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Competências para a

Vida
Introdução
Meu vídeo não funciona

Vivemos uma época de ampla exposição a telas e formas de interação que

modificaram nossa forma de nos relacionar. Por um lado, a tecnologia nos permitiu

avançarmos em conectividade, por outro, permanecemos com as mesmas

necessidades e respostas emocionais de nossos ancestrais de 70 mil anos atrás,

nem sempre compatíveis com nossa experiência. Acima de tudo, somos seres

sociais e organizamos a realidade a partir da interação com outras pessoas.

Nesta aula, vamos compreender as rotas evolutivas de nossas emoções,

especialmente medo, raiva e tristeza, e como o cérebro emocional trabalha para

garantir nossa sobrevivência e promover comportamentos adaptativos.

Falaremos da resposta luta-fuga e da síndrome geral de adaptação, entendendo a

relação entre nossas emoções e nosso corpo físico. Ao final, esperamos que você

possa ampliar a própria capacidade de percepção de estados emocionais,

identificando os sentimentos envolvidos e seu impacto na tomada de decisão e

comportamento.

---

Assimile

Os assuntos desta aula têm a ver com o tema “gerenciamento de emoções”. Você

sabe o que é isso? O gerenciamento de emoções diz respeito a competências

emocionais intra e interpessoais e nos permite lidar com estados emocionais

positivos e negativos, de forma construtiva e positiva, possibilitando maior

abertura à experiência, ao acolhimento afetivo e ao bem-estar, além de favorecer


processos de desenvolvimento e relacionamentos. Desejamos que o conteúdo a ser

apresentado contribua para que você saiba como gerir suas emoções.

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Bons estudos!

Reação – luta-fuga

Do conceito – resposta: luta-fuga e estresse

Nossas emoções negativas são provenientes de uma necessidade de sobrevivência;

tudo nasceu com a resposta luta-fuga, que nos prepara para ameaças iminentes.

A resposta luta-fuga, também conhecida como resposta ao estresse agudo,

representa as escolhas que nossos ancestrais tiveram de fazer quando

confrontados com o perigo em seu ambiente: lutar ou fugir. Em ambos os casos, a

resposta fisiológica e psicológica ao estresse prepara o corpo para reagir ao perigo,


sendo liberados hormônios que preparam o corpo para confrontar a ameaça ou

fugir para um local seguro.

Mais especificamente, o sistema nervoso simpático estimula as glândulas adrenais,

desencadeando a liberação de adrenalina e noradrenalina, que provoca aumento

na frequência cardíaca, pressão arterial e frequência respiratória. A resposta de

lutar ou fugir pode acontecer diante de um perigo físico iminente (como encontrar

um cachorro rosnando no meio da rua) ou como resultado de uma ameaça

psicológica (como se preparar para fazer uma apresentação importante na

faculdade ou no trabalho).

A resposta luta-fuga pode ocorrer como “alarme”, conhecido como parte do

primeiro estágio da síndrome geral de adaptação, um padrão específico de

resposta comportamental proposto por Hans Selye, em 1936, e que ajuda a

explicar o efeito do estresse no corpo humano. De acordo com a teoria (Figura 1 a

seguir), existem três fases sucessivas de resposta diante de um evento estressor:

alerta, resistência e exaustão:

• Fase de alerta: ocorre quando o indivíduo entra em contato com o agente

estressor e o seu corpo perde o equilíbrio. Alguns sintomas possíveis são

dores no estômago (acidez estomacal), aumento de sudorese, tensão nos

ombros, insônia, mudança de apetite.

• Fase de resistência: nessa fase, o corpo busca voltar ao equilíbrio. Há um

aumento de liberação de cortisol e tem-se impressão de controles

esporádicos. Alguns sintomas possíveis podem ser cansaço constante,

problemas dermatológicos, problemas com memória, gastrite prolongada,

tonturas, sensibilidade emotiva excessiva e obsessão pelo agente estressor.

• Fase de exaustão: na última fase, podem ocorrer diversos

comprometimentos físicos em forma de doença. Alguns sintomas podem

ser: diarreias frequentes, tiques nervosos, problemas dermatológicos


prolongados, tonturas frequentes, úlcera, impossibilidade de trabalhar,

taquicardia, insônia prolongada, formigamento nas extremidades.

Após a fase de exaustão, podem se instalar no organismo diversas doenças

crônicas, como úlceras, hipertensão arterial, artrites e lesões miocárdicas.

Figura 1 | Síndrome geral de adaptação. Fonte: adaptada de Healthline (2018).

A resposta ao estresse é um dos principais tópicos estudados na psicologia da

saúde e comportamento humano. A compreensão de nossas rotas emocionais e

seus efeitos no corpo nos permite encontrar maneiras de combater o estresse em

direção a uma vida mais saudável e produtiva. Nesse sentido, compreender a

resposta natural de luta ou fuga do corpo é uma maneira de ajudar a lidar com

situações estressantes em nossa vida.

A tecnologia e o cérebro humano


As últimas quatro décadas trouxeram uma explosão de inovações tecnológicas. Na

década de 1980, comemoramos a linha telefônica disponível em residências; já na

virada do milênio, tivemos computadores individuais; e nas últimas décadas, cada

pessoa vem carregando consigo um computador com seus e-mails, vídeos

preferidos, programação da própria dieta, conta bancária e tantas outras

funcionalidades de aplicativos de celular.

Sem dúvida, como sociedade, avançamos muito na acessibilidade de informações

que nos são interessantes, no entanto, um mecanismo permanece o mesmo há 70

mil anos: nossa capacidade de assimilar, compreender e expressar informações

emocionais. Sim, nosso cérebro emocional é o mesmo. E isso acarreta uma série de

dificuldades em nossa relação com nosso mundo interior e as outras pessoas, ou

seja, provoca-nos desafios à adaptação.

De acordo com Paul MacLean (1990), a progressão da vida pode ser vista em nosso

cérebro a partir dos níveis de desenvolvimento que ele possui: reptiliano

(primitivo ou instintivo), límbico (emocional) e neocórtex (racional). Nossos

tecidos corticais são mais complexos, lentos, situam-se na periferia do cérebro (ou

topo) e são responsáveis pelas nossas funções executivas (tomada de decisão,

raciocínio lógico, memória da linguagem). No centro do cérebro, abaixo do córtex e

acima do tronco cerebral, fica nossa região subcortical, também conhecida como

sistema límbico.

No centro do sistema límbico, no meio do caminho entre nossas orelhas e atrás de

nossos olhos, está a amígdala cerebral, envolvida, principalmente, no


processamento de emoções e nas memórias associadas ao medo (Figura 2). Ela é

peça-chave de como processamos emoções fortes, como medo ou prazer, e

responsável por disparar a resposta luta-fuga.

Figura 2 | Amígdala cerebral. Fonte: Goleman (2011, p. 94).

Podemos não perceber o papel da amigdala em nosso comportamento, no entanto,

a título de exemplo, se estamos com nossos “sensores de medo” ligados, ficamos

mais “desconfiados” e “atentos” a qualquer sinal de desaprovação. Isso, por um

lado, pode servir para nos tornar mais prudentes, por outro, pode tornar

impossível o ato de confiar nas pessoas. A amígdala é, ainda, capaz de orientar

nossos pensamentos, atenção e percepção, tornando-nos instintivamente

vigilantes a estímulos que corroborem nossa ideia inicial de ameaça.

Além disso, é interessante o mecanismo de contágio emocional que nosso cérebro

sofre. Quando ficamos encantados com um bebê sorridente ou quando nos

entristecemos diante de uma pessoa em situação vulnerável, estamos nos

conectando às outras pessoas, e essa também é uma característica de nossa

espécie: somos influenciáveis socialmente e necessitamos do contato com outras

pessoas. Isso ajuda a explicar o fenômeno das redes sociais e seu amplo

crescimento nas últimas décadas.


O fato de que podemos desencadear qualquer emoção em outra pessoa – e ela em

nós – atesta o poderoso mecanismo por meio do qual os sentimentos de uma

pessoa se espalham para outras. Esses contágios são a principal transação da

economia emocional, o intercâmbio de sentimentos que acompanha toda interação

humana, não importa qual seja o tema em questão. (GOLEMAN, 2019, p. 26)

Para compreendermos as implicações do contágio emocional, é interessante

falarmos sobre o papel de cada emoção e de como elas eliciam nossos

comportamentos.

Das emoções básicas ao


comportamento

Aprendemos, nesta aula, sobre nosso cérebro emocional e suas respostas

evolutivas; para finalizar, vamos falar, especificamente, de nossas emoções e de

como elas eliciam o comportamento e influenciam nossa resposta diante das mais

diversas situações. Uma emoção é composta de vários elementos; ela passa por

nossa consciência tão rapidamente que, por vezes, não a percebemos. Existem,

pelo menos, três elementos em cada emoção: o tipo de pensamento associado a ela;
a resposta fisiológica que ela gera, e o comportamento que assumimos a partir dela

(GONZAGA, 2021).

De acordo com Paul Ekman (2016), temos emoções universais, ou seja,

compartilhadas por toda a espécie a partir de cinco rotas evolutivas. A

compreensão de nossas cinco rotas emocionais básicas nos permite saber as bases

de nosso comportamento:

• Medo: uma percepção de ameaça real e iminente.

• Raiva: aponta uma percepção de injustiça, algo que nos bloqueia.

• Tristeza: provoca nossa resposta diante da perda de algo de valor.

• Nojo: aponta nossos gostos e preferências pessoais.

• Alegria: indica percepção de algo de valor.

Cada uma dessas cinco rotas abre caminho para centenas de estados emocionais

secundários, como melancolia, ansiedade ou frustração, perceptíveis em nossas

relações de trabalho. Para cada “família” emocional existem determinadas atitudes,

e todas as emoções são “úteis” no sentido de que nos trazem informações sobre

nossa relação com o mundo. No entanto, podemos utilizá-las a nosso favor, de

maneira construtiva (visando ao bem-estar e a uma melhor relação com a

realidade) ou destrutiva (quando não nos desvencilhamos dos estados negativos

ou prejudicamos outras pessoas).

Vamos, então, compreender alguns comportamentos possíveis para cada uma das

famílias emocionais, explorando respostas construtivas ou destrutivas a partir de

exemplos:

• Ações diante do medo: evitar a ansiedade (medo de uma ameaça

imaginada) pode ser construtivo, se nos ajudar a fazer uma apresentação

para uma sala cheia de pessoas, e destrutivo, se nos impedir de confrontar

nosso difícil relacionamento com nosso chefe.


• Ações diante da raiva: suprimir nossa frustração pode ser algo

construtivo, se nos ajudar a evitar discussões, e destrutivo, se estivermos

magoados por não falarmos por nós mesmos.

• Ações diante da tristeza: renunciar a sentimentos de desamparo pode ser

uma ação construtiva para superar um luto intenso, porém destrutiva, se

não buscarmos apoio quando precisarmos ou se formos vítimas de uma

positividade tóxica (evitação extrema de sentimentos negativos).

• Ações diante do nojo: evitar a aversão pode ser algo construtivo para

superar o preconceito, mas destrutivo se levar a um envolvimento com uma

pessoa prejudicial.

• Ações diante da alegria: expressar nossa alegria por um comportamento

extrovertido e brincalhão pode ser construtivo como meio de compartilhar

com amigos um final de tarde, mas destrutivo se for em resposta a zombar

de alguém.

Com base nesses exemplos, reflita sobre a forma como você lida com as diferentes

emoções, se de maneira construtiva ou destrutiva, e qual família emocional (medo,

raiva, tristeza, nojo, alegria) representa um desafio à inteligência emocional.

Sobre a inteligência emocional e as habilidades que ela traz, trataremos na

próxima aula.

Videoaula: Emoções e comportamento


Meu vídeo não funciona

Você já reparou como a tecnologia permite que ampliemos nossas conexões com

outras pessoas, mas, ainda assim, sofremos de ansiedade, tristeza e frustração

entre tantas emoções? Isso porque, por mais que avancemos tecnologicamente,

permanecemos com as mesmas necessidades emocionais, a partir de milênios de

nossa evolução humana.


Nesta aula, compreendemos de que forma podemos reagir às ameaças reais ou

imaginárias analisando a resposta luta-fuga e a síndrome geral de adaptação;

aprendemos um pouco sobre a amígdala cerebral, integrante de nosso sistema

límbico, e como nossas emoções são a base para o comportamento; por último,

refletimos sobre respostas construtivas ou destrutivas a partir de nossas emoções

universais.

Introdução

Por muito tempo, consideramos inteligência e emoção como áreas de nossa

cognição e comportamento totalmente distintas e antagônicas. Nos últimos anos,

no entanto, a pesquisa e a aplicação de técnicas na área de inteligência emocional

foram ampliadas consideravelmente. Sim, existe uma maneira inteligente de

lidarmos com nossas emoções!

Nesta aula, vamos falar, em primeiro lugar, da escola clássica de inteligência

emocional, conhecida como modelo quadrifatorial ou de aptidões; em seguida,

vamos conhecer a escola de Harvard de inteligência emocional a partir do modelo

de competências socioemocionais proposto por Daniel Goleman; por fim,

esperamos que você reconheça as próprias competências emocionais, conectando-


as com as atividades de seu dia a dia e refletindo sobre sua aplicação nos

relacionamentos.

Bons estudos!

Uma inteligência para as emoções

Demorou muito tempo para que a palavra inteligência se aproximasse de uma

visão subjetiva ou emocional. Por muitos séculos, o mundo emocional foi associado

a nossos instintos e ao homem-animal. Um marco importante para mudar isso

ocorreu em 1983, quando Howard Gardner apresentou as inteligências pessoais à

lista de inteligências múltiplas humanas.

Esse par, denominado inteligências "intrapessoal" e "interpessoal” é, atualmente,

referida por muitos autores como inteligências pessoal e social.

A inteligência intrapessoal de Gardner diz respeito ao "eu localizado no indivíduo",

bem como ao “desenvolvimento dos aspectos internos de uma pessoa”. Em um

ponto-chave, ele observou que ela envolvia, principalmente, acesso à própria vida

sentimental (GARDNER, 2009). Já a inteligência interpessoal é a capacidade de


entender as intenções, motivações e desejos de outras pessoas e,

consequentemente, trabalhar com outras pessoas de maneira eficaz.

Baseados no modelo de Gardner, os pesquisadores John Mayer e Peter Salovey

publicaram, em 1990, o primeiro artigo científico que fez menção a uma

inteligência emocional, ou seja, a um conjunto de habilidades mentais para se lidar

com as emoções. Esse modelo ficou conhecido como quadrifatorial ou

de ability cuja tradução é melhor definida como de aptidões mentais para se lidar

com emoções humanas.

De acordo com o modelo quadrifatorial, são quatro as habilidades de inteligência

emocional (Figura 1):

• Perceber emoções: identificar emoções em si, nos outros e em coisas, bem

como expressá-las acuradamente.

• Usar emoções: facilitar o pensamento e o julgamento a partir de estados

emocionais.

• Entender emoções: nomear emoções e sentimentos complexos e

compreender progressões.

• Administrar emoções: estar aberto aos sentimentos e gerenciar emoções

em si e nos outros.
Figura 1 | Modelo quadrifatorial de IE. Fonte: elaborada pela autora.

Em uma revisão do modelo clássico, Mayer e Salovey (1997, p. 10) definem dessa

forma a inteligência emocional:

Inteligência emocional é a habilidade de perceber, avaliar e expressar emoções de

forma acurada e adaptativa; a habilidade de entender a emoção e o conhecimento

emocional; a habilidade de acessar ou gerar sentimentos quando eles facilitam o

pensamento; e a habilidade de regular emoções de maneira a auxiliar o

pensamento.

No modelo quadrifatorial, todas as habilidades incluem as faculdades interpessoal

e intrapessoal, ou seja, a compreensão e a interação com nós mesmos e com os

outros. A principal contribuição desse modelo de inteligência emocional é

considerar que nossas emoções são informações que podemos utilizar para melhor

avaliarmos cada situação da vida e como nos posicionarmos. Para Susan David

(2018), nossas emoções podem servir como guias ao nosso comportamento, uma

vez que sinalizam que valores nossos estão sendo acionados.

Enquanto navegamos pela vida, nós, humanos, temos poucas maneiras de saber

que rumo tomar ou o que vem pela frente. Não temos faróis que nos mantenham

afastados de relacionamentos problemáticos. Não temos vigias na proa ou radares


na torre atentos a possíveis ameaças submersas que podem afundar nossos planos

de carreira. Em vez disso temos nossas emoções – sensações como medo,

ansiedade, alegria e euforia – um sistema neuroquímico que evoluiu para nos

ajudar a navegar pelas complexas correntes da vida. (DAVID, 2018, p. 12)

Do emocional ao social

Em 1995, o então psicólogo e jornalista científico Daniel Goleman lançou o best-

seller Inteligência Emocional – a teoria revolucionária que redefine o que é ser

inteligente, e os estudos na área cresceram em número e complexidade

impressionantes. Já na época, o escritor trazia algumas provocações sobre a

Inteligência Emocional (IE), conectando-a ao contexto organizacional e ao

exercício da liderança pela primeira vez. Em seu trabalho, Goleman disseminou a

inteligência emocional em todos os continentes, sendo sua obra uma das mais

traduzidas no mundo inteiro. Nos anos 2000, Goleman se associou à Korn Ferry

Hay Group, uma consultoria global de recursos humanos, e desenvolveu, em


parceria com outros pesquisadores de Harvard, o modelo de competências

socioemocionais para explicar sua ideia de inteligência emocional.

Faz-se interessante notar que, no modelo de competências, as dimensões intra e

interpessoais ganham destaque, servindo para separar as competências do ser

(self) das competências interpessoais (sociais), tanto para reconhecimento como

para regulação das emoções. Surge, então, uma nova definição de inteligência

emocional, que contempla o social:

Inteligência emocional e social é a capacidade de reconhecer nossos próprios

sentimentos e de outros, motivar a nós mesmos e administrar emoções

efetivamente em nós mesmos e outros. (GOLEMAN; BOYATZIS, 2016, p. 2)

De forma a promover a avaliação de competências socioemocionais de executivos

do mundo inteiro, Goleman e Boyatzis (2016) associaram-se à Korn Ferry Hay

Group e criaram o assessment ESCI – Emotional and Social Competence Inventory,

que serve de base para processos de desenvolvimento gerencial e coaching

sistêmico em equipes de liderança. O instrumento ESCI é uma avaliação 360° que

permite que um indivíduo se avalie e seja avaliado por pares, clientes, líderes e

liderados em relação a 12 competências socioemocionais ligadas ao trabalho nas

dimensões de autoconsciência, autocontrole, consciência social e gestão de

relacionamentos:

• Autoconsciência: reconhecer e entender as próprias emoções.

