escola e como leitores autodidatas que nossos ancestrais


dominaram o fogo, construíram ferramentas elaboradas, caçaram e mesmo de
modo rudimentar conseguiram desenvolver alguma habilidade social. A evolução,
do homo erectus que vivia na África mais de um milhão de anos atrás foi marcada
pelo agrupamento. Estes hominídeos se juntavam por necessidades de
sobrevivência, era o modo que os fazia caçar mais, proteger melhor seus filhos e
distribuir de maneira mais eficaz as tarefas do campo.
É provável que entre as razões que foram determinantes para a formação
de estruturas sociais está a inteligência para escapar dos perigos, encontrar
comida e percorrer territórios hostis. A inteligência possivelmente tenha sido
guiada pela interação social.
É também aceitável que este cérebro humano hoje, três vezes maior do
que nossos antecessores e parentes próximos os grandes símios, ganhou massa
cinzenta ligada à cognição e ao pensamento também para melhorar a posição

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social. Entre os grandes símios, a substância cinzenta do cérebro é decisiva para
estabelecer alianças para melhores ganhos sociais. Macacos mais valorizados
recebem menos agressões, se alimentam melhor e, entre outros, têm mais filhos.
Podemos dizer que a inteligência social e emocional é mais útil que a força bruta.
Ao longo da evolução, é provável que tenhamos desenvolvido habilidades
sociais sem dar o nome que hoje usamos para definir determinados
comportamentos sociais. Isso nos ajuda a refletir que o desenvolvimento pela
socialização, empatia e compreensão das emoções e pensamentos de outros são
essenciais para a integração e o posicionamento social.
As buscas de raízes históricas sobre HS veem sinais na década de 1930,
em estudos de comportamento social em crianças, o que embora não tenha
reconhecimento tácito, pode sugerir primeiros passos. Há que destacar alguns
vieses importantes: a passagem de visão menos presa a instintos biológicos da
concepção freudiana para modelos mais interpessoais e os experimentos do
fisiologista russo Ivan Pavlov sobre o reflexo condiciona como fonte para estudo
de competências sociais.
Um outro ponto importante foi a descoberta em pesquisas de que quanto
maior a competência social, menor o tempo de internamento de pacientes em
hospitais.
Nesta sequência, a influência das habilidades sociais destacou-se em
estudos sobre a interação homem-máquina por meio dos processos de
informação e das características perceptivas, decisórias e motoras
A referência histórica coloca em aspectos cronológicos a participação de
Andrew Salter a partir de 1949 no estudo das habilidades sociais. Já em 1957, o
psicólogo americano dedicou-se a promover técnicas para aumentar a
expressividade verbal, estratégias que foram aperfeiçoadas no decorrer dos anos
por outros psicólogos. As publicações do Professor de Psicologia Vicente Cabalo
ainda situam o psiquiatra sul africano Joseph Wolpe como o primeiro a usar o
termo “comportamento assertivo” para explicar a expressão de sentimentos
negativos e defesa dos próprios direitos (Bolsoni-Silva, 2002).
Ressalte-se aqui a influência pavloniana, uma vez que o trabalho de Salter
é fundamentado no reflexo condicionado. Aprendemos na psicologia que o reflexo
condicionado conhecido como condicionamento clássico ou pavloniano aumenta
ainda mais a responsividade de um reflexo, além de propiciar efeitos mais intensos
que a sensibilização. Coube a Wolpe dar funcionalidade ao que chamou de

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Treinamento Assertivo com o qual passou a tratar a ansiedade pela expressão de
sentimentos.
O movimento em favor das HS passou a ter impulso na Inglaterra
(Universidade de Oxford) e depois disso temos visto uma literatura crescente
sobre o tema, como ocorre no Brasil com as publicações de Almir e Zilda Del
Prette.

TEMA 2 – CONCEITUALIZAÇÃO DE HABILIDADES SOCIAIS

Nas quase três últimas décadas tem havido um movimento crescente do


campo teórico, prático e de pesquisa sobre HS no Brasil. Del Prette e Del Prette
(2018) postulam que qualquer disciplina científica requer teorias que expliquem o
funcionamento humano na perspectiva “prática” e “de pesquisa”.
Não obstante, a relevância teórico-prático dos estudos sobre HS, do ponto
de vista conceitual, é vista por alguns estudiosos como tema carente de maiores
trabalhos brasileiros a nível contextual. Um impulso, neste sentido, ampliaria a
contribuição de sistematização de conhecimento, visão crítica e diálogo com
outras áreas do conhecimento (Bolsoni-Silva e Carrara, 2010). Diante deste
quadro, torna-se relevante acompanhar a visão conceitual do tema:

Habilidade social é a capacidade de emitir respostas eficazes e


adequadas a situações sociais específicas. A definição ampla é
complexa porque envolve um conjunto de respostas situacionais,
variável conforme o contexto sempre em transformação e conforme o
meio cultural no qual a situação acontece (Guimarães, 2011, p. 184).

A concepção de Guimarães, considera que o comportamento social pode


ser adequado a uma situação e inadequado em outro. Uma articulação de HS com
outros conceitos é destacada por Bolsoni-Silva e Carrara (2010) ao citarem
Caballo (1996). Neste caso:

Habilidades Sociais estão ligadas ao conjunto de comportamentos


emitidos por um indivíduo em um contexto interpessoal que expressa
sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos deste indivíduo de
modo adequado à situação, respeitando estes comportamentos nos
demais, e que geralmente resolve os problemas da situação, enquanto
minimiza a probabilidade de futuros problemas.

Outros autores salientam a importância da cultura:

Habilidades Sociais referem-se a um construto descritivo dos


comportamentos sociais valorizados em determinada cultura com alta
probabilidade de resultados favoráveis para o indivíduo, seu grupo e
comunidade que podem contribuir para um desempenho socialmente

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competente em tarefas interpessoais (Del Prette; Del Prette, 2018,
Arquivo Kindle).

Os autores desta última definição entendem que ela permite identificar os


comportamentos denominados de Habilidades Sociais e diferenciá-los dos
indesejáveis, ativos e passivos associados a transtornos e problemas
externalizantes e internalizantes, respectivamente. Del Prette e Del Prette (2018)
defendem que tais comportamentos contribuem para a Competência Social. Eles
situam isso na perspectiva da interação social e exemplificam a postura de pedir
algo e ser atendido, expressar discordância e ser respeitado no direito de opinar
entre outros.
Ao nosso ver, é possível entender habilidades sociais como uma
manifestação qualquer do indivíduo que o faz reconhecido por outros como um
ator construtivo do laço social. Podemos acrescentar a isso um conjunto de
estratégias comportamentais e habilidades para praticá-las no sentido de nos
ajudar a resolver uma situação social de modo eficaz, o que implica em ser
plausível ao próprio sujeito e ao contexto social em que ele se encontra.

TEMA 3 – MODELOS EXPLICATIVOS

Ao responder um questionamento sobre se todo o nosso conhecimento é


devido aos condicionamentos respondentes e operantes, por certo diríamos, não.
Dirigimos carros, pilotamos máquinas, construímos casas, cumprimentamos
pessoas, porque observamos alguém que nos serviu de referência para isso.
A teoria da aprendizagem social ou teoria sociocognitiva, criada por Albert
Bandura, mostra que aprendemos por experiências vicariantes, isto é,
observamos o comportamento de outros indivíduos e das recompensas que eles
recebem. É um tipo de aprendizagem que acontece por observação, “quando as
respostas de um ser vivo são influenciadas pelas observações de outros, que são
chamados modelos” (Weiten, 2010, p. 191).
A modelagem em Bandura reúne diversos processos cognitivos que vão
além de uma simples imitação ou reprodução exata do que é observado. Quatro
processos são relevantes na aprendizagem observacional: a atenção e retenção
que ressaltam a importância cognitiva, a reprodução que modela a resposta, e a
motivação que reproduz a resposta observada.
Uma outra teoria, a do condicionamento respondente explica a associação
aprendida entre estímulos neutros e comportamentos reflexos. Gazzaniga e

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Heatherton (2005, p. 191) explicam que o condicionamento ocorre quando o
estímulo condicionado passa a ser associado ao estímulo incondicionado. “Para
que ocorra a aprendizagem, o estímulo condicionado precisa ser um preditor
confiável do estímulo incondicionado, não simplesmente contíguo”.
Comportamentos aprendidos que podem ser ensinados e que se
demonstram em situações sociais, visando obter reforço ou auto reforço social
fazem parte de competências da Psicologia Social. Nelas incluímos exemplos
como trabalhar em equipe, socialização, valores, liderança e outros.
Podemos então considerar que as HS se fundamentam em princípios e
conhecimentos estabelecidos e desenvolvidos com base em fundamentos como
a Teoria da Aprendizagem Social, os Modelos Cognitivo-Comportamentais e a
Psicologia Social.

 Modelo de aprendizagem social

As habilidades sociais são aprendidas ao curso de um modelo de


aprendizagem social, por meio de experiências interpessoais e que se mantem
por meio das consequências sociais do comportamento.

 Modelo cognitivo

Neste modelo, as habilidades sociais se configuram como habilidades que


organizam cognições e comportamentos com base em metas sociais usualmente
aceitas. Para o modelo cognitivo, emoções e comportamentos dos indivíduos são
influenciados pela percepção que se tem das situações, ou seja, o modo como as
interpretamos.

 Modelo comportamental

Para este modelo, um comportamento se mantém por reforço positivo de


outras pessoas importantes ou por evitar de castigos. Isso acontece em dois
domínios: a resposta a ser adquirida e um conjunto de comportamentos
específicos e identificáveis.

 Modelo interativo

O modelo interativo mais relevante é o que enfatiza o indivíduo, a situação


e a interação entre ambos. Uma habilidade em qualquer situação é determinada
por fatores ambientais, variáveis do indivíduo e a interação entre eles.
Podemos concluir que o comportamento socialmente qualificado requer
três componentes básicos de habilidade social: a dimensão comportamental (tipo
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de habilidade), a dimensão pessoal (variáveis cognitivas) e a dimensão situacional
(contexto ambiental).

TEMA 4 – HABILIDADES SOCIAIS E COMPETÊNCIAS SOCIAIS.

Ao falar em Habilidades Sociais como um construto descritivo de


comportamentos sociais em uma determinada cultura com resultados favoráveis
para a pessoa, o grupo e a comunidade, Del Prette e Del Prette (2018) referem-
se ao “o que” e ao “como” o participante da interação atuou. Para se referir à
avaliação do desempenho e sua efetividade, em termos de resultado, estes
autores usam o conceito de Competência Social (CS), considerando as demandas
da tarefa interpessoal.

Competência Social é um constructo avaliativo do desempenho de um


indivíduo (pensamentos, sentimentos e ações) em uma tarefa
interpessoal que atende aos objetivos do indivíduo e às demandas da
situação e cultura, produzindo resultados positivos conforme critérios
instrumentais e éticos (Del Prette; Del Prette, 2018, Arquivo Kindle).

O ponto de vista do conceito apresentado para CS postula resposta às


questões do tipo: (1) “como foi o desempenho?”; (2) “Quais os resultados para o
indivíduo? Foi bom também para o interlocutor? Ambos e até mesmo a
comunidade tem a ganhar com isso?”.
Del Prette e Del Prette (2018) explicam que o desempenho em tarefas
interpessoais está associado ao repertório de HS, mas não se define apenas aqui.
É preciso haver a articulação entre várias HS e também delas com “componentes
cognitivos e afetivos não diretamente observáveis, que incluem pensamentos,
sentimentos, objetivos, padrões de realização, auto eficácia e auto regras”, entre
outros.
Bolsoni-Silva (2002) cita McFall (1982) para dizer que o componente de CS
mais importante é o conceito de tarefa, considerado como um programa
comportamental que implica uma sequência identificável de padrões
comportamentais passíveis de ocorrerem. A autora ressalta que “para
compreender e predizer o comportamento de uma pessoa é necessário conhecer
qual a tarefa que está sendo realizada, assim como quais regras sociais a
governam. O destaque de Bolsoni-Silva (2002) na síntese de McFall (1982): “o
indivíduo socialmente competente possui HS específicas, referentes aos seus
componentes cognitivo, motor e psicológico, favorecendo-lhe a obtenção de um
desempenho adequado frente a determinada tarefa.

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Expressar-se corporalmente, com repertório verbal e não verbal, perguntar,
responder, variar a postura, gestos e olhar de modo adequado é diferenciar-se de
quem não apresenta estas habilidades, ou seja, o contraditório entre o que é e o
que não é competência social.

TEMA 5 – CLASSES E SUBCLASSES DE HABILIDADES SOCIAIS

Organizar os comportamentos sociais de modo a situar HS em


agrupamentos está relacionado a aspectos que as aproximam por semelhança e
distanciam por diferenças. Neste sentido, parece haver um consenso quanto ao
trabalho de Del Prette e Del Prette (2018) ao se falar em classes e subclasses de
habilidades sociais. Uma classificação pode ser feita considerando-se a topografia
(aspectos formais do comportamento, como gestos, tom de voz expressão facial
e corporal, entre outros), funcionalidade (função efetiva em dada situação),
levando-se em conta as contingências (antecedente, comportamento e
consequência).
Na visão de Del Prette e Del Prette (2018) as classes de HS com uma
mesma função podem ser ilustradas por capacidades psicológicas a que
chamamos de empatia e assertividade. A classe empatia dizem os autores: “reúne
comportamentos sociais esperados e desejáveis em relação ao interlocutor,
especialmente quando este se encontra em dificuldade. Isso nos remete ao
conceito de Michener (2005, p. 626) e de Guimarães (2011, p. 180) sobre empatia
e assertividade, respectivamente. Empatia é a “reação emocional ao outro como
se nós mesmos estivéssemos na situação desta pessoa: sentimento de prazer
com o prazer do outro ou de dor com a dor alheia. A assertividade “inclui a
expressão de afetos e opiniões de modo direito e a conquista de um tratamento
justo, igualitário e livre de demandas abusivas”.
No caso da empatia, os objetivos são apoiar a pessoa que precisa da nossa
atenção, demonstrando compreensão e validando seus sentimentos. Sobre a
assertividade, Del Prette e Del Prette falam que ela reúne comportamentos sociais
esperados em situações de desequilíbrio nas trocas interpessoais, desrespeito ou
ameaça de perda de direitos, com a função de restabelecer a condição anterior
ou melhorar a condição atual. Este é o caso do enfrentamento por envolver risco
de reação indesejável do outro.
Na classe empatia estariam presentes subclasses como: manter contato
visual, aproximar-se do outro, escutar (evitando interromper), tomar perspectiva

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(colocar-se no lugar do outro), expressar compreensão, incentivar a confidência
(quando for o caso), demonstrar disposição para ajudar (se for o caso),
compartilhar alegria e realização do outro (nascimento do filho, aprovação no
vestibular, obtenção de emprego e outros).
A assertividade teria como subclasses: defender direitos próprios e
direitos de outrem, questionar, opinar, discordar, solicitar explicações sobre o
porquê de certos comportamentos, manifestar opinião, concordar, discordar, fazer
e recursar pedidos. Outras classes e subclasses a título de exemplo na concepção
de Del Prette e Del Prette (2018) são:

 Comunicação

Iniciar e manter conversação, fazer e responder perguntas, pedir e dar


feedback, elogiar e agradecer elogio, dar opinião. A comunicação tanto ocorre na
forma direta (face a face) como na indireta (uso de meios eletrônicos); na
comunicação direta, a verbal está sempre associada à não verbal, que pode
complementar, ilustrar, substituir e às vezes contrariar a verbal.

 Civilidade

Cumprimentar e/ou responder a cumprimentos (ao entrar e ao sair de um


ambiente), pedir “por favor”, agradecer (dizer “obrigado/a”), desculpar-se e outras
formas de polidez normativas na cultura, em sua diversidade e suas nuanças.

 Fazer e manter amizade

Iniciar conversação, apresentar informações livres, ouvir/fazer


confidências, demonstrar gentileza, manter contato, sem ser invasivo, expressar
sentimentos, elogiar, dar feedback, responder a contato, enviar mensagem (e-
mail, bilhete), convidar/aceitar convite para passeio, fazer contatos em datas
festivas (aniversário, Natal etc.), manifestar solidariedade diante de problemas.

 Expressar solidariedade

Identificar necessidades do outro, oferecer ajuda, expressar apoio, engajar-


se em atividades sociais construtivas, compartilhar alimentos ou objetos com
pessoas deles necessitadas, cooperar, expressar compaixão, participar de
reuniões e campanhas de solidariedade, fazer visitas a pessoas com
necessidades, consolar, motivar colegas a fazer doações.

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 Manejar conflitos e resolver problemas interpessoais

Acalmar-se exercitando autocontrole diante de indicadores emocionais de


um problema, reconhecer, nomear e definir o problema, identificar
comportamentos de si e dos outros associados à manutenção ou solução do
problema (como avaliam, o que fazem, qual a motivação para mudança), elaborar
alternativas de comportamentos e outros.

 Expressar afeto e intimidade (namoro, sexo)

Aproximar-se e demonstrar afetividade ao outro por meio de contato visual,


sorriso, toque, fazer e responder perguntas pessoais, dar informações livres,
compartilhar acontecimentos de interesse do outro, cultivar o bom humor, partilhar
de brincadeiras, manifestar gentileza, fazer convites, demonstrar interesse pelo
bem-estar do outro, lidar com relações íntimas e sexuais, estabelecer limites
quando necessário.

 Coordenar grupo

Organizar a atividade, distribuir tarefas, incentivar a participação de todos,


controlar o tempo e o foco na tarefa, dar feedback a todos, fazer perguntas, mediar
interações, expor metas, elogiar, parafrasear, resumir, distribuir tarefas, cobrar
desempenhos e tarefas, explicar e pedir explicações, verificar compreensão sobre
problemas.

