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AULA 1

EMOÇÃO, MEMÓRIA E
APRENDIZADO

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


INTRODUÇÃO

Parece haver consenso entre estudiosos e especialistas de que a emoção


é um conceito complexo, sendo necessário compreender os elementos que a
caracterizam e as teorias que a explicam para estudar que conexões têm nossas
sensações com esta ou aquela região do cérebro.
O avanço da neurociência em favor de um entendimento sobre a
neurobiologia das emoções ainda apresenta muitas dúvidas, mas pesquisadores
e teóricos têm fornecido subsídios importantes para que se tenha, mesmo que
ainda incipiente, um modelo para entender as emoções.

TEMA 1 – EMOÇÃO HUMANA

Ao acordar pela manhã, a jovem mãe vê o sorriso fofo do seu bebê e sente
acelerar as batidas do coração, ao mesmo tempo que as mãos parecem suar. Na
calçada, o senhor idoso dá um pulo para ao lado e percebe o esvaziar de sangue
em seu rosto, ele está pálido, o carro que deu uma freada bem em sua frente
arranca em disparada. O vendedor sai da reunião com o seu chefe sentindo dor
de estômago e uma sensação de azia. Essas pessoas não param a fim de avaliar
se o que sentiram de manhã, na calçada ou na reunião foi amor, medo ou
vergonha. Na verdade, nós não nos detemos para verificar quais ou quantas
sensações expressamos durante um dia inteiro, mas por certo elas são tantas
quem sequer sabemos nominá-las.
Se você tivesse um sensor cerebral de suas emoções, no momento em que
estivesse sentindo tristeza, ele detectaria movimentos na amígdala e no córtex
pré-frontal esquerdo, áreas do “cérebro emocional”. Talvez essa tristeza pudesse
ter surgido quando você percebeu a pessoa ao lado no ônibus, ou porque você
ficou esperando o seu parceiro no restaurante para aquele jantar previamente
combinado e ele não apareceu.
Como seria viver sem as “sensações” aqui referidas?, Imagine alguém
como Cyberdyne Systems Model 101 Series 800, ou simplesmente “o
exterminador”, como as pessoas chamam T-800, o androide matador do filme “O
Exterminador do Futuro”. Mesmo que a máquina interpretada por Arnold
Schwarzenegger tenha trocado de lado na sequência da série para proteger John
Connor, na guerra contra as máquinas, ele não passava de um robô e, como tal,

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sem emoções, embora trabalhasse com capacidades como razão, percepção,
pensamento, memória e tomada de decisão.
As sensações da jovem mãe, do idoso na calçada ou do vendedor após a
reunião com seu chefe são reações a estímulos que ativaram áreas do cérebro
de cada um deles. Essa área, chamada de córtex, está presente nos humanos e
mamíferos e ausente na maioria dos animais. A essa altura, você já percebeu que
estamos nos referindo às respostas do organismo diante de um determinado
estímulo, ou, melhor dizendo, as emoções. Se um cão balança o rabo ou um
humano sorri, isso que entendemos por emoção vem dos mesmos circuitos de
sobrevivência do cérebro, que é similar em todos os mamíferos. Todavia, animais
e humanos sentem as emoções de forma diferente, especialmente porque as
emoções humanas, na visão da neurociência, são mais complexas.
Nós, seres humanos, nos orgulhamos de nos diferenciarmos das outras
espécies pela inteligência e pela razão, mas, diante de uma autoanálise sobre o
que acontece apenas durante um dia de vida de um de nós, quantas vezes o que
decidimos pretensamente pela razão foi influenciado pela emoção? É costume
ouvirmos referência de que a capacidade de gerenciar nossas emoções é a chave
para o sucesso em muitos campos. A toda hora ouvimos dizer que determinadas
pessoas são hábeis e talentosas, mas não progridem porque lhes falta inteligência
emocional.
A Psicologia Cognitiva nos faz entender que a maioria dos nossos
problemas emocionais não são sempre causados por eventos ou circunstâncias,
mas também por nossas crenças, atitudes e reações. Os comportamentos
humanos responsivos às emoções têm efeitos profundos em nossas vidas, quer
em decisões pessoais, quer em escalas mais amplas, como as políticas públicas
e os assuntos internacionais geradores de decisões conflitantes e críticas.
Se você estiver caminhando no parque e, de repente, vê uma cobra
rastejando em sua direção, a amígdala organiza sua resposta e outra região do
cérebro, o hipocampo, armazena aquela sensação. Estudiosos e especialistas se
interessam em saber como sensações de medo e outros sentimentos avisam o
nosso organismo de que algo está errado e de que é preciso se preparar para
lutar ou fugir. Isso implica saber como o corpo responde às emoções e se elas
surgem do cérebro.
Por meio da neurociência, nos detemos ao cérebro, que usa o oxigênio da
atmosfera terrestre, nos possibilita existir por intermédio de redes neuronais

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complexas e nos ajuda a entender melhor nossas emoções e nossos
comportamentos. Armory e Vuilleumier (2013, p. 1) entendem que o avanço no
entendimento biológico da emoção “é bastante recente, especialmente em
comparação com outros processos mentais, como visão, linguagem, atenção ou
memória”. Isso é atribuído em grande parte ao surgimento de técnicas de
neuroimagem funcional não invasivas (tomografia, eletroencefalografia,
magnetoencefalografia e ressonância magnética.). Afinal, o que é emoção?

TEMA 2 – DEFININDO A EMOÇÃO

Saiba mais
 Emoção são sentimentos que envolvem avaliação subjetiva, processos
psicológicos e crenças cognitivas.

É certo que cada um de nós tem uma noção individual sobre a emoção,
mesmo que seja por meio de um processo intuitivo. Definir, porém, o seu
significado, é algo mais complexo. Assim pensa Gazzaniga e Heatherton (2005,
p. 315) ao dizerem que, “para cientistas psicológicos, a emoção (ou o afeto) se
refere a sentimentos que envolvem avaliação subjetiva, processos fisiológicos e
crenças cognitivas”.
O entendimento de uma subjetividade na emoção mostra que não há ainda
um consenso sobre o que é a emoção, qual o seu lugar em uma teoria da mente
e do comportamento, e as controvérsias existentes incluem quantas emoções
existem e quais delas são mais básicas que outras (Ledoux, 1995).
A convicção de que a emoção envolve componentes cognitivos, fisiológicos
e comportamentais aparecem na definição de Weiten (2010, p. 286): “emoção
envolve (1) experiência subjetiva consciente (o componente cognitivo), (2)
acompanhada de uma estimulação corporal (o componente fisiológico) e (3) de
claras manifestações características (o componente comportamental)”.
Ao conhecer os componentes fisiológicos, psicológicos e sociais da
emoção, é possível aproximá-la de uma visão neurobiológica como a que propõe
Marinho (2005, p. 44, citado por Silva, 2019, p. 81, no prelo):

emoção é uma reação aguda que envolve pronunciadas alterações


somáticas, experimentada como uma situação mais ou menos agitada.
A sensação e o comportamento que expressam, bem como a resposta
fisiológica interna à situação-estímulo, constituem um todo intimamente
relacionado, que é a emoção propriamente dita.

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O corpo, o cérebro e a mente parecem estar conectados durante todo o
tempo de nossas vidas, e para usar a expressão textual de Damásio (2011):
“corpo e cérebro executam uma dança interativa contínua. Pensamentos
implementados no cérebro podem induzir estados emocionais que são
implementados no corpo, enquanto este pode mudar a paisagem cerebral e,
assim, a base para os pensamentos”.
Sobre este autor, tendo como referência a ansiedade, é oportuno destacar
a presença de elementos como avaliação, sensação, intencionalidade,
sentimento, comportamento motor e componente interpessoal. Vamos imaginar
uma situação de alguém que precisa entregar um relatório de trabalho em um
determinado prazo e avalia que não conseguirá concluí-lo no tempo certo
(avaliação). Ele sente o coração bater mais rapidamente (sensação), foca o
pensamento sobre o quanto pode ser competente com a tarefa (intencionalidade),
passa a vida de forma negativa (sentimento), seu corpo se agita (comportamento
motor) e expressa aos outros que está tendo um dia ruim (interpessoal). Dois
pontos merecem esclarecimento: (1) o entendimento do cérebro quanto às
emoções e (2) saber quais emoções se vinculam às regiões cerebrais. Qual parte
de nós faz com que tenhamos sentimentos de felicidade, paixão, medo ou
aversão? De onde vem o estado emocional que procuramos para compensar uma
explosão de raiva?

TEMA 3 – COMPONENTES DA EMOÇÃO

Saiba mais
Comportamental Fisiológico Cognitivo
Manifestações e Estimulação corporal Experiência subjetiva
expressões consciente
Os momentos mais significativos da existência humana são caracterizados
pela emoção. Lembre-se da jovem mãe encantada com o sorriso do seu bebê, o
susto do idoso ante a manobra arriscada do carro, a irritação e vergonha do
vendedor ao ter uma reunião humilhante com o seu chefe. Pense em você mesmo
na hora de encontrar uma pessoa amada que não vê há muito tempo, no pesar
por perder alguém também amado, na irritação quando alguém lhe trata de
maneira rude, na consternação pela doença do seu cãozinho. Com certeza, pela
importância que tem para os seres humanos, justifica-se o impulso crescente das
pesquisas sobre a emoção nos dias de hoje.

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Por ser uma experiência singular, considerando-se as contribuições de
Gazzaniga, Weiten, Marinho e Damásio, é essencial discutir a emoção com base
em seus elementos de caráter subjetivo, fisiológico e cognitivo.
Sabe-se que há uma série de emoções que se apresenta como universal e
básica pela espécie humana. Em um estudo, foram mostradas fotos a pessoas de
cinco países, Chile, Argentina, Brasil, Japão e Estados, e depois solicitado às
pessoas que julgassem a emoção exposta em cada expressão facial. A maioria
chegou a uma mesma conclusão, indicando a existência de emoções universais.
Esse foi um dos experimentos relatados por Ekman (2011, p. 21) em um amplo
estudo subvencionado pela Advanced Researcg Projects Agency, a Arpa, dos
Estados Unidos. O trabalho de Ekman de avaliar expressões faciais de milhares
de indivíduos em culturas diferentes durante os 40 anos em que foi professor da
Universidade da Califórnia possivelmente tenha influenciado sua defesa de cinco
emoções humanas básicas: raiva, nojo, alegria, medo e tristeza.
Se, aparentemente, Darwin tinha razão quanto ao caráter universal das
emoções, os estudos continuados mostram que também existe singularidade em
emoções expressadas por cada indivíduo. Nessa lógica, diante de um evento
qualquer, uma pessoa que manifeste sentimentos de raiva e tem tendência de
insultar, quebrar, está tendo uma emoção de viés comportamental que não é
exatamente igual ao de outras pessoas. Diante de um determinado evento, ela
pode sentir o coração bater mais, o calor tomar conta do rosto, expondo o caráter
fisiológico da emoção que é sua, ou ainda, deixar-se emocionar por crenças
pessoais sobre os outros e sobre o mundo em um processo emocional cognitivo.

3.1 Componente comportamental

Você está prestes a chegar à casa de um vizinho com quem você se


desentendeu recentemente por barulhos que este fazia na madrugada, a ponto
de fazê-lo chamar a polícia. Nada aconteceu, a polícia não veio e ficou por isso
mesmo. A situação se repetiu outras vezes e você mandou uma carta ameaçando
procurar as autoridades se ele não parasse com a “barulheira”. Ao chegar em casa
à tarde, havia um bilhete embaixo da porta. “Venha em minha casa, estou lhe
esperando hoje quando você chegar do trabalho”. Sua reação ao ler o bilhete foi
de medo a irritação. Você pensou e ir lá e dizer alguns xingamentos, depois
imaginou-se em luta corporal, mudanças na postura, expressão facial e
vocalizações. Ante o histórico do que se passou na sua mente e a eminência do

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encontro com a pessoa, você teve mudanças de postura, expressões faciais e
vocalizações, comportamento e emoção.
Do ponto de vista comportamental, a emoção possivelmente seja
facilmente observável, o que não significa que seja facilmente compreendida. Isso
ocorre pela tendência das pessoas em descrever o seu comportamento como algo
que não está ligado à emoção em si. É relevante na emoção comportamental a
presença das expressões faciais que, nos diferentes estudos, como no de Paul
Ekman, trazem indicativos de que essas expressões são sim inatas e universais,
pois as pessoas apresentam as mesmas expressões faciais para cada emoção, e
não parece difícil para qualquer um identificá-las. Acredita-se que esse
componente comportamental influencia as relações sociais. Por exemplo, se
vemos alguém chorar, pensamos que ela não está bem e que pode precisar de
ajuda.
O comportamento emocional é um reflexo direto das respostas fisiológicas
de uma pessoa sobre o evento, o que nos leva aos outros componentes da
emoção.

3.2 Componente fisiológico

Imagine que você vai ter que apresentar um relatório sobre o trabalho do
seu departamento para um auditório de pessoas que reúne funcionários da sua
empresa e clientes em geral; logo, você que detesta falar em público. Na sua
mente, vem sua última experiência em uma sala pequena com apenas sete
pessoas. Você lembra os olhares de troça, os risos pela sua má performance e
sente medo, taquicardia, sudorese. As reações físicas refletidas no seu corpo
dizem respeito ao componente fisiológico da emoção.
Para Collin et al. (2012, p. 43), a vinculação das emoções às condições
fisiológicas aparece na Teoria das Emoções de James Lange. Diante de uma
situação de medo, de um animal selvagem, por exemplo, a pessoa sai correndo
e, em situações como esta, para Willian James, é a “percepção da mente acerca
dos efeitos físicos de correr – respiração ofegante, batimento cardíaco acelerado
e transpiração intensa” que corresponde à emoção de medo.
No exemplo de alguém que, ante um evento de falar em público, manifesta
no corpo aceleração cardíaca, tremor, tensão muscular, a sensação de vergonha
pode levar a pessoa a corar e essas respostas fisiológicas podem causar
mudanças comportamentais ante o ímpeto de escondê-las.

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O componente fisiológico usa a energia da emoção para alertar para a
defesa, é uma espécie de recurso para nos salvar do perigo e também nos levar
a ser mais efetivos ao responder e provocar mudanças nos neurotransmissores,
como, nesse caso, a adrenalina. Kleinman (2015, p. 155) entende que a Teoria
Cannon-Bard, criada por Walter Cannon e Philip Bard, explica as reações
fisiológicas como um processo simultâneo com as emoções: “a parte do cérebro
responsável pelo controle motor, pelos estados de sono e vigília e pelos sinais
sensoriais envia uma mensagem ao cérebro como resposta a determinado
estímulo.” O resultado dessa mensagem sendo transmitida é uma reação
fisiológica e suas mudanças são verificadas no sistema nervoso simpático.
Parece não haver dúvida de que, em qualquer evento emocional, é visível
a sensação física do tipo “o que estou sentindo em meu corpo”, embora isso não
signifique uma leitura correta aos olhos de outros. A animação pode fazer o
indivíduo andar para lá e para cá da mesma forma que faria se estivesse ansioso,
entretanto, podemos olhar a pessoa ansiosa como alguém que está tendo medo.
Para quem sente a emoção, contudo, é uma sensação fisiológica e pode, por
exemplo, ser sentida como ansiedade ou raiva.
Se o comportamento emocional é um reflexo direto das respostas
fisiológicas das pessoas, é também o reflexo direto de seus pensamentos acerca
do evento.

3.3 Componente cognitivo

Após assistir “Os Vingadores”, você e dois amigos comentam sobre o que
aconteceu no filme, especialmente o visual de Thor, o Deus Trovão, que, após o
avanço do tempo, se tornou gordo, cabeludo e barbudo, bem diferente de sua
aparência habitual. Um de seus amigos olha para você e diz: “Nossa! Você é
gordo que nem o Thor”. A sua reação à fala do amigo é subjetiva. Você pode
pensar nas críticas que têm recebido ultimamente por não ter levado adiante uma
dieta, ter pensamentos do tipo “ninguém me leva a sério, por não diminuir o peso”,
“engordo facilmente”, ser gordo significa ser desprezado”. Nesse caso, você
poderá discutir com o amigo, sentir-se rejeitado e envergonhado, entre outros. No
entanto, se você não vê a sua gordura como algo ruim, se você habituou-se com
seu corpo a ponto de não se preocupar com isso, ao ouvir a fala do amigo, você
também ri e até concorda com ele.

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O que se destaca em uma emoção é como eu interpreto a situação. Um
evento surge e eu penso a respeito baseado em eventos anteriores similares. Isso
ocorre pelo grande número de pensamentos que passa pelas nossas cabeças.
Na visão de Wright, Basco e Thase (2008, p. 19),

[...] estes pensamentos fazem parte de um fluxo de processamento


cognitivo que se encontra logo abaixo da superfície da mente totalmente
consciente. Estes pensamentos automáticos normalmente são privativos
ou não-declarados, e ocorrem de forma rápida à medida que avaliamos
o significado de acontecimentos em nossas vidas.