Competência emocional associada (1): autoconsciência das emoções.

• Consciência social: reconhecer e entender emoções em outros.

Competências emocionais associadas (2): empatia e consciência

organizacional.

• Autocontrole: efetivamente, administrar as próprias emoções.

Competências emocionais associadas (4): adaptabilidade, otimismo,

autocontrole, orientação para resultados.


• Gestão de relacionamentos: aplicar e entender as emoções ao lidar com as

emoções de outros. Competências emocionais associadas (5): coaching e

mentoring, gestão de conflitos, influência, liderança inspiradora, trabalho de

equipe

Além do assessment ESCI, existem diversas escalas para avaliação de competências

socioemocionais, algumas com validação científica, outras não. O que se espera

desse tipo de assessment é que possa contribuir para que a organização possa

medir a inteligência emocional de líderes e liderados, aumentar a conscientização

das pessoas a respeito de seus comportamentos, desenvolver qualidades

específicas para as interações sociais e promover confiança e emoções positivas

em indivíduos e equipes.

Bases para avaliar e desenvolver a


inteligência emocional

Uma pergunta muito comum para quem trabalha com emoções é: como faço para

avaliar minha inteligência emocional? Ou, ainda, qual é a competência

socioemocional mais importante para o nosso sucesso e como desenvolvê-la?


De acordo com a escola de competências de inteligência emocional, a resposta é:

comece por você. Isso significa que a competência emocional mais importante para

se desenvolver é a autoconsciência das emoções; ela diz respeito à capacidade de

compreender suas próprias emoções e seus efeitos no raciocínio e na ação.

Quando você sabe como se sente e por que sente, ou seja, os motivos por trás de

seus sentimentos, fica mais fácil não se “deixar levar” pelas situações, mantendo

uma atenção flutuante em relação às coisas que acontecem. Quem é autoconsciente

também tem uma maior clareza de suas forças e fraquezas e consegue direcionar

seus esforços de aprendizagem; frente a isso, muitos estudos de inteligência

emocional estão se direcionando para a compreensão dos mecanismos de nossa

atenção, uma vez que ela pode promover mudança de comportamento.

O movimento rumo ao próprio desenvolvimento parte da autoconsciência e

caminha para as dimensões de autocontrole e consciência social, simultaneamente,

porque, uma vez que temos maior consciência, passamos, também, a regular mais

facilmente nossos estados emocionais e, paralelamente, a “reparar” mais nas

reações e mensagens não verbais das outras pessoas.

Por último, uma vez desenvolvida a nossa dimensão intrapessoal e ampliado o

nosso processo empático com outras pessoas, passamos a ter maior clareza do

efeito que causamos em interações de longo prazo, ou seja, passamos a levar

inteligência emocional para nossos relacionamentos.

Refletindo sobre a própria Inteligência Emocional (IE)

Uma dificuldade nos programas de desenvolvimento organizacionais é medir o

nível de consciência e ação emocional das pessoas. Nesse sentido, há uma

contradição em relação aos testes de Inteligência Emocional, porque, se de um

lado, somos pouco acurados em medir nossas próprias habilidades emocionais (na

maioria das vezes, quem “menos precisa” de Inteligência Emocional é quem mais

se beneficia de programas de desenvolvimento), de outro, é interessante perguntar


aos outros sobre nosso comportamento, e isso faz com que as avaliações por pares

ou por informantes sejam largamente utilizadas. Porém, para que essas avaliações

sejam bem-sucedidas, é preciso treinamento quanto à forma de condução e muito

zelo com as informações coletadas, a fim de que não promovam um clima de

desconfiança e perseguição.

Com base em nossa aula, reflita sobre suas competências socioemocionais,

iniciando pela autoconsciência: quais são suas maiores forças em relação à

interação com outras pessoas? E as fraquezas? Em seguida, procure refletir sobre

seu autocontrole: existem pessoas que acionam seus gatilhos emocionais? Quem

são essas pessoas e que valores elas violam?

Finalizando a compreensão “intrapessoal” de suas competências, vale a pena

escolher um colega ou amigo de confiança para perguntar se você é uma pessoa

que transmite empatia, como é trabalhar em grupo com você, se você consegue

influenciar as pessoas a modificar seu comportamento e, ainda, se você contribui

para o aprendizado de outras pessoas.

Esse tipo de questionamento ajuda a colocar sua inteligência social em perspectiva,

favorecendo o processo de autodesenvolvimento.

Videoaula: A escola de Harvard de


inteligência emocional
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Você sabia que o acesso ao nosso mundo emocional requer inteligência? Desde os

anos 1990, convivemos com modelos de inteligência emocional, compreendendo

que existem habilidades mentais e comportamentais específicas às pessoas com

alta Inteligência Emocional. Mais especificamente, a escola de Harvard de

Inteligência Emocional reconhece que temos competências socioemocionais, ou

seja, existem determinados comportamentos que levam pessoas a uma melhor

performance social. Nesta aula, vamos conhecer o modelo clássico e o modelo de


competências de inteligência emocional, bem como falar das implicações para

programas de avaliação e desenvolvimento nas organizações.

Introdução

Como percebemos que uma pessoa tem inteligência emocional? Podemos entender

as emoções como veículos para troca de informações que impactam o nosso

desempenho e a qualidade ou eficácia das interações que mantemos com as outras

pessoas, e uma pessoa com inteligência emocional considera essas informações

para moldar o seu comportamento e a sua tomada de decisão.

Não existe um comportamento ótimo que sempre provê os melhores resultados

numa dada situação; é preciso flexibilidade e agilidade emocional para moldar o

comportamento e a decisão, conforme o contexto de cada situação.

Uma pessoa com habilidades de inteligência emocional é considerada aquela capaz

de processar informações emocionais de forma adequada. Nesta aula, vamos

debater sobre o tema.

Bons estudos e até breve!

Sobre emoções e estados emocionais


Todos estamos sujeitos a fenômenos afetivos, que, de acordo com o professor

Rafael Bisquerra, da Universidade de Barcelona, englobam:

• Emoções: respostas de nosso organismo aos estímulos que recebemos.

• Sentimentos: tomada de consciência sobre essas emoções.

• Estados emocionais: podem ser entendidos como uma predisposição dos

indivíduos para uma determinada atitude, comportamento ou decisão.

Esses fenômenos afetivos são modulados por crenças e valores pessoais, isto é, o

mesmo estímulo pode provocar respostas distintas nas pessoas, e isso traz

impactos não apenas em nosso comportamento individual mas também nos

relacionamentos interpessoais. Vamos analisar esses impactos a seguir, no curto e

no longo prazo.

No curto prazo, esses fenômenos emocionais predispõem nossa intenção de ação,

podendo influenciar nossa percepção ou predisposição a atuar em favor ou contra

uma ideia ou a posição de algum colega ou funcionário sob nossa supervisão. Por
exemplo: um gestor tomado de um estado emocional de impaciência pode rejeitar

novas ideias ou estratégias por considerá-las, inicialmente, de alto risco, sendo

que, frente a uma análise mais calma e sensata, poderia enxergá-las como uma

excelente oportunidade. Se esse gestor pudesse perceber como esse estado

emocional o influencia, talvez, viesse a tomar outra linha de ação em relação a essa

situação específica. Para isso, precisaria colocar em prática as habilidades de

inteligência emocional do modelo dos professores Goleman e Richard Boyatzis que

aprendemos em nossa última aula, ou seja, ele precisaria: exercitar a

autoconsciência de seu estado emocional e perceber que sua impaciência dificulta

a análise de novos conceitos e ideias; exercer a consciência social, entrando em

sintonia com as necessidades e expectativas de seus colegas ou funcionários;

praticar o autocontrole, regulando sua resposta emocional para um estado de

maior calma e abertura; por fim, realizar uma boa gestão dos relacionamentos,

aplicando o entendimento emocional no trato com os outros, mantendo-se

assertivo e aberto ao diálogo que pode levá-lo a decidir por uma nova linha de ação

ou decliná-la de forma adequada, sem gerar frustração ou desmotivação em seus

pares ou funcionários.

Já no longo prazo, precisamos considerar que os fenômenos afetivos constituem

aspectos essenciais de nossa personalidade. A exteriorização repetida de certas

emoções em uma pessoa pode chegar a constituir um traço de sua personalidade.

Retomando o nosso exemplo, se um gestor se mostra constantemente impaciente

em suas atitudes e posicionamentos, isso pode passar a ser percebido como um

traço de sua personalidade. Tendemos a identificar as pessoas pela emoção

predominante em seu comportamento, logo, se um gestor é percebido como

impaciente, isso pode levar seus pares ou funcionários a nem mesmo cogitar

apresentar-lhe uma nova ideia, podendo provocar prejuízos a ele ou ao próprio

negócio que administra.


Tal situação caracteriza o que a doutora Susan David chama de falta de agilidade

emocional. Por mais inteligente e capaz que esse gestor de nosso exemplo possa

ser, se ele mantém um estado contínuo de impaciência, seus sentimentos

determinam suas ações, decisões e a forma com que administra seus

relacionamentos. É necessário, portanto, que ele perceba o seu estado emocional e

aja para mudar padrões, hábitos ou comportamentos que o impedem de se adaptar

às diferentes situações que são apresentadas e de atuar de forma eficaz frente a

elas, modulando suas respostas emocionais.

A necessidade de flexibilidade e
agilidade emocional

Vamos reforçar o entendimento das competências que compõem o modelo de

inteligência emocional para reconhecer e regular emoções em si e nos outros.

Considerando nossas respostas aos estímulos internos e externos do ambiente,

precisamos exercer as competências desse modelo de forma balanceada, pois a


falta de alguma delas poderá prejudicar o processamento e o uso da informação

emocional.

Vamos às competências:

• Autoconsciência: é a principal competência de inteligência emocional, pois

exerce grande influência nas demais, e é baseada numa vontade de ter

acesso a novas perspectivas e no entendimento de si mesmo(a). Pessoas

com essa habilidade têm maior facilidade para o desenvolvimento pessoal.

Você demonstra autoconsciência quando:

- Dá-se conta de seus próprios sentimentos.

- Sabe o que causa esses sentimentos.

- Compreende as consequências de seus estados emocionais em seu

comportamento ou em suas decisões.

- Conhece suas forças e limites.

- Está aberto ao feedback.

• Autocontrole

O autocontrole provê direção, energia e restrição ao nosso comportamento.

Ele nos permite regular as emoções no cotidiano e ter maior controle das

respostas emocionais em situações desafiadoras.

Você demonstra autocontrole emocional quando:

- Consegue lidar de forma calma com situações estressantes.

- Consegue regular a intensidade de suas respostas emocionais e controlar seus

impulsos.

- Mantém sua positividade e otimismo mesmo perante eventos difíceis.

- Consegue realizar suas entregas mesmo quando envolto em sentimentos

negativos.
• Consciência social

Consciência social tem a ver com entrar em sintonia com as necessidades,

expectativas, comportamentos e estados emocionais de outras pessoas. Aqui, é

necessário considerar pessoas e contextos.

Você demonstra empatia quando:

- Consegue ler pistas sobre os estados emocionais de outras pessoas de forma

precisa.

- Desenvolve escuta ativa.

- Entende as perspectivas e os pontos de vista de outras pessoas.

- Compreende as razões que motivam as outras pessoas.

Você demonstra sensibilidade ao contexto quando:

- Entende as forças políticas em seu trabalho, grupo ou organização.

- Consegue compreender as principais relações de poder existentes.

- Compreende os valores e a cultura de seu grupo ou organização.

- Compreende os processos informais existentes em seu grupo ou ambiente de

trabalho.

- Entende quais comportamentos são valorizados e quais são considerados

inadequados em seu grupo ou ambiente de trabalho.

• Gestão de relacionamentos

A gestão de relacionamentos é a competência que nos permite "fazer a diferença",

influenciar e motivar outras pessoas, bem como aplicar o entendimento emocional

no trato com o outro, mantendo a assertividade e o diálogo fácil para objetivos

comuns.

Você demonstra uma boa gestão de relacionamentos quando:

- Consegue construir consenso e influenciar pessoas para apoiar suas ideias e

sugestões.
- Oferece feedback para melhorar o desempenho de outras pessoas, reconhecendo

suas forças e oportunidades de desenvolvimento.

- Consegue inspirar outras pessoas para atingir metas e objetivos, extraindo o

melhor de cada uma delas.

- Consegue promover confiança, cooperação e espírito de equipe nos grupos em

que atua.

Quando falta uma habilidade de


inteligência emocional

Exploramos as competências de inteligência emocional, mas será que ficou claro o

que acontece quando essas competências não estão presentes? Para reforçar o

entendimento, apresentaremos, a seguir, quatro casos de indivíduos que

encontramos, frequentemente, em organizações.


• CASO 1 – “O disperso”: você deve conhecer o perfil desse indivíduo, que

apresenta muita dificuldade em manter o foco na tarefa. Essa pessoa

trabalha com muitas janelas mentais abertas ao mesmo tempo ou se

desdobra tentando atender a muitas demandas. A fala é acelerada,

dificultando o entendimento da ideia que está tentando, efetivamente,

transmitir, e como não consegue atuar nesse nível de energia por muito

tempo, apresenta comportamento inconstante. Frente a isso, a competência

que falta nesse caso é a autoconsciência, seja por não perceber seu estado,

seja por estar, propositadamente, tentando ignorar seus limites. E para

evitar isso, sempre preste atenção em seu corpo, pois é nele que o estresse

se manifesta; busque desacelerar com práticas de meditação e peça

feedback de pessoas em quem confia.

• CASO 2 – “Pavio curto”: emoções acumuladas, irritação com todos,

respostas ásperas, comportamento passivo-agressivo ou agressivo e alta

sensibilidade ao que os outros dizem. O que falta neste caso é o

autocontrole emocional. Procure identificar quais são os gatilhos ou

situações que disparam essas reações intensas e busque refletir sobre suas

causas, bem como modificar seu comportamento. Ajudar outras pessoas a

desenvolver seu controle emocional também traz benefícios para o nosso

próprio autocontrole.

• CASO 3 – “Muito racional”: esse indivíduo tem o comportamento de quem

se acha dono da razão, perguntando-nos, às vezes, se “queremos que ele

desenhe” uma determinada situação, a fim de que a entendamos e

concordemos com o seu ponto de vista. Esse é um comportamento de

desconexão social e de dificuldade de perceber qualquer emoção

manifestada por outras pessoas. Neste caso, é preciso, preventivamente,

pedir feedback contínuo a pessoas de nossa confiança, que possam nos


fornecer legendas emocionais sempre que deixarmos de compreender o

impacto de nossas atitudes perante nossos colegas de trabalho.

• CASO 4 – “Muito desconectado”: esse indivíduo apresenta desinteresse

pelo grupo do qual participa, tendo dificuldade de compor ideias com os

outros. Ele é focado apenas no que precisa acontecer, sem considerar que

precisa que as pessoas compartilhem sua visão e sem se comprometer com

os resultados. Neste caso, falta a gestão de relacionamentos, e mais do que

justificar o que é preciso, corações e mentes precisam ser conquistados.

Sempre que encontrar resistência as suas ideias e opiniões, busque ouvir

ativamente as pessoas que apresentam contrapontos, esforce-se em

conhecer seus motivos, valores e opiniões e, assim, conseguirá influenciá-

los de forma positiva.

Para compreender melhor a mudança necessária, além de assistir ao Ted

recomendado da Dra. Susan David (encontrará o link a seguir, em Saiba mais), é

importante adotar as seguintes medidas:

• Faça um esforço para reconhecer seus padrões de comportamento:

precisamos nos dar conta de nossos estados emocionais antes de qualquer

iniciativa para modificá-los.

• Tenha o hábito de nomear seus pensamentos e emoções: isso o ajudará a

separar o estado emocional do indivíduo.

• Aceite seus estados emocionais: desenvolva compaixão por si mesmo em

vez de negar tais estados, buscando entender suas causas, e aproveite essa

informação valiosa para o seu processo de aprendizado e crescimento

pessoal.

• Tome decisões e haja com base em valores: esse comportamento representa

o que você ou sua organização valoriza ou aspira?


Já as transformações de longo prazo, voltadas ao desenvolvimento da agilidade

emocional, requerem a aplicação dessas competências de forma continuada.

Videoaula: Quando falta inteligência


emocional
Meu vídeo não funciona

Em nosso vídeo resumo, vamos explorar as competências do modelo de

inteligência emocional e, por meio de estudos de caso, compreender o impacto de

sua falta em nossas relações interpessoais, bem como formas de desenvolvê-las.

Além disso, vamos explorar o desenvolvimento de longo prazo de nossas

competências e nossa agilidade emocional.

Introdução
Meu vídeo não funciona

Vivemos uma época em que a ansiedade e a depressão alcançam níveis epidêmicos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que uma a cada cinco pessoas

desenvolve quadros depressivos durante a vida e uma a cada quatro pessoas sofre

de ansiedade.

Com a pandemia da Covid-19, essas estimativas ampliaram-se consideravelmente,

especialmente entre jovens e adolescentes, por conta do excesso de estímulos

audiovisuais, do isolamento social, do alto grau de incertezas e de risco a que todos

estamos submetidos, entre outros fatores. Disso, surgiu a necessidade de

compreendermos formas de regulação emocional frente às emoções aflitivas, logo,

conheceremos alguns conceitos ligados à psicologia positiva e falaremos sobre o

valor das práticas contemplativas.

Ao final desta aula, esperamos que você descubra formas de acalmar estados

ansiosos e garantir o alívio da tristeza a partir do acesso a emoções positivas.