 Falar em público

Cumprimentar, distribuir o olhar pela plateia, usar tom de voz audível,


modulando conforme o assunto, fazer/responder perguntas, apontar conteúdo de
materiais audiovisuais (ler materiais audiovisuais (ler apenas o mínimo
necessário), usar humor (se for o caso), relatar experiências pessoais (se for o
caso), relatar acontecimentos (incluir subclasses do item anterior), agradecer a
atenção ao finalizar.

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REFERÊNCIAS

BOLSONI-SILVA, A. T. Habilidades sociais: breve análise da teoria e da prática à


luz da análise do comportamento. Interação em Psicologia, Curitiba, dez. 2002.
Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/3311>. Acesso em:
23 out. 2019. doi: <http://dx.doi.org/10.5380/psi.v6i2.3311>.

BOLSONI-SILVA, A. T; CARRARA, K. Habilidades sociais e análise do


comportamento: compatibilidades e dissensões conceitual-metodológicas.
Psicol. rev. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 16, n. 2, p. 330-350, ago. 2010.
Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167711682010000
200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 23 out. 2019.

DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Competência social e habilidades


sociais: Manual teórico-prático (Portuguese Edition). Petrópolis: Vozes. Arquivo
do Kindle.

GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Ciência psicológica: mente, cérebro


e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.

GUIMARÃES, S. S. Técnicas cognitivas e comportamentais. In: RANGÈ, B. (Org.).


Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto
Alegre: Artmed, p.170-193, 2011.

MICHENER, H. A. Psicologia social. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,


2005.

RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a


psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2011.

WEITEN, W. Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo: Cengage


Learning, 2010.

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AULA 2

HABILIDADES SOCIAIS

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


CONVERSA INICIAL

Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 408) mostram o caso relatado por Als.


(2000) sobre uma série de questões psicológicas, todas elas de fundo social.

Importante
Vejamos o texto a seguir, adaptado sobre o caso:
Audrey Gibbons mudou-se com a família de sua Barbados nativa para a
Inglaterra em 1963. Na época, ele era pai de quatro crianças, incluindo algumas
que apresentam problemas de fala e, por isso, as pessoas tinham dificuldade para
entendê-las. Isso poderia ter contribuído para as brincadeiras maldosas por parte
dos coleguinhas da escola. Entretanto, a maior razão de serem ridicularizadas
impiedosamente era o fato de serem as únicas crianças negras de sua escola.
Quando mudaram de escola, aos 11 anos, as brincadeiras maldosas eram tão
pesadas que as gêmeas tinham autorização para sair antes a fim de fugir de seus
torturadores. Mais ou menos nessa época, elas fizeram um pacto: não se
comunicariam com ninguém. Elas não falavam, nem faziam contato visual com
professores, colegas ou inclusive os outros membros da família. Mas falavam uma
com a outra, em uma língua em grande parte ininteligíveis par os outros que
tinham criado como um código especial entre elas.
Uma sucessão de educadores, psicólogos e médicos tentou, sem sucesso,
fazer com que as meninas falassem. Como uma medida drástica, as gêmeas
foram enviadas para internatos diferentes aos 14 anos. Isso foi desastroso. Seu
isolamento auto imposto fundira suas identidades: as duas tinham se tornado uma
e separá-las um pouco fez com que facilitasse sua reabilitação. Mais tarde,
novamente reunidas, as gêmeas cometeram uma série de crimes, incluindo
vandalismo e incêndio premeditado, foram condenadas e enviadas a uma prisão
de segurança máxima para pessoas criminalmente insanas, onde permaneceram
por 14 anos. Tragicamente, Jenifer morreu poucas horas após sua libertação, de
um problema cardíaco não detectado. June atualmente mora em uma casa para
ex-pacientes mentais e ex-detentos, ainda traumatizada por suas experiências
infantis.

O caso é do ano 2000 e hoje não há notícias sobre June. O caso salienta
a fusão de identidade das duas gêmeas e suscita uma série de intrigantes
perguntas sobre como seria a vida das duas irmãs se não tivessem passado pelas

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adversidades apresentadas. Mais que isso, o exemplo ilustra como podemos ser
vítimas e ao mesmo tempo algozes de nós mesmos e dos outros quando não
conseguimos ter uma vida social saudável.
A forma como processamos informações sobre nós e os outros tem um
profundo impacto na vida social. Ao julgar e categorizar as pessoas rapidamente
corremos riscos de racismo e estereotipagem como atalhos cognitivos que nos
fazem tomar decisões rápidas sobre o que nos cerca. As habilidades sociais nos
fazem lidar de modo mais adequado com nossas percepções dos outros. Não é
apenas esta capacidade de entender o que pensam os indivíduos com quem nos
relacionamos, que nos diferencia dos animais, mas o nível de avanço que
demonstramos ter sobre isso.

(...) aqueles que têm uma habilidade social bem desenvolvida também
possuem amigos mais íntimos, relações mais satisfatórias, vivem em
relacionamentos melhores e são, de forma geral, pessoas mais felizes.
Essa habilidade influencia todos os campos da sua vida. Os melhores
líderes são aqueles que têm noção do quão bem suas instruções são
compreendidas. Uma chefe só consegue motivar seus colaboradores se
souber quais são as necessidades deles. E obviamente os vendedores
não vendem nada se não entenderem o que seus clientes querem
(Fexeus, 2019, arquivo Kindle).

O que vemos em nossa realidade de seres humanos é a presença de


elementos que ao constituírem o que chamamos de habilidade social influenciam
nossas interações com os outros, e como dizem Gazzaniga e Heatherton (2005)
“moldam quem somos e como compreendemos o mundo”.
São três os elementos que constituem as habilidades sociais: elementos
comportamentais (verbais, não verbais e paralinguísticos), elementos cognitivos
e elementos fisiológicos.

TEMA 1 – ELEMENTO COMPORTAMENTAL VERBAL

Quando nos referimos ao comportamento verbal, pensamos em uma forma


de linguagem localizada na palavra, significados e funções. O termo foi usado por
B. F. Skinner para analisar o comportamento humano, naquilo que chamamos por
linguagem, linguística ou falar. Para o psicólogo e filósofo americano, o
comportamento verbal é simplesmente um comportamento sujeito às mesmas
variáveis de controle que qualquer outro processo de comportamento.
A definição de Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 40) ilustra o entendimento
deste elemento comportamental nas habilidades sociais:

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O comportamento se refere às ações observáveis: movimentos
corporais, ações intencionais como comer ou beber e expressões faciais
como sorrir. O termo comportamento é empregado para descrever uma
ampla variedade de ações físicas, sutis ou complexas, que ocorrem nos
organismos, das formigas aos humanos. Por muitos anos, os psicólogos
tendiam a focalizar principalmente o comportamento, em vez dos
estados mentais. Eles faziam isso, em grande parte, porque tinham
poucas técnicas objetivas para avaliar a mente. O advento da tecnologia
para observar o cérebro funcional em ação permitiu que os cientistas
psicológicos estudassem estados mentais como a consciência.

Alvarez (2014) vê o conteúdo de uma mensagem junto com a sua forma,


como o principal componente verbal. Ele argumenta que certas investigações
consideram socialmente competentes pessoas que falam mais de 50% do tempo.
Neste padrão, elas alimentam regularmente seus interlocutores e fazem
perguntas para expressar interesse.

 Componentes verbais:

Falar e ouvir são componentes fundamentais da comunicação. As duas


ocorrem quando duas ou mais pessoas se encontram e trocam algum tipo de
informação. Pode-se dizer que ouvir e falar fazem parte da rotina do ser humano
e por meio dela as pessoas se reconhecem. São mecanismos essenciais da vida
e da evolução da espécie.
Ao nosso ver, uma das razões de relevância da comunicação verbal está
na capacidade de expressar verbalmente de modo claro e objetivo emoções por
que passamos, pensamentos que evocamos e desejos pessoais que
manifestamos. Nesta perspectiva, é oportuno lembrar que a comunicação verbal
não é apenas a troca de palavras pela fala, mas também o processo de escuta.
Escutar ativamente uma conversa oral é tão relevante como falar com clareza e
objetividade.
Falta de clareza e objetividade comprometem a troca de informações,
prejudicam a comunicação e, consequentemente, a qualidade da relação. Levar
a bom termo as relações interpessoais envolve comunicação clara de
sentimentos, ideias e argumentos. Para que isso ocorra devem ser considerados
conteúdo e forma da comunicação verbal.
O conteúdo deve estar no domínio de conhecimento de quem o expressa
e tem interesse relativo para o outro. Dentro dele, distinguimos o tópico a ser
comunicado e a modo como ele é transmitido.
O modo de perguntar está relacionado à obtenção de informações dos
interlocutores. Dois tipos de perguntas são usuais: a aberta que ao ser feita

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permite maior extensão da resposta do interlocutor e a fechada, cuja formulação
leva a respostas limitadas, por exigir informações específicas.
O modo de responder deve estar em acordo ao tipo de pergunta:
respostas abertas para perguntas abertas e respostas fechadas para perguntas
fechadas.

TEMA 2 – ELEMENTO COMPORTAMENTAL NÃO VERBAL

Estudos mostram que a base para o sucesso nos relacionamentos


pessoais e profissionais está na capacidade de se comunicar bem, mas não são
necessariamente as palavras que usamos, mas as sugestões não verbais, ou
seja, a “linguagem corporal” que vão mais além. O elemento comportamental não
verbal, geralmente, é expressado de modo instintivo. Ao interagir com pessoas,
damos e recebemos sinais sem palavras. Todos os comportamentos não verbais,
os gestos que fazemos, a postura, o contato visual, entre outros, enviam as
mensagens fortes. Nesta perspectiva, este comportamento pode deixar as
pessoas à vontade, estabelecer confiança e atrair pessoas. Isso pode ser bem ou
mal feito, são mensagens que não param quando deixamos de falar e mesmo que
estejamos calados estamos nos comunicando não verbalmente.
São comportamentos que geralmente complementam a mensagem por
meio da repetição, ênfase ou até contradizê-la. Gazzaniga e Heatherton (2005)
destacam este elemento na emoção, ao postular que as expressões emocionais
são comunicações não verbais poderosas. Embora, exista um certo número de
palavras para nos referirmos às emoções, conseguimos comunica-las muito bem,
sem linguagem verbal.
Dentro dessa categoria se incluem: expressão facial, olhar, sorriso, postura,
orientação, contato físico, aparência pessoal, auto manipulações e movimentos
nervosos das pernas e mãos, como exposto a seguir.

 Expressão facial

Usualmente são referidas seis expressões emocionais principais: alegria,


surpresa, tristeza, medo, raiva e nojo ou desprezo. A ela se cominam gestões em
regiões faciais como a testa, sobrancelha, olhos, pálpebras e boca e a parte
inferior da face.

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 O olhar

É importante não apenas no contato entre uma e outra pessoa, mas


também para detectar se a mensagem expressada é entendida. O olhar denota
uma atitude pessoal.

 O sorriso

É meio de conexão pela cordialidade e pelas boas vindas. Denota


aceitação, bondade e prazer à comunicação entre as pessoas.

 A postura

Envolve aproximação x distância e também expansão x contração. A


expansividade pode denotar arrogância, presunção e desdenho. Quando
contraída pode denotar depressão ou desânimo.

 A orientação

Está vinculada à posição ocupada junto a um interlocutor. Quanto maior


grau de orientação face a face, maior interação.

 Distância ou contato físico

Indica a perspectiva de não ser invasivo ou agressivo, lembrando-se que


contatos físicos são aceitos ou não aceitos conforme diferentes culturas.

 Os gestos

Substituem palavras quando expressos com as mãos (como na linguagem


para surdos-mudos) ou quando se usam códigos padrões (tipo tudo bem, ok, legal,
entre outros).

 Aparência pessoal.

Atendem aos padrões culturais, ambientes de trabalho e outros, mas deve


ser considerado como a primeira impressão que se produz na outra pessoa.

 Auto manipulações

Estão relacionadas a ações planejadas na própria pessoa como tocar o


cabelo, arranhar o rosto ou braço, tocar o nariz e outros. Geralmente são
interpretados como sinais de desconforto e ansiedade.

 Movimentos nervosos das pernas e mãos

6
São observáveis ao esfregar as mãos, bater na superfície com os dedos,
balançar ritmicamente um pé para cima e para baixo. Nestas circunstâncias a
comunicação expressa ansiedade, desejo de sair, desespero e outros.

TEMA 3 – ELEMENTO COMPORTAMENTAL PARALINGUÍSTICO

Se até 90% da nossa comunicação é não verbal, como diz Nordquist (2019),
investigar como podemos usar estes recursos é impactante para boas habilidades
sociais. Neste percentual, muito do que percebemos em mensagens transmitidas nos
chega pela inflexão da voz, expressão facial e gestos corporais. A paralinguística é o
estudo dos sinais vocais (e algumas vezes não vocais), além da mensagem ou fala verbal
básica conhecida. Ou seja, voltando a Nordquist (2019) é o que define muito bem como
algo é dito, não o que é dito!
Um modo simples de entender a paralinguística é defini-la como o estudo da voz
e como as palavras são ditas. Ao abrirmos a boca para falar, revelamos muito sobre nós
mesmos e em boa parte das vezes isso não tem nada a ver com as palavras que estamos
falando. Ao ouvirmos uma voz alta estridente percebemos que não é nada sutil. Quando
ouvimos uma voz firme que transmite convicção percebemos mais sutileza do que um
dedo apontando grandes gestos ou invadindo o espaço pessoal de alguém.
O elemento paralinguístico inclui volume, tom, timbre, uso da voz na fluidez verbal,
velocidade, clareza, tempo de conversação, latência responsiva e silêncio.

 Volume: A função é fazer com nossas mensagens sejam ouvidas pelas


pessoas a quem estamos nos dirigindo. É também usado para dar ênfase
às partes do discurso e quebrar a monotonia;
 Tom: Refere-se a inflexão vocal e a maneira de dizer algo de acordo com
a intenção ou humor do falante;
 Timbre: É o modo adequado e característico de soar a voz e está ligado às
cavidades orais;
 Fluidez ao verbalizar: É como pronunciamos e emitimos palavras em
sequência, sem repetições hesitações e outros;
 Velocidade: Tem a ver com o número de palavras que emitimos em um
determinado tempo e que pode ser modificada pelo humor;
 Clareza: Considera a pronúncia e vocalização correta das palavras;
 Tempo de conversação: Compreende a duração das intervenções dos
interlocutores em uma conversa. Tempos muito longos promovem
desatenção ou incapacidade de processar a mensagem de forma completa;

7
 Latência de resposta e silêncios: Refere-se ao tempo necessário para
começar a falar assim que a outra pessoa terminar de fazê-lo. Inclui-se aqui
o silencio usado durante uma fala para destacar pontos ou criar incertezas
por exemplo.

TEMA 4 – ELEMENTO COGNITIVO

Gazzaniga e Heatherton (2005) explicam que a maioria dos seres humanos


passa cerca de 75% de seu tempo de vigília com outras pessoas. Precisamos
muito de companhia e amor, assim buscamos apoio social quando nos sentimos
ansiosos ou sozinhos. Usamos a psicologia social para estudar como os outros
influenciam nossa maneira de pensar, de sentir e de agir. Ao processarmos
informações relevantes para nós mesmos e para os outros investigamos as
relações interpessoais e a influência que temos dos outros ou que recebemos
deles.
Para compreender os comportamentos humanos precisamos examinar o
contexto interpessoal no qual ele ocorre e ao fazer isso nos deparamos como
processamos as informações, isto é, como trabalhamos nossas cognições.
O interesse crescente da psicologia por fatores cognitivos influenciou a
avaliação e tratamento das habilidades sociais. Notadamente, a psicologia social
ao dar atenção há como as pessoas se influenciam, leva em conta o pensar, sentir
e agir.

Já que quase todas as atividades humanas possuem alguma dimensão


social, as pesquisas na psicologia social cobrem um território amplo e
variado: como percebemos a nós mesmos e os outros como
funcionamos em grupo, por que magoamos ou ajudamos as pessoas,
por que nos apaixonamos, por que estigmatizamos e discriminamos
certas pessoas (Gazzaniga; Heatherton, 2005, p. 409).

Para estudar o elemento cognitivo nas habilidades sociais é pertinente que


se estenda a cognição na abrangência social. Por cognição social entendemos
os processos mentais pelos quais compreendemos a nós mesmos, os outros e as
nossas situações sociais (Gazzaniga; Heatherton, 2005). A literatura de um modo
geral tem várias referências ao entendimento que uma das ideias centrais desta
área de estudo é que uma parte significativa da atividade mental que nos mobiliza
acontece como se fosse um piloto automático, isso é, sem intenção ou percepção
consciente.