Pensamentos automáticos são como pequenos programas de computador


em nossa mente. Eles surgem de modo instantâneo como uma resposta a
estímulos externos. O sinal de que uma pessoa está respondendo a um
pensamento automático é a presença de emoções fortes.
Stanley Schachter é lembrado quando falamos que a emoção reúne
interação com excitação fisiológica e avaliação cognitiva. Psicoterapeutas como
Wright, Basco e Thase (2008), ao tratarem do modelo cognitivo-comportamental,
explicam que frequentemente as reações emocionais estão associadas a
processos cognitivos. No caso de ansiedade, por exemplo, as respostas
produzidas são estimuladas por cognições desadaptativas.

TEMA 4 – TEORIAS DA EMOÇÃO

Diferentes teorias explicam as emoções, o que indica que elas podem ser
consideradas sob distintos pontos de vista. Como vimos anteriormente, as
emoções humanas se assemelham às emoções animais, embora deles também
se diferenciem pela complexidade. A emoção de uma pessoa reflete de certo
modo o seu ambiente social, mas também mostra o entendimento de que é
provável terem sido moldadas pela seleção natural das espécies. Tais
características aparentemente antagônicas dificultam a elaboração de um escopo
teórico que as explique. O que temos são teorias construídas ante o contexto em
que são explicadas e desenvolvidas.

4.1 Teoria James-Lange

Saiba mais
 A experiência da emoção é eliciada por uma resposta fisiológica a um
determinado estímulo.

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Cherry (2019) explica a teoria proposta por William James e Carl Lange
(década de 1920) como resultado de reações fisiológicas a eventos. A resposta
emocional depende de como a pessoa reage às reações físicas. Por exemplo,
diante de um evento que provoque ciúmes, você responde com choro, aumento
da pulsação, sudorese e tremor, que podem estar associados à tristeza e à raiva.
“De acordo com esta visão, padrões diferentes de ativação autônoma conduzem
à experiência de emoções distintas (Weiten, 2010, p. 291).

4.2 Teoria Cannon-Bard

Saiba mais
 Os estímulos ambientais produtores da emoção eliciam tanto uma reação
emocional como uma reação física.

Por essa teoria, criada por Walter Cannon e Philip Bard (década de 1930),
“as emoções ocorrem quando o tálamo – a parte do cérebro responsável pelo
controle motor, pelos estados de sono e vigília e pelos sinais sensoriais – envia
uma mensagem ao cérebro como resposta a determinado estímulo” (Kleinman,
2015, p. 155). O que se percebe nessa teoria é que o resultado do que a pessoa
recebe é uma resposta fisiológica. De uma forma simples, o autor explica que um
determinado estímulo levado ao córtex para definir como a resposta será
encaminhada acaba por estimular o tálamo, o que gera uma interpretação. Se
você estiver a noite em um lugar escuro e ver dois homens se aproximando
rapidamente, você sente o tremor e o coração bate forte e, ao mesmo tempo, a
emoção do medo.

4.3 Teoria Schachter-Singer

Saiba mais

A emoção é baseada em dois fatores: excitação fisiológica e rótulo cognitivo.

A teoria criada por Stanley Schachter e Jerome Singer (1962) resgata


Willian James, criticado por Walter Cannon, sobre a concepção de que a resposta
somática prece a experiência emocional. Também chamada de teoria de dois
fatores (excitação fisiológica e interpretação da emoção), as ideias de Schachter
correspondem a um exemplo de teoria cognitiva. Na visão de Weiten (2010, p.
292), essa teoria apresenta um ponto crítico; “as situações não podem moldar as

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emoções de determinado modo a qualquer tempo. E na busca para explicar a
estimulação, os sujeitos não se limitam à situação”.
Segundo Moors (2009), a teoria dos dois fatores mostra que o grau de
excitação (elemento somático) determina a intensidade da emoção, enquanto a
atribuição (elemento cognitivo dá a qualidade da emoção.

4.4 Teoria de Lazarus

Saiba mais
 A sequência de eventos envolve primeiro um estímulo, seguido de um
pensamento que leva à experiência simultânea de uma resposta fisiológica e
da emoção

Criada por Richard Lazarus (década de 1990), essa teoria postula que,
antes de uma emoção ou excitação fisiológica, ocorre um pensamento. A pessoa
pensa antes de sentir qualquer emoção. No exemplo dado de caminhar no escuro,
o pensamento de que os dois homens que se aproximam são ladrões tem como
resultado alteração cardíaca, tremor, e daí o medo.

4.5 Teoria de feedback facial

Saiba mais
 As expressões faciais estão ligadas à experimentação de emoções.

Desenvolvida por Silvan Tomkins (1962), essa teoria afirma que a emoção
é a experiência de alterações musculares faciais que acontecem. Quando o
indivíduo sorri, está feliz, quando franze a testa, está triste, e assim por diante.
Para Kleinman (2015, p. 157). “Essas alterações em nossos músculos faciais são
o que leva o cérebro à especificação de uma base para a emoção, em vez do
contrário”.

TEMA 5 – NEUROANATOMIA DA EMOÇÃO

A neuroanatomia da emoção avançou nos últimos anos com os estudos da


neuroimagem e, mesmo que as conclusões ainda sejam limitadas, como defende
Murphy, Smith e Lawrence (2003), já temos dados importantes para compreender
o funcionamento emocional por intermédio do cérebro. Estímulos visuais,
auditivos, entre outros, ao provocar respostas emocionais, colocam em destaque

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áreas como o córtex pré-frontal e o sistema límbico. A integração da neuroimagem
com a neuropsicologia e neurofisiologia destacam essas estruturas e outras como
o córtex orbitofrontal, relevante no processamento emocional na visão de
Kringelbach (2005).

5.1 Principais áreas cerebrais da emoção

Saiba mais
 Córtex pré-frontal, na região dos lobos frontais, é importante para atenção,
memória funcional, tomada de decisão, comportamento social e personalidade.
 Sistema límbico, localizado na superfície medial do cérebro, controla as
emoções e as funções de aprendizado e da memória.

Duas áreas cerebrais têm posição de destaque sobre as emoções, o córtex


pré-frontal e o sistema límbico. Na parte da frente da nossa cabeça, o córtex pré-
frontal funciona como uma central de dados que se faz o processamento
emocional e monitoram-se outras áreas cerebrais. Sua parte medial integra
informações do sistema límbico, que abrange outras estruturas cerebrais e faz o
processamento das emoções em nível bioquímico. Além disso, o córtex pré-frontal
está vinculado à tomada de decisão por meio de respostas emocionais. Para
Santos e Hakme (2011), o córtex pré-frontal atua em momentos em que a pessoa
se assusta ou fica zangada e controla o sentimento para resolver a situação: “Essa
região neocortical do cérebro traz uma resposta mais analítica ou adequada aos
nossos impulsos emocionais, modulando a amígdala e outras áreas límbicas.
O sistema límbico, que também atua no funcionamento social da pessoa
(Seruca, 2013), é composto por várias estruturas cerebrais interconectadas entre
si. O hipotálamo, que representa 1% do tamanho do cérebro, está localizado na
direção do centro e na parte interna do cérebro. É uma estrutura cerebral pequena,
formada por núcleos e fibras, que controla funções vegetativas e endócrinas do
corpo e também aspectos do comportamento emocional.

Saiba mais
 Hipotálamo é uma pequena estrutura cerebral que é vital para a regulação da
temperatura, a emoção, o comportamento sexual e a motivação.
 Amígdala é uma estrutura cerebral com papel vital no aprender a associar as
coisas no mundo com respostas emocionais para processar informações
emocionais.

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A amígdala tem aparência de uma amêndoa e está vinculada a várias
respostas emocionais como amor, medo e raiva. Estudos apontam que a retirada
dessa área cerebral de animais provocou comportamento agressivo. Podemos
nos referir à amígdala como uma espécie de “guardiã das emoções”, capaz de
nos fazer fugir de situações perigosas, mas também nos fazer lembrar de traumas
da infância e de sofrimentos registrados na memória. Quando uma sensação de
raiva, por exemplo, coincide com um comportamento agressivo ou hostil, a
amígdala está ativada, como acontece também com o medo e a ansiedade
(Dougherty, 2019). As expressões faciais podem se estender além das emoções
básicas, com exibição de padrões cognitivos e sociais mais complexos, sugerindo
que danos à amígdala podem prejudicar essas áreas (Shaw et al., 2005).
O hipocampo é quem leva as informações para a amígdala e pode ser a
origem de emoções extremas localizadas no registro de lembranças pessoais.
Uma lesão no hipocampo provoca danos à memória do indivíduo. De acordo com
Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 328), nos dias de hoje, sabe-se que “o
hipocampo é extremamente importante para a memória e o hipotálamo, para
motivação”.
O giro cingulado serve de caminho entre o tálamo (pequena estrutura
acima do hipotálamo) e o hipocampo, e está relacionado á lembrança de situações
emocionais intensas. Depressão, ansiedade e agressividade, segundo Vanderson
et al. (2008, p. 58), estão intimamente relacionados ao giro cingulado,
“observando-se, em humanos, lentidão mental em casos de lesão dessa estrutura.
Auxilia na determinação dos conteúdos da memória, observando-se significativo
aumento de sua atividade quando as pessoas recorrem à mentira”.
Uma estrutura que está relacionada à integração entre emoção e razão é a
ínsula, cujo conhecimento pelos pesquisadores ainda é pequeno, mas que
permite localizá-la no campo da empatia. A explicação de Vanderson et al. (2008)
é de que ela “é ativada durante a indução de recordações de momentos vividos
por um indivíduo, as quais provoquem uma sensação específica, seja de
felicidade, tristeza, prazer, raiva ou qualquer outra”.
Passando para outras áreas cerebrais, a área tegmentar ventral é um
agrupamento de neurônios na parte superior do tronco encefálico envolvido com
emoções e amor. Nela, estão localizadas as vias da dopamina (neurotransmissor
do humor).

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O córtex orbitofrontal, localizado na parte frontal do cérebro, pouco acima
das orbitas oculares, está relacionado à personalidade e às emoções,
especialmente nas relações sociais.
No tronco encefálico, núcleos de nervos cranianos, viscerais ou
somáticos, quando ativados por impulsos nervosos, provocam emoções que são
representadas pelo choro, pela expressão facial, por respostas fisiológicas como
sudorese, salivação e aumento do ritmo cardíaco, entre outros.

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16
AULA 2

EMOÇÃO, APRENDIZADO E
MEMÓRIA

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


CONVERSA INICIAL

Ao tratar do tema emoção, memória e ensino/aprendizado, é preciso


considerar a relevância de recursos tecnológicos de neuroimagem, analisar casos
ilustrativos, e o papel efetivo da emoção na memória e aprendizagem. São
também objeto de estudo as noções básicas sobre como a cognição-emoção se
relaciona com a memória-aprendizagem, e os efeitos da emoção naquilo que
lembramos e aprendemos. Buscam-se evidências, com destaque ao processo de
avaliação das emoções.

TEMA 1 – A NEUROCIÊNCIA ENTRE EMOÇÃO, MEMÓRIA E APRENDIZAGEM

Neuroimagem refere-se ao processo de produzir imagens da estrutura ou


atividade do cérebro ou outra parte do sistema nervoso por técnicas como
ressonância magnética ou tomografia computadorizada. O uso recente de
tecnologias de imagem nos proporcionou um olhar mais preciso da atividade cerebral,
permitindo-nos verificar e entender o funcionamento de estados emocionais humanos. A
eletroencefalografia (EEGI) e a ressonância magnética funcional (RMF) são exemplos,
uma para detectar sinais elétricos e outra para medir o fluxo de sangue em diferentes
partes do cérebro (Weeks, 2014). Essas técnicas impulsionaram pesquisas e
possibilitaram a neurocientistas e psicólogos otimizar os resultados de aprendizagem e
memória.
Os achados recentes de neuroimagem, quanto à integração entre córtex
pré-frontal e amígdala, revelam que a amigdala consolida a memória moduladora,
o córtex media e codifica a memória, e o hipocampo atua na aprendizagem bem-
sucedida e na retenção da memória de longo prazo (Tyng et al, 2017). As
contribuições se estendem a uma maior compreensão do controle emocional
dentro do cérebro e, no dizer de Carew e Magsament (2010), abrem caminho para
maiores estudos sobre emoção, memória e aprendizado. Há que se considerar
ainda que memória e aprendizado recebem de modo marcante a presença da
emoção, o que também ocorre com outros processos cognitivos como percepção,
atenção, aprendizagem, memória, raciocínio e resolução de problemas (Tyng et
al., 2017).
Ao longo dos anos, a neurociência tem estudado casos que nos ajudam
compreender mais quem somos e como agimos. Procedimentos exitosos em
relação a um problema são tão reveladores sobre o funcionamento cerebral

2
quanto aqueles que não obtém sucesso, ou mesmo os que por infelicidade
provocam sequelas.
O relato mais impactante, amplamente conhecido pela ciência e
generosamente divulgado em jornais e revistas de todo o mundo é a história de
Henry Molaison na década de 1950. Conhecido na psicologia como "HM", Henry
perdeu a memória em uma mesa de cirurgia em um hospital em Hartford (USA),
em agosto de 1953. Ele tinha 27 anos e sofria de ataques epilépticos por muitos
anos.
Citado como HM, Henry padecia de episódios seguidos de epilepsia desde
os 10 anos, um ano após ter sofrido um acidente de bicicleta, segundo diziam
seus parentes. Aos 16 anos, sofria espasmos musculares generalizados, perdia o
controle dos esfíncteres, e também a consciência. A situação foi piorando, a ponto
de, aos 27, Henry ter sido declarado incapacitado para trabalhar. O cirurgião
Willian Scovile, após examiná-lo ofereceu-se para fazer uma cirurgia nos lobos
temporais mediais dos dois hemisférios cerebrais, vistos por ele como a razão das
crises. Após a ressecção cirúrgica dessas regiões encefálicas, percebeu-se
melhora nas crises, porém havia uma sequela. HM passou a apresentar amnésia
anterógrada gravíssima, ou seja, não conseguia lembrar nada do que aconteceu
após a sua cirurgia. Henry Molaison morreu em 2008, com 82 anos de idade. Fazia
palavras-cruzadas com frequência, mas só completava as palavras que aprendera
antes da cirurgia. Após a sua morte, seu cérebro foi guardado na Universidade da
Califórnia para pesquisas anatomopatológicas, e os resultados vêm sendo
divulgados até os dias de hoje.
O que a neurociência aprendeu com Henry Molaison? Os pesquisadores
descobriram que funções complexas, como aprendizagem e memória, estão
ligadas a processos e regiões biológicas distintas do cérebro, incluindo o
hipocampo e a região para-hipocampal. A descoberta abriu caminho para uma
exploração mais profunda das redes cerebrais que codificam memórias
conscientes e inconscientes, assim como das emoções.
O caso HM ainda nos leva a repensar como as emoções acontecem em
nós, ou “não acontecem em nós”, como diriam Davidson e Begley (2013). Para os
neurocientistas americanos, as emoções e os pensamentos não acontecem
conosco, eles são rotineiros, possíveis e enraizados na estrutura de nossos
cérebros, embora a formação de personalidade aconteça sem conhecimento do
cérebro. As emoções se apresentam para nós como “estados ou estilos

3
emocionais”, entendidos como processos emocionais curtos ou processos
emocionais mais consistentes em nossa forma de responder à vida (Davidson;
Begley, 2013). Isso nos impele a buscar conhecer a diferença entre ambos e sua
implicação para a memória e a aprendizagem. Teremos, em outro conteúdo, mais
dados sobre os estilos emocionais; por hora, uma outra questão é esclarecer
dúvidas sobre o fato de a emoção estar interligada à cognição, e a memória e à
aprendizagem.

TEMA 2 – O PAPEL DA EMOÇÃO NA MEMÓRIA E NO APRENDIZADO


Na memória emocional, a excitação emocional aumenta a memória. Na
aprendizagem emocional, determinados medos podem ser aprendidos. Na
atenção emocional, situações emocionais melhoram a atenção. A leitura de
Gazzaniga e Heatherton (2005) nos diz que as pessoas com melhor memória para
eventos ou estímulos produzem mais emoção. Isso é explicado pela descoberta de
as memórias pessoais mais claras e importantes costumam ser as altamente
emocionais. Se lhe perguntarem quais momentos são mais vívidos em sua mente,
por certo você falará sobre sentimentos de regozijo, ou de raiva, por exemplo.
Essas lembranças parecem vir à tona mais facilmente do que situações do
cotidiano, com as quais temos pouca ou nenhuma ligação emocional.