Uma epidemia de ansiedade


Um fato que intriga pesquisadores de saúde mental é o aumento significativo de

quadros de ansiedade nas mais diversas culturas e populações. Segundo Leahy

(2011), a criança média, hoje, exibe o mesmo nível de ansiedade do paciente

psiquiátrico da década de 1950! Considerando que, atualmente, temos acesso

facilitado a tratamentos médicos, as pessoas vivem mais e vivem em melhores

condições de saúde, por que isso acontece?

Uma explicação para isso está em nosso estilo de vida. Por exemplo: a alta

facilidade em nos conectarmos às mais diferentes notícias e realidades nos coloca

em constante comparação e confusão. Absorvermos informações demais sobre

fatos e imagens, o que “cansa” nossos sensores emocionais e nos coloca em uma

espécie de vertigem, algo típico da ansiedade.

De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (APA), a ansiedade é uma

emoção caracterizada por sentimentos de tensão, pensamentos preocupados e

mudanças físicas, como aumento da pressão arterial. Pessoas com transtornos de

ansiedade, geralmente, têm pensamentos ou preocupações intrusivas recorrentes;


elas podem evitar certas situações por preocupação e apresentar sintomas físicos,

como sudorese, tremores, tonturas ou taquicardia.

Como outros estados emocionais, a ansiedade pode ser facilitada por questões

fisiológicas, mas é, das emoções aflitivas, a mais ligada ao modo como projetamos

nossa percepção da realidade. Ela é, portanto, uma emoção ancorada no tempo

futuro, geralmente, ocupando nossa mente com situações sobre as quais não temos

controle, mas desejamos controlar.

De acordo com Laguaite (2011), são múltiplos os sintomas de ansiedade, entre

eles:

• Evitar amigos ou família.

• Preocupação constante.

• Choro.

• Sensação de irritação, cansaço ou tensão.

• Sentir que você precisa ser perfeito.

• Ter problemas para dormir.

• Ter problemas para se concentrar ou lembrar das coisas.

• Perder o interesse no seu trabalho.

• Comer demais ou de menos.

Existem situações que podem disparar nossa ansiedade e nos fazer antecipar

nosso desempenho diante de outras pessoas. No espaço de trabalho, algumas delas

são:

• Lidar com problemas de colegas.

• Montar e realizar apresentações.

• Acompanhar e atualizar as redes sociais.

• Reuniões, almoços de equipe e festas de escritório.

• Cumprir e definir prazos em equipe.


• Falar durante as reuniões.

Certos comportamentos não nos ajudam a lidar com preocupações e ansiedades,

como tentar suprimir os pensamentos, alienar-se com álcool e outros vícios,

superestimar o risco de algo ruim acontecer ou checar repetidamente o status nas

redes sociais. Ao contrário! O que pode contribuir para a diminuição da ansiedades

é ter clareza do que efetivamente se pode controlar e uma certa apreciação da

experiência, ainda que a vida apresente novos riscos e incertezas a cada dia. Em

relação aos desafios diários, para diminuir a ansiedade, é importante dedicar-se a

uma atividade por vez, buscando pausas para observar o que acontece e refazer as

energias.

Nosso jeito de viver e a tristeza

Com a depressão aumentando em todas as faixas etárias e o estresse se tornando

algo comum em nossas vidas, é seguro supormos que nosso estilo de vida pode

estar contribuindo para nos deixar “para baixo”. Ao contrário do que parece, o

estresse não é um elemento isolado dos estados de abatimento, na verdade, são


estados emocionais que convivem. A fórmula já conhecemos: um esforço imenso

para fazer as atividades mais corriqueiras seguido de um cansaço extremo e a

vontade de não fazer nada. Em muitas situações, estresse e fadiga são duas faces da

mesma moeda, assim como ansiedade e depressão.

Todo mundo tem um dia ruim de vez em quando; uma discussão com um cliente,

uma briga dolorosa com o cônjuge, a perda de um animal de estimação, ser

preterido de uma promoção e outras decepções do dia a dia podem fazer com que

nos sintamos péssimos. A tristeza é uma emoção normal, que deve desaparecer

com o tempo, mas quando essa melancolia não é temporária, o perigo de depressão

pode estar no horizonte.

Existem alguns pontos importantes que apontam a diferença entre a simples

tristeza e um quadro depressivo. O Quadro 1 a seguir explica em que elas se

diferem:

Quadro 1 | Diferenças entre tristeza e depressão. Fonte: Botega (2020, p. 23).

É importante compreendermos que a tristeza é uma emoção humana normal, que

todo mundo sente de vez em quando. Como vimos na primeira aula, ela está

associada a algum tipo de perda, podendo estar vinculada à forma como

entendemos alguma situação da vida. Uma característica interessante da tristeza é


que, quando a sentimos, é como se “nunca tivéssemos” sentido a felicidade antes,

além disso, facilmente, ela é a emoção dominante. Quando em intensidade baixa, a

tristeza favorece a análise crítica e a empatia por outras pessoas; por essa razão, a

tristeza pode ser aliviada quando desabafamos, choramos ou, simplesmente,

entramos em contato com nossos sentimentos.

O mais importante em relação à tristeza é que ela é temporária. Se ela se

intensificar e não estiver mais vinculada a algum fato específico (geralmente de

perda), é possível que haja algo mais a se investigar, como uma possível depressão,

e, nesse caso, o ideal é procurar ajuda de um profissional de saúde mental.

Ainda, a depressão pode ser desencadeada por uma predisposição fisiológica,

como uma forte alteração hormonal, ou devido a circunstâncias externas. O termo

"deprimido" é frequentemente mal utilizado e muitas pessoas explicam estados de

melancolia a partir do sentimento de depressão. A depressão clínica, no entanto, só

pode ser diagnosticada por um profissional de saúde mental, que pode avaliar os

sintomas e recomendar o tratamento adequado.

Práticas para viver melhor


Como vimos até aqui, nosso estilo de vida conectado e hiperligado contribui para a

perda de bem-estar e satisfação pessoal. Por isso, para fazer frente a estados

depressivos e ansiosos, muitas pessoas estão se voltando a práticas

contemplativas, como mindfulness e meditação, que ajudam a diminuir o fardo de

nossos embates emocionais cotidianos.

Muitas são as práticas contemplativas, podendo ser generativas, quando intentam

gerar pensamentos e sentimentos de compaixão ou conexão com algo superior

(como orações e mantras), de movimento (como caminhadas ou artes marciais)

ou de quietude, quando buscam promover calma e tranquilidade (como meditação

sentada). Elas são chamadas "práticas" porque se aperfeiçoam com o tempo e a

repetição, modificando a forma como experimentamos a realidade.

De acordo com a organização CMind (2021), as práticas contemplativas podem

incluir atividades como cantar, tocar música e tricotar, bem como práticas como

ioga ou tai-chi. Em comum, elas têm a característica de promover uma melhora em

nossa saúde emocional, afastando-nos de emoções aflitivas e nos aproximando de

estados de bem-estar e apreciação da vida.

Mindfulness é uma expressão em inglês melhor traduzida como “atenção plena” e

diz respeito a uma observação da realidade de forma curiosa e distanciada. Quando

estamos “mindful”, percebemos o que acontece de maneira livre de julgamentos,

por isso, a prática de mindfulness

torna-se uma ferramenta poderosa para nos ajudar a controlar o sofrimento que

experienciamos, promovendo calma, apreciação da experiência e felicidade.

Não é preciso fechar os olhos para a prática de mindfulness; podemos praticar, por

exemplo, a partir de uma alimentação consciente, em que cada garfada é apreciada

cuidadosamente, bem como o sabor dos alimentos e suas diferentes texturas. Outra

opção é uma caminhada ao ar livre, de forma que todos os nossos sentidos estejam
atentos ao ambiente e que possamos “prestar atenção” às nossas passadas sob

efeito do vento e das paisagens que vislumbramos.

Muitas são as práticas possíveis de meditação. Uma delas é sentar-se

confortavelmente por alguns minutos diariamente, fechando os olhos para

presenciar as diferentes “janelas mentais”, separando sons, percepções do corpo e

pensamentos, bem como observar a si mesmo com tranquilidade. Outra meditação

bastante comum é, simplesmente, prestar atenção na respiração, pontuando o ar

que entra e o ar que sai, e nas diferentes sensações e nos sentimentos que

surgirem, sem julgamentos.

Outra opção simples é prestar atenção no seu momento presente. Pratique agora:

inspire profundamente pelo nariz e exale devagar pela boca, por três inspirações e

expirações. Em seguida feche os olhos e deixe o “pensamento flutuar”, sem julgar,

sem reter nenhuma emoção e sem evitar. Você verá como uma prática tão simples

pode nos fazer “recuperar o fôlego” e, quem sabe, levar a vida um pouco mais leve.

No Saiba mais desta aula, sugerimos que você construa a árvore de práticas

contemplativas, descobrindo o seu jeito de estabelecer uma conexão saudável com

suas emoções.

Videoaula: Como desenvolver a gestão


emocional
Meu vídeo não funciona

Vivemos em uma época acelerada, em que o isolamento social e o excesso de

informações nos tornam cada vez mais estressados e ansiosos. Nesta aula, falamos

sobre ansiedade e depressão, compreendendo as características que desafiam

nossas mentes a lidar com a realidade; ao final, apresentamos algumas formas de

fazer frente às emoções aflitivas, a partir de práticas contemplativas

de mindfulness e meditação.

Estilos de liderança
Meu vídeo não funciona

A tarefa fundamental de um líder é cultivar bons sentimentos naqueles que lidera.

Isso ocorre quando o líder cria ressonância - um reservatório de positividade que

liberta o melhor das pessoas. Em sua raiz, então, o trabalho primordial da

liderança é emocional.

No livro “O poder da inteligência emocional”, Daniel Goleman, Richard Boyatzis e

Aniee McKee apresentam diferentes estilos de líderes ressonantes, que seriam

mais eficazes por fazerem uso de competências de inteligência emocional. Alguns

desses estilos são reproduzidos na tabela a seguir.


Fonte: elaborada pelo autor.

Procure descrever quais dimensões e competências de inteligência emocional,

conforme o modelo de IE da Escola de Harvard, são fundamentais para o exercício

desses estilos de liderança, justificando sua resposta.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Possível resposta...

Fonte: Elaborado pelo autor.

Introdução
Meu vídeo não funciona

Você já reparou em algum artista realizando uma performance, como um

dançarino ou um pintor? Já se envolveu em uma atividade e não viu o tempo

passar? Essas situações podem indicar o estado de flow, um estado de espírito em


que ficamos totalmente imersos no que fazemos e podemos criar o novo em

atividades que já temos amplo domínio.

Vamos falar nesta aula sobre isso e sobre a formação de indivíduos criativos,

compreendendo o papel do ambiente e de nossas relações afetivas, inclusive com a

própria tarefa. Por último, vamos conhecer uma técnica para facilitação de nossas

emoções de forma a promover a criatividade.

Ao final da aula espera-se que você perceba mais atentamente seus processos

criativos e facilite humores positivos para que novas soluções possam chegar a seu

campo cognitivo.

O processo de flow
É encantador observar os movimentos de uma bailarina em uma apresentação de

alto desempenho. A fluidez na pista faz parecer fácil a condução dos passos e por

mais força que ela coloque em seus músculos, o que conseguimos perceber é

leveza. Se perguntarmos para a bailarina como ela se sente no momento da

performance, ela dirá que é como se o tempo parasse ou como se não tivesse

percepção alguma de tempo. Outra característica é que ela não perceberia seus

pensamentos, como se nesse momento o eu se fundisse com a tarefa, ou seja, ela se

tornasse a dança. Esse estado de espírito em que estamos totalmente imersos em

uma atividade é chamado de flow, ou fluxo.

Para chegar ao desempenho em flow em processos criativos são necessárias

muitas horas de treinamento. De acordo com o psicólogo positivo Mihaly

Csikszentmihaliy (2020), que estuda o processo de flow nos últimos 30 anos, são

necessários 10 anos de dedicação a um determinado tema ou atividade para que se

possa criar algo totalmente novo a respeito. E aqui o autor faz uma conexão entre

o flow e a criatividade: é preciso muito envolvimento com uma atividade para que

se possa ser criativo em relação a ela. É como se a mente precisasse de muitos

registros de uma determinada ação para que pudesse automatizar totalmente o

processo e então fluir de forma mais independente, sem programar os

pensamentos.

Ao realizar uma tarefa em estado flow, a pessoa sente-se “livre” de ter de pensar e

simplesmente flui. Csikszentmihaliy explica que mesmo atividades consideradas

repetitivas, burocráticas ou cansativas, pode oportunizar momentos de

criatividade, gerando satisfação posterior. Para isso acontecer, é necessário que os

indivíduos dessas atividades tenham o chamado perfil autotélico, que consegue

reconhecer oportunidades onde outros não reconhecem e tirar bem-estar

psicológico a partir de atividades consideradas difíceis para outras pessoas. A

pessoa autotélica cria condições para o flow acontecer. Outros exemplos são as
atividades de “abrir a massa” feita em algumas pizzarias artesanais ou de “soprar o

vidro” feita em vidraçarias tradicionais. Essas são tarefas aparentemente banais

que são transformadas criativamente por pessoas autotélicas, que retiram

satisfação e promovem um toque artístico no que fazem.

Algumas outras definições ajudam a compreender melhor o flow. É necessário que

a pessoa se sinta desafiada pela tarefa e, ao mesmo tempo, tenha condições de

executá-la. Daí a importância do amplo tempo de dedicação para que se chegue

ao flow. Se temos muito domínio sobre uma atividade e não somos desafiados por

ela, é fácil cair em um estado de tédio. Já se temos pouca habilidade e o desafio da

tarefa é muito grande, entramos em estado de preocupação ou ansiedade, uma vez

que não vemos saída fácil. Essas diferentes relações entre o desafio e a habilidade

são explicadas pela Figura 1.

Figura 1 | Estado de flow. Fonte: adaptada de Csikszentmihalyi (2020).

O que se pode resumir é que duas condições são necessárias para que o flow possa

acontecer: a pessoa sentir-se altamente motivada para a atividade e com

capacidade ou competência para realizá-la a contento. Nesse caso, há um grande

investimento de energia e concentração, até que se perca a noção do tempo ou do


pensar. Passa-se a tão somente executar, com espaço para criar. Daí a satisfação

decorrente.

O indivíduo criativo em formação


Meu vídeo não funciona

Inspirado na teoria de Csikszentmihalyi, Howard Gardner explorou as condições

necessárias para as pessoas serem criativas. Ele analisou a vida de sete

personalidades criativas: Freud, Einstein, Picasso, Stravinsky, Eliot, Graham e

Gandhi e chegou à conclusão de que a criatividade não é um fato isolado e restrito

a indivíduos geniais, ao contrário, depende das condições de formação do indivíduo

criativo, do ambiente em que cresceu, do afeto que recebeu e das oportunidades

que encontrou.

Para explicar essas condições, Gardner (1996) propôs o triângulo da formação

(Figura 2), que traz três elementos centrais:

1. Da criança ao mestre – compreensão de como o indivíduo passa de criança

a mestre, como os talentos foram identificados e que meios encontraram

para florescer.

2. Campo de domínio – a relação entre o indivíduo e o trabalho em que se

envolveu.

3. Ambiente-comunidade – a relação entre o indivíduo e outras pessoas que

fazem parte do seu mundo, tais como familiares e professores.

A interconexão desses três elementos faz com que se compreenda as bases do

processo de criatividade no decorrer de uma vida, inclusive todos os afetos

envolvidos.
Figura 2 | Triângulo da formação. Fonte: Gonzaga e Rodrigues (2018, p. 22).

Dessa forma, o triângulo da formação engloba aspectos individuais (herança

genética, temperamento, constituição básica); aspectos do ambiente (influência de

pais, professores e demais pessoas que julgam ou emitem opiniões sobre o

comportamento do indivíduo); e o domínio (o estágio de desenvolvimento de uma

dada disciplina em uma determinada época). O mesmo triângulo já havia sido

utilizado por Gardner para explicar o conceito de Inteligências Múltiplas.

Alguns achados na formação do indivíduo criativo

De acordo com Gardner, todos os mestres criativos estudados mostraram dons

formidáveis na infância, havendo especial destaque para o nível de habilidade do

jovem Picasso. Um desenhista talentoso na primeira década de sua vida, ele estava

no final da adolescência pintando com tanta sutileza quanto qualquer outro artista

de sua época – e lançando as bases para mais 75 anos de produtividade. Picasso

oferece a oportunidade de considerar as contribuições da prodigiosidade para as

primeiras realizações deslumbrantes e sua transmutação em uma forma que

permite a realização de contribuições mais duradouras.

Outra característica compartilhada pelos mestres criativos é que vivenciaram

diferentes culturas e contextos, não ficando restritos aos códigos sociais de uma
determinada região ou cidade e havendo inclusive participado de movimentos

criativos de seu tempo. O autor cita o exemplo do escritor T.S. Eliot, que se tornou

de certa forma “marginal” em sua própria era, mesclando estilos diversos em sua

obra.

Por último, todos os criadores tinham algum tipo de sistema de suporte

significativo. Isso incluiu apoio afetivo de alguém de quem colhia suporte

emocional e cognitivo. Em algumas situações, a mesma pessoa supria ambas as

necessidades, em outras ocasiões, foi necessária mais de uma pessoa para os

diferentes suportes. A relação entre o indivíduo criativo e esse “outro significativo”

se compara em utilidade a outros dois tipos de relacionamento: a relação entre o

cuidador e a criança no início da vida, e a relação entre um jovem e seu ou seus

amigos no decorrer do crescimento. Em alguns aspectos, essa relação passa por

algum tipo de embate, em que o mestre tenta introduzir um novo jeito de ver as

coisas e seu amigo-confidente é o zelador da língua e cultura existente. O que se

reforça é que a criatividade passa pela ação de forças sociais e afetivas, que

agem no desenvolvimento do indivíduo criativo.

Facilitação emocional para criar


Será que existe um jeito de pensar que facilita a criatividade? A resposta é sim e

esse jeito envolve determinados humores e suas formas análogas de pensar. Antes

de mais nada é preciso deixar de encarar as emoções como visitas inoportunas que

atrapalham nosso pensamento e começar a considerá-las como componentes-

chave para despertar nossa cognição. Uma das mensagens mais importantes

para nosso melhor desempenho em tarefas cognitivas de criação é de que as

emoções podem melhorar nosso raciocínio.