8
O mau desempenho em habilidades sociais pode ter suas raízes
localizadas em processos cognitivos que incluem atitudes e expectativas
errôneas. A maneira como pensamos pode facilitar a execução de determinados
comportamentos.
De um modo geral, há uma série de variáveis cognitivas importantes no
estudo de habilidades sociais, como conhecimento de habilidades apropriadas,
costumes sociais e sinais de respostas, capacidade de pôr-se no lugar do outro e
de resolver problemas, percepção social ou interpessoal adequada. Cinco
variáveis são, contudo, as mais importantes, elas se referem aos processos
pessoais, como pensamentos e crenças que não são explicitamente manifestados
na comunicação. São eles: competências, estratégias pessoas de codificação

 As competências: Estão vinculadas ao conhecimento de habilidades


sociais adequadas. Compreendem o que está sendo feito, como é feito e
destaca o conhecimento de diferentes sinais responsivos dos parceiros
sociais. A empatia faz parte desta variável;
 Estratégias pessoais de codificação e construção pessoal:
Compreende o modo pelo qual as pessoas percebem, pensam, interpretam
e experimentam o que está à sua volta. Percepção social e interpessoal
apropriadas fazem parte desta variável;
 Expectativas: Dizem respeito às previsões que o indivíduo faz sobre as
possíveis consequências de seu comportamento;
 As preferências de valores subjetivos: Correspondem à base de
diferentes comportamentos pelos quais as pessoas escolhem e decidem
quando enfrentam uma situação social.
 Sistemas e planos de autorregulação: Essas variáveis estão localizadas
nas ideias pessoais sobre padrões e objetivos de desempenho, bem como
sobre recompensa e mecanismos críticos. São encontradas em
autoverbalizações, autoinstruções, auto-observação, padrões patológicos
de atribuição, falhas sociais e padrões de comportamento excessivamente
altos. Os sistemas e planos de autorregulação relacionam conceitos entre
e si e abrangem a autoestima.

9
TEMA 5 – ELEMENTO FISIOLÓGICO

O elemento fisiológico ainda precisa ser mais bem estudado no âmbito das
habilidades sociais. Por que diante de uma situação desastrosa de
relacionamento interpessoal uma das pessoas ao ficar embaraçada sente subir
uma onda de sangue ao rosto que aquece sua face?
“Um erro desastrado faz com que a maioria das pessoas fique embaraçada
e faz subir uma onda de sangue ao rosto, que aquece as faces. Na verdade, as
emoções estão associadas a mudanças físicas. Mas o que causa o que?”. A
questão exposta por Gazzaniga e Heatherton (2005) enseja discutir se a emoção
leva à mudança física, ou, esta leva àquela. Algumas teorias aprofundam esta
discussão como a Teoria James-Lange, a Teoria Cannon-Bard, a Teoria dos Dois
Fatores da Emoção e a hipótese do Feedback Fácil.
No âmbito das habilidades sociais, o que nos implica é a ligação entre o
emocional e o fisiológico. Ao protagonizar relações interpessoais,
experimentamos emoções como raiva, excitação, vergonha, mágoa e isso afeta
nosso ritmo cardíaco e pressão sanguínea, gerando comportamentos alinhados
ao tipo de emoção produzida. A raiva e irritação dá o tom de nossa comunicação
verbal e usamos termos agressivos para manifestar nossa insatisfação. Se nos
entusiasmamos, nossos gestos são amplos e cheio de energia, se a experiência
nos gera tristeza e depressão apresentamos posturas encurvadas e cabeça baixa.
Se somos levados a implementar estratégias de enfrentamento para
incrementar o reconhecimento e processamento de reações úteis que como
entende Leahy (2013) podem estimular funcionamentos mais produtivos, é certo
que isso tem utilidade no desenvolvimento de habilidades sociais.
As teorias da emoção a pouco citadas, nos fazem valorizar a importância
do elemento fisiológico. Willian James dizia “nós ficamos tristes porque choramos,
zangados porque agredimos, com medo porque trememos” (Gazzaniga;
Heatherton, 2005). Esta é uma teoria fisiológica que diz que as emoções ocorrem
como resultado de reações fisiológicas a eventos. No relacionamento interpessoal
um estimulo externo provocado pelo que percebemos dos outros, seja no nível
verbal ou não verbal, leva a uma reação fisiológica. A reação emocional depende
de como interpretamos as reações físicas. A explicação (também fisiológica) de
Walter Cannon e Philip Bard para isso é que nossas reações fisiológicas e
emoções podem ser sentidas ao mesmo tempo (Kleinman, 2015).

10
Walter Cannon discordou da teoria da emoção de James-Lange por razões
como “experimentar reações fisiológicas ligadas as emoções sem realmente sentir
essas emoções”. Esta teoria também sugere que respostas emocionais ocorrem
muito rapidamente para serem simplesmente produtos de estados físicos.
Poderíamos pensar, por exemplo, em um evento interpessoal, uma comunicação
ameaçadora capaz de gerar medo ante da pessoa sentir fisiologicamente a
emoções.
Para Stanley Shachter, as emoções são a interação de excitação fisiológica
e avaliações cognitivas (Gazzaniga; Heatheront, 2005). Na visão de Richard
Lazarus, primeiro pensamos e depois sentimos a emoção e a excitação fisiológica
(Kleinman, 2015).
A esta altura, é importante que possamos entender o que acontecem
nestas chamadas reações fisiológicas que apresentamos diante de uma emoção.
O elemento fisiológico compreende reações como: a frequência cardíaca, pressão
e fluxo sanguíneo, respostas eletrodérmicas e eletromiográficas e frequência
respiratória.
Deles, aqueles de que o sujeito está ciente são especialmente importantes
em relação à capacidade social. Isso ocorre devido à relação entre ansiedade e
resposta fisiológica a ela (a ansiedade é a principal responsável pelas barreiras
de comunicação causadas pelo emissor).

 Frequência cardíaca: Essa é a principal variável fisiológica utilizada nos


estudos das HS. Frequentemente, ela é medida por meio do pulso,
consistindo na detecção indireta das alterações no volume que ocorrem em
cada batimento cardíaco nos órgãos periféricos;
 Pressão sanguínea: A pressão sanguínea é a pressão que o sangue faz
nas paredes dos vasos sanguíneos. Ocorre por meio da contração dos
ventrículos. Ela é maior na aorta e grandes artérias sistêmicas. Conforme
vai aumentando a distância do ventrículo esquerdo, a pressão sanguínea
vai diminuindo. Especialistas parecem estar convencidos de que os fatores
emocionais influenciam fortemente o aumento da pressão arterial
 Fluxo sanguíneo: A medição do fluxo sanguíneo representa o influxo ou a
circulação do sangue por meio de um determinado tecido, pelas contrações
do coração. Existem dois tipos de medição: o volume sanguíneo e o pulso
do volume sanguíneo ou volume do pulso. Esta última resposta representa

11
as alterações no fluxo sanguíneo devido ao efeito das contrações
cardíacas;
 Resposta eletromiográfica: É o registro obtido da atividade elétrica
associada, que precede a atividade muscular. Refere-se a respostas
produzidas por fibras musculares e membranas ao passo que são
submetidas a atividades elétricas. O registro dessa resposta no músculo
frontal pode nos dar uma ideia do relaxamento / ativação de um sujeito.
 Respostas eletrodérmicas: Essas medidas refletem a atividade das
glândulas sudoríparas. A condutância da pele e as flutuações neste
parâmetro indicam o estado emocional da pessoa;
 Taxa respiratória: A medição da respiração é basicamente composta por
dois parâmetros: a profundidade da respiração e a frequência respiratória,
às vezes, combinadas para obter o volume de ar inspirado por minuto. A
função respiratória é controlada pelo sistema nervoso central com o auxílio
da medula e núcleos do tronco cerebral, sendo igualmente alterada pelos
estados emocionais.

12
REFERÊNCIAS

ÁLVAREZ, M. T. Las habilidades sociales. Un programa de intervención en


Educación Secundaria Obligatoria. Máster en intervención psicopedagógica.
Universidad de Granada. Granada, 2014. Disponível em:
<http://masteres.ugr.es/psicopedagogica/pages/info_academica/trabajo_fin_de_
master/tfmhabilidadessociales/!>. Acesso em: 24 out. 2019.

DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Competência social e habilidades


sociais: Manual teórico-prático (Portuguese Edition). Petrópolis: Vozes, 2017.
Arquivo do Kindle.

GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Ciência psicológica: mente, cérebro


e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.

GUIMARÃES, S. S. Técnicas cognitivas e comportamentais. In: RANGÈ, B. (Org.).


Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto
Alegre: Artmed, p.170-193, 2011.

KLEINMAN, P. Tudo o que você precisa saber sobre psicologia: um livro


prático sobre o estudo da mente humana. São Paulo: Gente, 2015.

LEAHY, R. L. Regulação emocional em psicoterapia: um guia para o terapeuta


cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.

NORDQUIST, R. Paralinguistics (Paralanguage). Thought Co, 2019. Disponível


em: <https://www.thoughtco.com/paralinguistics-paralanguage-term-1691568>.
Acesso em: 24 out. 2019.

RANGÉ, B. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a


psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2011.

13
AULA 3

HABILIDADES SOCIAIS

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


TEMA 1 – DIFERENÇAS ENTRE INDIVÍDUOS SOCIALMENTE HÁBEIS E INÁBEIS

A presença ou ausência de habilidade social está relacionada a


capacidades e incapacidades que caracterizam o desempenho de uma pessoa
nas relações interpessoais. Basicamente, o indivíduo hábil socialmente é aquele
que apresenta ausência de déficits, como autismo, ansiedade, depressão e outros
transtornos. A ausência de um transtorno não garante completamente o uso de
habilidades sociais (HS) e o que se observa em pessoas socialmente hábeis são
recursos integrados à inteligência emocional.
Indivíduos socialmente inábeis têm dificuldades para lidar com suas
emoções e as emoções dos outros, capacidades que podem ser desenvolvidas e
aprimoradas, mesmo em pessoas com determinados transtornos. Essencialmente
uma deficiência social é aquela que se refere a qualquer distúrbio que leve à
incapacidade de progredir social e emocionalmente, o que nos revela que o
impacto do distúrbio tem influência direta na qualidade de vida de uma pessoa.
Ao falar em inabilidade social em referência a transtornos psicológicos, é
oportuno destacar o que chamamos de desregulação emocional, ou seja, a
incapacidade, mesmo quando os melhores esforços são aplicados, para alterar
ou regular sinais emocionais, experiências, ações, respostas verbais e/ ou
expressões não verbais sob condições normativas (Linehan, 2018). Para esta
autora, as respostas emocionais, embora sejam sistêmicas, podem ser
consideradas partes dos seguintes subsistemas em interação:

1. Vulnerabilidade emocional a pistas.

2. Eventos internos e/ ou externos que quando atendidos servem de pistas


emocionais.

3. Apreciação e interpretações dos sinais.

4. Tendências de resposta, incluindo respostas neuroquímicas e fisiológicas,


respostas experienciais e impulso de ação.

5. Respostas, ações e expressões não verbais e verbais.

6. Efeitos colaterais do “disparo” emocional inicial, incluindo as emoções


secundárias.

As diferenças entre pessoas socialmente hábeis das inábeis estão


relacionadas a fatores como persuasão, comunicação, gerenciamento de

2
conflitos, habilidades de liderança, gerenciamento de mudanças, rapport,
colaboração e cooperação entre grupos ou equipes.
Um indivíduo socialmente inábil tem dificuldades em entusiasmar os outros
e conquistá-los para usar ideias ou cursos de ação propostos. Pessoas
persuasivas, por outro lado, são influentes, leem as correntes emocionais de um
evento e ajustam o que estão dizendo para atrair os envolvidos.
Déficits sociais aparecem quando a pessoa não é capaz de ouvir os outros
e também transmitir seus pensamentos e sentimentos. Ouvir bem as pessoas à
volta, detectar se elas entendem o que foi dito, buscar compartilhamento de
informações de modo completo e aberto são ganhos da habilidade social.
Pessoas socialmente incapacitadas têm dificuldade para gerenciar e
resolver conflitos em casa e no trabalho. Este processo caracteriza ausência de
tato e de diplomacia e como isso pode ser utilizado para neutralizar situações
difíceis. Bons gestores de conflitos levantam as discordâncias e buscam resolvê-
las. Para isso, usam o compartilhamento de emoções, incentivam o debate e a
discussão aberta. Essa é a forma de reduzir embaraços e problemas latentes e
ajudar as partes a reconhecer emoções e a adquirir uma visão lógica.
Para trabalhos em grupos, ou em empresas, há um momento que numa
determinada tarefa habilidades de liderança são essenciais, mesmo que liderar
não seja a característica essencial de qualquer pessoa. Se o indivíduo não estiver
sintonizado consigo mesmo não poderá influenciar positivamente o outro. Alguns
denominam a isso de carisma, mas sem que se esgote a análise deste significado,
podemos incluí-la como um requisito presente na inteligência emocional com
influência em HS. Alguém socialmente hábil é capaz de articular uma visão e
entusiasmar outras pessoas com sua perspectiva, sem que tenha um papel formal
de liderança.
Uma dificuldade típica nas habilidades sociais é não gerenciar mudanças
eficazes, ou forçar mudanças alienando todos os envolvidos. Pessoas ansiosas
diante de uma mudança que naturalmente pode ser estressante, sentem-se
ameaçadas. Os socialmente hábeis são catalizadores de transformações,
reconhecem a necessidade de mudar e remover barreiras.
Psicólogos aprendem em sua formação a importância do Rapport para criar
um processo terapêutico cooperativo com seus pacientes. O Rapport ou a
capacidade de criar um clima favorável de relacionamento com o outro quando
não empregado por algum tipo de déficit, baixa a qualidade dos relacionamentos

3
e obstaculiza seguir em frente na vida. Pessoas hábeis nesta área conseguem
boas redes de contatos, constroem e mantêm circuitos de conexões.
Quando alguém não consegue perceber que o relacionamento é tão
importante quanto a tarefa em questão e que em algumas circunstâncias a
valorização das pessoas pode às vezes ser mais necessária que a atividade, elas
deixam de trabalhar para a construção de um todo melhor. Indivíduos socialmente
hábeis buscam ativamente a oportunidade do trabalho colaborativo. Numa
organização, são os funcionários com melhor desempenho. Eles constroem uma
identidade de grupo, comprometem-se e atraem os outros neste propósito.

TEMA 2 – A INFLUÊNCIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS NA INABILIDADE


SOCIAL

Pessoas que não manifestam sintomas presentes em diferentes


transtornos mentais denotam maior habilidade social. A ausência de transtornos
desta natureza não garante que o indivíduo seja socialmente hábil, mas é inegável
que aqueles que são socialmente qualificados superaram seus sintomas ou não
apresentam tais transtornos. Pessoas assim sabem que não são perfeitas, sentem
que conseguem ser boas o suficiente e dignas de sentimentos de amor e carinho
junto aos outros. Para estes indivíduos é natural que esperem que outras pessoas
gostem deles, se tiverem uma oportunidade. Pode-se dizer que pessoas
socialmente hábeis tendem a usar a extroversão e o positivismo sobre a vida. Elas
também tomam a iniciativa de ter interações com os outros, usam sua linguagem
verbal e corporal, mostram seu bom humor.
Não se pode afirmar que toda deficiência social em uma pessoa seja
atribuída a este ou àquele diagnóstico de doença mental, mas é certo que as
habilidades sociais são fortemente influenciadas pelo transtorno. Pessoas
socialmente inábeis tendem a ser menos extrovertidas e frequentemente menos
positivas quando encontram outras pessoas. Elas podem achar que são boas
pessoas, mas os outros não percebem isso, pois os inábeis não tendem a se
apresentar, em vez disso, esperam que os outros se apresentem.
Armijo (2017) argumenta que o estresse resulta da vida nas grandes
cidades e alimenta a alta incidência de doenças psiquiátricas nas metrópoles
modernas. Transtornos como a esquizofrenia e Asperger apresentam déficits nos
mecanismos de cognição social e mostram desajustes na percepção
socioambiental. O autor destaca que doenças mentais comuns, como a depressão
4
e transtornos de personalidade, têm um grande impacto por déficits sociais
ambientais e apresentam baixo desempenho de cognição social em algumas
áreas específicas.
De modo geral, pessoas com doença mental podem apresentar déficits de
habilidades sociais. Neste sentido, o que se percebe é a incapacidade de
expressar pensamentos e emoções de modo adequado. Os déficits nas
habilidades sociais em algumas pessoas com transtorno mentais – não em todos
os transtornos – podem surgir como parte da doença, ou pelo fato de que ao iniciar
a doença pode restringir chances de aprendizagem de novas habilidades, ou
mesmo usar as habilidades que elas já possuem.
Estudos têm sido desenvolvidos para mostrar a relação de déficits
cognitivos, como falta de atenção, fala incoerente, problemas de aprendizagem e
guarda de informações com o comportamento social das pessoas diagnosticadas
com algum tipo de transtorno. Espera-se que o treinamento de HS seja relevante
para recuperação e treinamento de pessoas com déficits de habilidades sociais,
além de poder ajudar estas pessoas a aprender habilidades específicas
necessárias para viver.
Frye (2018) explica que o conhecimento social em transtornos como o
Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda é precoce, mas dados revelam que
crianças com este diagnóstico demonstram baixo comportamento social. Essas
crianças não olham para as pessoas, não usam gestos sociais não verbais, como
apontar, mostrar e dar.
A literatura mostra que no TEA, assim como na síndrome de Asperger (SA),
são visíveis os déficits de habilidades sociais. Estes últimos mostram variabilidade
em tarefas vinculadas à cognição social, pobreza no processamento emocional,
empatia, julgamento moral, normas sociais e automonitoramento.
O psiquiatra Julio Armijo (2017) cita a depressão como fortemente ligada
ao isolamento social. Em alguns quadros depressivos, observa-se baixo ajusto
social, menos apoio social e também exclusão social.
Pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline (TBP) apresentam
fraco desempenho de julgamento em tarefas sociais. São indivíduos que exibem
um viés negativo para avaliar a confiabilidade em estímulos faciais e decisões
ambíguas de confiança estão associadas a tempos de resposta mais longos
(Armijo, 2017). A inabilidade social aqui corresponde a pessoas com desregulação
emocional, entendida como a dificuldade ou inabilidade de lidar com as

5
experiências ou processar as emoções (Leahy, 2018). A desativação de emoções
impede o processamento emocional e faz parte de um estilo de enfrentamento
caracterizado por esquiva e que é trabalhado por terapeutas em intervenções com
o uso da regulação emocional.