O vínculo entre emocionalidade e memória foi diretamente testado


em um experimento que utilizou o procedimento de lembrar/saber,
em que os sujeitos são questionados sobre o reconhecimento de
um item de um experimento anterior. Os sujeitos devem dizer se
sentem que o item é familiar, o que é um julgamento de saber, ou
se sua recordação do item é acompanhada por um detalhe
sensorial, semântico ou emocional, o que é um julgamento de
lembrar. Esse estudo descobrir que fotografias altamente
negativas tendiam mais a ser identificadas como itens de
“lembrar” do que as fotos neutras ou positivas”. (Ochsner, 2000,
citado por Gazzaniga; Heatherton, 2005)

Um modo abreviado e não definitivo, devido à ampliação das pesquisas é


ver a emoção vinculada ao armazenamento de informações, à interpretação dos
estímulos (especialmente os sociais) e à busca do significado afetivo de nossas
expressões faciais. Ao discorrer sobre isso, Gazzaniga e Heatherton (2005) citam
outros autores (Dolan, 2000; Whalen et al. 1998; Adolphs et al., 1998) e
apresentam três explicações importantes: (1) imagens de ressonância magnética
funcional (IRMf) mostram que ela é especialmente sensível à intensidade de
rostos que demonstram medo; (2) isso ocorre mesmo que os participantes não

4
estejam cientes de terem visto o rosto; (3) pessoas com lesões na amígdala não
conseguem utilizar as informações contidas nas expressões faciais para fazer
julgamentos interpessoais.
Ao falar do papel das emoções sobre o que aprendemos, é oportuno
ampliar o termo “aprendizado” para “ensino/aprendizado”. Todos nós entendemos
as coisas com base em experiências passadas. O professor baseia-se em suas
experiências passadas com “mestres” que lhe deram as primeiras aulas; aquele
que aprende se ampara em coisas que leu, ouviu, tocou, sejam aulas ou outros
eventos. Educadores têm dito que ensinar é aprender a ensinar; aprender é
ensinar a aprender; ou que não pode haver ensino sem aprendizagem e vice-
versa (Freire, 1996; 2003). Nesse seguimento, o que a emoção produz quanto ao
aprender se aplica ao ensinar.
O papel comunicacional-informacional da emoção transcende o uso de
palavras. Olhando para uma pessoa pode-se ter certa sensação, que explicada
em palavras seria algo como “ele está com raiva” ou “ela está com medo” ou ainda
“os dois estão alegres”, mas as sensações vão além dos milhares de palavras que
existem na língua portuguesa ou outros idiomas. Podem ser de 400 a 600 mil,
segundo diferentes fontes de pesquisa, mas se tomarmos apena o Michaelis,
reuniremos para consulta 167 mil verbetes, 350 mil acepções, 27 mil expressões
e 47 mil exemplos e abonações. Entretanto, não precisamos disso quando
comunicamos estados de emoção, humores e necessidades emocionais, pois
elas se revelam não verbalmente.
A interpretação informacional de uma emoção tem influência
particularmente forte na atenção. Tyng et al. (2017) revelam um “controle
atencional e executivo” que na sua visão “está intimamente ligado aos processos
de aprendizagem, pois as capacidades de atenção intrinsecamente limitadas são
mais focadas em informações relevantes”. Os autores ainda complementam a
ação da emoção sobre a aprendizagem pela faculdade de facilitar a codificação e
ajudar a recuperar informações de forma eficiente.
Ao estudar o caráter comunicacional-informacional da emoção, em um
evento emocional intenso e marcante, ela representa uma espécie de memória
emocional. Da mesma forma quando aprendemos determinados comportamentos
que nos fazem mudar padrões de respostas diante de certas situações: é como
se tivéssemos uma aprendizagem emocional. Por fim, sempre que algo se

5
apresenta em um determinado evento, nos faz direcionar nossa atenção, por uma
determinada emoção; ela nos afeta como se fosse uma atenção emocional.

TEMA 3 – A INTEGRAÇÃO COGNIÇÃO-EMOÇÃO E MEMÓRIA-APRENDIZADO

Eventos emocionais são lembrados mais claramente, com mais precisão,


e por períodos de tempo mais longos do que os eventos neutros. Aprendizagem
e memória integram-se na relação cognição-emoção. Se fôssemos pensar em
consonância com Grabner (2016), para que algo seja guardado em nossa
memória, precisamos da emoção, o que nos faz depreender que todo evento
cognitivo tem emoção.
Outros estudiosos sublinham a presença da emoção na cognição. Leahy
(2013, p. 29, citado por Grabner), 2016 baseia-se nos psicólogos Gordon H. Bower
e Roberto B. Zajonc, Leahy (2013) para afirmar que, ao lado de pensamentos,
sensações e tendências comportamentais, as emoções “são conectadas
associativamente nas redes neurais. Assim, ativar um processo ativa os outros”.
Em nossa existência, aprendemos várias coisas na relação emoção-
cognição, que permanecem em nossas mentes. Se houve um período em que se
buscou separá-las, nas duas últimas décadas acentuou-se um corpo de trabalho,
atestando a interdependência entre as duas. Se a cognição é uma função
psicológica que nos faz obter o conhecimento através de processos como
atenção, memória e linguagem, entre outros, por estar integrada à emoção, como
poderia ser considerada uma condição inata? LeDoux Brown (2017) buscam
responder a essa dúvida. Para eles, as emoções não são inatas em nossos
cérebros; a rigor, são estados cognitivos resultantes de informações. Vejamos:

Argumentamos que as experiências conscientes,


independentemente de seu conteúdo, surgem de um sistema no
cérebro. Nessa visão, o que difere em estados emocionais e não
emocionais são os tipos de insumos que são processados por
uma rede cortical geral de cognição, uma rede essencial para
experiências conscientes. Embora os circuitos subcorticais não
sejam diretamente responsáveis pelos sentimentos conscientes,
eles fornecem insumos não-conscientes que se fundem com
outros tipos de sinais neurais na montagem cognitiva de
experiências emocionais conscientes. (Ledoux; Brown, 2017)

Quanto à memória e aprendizagem, a leitura mais recente de estudiosos e


especialistas nos faz pensar que ambas compartilham os mesmos paralelos. Se
imaginarmos que as duas existem e dependem do cérebro, podemos considerar
que uma e outra só existem por ele. Um ponto de análise é se sublinhar: a
6
aprendizagem é um processo cognitivo relativo a eventos passados, presentes ou
futuros, e a memória se relaciona com eventos que já ocorreram. Diríamos que
aprendemos a qualquer momento, entretanto as informações só fazem parte da
mente se armazenadas na memória após a aprendizagem. Também não
podemos deixar de considerar que, para aprender, dependemos da memória.
Aprendemos por uma estimulação cerebral a partir da memória, assim como
aprendemos porque precisamos da aprendizagem para armazenar novas
informações. Esse entendimento encontra consonância na perspectiva de
Gazzaniga e Heatherton (2005) que consideram qualquer distinção entre
aprendizagem e memória um tanto arbitrária, “pois há uma sobreposição
significativa na visão que os cientistas psicológicos contemporâneos têm dos dois
processos”. Na verdade, mecanismos biológicos similares estão envolvidos na
aprendizagem e na memória.
Sobre a atuação da memória no cérebro em favor da aprendizagem, é
oportuno lembrar que, em sentido literal, o cérebro não armazena realmente
memórias, mas armazena traços de informação que são posteriormente usados
para criar memórias (Baddeley et al., 2000). Esta condição possibilita
aprendizagem; nem sempre “o que se aprendeu” corresponde à imagem verídica
da realidade que foi vivenciada no passado. Segundo Baddeley (2000), para
realizar esse processo, diferentes partes do cérebro atuam como nós importantes
da rede neural, os quais codificam, armazenam e recuperam as informações que
serão usadas para criar memórias.
Os mecanismos biológicos que envolvem emoção-cognição e memória-
aprendizagem são provenientes de nossa estrutura cerebral, em seus aspectos
genéticos, em crenças que adquirimos em nossa história de vida pessoal, e pelos
eventos externos que surgem em nosso cotidiano. É através da neurociência e da
psicologia que podemos obter dados avaliativos sobre o que expressamos
emocionalmente.

TEMA 4 – AVALIAÇÃO DA EMOÇÃO

Personalidade e faixa etária, entre outros fatores, podem servir de


avaliação observável em testes psicológicos e em exames de neuroimagem.
As emoções atuam como sinalizadores internos de alguma coisa que está
ocorrendo, e a partir de então mobilizam recursos cognitivos, que passam a
buscar na atenção e na memória informações que tenham efeito no processo de

7
ensino-aprendizado. Podemos ter mais ou menos ganho na memória e no
aprendizado, conforme as nossas emoções. Podemos conhecê-la por saberes de
nossa personalidade, nossa idade, e outros.
A combinação entre neurociência e psicologia é importante para avaliar
aspectos relativos aos processos emocionais, e sua relação com a memória e a
aprendizagem. O que se tem como caminho é a avaliação da emoção em si, para
considerar, a partir disso, possíveis implicações na memória e na aprendizagem.
Aspectos como personalidade e capacidade intelectual são fatores
individuais a serem reconhecidos na emoção. Alguns traços de personalidade
parecem ter efeitos visíveis, como a extroversão e o neuroticismo. Nunes (2010,
p. 130) descreve as características de pessoas com altos níveis de extroversão,
como falantes, com senso de intimidade, e ativas. O autor aborda o neuroticismo
como o que ocorre com pessoas que vivenciam formas mais intensa de
sofrimentos psicológicos, instabilidade afetiva e vulnerabilidade. Essas duas
facetas da personalidade podem por elas mesmas ter influência na vida das
pessoas, ao se revelarem em emoções.
De acordo com Urry e Gross (2010) e Allard e Kensinger (2014), “estudos
também mostraram que adultos mais velhos estão associados à maior
familiaridade com o estresse psicológico e experiências emocionais, causando,
assim, viés de positividade no processamento emocional e melhor controle
emocional do que em adultos jovens” (citados por Tyng, 2017). Outros estudos
parecem confirmar Tyng, e mesmo que não avaliemos os processos emocionais
individuais pela diferença entre o que marca o calendário e o que indica as
emoções, a idade dos participantes em uma amostra da população deve ser
considerada para estudos cognitivos e emocionais.
Podemos incluir os testes psicológicos sobre as emoções como “um
procedimento sistemático para a obtenção de amostras de comportamento
cognitivo ou afetivo e para a avaliação destas amostras de acordo com certos
padrões” (Urbina, 2007, p. 11). Eles compreendem o “chamado crivo biológico,
que filtra os estímulos para que possam ser adequadamente elaborados pelo
organismo, até as formas mais sofisticadas dos testes psicológicos (Pasquali,
2010, p. 11). Os instrumentos oferecem uma visão psicológica de facetas
emocionais, mas sua análise detalhada pode permitir conhecer melhor domínio
de funcionamento da pessoa, tal como a natureza experiencial da emoção ou
mesmo sua regulação, processos cognitivos ligados à percepção emocional em

8
si e nos outros, e a atenção vinculada a emoção e uso da memória.
Técnicas de imagem cerebral, como tomografia computadorizada (TC),
imagem ótica difusa (DOI), sinal óptico relacionado ao evento (EROS),
Magnetoencefalografia (MEG), eletroencefalograma (EEG), imagens de
ressonância magnética funcional (IRMf), tomografia por emissão de pósitrons
(PET) e espectroscopia funcional próxima do infravermelho (fNIRS), entre outras,
permitem o processamento de informações por centros do cérebro para
visualizações diretas. Para citar duas delas, a IRMf é usada para detectar
alteração do fluxo sanguíneo cerebral associada à atividade neural. Isso permite
acessar imagens de estruturas cerebrais que estejam em atividades (num evento
emocional) durante o momento em que elas acontecem. Já a PET mede emissões
de substâncias químicas que estão ativas na corrente sanguínea, o que permite
avaliar a presença de substâncias neuroquímicas em certos processos
emocionais. Avaliações podem também ser feitas sobre exame de pupilas
(iluminação e movimento ocular), condutância da pele e análise de expressões
faciais.

TEMA 5 – EFEITOS DAS EMOÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS

Emoções negativas que ficam mais tempo do que apenas por um momento
bloqueiam o fluxo de glicose para o cérebro e privam o corpo de energia, o que
afeta negativamente o processo de aprendizagem.
A busca de evidências sobre os efeitos da emoção na memória e no
aprendizado indica que algumas respostas podem ser consideradas. É nosso
entendimento que as emoções positivas facilitam a aprendizagem e contribuem
para o desempenho acadêmico, por meio de automotivação.
As emoções negativas, por outro lado, são vistas como inibidoras em
processos de ensino-aprendizagem, salvo em situações específicas. Uma delas
é apresentada por D’Mello et al. (2014, citado por Tyng, 2017), que relatam em
estudo recente que o estado negativo de aprendizagem (confusão) melhora a
aprendizagem, porque resulta em um foco de atenção maior em material de
aprendizagem, que por sua vez leva a desempenhos mais altos em testes.
Para Vogel e Schwabe (2016) as pesquisas das duas últimas décadas,
identificaram os hormônios e neurotransmissores observáveis durante e após um
evento como os principais moduladores do aprendizado e da memória. Eles
acrescentam que estágios de codificação, consolidação ou recuperação na

9
memória podem ser afetados diretamente por respostas fisiológicas após um
encontro estressante.
Outro dado relevante apresentado por Vogel e Schwabe (2016) é de que o
estresse afeta a memória de uma maneira dependente do tempo, muitas vezes
melhorando a formação da memória na época do encontro estressante, mas
prejudicando a recuperação e a aquisição de informações codificadas muito
depois do evento estressante.
Scot (2008) relata uma metanálise em 113 estudos de estresse:

 Um dos achados é que o estresse pode impedir a formação de memórias


(e por consequência atrapalhar a aprendizagem), se ocorrer antes ou
durante a codificação, tempo durante o qual a memória é formada. Ao
ocorrer um pequeno atraso entre a codificação e a formação da memória,
esta melhora.
 O estresse aumenta o cortisol, mas a quantidade da substância não é
diretamente relacionada aos efeitos do estresse na memória. Criar mais
cortisol como resposta ao estresse não significa prejudicar a memória.
 O estresse ao levar a exaustão pode comprometer o processamento
cognitivo da atenção e memória de trabalho. Este comprometimento pode
ser detectado três anos depois, mesmo após o esgotamento ter sido
abordado.

Fredrickson (2001), uma pesquisadora de psicologia positiva na


Universidade da Carolina do Norte, publicou em um artigo um experimento para
testar as emoções. O estudo compreendeu 139 participantes durante 7 semanas,
divididos em dois grupos – um deles submetido a atividades voltadas às emoções,
e outros a atividades neutras. O grupo das emoções foi dividido em duas
categorias: emoções positivas e emoções negativas. Para gerar emoções
positivas, Fredrickson utilizou práticas de treinamento mental trabalhando com
meditação da bondade amorosa, gerando alegria e contentamento. Para as
emoções negativas, foram desenvolvidas atividades incluindo clips geradores de
medo e raiva. No levantamento de dados obtidos, observou-se que a
responsividade foi menor nos participantes da categoria de emoções negativas.
Enquanto isso, a categoria de emoções positivas respondeu com um número
significativamente maior de ações, em comparação ao grupo neutro. Os
resultados confirmaram a hipótese de que as emoções ampliam o escopo do

10
repertório de atenção e pensamento, ações que como vimos anteriormente estão
ligadas à memória e aprendizagem (Fredrickson, 2019).

11
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12
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para a sala de aula. Science of Learning, 2016.

WEEKS, M. Se liga na psicologia. São Paulo: Globo, 2014.

13
AULA 3

EMOÇÃO, MEMÓRIA E
APRENDIZAGEM

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


INTELIGÊNCIA EMOCIONAL/SOCIAL E AUTOCONSCIÊNCIA – ESTILO
EMOCIONAL DO CÉREBRO E SUA AVALIAÇÃO

TEMA 1 – INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Estamos acostumados a ver em livros, publicações científicas e em


revistas, jornais e programas de televisão a apresentação da inteligência
emocional e de temas relacionados à autoconsciência. De um modo geral, durante
um bom tempo ouvimos falar em inteligência como uma média de habilidades
amplamente usada em testes de Q.I. Pensávamos em conceitos do tipo
“capacidade de resolver problemas novos” ou “capacidade de aprender”, ou ainda
“capacidade de pensar abstratamente” (Braghirolli, 2012, p. 146). Nos anos 1980,
contudo, Howard Gardner postulou a visão de inteligência em tipos variados em
que incluiu a inteligência visual-espacial, lógico-matemática, interpessoal e
intrapessoal, corporal-cinestésica, naturalista e musical.
Os conceitos de inteligência intrapessoal e inteligência interpessoal
levaram Gardner a ampliar a concepção de inteligência sem ficar detido apenas
em referências de inteligência como o teste de Q.I. Um conceito sobre capacidade
de reconhecer e avaliar sentimentos em si mesmo e nos outros e a capacidade
de lidar com eles proporcionaram o surgimento da inteligência emocional.
O termo inteligência emocional passou a ser mais usado na década de
1980, e teve impulso com a publicação de um artigo de grande importância em
1990 e a publicação do livro de Daniel Goleman, Inteligência Emocional, que o
tornou popularmente conhecido (Fumham, 2011 p. 60).
Ao buscarmos ampliar a ideia do que seria uma inteligência de caráter
emocional, podemos recorrer a situações do nosso cotidiano. Imagine que você
deu um celular caro para a sua esposa no aniversário dela. O mimo exigiu um
sacrifício financeiro da sua parte. Ela já está com o aparelho há duas semanas e
vocês vão almoçar no shopping. Você pede para ela não vacilar, afinal o presente
custou bastante. Depois de almoçarem, você vai ao banheiro e quando volta
encontra sua mulher desesperada. Você começa a gritar com ela, parecendo um
pirado na praça de alimentação. Uma moça ao lado, ao vê-los desolados, diz que
teria visto alguém com um celular daquele tipo e lembrou que havia uma loja ali
que poderia rastrear o aparelho. Finalmente, o aparelho é localizado, o ladrão está
no andar de cima tomando um café. Então você pensa no exagero que provocou.