Isso acontece porque nossos humores têm impacto direto sobre o pensamento.

Conforme nosso humor se altera, o mesmo ocorre com o pensamento. Assim, se

somos capazes de perceber como estamos nos sentindo e em seguida

conseguirmos alterar esse sentimento, facilitamos o espaço para pensarmos

criativamente. Porque a cada mudança de humor muda também a forma como


analisamos a realidade. E esse é exatamente o “pulo do gato” que favorece o novo

chegar. E melhor ainda se estivermos sob efeito de emoções positivas.

Os humores positivos ajudam nossa mente a “abrir janelas” e pensar em novas

possibilidades. Por exemplo, se estamos de “bom humor” de repente nos vemos

elaborando com facilidade um determinado plano de marketing, já que esse bem-

estar fornece segurança psicológica e favorece que pensemos sobre coisas que

“não estão ali”. Quando nos sentimos alegres e confiantes olhamos para fora da

caixa, arriscamos dar uma opinião em uma apresentação coletiva, topamos um

passeio diferente, acreditamos que as coisas “podem dar certo” e diminuímos a

percepção de risco.

O contrário acontece com os humores negativos. Eles nos abrem os olhos para

tudo que pode dar errado e nesse sentido podem ser um empecilho a novas ideias.

Mas se houver uma leve mudança de um estado negativo pode-se abrir espaço para

a criatividade, especialmente para questões de organização e ordenamento. E eis

que numa tarde um tanto melancólica olhamos para as gavetas e, no meio de uma

motivação momentânea, nos vemos descobrindo uma forma criativa de disposição

das peças. Foi nosso humor que teve uma leve alteração, suficiente para que o “pop

up” mental da criação pudesse acontecer.

A pausa também pode ser um facilitador emocional para a criatividade. Muitas

vezes simplesmente pausar e ficar sem “fazer nada” é suficiente para construir as

bases para que uma nova ideia possa surgir. Eis aqui uma prática revelada por

muitos criativos: não é só buscando a solução que a encontramos. Vale a pena se

“abastecer de informações” a respeito do que queremos resolver, mas também

deixar um tempo de folga para que a mente intuitiva possa trabalhar

subliminarmente e, sem que possamos antecipar, a solução simplesmente

“aparece” no campo mental.


Eis então uma proposta de atividade para promover sua troca de humor e

consequente abertura à criatividade. De acordo com Caruso e Salovey (2007), uma

das estratégias mais eficazes para alterar o humor é simplesmente repetir

declarações positivas. O efeito é sutil, mas bastante eficaz. O ideal é que você leia

essas declarações em voz alta ou silenciosamente para si mesmo:

• Me sinto muito bem hoje.

• Estou muito feliz.

• As coisas estão melhorando.

• É fácil fazer essa tarefa, eu consigo.

• Este é um grande dia.

• Estou muito alegre hoje.

Desejamos uma boa prática das estratégias que estudamos e ótimas criações!

Videoaula: Facilitação emocional do


pensamento criativo
Meu vídeo não funciona

Na primeira parte de nossa aula vamos falar sobre flow, um estado de espírito em

que estamos totalmente imersos em uma atividade e não percebemos o tempo

passar. Em seguida, conheceremos o processo de desenvolvimento de uma pessoa

criativa e o triângulo da formação. Encerraremos a aula compreendendo o papel

das emoções na facilitação do pensamento, de como nossos humores afetam nossa

criatividade.

Introdução
Será que a criatividade é algo que já trazemos de nascença ou pode ser

desenvolvida? Embora existam talentos que já trazemos conosco, todos nós

podemos ser criativos porque criatividade diz respeito a um processo, não a uma

determinada forma de perceber a realidade. Nesta aula, vamos aprender sobre os

obstáculos à criatividade e como o diálogo é a porta de entrada para a criação

compartilhada em grupos humanos.

Em seguida, vamos conhecer os elementos que fazem parte do processo criativo,

entendendo o papel da razão e da emoção em nossas inovações e propostas de

solução de problemas. Por último, teremos a sugestão de duas práticas que

prometem acelerar os processos criativos.

Obstáculos à criatividade e o valor do


diálogo
Todos podemos ser criativos, mas o que separa os grandes autores e artistas dos

que não criam é a crença na própria criatividade. É verdade, no entanto, que

existem alguns obstáculos à criatividade, desde bloqueios simples de atenção até

mais complexos. Eis aqui alguns deles:

1. Obstáculos da percepção – são aqueles provocados pelo próprio ego,

embates do raciocínio. A análise crítica, o julgamento e as percepções

negativas podem atrofiar o processo de criação.

2. Obstáculos emocionais – a emoção que mais bloqueia a criatividade é o

medo, em suas mais diversas formas: medo de errar, medo do desconhecido

e principalmente medo da rejeição. Algumas pessoas dizem “tenho medo de

falhar” e isso as paralisa.

3. Obstáculos intelectuais – nesse caso não há apenas a barreira do ego, mas

sim dificuldades de construção do raciocínio. Um exemplo é algum tipo de

bloqueio da linguagem e conotações específicas. Por isso é tão difícil criar

um texto em uma língua que não dominamos.


4. Obstáculos culturais – muitas vezes ficamos presos à nossa própria

cultura. Barreiras culturais podem impedir o acesso a novas possibilidades

de ação e de pensamento.

5. Obstáculos ambientais – restrições de acesso, ação ou presença de outras

pessoas e dificuldades tecnológicas são exemplos de barreiras à criação que

independem da ação do criativo.

Muitos dos obstáculos são atitudes de autodefesa em que o indivíduo procura

evitar sentimentos ansiosos e interrompe a criação. Às vezes, a remoção ou o

afastamento dos obstáculos requer criatividade.

Mas como podemos então gerar novas ideias? De onde elas vêm? Um bom lugar

para se começar é nossa memória. Por isso, quanto mais experientes somos

também maior é nosso arquivo de base criativa (SEAWARD, 2009). As ideias

podem vir de diferentes recursos: livros, filmes, conversas com os amigos, posts de

redes sociais e até mesmo aquele episódio preferido da Netflix. Para sermos

criativos é necessária uma postura de abertura à experiência, um certo espírito

explorador, em que deixamos de lado a censura mental e nos tornamos curiosos à

novidade.

E os grupos humanos, podem cocriar juntos?

William Isaacs, pesquisador há mais de 30 anos de grupos humanos entende que é

possível promover a arte de pensar juntos, a partir do diálogo. Segundo ele,

problemas entre gerentes e funcionários, cidadãos e autoridades eleitas e nação e

nação muitas vezes derivam de incapacidade de conduzir um diálogo bem-

sucedido. O diálogo envolve aprender a abandonar as reações iniciais diante da

posição de outras pessoas e tomar consciência de um fluxo de novas possibilidades

(ISAACS, 1999).

Alguns empecilhos para o bom diálogo são o excesso de preparação – chegamos

prontos para falar, não para ouvir – e o pensamento rígido a respeito dos temas a
serem tratados. Pessoas que pensam e conversam com eficácia, favorecendo o

processo criativo de um grupo, possuem as seguintes qualidades:

• Escuta – Devemos ouvir não apenas os outros, mas a nós mesmos,

abandonando nossas suposições, resistências e reações.

• Respeito – Devemos permitir ideias diferentes das nossas serem expressas,

ao invés de tentar mudar as pessoas com um ponto de vista diferente.

• Observação – Devemos suspender nossas opiniões, recuar, mudar de

direção e ver com novos olhos.

• Autonomia – Devemos falar nossa própria voz, sem termos agendas

predeterminadas com alguém ou alguma instituição. Encontrar a própria

autoridade é também desistir da necessidade de dominar.

• A concretude da criatividade

• Há um certo consenso de que os indivíduos criativos, sejam eles artistas,

líderes ou cientistas, têm em comum uma ampla capacidade de observação,

uma motivação e energia ímpar e às vezes uma forma particular de viver e

tomar decisões. Entende-se que seu pensamento é mais livre e menos

dependente da lógica, mais inclinado ao sonho e à fantasia.


• Contrapondo em parte essa visão, o sociólogo Domenico De Masi (2003)

desenhou um modelo para explicar grupos criativos que equilibram razão

e emoção, fantasia e realidade. De acordo com o autor, existem quatro

forças entre as quais a criatividade atua: a) o pensamento primário, b) o

pensamento secundário, c) a esfera emotiva e d) a esfera racional.

• O pensamento primário tem a ver com o funcionamento inconsciente da

psique, em que prevalece o sonho e algumas psicoses. Já o pensamento

secundário diz respeito ao funcionamento da mente desperta e serve-se da

lógica comum. A esfera emotiva é composta de emoções, sentimentos e

atitudes e a esfera racional de conhecimentos e habilidades.

• Das intersecções entre esses quatro fatores surgem as condições para a

criatividade acontecer, conforme apresentado na Figura 1. Da intersecção

entre a esfera emotiva e o pensamento secundário surge a (1) área das

emoções administradas. Um exemplo dessa primeira intersecção são os

diálogos em torno de nossos sentimentos ou a dramatização em forma de

arte. Da união entre a racionalidade e a mente consciente surge a (2) área

da concretude, em que as soluções e inovações tornam-se materiais e reais.

Na intersecção entre emotividade e a mente inconsciente está a (3) área da

fantasia, em que os primeiros movimentos involuntários do processo

criativo podem surgir e entre a esfera racional, e no pensamento primário

está a (4) área das técnicas introjetadas, como aqueles sonhos que não

servem para o campo da realidade.

• Assim, entende-se que a criatividade não se caracteriza apenas pela

imaginação e fantasia, mas também pelo movimento para sua realização

(concretude), ainda que na síntese do entroncamento entre fantasia e

concretude, entre emoções administradas e técnicas introjetadas instala-se

a criatividade, conforme resumido na figura a seguir.



Figura 1 | Processo criativo para De Masi (2003). Fonte: De Masi (2003, p.
571).

• Por último, vale reforçar que o movimento da inspiração e realização não é

necessariamente linear. Espera-se que toda grande criação parta de um

arroubo de intuição fantasiosa para depois se planificar. Nem sempre

esse é o caso, também o inverso pode acontecer. Um exemplo de obra que

partiu da concretude para a fantasia é do auditório de Oscar Niemeyer na

cidade de Ravello, na Itália. Conforme resgata De Masi (2003), segundo o

arquiteto, na proposta de projeto já se sabia que a inclinação do terreno era

irregular e estreita. Percebendo a dificuldade da obra e o custo de aplainar o

espaço, o artista aproveitou a inclinação para definir a localização da

plateia, fazendo com que essa característica servisse de ponto de partida

para o desenho do restante do projeto.

• O encontro com o artista


• A arte é uma atividade do cérebro artista e sua linguagem é a imagem e o

símbolo. Por isso a linguagem do artista é sensual, alimentada pela

experiência e os cinco sentidos. Para Seaward (2009), as atividades

criativas envolvem uma combinação das funções dos hemisférios direito e

esquerdo do cérebro humano. Maslow (1987) concluiu que o processo

criativo e o caminho para a autorrealização eram o mesmo. Antecedendo o

pensamento de De Masi, ele dividiu o processo criativo em duas partes:

primária e secundária. A criatividade primária é a origem das ideias: uma

espécie de playground da mente em que as imagens são geradas, ainda

incipientes e não necessariamente úteis. Já a criatividade secundária é o

momento do processo criativo em que é traçado um plano estratégico para

que a ideia selecionada funcione na realidade, quando ela é posta em ação.

• Considerado pelo diretor Martin Scorsese como uma ferramenta valiosa

para se conectar com a própria criatividade, o livro O Caminho do Artista, de

Julia Cameron, propõe uma jornada de atividades para recuperação de

nosso eu criativo. Na base de todas as reflexões, Cameron (2019) propõe

duas ferramentas para o despertar criativo: as páginas matinais e o

encontro com o artista.


• As páginas matinais são três páginas escritas à mão com livre associação.

Simplesmente isso, sem um plano prévio e sem necessidade de editar o

texto. A intenção é liberar as preocupações cotidianas ou as histórias que

passam em nossa cabeça, de forma que sobre o espaço para a criatividade

acontecer. As páginas permitem que nos afastemos de nossos censores ou

críticos internos e vão aos poucos permitindo que nos livremos de medos,

dúvidas, negatividade e outros humores que impeçam nossa ação criativa.

• Todas essas coisas que lhe provocam raiva, irritação e implicância,

escritas pela manhã, são um obstáculo entre você e sua criatividade.

Preocupações com o emprego, a lavanderia, o barulho esquisito que

o carro está fazendo, o olhar diferente do seu namorado – isso tudo

fica se revolvendo em seu subconsciente e enlameando seus dias.

Deixe tudo no papel. (CAMERON, 2019, p. 35)

• A ferramenta de encontro com o artista é um tempo, talvez duas horas por

semana, reservado para alimentar a consciência criativa e o artista interior.

É uma hora “para brincar”, só que planejada com antecedência. No

momento do encontro é importante não ser interrompido.

• Alguns exemplos de atividades de encontro com o artista são: uma visita a

uma loja de artigos de segunda mão, um passeio na praia, assistir a um filme

antigo, um passeio no parque. São coisas que custam tempo, e não dinheiro.

Conforme aponta Cameron (2019, p. 44): “passar um tempo a sós com sua

criança artista é essencial para nutri-la”.

• Achou isso tudo interessante? Então agora é sua vez: separe um caderno

específico para a sua prática criativa e nele passe a produzir suas páginas

matinais. Também uma vez ao menos por semana, por pelo menos uma

hora, garanta seu encontro com o artista, consigo mesmo.

• Bons estudos e boa prática criativa!


• Videoaula: Grupos criativos e
solução de problemas
• Meu vídeo não funciona

• Em nossa aula falamos sobre os obstáculos à criatividade e de que forma os

processos criativos podem ser incentivados quando a tarefa é de um grupo

de pessoas. Vamos também desmistificar algumas ideias do que compõe a

criatividade em si e compreender como a razão e a emoção podem

colaborar para produzir novas ideias. Por último, nosso convite é à prática

de estratégias de resgate do artista que mora em cada um de nós.

• Introdução

• O conceito de Homo Economicus foi introduzido por John Stuart Mill no

século XIX. Ele se baseia no pressuposto de racionalidade perfeita do

indivíduo, isto é, assume que somos capazes de decidir sobre questões

complexas de forma ótima. Para isso, parte-se do princípio de que seremos

sempre capazes de analisar e julgar todos os caminhos ou opções possíveis

e escolher o curso de ação que trará o melhor resultado.

• Embora hoje saibamos que esse indivíduo não existe, isso não quer dizer

que estudar a forma como realizamos julgamentos e tomamos decisões não


seja importante. Segundo Herbert Simon, Nobel de Economia em 1978,

compreender os processos de decisão e estudar se os mesmos processos

levam a boas decisões, estão entre os tópicos de pesquisa mais relevantes

na área de gestão.

• Das formas de pensar aos processos de tomada de decisão, serão objetos de

estudo nesta aula.

• Desejamos uma excelente imersão na temática heurísticas e vieses.

Os processos de tomada de decisão

Métodos racionais de tomada de decisão

Para muitos de nós, existe a percepção – e podemos dizer que, às vezes, a

esperança – de que o processo de tomada de decisão eficaz possa ter como base

uma escolha racional, que envolve identificação, escolha e aplicação da melhor

alternativa possível. Os métodos racionais são estruturados geralmente no

seguinte conjunto de etapas, conforme Figura 1:


1. Identificar um problema ou uma oportunidade de maneira clara: por

vezes, agimos sem ter um entendimento completo do problema, o que

nos leva a resolvê-lo de maneira errada.

2. Definir o método a ser utilizado: identificação e priorização de todos os

objetivos por meio de critérios de avaliação para selecionar a melhor opção

considerando todos os aspectos envolvidos.

3. Desenvolver possíveis escolhas ponderadas pela utilização dos

critérios: é recomendado envolver as equipes na tarefa de atribuir peso

relativo a cada problema para classificá-lo e priorizá-lo.

4. Identificar a solução otimizante: realizadas as primeiras etapas, esta

resultaria teoricamente do julgamento natural fundamentado nas

anteriores, facilitando o consenso. Recomenda-se fazer previsões sobre

eventos futuros, tentando avaliar as consequências potenciais das escolhas.

5. Implementar a solução selecionada: deve-se avaliar, sempre que

possível, tanto a aderência aos planos quanto aos resultados obtidos em

relação aos esperados, propondo ajustes quando necessário.

6. Avaliar a escolha selecionada: é recomendado que haja um aprendizado

sobre todo o processo, incluindo fatores não previstos durante a

implantação e diferenças de resultados entre planejado e realizado,

buscando-se aprimorar métodos e critérios para processos futuros.


Figura 1 | Estrutura de métodos racionais de tomada de decisão. Fonte:
adaptada de McShane e Von Glinow (2014).

McShane e Von Glinow (2014) explicam que um dos problemas com essa

abordagem é que, na verdade, as pessoas não conseguem adotar métodos racionais

por terem dificuldades (ou, às vezes, falta de vontade) de reconhecer problemas,

falta de capacidade para processarem simultaneamente informações associadas a

problemas complexos e dificuldade para reconhecerem seus limites ou situações

em que suas decisões e premissas anteriores fracassaram.

Métodos naturalistas

Os métodos naturalistas são, às vezes, a melhor opção recomendada, dada a

impossibilidade de utilização de métodos racionais em função de fatores como:

• Problemas não estruturados que dificultam abordagens racionais.

• Presença de incertezas em ambientes dinâmicos, com ciclos que

realimentam o modelo a partir das primeiras escolhas realizadas.

• Objetivos mal definidos e mutáveis.

• Pressão do tempo para tomada de decisão.

• Múltiplos participantes com conflitos de interesse e dificuldade de chegar a

um consenso.
• O fato de que esses modelos não consideram de forma adequada as

consequências graves para o decisor, que talvez esteja inclinado a posturas

mais conservadoras ou menos arriscadas em relação às indicadas pelos

processos racionais.