A regulação emocional pode incluir qualquer estratégia de


enfrentamento (seja ela problemática ou adaptativa) que o indivíduo usa
ao confrontar a intensidade emocional indesejada. É importante
reconhecer que a regulação emocional é como um termostato
homeostático capaz de regular as emoções e mantê-las em “nível
controlável” para que possa lidar com elas (Leahy, 2018, p. 21).

Sobre este transtorno, Marsha M. Linehan (2018), em seu livro Treinamento


de Habilidades em DBT1, fala da prática da regulação emocional como parte de
treinamento em habilidades em pacientes. Para ela, esta capacidade
compreende:

1. Inibir o comportamento inapropriado e impulsivo, relacionado a fortes


emoções negativas ou positivas.

2. Organizar-se internamente para uma ação coordenada em prol de um


objetivo externo (ou seja, agir de maneira não dependente do humor
quando necessário).

3. Reduzir a intensidade de qualquer ativação/ excitação fisiológica que a forte


emoção tenha induzido.

4. Alternar o foco intencional na presença de uma emoção intensa.

Associado ao Transtorno de Ansiedade Social (TAS), muitas vezes existe


um baixo repertório de habilidades sociais. Na visão de Pereira, Wagner e Oliveira
(2014), essas habilidades podem ser compreendidas como comportamentos e
estratégias utilizadas para lidar com situações de interação com os demais e são
responsáveis pela expressão de sentimentos, opiniões, atitudes e ideias.
O paciente esquizofrênico apresenta dificuldade de relacionamento
interpessoal em virtude especialmente da apresentação de quadros como
pobreza de discurso, embotamento, retraimento social, entre outros sintomas
negativos (Duarte, 2016).
Ter saúde mental significa atingir indicadores emocionais e de
desenvolvimento, bem como aprender habilidades sociais saudáveis e como lidar

1 A Sigla DBT refere-se a Dialectical Behavior Therapy em inglês. Aqui usamos a referência ao
transtorno em português: TCD, Terapia Comportamental Dialética.
6
com os problemas do dia a dia. Indivíduos submetidos a tratamentos psicológicos
e a habilidades sociais podem vir a ter bom desempenho em casa, na escola e na
comunidade, resultando em melhor qualidade de vida.

TEMA 3 – CONHECENDO RECURSOS PARA HABILIDADES SOCIAIS

Como observamos, as diferenças entre a habilidade social e inabilidade


social referem-se à ausência de recursos catalisadores capazes de gerenciar
positivamente um ambiente de relação interpessoal. Isso pode ser provocado por
déficits de ordem cognitiva, comportamental e fisiológica.
Pessoas com deficiência social podem não apresentar os recursos
catalisadores por algum distúrbio que as leva à incapacidade de progredir
socialmente. Ansiedade, depressão, autismo, deficiências de saúde, deficiências
intelectuais, distúrbios emocionais e outros transtornos podem impactar um
indivíduo para qualificar-se ou não no exercício de suas atividades vivenciais.
A existência humana nos dias de hoje apresenta uma série de demandas
para desempenhos que precisam ser trabalhados pelo indivíduo. Se alguém
precisa desenvolver habilidades sociais porque se sente inábil, porque apresenta
um determinado transtorno, é necessário um programa de recursos que inclua
técnicas e procedimentos de treinamento e intervenção.
Alguns dos recursos que aqui citamos e que serão aprofundados em tema
especial na sequência do curso sobre HS são sugeridos por Del Prette e Del Prett
(2017):

1. Feedback.
2. Reforço e Modelagem.
3. Modelação.
4. Role Play.
5. Ensaio Comportamental.
6. Tarefas de Casa.
7. Reestruturação Cognitiva.
8. Resolução de Problemas.
9. Análise de Contingência.
10. Exposição Dialogada.
11. Exercícios Instrucionais.
12. Uso de Recursos de Multimídia.

7
Muito embora os recursos para THS sejam variáveis entre os especialistas,
é consenso que eles estão inextricavelmente ligados às habilidades de
comunicação, à inteligência social e à inteligência emocional. Saber se expressar
verbal ou não verbalmente, perceber o outro e gerenciar as próprias emoções são
meios para lidar com conflitos. De alguma forma somos levados a antecipar o que
os outros estão sentindo e adaptamos nossas respostas para que tenhamos
maneiras de resolvê-las de modo favorável.
Num exemplo, percebemos a inabilidade social quando alguém que
conhecemos se junta a um grupo de amigos e fala algo fora de propósito e no
momento mais inadequado possível. Os demais ficam quietos, alguém ri
nervosamente e nos perguntamos: por que ele disse isso naquele momento? Não
teria um outro momento para tal?
Ter conhecimento de si mesmo e dos outros tem a ver com consciência
social, a capacidade de compreender e reagir adequadamente a contextos
interpessoais. Isso se refere a ter ciência de onde estamos e de perceber o que
está à nossa volta, ao mesmo tempo que interpretamos adequadamente as
emoções surgidas naquele contexto.

Assim, as pessoas que tendem a ser socialmente conscientes se sentem


mais conectadas ao lugar em que vivem, pois não estão apenas
conscientes das diferentes formas de angústia que podem estar
afetando a vida de outras pessoas. Eles também têm a capacidade de
perceber o que é e o que não é apropriado em diferentes situações
enquanto interage com pessoas de diferentes faixas etárias e contextos
sociais (Tocino-Smith, 2019).

Como já verificamos em aula anterior, as HS estão conectadas a processos


comunicacionais, essenciais para desenvolvê-las e mantê-las. Entende-se que é
preciso construir uma rede de apoio social capaz de nos ajudar a cuidar de nossas
necessidades e das dos outros. O requisito comunicacional é um critério para
desenvolver a pessoa como outras habilidades. Em conteúdo anterior, estudamos
comunicação verbal (falar e ouvir), comunicação não verbal (expressão facial,
olhar, sorriso, postura, orientação e contato físico entre outros) e comunicação
paralinguística (estudo da voz e como as palavras são ditas). Inteligência Social e
Inteligência Emocional, veremos a seguir.

TEMA 4 – INTELIGÊNCIA SOCIAL E HABILIDADES SOCIAIS

Para Amy Amorin (2019), a inteligência social se refere ao conceito do


psicólogo americano Edward Thorndike (1920): “a capacidade de entender e
8
gerenciar homens e mulheres, meninos e meninas, de agir sabiamente nas
relações humanas".
A concepção de que a inteligência social é a capacidade de uma pessoa
interagir bem com outras pessoas refere-se a uma habilidade aprendida que
envolve consciência situacional, compreensão da dinâmica social e
autoconsciência. Nesta perspectiva, consideram-se habilidades comunicacionais,
funções e regras sociais, compreensão da motivação do outro e gerenciamento
de impressões.
A comunicação envolve entender palavras e conteúdo emocional que é
observável no outro e expressar pensamentos e emoções com clareza. As
funções e regras sociais estão relacionadas a diferentes regras, geralmente não
ditas e que compreendem interações e situações sobre o desempenho adequado.
A compreensão da motivação do outro diz respeito à leitura de subtexto de uma
conversa, compreendendo o que a pessoa está dizendo ou manifestando em seu
comportamento. O gerenciamento de impressões envolve entender a reação do
outro e agir de modo a provocar a impressão desejada.
Determinadas pessoas podem se sentir como os outros se sentem, saber
intuitivamente o que falar em situações sociais e parecer seguras de si, mesmo
em uma multidão maior. Ao dar atenção ao tema, Amy Amorin (2019) diz que
estas são pessoas com inteligência social e apresentam características como:
escuta eficaz, habilidades de conversação, gerenciamento de imagem e saber
quando e como argumentar numa discussão.
A escuta eficaz compreende comportamentos de prestar atenção ao que o
outro diz. Del Prette e Del Prette (2017) falam em “habilidade de ouvir
atentivamente, olhar, manter contato visual, perante o interlocutor encerrar a fala
para somente então, fazer perguntas ou comentários pertinentes”.
As habilidades de conversação permitem discussões com qualquer pessoa
e envolvem diplomacia, bom humor, sinceridade e atenção a detalhes das
pessoas para favorecer o diálogo significativo. Para pessoas em situação de
ansiedade é um desafio iniciar e manter conversas. Ao mesmo tempo, pessoas
ansiosas podem falar em demasia, causando impressão negativa nos outros.
O gerenciamento da imagem refere-se a gerenciar a aparência para criar
impressões favoráveis que facilitem o relacionamento interpessoal. Abrange a
aparência, o comportamento e a comunicação. Roupas, higiene, linguagem
corporal, etiqueta fazem parte da aparência. É a nossa primeira comunicação com

9
os outros. As pessoas com quem conversamos e nos relacionamos tomam
decisões sobre nós em sua mente com base nesta comunicação e estas decisões
influenciam o comportamento em relação a nós.
Há momentos que num processo de discussão entre pessoas deve ser
dado ênfase à argumentação. Em situação de discussão, o argumento é
importante, mesmo que a pessoa não concorde com ele em princípio. Manter a
calma e manter o contato visual são estratégias eficazes na discussão. Além
disso, o modo como organiza os argumentos, se são coerentes, se fazem sentido,
são relevantes.

TEMA 5 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E HABILIDADES SOCIAIS

Ao tratarmos do conceito de inteligência emocional como a capacidade de


entender emoções e saber processá-las em nossos pensamento e
comportamentos para obter bons resultados, concentramo-nos na sua essência:
a emoção. Esta sensação física que reage a um estímulo ambiental e cognitivo e
que produz experiências subjetivas e alterações neurobiológicas significativas
quando usada e expressada de modo adequado nos abastece de habilidades
sociais.
Os cinco domínios postulados por Goleman (2011) para a inteligência
emocional: autoconsciência, controle emocional, motivação, reconhecer a
emoção nos outros e lidar com relacionamentos têm papel relevante nas
habilidades sociais.
Autoconsciência, considerada por Goleman (2011) como “a pedra de
toque” da inteligência emocional, permite que a pessoa tenha maior consciência
sobre como se sente em relação a decisões pessoais. Ela leva a pessoa a
entender o que impulsiona seu comportamento, bem como os efeitos que isso
causa nos outros.
Lidar com emoções é o que chamamos de autorregularão e tem a ver com
a capacidade de confortar-se de livrar-se da ansiedade, tristeza ou irritabilidade
que incapacita – e as consequências resultantes do fracasso nessa aptidão
emocional básica (Goleman, 2011). Este domínio consiste em uma capacidade de
pensar antes de agir e também em suspender o julgamento emocional sobre as
ocorrências. Envolve controlar as mudanças de humor e os impulsos e não
permitir que eles perturbem a qualidade de vida de alguém.

10
A capacidade de motivar-se aproveita o melhor que temos para aprender a
desfrutar as tarefas que realizamos sem precisar de influências externas. Ela nos
faz pôr as emoções a serviço de objetivos e metas em que centramos a atenção,
desenvolvemos controle e criatividade.
Reconhecer a emoção nos outros é a capacidade empática que nos
predispõe a admitir as emoções dos outros, a ouvir e a entender a perspectiva
daquele com que nos relacionamentos. Isso nos faz identificar e compreender os
sentimentos dos outros, mesmo quando não expressos verbalmente.
As habilidades de relacionamento estão vinculadas a fortes habilidades
sociais que nos ajudam a formar e a gerenciar, com eficácia, relacionamentos com
outras pessoas. O que caracteriza este domínio é a capacidade de saber liderar,
de usar aptidões de aproximação, gerenciamento e persuasão.
A relação entre inteligência emocional e habilidades sociais foi testada em
338 estudantes do sexo feminino da Universidade de Damam, na Arábia Saudita,
e os resultados apresentaram correlação positiva. Na pesquisa, comprovou-se
que a inteligência emocional é influenciada tanto pelas características de
personalidade como pelas habilidades sociais. Os pontos mais marcantes do
trabalho mostraram: reconhecimento e consciência de emoções, comunicação por
meio de conversas simples, atmosfera segura, afetuosa e aberta à comunicação,
conscientização sobre forças e fraquezas, expressão de sentimentos positivos e
negativos de modo equilibrado, controle de emoções e auto eficácia (Tamimi; Al-
Khawaldeh, 2016).

11
REFERÊNCIAS

AL-TAMIMI, E. M. R. A.; ALKHAWALDEH, N. A. Emotional Intelligence and its


Relation with the Social Skills and Religious Behaviour of Female Students at
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Disponível em: <https://www.verywellmind.com/what-is-social-intelligence-
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12/2016. Disponível em:
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<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6105175/>. Acesso em: 24 out.
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GOLEMAN, D. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. Recurso


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terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.

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comportamental dialética para o terapeuta. Porto Alegre: Artmed, 2018.

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sociais e ansiedade social: avaliação de estudantes de psicologia. Psicol. educ.,
12
São Paulo, n. 38, p. 113-122, jun. 2014. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
69752014000100010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 24 out. 2019.

TOCINO-SMITH, J. Emotional Intelligence in Relationships.


Positivepsycholgy.com, 19 mar. 2019. Disponível em:
<https://positivepsychology.com/emotional-intelligence-relationships/>. Acesso
em: 24 out. 2019.

13
AULA 4

HABILIDADES SOCIAIS

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


TREINAMENTO EM HABILIDADES SOCIAIS EM GRUPO E INDIVIDUAL

O Treinamento em Habilidades Sociais (THS) integra técnicas provenientes


de teorias da aprendizagem social, psicologia social e terapia cognitivo-
comportamental. Ao ser aplicado ao indivíduo ou a um grupo, busca propiciar
aquisição de habilidades que permitam interações mais satisfatórias nas
diferentes áreas sociais da vida humana.
As diferenças de THS individual ou em grupo estão alinhadas a aspectos
como adequação do formato às necessidades dos treinandos e adequação destes
ao formato. No THS individual, em cenários clínicos, os profissionais devem ter
precauções especiais, ao organizar os eventos no sentido de reforçar a
manutenção, a continuidade e o alcance de objetivos. No THS em grupo, por sua
vez, a manutenção, a continuidade e a busca de objetivos são favorecidas pela
disposição de um grupo maior, mesmo que um ou outro participante não esteja
disposto a aprender.

TEMA 1 – TREINAMENTO INDIVIDUAL DE HABILIDADES SOCIAIS

O desenvolvimento de THS no âmbito individual, em vez de grupo, é


marcado por aspectos específicos. Em determinadas situações, apenas uma
pessoa se apresenta para treinamento, em outras o THS é individual, pelas
características da oferta de capacitação, como em pequenas clínicas ou
consultórios.
Uma perspectiva apresentada por Linehan (2018) lembra que certas
pessoas não são indicadas para trabalhos em grupo por não conseguir inibir
comportamentos agressivos e ostensivos em direção a outros pacientes. Pessoas
portadoras de transtornos como a ansiedade social (fobia) são treinadas
individualmente enquanto passam por tratamento prévio e podem, na sequência,
ser encaminhadas para THS em grupo.
Em contextos de cuidado primário da saúde, ou durante o desenvolvimento
de processos psicoterápicos, as habilidades sociais (HS) podem ser treinadas
individualmente nas próprias sessões de terapia ou mesmo separado delas em
atendimento individual por um treinador. Nesses casos, seguindo a concepção de
Linehan (2018), o THS individual atende a regras próprias que envolvam o manejo
de crises e solução de problemas individuais com o apoio do terapeuta.

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Em psicoterapia, o profissional que não tem a quem encaminhar seus
pacientes para THS e que deseja fazê-lo por si próprio deve tornar o contexto do
treino diferente da sua prática psicoterápica habitual (Linehan, 2018), como, por
exemplo, dedicar reuniões semanais alternadas ou dedicadas apenas a THS. Há
também o entendimento de se caracterizarem os encontros não apenas para
manter o foco em crises ou solução de problemas. É lembrado ainda que o THS
individual em pessoas particularmente difíceis requer supervisão ou consultoria.
Um aspecto vantajoso do THS individual é apontado por Kjobli e Ogden
(2014), ao dizerem que as habilidades podem ser adaptadas e selecionadas de
acordo com o perfil do treinando. Para Caballo (2003), ocorre uma concentração
nos problemas particulares da pessoa, modificando progressivamente o conteúdo
do programa conforme avança o treinamento e observa-se a evolução das
habilidades. Isso se aplica a THS individual para crianças com a escolha de
habilidades específicas para aceitação social e amizade, por meio de técnicas
como discussão, ensaio e feedback do treinador. Nesse contexto, o THS pode
ensinar comportamentos para melhoria de relações interpessoais, incluindo
técnicas para iniciar e finalizar conversas, pedir, ajudar, perguntar, defender-se,
expressar agradado e desagrado, receber críticas e elogios, entre outros. A
infância é um período importante para desenvolvimento de habilidades como
essas.
Algumas considerações de Caballo (2003) são importantes: (1) a relação
mais consistente entre avaliação e tratamento se faz possível empregando-se o
THS com um único indivíduo cada vez; (2) essa modalidade permite uma
avaliação inicial das habilidades e debilidades e propicia a observação contínua;
e (3) uma vantagem em relação ao treinamento em grupo é que este mascara a
variação sofrida pelos sujeitos individuais, e o treinamento individual não o faz.
Na prática, entende Cabalo (2003), a escolha entre o treinamento individual
e o realizado em grupo depende frequentemente do lugar e dos recursos
disponíveis. Como já foi dito, em determinadas situações pode não haver
pacientes suficientes para que se tenha um grupo.