2
Se no episódio relatado você estivesse tranquilo, poderia processar
informações com o seu neocórtex, usando a lógica. Mas um curto-circuito,
chamado por Goleman (2011) de “sequestro da amígdala”, desviou as
informações da parte lógica (neocórtex) para a parte emocional (amígdala). Isso
ocorre com respostas emocionais imediatas e desproporcionais aos eventos.
Depois de um tempo, a informação reencontra o fluxo dos processos lógicos
podendo levar você a perceber a inadequação emocional.

1.1 Componentes da inteligência emocional

AUTO AUTO HABILIDADES


EMPATIA MOTIVAÇÃO
CONHECIMENTO REGULAÇÃO SOCIAIS

Fumham (2011) fala que novas evidências sobre a inteligência emocional


fazem variar o número de componentes, ele mesmo chega a quantificar 15
componentes, entre eles: adaptabilidade, assertividade, expressão emocional,
baixa impulsividade, autoestima, controle do estresse, traços de felicidade e de
otimismo.
O modelo mais usual usado por vários estúdios, também baseado na
contribuição de Daniel Goleman, compreende autoconhecimento, autorregulação,
empatia, motivação e habilidades sociais.

1.1.1 Autoconhecimento

Autoconhecimento é a capacidade que as pessoas têm de conhecerem


seus próprios estados internos, forças e limites. Ao disporem deste componente,
as pessoas apresentam-se mais capazes de conduzir suas vidas. A base para o
autoconhecimento é a autoconsciência, capaz de reconhecer emoções e os
efeitos por elas produzido no momento em que ocorrem. Pessoas com inteligência
emocional nesta área parecem ter escolhas melhores no trabalho, nos estudos e
nas relações afetivas.

1.1.2 Autorregulação

Autorregulação é aplicada a pessoas com capacidade de se concentrar em


algo que querem alcançar a longo prazo. Elas regulam e controlam suas emoções,
o que significa que não se distraem com impulsos. Para Goleman (2011), também

3
se refere ao controle de impulsos e objetivos, como montar uma empresa,
solucionar uma equação algébrica ou disputar uma competição.

1.1.3 Empatia

De acordo com Cherry (2019), a empatia na inteligência emocional vai além


da capacidade de reconhecer estados emocionais nos outros. Ela postula que
este componente envolve respostas a pessoas com base nestas informações. Se
uma pessoa denota uma emoção, por exemplo de tristeza ou desesperança, isso
influencia a forma com que se responde a ela. O tratamento pode ser cuidadoso
ou a pessoa trata a outro se esforçando para deixá-la bem.

1.1.4 Motivação

A motivação, vista como autocontrole emocional, isto é, saber adiar a


satisfação e conter a impulsividade, é uma condição que está por trás de qualquer
tipo de realização, como entende Goleman (2011). Para ele, é a capacidade de
entrar em estado de “fluxo” (sentir-se completamente imerso em uma atividade)
que possibilita excepcionais desempenhos. Na visão de Cherry (2011), pessoas
emocionalmente inteligentes são motivadas por coisas além de meras
recompensas externas como fama, dinheiro, reconhecimento e aclamação.
Entende-se que a motivação, refere-se à orientação para a ação, conquistas,
comprometimento e iniciativa.

1.1.5 Habilidades sociais

As habilidades sociais estão voltadas para interações sociais adequadas.


Para Cherry (2011), a verdadeira compreensão emocional envolve mais do que
apenas entender as próprias emoções e os sentimentos dos outros, mas também
saber colocar essas informações em funcionamento nas interações e
comunicações do cotidiano. As habilidades sociais podem também ter destaque
em ambientes profissionais, onde gerentes com inteligência emocional nesta área
se beneficiam por construir relacionamentos e conexões com os empregados,
enquanto os trabalhadores podem desenvolver bons relacionamentos com líderes
e colegas de trabalho. As habilidades sociais são consideradas fatores
importantes nas habilidades sociais a comunicação verbal e não-verbal, liderança
e persuasão.

4
Warner (2001) reporta a perspectiva da importância de perfil de estilo de
inteligência emocional para aplicação de conhecimentos e sentimentos em
situações de nossas vidas. Cada pessoa, diz o autor, usa suas emoções e
inteligência de maneira diferente, um estilo não é melhor que o outro, não há
respostas certas ou erradas.
Ao nos reportamos à inteligência como algo que também é formado ao
longo da vida, aquilo que aprendemos ao nos observar e a observar os outros
reproduz um senso de capacidade para o comportamento social e, por
consequência, isso nos envia à noção de uma inteligência social, tema a seguir.

TEMA 2 – INTELIGÊNCIA SOCIAL

Saiba mais
Inteligência social se refere à capacidade de ler outras pessoas e entender
suas intenções e motivações. Abrange a capacidade de efetivamente negociar
relações sociais complexas e ambientes.

Kihlstrom e Cantor (2000, p. 564) citam Dewey (1909) e Lull (1911) como
os primeiros a usarem o termo “inteligência social” e vão além, ao informar que o
conceito moderno tem suas origens em Edward Lee Thorndike (1920), em três
facetas referentes à capacidade de entender e gerenciar ideias (inteligência
abstrata), objetos concretos (inteligência mecânica) e pessoas (inteligência
social). A formulação clássica de Thorndike explicava a inteligência social como a
capacidade de entender e gerenciar homens e mulheres, meninos e meninas, e
para agir com sabedoria nas relações humanas.
Se o conceito de Thorndike parece simples e puro para a amplitude de
interpretações que surgiram nos anos que o sucederam, ele retorna nos dias de
hoje, depois de termos vivido uma primeira metade do século 20 em função da
importância de tratar a inteligência em termos de capacidades racionais como
sugeriam os estudos sobre o Q.I. Os anos 90 mudarem o foco do Q.I. (Quociente
de Inteligência) para o Q.E. (Quociente Emocional) e a capacidade de
compreender e manipular símbolos matemáticos e linguísticos. Deparou-se com
o autoconhecimento, autodisciplina, empatia e consciência social, resgatando-se
de alguma forma o foco da atenção para o ser humano, para a emoção e para a
socialização.

5
O retorno a Thorndike é confirmado nas pesquisas sistemáticas realizadas
por Sternberg. Assim entende Goleman (2011), ao destacar que “a inteligência
social é, ao mesmo tempo, diferente das aptidões acadêmicas e parte-chave do
que faz as pessoas se saírem bem nos aspectos práticos da vida”.
Na nossa visão, percebe-se que em determinados aspectos a inteligência
social parece estar contida na inteligência emocional. Colocá-la num lugar
diferente seria uma espécie de circunscrição conceitual para situar em que ela se
diferencia diante de tantas semelhanças. Na concepção de capacidade social,
aspectos marcantes correspondem a conceitos sobre comunicação, papéis
sociais, habilidades de escuta social, auto-eficácia, e ajuste emocional, entre
outros.
A capacidade comunicacional identifica pessoas socialmente inteligentes
para conversas com diferentes interlocutores e habilidade adequada ao conteúdo
do que se comunica, o que representa habilidades de expressividade social.
Podemos considerar a inteligência social nos papéis sociais e nas regras
sociais, sem desconsiderar seu uso diante do que é informal ou normal. Podemos
pensar em pessoas com inteligência social sabendo jogar o “jogo da interação
social”.
A inteligência social é observável em habilidades de escutar os outros,
entender e observar, e ter sintonia com o que é dito. Isso, de alguma forma,
caracteriza também a inteligência emocional que está a ela integrada.
Na visão de Kihlstrom e Cantor (2000, p. 577) pode-se pensar que o
conceito de inteligência social tenha sobrevivido à sua utilidade e venha a ser
suplantado pela inteligência emocional. Por outro lado, estudos da neurociência
podem trazer novas informações e ampliar os estudos de inteligência social, como
vem acontecendo em outras áreas da psicologia.
Ganaie e Mudasir (2015), ao dizer que inteligência social se refere à
capacidade de ler outras pessoas e entender suas intenções e motivações,
aproximam o conceito do termo consciência: “o cientista Ross Honeywill acredita
que a inteligência social é uma medida agregada de autoconsciência e
consciência social, crenças e atitudes sociais evoluídas, e uma capacidade e
apetite para gerenciar mudanças sociais complexas”.

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TEMA 3 – AUTOCONSCIÊNCIA

Saiba mais

Capacidade de perceber e monitorar a nós mesmos, nosso mundo interior.

Indagar sobre quem sou eu e o que é minha consciência é algo que intriga
especialistas e estudiosos da psicologia, neurociência e filosofia há muito tempo.
Nos parece que o que se busca saber é se o que chamamos de consciência é
produto de um todo no cérebro ou conjuntos específicos de circuitos cerebrais
interligados.
Dois momentos merecem destaque na evolução do entendimento do que
seja a autoconsciência a partir do estudo da consciência. Um deles refere-se ao
interesse científico por conhecer a consciência e sua inserção na emoção, que
pode ter sido estimulado primeiramente por William James, para quem a emoção
é uma percepção consciente das mudanças corporais que podem ter origens
inconscientes (Barret; Niedenthal; Winkielman, 2005).
O outro ponto se refere ao debate de caráter filosófico provocado por René
Descartes, ao afirmar ser a mente uma substância ou coisa fisicamente distinta
do cérebro. Ao separar mente e cérebro, Descartes postulou o dualismo, que teve
como alternativa lógica o fisicalismo ou materialismo, entendidos por Gazzaniga
e Heatherton (2005) como a não separação entre mente e cérebro.
A concepção de que se somos autoconscientes sempre que somos
conscientes nos leva a Damasio (2009), que afirma: “uma parte importante do
processo de estar consciente consiste no fato de o cérebro ser capaz de criar
padrões neurais que mapeiam em forma de imagens aquilo que vivenciamos”.
Os estudos mais recentes veem a autoconsciência como fornecedora de
informações essenciais para o automonitoramento consciente (metacognição),
segundo Lou, Changeux e Rosenstand (2016) que, ao citarem Metha e Mashour
(2013), mencionam a teoria de que nunca temos experiências de nós mesmos,
mas apenas sobre os conteúdos da consciência.
Processos metacognitivos estão relacionados ao “pensar sobre o
pensamento”, ou seja, processos cognitivos que monitoram e controlam outros
processos cognitivos (Zahavi, 2014). Nesse sentido, entende este autor que a
ideia de autoconsciência requer metacognição, embora esta não se restrinja à
autoconsciência, pois pode ser aplicada a outros.

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O que se depreende do que até aqui foi exposto é a perspectiva de uma
pessoa ser ao mesmo tempo sujeito e objeto de si mesmo. Sujeito quando o eu
pensa sobre o que pensa e objeto quando é pensado pelo eu, a autoconsciência.
Isso sugere uma condição de reflexividade, isto é, a pessoa, em autoconsciência,
processa e armazena informações sobre si mesma. No nosso entender, ser
autoconsciente é poder falar silenciosamente consigo mesmo, é ter uma fala
interna que pode identificar e processar informações sobre o próprio
processamento mental.

TEMA 4 – ESTILOS EMOCIONAIS

Saiba mais

As emoções negativas e positivas têm relação direta com as funções


cerebrais e caracterizam um estilo emocional de funcionamento. Seis dimensões
foram definidas por Davidson: Resiliência, Atitude, Intuição Social, Auto
percepção, Sensibilidade ao Contexto e Atenção.

A Teoria do Estilo Emocional acrescenta dados que nos ajudam a


compreender melhor o que vimos até agora sobre inteligência emocional e social,
e autoconsciência. O que apresentamos aqui é baseado especialmente em
Davidson e Begley (2012) os responsáveis pela teoria. A concepção é de que
determinados domínios abrangem inflexões, posturas e expressões faciais para
dizer que viemos ao mundo com um estilo emocional que pode mudar
acentuadamente pelas experiências de vida.
Davidson e Begley (2012) postulam que os estados emocionais são apenas
reações fugazes, desencadeadas por uma experiência, com duração de apenas
alguns segundos. Um estado emocional é por eles definido como “a menor e a
mais efêmera das unidades das emoções”. Imaginemos algumas situações:
derrubar e quebrar um copo valioso de cristal, o esquecimento de sua data de
aniversário por uma pessoa de sua intimidade, a raiva que você sentiu daquele
sujeito que buzinou quando você fez uma manobra no carro. O fluxo de um estado
emocional seria então algo que se dissipa rapidamente abrindo caminho para
outros estados emocionais.
O humor é visto por Davidson e Begley (2012) como um sentimento que
persiste por minutos, horas ou dias, traço emocional é o que caracteriza a pessoa
não só durante dias, mas anos e estilo emocional é aquele que molda nossas

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vidas e como respondemos ao mundo em nossa volta, ou um processo emocional
dirigido por circuitos cerebrais específicos e identificáveis. Os autores entendem
que o estilo emocional pode ser medido por meio de métodos laboratoriais
objetivos. Além disso, o estilo emocional influencia a probabilidade de
apresentarmos determinados estados emocionais, traços emocionais e humores.
São seis os estilos emocionais: resiliência, que corresponde à velocidade
com que nos recuperamos de uma adversidade; a atitude, que se refere ao tempo
em que conseguimos sustentar emoções positivas; a intuição social, que
compreende a facilidade com que captamos os sinais sociais emitidos pelas
pessoas ao redor; a autopercepção, nossa capacidade de perceber as
sensações corporais relacionadas com as emoções; sensibilidade ao contexto,
a capacidade de regularmos nossas respostas emocionais para que
correspondam ao contexto social; e atenção, quão aguçada e clara é nossa
concentração.
Numa visão geral, os seis estilos emocionais de Davidson e Begley (2012)
nos fazem ver de forma mais ampla o cérebro emocional pelos circuitos cerebrais
e o que pensamos sobre inteligência emocional por certo adquire novos
embasamentos, capazes de ajudar a compreendermos a nós mesmos e aos
outros e usar este entendimento para abordar a vida com os sensos de cada um
dos estilos.

TEMA 5 – AVALIAÇÃO DOS ESTILOS EMOCIONAIS

Saiba mais

Os estilos emocionais de Davidson e Blegey podem ser avaliados em


laboratório (neurofisiologia, expressões faciais e corporais, funcionamento de
estruturas cerebrais e neurotransmissores, entre outros) e de testes de
autorreferência do tipo verdadeiro e falso.

A avaliação de estilos emocionais deve considerar delimitações conceituais


próprias para cada estilo. No caso da resiliência, por exemplo, Windle (2011) a
define como o processo de efetivamente negociar, adaptar-se ou administrar
fontes significativas de estresse ou trauma. Davidson e Begley (2012) destacam
em seu conceito a velocidade com que nos recuperamos de uma adversidade. Se
levássemos em conta estes dois conceitos, teríamos itens como adaptabilidade e

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capacidade de lidar com o estresse, itens comuns nas testagens psicológicas de
personalidade.
A nível de experimento, Davidson e Begley (2012) exemplificam uma
avaliação por meio de um bastão cheio de água muito quente, que, ao tocar a
pele, parece queimar, mas não causa nenhuma lesão. Ao examinar o período de
recuperação, poderia ser medido o reflexo do piscar de olhos ou, em outra
modalidade, com eletrodos, a força de contração dos músculos que provocam o
piscar de olhos.
De outro modo, tomando como orientação os questionários autorreferidos,
por exemplo, pede-se aos indivíduos que respondam a perguntas sobre seu
comportamento típico (Weiten, 2005, p. 362). Davidson e Begley (2012)
apresentam questionários com perguntas do tipo verdadeiro ou falso, com um
padrão para medir e quantificar os resultados. Na resiliência, o modelo
apresentado compõe-se de perguntas do tipo: “Se tenho uma discussão boba com
um amigo próximo ou com o meu parceiro, isso me deixa mal durante horas, ou
por mais tempo?”.
Davidson e Begley (2012) nomeiam seis das dez questões como aquelas
que valem 1 ponto para respostas V ou 0 para respostas F. Para outras quatro
questões, destina-se 1 ponto para as questões F e 0 para V. Quanto mais alta for
a pontuação, mais distante a pessoa se encontra do estilo resiliência. Quanto mais
baixa a pontuação, maior proximidade com o estilo.
A atitude é medida em laboratório, segundo Davidson e Begley (2012),
pela observação da quantidade de tempo que os circuitos cerebrais responsáveis
pelas emoções positivas permanecem ativos depois que uma pessoa observa
imagens que os ativam, como de uma mãe alegre ao abraçar o seu bebê ou de
alguém solícito prestando alguma ajuda.
Davidson e Begley (2012) entendem que a atitude relacionada a quanto
tempo conseguimos sustentar as emoções positivas, embora não claramente
presente em conceitos como predisposição para reagir a determinado objeto de
maneira geralmente favorável ou desfavorável (Michener, 2005), estão no campo
conceitual da atitude. De qualquer modo, ao nosso ver, não é algo tão distante de
determinadas facetas psicológicas utilizadas de modo mais amplo nos
procedimentos psicométricos de testes psicológicos. Facetas como assertividade
e realização, por exemplo, são examinadas no NEO-PI-R (Costa Junior, 2007),