A estrutura dos métodos naturalistas é apresentada na Figura 2. Determinada

situação ou problema gera estímulos que permitem o reconhecimento de padrões

adotados em situações ou casos semelhantes que já vivenciamos. Esses padrões

determinam a escolha de roteiros para ação. A resposta pode ser mais rápida ou

intuitiva ou ainda passar por ciclos de refinamento com base nos padrões mentais

que utilizamos para análise e tomada de decisão.

Figura 2 | Estrutura de métodos naturalistas de tomada de decisão. Fonte:


adaptada de Yu et al. (2011).

Compreendendo melhor os Sistemas 1


e2
Faz sentido afirmarmos que uma decisão pode ser considerada “racional” se ela

produz um resultado ótimo? Como definirmos “resultado ótimo”? Como o

“comportamento” influencia a obtenção desse resultado?

Essas eram questões que Herbert Simon, Nobel de Economia em 1978, fazia sobre

o processo de tomada de decisão. Segundo suas conclusões, era necessário

reconhecer as fronteiras da racionalidade e reconhecer que havia limitações da

capacidade de análise e solução de problemas vinculadas à capacidade de acesso à

memória de longo prazo e ao aprendizado individual e coletivo.

As decisões eram influenciadas por sistemas de análise “laterais” que colocam

limites na abordagem do que se pode considerar um resultado ótimo. Essa é a

origem do Sistema 1 (rápido e intuitivo) e Sistema 2 (devagar e racional) de

tomada de decisão. A evidência primária por trás dessa dicotomia veio a partir do

aprofundamento dos estudos do cérebro. Nossos dois hemisférios cerebrais

exibem uma divisão de trabalho: em pessoas destras, o hemisfério direito

desempenha um papel especial no reconhecimento de padrões visuais e o


hemisfério esquerdo nos processos analíticos e no uso da linguagem, que é

fundamental para processos racionais de tomada de decisão.

Figura 3 | A lateralidade dos hemisférios cerebrais. Fonte: Shutterstock.

Daniel Kahneman (2012), matemático e psicólogo também ganhador do Prêmio

Nobel em Economia em 2002, nos apresenta com mais detalhes esses dois

personagens que animam a mente:

• O Sistema 1 opera de forma automática e rápida, com pouco ou nenhum

esforço e nenhuma sensação de controle voluntário.

• O Sistema 2 atribui atenção às atividades mentais que a exigem, incluindo

cálculos complexos. As operações do Sistema 2 são frequentemente

associadas à filtros subjetivos.

Para Kahneman (2012), essas são as principais características do Sistema 1:

• Gera impressões, sentimentos e inclinações; quando endossados pelo

Sistema 2, tornam-se crenças, atitudes e intenções.

• Opera automaticamente e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e

nenhuma sensação de controle voluntário.


• Cria um padrão coerente de ideias ativadas na memória associativa.

• Liga uma sensação de facilidade cognitiva a ilusões da verdade, sentimentos

agradáveis e vigilância reduzida.

• Infere e inventa causas e intenções.

• Negligencia a ambiguidade e suprime a dúvida.

• É tendencioso para acreditar e confirmar.

• Concentra-se nas evidências existentes e ignora as evidências ausentes.

• Gera um conjunto limitado de avaliações básicas.

• Responde mais fortemente às perdas do que aos ganhos.

Simon (1987) destaca a importância desse sistema de tomada de decisão a partir

de seu estudo com grandes mestres enxadristas, que resolvem problemas

"criativamente" – de novas maneiras interessantes ou socialmente valiosas – com

base na experiência que acumularam em seu campo ao longo dos anos e fazendo

apostas calculadas com base em conhecimento superior.

Já o Sistema 2 é sujeito a heurísticas e vieses, que são atalhos de pensamento que

adotamos frente a análises de situações por demasiado complexas, em função de

nossa racionalidade limitada.

Heurísticas e vieses – quando os


Sistemas 1 e 2 se encontram
Em questões realmente complexas, o Sistema 2 não é suficiente para nos ajudar a

concluir por quais caminhos seguiremos em um determinado processo de

julgamento e tomada de decisão. Ou seja, os modelos racionais utilizados não são

suficientes por si só: eles são no mais das vezes utilizados como instrumentos de

apoio e análise para a tomada da decisão em paralelo com o julgamento subjetivo

do Sistema 1, estando sujeitos ao que chamamos

de heurísticas, vieses e falácias, que podem ser definidos como atalhos de

pensamento que tomamos ao fazermos julgamentos e que possuem impacto na

qualidade das decisões.

Destacamos aqui, como exemplo, alguns desses atalhos:

• Raciocínio por analogia – julgar uma situação com base em evento

anterior similar prevendo que os resultados serão os mesmos como

consequência do mesmo conjunto de ações.

• Âncora e ajuste – somos influenciados por um ponto de âncora inicial e

não nos afastamos suficientemente dele à medida que novas informações


são fornecidas. Um exemplo são as empresas, preocupadas em impedir a

entrada de novos concorrentes a seu modelo de negócio atual, deixando de

considerar o impacto das inovações.

• Heurística de disponibilidade – estimar a facilidade de que algum evento

de impacto ocorra com base na facilidade de lembrar-se de eventos de

natureza semelhante. Temos mais facilidade em dar crédito e aumentar a

probabilidade de ocorrência de eventos associados a fortes emoções ou

eventos mais recentes.

• Falácia da satisfação – escolhemos as melhores opções dentro de limites

de tempo, orçamento, facilidade de acesso, etc., sem necessariamente

observarmos todas as alternativas. Por exemplo, uma empresa que busca

determinada solução tecnológica solicita cotações e continua o processo de

seleção até avaliar ter encontrado uma solução satisfatória; no entanto, isso

não significa que tenha optado pela solução ótima.

• Falácia da eliminação por aspectos – por exemplo, há uma quantidade

muito grande de candidatos a uma vaga de emprego, pela facilidade,

eliminamos a maior parte dos candidatos pelos critérios de proximidade da

empresa e pretensão salarial para verificarmos menos currículos, que já é

uma análise mais trabalhosa. Fazendo assim, corremos o risco de deixar de

lado os candidatos potenciais.

Daniel Kahneman et al. (2021), em seu mais recente livro, exploram outros atalhos

comuns no meio corporativo:

• Ilusão de compreensão: construímos narrativas para ajudar na

compreensão e dar sentido ao mundo. Procuramos causalidade onde não

existe.
• Ilusão de validade: analistas e especialistas tendem a sobrevalorizar suas

capacidades de análise e tomada de decisão.

• Falsa Intuição de especialista: algoritmos, mesmo os aparentemente

primitivos, aplicados com disciplina muitas vezes superam os especialistas.

• Falácia de planejamento: essa falácia aflige muitas profissões e se origina

de planos e previsões que estão irrealisticamente próximos do melhor caso

e não levam em consideração os resultados reais de projetos semelhantes.

• Otimismo e a ilusão empreendedora: a maioria das pessoas é

excessivamente confiante, tende a negligenciar os concorrentes e acredita

que eles terão um desempenho melhor do que a média.

Para Daniel Kahneman et al. (2021), nos casos de decisões complexas em

organizações, é essencial que se desenvolvam formas estruturadas de análise da

qualidade das decisões tomadas, as quais sejam conduzidas por times de pessoas

que trabalhem de forma independente e sem conflito de interesse com as decisões

tomadas e seus resultados e, preferencialmente, apoiadas por métricas

quantitativas da qualidade ou do riscos associados às decisões.

Videoaula: Heurísticas e vieses


Meu vídeo não funciona

Em nosso vídeo resumo, vamos explorar os processos de julgamento e tomada de

decisão, incluindo as principais características do Sistema 1 ou Intuitivo e do

Sistema 2 ou Racional de tomada de decisão, bem como as principais heurísticas,

vieses e falácias as quais incorremos quando estamos apoiados no Sistema 2, mas

sob a influência permanente do Sistema 1.

Introdução
Será que existe um jeito certo de aprender? Nesta aula vamos conhecer o Ciclo de

Kolb, que nos aponta as diferentes formas como razão e emoção se envolvem na

absorção de conhecimentos e como lidamos com o conhecimento adquirido, se

observando ou se agindo.

Em seguida, falaremos sobre as diferentes formas de aprender, a partir da

Pirâmide de Aprendizagem, considerando as metodologias ativas de

aprendizagem. Por último, falaremos de algumas qualidades para se aprender

melhor.

A intenção é que ao final da aula você possa praticar métodos ativos de

aprendizagem e sinta-se conectado com os conteúdos desta aula e de outros em

que esteja envolvido.

Um café no ciclo de Kolb


A teoria do estilo de aprendizagem experiencial de Kolb foi criada nos anos 1980 e

revolucionou a forma como pedagogos e professores do mundo todo elaboram

seus planos de ensino. Ela é representada por um ciclo de aprendizagem de quatro

estágios. Para que a aprendizagem seja facilitada, a ideia é que o aluno possa

acessar o conhecimento em cada uma das bases. Os estilos de aprendizagem de

Kolb são:

1. Experiência concreta – uma nova experiência ou situação é encontrada, ou

uma reinterpretação da experiência existente.

2. Observação reflexiva da nova experiência – permite fazer a

compreensão da experiência e verificar possíveis inconsistências.

3. Conceitualização abstrata – reflexão sobre o que foi aprendido, que dá

origem a uma nova ideia ou modificação de um conceito abstrato existente.

4. Experimentação ativa – o aluno aplica suas ideias no mundo ao seu redor

para ver o que acontece.

A aprendizagem efetiva acontece quando a pessoa progride pelo ciclo de quatro

estágios: (1) há uma experiência concreta seguida por (2) observação e reflexão

sobre essa experiência, que leva à (3) formação de conceitos abstratos (análise) e
generalizações (conclusões) que são então (4) usados para testar uma hipótese em

situações futuras, resultando em novas experiências.

Se em uma situação hipotética fôssemos ensinar alguém a fazer uma café

percorrendo todo o ciclo de Kolb, poderíamos: (1) começar com uma sessão de

degustação de diferentes cafés, (2) refletir sobre como absorvemos a experiência e

qual café nos agradou mais, podendo inclusive escrever a respeito e depois (3)

compreender os processos de maturação dos grãos, formas de processamento e

técnicas de produção para (4) testar possibilidades alternando técnicas de

moagem inovadoras, que não havíamos experimentado antes.

Mas o que pode influenciar o nosso estilo de aprendizagem?

Vários fatores influenciam o estilo de aprendizado de cada pessoa: o ambiente em

que ela cresce, suas experiências no campo educacional e mais especificamente,

conforme a teoria de Kolb, sua forma individual de pensar.

Existem dois pares de variáveis que influenciam nossa forma de aprender, duas

dimensões com pares opostos: o par pensar/sentir e o par observar/agir. Quando

estamos experimentando determinada atividade (experiência concreta) estamos

pensando a respeito e quando paramos para compreender o que essa experiência

causou em nós (conceitualização abstrata), estamos no campo das emoções e dos

sentimentos.

Da mesma forma, quando nos afastamos da experiência, podemos observá-la e

quando já conceitualizamos o que vivemos, podemos nos preparar para a ação. São

movimentos de um pêndulo e em todas as atividades da vida trabalhamos nesses

dois continuums: um da percepção (pensar ou sentir/experiência concreta ou

abstrata) e outro do processamento da tarefa (observar ou agir/refletir ou atuar).


Figura 1 | Ciclo de Kolb. Fonte: elaborada pela autora.

Conhecer o próprio estilo de aprendizagem permite que possamos selecionar

diferentes métodos de ensino. Se, por exemplo, somos mais sensíveis do que

racionais, temos a tendência de nos afastarmos da experiência para melhor

compreendê-la. Nesse caso, atividades coletivas podem não ser as preferidas. Já se

somos mais concretos, gostamos de atuar nas atividades, não tanto de refletir a

respeito delas.

Dito isso, todos respondem e precisam do estímulo de todos os tipos de estilos de

aprendizagem de uma forma ou de outra.

O melhor jeito de aprender


Da base do sistema de liderança das empresas até o nível de desenvolvimento

gerencial, as organizações investem todos os anos milhões de reais em

capacitação in company ou vinculada a instituições de ensino superior, com o

objetivo de preparar sua força de trabalho para os diversos desafios do mercado.

Assim, seja qual for a área de trabalho em que se atua, há uma necessidade de

contínuo aprendizado, conhecido como “forever learning”.

Nos últimos anos, o grande desafio tem sido capturar a atenção das pessoas, uma

vez que o uso de imagem e vídeos em alta escala transformou a figura do professor

em um facilitador de diferentes conhecimentos, encriptados em diversas “mídias”.

Se antes o único meio de ensino era da fala de um professor para um aluno,

atualmente as metodologias ativas de aprendizagem provocam o aluno para um

maior envolvimento em seu processo de aprendizagem.

Existe uma nova geração de alunos que é nativa digital, ou seja, foi apresentada a

telas e à ampla opção de formas de entretenimento desde seus primeiros anos de

vida. Nesse sentido, embora continue sendo um mediador da informação para

torná-la conhecimento, o professor precisa incentivar o aluno a uma participação


ativa, ainda que seja sob a forma de reflexão em torno dos temas abordados, ou até,

se possível, incentivando-o a produzir e disseminar em classe o conteúdo

abordado e, portanto, ensinar.

Idealizada pelo psiquiatra americano William Glasser (1998), a pirâmide de

aprendizagem dá ampla ênfase às formas de aprendizagem ativa (ver Figura 2),

que dizem respeito a: discutir o que foi estudado (conversar, perguntar, repetir,

recordar, debater, nomear), praticar (escrever, interpretar, traduzir, comunicar,

catalogar) e ensinar (explicar, resumir, estruturar, ilustrar). Essas três formas

ativas de aprendizagem envolvem a percepção subjetiva do aluno, ou seja,

convidam às emoções, tanto pelo entusiasmo que geram como pela interpretação

que suscitam.

Figura 2 | Pirâmide de aprendizagem de William Glasser. Fonte: adaptada de


Franco, Trennenphol e Oliveira (2021).

O efeito Netflix na tomada de decisão

Você já ficou perdido na busca pelo filme ou série ideal para assistir? Já chegou ao

ponto de esgotar as opções disponíveis de entretenimento? Na Netflix existe a

opção “me surpreenda”, disponível para aqueles expectadores

realmente indecisos, que procura “zerar” o perfil existente e trazer novas


possibilidades. Mas ainda assim há aqueles que desligam a tela depois de muito

tempo “zapeando”, havendo desistido de escolher. Em seu discurso de formatura

em Harvard, o orador Pete Davis (2018) chamou esse fenômeno de dificuldade de

tomar decisões e se comprometer com uma única alternativa de “mantenha

minhas opções em aberto” e disse que é o típico estado mental que caracteriza

toda uma nova geração de trabalhadores.

A dificuldade de tomar decisões afeta diretamente na capacidade de aprender. Isso

porque seja qual for o tema que desperte nosso interesse, é

preciso comprometimento com o que estamos lendo, ouvindo ou escrevendo de

forma a produzir aquele sentimento de “a-há” que caracteriza a produção de

sentido e, por consequência, a aprendizagem. É preciso também paciência para

passar por trechos não tão interessantes, não tão envolventes, para que em algum

momento o conteúdo possa ser todo absorvido por nossos canais cognitivos.

Como aprender melhor

Com a mudança nos modelos de carreira, já a partir dos anos 1990, tornou-se

crucial que tenhamos compromisso com nossa aprendizagem, buscando cursos e

qualificações que possam fornecer novas competências ou aperfeiçoamento das

habilidades que já possuímos.


Mas o que pode facilitar nosso processo de aprendizagem? Como podemos

aprender melhor?

Algumas variáveis importantes para considerarmos são o tipo de curso certo, o

currículo dos professores, a solidez da instituição de ensino, a abordagem

metodológica. Mas talvez a variável mais importante não seja o curso em si e sim a

postura de quem busca, ou seja, a qualidade do aluno.

Diretor de Recursos Humanos de uma instituição financeira, Kehoe (2018) estudou

o comportamento de alunos de cursos on-line. Quatro hábitos que contribuem para

aprendermos novas habilidades:

1. Concentre-se em habilidades emergentes – no lugar de se inscrever no curso

mais famoso e badalado, é preciso ficar atento àqueles requisitos de trabalho que

estão evoluindo rapidamente.

Nos anos da pandemia, por exemplo, as habilidades ligadas à produção e edição de

vídeo passaram a ser extremamente valorizadas, não apenas por profissionais

liberais, mas também por organizações que precisaram gravar suas reuniões e

treinamentos e disponibilizar em rede.

A dica de Kehoe é ficar atento a ofertas de emprego recentes e mapear que tipo de

qualificação está surgindo ou conversar com líderes e perguntar que tipo de

habilidade eles consideram importante para tornar um candidato viável.

2. Conecte-se com seu curso – vivemos uma época de amplo crescimento da

aprendizagem on-line. A vantagem de assistir às aulas quando e onde for

conveniente, com um custo reduzido, torna essa opção muito atraente. O problema

é que as experiências assíncronas costumam ser solitárias, causando perda de

motivação e queda na aprendizagem. Nesse sentido, prefira formações que

permitem algum momento de troca síncrona. Caso isso não seja possível, defina

atividades de rotina para repassar os conteúdos ou estudar com olhar renovado o

que foi abordado.


3. Implemente o aprendizado imediatamente – aplicar os conhecimentos

aprendidos de forma imediata permite completar o ciclo de aprendizagem,

facilitando a memória e melhorando a absorção dos conhecimentos. O contrário

também ocorre: se deixamos por muito tempo um conteúdo sem uso, é altamente

provável que venhamos a esquecê-lo.

4. Defina objetivos claros – para manter o foco na aprendizagem, é necessário te

objetivos de médio e longo prazo – um novo emprego, uma promoção na carreira,

uma chance de fazer parte de uma grande equipe. Saber que o que aprendemos

pode contribuir com nossa carreira, melhora nosso envolvimento com o que é

ensinado.

Isso tudo dito, vamos aproveitar para favorecer o aprendizado de nossas aulas.

Responda as seguintes perguntas e reflita sobre sua forma de aprender:

• A que competências de mercado os temas abordados em nossas aulas

atendem?

• Que assunto abordado merece um segundo olhar em seus estudos pós-

aulas?