TEMA 2 – TREINANDO EM GRUPO DE HABILIDADES SOCIAIS

Três referências de psicólogos que consideram aspectos sociais,


emocionais e psicossociais são importantes para entender o THS em grupo:
Marsha Linehan usa conceitos da Terapia Comportamental Dialética (TCD) para

3
treinar habilidades; Vicente Caballo articula as HS entre atitudes, sentimentos,
opiniões e desejos para mudar comportamentos e provocar a felicidade social; e,
por último, Almir Del Prette e Zilda Del Prette, pesquisadores de habilidades e
competências sociais com grande influência nas universidades brasileiras.
Linehan (2018, p. 30) é enfática ao afirmar que a principal vantagem do
treinamento de habilidades em grupo é a eficiência. Ela apresenta cinco razões
para esse entendimento:

1. Os terapeutas têm a chance de observar e trabalhar com comportamentos


interpessoais apresentados em relacionamentos entre pares, mas que só
raramente aparecem em sessões individuais.
2. Os treinandos têm a oportunidade de interagir com outras pessoas como
eles, permitindo-se um suporte do grupo, o que é bastante terapêutico.
3. Os participantes do treinamento em grupo podem aprender uns com os
outros, aumentando, assim, o reforço das estratégias terapêuticas.
4. Os grupos geralmente reduzem a intensidade de relacionamento entre
treinandos individuais e os líderes de grupos; a transferência é reduzida.
5. Seguir normas nas sessões em grupo aumenta a prática de habilidades em
indivíduos menos propensos a realizar tarefas de casa.

Na visão de Caballo (2003), quatro vantagens são observadas no THS em


grupo:

1. Situação social já estabelecida, com possibilidade de prática entre os


integrantes. As representações sociais criadas no grupo podem ajudar na
percepção social (por exemplo, a imagem os pais). A aprendizagem vicária
é mais eficaz pelos modelos em comum com o observador.
2. Contexto de apoio em que os treinandos, ao se encontrarem em grupo, se
sentem menos intimidados. Membros que se adiantem no treinamento e
que informam e mostram melhoras desenvolvem expectativas positivas nos
novos membros.
3. A situação social no THS em grupo tem a vantagem de ser real, em vez de
simulada, como ocorre nas sessões individuais, e novos comportamentos
se generalizam a outras situações sociais.
4. Uso mais econômico do tempo do terapeuta, o que permite, também,
menos custo financeiro para o treinando.

4
Del Prette e Del Prette (2017) recomendam o treinamento de habilidades
sociais pelas seguintes vantagens:

 melhor perspectiva de aprendizagem social determinada pela observação


de HS emitidas pelo treinador e por participantes do grupo;
 impulso à aprendizagem, pela rapidez de resultados em alguns que servem
de encorajamento para os demais;
 vivência de situações reais durante os encontros possibilitados nos grupos
por meio do uso de estratégias apropriadas;
 maior economia nos recursos humanos e no tempo de aprendizagem;
 riqueza de estímulos grupais mediante interações interpessoais variadas e
práticas vivenciadas pelos próprios participantes.

TEMA 3 – TREINANDO HABILIDADES SOCIAIS EM CRIANÇAS E


ADOLESCENTES

Na visão de Del Prette e Del Prette (2017), as crianças desenvolvem


percepções contraditórias das regras sociais em certos ambientes familiares e
escolares, vivem situações de pressão na diversidade de grupos, passam por
diferentes juízos de valores e se deparam diariamente na mídia com notícias de
violência. Além disso, são pressionadas por diferentes grupos, alguns deles –
como a família e a escola – as fazem perceber de forma contraditória as regras
sociais. Outros pontos a serem considerados estão relacionados à diferença de
juízo de valores a que são submetidas e à influência diária de notícias na mídia,
capaz de moldar comportamentos prejudiciais.
A promoção de Habilidades Sociais dirigida a crianças tem sido
amplamente utilizada no contexto escolar, na estimulação do desenvolvimento
socioemocional, na prevenção de problemas de comportamento, como
coadjuvante do rendimento acadêmico e também como mecanismo de inclusão
daquelas com deficiências sensoriais, motoras e mentais. Ao fazer essa
referência, Del Prette e Del Prette (2017) citam Gresham (2009) para apresentar
três níveis associados a diferentes graus de atenção psicossocial:

 Universais: atendimentos destinados a todas as crianças de uma sala de


aula ou à escola toda, independentemente de problemas ou fatores de risco
identificados.

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 Seletivos: atendimentos destinados a pequenos grupos em situação de
risco ou que não se beneficiaram de programas universais.
 Indicados: atendimentos em formato individualizado destinados a crianças
com problemas, como na terapia, precedida por avaliação funcional
detalhada da queixa e demais comprometimentos associados.

Para lidar com as demandas sociais, as crianças precisam ser treinadas


em um repertório de habilidades que lhes permitam o ajustamento psicossocial e
a elaboração de perspectivas positivas de amadurecimento. O ambiente escolar
aqui ganha relevância, uma vez que, além da vida familiar, a vida acadêmica é o
caminho indicado para o desenvolvimento de habilidades sociais.
No IV Seminário Internacional de Habilidades Sociais: diálogos e
intercâmbios sobre pesquisa e prática, realizado pela Universidade Salgado de
Oliveira, em 2013, Zilda A. P. Del Prette e Almir Del Prette chamaram a atenção
para a importância da aplicação das THS em crianças não apenas em situações
informais pais-filhos, como nas relações professor-alunos e grupos comunitários.
O THS em crianças, na visão de Garnica (2009), ao citar Goldstein e
Goldstein (1992), deve enfatizar a importância dos jogos e das brincadeiras como
recursos para o ensino e para os processos terapêuticos. Del Prette e Del Prette
(2006), citados por Garnica (2009), destacam o conceito de vivência a ser aplicado
ao treinamento e que pode ser entendido como uma atividade de grupo
estruturada de forma a se assemelhar a situações do dia a dia. A avaliação do
treinador permite a utilização de recursos para fortalecer ou ampliar o THS infantil.
A psicoeducação, estratégia cognitivo-comportamental usada em
atendimentos psicológicos, é valiosa quando aplicada ao THS, em adolescentes
diante de uma diversidade de condutas prejudiciais, como comportamentos
violentos no namoro, em processos de bullying, ou crenças sexistas e
homofóbicas, entre outros. As experiências envolvem usar situações do cotidiano
deles para ilustrar conceitos. Explicações são dadas e acompanhadas com
perguntas que promovam o seu envolvimento com o processo de aprendizagem.
Entre as ferramentas estão a leitura de livros de autoajuda, apostilas,
questionários de avaliação e programas de computador (Wright; Basco; Thase,
2008).
Psicoeducação, reestruturação cognitiva e feedback, entre outros –
estratégias que veremos mais à frente – são reforçados no THS de adolescentes.
Fexeus (2019) comenta a diminuição da prática de atividades físicas e sociais no

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tempo livre, para passar mais tempo em frente ao computador, o que pode
produzir problemas psicológicos. A diminuição da habilidade social da empatia
parece ser evidente nesta questão.

As provas de que perdemos nossa habilidade social estão em todos os


cantos. Uma pesquisa feita em Michigan mostra que a habilidade de
adolescentes para sentir empatia diminuiu radicalmente desde 1980 até
hoje, a decadência maior sendo de 2011 até agora. A explicação dada
pelos pesquisadores você já pode imaginar: os jovens passam menos
tempo praticando atividades sociais e não fazem mais parte, como antes,
de associações, clubes ou afins que contribuam para treinar a empatia
(Fexeus, 2019).

A qualidade dos relacionamentos interpessoais é importante indicador de


saúde mental e física, tanto em adolescentes quanto em adultos. Vários estudos
atestam o impacto positivo das HS em diversos aspectos do desenvolvimento
psicossocial de adolescentes e jovens de diferentes contextos socioculturais.
Discutidos no IV Seminário Internacional de Habilidades Sociais (2013), esses
dados foram repercutidos juntos a alguns estudos, entre os quais separação
conjugal e práticas parentais negativas, influência da empatia e da personalidade
sobre a solidariedade entre gerações e níveis de positividade com jovens e adultos
de diversas regiões brasileiras.
Os trabalhos destacaram a importância de investigar a separação conjugal
não apenas como mecanismo de risco, mas também como oportunidade para
gerar recursos individuais e sociais que podem ajudar a enfrentar os desafios
provocados pelas transições familiares. A empatia nas dimensões de
preocupação empática e tomada de perspectiva foi vista como a melhor preditora
da solidariedade entre gerações em relação à mãe, ao passo que a personalidade
nas dimensões extroversão e abertura é a melhor preditora da solidariedade entre
gerações em relação ao pai. Outros resultados indicaram que os níveis de
positividade são relativamente independentes de variáveis sociodemográficas,
gerando a hipótese de que possa estar associada ao temperamento e à
personalidade.
Del Prette e Del Prette (2017) situam o THS para crianças e adolescentes
dentro da caracterização preventiva. No contexto educacional, ele visa à redução
de problemas como indisciplina, agressividade, bullying, preconceito, drogadição
etc.

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TEMA 4 – TREINANDO HABILIDADES SOCIAIS EM ADULTOS E IDOSOS

As HS em adultos são necessárias e podem ser aprendidas para tornar


melhor a interação social em ambientes familiares e profissionais e criar e manter
relacionamentos satisfatórios em uma comunidade ou sociedade em geral. Nessa
perspectiva, o THS em adultos pode desenvolver recursos com vistas a melhorar
a aparência, a postura corporal, a expressão fácil e outros fatores que podem ser
aprendidos e treinados no contexto individual ou em grupo, com melhoria do
funcionamento geral e do bem-estar da pessoa.
O THS em adultos e idosos pode ser aplicado visando à superação ou
minimização de déficits, alguns deles relacionados a transtornos psicológicos. Um
exemplo é o voltado a adultos com retardo mental, que incluem habilidades sociais
básicas. Para esse quadro, os treinamentos se centram em habilidades essenciais
na interação com os outros, e são um pré-requisito para o de outras habilidades
mais complexas e que incluem contatos físicos apropriados, manipulação de
objetos, atenção visual, interação social com o treinador e com o grupo etc.
Treinar habilidades a pessoas com transtornos de ansiedade social,
depressão e outros requer programas de resolução de problemas imediatos e
minimização de problemas futuros. Ao propiciar mudanças de comportamento, o
THS pode maximizar recompensas sociais e minimizar ansiedade, reduzindo
sintomas de sofrimento.
O THS para idosos leva em conta a busca de melhorias para lidar com o
avanço da idade. Com o tempo, um vasto repertório de deteriorações psicofísicas
pode atrapalhar o bem-estar dessas pessoas. Alguns exemplos são verificados
em quadros sintomáticos como vertigens e tonturas que são incapacitantes. Tais
processos podem mergulhar o idoso em estilo de vida retraída e medrosa com
efeitos na comunicação, no relacionamento e na solidão. É o período da vida em
que ocorrem perdas de papéis, de entes queridos e de amigos, fatores eliciadores
de deterioração nas relações sociais.
Percebe-se que situações como depressão geralmente são
desencadeadas por problemas de natureza psicossocial, com a quebra de
relacionamentos, alterações no comportamento e na estrutura familiar. As
consequências têm lugar na saúde mental e na qualidade de vida. Habilidades
sociais que estimulem o desenvolvimento de novas amizades e contatos sociais
podem aliviar o quadro.

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Há uma variedade de programas de THS para idosos, mas essencialmente
devem ser desenvolvidos sem interromper o ritmo de vida deles. Geralmente se
usa uma sala de aula como meio ideal para o treinamento com os recursos
utilizáveis (mesas cadeiras, quadro-negro e outros). O protocolo de treinamento
deve envolver a aprendizagem do que são as habilidades sociais, o entendimento
de HS não verbais, postura, aparência, gestos, tiques, mãos, linguagem corporal
etc. Em outros aspectos, reúne elementos similares às outras faixas etárias.
Del Prette e Del Prette (2017) falam que o THS grupal ou individual, além
de preventivo, pode ser terapêutico e profissional; em nosso entender, é mais
aplicado a adultos e idosos.
Avaliações de THS em idosos têm sido apresentadas na literatura. Em uma
delas, Carneiro e Falcone (2013) avaliaram a eficácia de um programa dessa
natureza no aumento tanto do repertório de HS como da satisfação com a vida de
40 pessoas na terceira idade. As HS foram avaliadas antes e depois de uma
intervenção, por meio de jogos de papéis em sete situações sociais e também da
Escala de Satisfação com a Vida. Os resultados apontaram mudanças positivas
entre os participantes do grupo experimental, com destaque para o
desenvolvimento da habilidade de assertividade.
Os autores dizem que o estudo é concordante com outro trabalho realizado
em 2004 por eles mesmos, quando constataram que a grande maioria dos
estudantes de uma universidade da terceira idade precisava desenvolver a
habilidade assertiva para lidar com situações que envolviam conflito de interesses,
mudar comportamentos, recusar pedidos, responder a críticas e cobrar dívidas.

TEMA 5 – TREINANDO HABILIDADES SOCIAIS NAS ORGANIZAÇÕES

De modo geral, quase toda tarefa exige habilidades sociais. Para trabalhar
em equipe, é preciso se dar bem com os outros. Alguém que mantenha contato
mais estreito com clientes deve ouvir atentamente perguntas e preocupações. Se
a pessoa é gerente, é solicitada a motivar os funcionários. Empregadores
procuram candidatos com competências básicas. Segundo ressalta Doyle (2019),
entre a lista mais comum de habilidades sociais buscadas em ofertas de trabalho,
estão:
 empatia;
 cooperação;
 comunicação verbal e escrita;
9
 escuta ativa;
 comunicação não verbal.

Habilidades sociais, como as apresentadas, são objeto de estudo em


relação à sua aplicabilidade no trabalho em diversos países. Nos Estados Unidos,
a crescente importância das HS no mercado de trabalho aparece em um artigo de
Deming (2017), no qual o pesquisador e professor da Harvard Kennedy School
demonstra que empregos com altos salários e difíceis de automatizar requerem
cada vez mais habilidades sociais. Quase todo o crescimento americano no setor
de empregos desde 1980 ocorreu em ocupações que exigem muita habilidade
social. Outras atividades, com altos níveis de raciocínio analítico e matemático,
mas com baixos níveis de interação social, empregos comparativamente fáceis de
automatizar, tiveram mau rendimento.
O Brasil parece não estar longe da realidade americana. Em matéria
publicada no jornal Folha de São Paulo, Portinari (2017) revela que o país é um
dos que têm maior potencial de automatização de mão de obra, atrás apenas da
China, Índia e Estados Unidos na quantidade de trabalhadores que poderiam ser
substituídos por máquinas. A autora revela que, de acordo com estudo da
consultoria McKinsey, 50% dos atuais postos de trabalho no Brasil poderiam ser
automatizados, ou 53,7 milhões de um total de 107,3 milhões (Portinari, 2017).
Os dados apresentados ressaltam a importância das HS. Em uma
organização, o THS está relacionado à capacidade de os indivíduos se
comunicarem. As ferramentas são usadas pelas pessoas para interagir e se
comunicar com superiores, subordinados, colegas e clientes.
Deming (2017) explica que os funcionários variam naturalmente sua
capacidade de executar tarefas no local de trabalho. Ações laboriosas em equipe
aumentam a produtividade, e benefícios se alcançam por um desempenho
satisfatório com a modelação de habilidades sociais. Um exemplo de alta
performance é a negociação de tarefas a um custo menor e mais eficiência.
As habilidades interpessoais em uma organização compreendem
comunicação verbal e não verbal, habilidades auditivas, negociação, persuasão,
trabalho em equipe, solução de problemas, tomadas de decisão e assertividade.
O treinamento em HS importa não somente para pessoas portadoras de
grandes déficits, mas também a todos que desejam aprimorar sua competência
social, fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional. Habilidades

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sociais como assertividade, empatia, comunicação verbal e não verbal são
importantes em quaisquer contextos sociais.
Melhorar o repertório de habilidades sociais está vinculado ao
desenvolvimento saudável nas áreas cognitiva, emocional, intelectual,
comportamental e é essencial para a realização profissional. Em outras
demandas, Del Prette e Del Prette (2017) lembram que o THS no ambiente de
trabalho é indicado para atender desde a necessidade de preparação de jovens
na transição para o mercado de trabalho até, posteriormente, a melhora nas
condições interpessoais relacionadas à produtividade, à busca de novas
oportunidades e à saúde na aposentadoria.

11
REFERÊNCIAS

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LINEHAN, M. M. Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia


comportamental dialética para o terapeuta. Porto Alegre: Artmed, 2018.

PORTINARI, N. 50% do trabalho no Brasil pode ser feito por robô, diz estudo.
Folha de São Paulo, 17 maio 2017. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/05/1884633-50-do-trabalho-no-
brasil-pode-ser-feito-por-robo-diz-estudo.shtml>. Acesso em: 30 out. 2019.

WRIGHT, J. H.; BASCO, M. R.; THASE, M. Aprendendo a terapia cognitivo-


comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.

13
AULA 5

HABILIDADES SOCIAIS

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


TEMA 1 – ESTRATÉGIAS PARA O TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS

A palavra estratégia vem do latim stratégia, que deriva dos termos gregos
stratos (exército) e agen (condução, orientação) e significa plano, método,
manobras ou estratagemas usados para alcançar um objetivo ou resultado. Uma
estratégia inclui uma série de táticas que são medidas mais concretas para
alcançar um ou mais objetivos.
Mintzberg (1987) oferece cinco definições para ajudar as pessoas a
desenvolver estratégias. Para ele, estratégia é:

 Um plano, um curso de ação criado intencionalmente para lidar com uma


situação;
 Um padrão para tomada de decisões, escolhas feitas no passado de forma
efetiva podem ser usadas para decisões futuras;
 Uma posição, uma força mediadora entre o contexto interno e externo;
 Uma opção estratégica, usar uma manobra.
 Uma perspectiva, seu conteúdo consiste não apenas em uma posição
escolhida.