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dinamismo e empenho/comprometimento na Bateria Fatorial de Personalidade –
BFP (Nunes, 2010).
Em questionários de referência, Davidson e Begley (2012) usam asserções
do tipo: “Mesmo nos dias agitados, passo de um evento ao seguinte, sem me
sentir cansado”.
A apuração segue o modelo apresentado sobre o estilo emocional da
resiliência.
Davidson e Begley (2012), ao dizerem que intuição social é a marca de
alguns dos maiores professores, terapeutas e professores que dedicam a vida a
cuidar dos outros, abrem caminho para uma melhor compreensão e avaliação
deste estilo emocional.
No laboratório, lembram Davidson e Begley (2012) é possível avaliar a
intuição social medindo as funções cerebrais e o comportamento. Um aparelho de
laser pode ser utilizado para rastrear os movimentos oculares de uma pessoa
quando mostramos imagens de um rosto.
Um exemplo do questionário para avaliar este estilo: “Muitas vezes, basta
olhar para outra pessoa para saber que algo a está incomodando”.
Davidson e Begley (2012) veem as pessoas autoperceptivas como aquelas
que são plenamente conscientes de seus pensamentos e sensações e estão
atentos às mensagens que o corpo lhes passa.
A avaliação deste estilo emocional em laboratório se faz pela medição da
sensibilidade de uma pessoa por meio de sinais fisiológicos internos. Examina-se
até que ponto o indivíduo consegue detectar seus próprios batimentos cardíacos.
Em teste do tipo V ou F, Davidson e Begley (2012) apresentam perguntas
como: “Quando vejo uma pessoa sofrendo, também sinto esta dor, tanto
emocional como fisicamente”. Os procedimentos de apuração são iguais aos
questionários anteriores.
A capacidade de regularmos nossas respostas emocionais para que
correspondam ao nosso contexto social é o estímulo emocional definido por
Davidson e Begley (2012) como sensibilidade ao contexto social.
Em termos laboratoriais, a sensibilidade ao contexto social pode ser
avaliada pela variação de respostas emocionais segundo o ambiente em que a
pessoa está inserida. Também se fazem exames no hipocampo para medir sua
função e sua estrutura, usando a ressonância magnética. Um exemplo de
asserção do questionário de avaliação que segue os protocolos anteriores de

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apuração é: “Uma pessoa próxima disse que costumo ser insensível aos
sentimentos dos outros”.
Davidson e Begley (2012) informam que a razão de considerarem a
atenção como um estímulo emocional está no fato de que imagens e sons simples,
embora já nos distraiam bastante, podem ser muito piores quando associados a
uma carga emocional.
Em laboratório, medimos a atenção seletiva e a atenção aberta. Na
primeira, podemos observar, enquanto a pessoa lê, se ela está enxergando as
mãos que seguram o livro, se consegue captar o som em ambiente silencioso, se
percebe os pés tocando o chão, se dá ênfase às sensações corporais. Para medir
a percepção aberta no laboratório, o indivíduo pode ser levado a observar uma
série de letras que, em dado momento, são intercaladas por um número que
aparece algumas vezes. A pessoa deve dizer o momento em que o número
aparece. Isso pode variar com a imagem de uma criança chorando em meio a
outras paisagens.
O questionário que mede a atenção contém perguntas do tipo: “Consigo
me concentrar em um ambiente barulhento”?
Numa visão geral da avaliação dos estilos emocionais, Davidson e Begley
(2012) afirmam que uma pessoa pode ser positiva e de recuperação rápida,
socialmente intuitiva, autoignorante, antenada e concentrada. Também dizem os
autores que a pessoa pode ser negativa, mas de recuperação rápida, desnorteada
em relação ao seu entorno social, autoignorante e desconcentrada. Conhecê-lo,
dizem Davidson e Begley (2012), é importante para entender a própria saúde e
suas relações e como modificá-lo.

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REFERÊNCIAS

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Consciousness. New York: The Guilford Press, 2005.

BRAGHIROLLI, E. M. Psicologia Geral. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012

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2018. Disponível em: <https://www.verywellmind.com/components-of-emotional-
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Inventário de Cinco Fatores Neo Revisado NEO-FFI-R São Paulo: Vetor: 2007.

DAVIDSON, R. J.; BEGLEY, S. The emotional life of your brain: how its unique
patterns affect the way you think, feel, and live--and how you can change them.
New York: Hudson Street Press, 2012.

FUMHAM, A. 50 cosas que hay que saber sobre psicologia. Buenos Aires:
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GANAIE, M. Y.; MUDASIR, H. A Study of Social Intelligence & Academic


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<http://www.jofamericanscience.org/journals/amsci/am110315/004_28107am110
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KIHLSTROM, J. F.; Cantor, N. Social Intelligence. In: STERNBERG, R. J. (Ed.).


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Disponível em:
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13
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2005.

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WARNER, J. Emotional Intelligence Style Profile. Massachusetts: HRD Press,


2001. Disponível em:
<http://www3.hrdpress.com/files/product_pdfs/style_profiles/eint.pdf>. Acesso
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WEITEN, W. Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo: Cengage


Learning, 2010.

WINDLE, G. (2011). What is resilience? A review and concept analysis. Reviews


in Clinical Gerontology, v. 21, n. 2, p. 152-169. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/231842385_What_is_resilience_A_rev
iew_and_concept_analysis>. Acesso em: 12 ago. 2019.

ZAHAVI, D. Self-awareness - an emerging field in neurobiology. Copenhagen:


Copenhagen University, 2014.

14
AULA 4

EMOÇÃO, APRENDIZADO E
MEMÓRIA

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


EMOÇÃO, ADAPTAÇÃO SOCIAL, EMPATIA E COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL

INTRODUÇÃO

Parece haver consenso entre estudiosos e especialistas que a emoção é


um conceito complexo, sendo necessário compreender os elementos que a
caracterizam e as teorias que a explicam para estudar quais conexões têm nossas
sensações com determinada região do cérebro.
O avanço da neurociência em favor de um entendimento sobre a
neurobiologia das emoções ainda apresenta muitas dúvidas, mas pesquisadores
e teóricos têm fornecido subsídios importantes para que se tenha, mesmo que
ainda incipiente, um modelo para entender as emoções.

TEMA 1 – EMOÇÃO SOCIAL

Constrangimento, culpa, vergonha, ciúme, inveja, elevação, empatia e


orgulho são exemplos de emoções sociais, também conhecidas como emoções
morais, por estarem associadas à moralidade e à tomada de decisões morais.
Hareli & Parkinson (2008) argumentam que a emoção social é social de um
modo diferente de outras. Para eles, vergonha e ciúme, por exemplo, são
emoções sociais porque dependem de pensamentos, sentimentos ou ações de
outras pessoas. São, portanto, emoções relacionadas a preocupações sociais.
Uma definição que ressalta as perdas sociais é a que vemos a seguir:

As emoções sociais são estados afetivos eliciados durante as interações


sociais e integrais para promover comportamentos socialmente
apropriados e desencorajar comportamentos socialmente inadequados.
Os déficits sociais de processamento de emoções prejudicam
significativamente as relações interpessoais e desempenham papéis
distintos na manifestação e manutenção da sintomatologia clínica.
(Jankowski; Takahashi, 2014)

Vergonha, culpa e inveja são emoções sociais chamadas secundárias, e


seguem circuitos neuronais da mesma maneira que as emoções primárias como
o medo, a tristeza, a raiva, o nojo, a surpresa e a alegria. Damasio (2005) entende
que decisões sociais têm impacto na sobrevivência de forma direta ou indireta. À
nível cerebral, a base neural consiste em disposições reguladoras para garantir a
sobrevivência do organismo.
Callegaro (2011) ilustra o funcionamento do cérebro com uma metáfora de
exército. Imagine um general que toma decisões sintetizando o conjunto de

2
informações que chegam já resumidas, trazidas pelos oficiais de alto escalão, e
assessores imediatos que recolheram essas informações de escalões inferiores.
Essa forma hierarquizada tem a unidade básica da informação em soldados, que
no cérebro são os neurônios. São bilhões de soldados formando uma rede enorme
que cobre um vasto território.
Para o general da metáfora, é impossível estar sempre ciente de cada
manobra, cada adversidade encontrada em algum ponto de grande malha de
caminhos de informações. Em nossa visão, podemos imaginar, espalhados no
território que compreende o organismo humano, unidades e postos que se
comunicam pela via informacional encarregados de controle, de defesa e de apoio
do organismo. Para isso, temos áreas como o neocórtex, o sistema límbico e
setores como a amígdala, o tálamo, o hipotálamo, entre outros.
As informações que chegam ao cérebro estão também vinculadas ao que
vivenciamos em nossas histórias pessoais. Segundo a Teoria dos Estilos
Emocionais de Davidson & Begley (2013), uma parte daquilo que nos caracteriza
emocionalmente é aprendida ao longo de nossas experiências de vida, e isso se
dá pela companhia de outras pessoas. A outra parte, programada biologicamente,
nos faz entender a Teoria do Apego de Bowlby (Livro da Psicologia, 2012). A
presença de outros em nossas vidas parece seguir um rito de vínculo que, ao
sofrer rupturas, acelera nossas emoções, assim como acontece no apego infantil,
no qual os laços seguros entre cuidador e criança criam estabilidade emocional.
Nossas emoções, sociais ou não, primárias ou secundárias, são
inspecionadas – segundo a metáfora de Callegaro (2011) – em postos de controle
cerebral, os quais determinam como o organismo deve se proteger.

TEMA 2 – ADAPTAÇÃO SOCIAL

Adaptação social compreende relações e interações sociais satisfatórias por


meio do ajustamento às normas sociais.
A literatura existente sobre adaptação social nos leva a vê-la como um
processo em que as pessoas ou grupos mudam seu comportamento para atender
a regras e normas vigentes no ambiente social.

Todas as pessoas compartilham os mesmos motivos biológicos, mas


seus motivos sociais de acordo com suas experiências. Por exemplo,
todos nós precisamos comer, mas nem todas as pessoas têm
necessidade de ordem. Embora elas tenham um número limitado de
motivos biológicos, podem obter um número ilimitado de motivos sociais
por meio de aprendizagem e socialização. (Weiten, 2010, p. 273)

3
A adaptação social pode ser investigada sob vários pontos de vista. Um
deles, que nos parece oportuno diante da compreensão da abrangência do termo
“adaptabilidade”, é o estudo de Henry Murray sobre comportamentos que podem
ser trabalhados no sentido de maior adequação a necessidades, situações e
circunstâncias. Sobre isso, Murray apresenta os seguintes motivos:

• Realização: necessidade de sobressair-se.


• Associação: necessidade de laços sociais.
• Autonomia: necessidade de independência.
• Oferecer cuidados: necessidade de cuidar e proteger os outros.
• Dominância: necessidade de influenciar e controlar os outros.
• Exibição: necessidade de impressionar os outros.
• Ordem: necessidade de ordem, asseio e organização.
• Jogo: necessidade de alegria, relaxamento e divertimento.

Se ao lado das necessidades sociais vistas por Murray existem as


necessidades biológicas como fome, sede e sexo, aprendemos desde crianças a
importância de sermos sociáveis. Um estudo feito com gêmeos monozigóticos e
dizigóticos entre 14, 20 e 24 meses, relatado por Weiten (2010), descobriu que
todas as emoções negativas mostram considerável influência genética, a culpa,
porém, se destaca por ter forte influência do ambiente social, evidenciando a
“hipótese de que a socialização é a influência predominante sobre as emoções
morais, como a culpa”.

TEMA 3 – EMPATIA

Empatia é entender e compartilhar os sentimentos do outro. Ela difere de


simpatia pois significa compartilhar um sentimento com alguém, ter os mesmos
sentimentos ou compaixão pelos sentimentos do outro. A simpatia pode estar
presente na empatia, porém isso não é uma regra.
A empatia está vigente em nossas vivenciais interpessoais e sociais por
meio da troca de experiências, necessidade e desejos. Nessa perspectiva, a
emoção tem papel relevante, pois é ela que, por meio de interações neuronais nas
estruturas do cérebro, nos faz compreender e se sentir no lugar do outro (Riess,
2017).
Em que circunstâncias, leitor, você sentiria empatia por uma pessoa em
necessidade a ponto de se sentir motivado a ajudá-la?

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Weeks (2014) conta que, num estudo, estudantes receberam, na
universidade, a tarefa de dar uma palestra sobre a parábola O bom samaritano.
Assim que chegaram, alguns foram informados que estavam atrasados, outros,
que estavam pontuais, e outros, que chegaram cedo. Direcionados à sala, os
estudantes passaram por um homem deitado na entrada, visivelmente precisando
de ajuda. Apenas 10% dos atrasados se apresentaram para ajudar, contra 45%
dos que estavam com certa pressa, e 63% dos que tinham tempo de sobra. Várias
perguntas podem ser feitas sobre essa pesquisa: seria o egoísmo que fez as
pessoas terem dificuldade em perceber o outro? Seriam as circunstancias
relacionadas ao tempo para cumprir a tarefa? Seria o efeito do espectador e os
estudantes não interviram por existir outros que interviram?
Há momentos em que uma pessoa ajuda outra por interpretar em si as
sensações sofridas do outro. É como se alguém emitisse considerações sobre
algo a uma pessoa como se estivesse traduzindo exatamente o que ela pensa
sobre o tema. No estudo da empatia, essa forma de pensar nos remete a dois
conceitos. O primeiro, podemos chamar de paráfrase cognitiva.

Paráfrase cognitiva (de conteúdo): com consiste em repetir com as


nossas próprias palavras, o que o outro disse, verificando se
entendemos, aumentando a precisão na comunicação e a compreensão
mútua. É escuta ativa e empática (perceber pelo prisma do outro). É
também um tipo direto de feedback para o emissor, especialmente bom
para situações de conflito. Quando alguém estiver irritado conosco ou
criticando nossas ideias, podemos usar paráfrase até conseguir mostrar-
lhe que entendemos o que ele/ela está querendo transmitir. (Silva, 2019,
p. 100)

O outro conceito chamamos de paráfrase emocional:


Paráfrase emocional ou verificação da percepção de sentimentos
consiste em relatar nossa percepção sobre o que o outro está sentindo,
para verificar se compreendemos seus sentimentos, isso é possível pela
atenção dirigida ao comportamento não verbal do emissor. (Silva, 2019,
p. 100)

TEMA 4 – MANIFESTAÇÕES DAS EMOÇÕES

No livro A expressão das emoções no homem e nos animais (1872),


Charles Darwin argumenta que as expressões humanas de emoção são inatas e
universais.
Um dos modos de ampliar o nosso entendimento sobre as emoções é vê-las
como sinais sociais poderosos. Para Furnham (2008. p. 64), “os termos emoção
e motivação têm a mesma raiz latina, que significa ‘movimento’. As emoções nos

5
enviam mensagens rápidas, potentes e de caráter físico que nos permitem
responder ao nosso entorno”. Essa concepção de algum modo facilita a
comunicação de um indivíduo a outros, quer seja de forma voluntária, quer seja
involuntária.
No entender de Braghirolli (2012), há três indicadores utilizados para
identificar as emoções:

1. Relatos verbais;
2. Observação de comportamento;
3. Indicadores fisiológicos.

Ao nosso entendimento, em termos comunicacionais, poderíamos colocar


essa concepção em duas áreas: a comunicação verbal e a comunicação não
verbal.
Do ponto de vista da comunicação verbal, em qualquer circunstância em
que tenhamos pela frente uma pessoa verbalizando algo, estaremos também
vendo a expressão de emoções. Se avaliarmos esse processo comunicacional de
modo mais específico, temos o exemplo do trabalho do psicólogo em
atendimentos clínicos. Nessa linha, Wright, Basco e Thase (2008) explicam que o
psicólogo avalia histórias contadas pelo sujeito sobre um evento que o aborreceu,
explora os significados emocionais desses eventos, tenta identificar cognições
que fazem emergir pensamentos automáticos (pensamentos instantâneos
provocadores de fortes emoções) e faz perguntas sobre as atitudes do sujeito
durante um evento que o emocionou. É oportuno lembrar que o psicólogo, ao
avaliar a comunicação verbal, está também atento às mensagens não verbais do
corpo e da face.
No nível da comunicação não verbal em que Braghirolli (2012) chama a
atenção para a observação do comportamento, ela refere-se ao olhar sobre os
gestos, a postura corporal, a expressão facial e outros movimentos. Em nosso
entender, o terceiro elemento de manifestação, apresentado por Elaine Braghirolli,
pode ser vinculado à comunicação verbal, uma vez que, a julgar pela Teoria das
Emoções James-Lange, indicadores fisiológicos são sempre acompanhados de
uma determinada mensagem não verbal na própria emoção.
Concordamos com a visão geral de que a comunicação não verbal é muito
mais ampla em significados do que a comunicação verbal. A favor disso, temos a
perspectiva apresentada por outros autores como Silva (2019), que atestam o
peso da comunicação não verbal acima da comunicação verbal.
6
A maior parte de nossa comunicação é não verbal, implícita, não
consciente e determinada pela emoção. Ela define a qualidade da
comunicação e é mais poderosa que a comunicação verbal! Não
percebemos nossas verdadeiras intenções de comunicar, nem os
mecanismos que usamos para enviar e receber/interpretar/enviesar e
filtrar as informações que nos chegam. (Silva, 2019, p. 98)

TEMA 5 – A COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL E A EMOÇÃO


Especialista em emoções, o psicólogo Paul Eckman descobriu que, na
maioria das vezes, as expressões faciais usadas para transmitir emoções básicas
tendem a ser as mesmas em todas as culturas.
No tema neurobiologia das emoções, vimos, de acordo com a Teoria do Feedback
Facial, que a emoção é a experiência das alterações musculares faciais que
ocorrem.
Em relato de Kleinman (2015), o estudante de Psicologia Carney Landis,
da Universidade de Minnesota, desenvolveu, em 1924, um experimento para
entender a relação entre expressões faciais e emoções. O interesse era verificar
sinais universais em expressões emocionais. No laboratório, Landis pintou linhas
pretas nas faces de estudantes convidados para detectar movimentos
musculares, e os fez cheirar amônia, olhar pornografia e colocar as mães em um
balde cheio de sapos. No final do experimento, ele apresentava um rato vivo e
pedia para que os estudantes o decapitassem. O estudo, sem querer, antecipou
os resultados que Stanley Milgran obteria 40 anos depois a respeito de
investigações sobre obediência a autoridade, e confirmou alguma universalidade
nas expressões emocionais apresentadas. Houve indignação sobre a decapitação
do ratinho, mas dois terços dos estudantes fizeram a tarefa.
Várias pesquisas têm enfatizado que as entonações vocais e os
movimentos faciais, corporais e oculares representam a principal forma de
comunicação humana. Guerrero & Floyd (2006) destacam a presença maior da
comunicação não verbal sobre a comunicação verbal em emoções positivas
existentes nos relacionamentos próximos. Silva (2019) valoriza a questão da
veracidade do que é passado na comunicação não verbal.
Ao nosso ver, o grau de falseamento das emoções quando nos deparamos
com a comunicação não verbal parece ser uma empreitada difícil. Nesse
seguimento, nos reportamos à Teoria de James-Lange que diz que, diante de um
estímulo externo, há sempre um resultado: a reação fisiológica. Em outras
palavras, podemos dizer que a reação fisiológica é a sinalização de uma emoção
interpretada.