• Como é possível aplicar os conhecimentos adquiridos em sua rotina?

• A que objetivos de médio prazo ou de carreira essa disciplina corresponde?

• Videoaula: Aprendendo a aprender


• Meu vídeo não funciona

• Em nossa aula falamos sobre o ciclo de Kolb e como nossa razão e emoção

atuam enquanto absorvemos novos conhecimentos e praticamos novas

habilidades. Em seguida, vamos falar sobre as melhores formas de

aprender, conhecendo atividades que fazem parte de metodologias ativas

de aprendizagem. Por último, vamos compreender como o aluno pode ser

parte do processo, envolvendo-se com o que é ensinado e aplicando seus

novos saberes em sua carreira.


Treinamentos de Segurança
Meu vídeo não funciona

Uma indústria de transformação com elevados níveis de acidentes e situações de

risco identificadas.

Novos funcionários recém-contratados em período de experiência, que ainda se

expunham em demasia a situações de risco ou demonstraram desconhecimento

das normas de segurança da empresa.

Programa de integração conduzido pela área de RH:

• palestra de 45 minutos sobre segurança no trabalho, em que assistem um vídeo

com aproximadamente 20 minutos de duração sobre os procedimentos de

segurança genéricos,

• 20 minutos sobre as normas e procedimentos do Sistema de Segurança no

Trabalho,

• chefia responsável, que basicamente instrui sobre a utilização dos EPIs pertinentes

(equipamentos de proteção individuais) e sobre as sinalizações de segurança na

área.

Você seria capaz de propor uma reestruturação do programa de treinamento em

segurança, sugerindo pelo menos duas atividades a serem executadas em cada

etapa do ciclo (experiência concreta, observação reflexiva, conceitualização

abstrata e experimentação ativa) com base no ciclo de aprendizagem de KOLB?

Análise do programa atual

Programa de integração conduzido pela área de RH:

• palestra de 45 minutos sobre segurança no trabalho, em que assistem um vídeo

com aproximadamente 20 minutos de duração sobre os procedimentos de

segurança genéricos,
• 20 minutos sobre as normas e procedimentos do Sistema de Segurança no

Trabalho,

• chefia responsável, que basicamente instrui sobre a utilização dos EPIs pertinentes

(equipamentos de proteção individuais) e sobre as sinalizações de segurança na

área.

Possivel resposta...

Fonte: elaborada pelo autor.

Introdução
Meu vídeo não funciona

Já dizia Peter Drucker que comunicar-se é entender o que não está sendo dito.

Neste módulo, aprenderemos sobre indicadores comportamentais ou não verbais,

que nos permitem fazer a leitura das pessoas com quem interagimos. Falaremos

também da necessidade de legenda emocional em nossos diálogos, de forma a

tornar a comunicação mais efetiva, e que tipo de mensagem é enviada quando

estamos sob efeito de emoções como medo, ansiedade, tristeza e frustração.


Ao final da aula, a intenção é de que se possa praticar a observação dos indicadores

não verbais em nossos relacionamentos, ampliando nossa percepção emocional e

consciência do tipo de mensagem que estamos emitindo.

O que observar nas relações

Em 2009 eu iniciava processos de coaching de inteligência emocional com

executivos de alta performance em organizações brasileiras. Naquela época,

utilizava o teste MSCEIT (Mayer-Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test) para

mensurar o quociente emocional (QE) e, com base no diagnóstico, propunha ações

de desenvolvimento.

Esse executivo em questão – vamos chamá-lo de João – tinha baixíssima percepção

emocional no seu score de QE. Isso quer dizer que ele tinha dificuldade de ler

emoções, tanto em si mesmo como em outras pessoas. Iniciante que eu era, dei a

ele a tarefa de observar pessoas em um café e tentar perceber seus estados

emocionais. Com cuidado e distanciamento, tão somente para “testar” sua

habilidade de leitura emocional. O resultado foi catastrófico: na semana seguinte

ele me trouxe um relatório contendo quantas mesas havia no café, que tipo de café

era servido, como os garçons se organizavam – tudo que sua mente analítica e

organizada havia captado, menos a leitura emocional.

O que eu ainda não sabia é que justamente a dificuldade de percepção emocional

de João lhe impedia de captar as informações emocionais – essenciais para

conseguirmos ler as pessoas. Mas que informações são essas?


De acordo com Dimitrius (2009), existem categorias de indicadores não

verbais: aparência física, linguagem corporal e voz são os mais prementes, pois

já permitem uma leitura emocional, ainda que em breve interação. Primeiramente,

vamos falar brevemente sobre essa tríade e na sequência vamos aprofundar a

leitura não verbal, entrando nos demais indicadores:

1. Aparência física – a forma como uma pessoa se apresenta transmite a

informação que ela quer passar, mas também dados não intencionais.

Exemplo: alguém que esteja muito bem-vestido, mas com as unhas

totalmente ruídas pode indicar uma certa ansiedade ou tema de

preocupação. Essa é a “primeira impressão” que captamos de uma pessoa e

inclui características físicas, como postura e altura, mas também escolhas

afetivas, como estilo de roupa, uso de maquiagem e acessórios em geral. O

mais importante vai ser comparar essa impressão com os demais

indicadores emocionais.

2. Linguagem corporal – esse é o indicador que mais fornece informações

emocionais, pois traz comportamentos que em geral a pessoa não consegue

disfarçar: movimentos leves do corpo, maneirismos, gesticulação de mãos.

Por ele é possível captar o nível de energia de alguém (pessoas mais

motivadas tendem a movimentar-se mais), mas também é possível captar

emoções como medo, honestidade, nervosismo, alegria. Aqui já é

interessante fazer a comparação com a aparência física e ver se “combinam”

ou são incoerentes.

3. Voz – o mais importante nesse indicador não é tanto o que é dito,

mas como é dito, ou seja: se a voz sai alta ou baixa, aguda ou grave,

entrecortada ou contínua. O mais importante aqui é a intensidade com que

o traço aparece. Exemplo: um pequeno tremor na voz não necessariamente

indica nervosismo, especialmente se for pontual. Mais uma vez é


interessante comparar – voz, linguagem corporal e aparência – vendo

possíveis incongruências.

Outros indicadores e legenda


emocional digital

“Comunicação é entender o que não está sendo dito.”

Peter Drucker (apud MOYERS; FLOWERS, 1989, [s. p.])

Havendo captado a aparência física, linguagem do corpo e voz – fundamentais para

a leitura emocional – é possível, com o avanço de tempo da interação, captar outros

quatro indicadores não verbais: estilo de comunicação, conteúdo da comunicação,

ação e ambiente. Esses novos indicadores permitem que, mais do que uma breve

percepção de humor, possamos captar crenças pessoais, valores, experiências e

atributos da personalidade de uma pessoa. Vamos falar um pouco sobre cada um

deles:

1. Estilo de comunicação – aqui estão contidas diversas técnicas de

comunicação, como: deixar de responder, responder breve ou longamente,

responder com perguntas, pausar, interromper, divagar, mudar de assunto,

trazer ou tirar atenção de si mesmo. Muitas dessas ações são instintivas,

outras são manobras conscientes para dominar a conversa.


2. Conteúdo da comunicação – aquilo que é dito importa para se ler uma

pessoa e, especialmente, o que há de “embrulho” no conteúdo, aquele tipo

de ênfase que se dá a um assunto ou outro. Especialmente, deve-se procurar

por elementos como uso de gírias (aponta base étnica ou cultural), temas

repetidos, exageros e até presença ou não de se falar de outras pessoas

(fofoca).

3. Ação – a forma como uma pessoa se comporta com os outros também

fornece informações valiosas sobre seu comportamento, assim como o tipo

de atividade que ela executa. Por exemplo, pessoas que passam muito

tempo em posição de autoridade e controle como atividade profissional

tendem a levar para casa e para as interações sociais esse tipo de atitude.

Outras possíveis leituras a partir desse indicador: como alguém reage sob

pressão, como a pessoa chega na casa de um estranho, como interage com

crianças, etc.

4. Ambiente – esse indicador fornece o “pano de fundo” em que as interações

humanas acontecem, nos fornecendo contexto. Por exemplo, no espaço de

trabalho é possível observar comportamentos coletivos e até mesmo

subculturas. Assim é que a área de marketing tende a ser mais descontraída

do que a área financeira. Nesse sentido, o lugar em que as pessoas

interagem interfere diretamente no tipo de comunicação realizada.

Legendas emocionais no mundo digital

Nas últimas décadas, ampliamos muito a facilidade de comunicação e acesso a

outras pessoas. No início dos anos 2000 lembro-me de uma amiga executiva me

confidenciar em um aeroporto, enquanto aguardávamos um voo: “amiga, recebi

mais de 300 mensagens em meu Blackberry hoje”. Lembro de ter ficado

horrorizada. Naquela época o meio principal de comunicação era o e-mail. Hoje,

temos WhatsApp, Direct, Chat pelo Teams e, sim, e-mail. Trabalhamos na


redundância também: por exemplo, enviar um Whats dizendo que envio um e-mail.

Se somarmos a essas mensagens rápidas o arsenal de notificações de aplicativos de

redes sociais que recebemos em nosso celular, vemos que ganhamos em

quantidade na troca de informações e perdemos, muito, em qualidade.

Daí que se configura importante sabermos fazer a legenda emocional, a partir do

tom da mensagem e do uso de emojis ou interjeições mais amigáveis. Alguns

exemplos a considerar:

• E-mail – aqui o principal é como abrimos e como finalizamos a mensagem.

A intenção é ser breve, mas não taquigráfico. Um cordial “bom dia” e no

final “um abraço” (caso nos sintamos à vontade com o interlocutor) tiram o

ar tão formal que o e-mail ainda tem.

• Mensagens instantâneas – emojis demais trazem infantilidade ou

informalidade para a mensagem e emojis de menos trazem a sensação de

uma troca mais rígida e formal. Áudios merecem ser curtos e poucos,

geralmente para pontuar algo muito específico. Uso de figurinhas é liberado

em trocas com amigos ou familiares, cuidando para não exagerar no

deboche.

O que cada emoção nos diz


Em nossa busca por bem-estar contínuo e evitação de sentimentos negativos, por

vezes não conseguimos ver com clareza a realidade que se apresenta. Nossos

estados emocionais de base – medo, raiva e tristeza – fornecem um determinado

“filtro” para nossa leitura de mundo. Essas emoções e seus estados emocionais

decorrentes (como frustração, ansiedade ou culpa) podem dificultar que vejamos

com objetividade nosso próprio comportamento ou de outras pessoas. Assim,

tendemos a tomar decisões baseados em evitar o que é doloroso ou buscar o que é

agradável para nós no momento.

No entanto, compreender as razões de base para nossas emoções pode permitir

uma tomada de consciência e uma orientação para nosso comportamento, como já

vimos em nossas primeiras aulas. Assim é que “o coração tem motivos que a razão

desconhece”, como dizia Pascal. E nos beneficiamos muito em conhecer as bases

emocionais de nosso comportamento.

Por isso, vamos explorar aqui como a tríade de emoções negativas, medo, tristeza e

raiva, influencia nossa percepção da realidade.


• Medo – a força para evitarmos a perda, a dor ou a morte é o desejo mais

primitivo em todos nós, nosso motivador primário. Por isso, a tentativa de

puramente evitá-lo é infrutífera. Devemos, ao contrário, compreender qual

é exatamente a situação que tememos. Explorar cenários e possibilidades

que desejamos e investigar as possibilidades que aconteçam. A melhor arma

contra o medo é o conhecimento.

• Tristeza – Na leitura interpessoal, a emoção da tristeza acaba aparecendo

em comportamentos de carência e privação afetiva, uma vez que quando

estamos tristes acabamos interrompendo o fluxo de trocas e “nos isolando”

em nós mesmos. Quando estamos carentes, tendemos a “precisar” de

soluções ou respostas rápidas. Uma boa saída é ganhar tempo e verificar se

aquilo que tanto desejamos é mesmo necessário e urgente ou se só estamos

tentando preencher algum vazio interior.

• Raiva – a principal barreira para compreender a realidade que a raiva

oferece é a incapacidade de ouvir que ela provoca. Quando estamos nos

sentindo acuados, tendemos a só ver as coisas de nosso ponto de vista, nos

tornando incapazes de conhecer as razões de outras pessoas. Aqui a

estratégia de saída é buscar conhecer mais todos os elementos envolvidos.

Só assim conseguimos ter nosso melhor julgamento.

Havendo percebido os possíveis “filtros” à realidade que nossas emoções

provocam, podemos dar um passo atrás. É na figura de observadores atentos que

melhor conseguimos ler nós mesmos e outros. No entanto, é muito importante que

façamos esse movimento livres de preconceitos e pré-julgamentos, que tenhamos

clareza de que nossas experiências e nossos valores moldam nossa concepção da

realidade e que as pessoas têm também suas próprias visões. Elas não são nem

certas nem erradas, só são diferentes das nossas.


Pensando nisso tudo, procure colocar-se algumas vezes na posição de observador

da rotina que lhe cerca. Você vai perceber que algumas pessoas são mais “fáceis”

aos seus olhos, pois se parecem mais com você. Outras, no entanto, desafiam sua

capacidade de comunicação, pois trazem maneiras diferentes de concepção da

realidade ou simplesmente características que não lhe parecem fáceis de lidar.

Aproveite também para se avaliar e responder: que valores os seus comportamentos

revelam?

Videoaula: Do verbal para o não


verbal
Meu vídeo não funciona

Estudamos nesta aula os indicadores não verbais: pistas de que a observação

atenta pode nos fornecer sobre nosso comportamento e o das outras pessoas.

Entendemos ainda como o uso de legenda emocional é fundamental para a

melhora de nossa comunicação digital, que usar ou não usar emojis pode revelar

nossa intenção e o tom de nossas palavras. Encerramos falando sobre o filtro que

nossas emoções provocam em nossa leitura da realidade.

Introdução
Vivemos a cultura em que influenciar se tornou a profissão de muitas pessoas. Em

um mundo na internet regido pelos algoritmos de rede, aquele que ganha mais

cliques e likes tem a chance de chegar a mais pessoas.

Nesta aula, vamos falar sobre as bases da influência em nossos relacionamentos.

Qual o valor do elogio? Como devemos compor alianças?

Ao final vamos traçar as relações entre influência, autenticidade e poder, para que

possamos nos questionar de que forma o nosso comportamento modifica ou

amplia o comportamento de outras pessoas. A intenção da aula é contribuir para

que possamos tirar o máximo de nossas relações interpessoais.

Fazer amigos e influenciar pessoas

Um dos livros mais vendidos de todos os tempos no campo das relações humanas

chama-se Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie. O lançamento

da obra foi em 1937, no contexto de trabalho pós-depressão dos Estados Unidos. A

intenção do autor era tão somente ensinar comerciantes e administradores da

época a terem um melhor trato com as pessoas.


Adicionalmente, que eles pudessem expressar suas ideias com clareza eficiência e

equilíbrio nos seus contatos comerciais. Posteriormente, tornou-se um fenômeno

mundial de vendas, já tendo chegado a mais de 50 milhões de pessoas. Seus

conselhos são interessantes de resgatarmos aqui na disciplina, por apontarem

princípios básicos das interações humanas. Como a teoria de base, ancora-se no

comportamentalismo, ou do inglês, behaviorismo. Como veremos posteriormente,

esses princípios não dão conta de alguns desafios nos relacionamentos que os

tempos atuais oferecem e podem estar na contramão da influência obtida a partir

da autenticidade.

São nove os princípios de liderança de Carnegie (2012):

1. Comece com um elogio ou uma apreciação sincera.

2. Chame a atenção para os erros das pessoas de maneira indireta.

3. Fale sobre os seus erros antes de criticar os das outras pessoas.

4. Faça perguntas ao invés de dar ordens indiretas.

5. Permita que a pessoa salve seu próprio prestígio.

6. Elogie o menor e todo progresso, seja sincero na sua apreciação.

7. Proporcione à outra pessoa uma boa reputação para zelar.

8. Empregue o incentivo, torne o erro fácil de ser corrigido.

9. Faça a outra pessoa sentir-se feliz realizando aquilo que você sugere.

Como pode-se perceber, no centro dos princípios de Carnegie está que

devemos apreciar as pessoas, elogiar seu bom desempenho, evitar criticá-las

abertamente, incentivá-las a repetirem os comportamentos delas desejados. A

teoria de base para esse ensinamento advém do psicólogo B. F. Skinner, que já

pontuava nos anos 1930 que qualquer animal, quando recompensado por seu

“bom comportamento”, aprenderá com mais facilidade e rapidez do que se for

castigado por mau comportamento.


Em outras palavras, nós seres humanos tendemos a nos comportar de forma a

evitar o sofrimento ou buscar o prazer, sendo ambas forças que modelam nosso

comportamento. Nesse sentido, a crítica, dura e contundente, provoca em nós

sentimentos negativos de autodepreciação e culpa (sofrimento), funcionando como

um reforço negativo. Já o elogio, por promover sentimentos agradáveis de alegria,

satisfação e felicidade, funciona como um reforço positivo.

Não há nada de errado em elogiar as pessoas. Todos gostam de ser recompensados

pelo bom cumprimento de uma tarefa. Porém existe o contexto ideal para cada

elogio. Há, por exemplo, o entendimento de que “é melhor elogiar no coletivo e

criticar no privado”. Nem sempre isso é verdade. Por exemplo, se uma pessoa é

elogiada coletivamente, havendo também participação das outras na entrega que é

mencionada no elogio, isso pode ser considerado injustiça e gerar intrigas em uma

equipe de trabalho. Ainda, se um elogio vem logo após uma crítica, ainda que ela

seja sutil, ambos podem sair esvaziados, ficando o interlocutor confuso sobre seu

comportamento. Também importa de quem vem o elogio e, acima de tudo, se é

sincero. Ao contrário, uma crítica bem contextualizada e com intenção construtiva

torna-se uma semente de aprendizado. Ou seja, mais importante do que se diz

é como se diz e com que intenção.