Basicamente, a estratégia é entendida como ponto de partida de um


propósito definido, que, em outras palavras, compreende um plano determinado
para criar habilidades sociais (HS) que provoquem o bem-estar dos indivíduos.
Isso pode abranger criar hábitos saudáveis, eliminar hábitos não saudáveis,
maximizar ou minimizar comportamentos e desenvolver habilidades positivas no
âmbito interpessoal.
Ao traçar um plano, o treinamento de habilidades sociais (THS) deve definir
também a execução dele, ou seja, empregar uma tática que permita ao treinador
alterar situações envolvidas no processo de aprendizagem de HS. Para atender à
execução e atingir os objetivos da estratégia, o THS vale-se de técnicas, do modo
como faz o treinamento.
Para desenvolver estratégias, um planejamento em HS leva em conta:

1. Identificar o problema;
2. Estabelecer as metas;
3. Definir as técnicas.

Para identificar o problema, é preciso saber onde, quando e como a


pessoa se sente afetada em comportamentos que lhe causam mal-estar ou

2
atrapalham seus objetivos de vida. Diferentes situações podem ser consideradas
nestes aspectos. Em uma pessoa com dificuldade em se socializar, alguns
exemplos são verificar se isso acontece no trabalho, na escola, no relacionamento
amoroso; se ocorre durante reuniões de trabalho, reuniões sociais; se tem a ver
com falar de modo diferente da norma culta, portar com rudeza, mostrar
intolerância etc.
Nesse processo de identificação, cabe ao profissional responsável avaliar
o que está por trás do problema social apresentado. Em algumas circunstâncias,
ele pode ter sido ocasionado por um transtorno mental ou decorrido de um trauma.
Assim que o treinador, com a ajuda da psicologia, conseguir determinar a relação
entre o problema e os motivos desencadeadores, ele pode definir quais
estratégias serão usadas.
Estabelecer metas em THS é semelhante ao que ocorre em psicoterapias,
em que se estabelece a meta geral, com metas focadas que podem ser
desenvolvidas ao longo dos encontros. Em um THS, a meta de socializar pode
ser dividida em submetas, por exemplo, aprender a cumprimentar alguém,
responder de modo adequado.
Definir as técnicas refere-se a como desenvolver o treinamento. Após a
identificação do problema e o estabelecimento de metas, determinam-se quais
recursos podem ser aplicados a eles. Um treinando em HS na técnica da
modelagem, por exemplo, é levado a observar o treinador ou colegas (THS em
grupos) para ver como exatamente precisa fazer antes de tentar por si próprio.
Depois que a habilidade é modelada, a pessoa é solicitada a interpretá-la. Até que
se pratique a habilidade, é difícil usá-la fora da segurança das sessões de
treinamento, por isso ela é importante. O treinador fornece um feedback ao final
de cada encontro. Este é o feeback necessário para identificação de pontos fortes
e fracos e o que é preciso trabalhar e praticar. Entre os encontros, o treinador
define pequenos desafios para serem exercitados em casa. Trata-se do “dever de
casa”, que é uma continuidade do que se trabalhou na sessão de treinamento,
para a pessoa praticar. Dependendo do grau de sucesso, o treinando é levado a
se concentrar e uma nova habilidade para o próximo encontro.
É importante destacar que, em especial em pessoas com déficits que
interferem nas capacidades cognitivas, emocionais e comportamentais, algumas
das técnicas utilizadas no THS são aplicadas, como ocorre em tratamentos
psicoterápicos. Assim, assertividade, psicoeducação, reestruturação cognitiva e

3
mesmo as tarefas de casa, consideradas técnicas psicoterápicas, às vezes
aplicadas ao mesmo tempo que o THS, tornam-se elas mesmas técnicas de
treinamento de habilidades sociais com resultados efetivos na mudança de
comportamento social.
Alguns exemplos de técnicas são:
Técnicas comportamentais
São indicadas para pessoas que possuem baixo repertório de HS. Por
exemplo, em uma Síndrome de Down, pode-se ensinar técnicas comportamentais
em um ambiente controlado e estruturado e depois generalizá-lo em outros
ambientes. Algumas destas técnicas são a modelagem (aprender pela
observação), interpretação de papéis (simular situações) e atividades com o uso
de reforço (material como comida, social como sorrisos)
Técnicas cognitivas
São técnicas que não afetam diretamente o comportamento, mas os
processos cognitivos e emocionais que o sustentam. Envolvem reestruturação
cognitiva (para ajudar o sujeito a perceber e interpretar o mundo ao seu redor),
relaxamento (para reduzir ansiedade e controlar a ativação fisiológica), resolução
de problemas interpessoais (para trabalhar pensamentos que ofereçam soluções).
Técnicas de controle ambiental
Refere-se a técnicas para gerenciar estímulos e contingências ambientais
a fim de fortalecer o repertório de habilidades interpessoais de um indivíduo. Pode
compreender rapport (contexto acolhedor entre treinando e treinador ou outros),
atividades colaborativas (dinâmicas de grupo, por exemplo), aulas particulares
(como tutoria supervisionada de pares).
As HS, de um modo geral, apresentam uma variedade de técnicas que
podem ser aplicadas conforme seja o problema identificado e a meta pretendida.
Um fluxo essencial e de relevância para o bem-estar humano compreende o THS
para habilidades interpessoais, habilidades de autoconsciência, habilidades de
regulação emocional e habilidade de resiliência que serão tratadas na sequência.

TEMA 2 – ESTRATÉGIAS PARA TREINAMENTO DE HABILIDADES


INTERPESSOAIS

As habilidades interpessoais contribuem para manter e melhorar os


relacionamentos com pessoas próximas, no ambiente familiar, no ambiente
escolar, no ambiente de trabalho e com estranhos.
4
Quando é identificado algum problema, as habilidades interpessoais devem
ser ensinadas com o propósito de melhorar a maneira como as pessoas se
relacionam umas com as outras. Esta meta, como ensina Linehan (2018), tem a ver
com aprender a lidar com situações de conflito, a conquistar o que se deseja e
precisa, bem como a dizer “não” a pedidos e solicitações indesejadas – tudo isso
de forma a manter o autorrespeito, bem como a apreciação e o respeito dos outros
por nós. Derivam desta meta conhecimentos a serem usados para identificar tipos
de personalidade, o efeito que o comportamento tem sobre a pessoa, o melhor uso
da linguagem corporal, da escuta ativa e da comunicação oral. Também é buscado
o desenvolvimento de pontos fortes e a obtenção de cooperação e compromisso
de outras pessoas.
Entre as técnicas a serem utilizadas para treinar as habilidades interpessoais
estão: assertividade e habilidades comunicacionais.
Assertividade
Para Guimarães: Rangé (2011), o treinamento do comportamento assertivo
tem o objetivo de ensinar formas socialmente adequadas para expressão verbal e
motora de emoções.
O treinando deve ser ensinado a ser hábil na conquista dos objetivos com
os outros. Isso envolve:
1. Pedir aos outros para fazer coisas que gostaríamos que eles fizessem, por
exemplo, realizar solicitações, iniciar discussões, solucionar problemas em
relacionamentos e convencer os outros a levar nossas opiniões a sério.
2. habilidades de dizer “não” às solicitações indesejadas incluindo resistir à
pressão dos outros e manter uma posição ou ponto de vista.
Habilidades comunicacionais
Para Del Prette e Del Prette (2010), as habilidades de comunicação
interpessoal são classificadas como verbais e não verbais de forma arbitrária, uma
vez que ambas estão sempre presentes nos contatos face a face. A comunicação
verbal é mais consciente, explícita e racional, dependendo, entre outros fatores, do
domínio da língua e das normas sociais de seu uso. Já a comunicação não verbal,
ilustra, regula, substitui e algumas vezes se opõe à verbal.
As habilidades verbais de comunicação são importantes para que o indivíduo
possa interagir de maneira eficaz e harmoniosa. A aplicação da técnica envolve
adaptar discurso ao público, por exemplo, evitando a terminologia técnica, fazer
perguntas para mostrar interesse no que está sendo dito, combinar o que está

5
sendo dito com a voz e a linguagem corporal e refletir sobre o que alguém disse
resumindo e parafraseando.
A escuta ativa é ouvir além das palavras que estão sendo ditas – entendo a
mensagem comunicada. A tendência de pensar em como responder em vez de se
concentrar no que o outro diz é um grande desafio. Ao ouvir, realmente, a pessoa
pode fornecer a resposta mais ponderada que leva em consideração pensamentos
e opiniões do orador. Isso faz com que as pessoas ao redor entendam o que a
pessoa valoriza e aceite isso. É importante nesta técnica prestar atenção total ao
orador, em vez pensar na resposta, mostrar ao outro que está sendo ouvido com
interesse, esclarecer a compreensão, não interromper ou redirecionar a conversa,
fornecer uma resposta adequada – que seja honesta, mas educada.
Sobre a linguagem corporal, o treinando desenvolve comportamentos de
postura relaxada, manter contato visual, braços não cruzados, acenas com a
cabeça, sorrir e outros. A linguagem corporal fechada deve ser evitada (por
exemplo, dobrar braços ou pernas, evitar o contato visual, mudar os olhos, remexer
e outros).
Outras técnicas são exercitar a flexibilidade, saber negociar, tomar decisão,
trabalhar em equipe, ter atitudes positivas e ser empático. É relevante falar com
pessoas com opiniões opostas e mostrar interesse no que elas dizem, com o
objetivo de entender o que elas pensam. A negociação ajuda a resolver conflitos
ou criar um contrato. Trabalhar junto com outros e manter objetivos comuns ajuda
o trabalho em equipe. Não é preciso ser incrivelmente sociável, mas desenvolver
relacionamentos positivos é ter atitude positiva. A empatia é fundamental no
treinamento de habilidades interpessoais. Ser empático significa que a pessoa é
capaz de identificar e entender as emoções dos outros, ou seja, imaginar-se na
posição de outra pessoa.

TEMA 3 – ESTRATÉGIAS PARA TREINAMENTO DE HABILIDADES DE


AUTOCONSCIÊNCIA

Observe seus pensamentos; eles se tornam palavras.


Cuidado com as palavras; eles se tornam ações.
Assista suas ações; eles se tornam hábitos.
Observe seus hábitos; eles se tornam personagem.
Assista seu personagem; torna-se o seu destino.
Frank Outlaw (1856-1930)
6
A autoconsciência é vista como uma habilidade essencial a muitas outras
habilidades sociais. Antes de gerenciar suas interações com os outros, a pessoa
deve entender seus próprios pensamentos, crenças, sentimentos e ações. A
compreensão de pontos fortes e fracos ajuda a pessoa a lidar com suas
dificuldades e a faz se adaptar melhor às pessoas com quem tem relacionamentos.
A aprendizagem socioemocional alimenta a autoconsciência e possibilita
desenvolver a capacidade de identificar os próprios sentimentos, valores, forças e
limitações, bem como a forma como emoções e pensamentos influenciam as
atitudes.
Uma pessoa que é detectada com baixo poder de autoconsciência deve ser
levada a um propósito em que identifique e construa pontos fortes, use a
inteligência emocional, comunique-se e estabeleça relacionamentos mais fortes
com os outros, sinta-se mais seguro em si e em seus pensamentos e sentimentos,
seja mais capaz de antecipar e persistir em situações estressantes e ter maior
poder de decisão.
Entre as técnicas para desenvolvimento da autoconsciência, estão o
mindfulness (atenção plena), reestruturação cognitiva: lidar com sentimentos,
buscar feedbacks, descobrir pontos fortes e fracos e manter a mente aberta.
A atenção plena aplicada ao THS da autoconsciência estimula o treinando a
estar no controle de sua mente, a estar no controle da sua atenção. Linehan (2018)
postula que durante a prática, deva ser dito o seguinte àquele que é treinado nesta
habilidade: a atenção plena permite controlar a atenção. Com muito treino, a
pessoa consegue melhorar nisso. Para a autora, muitas vezes, ocorre uma reação
aos pensamentos e às imagens como se fossem fatos. Na mente, ficam-se
enredados nos eventos e não distinguimos fatos no mundo de pensamentos ou
imagens do mundo. A atenção plena praticada de modo habitual e diligente pode
melhorar a habilidade de perceber a diferença entre os fatos e as imagens e os
pensamentos sobre os fatos.
A reestruturação cognitiva, técnica utilizada pela terapia cognitivo-
comportamental ajuda a pessoa a reconhecer e modificar esquemas e
pensamentos desadaptivos. Para isso, usa o questionamento socrático e registro
de pensamentos para identificar sob forma escrita pensamentos automáticos que
que podem incitar um estilo mais racional de pensar (Wright, Basco e Thase, 2008).
Esta técnica também permite identificar erros cognitivos, examinar as evidências
(análise pró e contra), reatribuição (modificar o estilo atributivo), listar alternativas

7
racionas e ensaio cognitivo que, por sua vez, consiste em praticar uma nova
maneira de pensar por meio da geração de imagens mentais ou role-play.
Um exemplo sobre distorções cognitivas é apresentado por Knijinik e
Kunzler: Melo (2014, p. 34):

Rotulação: Eu sou estranho e diferente.


Leitura mental: Ele está pensando que eu sou inferior e não está gostando da
minha conversa.
Personalização: Os outros me rejeitarão porque eu não saberei o que dizer
quando nos encontrarmos no bar.
Desqualificando o positivo: Não importa que eu tenha apresentado bem o trabalho,
porque foi muito fácil; eles só estão elogiando o meu trabalho por pena.
Catastrofização: Eu sou tão fracassado em encontros sociais, que não saberei o
que falar com os meus colegas; ou, se eu não me envolver em conversas e fingir
que estou bem os ouros nunca me aceitarão.

O objetivo da técnica de lidar com sentimentos é não julgar os sentimentos,


mas entendê-los. Ao conversar com os sentimentos, a pessoa poder ter uma ideia
do que os está causando.
Buscar feedback enseja que conhecer a si mesmo não é apenas um trabalho
interno. Ser honesto consigo mesmo e pedir a um colega de confiança, membro da
família ou mentor uma opinião verdadeira sobre como a pessoa “aparece” em
várias situações é um modo de se enxergar melhor.
Conhecer pontos fortes e fracos obtidos no feedback só é valioso se a
pessoa agir de acordo. A interação com os outros é positiva ou não. A energia que
a pessoa expressa é motivadora aos outros ou ela é negativa ou nem existe.
Existem da parte das pessoas mais críticas do que elogios? Identificar isso é uma
estratégia para melhorar o que é preciso melhorar.
Ter autoconsciência é ter curiosidade natural e mente aberta para novos
modos de fazer as coisas. Quando recebe ideias e pontos de vista alternativos, a
pessoa promove o próprio crescimento e desenvolvimento, enquanto faz com que
os que estão à sua volta se sintam apoiados e aceitos.

TEMA 4 – ESTRATÉGIAS PARA HABILIDADES DE REGULAÇÃO EMOCIONAL

As estratégias voltadas para a regulação emocional podem sugerir uma


primazia das emoções sobre as cognições, da mesma forma que ao estudar o

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pensamento nas estratégias voltadas para a autoconsciência, pode-se sugerir ser
a cognição predominante nesta discussão. As discussões mostram que tanto a
habilidade de apaziguar ou acalmar a excitação afetiva, caso ela aconteça, e a
habilidade de alterar vieses cognitivos ativados por afetos devem ser úteis para a
regulação emocional.

(...) há evidências consideráveis de que emoção e cognição são


interdependentes, e cada uma pode influenciar a outra no que pode ser
visto como um ciclo de retroalimentação. (...) reconhecemos que esses
processos são interdependentes e que não há necessidade de tomar
uma posição quanto à primazia a fim de desenvolver técnicas úteis para
ajudar os pacientes (Leahy, 2013, p.30).

Não basta o autoconhecimento oferecer subsídios para o indivíduo


trabalhar a sua autorregulação emocional, uma vez que é através de uma técnica
específica que os resultados se mostram mais efetivos.

O comportamento emocional tem função para o indivíduo. Mudar


comportamentos emocionais ineficazes pode ser extremamente difícil
quando eles são seguidos por consequências reforçadoras, assim, pode
ser útil identificar as funções e os reforçadores para comportamentos
emocionais específicos. Em geral, as emoções funcionam para
estabelecer comunicação com os outros e para motivar o próprio
comportamento. Os comportamentos emocionais também podem ter
outras duas funções importantes. A primeira relacionada com a função
de comunicação é influenciar e controlar os comportamentos das outras
pessoas. A segunda função da comunicação é alerta a si. Neste último
caso, as emoções funcionam como alarme, alertando o indivíduo a
prestar atenção aos eventos que podem ser importantes. Identificar
essas funções das emoções – em especial, de emoções indesejáveis –
é o primeiro passo importante rumo a mudança (Linehan, 2018, p. 316).