7
O corpo, a face e os movimentos estão vinculados às respostas fisiológicas.
Ao observarmos os rostos, podemos logo julgar se alguém está feliz ou triste,
contente ou insatisfeito, se é amigável ou perigoso (Mlodinov, 2013, p. 48). Esse
autor acrescenta que “nossas honestas reações a eventos são refletidas em
expressões faciais controladas em grande parte pela nossa mente inconsciente”.
A literatura é vasta em apresentar as emoções não-verbais no
processamento inconsciente da mente (Callegaro, 2011; Mlodinov, 2013; Silva,
2019). No dizer de Callegaro (2011, p. 43), “os sentimentos são mecanismos
reguladores de alto nível que traduzem em linguagem consciente, todo um iceberg
de processamento inconsciente”.
Quando tratamos do tema “O papel da emoção na memória e no
aprendizado”, dissemos que não precisamos das palavras da língua portuguesa
(entre 400 e 600 mil) para expressarmos emoções, pois elas se revelam de
maneira não verbal (Silveira, 2019). Gazzaniga & Heatherton (2005) por sua vez,
de modo específico, afirmam que, embora existam mais de 550 palavras na língua
inglesa referidas especialmente para a emoção, os humanos conseguem se
comunicar muito bem sem a linguagem verbal.

Por exemplo, as pessoas evitam aqueles que parecem zangados e se


aproximam dos que parecem felizes ou necessitados de consolo.
Mesmo entre os chimpanzés, o sorriso de um macho subordinado para
um dominante por evitar um ataque potencial. Assim, as emoções
fornecem informações para os outros de como as pessoas estão se
sentido e, além disso, podem estimulá-las a responder de acordo com
os desejos e as necessidades alheios! (Gazzaniga; Heatherton, 2005, p.
316)

5.1 Expressões faciais

Para quem assistiu à série de TV Lie to Me, deve ter reparado em várias
situações de decodificação facial de expressões humanas para detectar mentiras
ou verdades. O psicólogo Paul Ekman, Consultor da série, é também um pioneiro
no reconhecimento de emoções nos anos 60. Em suas pesquisas, ele encontrou
concordância entre membros de culturas ocidentais e orientais para investigar
micro expressões faciais como felicidade, desgosto, raiva, tristeza, surpresa e
medo.
O trabalho de Ekman (2011) nos ajuda a compreender que um micro
expressão como uma expressão facial breve e involuntária, ao contrário das
expressões faciais regulares e prolongadas, é difícil de ser manipulada. As sete
emoções apresentadas por Ekman, felicidade, tristeza, surpresa, medo, raiva,

8
nojo e desprezo, são hoje, conforme novas pesquisas, apenas quatro: felicidade
(alegria), tristeza, raiva e medo (Cherry, 2019).

5.2 Gestos

Os gestos fazem parte do nosso cotidiano, servindo para acenar, apontar


e revelar vários tipos de emoções. Os gestos, de um modo geral, são arbitrários
e relacionados à cultura, variando de significado em diferentes povos. O sinal de
OK, por exemplo, feito com a mão, é positivo em países de língua inglesa e
ofensivo em países como Alemanha, Rússia e Brasil.

5.3 Movimento corporal e postura

As pessoas revelam suas emoções quando se sentam, caminham, ficam


de pé ou seguram a cabeça. Percebe-se que, em estudos da comunicação da
linguagem corporal e da postura, esses movimentos corporais e postura não são
tão frequentes e volumosos como estudos da expressão facial. Desse modo,
avanços são necessários para se ter uma noção mais definitiva.

5.4 Contato visual

Olhar e piscar são importantes comportamentos não verbais. O olhar


também é usado para detectar honestidade, visto que pessoas com contato visual
regular e constante são vistas como confiáveis, enquanto que olhos inquietos e
incapazes de contato visual são vistos como enganadores.

5.5 Tocar

O toque revela afeição, familiaridade, simpatia. Pesquisas têm sido feitas


com crianças na primeira infância relacionadas a temas como a terapia do apego
de Bowlby, ou em animais como os estudos de macacos de Harry Harlow. O que
se observa é a importância comunicativa do toque, tanto em seres humanos como
animais da espécie dos mamíferos.

5.6 Voz

A voz comunica pela intensidade, pelo tom e pela inflexão. Pode-se dizer
que não é exatamente o que si diz, mas como se diz. Tempo, ritmo e volume são
sons que podem transmitir vários significados emocionais. É interessante
observar que, em determinadas ocasiões, as expressões faciais acompanham a
voz, assim como os gestos e os movimentos corporais.

9
10
REFERÊNCIAS

CALLEGARO, M. M. O novo inconsciente: como a terapia cognitiva e as


neurociências revolucionaram o modelo do processamento mental. Porto Alegre:
Artmed, 2011.

CHERRY, K. How Many Human Emotions Are There? Verywell Mind. Disponível
em: <https://www.verywellmind.com/how-many-emotions-are-there-2795179>.
Acesso em: 13 ago. 2019.

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patterns affect the way you think, feel, and live--and how you can change them.
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EKMAN, P. A linguagem das emoções. São Paulo: Lua de Papel, 2011.

FURNHAM, A. 50 cosas que hay qye saber sobre psicologia. Buenos Aires:
Ariel, 2011.

GAZZANIGA, M. S.; HEATHERTON, T. F. Memória. In. GAZZANIGA, M. S.;


HEATHERTON, T. F. Ciência Psicológica: Mente, Cérebro e Comportamento.
Porto Alegre: Artmed, 2005.

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HARELI, S.; PARKINSON, B. What's Social About Social Emotions? Journal for
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LEAHY, R. L. Regulação emocional em psicoterapia: um guia para o terapeuta


cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.

MLODINOV, L. Subliminar: como o inconsciente influencia nossas vidas. Rio de


Janeiro: Zahar, 2013.
11
BENSON, N. et al. Livro da Psicologia. São Paulo: Globo, 2012.

RIESS, H. The Science of Empathy. Journal of Patient Experience.


Massachusetts v. 4, n. 2, p. 74-77, maio 2017.

SILVA, F. E. Uma aventura por trilhas da neuroeducação. Curitiba: Editora


InterSaberes, 2019.

SILVEIRA, R. D. Emoção, memória e aprendizado. Neurobiologia das Emoções.


Apostila de Sala de Aula. Uninter, 2019.

WEEKS, M. Se liga na psicologia. São Paulo: Globo, 2014.

WEITEN, W. Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo: Cengage


Learning, 2010.

WRIGHT, J. H.; THASE, M. E. Aprendendo a terapia cognitivo-


comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008

12
AULA 5

EMOÇÃO, APRENDIZADO E
MEMÓRIA

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


CONVERSA INICIAL

A cognição e a emoção têm merecido interesse contínuo de neurocientistas


e psicólogos. Falar em interações cognitivo-emocionais no campo na neurociência
é falar de interações neurais entre a amígdala e as áreas do cérebro envolvidas
na cognição. O que tem sido discutido nas publicações sobre o tema é a presença,
nesses circuitos, do neocórtex e do hipocampo, pois a eles nos voltamos para a
atenção e a memória, elementos envolvidos em qualquer estudo da área.
Questionar-se sobre a influência da cognição no afeto, ou do afeto na
cognição, é buscar respostas com base em um entendimento sobre a percepção
e o julgamento, e sobre processos cognitivos presentes nas interações cognitivo-
emocionais, como veremos na sequência.

TEMA 1 – FUNDAMENTOS PARA A COMPREENSÃO DE PROCESSOS


COGNITIVOS

O estudo das interações cognitivo-emocionais indica que processos


psicológicos não podem ser mapeados por regiões isoladas do cérebro. Imagine
que você está em frente ao seu computador assistindo a um vídeo, e de repente
ouve um grito e o som de uma porta batendo. Seu cérebro entra em atividade
intensa; primeiramente, você se dá conta de que aquilo não está no vídeo. E
então, você se lembra de que no apartamento ao lado há uma mulher que costuma
bater forte no filho de nove anos. Você tira os fones, corre até a porta e cola o
ouvido na parede. Sua atenção está focada naquilo que o seu cérebro priorizou.
Um barulho no outro ponto faz você correr e olhar a janela. Talvez uma agressão
esteja acontecendo no andar térreo. Você fica pensando se abre a porta para
sondar o apartamento do lado, se desce de elevador até o térreo, ou se volta para
ver o vídeo. Neste momento, você aciona todos os seus processos cognitivos, e
por meio deles expressa suas emoções.
Ao longo da história dos estudos sobre cognição, especialmente quando
psicólogos e outros cientistas começaram suas pesquisas, não se dava atenção
à emoção. Aspectos cognitivos relacionados a tomadas de decisão, atenção e
memória, entre outros, eram tomados no sentido da informação puramente
racional (Gazzaniga; Heatherton, 2005). Com a observação de que em respostas
a situações consideradas essencialmente cognitivas se mostravam,

2
frequentemente, sinais afetivos, os estudiosos passaram a se dedicar à
investigação do que estaria vinculando um caráter emocional às respostas.
A emoção também envolve tomadas de decisão que são orientadas por
marcações privadas em nossa memória. Ao serem acessadas, elas interferem na
forma como pensamentos nos mobilizam a ter este ou aquele comportamento em
resposta a diferentes eventos. Pode-se considerar, nesse processo, o conceito de
pensamento automático desenvolvido pela Terapia Cognitivo-Comportamental
nas tomadas de decisão:

Um grande número dos pensamentos que temos a cada dia faz parte de
um fluxo de processamento cognitivo que se encontro logo abaixo da
superfície da mente totalmente consciente. Esses pensamentos
automáticos normalmente são privativos ou não declarados e ocorrem
de forma rápida à medida que avaliamos o significado de
acontecimentos em nossas vidas. (Wright; Basco; Thase, 2008, p. 19)

Pensamentos automáticos geram emoções de modo particular e subjetivo,


e aí residem as nossas cognições. Weiten (2010) explica que, para estudar o
componente cognitivo das emoções, os psicólogos investigam as informações que
as pessoas relatam sobre suas sensações emotivas. Por esses relatos percebe-
se, que a emoção é um sentimento interno, intenso, que “às vezes parece ter vida
própria” (Weiten, 2010, p. 286). O autor explica que não podemos ligá-la e desligá-
la quando quisermos, muito embora ao nosso ver possamos desenvolver
mecanismos para lidar melhor com elas.
Furnham (2011) vai além, ao tratar de como os psicólogos e outros
profissionais próximos buscam localizar os pensamentos automáticos e
compreender as emoções de uma determinada pessoa. Quatro métodos
avaliativos ajudam a quantificar as emoções. Primeiro, as informações que a
pessoa oferece acerca de si mesma; segundo, o que os outros dizem a respeito
dela; terceiro, a observação do comportamento da pessoa quando realiza uma
tarefa; quarto, um método fisiológico com exames, como por exemplo frequência
cardíaca, sinais cerebrais, mostras de sangue e saliva.
Sejam quais forem os dados sobre as emoções, as cognições devem
sempre ser consideradas, pois podem estar vinculadas ao tipo de resposta
emocional apresentado pela pessoa. Por esse prisma, somos levados a focar na
informação geradora da emoção, o que nos faz considerar dois sistemas de
processamento: o afetivo e o cognitivo. O primeiro não está presente no
pensamento consciente; é reativo, uma vez que desencadeia vários eventos
psicofisiológicos de modo automático, no momento em que a informação sensorial
3
é recebida (Komninos, 2017). O processamento cognitivo é consciente e envolve
a análise das informações sensoriais que fazem o contrabalanço do sistema
afetivo.
Para Shackman, Fox e Seminowicz (2015, tradução nossa), “palavras,
medo, recompensa, atenção e outros processos psicológicos não podem ser
mapeados para regiões isoladas do cérebro, porque nenhuma região é única o
suficiente e necessário para isso".

TEMA 2 – PERCEPÇÃO E JULGAMENTO

Integrada à atenção, a percepção mobiliza a memória e o raciocínio, além


de produzir elementos para fazer o julgamento dos eventos que culminarão em
respostas emocionais, ao considerarmos que a afetividade é uma disposição ou
uma suscetibilidade, diante do que percebemos no mundo real ou simbólico, que
nos alinha no plano de processos interativos. Isso acontece por meio de
informações que percebemos e julgamos. Poderíamos dizer que uma sensação
ou uma intuição está ligada à nossa percepção. Quando pensamos e sentimos,
também julgamos.
Percebemos quando interpretamos um estímulo em um determinado
evento, com base em uma experiência. Dito dessa forma parece um processo
simples, mas a percepção também envolve processos fisiológicos e psicológicos.
O que percebemos tem a ver com o nível de precisão de nossos sentidos, a
clareza das sensações, como sentimos, além das cognições que existem de forma
privada em nossas mentes.
A esta altura, é necessário diferenciar mais precisamente as ideias de
sensação e sentir. Ao nosso ver, sensação é a apreensão do objeto/evento,
através de audição, visão, tato, paladar e olfato. Sentir é perceber alguma coisa
pelos sentidos, mas também pelos sentimentos. Experimentamos um cheiro, por
exemplo, e temos uma impressão física e crítica sobre ele e sobre o evento que o
propiciou.
Pensamento, sentimento, intuição e sensação foram estudados por Carl
Jung, que desenvolveu suas ideias a partir da percepção e do julgamento. Seu
foco foi definir tipos de personalidade dentro da concepção de extroversão e
introversão. De um modo geral, os processos cognitivos são estudados pela
neurologia, filosofia e psicologia, e ganham impulso pelas técnicas de
neuroimagem, que mostram como processamos as informações, e quais partes

4
do cérebro estão relacionadas a quais processos cognitivos. Com a revolução
cognitiva nos anos 1960, e com os estudos dos processos mentais pela psicologia
cognitiva, temos nos dias de hoje uma visão mais avançada dos processos
cognitivos.
Os elementos, pensamento, sentimento, a intuição e a sensação, fazem
parte do perceber e do julgar. Julgar é tomar decisões e formar conclusões com
base em informações disponíveis, que combinamos com a experiência. Neste
processo, incluímos sentimento, intuição e sensação, que são inerentes ao
processo de percepção.
Pela percepção, um estímulo específico nos chega; pela atenção, ao julgá-
lo, nós o interpretamos. Como é que mantemos percepções significativas num
mundo de estímulos aparentemente caóticos? A contribuição da psicologia da
Gestalt é que a mente humana forma um todo global com tendências auto-
organizadas. O nosso cérebro percebe as coisas dentro de um espectro de
agrupamento, não de separação, e assim nos ajuda a organizar o que pensamos,
sentimos e intuímos, além das nossas sensações. Essa tendência nos garante
rapidez e aplicabilidade, mas não garante precisão, o que pode nos levar a
percepções e julgamentos equivocados.
A todo instante, fazemos julgamentos; o modo como eles surgem está
baseado principalmente em percepções sensoriais que, ao se juntar com
marcações privadas de história de vida, produzem o julgamento perceptivo.
Cognições e emoções em movimento nos fazem sentir felizes ou infelizes.
Podemos nos perguntar se, no julgamento perceptivo, vêm primeiramente as
reações fisiológicas ou as reações emocionais, mas trata-se de um longo
caminho. Pelo senso comum, uma emoção como o medo viria antes de reações
físicas, como suor, tremedeira e coração acelerado, e antes de certos
comportamentos, como a fuga. Ao tratar sobre o tema, Weeks (2014) nos lembra
que William James e Carl Lange argumentaram o contrário, ao defenderem que,
diante de algo ameaçador, primeiro suamos e trememos, e isso é que nos causa
medo. Lazarus, por sua vez, afirmou que uma avaliação (processo mental
automático e inconsciente) precede a resposta emocional (citado por Weeks,
2014). Entende-se que a avaliação a que Lazarus se refere, que nos faz julgar e
provocar uma emoção, é parte do viés cognitivo.
Vieses cognitivos, segundo Furnham (2011), “são como filtros seletivos
através dos quais vemos e interpretamos os acontecimentos”. Para alimentar os

5
filtros, usamos codificações sensoriais, isto é, recorremos aos sentidos. Diferentes
aspectos do ambiente físico são codificados por diferentes impulsos neurais.
Nossos receptores de informação são os neurônios que transmitem dados ao
cérebro, na forma de impulsos neurais. Segundo Gazzaniga e Heatherton (2005),
a maior parte do que obtemos como informação vai primeiro para o tálamo, para
dali ser distribuída ao córtex, onde será interpretada como visão, cheiro, som,
toque ou sabor.