Formando alianças
As relações profissionais exercem impacto em diferentes frentes, desde a

disposição para exercer nossas habilidades até a facilidade de acesso a

informações relevantes. No contexto de trabalho, formar alianças permite que se

encontre uma identidade coletiva e que se estabeleça um bom convívio nas

interações. De acordo com Dillon (2018, p. 166), formar uma aliança é “tomar a

decisão de encontrar e cultivar relações profissionais com pessoas que você

respeita, de quem gosta e com quem deseja trabalhar”. Existem, porém, linhas

tênues para separar a prática de formação de alianças saudáveis – que permite que

as pessoas se desenvolvam e atuem em um bom clima de trabalho – das formações

tóxicas, como as que dividem as pessoas em “panelinhas”, o que pode ser bastante

nocivo para as trocas entre equipes.

Mas para que servem as alianças?

Alianças estratégicas podem suprir necessidades específicas. Por exemplo, você tem

alta habilidade e desejo de incorporar grupos de consultoria interna da empresa,

mas sua área não se envolve em programas de melhoria. Talvez então possa valer a

pena buscar alianças com pessoas envolvidas em projetos de consultoria, de forma


a entender melhor no que trabalham e como trabalham. Isso permitiria entregar o

seu melhor para uma área que também precisa de você.

Outras vezes, alianças surgem como uma troca de favores, ainda que não de forma

explícita. Por exemplo, durante uma reunião você apoia o posicionamento de um

colega diante de uma determinada atividade. Posteriormente, esse mesmo colega

apoia sua entrada num projeto de melhoria, por entender que suas visões são

parecidas. Mais uma vez aqui pode haver uma relação ganha-ganha, em que todos

podem sair fortalecidos a partir de uma interação.

Para formarmos boas alianças, é necessário ter clareza de que pessoas queremos

nos vincular, de que forma podemos contribuir com elas e elas conosco. Ser um

bom aliado é ser útil para as pessoas, contribuir para seu desenvolvimento,

participar com entusiasmo de atividades que o outro organize.

Assim como as amizades, as alianças precisam de cuidados para permanecerem

saudáveis. O contato regular ajuda a manter a sintonia. A comunicação precisa ser

assertiva, por isso a crítica construtiva, assim como a desculpa sincera, são

movimentos que podem ajudar a estreitar laços e promover confiança.

Em alguns momentos, pode ser necessário se afastar, especialmente quando o

aliado começa a agir de maneiras que vão em direção oposta a seus valores

pessoais. Isso porque o mau comportamento de um aliado pode se refletir em

quem está ao seu lado.

Alianças saudáveis são aquelas que permanecem enquanto as diferentes partes

podem contribuir uma com a outra. E tudo bem serem podadas ou renovadas, uma

vez que o que torna o laço forte é a utilidade que tem para o bem-estar coletivo.

Influência, autenticidade e poder


“Ser autêntico e ter sabedoria são dinâmicas humanas intimamente relacionadas,

que se reforçam e constroem mutuamente.”

Kets de Vries (2012, p. 266)

Sou da época em que se pedia para pessoas estranhas para que batessem uma foto.

Nos víamos de longe, nunca de tão de perto, nem com tantos filtros. Hoje

circulamos em redes sociais recheadas de selfies, danças de TikTok e imagens de

autopromoção. Movimentos que antes pareceriam narcisismo hoje são

considerados parte do jogo, parte de como as pessoas querem ser vistas e se

deixam ver. Nessa busca por sucesso é fácil se iludir ou perder o rumo, faltar com a

verdade e a sinceridade e se decepcionar.

Na contramão das selfies, autenticidade implica ser verdadeiro consigo mesmo e as

demais pessoas, viver de forma integrada aos próprios valores e princípios,

encontrar significado no que se faz. Uma pessoa autêntica tem a disposição de se

aceitar como é e não tenta se fazer passar por outra coisa ou outra pessoa. Tem a

coragem de dizer como são as coisas, consegue encarar a verdade e fazer a coisa
certa porque isso é correto. Consegue ver seus pontos fortes e os seus pontos

fracos, sendo paciente com as próprias falhas (DE VRIES, 2012).

A autenticidade aumenta a coragem de sermos diferentes e seguirmos o que

nossos corações e mentes pedem, não o que os outros querem. Por isso, os maiores

testes de autenticidade surgem quando nossa opinião ou nosso jeito de ser não

combina com o da maioria. Ser autêntico implica fazer coisas que façam

sentido para nós e que nos tornem úteis para a sociedade.

Disso decorre a relação entre a autenticidade e a influência: uma pessoa

autêntica torna-se influente porque tem clareza do que prefere fazer e como fazer.

No mundo das incertezas e da validação de comportamento a partir do olhar do

outro torna-se inspirador ver uma pessoa “com luz própria”, que não busca

dissuadir olhares, e sim aceita-se como é. A exemplo disso, voltando-se à analogia

das redes sociais, tem-se o movimento de “body positive”, em que pessoas postam

fotos reais de seus corpos e produzem simpatia pela veracidade que buscam

divulgar.

Mas qual a relação entre influência e poder?

Poder é a capacidade de influenciar o comportamento de outras pessoas para

conseguir o que se deseja. Em nossas vidas, o poder traz consequências negativas

ou positivas, a depender da maneira como essa colaboração do outro é obtida.

Entre as consequências negativas podemos apontar a corrupção, a autocracia, o

abuso moral. Quando aplicado com inteligência social e positivamente, o poder

pode produzir alinhamento, senso de identidade e bem-estar entre as pessoas.

De acordo com especialistas em comportamento organizacional, existem seis

fontes de poder (McSHANE; VON GLINOW, 2014). Em cada situação podemos ter

uma delas ou todas, ficando assim mais influentes:

• Poder legítimo – que vem da posição hierárquica exercida em uma

organização.
• Poder de recompensa – habilidade de fornecer recompensas, como

pagamentos ou posições de interesse dos outros.

• Poder coercitivo – habilidade de retirar punições ou exercê-las.

• Poder de especialista – aquele que vem do conhecimento ou de habilidade

específica.

• Poder de informação – similar ao de especialista, porém diz respeito ao

acesso à informação.

• Poder por referência – daquele que tem características pessoais que

outras pessoas desejam.

Mas como podemos saber se exercemos ou não a influência, ou seja, se somos

poderosos? A partir da reflexão sobre nossas próprias experiências e como elas

afetam nossos relacionamentos. Ou seja, se conseguimos, por nossa ação e forma

de ser influenciar as ações de outras pessoas.

Videoaula: Influência positiva


Meu vídeo não funciona

Você já parou para pensar que a influência pode ser construída? Nesta aula, vamos

falar sobre o poder do elogio e de como pode ir na contramão da autenticidade.

Falamos do papel das alianças em nosso desenvolvimento de carreira e

encerramos compreendendo as fontes de poder, provocando a reflexão sobre

como nosso comportamento afeta as outras pessoas.

Introdução
Ampliamos consideravelmente a facilidade de comunicação a partir de novas

mídias e redes sociais. O que podemos observar, no entanto, é que muito do que é

dito ainda é em tom de conflito e confronto.

Nossos diálogos e comentários ainda são bastante violentos. Nesta aula, vamos

compreender como é possível estabelecer a comunicação não violenta, que tem por

base a empatia e a habilidade de combinar o processo observação-sentimento-

necessidade-pedido nos diálogos que são realizados.

Ao final da disciplina, a intenção é que você tenha condições de fazer seus próprios

pedidos, sabendo ler seus sentimentos e suas necessidades e também de outras

pessoas.

Bons estudos!

Bases da comunicação não violenta


(CNV): conhecendo os próprios
valores
“A violência é a expressão de uma frustração impossível de ser manifesta em

palavras.” D’Asembourg (2018, p. 17)

Formas violentas de comunicação fazem parte de nosso inconsciente coletivo. Na

base estão as emoções de raiva e medo, atuando em nós por meio das palavras. A

violência nas relações surge como efeito da ausência de consciência e surge não

para criar, estimular ou proteger nossas ideias ou bens, e sim para exercer pressão

sobre outras pessoas. Na maior parte das vezes, a violência é sutil, não chegando a

agressões físicas ou verbais, e sim imposta como uma pressão no campo afetivo e

psicológico. Ao contrário, quando somos mais conscientes, conseguimos exprimir

nossa intenção e vontade sem agredir a outra pessoa, nos comunicando de forma

empática e assertiva.

O processo de comunicação não violenta foi proposto pelo psicólogo Marshall

Rosenberg nos anos 1960, em sintonia com o movimento dos direitos civis

americano. Durante esse período, Rosenberg atuou com arbitragem e forneceu

treinamento em sua recém-criada técnica comunicativa CNV (comunicação não

violenta). Muitos anos se passaram e a tecnologia revolucionou nossa


comunicação. Basta, no entanto, uma zapeada nas redes sociais para que

encontremos comentários raivosos e posicionamentos que isolam as pessoas em

seus pontos de vista. Também em organizações a comunicação tornou-se mais ágil

e ganhou novas mídias, mas seguem as trocas ácidas e os comentários belicosos.

Atualmente, a CNV é utilizada na resolução de conflitos em mais de 65 países do

globo, sendo aplicada para o desenvolvimento de sistemas sociais, na justiça

restaurativa, nas organizações e na área de educação. Em suas diversas aplicações,

permanece tendo por base a consideração do bem comum e uma atitude baseada

em empatia, por isso também chamada de comunicação empática ou comunicação

compassiva. Para facilitar a compreensão em nossa aula, vamos nos referir a ela

simplesmente como CNV.

De acordo com D’Ansembourg (2018), a CNV nos estimula a parar e refletir sempre

que reagimos fortemente a alguma coisa ou situação. O processo da CNV é

composto por quatro fases: observação da situação, leitura

dos sentimentos envolvidos, compreensão da necessidade de base e formulação

de um pedido.

Mas por que temos dificuldade de expressar nossas necessidades? Uma explicação

possível é de que somos seres sociais. Crescemos nos acostumando a perceber a

reação das outras pessoas e buscando corresponder ou nos antepor às

necessidades delas. Por isso, muitas vezes, “partimos do princípio” de que estamos

atendendo a necessidade de alguém quando, na verdade, não chegamos nem

mesmo a compreendê-la. Podemos, aliás, estar simplesmente projetando.

Julgamentos e rótulos

Julgamos os comportamentos de outras pessoas o tempo todo. Vemos passar

aquele colega tatuado e imaginamos que sua vida inteira é muito descolada. Não

sabemos nada a respeito da vida dessa pessoa e nem imaginamos que não é um

cara “de Humanas”, mas sim um engenheiro de qualidade. Construímos nosso


mundo a partir do pouco que vemos do outro e, assim, “assumimos” algumas

verdades que acabam por atalhar nossas interações.

O primeiro componente ou fase da CNV pede para que observemos a

realidade de nossa troca tal como ela aparece, livres de julgamentos e

preconcepções, ou seja, observar sem avaliar. Abrindo-nos ao que está acontecendo

e conhecendo nossos próprios valores e crenças, podemos abrir espaço para

chegar às nossas emoções e necessidades pessoais.

Percebendo emoções e necessidades

No segundo momento da comunicação empática, passamos a ficar mais atentos a

nossos próprios sentimentos e aos sentimentos do outro. Deixamos de jogar a

responsabilidade do que sentimos para as pessoas (“você me fez sentir raiva de...”)

para colocar a responsabilidade em nós mesmos: “estou com raiva porque meu

valor de ... foi violado”.

Mas o que faz com que nossos sentimentos sejam muitas vezes estranhos a nós

mesmos? Em algumas profissões – como médicos, engenheiros e militares – a

expressão dos sentimentos é desencorajada (ROSENBERG, 2006). Falar de si pode


ser considerado algo egocêntrico, não profissional ou uma expressão de carência.

Porém, o primeiro contato a ser feito com os sentimentos é ainda no âmbito

intrapessoal, ou seja, do indivíduo consigo mesmo. Isso porque, ainda que nos

últimos anos estejamos mais flexíveis nas organizações para conversar sobre os

sentimentos, são poucas as oportunidades em que acontecem.

Em minha experiência como facilitadora de inteligência emocional em

treinamentos executivos posso testemunhar: é impressionante o efeito integrador

e de alívio que é poder falar abertamente. O acolhimento afetivo fornece, já no

curto prazo, uma ampliação do bem-estar no trabalho e a promoção de sentido,

que é nutridora das relações no longo prazo.

Os benefícios de se enriquecer o vocabulário emocional aparecem nos

relacionamentos pessoais e no mundo profissional. Expressar a

nossa vulnerabilidade pode ajudar a ampliar o espaço de confiança nas conversas

e trocas e resolver ou diminuir conflitos (BROWN, 2013). Especificamente

conhecer nossos sentimentos permite que possamos saber quais necessidades

estão ou não sendo atendidas, pois são por elas que nossas emoções são ativadas.

Chega-se então ao terceiro momento da CNV: a compreensão de nossas

necessidades. Fundamental é esse momento de acolher o fato de que temos desejos

intrínsecos, necessidades relacionadas às nossas questões fisiológicas,

necessidades ligadas à segurança, aos relacionamentos, de estima e de realização

pessoal ou crescimento. Nesse sentido, é interessante trazermos a Teoria da

Hierarquia de Necessidades (Figura 1), proposta por Maslow nos anos 1980 e

amplamente difundida no âmbito acadêmico.


Figura 1 | Teoria da Hierarquia de Necessidades. Fonte: G4 Educação (2020, [s.
p.]).

Além das categorias de necessidades propostas por Maslow, existem outras,

ligadas aos nossos valores: autonomia, integridade, expressão pessoal e clareza

estão entre elas. Conhecer as próprias necessidades permite que não sejamos

dependentes da opinião dos outros. Paramos de fazer perguntas do tipo “O que

você acha?”, “O que quer fazer?” e “Você acha que isso é o melhor?” e passamos a

ter um norteador interno. Essa direção nos traz calma e tira de nós a intenção de

controlar as outras pessoas ou a sina de sermos por elas controlados.

Identificar nossas necessidades provoca alívio e bem-estar, ainda que não

tenhamos condições imediatas de satisfazê-las. No entanto, podem surgir

divergências quando partimos do princípio de que as outras pessoas,

especialmente as mais próximas, têm a obrigação de conhecer e até satisfazer as

nossas necessidades. Por isso é fundamental que saibamos formular pedidos.

Aprendendo a fazer pedidos e praticar


a CNV
Falamos até aqui sobre o valor de considerarmos nossas emoções e conhecermos

nossas necessidades. Esses movimentos são fundamentais para que possamos

chegar ao último componente da CNV: fazer pedidos.

Muitas vezes, confundimos pedidos com necessidades, e vice-versa. Por isso, é

importante separarmos sentimento (S), necessidade (N) e pedido (P). Vamos a um

exemplo bem trivial. Ana chega em casa do trabalho e diz para o marido Cláudio

que está com vontade de comer uma pizza. O marido confunde pedido com

necessidade e diz que não quer pizza novamente, pois é cara, demora para chegar e

depois não lhe desce bem. Eles começam a discutir, já que Ana diz que Cláudio

nunca concorda e Cláudio diz que Ana só quer comer coisas gordurosas, o que não

lhe cai bem de noite.

Se Ana praticasse a CNV, poderia explicar-se melhor: “Querido, estou me sentindo

supercansada e faminta (S). Não estou com vontade de fazer nada, nem de cozinhar

(N). O que você acha de pedirmos algo para comer, como uma pizza (P)?”. Uma vez

tendo colocado pizza como uma das possibilidades de atender sua necessidade,

Ana poderia se abrir às ideias de Cláudio e, quem sabe, chegassem juntos à uma
opção rápida e saudável, como uma salada. Como a discussão aconteceu, não houve

a possibilidade de Cláudio saber que Ana adora, sim, uma salada. Não houve espaço

para que ambos pudessem compartilhar seus sentimentos e suas necessidades.

Praticando a CNV

Havendo compreendido os quatro componentes da CNV de observar (O), sentir (S),

perceber a necessidade (N) e fazer pedidos (P), é importante aplicar todos os

componentes ao mesmo tempo e, para isso, é fundamental recebermos a realidade

do outro com empatia.

A empatia permite que se faça uma compreensão respeitosa do que as outras

pessoas estão vivendo ou sentindo e para acontecer faz uso de todos os nossos

sentidos. Só conseguimos ser empáticos quando esvaziamos a nossa mente de

ideias preconcebidas. Quando empáticos, preferimos perguntar e ouvir, em vez

de falar. O hábito da pergunta amplia nosso espaço na interação com o outro e a

escuta favorece a abertura a falar de sentimentos.

Um outro cuidado para favorecer a empatia é evitar pensar demais já que o

excesso de trabalho cognitivo atrapalha a troca afetiva, uma vez que ficamos

tentando encontrar causas e efeitos na fala do outro e perdemos sinais

importantes de como a pessoa está se sentindo. Dois bons sinais de que estamos de

fato praticando um diálogo empático: (1) não sabemos o que vamos dizer a seguir

e precisamos da fala do outro para construir nosso posicionamento e (2) na

linguagem não verbal do outro, a partir por exemplo do tom de voz e movimentos

do corpo, é possível perceber sinais de calma e bem-estar. A conversa segue fácil e

de forma confortável.

Com base no que tratamos em aula, procure formular pedidos reconhecendo,

assim como no exemplo de Ana e Cláudio, quais são os sentimentos envolvidos (S),

que necessidades precisam ser atendidas (N) e o que efetivamente vai ser

solicitado em forma de pedido (P).


Videoaula: Tornando a comunicação
empática e assertiva
Meu vídeo não funciona

Você já reparou como ainda temos diálogos violentos em nossas interações

diárias? Às vezes o que parece opinião chega recheado de julgamento e

preconcepção da realidade. Nesta aula, aprendemos sobre os princípios da

comunicação não violenta, também conhecida como comunicação empática, em

que podemos acolher nossos sentimentos e expressar nossas necessidades de

maneira assertiva.

Introdução
Meu vídeo não funciona

Somos seres sociais. Construímos nossa realidade, nossos pensamentos e

sentimentos a partir da interação com outras pessoas. Especialmente aquelas com

quem mais convivemos são as responsáveis por muito do que experimentamos em

nosso mundo interior. Na contrapartida, nós também influenciamos todos aqueles

com os quais convivemos.

Nesta aula, falaremos de contágio emocional e de relações tóxicas ou salutares.