Ackerman (2019) fala que um dos aspectos mais importantes na regulação


emocional é reconhecer que emoções negativas ou dolorosas não são
inerentemente ruins. As pessoas são incentivadas a aceitar que, sem dúvida,
experimentarão emoções negativas em sua vida, por mais felizes ou equilibradas
que sejam. Para o autor, em vez de se concentrar em evitar ou negar a presença
do negativo, são ensinadas habilidades valiosas para manter emoções sob
controle e evitar desregulação emocional.
A regulação emocional inclui melhorar o controle das emoções, mesmo que
o completo controle emocional não possa ser alcançado. De certo modo, somos
quem somos, e as emoções estão nesta perspectiva. No entanto, podemos obter
maior domínio e aprender a modular algumas emoções (Linehan, 2018). Esta
autora mostra em seu programa de treinamento de habilidades da Terapia

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Comportamental Diáletica – TCD metas que considera relevantes na regulação
emocional1:
 Identificando, entendendo e nomeando as emoções. Estas habilidades
permitem compreender as emoções em geral, bem como entender e
identificar as próprias emoções.
 Modificando as respostas emocionais. Estas habilidades ajudam a reduzir
a intensidade das emoções dolorosas ou indesejadas (raiva, tristeza,
vergonha, etc.) e de mudar situações que suscitam emoções indesejadas
ou dolorosas.
 Reduzindo a vulnerabilidade da mente emocional. Estas habilidades
permitem reduzir a vulnerabilidade, a tornar a pessoa extrema, ou
dolorosamente emotivas, bem como aumentar a resiliência emocional.
 Gerenciando emoções extremas. Estas habilidades ajuda a pessoa a
aceitar as emoções em curso e a gerenciar as emoções extremas.

Entre as técnicas usadas para a regulação emocional estão: atenção plena,


exercícios de aceitação e desfusão.
A atenção plena é bem importante para a regulação emocional. É através
dela que a pessoa é ensinada a observar e descrever, com uma postura não
julgadora, as respostas emocionais atuais. Linehan (2018) diz que a ideia teórica
é a de que boa parte do mal-estar emocional resulta de respostas secundárias,
como vergonha, ansiedade ou raiva extremas; às emoções primárias (como
medo, tristeza, raiva, nojo).
Leahy (2013) aponta as seguintes formas da técnica de mindfulness:

 Escaneamento corporal: consiste em direcionar a consciência atenta e


de modo não julgador ao longo do corpo em ritmo gradual e deliberado.
 Atenção plena respiratória: refere-se a usar a respiração como “âncora”
para a consciência.
 Ampliação de espaço – exercício de aceitação consciente dos
pensamentos e emoções: este exercício é feito para ajudar o treinando
a passar do foco na respiração ou no corpo para a consciência e
aceitação direta da experiência anterior.

1 No livro de Marsha Linehan, usa-se a sigla DBT para a Terapia Comportamental Dialética. Neste
texto da disciplina de Habilidades Sociais, a sigla usada é TCD.
10
 Espaço respiratório de 3 minutos: este exercício é uma forma de
generalização das habilidades da atenção plena, é uma prática
generalizadora, permitindo ao treinando parar o fluxo de agentes
causadores de estresse e retomar uma perspectiva consciente.
 Atenção plena do movimento: neste exercício, o treinando aprende a
trazer a qualidade da atenção plena, em particular a conexão com as
sensações físicas momento a momento para o ato de se mover por meio
do espaço e do tempo à medida que caminha.

A aceitação envolve exercícios experienciais, outros são informativos.


Pode começar-se ensinando ao treinando o que significa aceitação no seu
contexto emocional.
A desfusão, proveniente da terapia da aceitação de compromisso, é um
processo de contato com os produtos verbais como eles são, não como o que eles
dizem ser.

TEMA 5 – ESTRATÉGIAS PARA HABILIDADES DE RESILIÊNCIA

Resiliência é o processo de conseguir se adaptar bem e se recuperar


rapidamente em momentos de estresse. Esse estresse pode se manifestar como
problemas familiares ou de relacionamento, sérios problemas de saúde,
problemas no local de trabalho ou até problemas financeiros, entre outros (Riopel,
2019).
A estratégia para desenvolver habilidades de resiliência consiste em
detectar que tipos de comportamentos estão presentes na pessoa. Reações
negativas a eventos, posturas de pessimismo, abandono de projetos de vida e de
trabalho, vulnerabilidade física e emocional, quando apresentados, sugerem a
necessidade de trabalhar habilidades de resiliência.

Não podemos simplesmente fugir das exigências do mundo moderno. Já


que somos seres sociais, nós somos influenciados pelos valores e pelas
expectativas das pessoas em nossa volta e, muitas vezes, os
incorporamos, apropriando-nos deles. Até mesmo aquele que decide
viver na floresta ou passar um tempo num mosteiro para meditar corre o
perigo de sofrer frustrações ou golpes do destino. O isolamento alivia
talvez a pressão profissional, mas não impede derrotas pessoais,
doenças graves ou a perda de um parceiro amado. Cada pessoa é
confrontada com problemas, às vezes com problemas sérios, sempre de
novo e sempre de forma nova – e, muitas vezes, justamente no momento
mais inesperado (Berndt, 2019, edição do Kindle).

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Entre as metas buscadas pelo treino em habilidades de resiliências, estão:
desenvolver bons sistemas de apoio, manter relacionamentos positivos,
desenvolver uma boa autoimagem e experienciar atitudes positivas. Derivam
dessas metas: adquirir capacidade para fazer planos realistas, ser capaz de
executar esses planos, ser capaz de gerenciar efetivamente emoções e impulsos
de modo saudável, ter habilidade de comunicação, confiar em pontos fortes e ter
habilidades para resolver problemas.
Um modelo de exemplo para desenvolver habilidades de resiliência pode
incluir as técnicas: atenção plena, recursos cognitivo-comportamentais (como
psicoeducação e reestruturação cognitiva), assertividade e resolução de
problemas e habilidades comunicacionais.
Richard Davidson encontrou evidências de que a atenção plena aumenta a
resiliência e quanto mais atenção plena a pessoa pratica, mais resistente o
cérebro se torna. (Alidina, 2016). A atenção plena reduz a ruminação e, se
praticada regularmente, muda o cérebro para que a pessoa seja mais resiliente a
futuros eventos estressantes. Em entrevista ao Garrison Institute, o psicólogo e
neurocientista Richard Davidson reforçou que a prática da atenção plena recupera
a pessoa diante de estímulos emocionais negativos, contribuindo para a
resiliência, e isso também se observa na prática da compaixão (Davidson, 2015).
As ações da terapia cognitivo-comportamental são usadas em pessoas que
veem o mundo como perigoso e estão sempre sensíveis, como acontece em
cognições desadaptativas. Isso aparece em pesquisas experimentais como a de
Norte et al. (2011), em que cognições vulneráveis como “estou sempre em risco,
algo ruim pode me acontecer a qualquer momento” e “sempre suspeito que as
pessoas e o mundo são perigosos” resultam em melhorias.
A maneira como a pessoa pensa nos desafios e problemas está alinhada à
forma como ela mostra resiliência. Se a assertividade ajuda no sentido de tomar
decisões, a resolução de problemas é o modo como a pessoa lida com desafios.
Isso pode ser trabalhado no treino para identificar o problema real, dividi-lo em
partes menores, gerar soluções, avaliar opções e monitorar resultados.
Aprimorar a comunicação é importante para desenvolver a resiliência, por
exemplo, de líderes, comprometendo-os a expressar-se de modo eficaz ao
comunicar suas intenções a outras pessoas e a garantir que funcionários e
colegas saiam da conversa com um entendimento de suas expectativas e de seus
papéis.

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REFERÊNCIAS

ACKERMAN, C. 21 Emotion Regulation Worksheets & Strategies.


PositivePsychology.com, 2019. Disponível em:
<https://positivepsychology.com/emotion-regulation-worksheets-strategies-dbt-
skills/>. Acesso em: 25 out. 2019.

ALIDINA, S. 5 Ways to Build Resilience Every Day. Mindful. Disponível em:


<https://www.mindful.org/5-ways-build-resilience-every-day/>. Acesso em: 25 out.
2019.

BERNDT, C. Resiliência: o segredo da força psíquica. Petrópolis, RJ: Vozes,


2019. Edição do Kindle.

DAVIDSON, R. Resilience and the Brain: An Interview with Richard Davidson.


{Interview given to} Garrison Institute. NY 10524, 2015. Disponível em:
<https://www.garrisoninstitute.org/blog/rapid-recovery-resilience-and-the-brain/>.
Acesso em: 25 out. 2019.

DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE, Z. Psicologia das relações interpessoais:


vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

LEAHY, R. L.; TIRCH, D.; NAPOLITANO, L. A. Regulação emocional em


psicoterapia. Um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre:
Artmed, 2013.

LINEHAN, M. M. Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia


comportamental dialética para o terapeuta. Porto Alegre: Artmed, 2018.

MINTZBERG, H. Las cinco Ps de la estratégia. California Management Review,


1987. Disponível em: <http://andrader0.tripod.com/docs/paradigmas/las5ps.pdf>.
Acesso em: 25 out. 2019.

NORTE, C. E. et al. Impacto da terapia cognitivo-comportamental nos fatores


neurobiológicos relacionados à resiliência. Rev. psiquiatr. clin. São Paulo, v. 38,
n. 1, p. 43-45, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
60832011000100009&script=sci_arttext&tlng=en>. Acesso em: 25 out. 2019.

RIOPEL, L. Resilience Skills, Factors and Strategies of the Resilient Person.


PositivePsychology.com. Disponível em:
<https://positivepsychology.com/resilience-skills/>. Acesso em: 25 out. 2019.

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AULA 6

HABILIDADES SOCIAIS

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


CONVERSA INICIAL

O déficit em habilidades sociais é um fator observável em pacientes com


transtornos mentais, constatação que vem impulsionando inúmeros estudos. A
visão destacada na literatura vigente sobre o tema mostra o entendimento de que
os transtornos que afetam psicologicamente o indivíduo expõem de forma visível
problemas de comunicação e de efetividade interpessoal, entre outros.
Ativar positivamente o comportamento social nos transtornos mentais
proporciona um contexto interpessoal mais favorável com a expressão de
sentimentos, atitudes, desejos e opiniões sobre os eventos da vida, inclusive para
o avanço no tratamento médico e psicológico.
O THS, quando indicado a transtornos mentais, é associado a formas de
tratamento que podem incluir psicoterapia e medicamentos.

TEMA 1 – TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NA ANSIEDADE SOCIAL

Como ocorre em outros transtornos mentais, o THS é uma estratégia a ser


aplicada no Transtorno de Ansiedade Social – TAS (fobia social), decisão que se
torna essencial diante da limitada interação comunicacional, já observável no
momento do atendimento ao paciente.
Picon e Penido (2011) diferenciam processo e técnicas no tratamento da
ansiedade social. As técnicas se referem a métodos extraídos da terapia
cognitivo-comportamental (TCC) para modificação de comportamentos, e os
processos utilizados se dão no âmbito das interações interpessoais dos membros
do grupo entre si e com o terapeuta. Assim, as vivências em grupos de THS
ressaltam tanto o processo quanto as técnicas.
Na ansiedade e outros diagnósticos, o THS é visto como um tipo de terapia
comportamental (Cuncic, 2019) com eficácia evidenciada na melhoria das
habilidades sociais, sendo frequentemente usado em combinação com a TCC e
farmacologia.
Como já sabemos, o início usual de um THS é pela avaliação dos déficits
interpessoais. Para detectar o problema, o treinador investiga quais interações
sociais são mais desafiadoras e quais habilidades podem ser melhoradas. Assim
que áreas-alvo específicas são identificadas, técnicas são projetadas para serem
executadas em um plano de ação para melhoria.

2
Na prática comum, o treinador delimita uma habilidade específica e explica
como executá-la para modelar um determinado comportamento. Picon e Penido
(2011) sugerem dividir comportamentos complexos em partes menores, por
exemplo, como se apresentar, conversar e sair de uma conversa. Junto com isso,
são discutidos comportamentos verbais e não verbais.
Sobre a eficácia do THS no tratamento do TAS, os resultados são ainda
mais significativos quando desenvolvidos junto a outras formas de intervenção
(Cuncic, 2019; Picon; Penido, 2014). Um exemplo é conjugar THS, TCC e
farmacologia.
Sardinha e Nardi (2014) incluem nas estratégias de modulação do estresse
e da ansiedade, treino de controle do estresse, relaxamento muscular progressivo,
exercícios de respiração, dessensibilização sistemática, exposição ao vivo e
virtual, exposição interoceptiva, exposição e prevenção de resposta.
O controle do estresse se dá pela análise funcional dos estressores e da
atuação objetiva e direta. Ela envolve, entre outros, relaxamento, alimentação,
exercício físico e TCC. O relaxamento muscular progressivo – RMP visa induzir
repouso corporal e psíquico. A respiração segue práticas tradicionais como a
yoga. Na dessensibilização sistemática, a pessoa instruída a relaxar é convidada,
após um determinado tempo, a imaginar uma situação geradora de ansiedade.
Cada evento obedece a uma hierarquia graduada de ansiedade. A exposição se
refere a enfrentamentos diversos em situações imaginadas, ao vivo ou virtuais. O
objetivo é a habituação ao medo, pelo enfraquecimento das associações com a
ansiedade, ou pela reestruturação das distorções cognitivas. A exposição
interoceptiva induz sensações físicas temidas e enfraquece respostas de medo
por habituação ou prevenção de respostas. Nessa ocasião, é feita a exposição
sistemática e gradual a situações evitadas, enquanto a pessoa é levada a não
executar rituais aliviadores da ansiedade.
Um programa estruturado para a efetividade interpessoal por meio da
psicoeducação, exposição e tarefas de casa é valorizado por Sardinha e Nardi
(2014). Nessa perspectiva, o treinamento visa manter o foco cognitivo,
ensinando/e ou refinando as habilidades sociais do indivíduos pela prática das
interações sociais. Nesse protagonismo, a psicoeducação informa ao paciente
sobre a natureza da ansiedade e dos temores sociais e modelo cognitivo do TAS.
A exposição, por sua vez, consiste em expor, ao vivo ou na imaginação, o sujeito
a situações ansiogênicas. Já as tarefas de casa visam programar atividades entre

3
sessões para a generalização dos comportamentos aprendidos ao cotidiano de
cada um.
Outros fatores de THS são utilizados no TAS, tais como desenvolver a
interpessoalidade por meio de desempenhos verbais e não verbais em situações
de interação, assertividade, empatia, solução de problemas e desenvolvimento da
autoconsciência.

TEMA 2 – TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NA DEPRESSÃO

As síndromes depressivas representam um problema prioritário de saúde


pública. Dalgalarrondo (2008) salienta o fato de um levantamento da Organização
Mundial da Saúde (OMS) apontar a depressão maior unipolar como a primeira
causa de incapacidade entre todos os problemas de saúde.
Falar em depressão é falar sobre uma doença que mata, já que 15% das
pessoas acometidas cometem suicídio (Saffi; Abreu; Lotufo Neto, 2011). Apesar
desses dados, a doença é tratável com recuperação relativamente rápida, e o THS
pode ser bem útil para isso.
Pessoas com depressão devem receber treinamento e tratamento
específicos sobre como interpretar e agir em situações sociais. Ellis (2014) reforça
esses dados com as informações de pesquisadores da Universidade Adelaide na
Austrália, sobre evidências de que pessoas depressivas experimentam situações
sociais coloridas por seus estados de humor negativamente tendenciosos e
interpretam sinais sociais de modo diferente de outras pessoas.
A depressão muitas vezes é vista em comportamentos emocionais tão
excessivos que se tornam aversivos (Wright et al., 2012) para amigos, entes
queridos e colegas de trabalho. Acontece, por exemplo em queixas ou tentativa de
dominar as conversas com as próprias preocupações, sem considerar o outro. Com
o tempo, os contatos interpessoais passam a ser evitados ou ocorre isolamento em
interações e redução do companheirismo e apoio social.
Em relação às pessoas com o transtorno, Caballo (2007, p. 329) diz que os
programas de THS foram feitos baseados na concepção de que a depressão está
vinculada a déficits interpessoais. Para ele, algumas das suposições incluídas
nessa abordagem são:

• A depressão é o resultado de um programa inadequado de reforço positivo


contingente do comportamento não deprimido do sujeito;

4
• Muitos dos reforços positivos mais importantes para adultos são
naturalização interpessoal;
• Um grande número de reforços não sociais depende do comportamento
interpessoal do indivíduo;
• Qualquer grupo de técnicas que ajude o paciente deprimido a aumentar a
qualidade de seu comportamento interpessoal deve aumentar o reforço
positivo contingente à resposta, diminuir o efeito depressivo e aumentar os
comportamentos não depressivos.

Becker e Heimberg (1985, citados por Caballo, 2007) nomeiam algumas


razões para o comportamento interpessoal inadequado em depressivos:

• Exposição insuficiente a modelos interpessoais qualificados;


• Maior exposição e aprendizagem a habilidades interpessoais
desadaptativas;
• Insuficiência de oportunidades para prática de hábitos interpessoais
saudáveis;
• Diminuição progressiva de habilidades comportamentais específicas;
• Não reconhecimento de sinais ambientais para efetividade interpessoal.

Um modelo de THS, baseado em relatos de atendimento pode contemplar


assertividade, habilidades de comunicação, resolução de problemas e elementos
cognitivos comportamentais como psicoeducação e reestruturação cognitiva.
A assertividade e as habilidades de comunicação podem ser trabalhadas
separadas ou conjuntamente. Mueen, Khurshid e Hassan (2006) citam quatro
dimensões da assertividade na depressão presente na literatura. Treinadores
devem trabalhar

1. preocupação com os direitos (os outros e eu);


2. expressar todos os sentimentos sem ansiedade ou culpa;
3. usar auto expressão socialmente apropriada; e
4. minimizar as consequências negativas de outras pessoas.

O comportamento assertivo deve ser avaliado dentro de um contexto social


e cultural, uma vez que normas culturais e sociais são a base para treinamento e
avaliação da eficácia e consequências do comportamento interpessoal.
A comunicação assertiva tem a ver com expressar o que o treinando sente
e pensar de uma maneira que possa ser verdadeiramente entendido pelos outros.