TEMA 3 – ATENÇÃO

A atenção é um processo cognitivo caracterizado pela concentração


seletiva em determinado aspecto subjetivo ou objetivo de uma informação,
ignorando outras possíveis informações. A atenção está vinculada “à forma como
um indivíduo de maneira ativa processa informações especificamente presentes
em seu ambiente” (Kleinman, 2015, p. 79).
Para Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 175), a atenção é “o estudo de
como o cérebro seleciona quais estímulos sensoriais descartar e quais transmitir
para níveis superiores de processamento”.
Os estímulos presentes no nosso cotidiano acontecem ao mesmo tempo,
mas o foco de nossa atenção vai para o que nos interessa. Também a usamos
em proporções diferentes. Por exemplo, praticamente não a acionamos ao
caminhar e mastigar, mas diante de uma reunião ou de uma palestra ela é
prontamente mobilizada. A forma como trabalhamos nosso interesse requer
diferentes tipos de atenção. Procedimentos atencionais, como na atenção
seletiva, exigem habilidades complexas e sofisticadas, o que comprova a
efetividade da participação do neocórtex para o processamento de sinais que
ocorrem nas áreas corticais sensoriais. Isso ocorre de modo determinante em
primatas e outros mamíferos, sendo diferente em não-mamíferos, como pássaros,
répteis, anfíbios e peixes, que carecem completamente de neocórtex, mas ainda
assim são capazes de apresentar atenção seletiva (Krauzlis et al., 2018).
Pessoa (2009), ao se referir às estruturas cerebrais na atenção, apresenta
três pontos: (1) é possível que projeções diretas da amígdala para regiões de
processamento visual influam na atenção; (2) a amígdala interage com outras
regiões para o controle da atenção, como as regiões frontal e parietal; (3) é
possível que a amígdala recrute (indiretamente) circuitos de atenção de modo a
melhorar o processamento sensorial de estímulos carregados de emoção.

6
A atenção concentrada refere-se à concentração do cérebro em apenas
uma atividade, excluindo outros estímulos ao redor. Ao dirigir em lugar
desconhecido, ou em alta velocidade, por exemplo, você precisa manter a atenção
concentrada.
A atenção alternada pode ocorrer quando você está dirigindo e o celular
toca. Ao desviar a atenção para o aparelho – o que não é recomendável –, a
pessoa alternou a sua concentração.
Na atenção dividida, ainda podemos usar o exemplo da direção: você
atende o celular e ainda anota alguma coisa em um papel, como um endereço
dado pelo celular. Trata-se de prestar atenção a várias coisas ao mesmo tempo;
é uma capacidade limitada que interfere na quantidade de informações
processadas no cérebro.
Pessoas que usam a atenção seletiva podem prestar atenção a coisas
específicas, enquanto filtram outras. É o caso de não se distrair quando está
voltado para uma outra coisa, não se incomodando por exemplo com barulhos e
outros fatores que poderiam desviar a mente.

TEMA 4 – MEMÓRIA

A memória é a função cognitiva que nos permite codificar, armazenar e


recuperar informações do passado. Trata-se de um processo que cria um senso
de identidade. A memória, em psicologia cognitiva, corresponde ao que ocorre na
aquisição, armazenamento, retenção e recuperação de informações (Kleinman,
2015). Neste processo, usa-se codificação, armazenamento e recuperação. Ele
ocorre em fluxo: primeiro a codificação, depois o armazenamento e, quando surge
um evento que provoca uma necessidade informativa, há a recuperação.
Pessoa (2009) faz uma apreciação da memória ao discorrer que a amígdala
está envolvida na aquisição, no armazenamento e na expressão de respostas
condicionadas pelo medo. Há, também, além do armazenamento, uma
aprendizagem; assim, um estímulo neutro (som) seria capaz de predizer um
evento aversivo (um choque). Se avançamos para memórias que não são
necessariamente ameaçadoras ou negativas, mas emocionais, e comparamos
itens neutros com os de caráter emocional, os humanos lembram mais de
informações emocionais. Há vários estudos sobre o tema em registros científicos.
A ideia de que a amígdala direita está mais fortemente envolvida na
formação da memória emocional, enquanto a amígdala esquerda está envolvida

7
na recuperação dessas memórias, aparece em artigo de Pessoa (2009) sobre os
processos mentais na relação entre cognição e emoção
Ao tratar de processos mentais, destacamos três estágios da memória.
Temos a memória sensorial (primeiro estágio), que recebe a informação pelo
órgão dos sentidos (escuta ou vê, por exemplo). Uma informação sensorial é
armazenada na memória por um prazo curto. Kleinman (2015) informa que a
informação auditiva é armazenada por três ou quatro segundos, enquanto a
informação visual é guardada por meio segundo.
A memória de curto prazo retém temporariamente as informações
processadas – algo em torno de 20 ou 30 segundos. Se você tiver que dar os dez
dígitos de um número que lhe passaram, provavelmente será capaz de se lembrar
entre cinco e nove números. O que se sabe na literatura sobre o tema é que a
memória de curto prazo é capaz de reter sete elementos, com uma variação de
dois para mais ou para menos.
Quando as pessoas falam em memória, geralmente se referem à memória
de longo prazo, que diz respeito ao armazenamento contínuo de informações.
Na visão de Sigmund Freud, a memória de longo prazo também poderia ser
inconsciente e pré-consciente (Kleinman, 2015).

TEMA 5 – INTERAÇÕES COGNITIVO-EMOCIONAIS

A literatura vigente sobre interações cognitivo-emocionais confirma as


discussões de conteúdos anteriores, quando falávamos de uma mudança no
entendimento da emoção e da cognição como sistemas separados. Estudos da
neurociência e da psicologia demonstram que as duas não apenas interagem,
como possibilitam o funcionamento adaptativo a partir de uma operação
integrativa.
Alguns dados abordados até agora, no amplo tema que compreende os
estudos sobre cognição e emoção, nos fazem pensar que processos como
memória, atenção e linguagem podem envolver mais diretamente a espécie dos
primatas. Estudos sobre a manutenção de informação na mente de macacos com
ênfase em atividades no córtex pré-frontal dorsolateral nos informam que o
objetivo de manter uma informação na mente pode ser controlado (Pessoa, 2009).
É oportuno lembrar que uma série de experimentos realizados nos anos
1960, e chamados de “efeito de mera exposição”, teve influência sobre as
discussões a respeito da proximidade entre emoção e cognição. O efeito de mera

8
exposição é a exposição repetida ao mesmo estímulo, que produz atitude positiva
em relação a ele (Michener; Delamater; Myers, 2005, p. 625). É o caso de estudos
sobre o fenômeno psicológico, segundo os quais as pessoas tendem a
desenvolver preferência por coisas ou pessoas que são mais familiares.
No cérebro, o processamento inconsciente provocado pela exposição
repetida aumenta a familiaridade e gera, de modo subcortical, respostas
automáticas afetivas, que se integram a respostas cognitivas mais lentas,
produzidas pelo processamento consciente no modo cortical.
No sentido de avançar com uma base anatômica para as interações
cognitivo-emocionais, podemos imaginar a nossa estrutura cérebro-corpo como
um pequeno mundo, onde existem vias de acesso, e onde minúsculas entidades,
os neurônios, diminuem distâncias por meio de sinapses. As áreas corticais deste
pequeno mundo se conectam diretamente, ou através de uma ou mais áreas
intermediárias. Podemos imaginar como exemplo que as áreas pré-frontais estão
mais afastadas da periferia sensorial, supondo que as informações que elas
recebem já passaram por vários caminhos e que, ao chegar, já foram altamente
processadas e integradas (Pessoa, 2009). O autor defende também que isso pode
explicar a maior flexibilidade do cérebro primata, além de sugerir que informações
altamente processadas seriam capazes de suportar igualmente um
processamento mais abstrato, necessário para a cognição. É notável, nesta
concepção, as características da amígdala, que está bem afastada da periferia
sensorial, e que faz projeções muito difundidas. Ou seja, ao nosso ver, a
informação que provoca uma determinada emoção ameaçadora, por exemplo,
chega carregada à amígdala, exigindo defesa imediata. É possível, em nosso
entendimento, que mesmo com a perspectiva de flexibilidade do neocórtex no
pensamento lógico, em interações cognitivo-emocionais, os circuitos que dão
acesso às vias fiquem limitados ao controle da amígdala.
Não há um consenso definitivo sobre as interações cognitivo-emocionais,
já que parte significativa do que se conhece está relacionada a lesões cerebrais,
como o caso HM, já visto, em que o pesquisador pode tirar conclusões de áreas
específicas do cérebro. Isso não parece ser suficiente para uma visão mais
precisa, que fosse capaz de nos ajudar a entender comportamentos cerebrais
complexos. Podemos descobrir uma determinada rota informacional produzida
por sinapses que ligam esta ou aquela estrutura, mas não conseguimos avançar
sobre o processamento mental quando isso ou aquilo é perdido.

9
As emoções nos enviam mensagens rápidas, potentes e de caráter físico,
que nos permitem responder ao nosso entorno, além de facilitarem a comunicação
voluntária ou involuntária (Furnham, 2011). Podemos pensar nela como
puramente física, isto é, separada da cognição; porém, desse modo ela não
explica o comportamento humano, que é diferente do “comportamento” das
plantas, das minhocas, das rochas. É como se quiséssemos explicar alguma coisa
apenas em um determinado ponto, sem explicar o todo para onde aquilo vai.
As emoções são produto de sistemas complexos de processamento, que
convertem informações sensoriais em mudanças psicofisiológicas e respostas
emocionais. Komninos (2017), ao tratar do assunto, aponta que cognição e afeto
nos ajudam a converter informações do ambiente em representações sobre o
mundo, com juízos de valor que determinam como reagimos e nos comportamos.

Os sistemas afetivo e cognitivo são pensados para trabalhar


independentemente, mas eles influenciam um ao outro, com o primeiro
funcionando inconscientemente, enquanto o segundo opera no nível
consciente. Por exemplo, imagine que você está prestes a fazer um
discurso na frente de uma sala cheia das pessoas, o sistema afetivo é
imediatamente acionado, com produtos químicos liberados em seu
corpo em resposta à situação automaticamente e sem a sua capacidade
de controlar essa resposta fisiológica, mas você pode então tentar
racionalizar a situação e focar em suas linhas, o que você quer dizer, os
pontos que você quer passar e as técnicas que você pode ter coberto de
antemão. (Komninos, 2017)

Emoção e cognição não são diferentes em espécie, mas estão


profundamente entrelaçadas no tecido do cérebro – a emoção com sentimentos
de prazer ou dor e a cognição frequentemente parecendo desprovida de aspectos
emocionais ou somáticos substanciais (Shackman; Fox; Seminowickz, 2015).
Podemos pensar na cognição pelos seus processos, como memória,
atenção e linguagem, mas ela precisa ser acionada por alguma espécie de força
ou energia. Isso nos faz ver que há cognição separada de emoção. Porém,
quando tratamos de interações cognitivo-emocionais, estamos falando do
comportamento humano, e neste seguimento vale o olhar gestáltico de que o todo
é mais do que a soma das partes. Conhecer as propriedades fisiológicas das
reações sensoriais ou dos processos cognitivos não nos garante uma
compreensão do comportamento humano. É como conhecer o conjunto de
elementos do hidrogênio e do oxigênio – este saber não antecipa a totalidade de
propriedades da água, seus fatores de fusão, ebulição, viscosidade, natureza
física, coesão molecular, entre outros. A água é mais do que a soma de um

10
hidrogênio com dois oxigênios. Quando fazemos a união de um e outro, criamos
uma nova entidade, com novas propriedades.
Interações cognitivo-emocionais, que nos deixam alegres ou tristes,
assustados ou raivosos, podem determinar e ser determinadas por reações
fisiológicas, até onde sabemos. É notório que o conhecimento que temos é
relevante e significativo, mas ainda temos muito que avançar para ter maior
controle consciente do que acontece na interação entre nossas emoções e
cognições.

11
REFERÊNCIAS

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Ariel, 2011.

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WRIGHT, J. H; BASCO, M. R.; THASE, M. E. Aprendendo a terapia cognitivo-


comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.

12
AULA 6

EMOÇÃO, MEMÓRIA E
APRENDIZADO

Prof. Reginaldo Daniel da Silveira


RESILIÊNCIA – COMO AUMENTAR EMOÇÕES POSITIVAS EM CONTEXTOS
NEGATIVOS (NEUROCIÊNCIA POSITIVA)

A resiliência trata do modo como as pessoas lidam com os eventos


estressantes de suas vidas. A vida pessoal, o trabalho, os relacionamentos, as
doenças, as ameaças do ambiente social geram eventos que podem ser
traumáticos.
O presente estudo dá atenção aos fundamentos conceituais da resiliência,
seus aspectos neurobiológicos e estratégias para desenvolver uma mente
resiliente.

TEMA 1 – INTRODUÇÃO À RESILIÊNCIA

Resiliência é um conceito simples e direto: é a adaptação positiva apesar


da adversidade. De repente você ouve: “Bons tempos aqueles em que Apple e
BlackBerry eram apenas frutas”. Então a pessoa confessa que não consegue
fazer mais nada a não ser ficar grudada no celular, que seu trabalho vai mal, que
seu relacionamento amoroso vai mal. Ela se queixa de que alguém falou coisas
ruins dela no Facebook. Você pensa: “Nossa! Pra mim a tecnologia é boa, achei
que ela facilita minha vida!”.
Um outro reclama que exigem demais dele, que a qualquer momento pode
ser demitido, que não sabe o que escrever no relatório, que seu carro é uma
droga, enfim… A culpa pode ser colocada no mundo contemporâneo, podemos
argumentar que o governo vai mal, que o juiz é um idiota, que o bairro é péssimo,
que o parceiro é promíscuo, podemos falar um monte de coisas e, em suma, dizer
que o problema está fora de nós. Podemos até reafirmar Rousseau ao defender
que “o homem nasce livre, mas por toda parte encontra-se acorrentado”. Ou ainda
reverberar sua fala de que tirar o homem das florestas e encerrá-lo em uma cidade
era civilizá-lo, e considerar isso uma coisa ruim.
Resiliência é algo que se interpõe a esta discussão, especialmente por se
perceber que, afinal, um problema não passa de um problema, um desafio a ser
superado. Podemos até imaginar o homem corrompido com as armadilhas do
“mundo civilizado” ou até discutir que nasceu livre e está acorrentado, mas não
podemos desconsiderar que, se estamos acorrentados, temos o livre-arbítrio de
tirar a corrente.

2
Ao longo da história, passamos por várias escolas do conhecimento, nas
quais aprendemos que “As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões
sobre as coisas” (Epiteto), e hoje, por meio da psicologia cognitiva, percebemos
que a interpretação é o que dói, não o fato em si.
Há pessoas que não focam o passado, veem o presente com alegria e
parecem não ver correntes em sua volta, algo que os psicólogos chamam de
resiliência, uma espécie de resistência às expectativas desoladoras. Estas
pessoas podem ser influenciadas biologicamente (saúde, genética,
personalidade) ou externamente (ambiente doméstico e estilos parentais). Seria o

processo de adaptação bem diante de adversidades, traumas, tragédias,


ameaças ou fontes significativas de estresse – como problemas
familiares e de relacionamento, problemas sérios de saúde ou
estressores financeiros e no local de trabalho. Significa “retroceder” de
experiências difíceis. (APA, 2014)

Pessoas resilientes mostram habilidades como empatia, assertividade,


visão positiva da vida. Em outras palavras: é a capacidade de se adaptar com
sucesso diante do estresse e da adversidade (Wu et al., 2013).
O endocrinologista Hans Selye trouxe na década de 1970 a definição de
“estresse” como uma reação do organismo a um agente estressor (ou estímulo
relativo a ele), que incluía componentes fisiológicos e cognitivos (Leahy, 2013).
Sua concepção é conhecida como “síndrome de adaptação geral”, com três fases:
alarme, resistência e exaustão. No alarme, o organismo reage no processo de
luta ou fuga, ativando o eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal (HHSR) e a
secreção de cortisol que mobiliza a reação. É a fase de alarme do organismo
diante de uma situação crítica. Depois do contato com o agente estressor, ocorre
a fase de resistência, na qual o organismo mobiliza recursos para se adaptar à
situação. Permanecendo o contato com o agente estressor, há uma
descompensação por meio de respostas de prostração que alteram o organismo
até o ponto possível de completa exaustão.
Na situação estressante, o sistema nervoso simpático prepara o indivíduo
para luta ou fuga ao ativar adrenalina e noradrenalina e afetar o ritmo cardíaco, a
transpiração e os músculos. O contraponto é a reação de relaxamento, que ativa
o sistema nervoso parassimpático, para frear as mudanças fisiológicas na reação
de luta ou fuga (Leahy, 2013).