5
Para isso o treinamento é constante. Ao comunicar-se, o treinando deve ser levado
a fazê-lo de maneira clara, serena e oportuna. Treinar habilidades comunicacionais
envolve aumento da fluência verbal, melhorar componentes verbais e não verbais,
promover o relacionamento com o outro, desenvolver conteúdo apropriado em
conversa, aumentar as redes de apoio, desenvolver capacidade para iniciar, manter
e encerrar conversas, capacidade de mudar de assunto em diferentes conversas e
aumentar a autoestima.
A resolução de problemas visa ensinar ao indivíduo um modo sistemático
para a solução de problemas, o que pode ser feito em cinco passos (Vasquez-
Gonzales, 2002):

1. investigar a capacidade com que a pessoa enfrenta uma situação que a ela
parece ser um problema;
2. definir operacionalmente o problema e estabelecer meta em relação a como
resolvê-lo;
3. gerar soluções para um problema seguindo princípios de quantidade, não
julgamento e variedade de alternativas:
4. exercer a tomada de decisão, isto é a capacidade de escolher a melhor
alternativa; e
5. planejar e implementar a solução escolhida, bem como avaliar o sucesso
obtido.

A psicoeducação é aplicada como primeiro passo para depressivos no


sentido de orientar sobre o significado do THS, e intervenções breves podem
reduzir sintomas em cuidados primários.
Na depressão, o pensamento inútil na forma de crenças disfuncionais e/ou
distorções cognitivas é como qualquer outro mau hábito que ocorre de modo
automático. O trabalho no THS é tornar a pessoa mais consciente do que está
acontecendo em sua mente e mudar a maneira como está pensando para melhor.
Ao ajudar a pessoa a identificar, desafiar e alterar padrões e crenças que induzem
ao estresse, a técnica substitui os hábitos que levam à depressão.

TEMA 3 –TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NA ESQUIZOFRENIA

Na visão de Kopelowicz, Liberman e Zarate (2006), o THS consiste em


atividades de aprendizagem por meio de técnicas comportamentais que permitem
a esquizofrênicos e a pessoas com outros transtornos mentais incapacitantes

6
adquirir gerenciamento interpessoal e habilidades para melhorar a vida em suas
comunidades. Um grande e crescente corpo de pesquisa apoia a eficácia do
treinamento do THS para a esquizofrenia. Quando o tipo e a frequência do
treinamento estão ligados à fase do distúrbio, os pacientes podem aprender e reter
uma ampla variedade de habilidades sociais e independentes. A generalização da
aprendizagem na vida cotidiana ocorre diante de oportunidades, incentivo e reforço
para praticar habilidades mais saudáveis
O empobrecimento global da vida afetiva, cognitiva e social do indivíduo
esquizofrênico, ao apresentar os sintomas elencados a seguir (Dalgalarrondo,
2008, p. 329), ao nosso ver, é essencial para entender o uso integrado de THS no
tratamento de pacientes:

1. Distanciamento afetivo em graus variáveis até o completo embotamento


afetivo: perda da capacidade de sintonizar afetivamente com as pessoas, de
demonstrar ressonância afetiva no contato interpessoal;
2. Retração social: o paciente vai se isolando progressivamente do convívio
social;
3. Empobrecimento da linguagem e do pensamento (alogia);
4. Diminuição da fluência verbal;
5. Diminuição da vontade (avolição) e hipopragmatismo, ou seja, dificuldade ou
incapacidade de realizar ações, tarefas, trabalhos, minimamente
organizados, que exijam o mínimo de iniciativa, organização e monitorização
comportamental e persistência;
6. Negligência quanto a si mesmo, que se revela pelo descuido consigo mesmo,
pela falta de higiene, por desinteresse em relação à própria aparência, saúde
e vestimentas etc.;
7. Lentificação e empobrecimento psicomotor com restrição do repertório da
esfera gestual e motora.

Mesmo que alguns estudos denotem não ser o THS efetivo no sentido
particular junto a esquizofrênicos não funcionais, dados indicam que, quando
integrado a um serviço de saúde mental com monitoramento adequado de
medicação e acompanhamento individual, ele denota eficácia (Neufeld; Carvalho,
2014, p. 160).
O THS em indivíduos com esquizofrenia, juntamente com outros serviços
baseados em evidências, atenua e compensa os efeitos nocivos dos déficits
cognitivos, a vulnerabilidade neurobiológica, os eventos estressantes e os
7
desajustes sociais. Kopelowicz, Liberman e Zarate (2006) dão destaque a isso e
acrescentam que as habilidades de enfrentamento e a competência social
conferem não apenas proteção contra a recaída induzida pelo estresse, mas
também resiliência, apoio interpessoal, afiliação social e melhoria da qualidade de
vida.
Caballo (2007) apresenta uma série de procedimentos para trabalhar THS
na esquizofrenia, por meio de assertividade, habilidades de conversação,
atividades recreativas, comunicação com a família e solução de conflitos. Isso inclui
elementos de modelação, ensaio comportamental e representação de papeis, além
de trabalhar o THS na percepção social. Nesse caso, o objetivo seria treinar o
sujeito a atender e interpretar sinais interpessoais, compreender sentimentos e
motivos de outras pessoas e as variáveis ao redor para determinar respostas
adequadas.
A modelação é usada para encorajar o paciente a observar pessoas, tanto
os colegas e os familiares quanto o próprio terapeuta no exercício de HS para
verificação de respostas apropriadas (contato visual, escuta ativa e outros). Já no
ensaio comportamental, o paciente pratica técnicas sociais em exercícios
estruturados em que ele representa um papel. O terapeuta utiliza feedback corretivo
e utiliza aprovação para reforçar o progresso (Weiten, 2010).
É preciso considerar em nossa avaliação duas particularidades na aplicação
de THS a esquizofrênicos:

1. postura atenta de modo a não permitir sinais de confronto, o que pode facilitar
a interação terapeuta-paciente;
2. postura de reconhecimento e familiaridade para diminuir o quadro de
esquisitice manifestado pelo paciente e também para minimizar a tendência
ao isolamento.

TEMA 4 – TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NO TRANSTORNO DE


PERSONALIDADE BORDERLINE

O THS em indivíduos caracterizados por comportamento suicida crônico e


diagnosticados por transtorno de personalidade borderline – TPB é bastante
influenciado pelo trabalho de Marsha Linehan, que é a criadora da terapia
comportamental dialética – TCD.

8
A história pessoal de Marsha é impulsionadora de seu trabalho atual. Entre
adolescência e vida adulta, ela apresentou autoaversão e autodestrutividade,
sendo hospitalizada por mais de dois anos. Durante esse período, ela se queimava,
se cortava, batia a cabeça repetidamente e tentou se matar várias vezes.
Diagnosticada como esquizofrênica, passou o tempo reclusa, foi submetida a
tratamento de choque e recebeu alta sem cura. Entre idas e vindas, Marsha
percebeu que tinha que se aceitar exatamente como era, mas igualmente tinha que
mudar radicalmente a si mesma de todas as formas diferentes e difíceis. A dialética
de aceitação aparentemente paradoxal, com o compromisso de mudar, e a sua
dedicação à psicologia é que a tiraram das profundezas.
O treinamento de habilidades com influência da TCD ajuda os indivíduos a
modificar padrões comportamentais, emocionais, interpessoais e de pensamento
associados com os problemas na vida. Considera-se nessa perspectiva que o
paciente com TPB apresenta desregulação emocional que é caracterizada por
sofrimento emocional insuportável.

O TPB é um grave transtorno mental, resultante da severa desregulação


do sistema emocional. Indivíduos com TPB mostram um padrão
característico de instabilidade na regulação das emoções, no controle de
impulsos, no relacionamento interpessoal e na autoimagem (Linehan,
2018, p. 5).

Um indivíduo com desregulação emocional é incitado a queixar-se, provocar


e atacar ou afastar-se dos outros. Leahy, Tirch e Napolitano (2013) explicam que,
nesse quadro, a pessoa fica ruminando sobre suas emoções, tentando descobrir o
que está acontecendo, o que a faz mergulhar ainda mais na depressão, no
isolamento e na inatividade.

Os estilos problemáticos de enfrentamento dos problemas podem


reduzir temporariamente a agitação (p. ex. beber álcool reduz a
ansiedade a curto prazo), mas também prejudicar a administração das
emoções posteriormente. Tais soluções temporárias (comer
compulsivamente, esquiva, ruminação e abuso de substâncias) podem
funcionar em um primeiro momento; contudo, as soluções pode se
tornar um problema (Leahy; Tirch; Napolitano, 2013, p. 20)

Linehan (2018) entende que as habilidades a aumentar no TPB devem


compreender: habilidades de mindfulness, habilidades de efetividade interpessoal,
habilidades de regulação emociona e habilidades de tolerância ao mal-estar. A
meta geral no treinamento de habilidades em TPB compreende ajudar os indivíduos
a mudar os padrões comportamentais, emocionais e interpessoais associados com

9
os problemas da vida cotidiana. Vejamos os detalhes da psicóloga americana
Marsha Linehan (2018) sobre as habilidades a serem trabalhadas.

4.1 Habilidades de mindfulness

Essas habilidades são centrais e as primeiras a serem ensinadas e


funcionam como o alicerce de todas as outras. Podem ser entendidas como
traduções psicológicas e comportamentais das práticas de meditação da formação
espiritual oriental. Sua prática é considerada essencial tanto para terapeutas e
treinadores quanto para os participantes. Um modo de entendê-la é relacioná-la
com a qualidade da consciência ou a qualidade da presença que uma pessoa traz
à vida cotidiana. Refere-se ao processo intencional de observar, descrever e
participar na realidade no momento, com efetividade e de modo não julgador. É
estar consciente e atento ao momento presente.

4.2 Habilidades de efetividade interpessoal

São habilidades que incluem estratégias efetivas para a pessoa solicitar o


que precisa, dizer não e administrar conflitos interpessoais habilmente. A
efetividade nessa prática tem a ver com “fazer o que funciona” nessas áreas.
Ensina-se aos participantes a aplicar habilidades interpessoais específicas de
soluções de problemas sociais e de assertividade para modificar ambientes
adversos e conquistar seus objetivos em relações interpessoais. Basicamente é um
curso de assertividade, cujo objetivo é fazer o paciente conseguir afirmar seus
próprios desejos, objetivos e opiniões, de modo a induzir outras pessoas a
responder favoravelmente.

4.3 Habilidades de regulação emocional

Como outras habilidades, a regulação emocional vale-se das habilidades de


mindfulness para, nesse caso, observar e descrever, com uma postura não
julgadora, as respostas emocionais atuais. A ideia básica é que o desconforto
emocional é resultante de respostas secundárias (por exemplo, vergonha,
ansiedade ou raiva extrema) às emoções primárias (por exemplo, medo e tristeza).
Para reduzir o desconforto emocional, usa-se a exposição à emoção primeira em
uma atmosfera livre de julgamentos. O trabalho é voltado para entender, identificar

10
e nomear as emoções, identificar suas funções e sua relação com as dificuldades
em modificar emoções e entender a natureza das emoções.

4.4 Habilidades de tolerância ao mal-estar

As habilidades de tolerância ao mal-estar firmam uma progressão natural


das habilidades de mindfulness. Estão relacionadas à capacidade de aceitar, de
modo não avaliativo e não crítico, tanto a si mesmo quanto a situação atual. De
modo fundamental, a tolerância ao mal-estar é a capacidade de perceber o
ambiente sem fazer exigências para torná-lo diferente: de experimentar o atual
estado emocional sem tentar alterá-lo, e de observar seus próprios pensamentos e
padrões de ação sem tentar impedi-los ou controlá-los. Segundo Linehan (2018), é
importante esclarecer que a postura não crítica não significa aprovação.
Como autora do livro Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia
comportamental dialética para o terapeuta, Marsha Linehan (2018) ilustra um
programa de treinamento de habilidades para pacientes com TPB com o seguinte
cronograma de 12 meses:

Quadro 1 – Cronograma de treinamento de habilidades para TBP

TREINAMENTO DE HABILIDADES PARA TBP


Orientação + mindfulness 2 semanas
Efetividade interpessoal 5 semanas
Orientação + mindfulness 2 semanas
Regulação emocional 7 semanas
Orientação + mindfulness 2 semanas
Tolerância ao mal-estar 6 semanas (24 semanas, 6 meses)
Orientação + mindfulness 2 semanas
Efetividade interpessoal 5 semanas
Orientação + mindfulness 2 semanas
Regulação emocional 7 semanas
Orientação + mindfulness 2 semanas
Tolerância ao mal-estar 6 semanas (48 semanas, 12 meses)
Fonte: Linehan, 2018, p. 26.

TEMA 5 – TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NO AUTISMO

Nunes e Serra-Pinheiro (2014) explicam que pacientes autistas


apresentam, antes dos três anos, anormalidades qualitativas na interação social

11
e na comunicação, além de interesses específicos, atípicos, inflexibilidade e
comportamentos repetitivos. As três áreas têm graus diferentes de acometimento
para cada indivíduo, mas todas mostram-se alteradas no autismo. Esse transtorno
mostra uma tríade sintomatológica.

5.1 Interação social

Sujeitos autistas aparentemente não percebem os outros. Quando bebês,


elas não sorriem para seus cuidadores, não respondem a vocalizações e, de modo
geral, rejeitam ativamente o contato físico com as pessoas (Gazzaniga;
Heatherton, 2005). Esse quadro sintomático faz com que essas pessoas, crianças
ou adultos se isolem socialmente. São comportamentos típicos: evitar o contato
visual com pares, não responder quando chamado, esquivar-se de atividades em
grupo ou não manifestar empatia social ou emocional.

5.2 Comunicação

Os déficits na comunicação apresentam-se como atrasos ou ausência total


da linguagem falada e a limitada compreensão de enunciados verbais e não
verbais (Nunes; Serra-Pinheiro, 2014). Crianças com autismo têm a fala alterada
na sua forma e na sua quantidade e isso, ao aparecer na fase escolar, as
diferencia de outras crianças com transtornos específicos de linguagem. No
autismo, mesmo quando há vocalizações, eles não surgem com a intenção de
comunicar, apresentando padrões estranhos de fala como a ecolalia (repetição de
palavras ou frases e a reversão de pronomes (trocar “você” por “eu”, por exemplo).

5.3 Comportamento

Autistas podem mostrar hábitos rígidos e difíceis de flexibilizar, como


preferir uma determinada comida, isolando todos os outros alimentos. Embora,
como explicam Gazzaniga e Heatherton (2005), os autistas pareçam ignorar as
pessoas que as cercam, eles estão agudamente conscientes do seu entorno.
Qualquer mudança na rotina diária ou na distribuição de móveis ou brinquedos,
por exemplo, é muito perturbadora e pode resultar em extrema agitação e ataques
de raiva.
O autismo não tem cura, mas dados de pesquisa ressaltam melhorias
funcionais em crianças expostas a programas de intervenção antes dos 5 anos, o
que pode ser atribuído à plasticidade cerebral nos primeiros anos de vida (Nunes;
12
Serra-Pinheiro, 2014). O THS deve ter como objetivo desenvolver habilidades
funcionais e reduzir comportamentos desadaptativos. Inclui, entre as habilidades,
a comunicação (expressiva e receptiva), a comunicação não verbal, a
comunicação simbólica funcional e as habilidades cognitivas.
Em qualquer das práticas, o treinador trabalha no sentido de promover o
desenvolvimento comportamental “correto”. A ideia básica é utilizar um sistema
de recompensa (comportamento motivado por recompensa) para ensinar o autista
a reconhecer e aplicar habilidades sociais normais.
Um modelo de THS indicado por Belline (2019) no autismo pode se basear
em:

1. avaliar o funcionamento social;


2. distinguir entre aquisição de habilidades e déficits de desempenho;
3. selecionar estratégia de intervenção, implementar intervenção;
4. avaliar e monitorar o progresso.

O objetivo da avaliação do funcionamento social é responder à questão: “o


que impede o sujeito de estabelecer e manter relações sociais?”. Sobre distinguir
entre déficits de aquisição de habilidades e déficits de desempenho, o primeiro
refere-se à ausência de uma habilidade ou comportamento específico (ex.: não
saber como participar efetivamente de atividades com outras pessoas). O
segundo diz respeito a uma habilidade ou comportamento presente, mas não
demonstrados ou realizados (ex.: a criança tem a habilidade para ingressar numa
atividade, mas falha em fazê-lo). Ao selecionar estratégias de intervenção, é
importante considerar a noção de acomodação x assimilação. A acomodação
refere-se à modificação do ambiente físico ou social para promover interações
sociais positivas. A assimilação compreende mudanças na criança que são as
instruções para facilitar o desenvolvimento das habilidades. Para implementar a
intervenção, a instrução de HS deve ser fornecida em várias configurações (casa,
sala de aula, sala de recursos, playground, comunidade etc. Embora tenha sido
listado como último estágio do processo de intervenção, avaliar e modificar pode
ser feito já a partir do início do trabalho. Uma vez identificados déficits iniciais, eles
podem ser tratados para ajudar a sequência do treinamento.
Algumas rotas do THS incluem:

• Usar métodos convencionais como praticar o reconhecimento de emoções


através de imagens, fazendo com que o sujeito, ao olhar para um rosto,

13
possa descrevê-lo como feliz ou triste. Ao fazer isso, deve-se buscar o
porquê da emoção;
• Desenvolver a prática em grupo por meio de cumprimentos de papéis ou
cenários cotidianos;
• O treinador pode trocar as fotos convencionais por clipes curtos com
benefício adicional de sons. Videoclipes ajudam a ensinar sobre linguagem
corporal e comunicação

14
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