3
Por que há pessoas que suportam as crises estressantes e outras não?
Quais as características que marcam quem consegue lidar com os contratempos
da vida? É o que veremos a seguir.

TEMA 2 – ELEMENTOS COGNITIVO-EMOCIONAIS NA RESILIÊNCIA

Inteligência emocional, autorregulação emocional e autoconhecimento são


fatores característicos da resiliência. Charles Darwin afirmou que as espécies
capazes de sobreviver são as mais bem adaptadas ao seu ambiente. O biólogo
da Origem das espécies, que espantou o mundo com suas teorias, não só
derrubou a ideia de que somos o centro do Universo ou a obra sublime da criação,
como também nos fez pensar que podemos sucumbir às mudanças ou nos
adaptar a elas.
Resiliente é quem se adapta a uma situação sem ser machucado por ela,
o que implica trabalhar cognições e emoções. Por estar vinculada ao modo como
lidamos com elas, a resiliência encontra na inteligência emocional uma forma de
poder entendê-la. Autoconsciência emocional, autocontrole, automotivação,
empatia e habilidades sociais são elementos presentes na resiliência, entretanto,
como alguns fatores são mais exigidos nesse contexto, muito embora se pareçam
com os elementos da inteligência emocional, entendemos ser adequado
considerá-los à parte dos conceitos de Daniel Goleman, por exemplo.
Pessoas resilientes têm senso de propósito, metas, visão pessoal de si
mesmas e do mundo. Para Cherry (2019), elas estão cientes das situações, de
suas reações e do comportamento de outros em sua volta. Para gerenciar
emoções, é preciso saber o que está sendo causado e por quê. A consciência
mantém as pessoas no controle da situação e na busca de diferentes maneiras
de lidar com problemas. Berndt (2018) postula que na resiliência é preciso certa
medida de tolerância em relação à frustação, força e capacidade de se impor.
A autorregulação emocional, aqui tomada por empréstimo do conceito de
regulação emocional de Leahy (2013), compreende a habilidade de lidar com as
experiências ou processar as emoções. Ao nosso ver, a composição deste
conceito em Leahy tem um caráter cognitivo-emocional, preventivo e profilático,
que se ajusta bem à resiliência.
Uma pessoa que tenha passado por uma perda em um relacionamento
íntimo sente tristeza, raiva, ansiedade, falta de esperança, entre outros. Se não
souber lidar com as emoções, pode abusar de drogas, comer compulsivamente,

4
ter dificuldades para dormir e outros sintomas. A regulação emocional é como um
termostato homeostático capaz de regular as emoções e mantê-las sob controle
(Leahy, 2013, p. 21).
O autoconhecimento ajuda na autorregulação e na visão, com base na
maior consciência das cognições que marcam a interpretação que a pessoa tem
de si, dos outros e do mundo, influenciando emoções e comportamentos e nos
fazendo lidar com os próprios pensamentos e sentimentos (Cowden; Meyer-Weitz,
2016). Devemos ver o autoconhecimento não apenas como um processo de
voltar-se para as próprias emoções, mas de usar a autorreflexão para tratar de
suas cognições, podendo contestá-las ou alterá-las, com efeito não nas emoções,
mas nos comportamentos disfuncionais tão estudados pela terapia cognitivo-
comportamental.
A inteligência emocional, ao tratar da autoconsciência, aproxima-se do
comportamento resiliente, ao reconhecer um sentimento quando ele acontece,
momento definido por Daniel Goleman (2011) como sua “pedra de toque”. A
importância deste componente da inteligência emocional está na capacidade de
controlar sentimentos e poder pilotar a vida com mais autoconsciência.
O autocontrole compreende a capacidade de confortar-se, de livrar-se da
ansiedade, tristeza ou irritabilidade que a incapacitam; já a automotivação refere-
se a pôr as emoções a serviço de uma meta, o que é essencial para centrar a
atenção, motivar-se e exercer o controle. Goleman fala em entrar em estado de
“fluxo”, o que possibilita um desempenho excepcional (2011, p. 73-74).
A empatia está em sintonia com o comportamento resiliente quando
permite escutar as emoções e os motivos pelos quais gera altruísmo. Goleman
defendia que pessoas empáticas estão em maior sintonia com os sinais do mundo
externo (2011, p. 74).
As habilidades sociais são vistas como a capacidade de se relacionar
com as emoções dos outros, ponto em que aparece mais integrada à resiliência
do que aptidões como popularidade, liderança e eficiência interpessoal, presentes
neste componente da inteligência emocional.

TEMA – 3 RESILIÊNCIA EM CONTEXTOS NEGATIVOS

Pessoas resilientes não optam por se tornar vítimas nem pelo sofrimento.
Acostumados a ver a resiliência explicada como a capacidade de enfrentar uma

5
situação adversa e manter-se forte, a pergunta que surge é: como ser resiliente
diante de eventos negativos?
A história nos revela que a espécie humana tem capacidade de se adaptar
a situações muito adversas. Há dois milhões de anos, nossos primeiros ancestrais
fugiam do fogo porque ele queimava e matava, mas aos poucos foram se
adaptando e, em vez de evitar o que lhes causava mal, eles o usaram para se
aquecer, afastar predadores, cozinhar e tornar digeríveis substâncias orgânicas
que, de outra forma, não estariam disponíveis (Catton Junior, 2005).
Somos o homo sapiens, que sobreviveu a quase 80 mil gerações de
caçadores, predadores e coletores humanos e, para sobreviver, adquirimos
determinados traços biológicos que nos permitiram estar aqui hoje.
Exames científicos de respostas ao sofrimento dão atenção a “como” as
pessoas podem evitar o impacto do que lhes é colocado e atenuar as reações
negativas. McRae e Maus (2016) argumentam que esta conceituação não leva
em conta a capacidade humana de gerar emoções positivas, como felicidade,
esperança, gratidão e amor, mesmo diante de adversidades.
O que se nota na evolução da espécie humana é que os seres humanos
têm capacidade de se adaptar e ser resilientes. Sempre que tocamos no assunto,
trazemos à discussão que é diante de adversidades passadas ou presentes que
a adaptabilidade humana surge.
A resiliência na visão de McRae e Maus (2016) é explicitamente inferencial,
em que duas condições são necessárias para descrevê-la na vida de um
indivíduo: (a) conhecer a adversidade significativa ou ameaça à adaptação do
indivíduo; e (b) observar as razões da adaptação sustentada durante a
adversidade. Estes dados de alguma forma nos explicam que o conceito de
resiliência é contextual.
A perspectiva de haver no ser humano a capacidade de gerar emoções
positivas pode ser observada pela reavaliação cognitiva, ou seja, reavaliar uma
situação difícil pode mudar seu impacto emocional. McRae e Maus (2016)
explicam que é um caminho particularmente promissor para gerar emoções
positivas em situações negativas (reavaliação positiva).
Sobre o que dizem os estudos, alguns indivíduos exibem níveis
significativos de resiliência diante de eventos estressantes da vida. As linhas de
investigação indicam a emoção positiva e a regulação emocional como estratégias

6
cognitivo-comportamentais que, ao ajudar a modular a intensidade e duração das
emoções, fazem a resiliência acontecer (McRae; Maus, 2016).
Fredrickson (2001) explica que a emoção positiva amplia o repertório
momentâneo de ação-pensamento, possibilitando construir recursos pessoais
duradouros, que vão desde recursos físicos e intelectuais até sociais e
psicológicos. Leahy (2013) nos dá exemplos de regulação emocional por meio da
estratégia da reestruturação cognitiva. Ela modifica a interpretação dos eventos,
e o indivíduo pode efetivamente reduzir o impacto emocional. Leahy (2013, p. 179)
entende que “isso condiz com a terapia do esquema emocional (TEE), no sentido
de que os conceitos de durabilidade, perigo, ininteligibilidade e falta de controle
podem ser modificados pela regulação das emoções por meio da reinterpretação
de eventos potencialmente estressantes”.
McRae e Maus (2016) acreditam que dois tipos de reavaliação têm efeitos
importantes na resiliência: a reavaliação positiva, para aumentar a emoção
positiva, e a reavaliação negativa, para diminuir a emoção negativa. Os efeitos de
curto prazo da reavaliação positiva podem ao longo do tempo proporcionar
resiliência e bem-estar; e estudos relatados de neuroimagem demonstram que a
reavaliação negativa diminui potenciais relacionados à excitação emocional,
sugerindo que ela pode ser usada para diminuir a resposta emocional negativa
(McRae; Maus, 2016).

TEMA 4 – NEUROBIOLOGIA DA RESILIÊNCIA

O córtex pré-frontal é considerado o centro da resiliência por causa de seu


funcionamento executivo, por gerenciar o corpo e o sistema nervoso, por dar
respostas ao medo da amígdala e pela flexibilidade de respostas. Russo et al.
(2015) reportam que 50% a 60% da população em geral já sofreu algum trauma
grave, contra apenas 7,8% de prevalência de doença. De fato, lidar com
quantidades moderadas de estresse leva a um senso individual de domínio e
promove a resiliência no futuro.
Berndt (2018) conta que estudos com ratos negligenciados por suas mães
oferecem maior vulnerabilidade e pouca resiliência do que ratos que tiveram
cuidado e carinho materno. Outro dado é que mães carinhosas, quando lambem
e mimam os filhotes, produzem pontos de receptação do hormônio do cérebro de
sua cria. Isso faz com que eles consigam retirar rapidamente o cortisol liberado

7
em situações de estresse. A cria das mães frias, porém, traz situações de estresse
constante.
Estudos nos fazem perguntar se a maior ou menor vulnerabilidade ao
estresse está relacionada ao tipo, à intensidade ou duração com que ele ocorre.
Russo et al. (2015) dão margem para esta reflexão ao falarem da “inoculação do
estresse”. Ratos infantis expostos a choques intermitentes respondem mais
efetivamente quando confrontados com situações novas em comparação com
ratos não estressados. Vários trabalhos divulgados na literatura mostram que
macacos abrigados socialmente e submetidos a breves e intermitentes
separações mostram menos ansiedade e maior exploração do ambiente (Russo
et al., 2015).
Se separações intermitentes precoces aumentam a tolerância ao estresse
e promovem resiliência, traumas agudos parecem ter relação com o cortisol.
Berndt (2018) confirma estudos de Christine Heim, psiquiatra norte-americana que
expôs mulheres abusadas na infância a uma palestra pública, e verificou que o
nível de hormônios de estresse nestas mulheres atingiu um nível seis vezes mais
alto do que em mulheres sem infância traumática.
Traumas fortes parecem se manifestar nas estruturas cerebrais. Berndt
(2018) também relata o experimento da neurobióloga Anna Katharina Braun, que
removeu alguns filhotes de roedores por uma hora do resto de sua família e
descobriu que os nervos nos cérebros desses animais criaram ligações estranhas.
O gyrus cinguli – estrutura do sistema límbico que participa do processamento de
emoções e pulsões – apresentou mais sinapses do que em animais que não foram
isolados. Um ambiente estranho os assustava.
Por sua vez, o córtex pré-frontal, relacionado ao processamento cognitivo,
personalidade, decisão e comportamento social, já estudado por nós, aparece
mais ativo no seu lado esquerdo. Berndt (2018) explica que o lado esquerdo
representa sentimentos positivos, mais entusiasmo e humor melhor, enquanto o
lado direito mostra o mau humor ou o medo.
Berndt (2018) informa que, de acordo com o pesquisador Michael Meaney,
a falta de atenção e de afeto pode ficar gravada diretamente no cérebro – fato
observado em ratos negligenciados pelas mães. O subdesenvolvimento
aconteceu no hipocampo deles.
Percebe-se que estamos apenas no início de um estudo mais definidor da
neurobiologia da resiliência. Pesquisas em humanos ainda não avançaram o

8
suficiente, por exemplo, para dados neuroendócrinos experimentais de resiliência
(como a testosterona) e não investigaram animais adequadamente (Russo et al.,
2015).
É esperado que trabalhos de neuroimagem e procedimentos de
estimulação cerebral possam determinar melhor as estruturas e os circuitos
cerebrais que medeiam a resiliência ao estresse. Também são necessários
estudos sobre fatores hereditários envolvidos na capacidade de resiliência da
pessoa. Além disso, mais estudos sobre mecanismos epigenéticos e sua relação
com a resiliência também podem trazer resultados interessantes.
Berndt (2018), ao falar que pessoas com depressão grave possuem
hipocampos pequenos, como no caso de ratos que cresceram com mães
desnaturadas, nos faz refletir sobre vítimas de abuso infantil ou veteranos de
guerra. “Se essa observação for confirmada”, diz a pesquisadora alemã, “será
possível alertar pessoas especialmente vulneráveis e aconselhá-las a evitar uma
profissão com grandes pressões psíquicas”.
Hipocampo, insula e córtex cingulado se juntam a outras estruturas na
resiliência. Carvalho, Rabelo e Fermoseli (2017) reportam, entre as estruturas
neuroanatômicas envolvidas no processamento das emoções (sistema límbico),
o córtex pré-frontal e a amídala.

TEMA 5 – DESENVOLVENDO A MENTE RESILIENTE

Ser resiliente é ter dificuldade, é viver dor, emoções, tristezas e outras


adversidades; o caminho para ela envolve sofrimento emocional. A APA (2014)
postula que desenvolvê-la é uma jornada pessoal, e nem todos reagem do mesmo
modo a eventos estressantes, apresentando alguns fatores para desenvolver uma
mente mais resiliente.
Entre seus elementos essenciais, estudiosos citam o desafio, pois pessoas
resilientes demonstram aceitar mudanças, abordar seus problemas com mente
aberta e ver obstáculos como oportunidades para crescimento pessoal. Elas
revelam apego a compromissos e causas de que cuidam e usam para continuar
lutando, sem desistir, além de demonstrarem exímio controle pessoal.
Algumas maneiras de construir resiliência são apresentadas a seguir e
podem ser apropriadas para a estratégia de cada um.
Conectividade: os seres humanos precisam de contato uns com os outros,
e os estudos vistos até agora mostram que o isolamento provoca instabilidade.

9
Para a APA (2014), boas relações com pessoas próximas, familiares e amigos é
importante. Ao aceitar ajuda e apoio de quem se preocupa com você, fortalece-se
a resiliência.
Lidar com crises: entre as diversas formas de lidar com eventos
estressantes, está a forma de lidar com os pensamentos. É este o modo de mudar
a forma como interpretamos os eventos. Nesta perspectiva, o que vimos aqui
sobre reestruturação cognitiva pode nos ajudar a ser mais resilientes. Wright,
Basco e Thase (2008) falam em “reconhecer e modificar esquemas e
pensamentos automáticos desadaptativos” e recomendam o questionamento
socrático.
Aceitar mudanças: na indicação da APA (2014), determinados objetivos
podem não ser mais atingidos como resultado de situações adversas. Aceitar
circunstâncias que não podem ser alteradas pode ajudar sua concentração nas
que podem mudar.
Estabelecer metas e objetivos: Maglof (2019) entende que estabelecer
metas é benéfico para a vida pessoal, e é importante que não sejam fáceis de
alcançar, nem muito difíceis. A APA (2014) fala em objetivos realistas, com
atitudes frequentes, mesmo que pareçam de pouca importância.
Tomar ações decisivas: é atuar em situações adversas o máximo que
puder. Russo et al. (2015) falam em inoculação do estresse, e Guimarães (2011,
p. 184) fala que isso se relaciona a vivenciar antecipadamente uma situação
estressante, de modo que a pessoa desenvolva recursos pessoais de
enfrentamento durante a situação real temida.
Buscar oportunidades: é o que a pessoa pode aprender sobre si mesma
e descobrir que cresceu em alguns aspectos como resultado de sua luta contra
perdas. A APA (2014) explica que pessoas que passaram por tragédias e
dificuldades relatam melhores relacionamentos e maior senso de força, mesmo
quando se sentem vulneráveis.
Visão positiva: referências pessoais que estabeleçam confiança ajudam a
resolver problemas e confiar nos instintos para exercer a resiliência.
Manter a perspectiva: A APA (2014) recomenda que, mesmo quando
enfrenta eventos muito dolorosos, a pessoa deve tentar considerar a situação
estressante em um contexto mais amplo, além de manter uma perspectiva de
longo prazo.

10
Outros pontos apresentados para desenvolver a resiliência são: manter
uma perspectiva de esperança que possibilite esperar coisas boas na vida; e
prestar atenção a suas próprias necessidades e sentimentos, envolvendo-se
sempre em atividades de que goste. A APA ainda recomenda formas adicionais,
como escrever pensamentos e sentimentos mais profundos relacionados a
eventos estressantes, além de meditação e práticas espirituais (2014).

11
REFERÊNCIAS

APA – American Psychology Association. The road to resilience. Washington


DC: APA, 2014. Disponível em: <https://www.apa.org/helpcenter/road-resilience>.
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