Abordaremos as diferentes dimensões da inteligência social e o conceito de

liderança ressonante.

Para finalizar, faremos reflexões para que possamos produzir ressonância e

melhor gestão de nossos relacionamentos. A intenção desta aula é contribuir para

que possamos perceber o impacto de nossas emoções em nossas relações

interpessoais e o valor da empatia na influência positiva de outras pessoas.

As bases do contágio emocional


Os primeiros anos de nosso milênio trouxeram para a pesquisa científica um

campo emergente: a neurociência social. Estudos recentes revelam o que acontece

no cérebro humano enquanto as pessoas interagem. O que se descobriu é a força

da empatia. Quando entramos em contato com os sentimentos de outras pessoas e

compreendemos seus motivos, temos nossa química cerebral afetada, assim como

afetamos o outro. Não se trata apenas de dois cérebros reagindo

independentemente, mas, ao contrário, dois cérebros que funcionam como um

único sistema (GOLEMAN; BOYATZIS, 2008).

A compreensão desses poderosos circuitos sociais do cérebro permitiu que se

ampliasse a nossa teoria de inteligência emocional (IE) – anteriormente

fundamentada em teorias de psicologia individual ou intrapessoal –,

compreendendo-se agora que existe uma vasta zona interpessoal de ação da IE.

Inteligência social é então definida como um conjunto de competências

interpessoais construídas em circuitos neurais específicos (e sistemas endócrinos

relacionados) que inspiram outras pessoas a serem eficazes (GOLEMAN;

BOYATZIS, 2008).

As interações que temos com as pessoas atuam como reguladoras de nossas

emoções, acionadas pelo sistema límbico de nosso cérebro. Quanto mais forte
nossa ligação emocional com alguém, maior é a força com que os cérebros se

influenciam. Por isso, nossas trocas mais potentes ocorrem com pessoas que

passamos mais tempo e aquelas que mais importam para nós, ou seja, mais vezes

são acessadas em nossos sentimentos e pensamentos (GOLEMAN, 2019).

Nossos sentimentos têm consequências biológicas de longo alcance, sendo

espalhados em nosso corpo por meio da ação de neurotransmissores (acetilcolina,

noradrenalina, serotonina, dopamina, ocitocina, etc.), que regulam os sistemas

biológicos, do coração às células do sistema imunológico. Por isso, de acordo com

Goleman (2019), nossos relacionamentos moldam nossa experiência e nossa

biologia.

O mais interessante é que, além de influenciar nosso corpo e nossas interpretações

da realidade, nossas interações podem também influenciar diretamente o que

estamos sentindo. Esse fenômeno é conhecido como contágio emocional.

Quando pessoas despejam sobre nós seus sentimentos tóxicos – explodindo de

raiva ou fazendo ameaças, demonstrando repulsa ou desprezo – ativam em nós

circuitos que provocam essas mesmas emoções aflitivas. (GOLEMAN, 2019, p. 23)

Quando as emoções trocadas são negativas, há muita força no contágio, uma vez

que somos programados evolutivamente para captar tudo que possa nos ferir ou

nos causar perda. Nossa amígdala cerebral está sempre vigilante, por isso é mais

fácil se contagiar com as emoções negativas.

Mas o contágio emocional pode também ser positivo. E eis que nos vemos

gargalhando após vermos outra pessoa gargalhar ou quem sabe fiquemos felizes

tão somente por ver uma criança sorrir. O fato é que participamos o tempo todo de

uma espécie de economia emocional, em que são feitas trocas entre as pessoas a

partir da forma como se sentem. Tudo isso ocorre de forma subconsciente, o que

faz com que seja muito importante termos consciência de que tipo de mensagem
não verbal estamos emitindo, a partir da expressão de nossos sentimentos e o que

estamos conseguindo captar.

Relações ressonantes e salutares

“É por observação que no futuro eles não vão se lembrar do que você disse, eles não

vão se lembrar do que você fez, mas vão se lembrar de como você os fez se sentirem.”

Maya Angelou (apud DOUGLAS, 2019, p. 67)

A inteligência social pode ser compreendida como o conjunto de habilidades

socioemocionais que utilizamos na interação com outras pessoas. No modelo de

Goleman e Boyatzis (2016), mencionado em nossa Unidade 1, a inteligência social

diz respeito às dimensões de empatia e gestões de relacionamentos. Já Albrecht

(2006) entende que são cinco as dimensões da inteligência social:

1. Consciência situacional – radar social ou habilidade de ler situações e

interpretar comportamentos de outras pessoas, assim como suas possíveis

intenções, estados emocionais e propensão à interação.

2. Presença – incorpora padrões verbais e não verbais, como aparência,

postura, qualidade da voz e movimentos do corpo.

3. Autenticidade – o quanto somos percebidos como honestos, abertos, éticos

e confiáveis.
4. Clareza – nossa habilidade de explicar, esclarecer ideias, transmitir dados,

articular visores e cursos de ação de forma a conquistar a cooperação

alheia.

5. Empatia – sentimento compartilhado de duas pessoas que se vinculam e

interagem de forma a cooperarem positivamente.

No modelo de Albrecht, a inteligência social tem um significado análogo à

inteligência intrapessoal de Gardner (2009), o que você já deve ter estudado. Por

isso, sua definição de inteligência social é “habilidade de interagir bem com outros,

fazendo com que cooperem com você” (ALBRECHT, 2008, p. 23). Ao mapear os

diferentes comportamentos para construir seu modelo, Albrecht (2006) percebeu

que pessoas com baixa inteligência social tendem a ter atitudes tóxicas, que

contribuem para alienação, conflito e animosidade, enquanto pessoas com alta

inteligência social conduzem os outros à empatia, compreensão e cooperação,

tendo assim uma atitude salutar no comportamento de outros. As atitudes

salutares fazem com que as pessoas se sintam valorizadas, capazes, amadas,

respeitadas e apreciadas. Por isso, pessoas com alta inteligência social tornam-se

magnéticas para as outras, afinal, todos apreciamos a interação com pessoas que

fazem com que nos sintamos bem.

O conceito de atitudes salutares assemelha-se à ideia de liderança ressonante, de

Boyatzis e McKee (2006). A analogia ao conceito de ressonância vem da física:

reforço ou prolongação do som a partir da reflexão ou sincronicidade de vibração.

Da mesma forma, o líder ressonante promove conexão emocional, “sincronia”.

Nesse caso, a partir da relação líder-liderados, a mensagem original “ressoa”,

reverberando para outros níveis da organização, de forma construtiva e positiva.

Atuando com escuta ativa e atitude vibrante, os líderes ressonantes são aqueles

que conseguem tirar o melhor das pessoas, promovendo nelas uma visão

compartilhada e inspirando sentimentos de confiança e esperança no futuro. Na


contrapartida, quando interagem com líderes ressonantes, as pessoas sentem-se

apreciadas, contribuindo positivamente para os grupos em que atuam.

Aprendendo a perceber contextos

Até aqui entendemos que nossas interações moldam nossa forma de ver e

experimentar o mundo. Mas o contrário será verdade? Será que um indivíduo

consegue modificar seus relacionamentos? Ou pelo menos melhorá-los? A resposta

é sim. Mas vamos por partes.

Um contexto é feito de pequenas unidades. Paradoxalmente, segundo Carl Rogers

(2017), nós como indivíduos não mudamos ninguém, mas, quando nós mudamos,

podemos mudar o outro também. Ou seja, somos indivíduos em relacionamentos

que se formam dentro de grupos, que se formam dentro de organizações, que se

formam dentro de comunidades. Vivemos em um sistema social complexo, porém

fundamentalmente interdependente. E cada nível do sistema social influencia o

comportamento do indivíduo. Assim, a ressonância não se constrói a partir da ação

de cada pessoa. Afinal, nossa realidade emocional é compartilhada o tempo todo.


Então, é justo perguntar: como podemos promover influência positiva ou

ressonância em nossos relacionamentos? De acordo com Boyatzis e McKee (2006),

o lugar para se começar é exatamente na menor unidade, ou seja, em si mesmo.

Para isso, precisamos ter clareza de quem somos – nossas forças e fraquezas – e

quem desejamos ser, nosso eu ideal. Raramente temos clareza de para onde

estamos indo e por que, mas quando atingimos esse lugar, conquistamos nossa

integridade pessoal, algo que o psicólogo Carl Rogers (2017) entendia como

Congruência. Quando congruentes, temos os eu real e eu ideal alinhados e estamos

totalmente conectados à nossa experiência, não desejando ser nada diferente do

que somos. E se você não se sente assim tão integrado, não se preocupe. A maioria

de nós está nessa busca e o trabalho de crescimento pessoal serve para que

possamos promover ressonância enquanto aprendemos sobre nós mesmos e

nossos relacionamentos.

Para melhor compreensão dos conceitos de inteligência social, vale agora fazer um

exercício em três etapas:

1. Conheça suas aspirações pessoais – a forma como nos conectamos com

nossos sonhos diz muito sobre nós mesmos. Assim, precisamos ter clareza

de onde queremos chegar e perceber como nossas aspirações se encaixam

nas intenções das pessoas de nosso convívio e grupos de trabalho.

2. Analise a própria liderança – uma outra observação interessante de ser

feita no caso de você ocupar alguma posição de liderança é: como você

lidera pessoas? Gosta de desenvolver novas habilidades em seus

liderados? E caso ainda não atue como líder, vale perguntar sobre algumas

outras habilidades da liderança: como você atua em conflitos? Você é um

bom colega de trabalho, gosta de compartilhar ideias? Consegue obter o

melhor das pessoas? Esse tipo de pergunta permite que possamos ser
honestos a respeito de nossas habilidades interpessoais, reconhecendo

pontos fortes e oportunidades de melhoria.

3. Peça feedback – havendo investigado suas aspirações e suas habilidades

de liderança, peça feedback sobre a forma como se relaciona: você é um

bom ouvinte? As pessoas costumam se sentir bem após uma interação com

você?

De posse dos elementos dessa reflexão elabore pontos a melhorar, descobertas

interessantes que fez sobre si mesmo e temas sobre os quais gostaria de continuar

aprendendo.

Videoaula: Inteligência social


Meu vídeo não funciona

Os estudos de inteligência social trouxeram novas descobertas sobre o valor das

emoções que compartilhamos. Somos todos influenciáveis coletivamente, ou seja,

construímos nossa realidade a partir do tipo de interação que temos. Nesta aula,

falamos sobre contágio emocional, ressonância, atitudes tóxicas ou nutridoras e

dimensões da inteligência social. Finalizamos com algumas reflexões que permitem

que possamos influenciar os outros positivamente, a partir da pessoa mais

importante para nossos relacionamentos: nós mesmos.

Empresa de software
Meu vídeo não funciona

• O gerente de uma equipe de projetos de softwares está tendo muitas

dificuldades para manter a motivação e o engajamento dos membros de sua

equipe.

• Grupo de aproximadamente 30 pessoas, de diferentes experiências e

especialidades de linguagem, que precisa interagir em pequenos grupos

para fazer frente às entregas.


• 6 líderes de projeto coordenam o trabalho dos demais funcionários.

• Grupo tem trabalhado de forma remota já há dois anos.

• Aproximadamente metade da equipe atual já foi contratada nessa

modalidade, isso é, nunca chegaram a se conhecer pessoalmente.

• Integrantes de diferentes cidades e até mesmo outros Estados.

• Interações online são de baixa qualidade interacional e majoritariamente

voltadas a cobranças sobre o andamento dos projetos ou soluções de

problemas e reclamações de clientes e usuários.

• O líder promoveu recentemente um treinamento online sobre inteligência

social e emocional, mas os resultados não foram os esperados.

• O treinamento acabou gerando um clima de cobrança e acusações, mesmo

que na forma de “brincadeiras”, principalmente por parte dos líderes de

projeto que acusam seus pares e alguns funcionários de não apresentam

uma postura emocionalmente inteligente.

Considerando os conceitos aprendidos na Unidade, sugira estratégias que o líder

poderia adotar para promover a formação de um espírito de equipe entre os

membros do grupo.

Descreva pelo menos duas linhas de ação possíveis, justificando-as com base nos

conhecimentos aprendidos.

Exemplos de sugestões seriam:

a )Aplicar os conceitos de CNV diretamente com os líderes de projeto, em reuniões

individuais, buscando aplicar as fases de observar suas dificuldades no

relacionamento com a gerência, pares e liderados (O), sentir os efeitos nos

relacionamentos (S), perceber a necessidade associada a uma postura voltada à

formação do espírito de equipe (N), e fazer pedidos específicas a cada líder com

base nas fases anteriores (P).


b) Com o grande grupo e também em grupos menores de projetos, promover

momentos de interação positiva, fora da rotina atual de cobranças de prazos e

solução de problemas, de forma a oportunizar contágios e influências positivas e

formação de uma consciência de grupo.

Introdução
Meu vídeo não funciona

O movimento da psicologia humanista trouxe uma nova visão de ser humano e

permitiu que considerássemos o acesso a nossos sentimentos como parte inerente

à nossa jornada em direção à autorrealização e ao eu ideal.

Nesse contexto, nossos valores passam a ser parte preponderante de nossa

experiência, pois explicam as bases de nosso comportamento.

Nesta aula, percorreremos alguns conceitos fundamentais trazidos por Abraham

Maslow, Carl Rogers e outros autores alinhados às suas premissas. Na sequência,

falaremos sobre autorrealização, postulados do humanismo e congruência,

percorrendo conceitos de base para que possamos trabalhar a autogestão,

reconhecendo habilidades emocionais necessárias ao desenvolvimento pessoal.

---

Assimile

Toda mudança de comportamento parte de uma tomada de consciência. Para

chegarmos aos nossos objetivos pessoais, é necessário que tenhamos clareza de

onde queremos chegar e de que realidade temos. A trajetória rumo aos nossos

objetivos fica mais fácil quando encaramos a vida de forma positiva, ancorando-

nos em nossas forças, valores e virtudes e conectando-nos em relacionamentos

saudáveis.

Uma psicologia para o pleno potencial


humano
No final dos anos 1960, emergia um movimento psicológico, capitaneado pelos

psicólogos Abraham Maslow e Carl Rogers, que se opunha à visão do ser humano

proposta pela psicanálise (considerada pessimista e determinista) e do

comportamentalismo (considerada maniqueísta). Nascia a psicologia humanista,

com a crença de que qualquer pessoa contém em si o potencial para um

desenvolvimento sadio e criativo. Era até o momento uma lufada de otimismo e

esperança, uma vez que o passado não era mais determinante de sucesso pessoal e

o comportamento não era tão programável e organizável. Percebia-se o ser

humano como um organismo integrado, conectado à sua realidade e às suas

experiências, em que a compreensão de sentimentos e pensamentos passava a ser

essencial para o bem-estar e desenvolvimento pessoal.

Abraham Maslow (1908-1970) é mais conhecido pela hierarquia de necessidades,

já vista na Unidade 3, em que passamos por necessidades de sobrevivência

(fisiológicas e de segurança), de relacionamento, de estima e, no topo, a

necessidade de autorrealização. Sobre essa última vamos nos deter aqui. Maslow

acredita que somos inerentemente motivados a satisfazer nossas necessidades,


mas também a nos autorrealizarmos, ou seja, sermos nosso melhor, em nosso

maior potencial. Para isso, contamos com um motivador interno para

a autoatualização, nos tornando a cada experiência mais próximos da melhor

versão de nós mesmos (MASLOW, 2013).

Carl Rogers (1902-1987) traz uma visão de ser humano similar à de Maslow e

propõe que há uma incongruência entre o eu real e o eu ideal que nos causa

desconforto e sofrimento. Ao contrário, quando por meio da descoberta de nós

mesmos nos aproximamos de nosso eu ideal, entramos em estado

de congruência e adquirimos o melhor funcionamento que podemos ter.

Nesse estado, nossos sentimentos são totalmente acolhidos e somos nossa própria

pessoa-referência, ou seja, não desejamos ser ninguém senão não nós mesmos.

Para nos tornarmos mais próximos desse máximo potencial, Rogers (2017)

entende que precisamos desenvolver a aceitação incondicional de quem somos.

Quando, por exemplo, colocamos certas condições para outras pessoas nos

valorizarem, como: “se eu me formar e me casar, então serei amada por meus

pais”, ou condições autoimpostas, como: “quando eu conseguir meu apartamento,

então serei uma pessoa bem-sucedida”, estamos limitando nossas condições de

valor e, por consequência, estamos nos afastando das pessoas que amamos e

condicionando nosso amor-próprio.

Como podemos compreender até aqui, Maslow e Rogers enfatizaram a existência,

em todo ser humano, de um impulso intrínseco para a realização do nosso maior

potencial ou autorrealização. Assim, quando iniciamos nosso processo de

autodesenvolvimento, é salutar vermos nós mesmos com aceitação incondicional,

retirando barreiras e aceitando nossa experiência exatamente como ela se

apresenta. Esse movimento parece mais fácil do que realmente é, uma vez que

temos a tendência a “lutar” contra a aceitação, nos apoiando em ideias

preconcebidas de como “devemos ser” ou como os relacionamentos “devem ser”.


Bases para a autogestão

A abordagem humanista da psicologia inspirou a criação de movimentos em torno

da gestão de pessoas e comportamento organizacional e, mais recentemente,

programas de coaching, realizados dentro ou fora do mundo empresarial. Por ter

como base a mente consciente, permite que as pessoas realizem a compreensão de

si mesmas, com ou sem acompanhamento, a partir da autorreflexão ou acessem

programas de desenvolvimento pessoal, não necessariamente associados a

processos psicoterapêuticos. Entende-se, porém, que ter alguém para dividir as

interpretações da própria vida, provocando reflexões relevantes, seja um líder ou

um coach, pode contribuir para o melhor aproveitamento das próprias reflexões.

Assim, algumas suposições fundamentais da psicologia humanística servem a

propósitos que extrapolam a psicoterapia e passam a contribuir com a autogestão:

• O que experimentamos pelos nossos sentidos conscientes (pensamentos e

sentimentos) e podemos lembrar é base para a compreensão de nosso

comportamento.
• Uma compreensão precisa do comportamento humano não pode ser

alcançada estudando animais e, ao contrário, nossas próprias

experiências cotidianas são base para compreendermos a nós mesmos.

• A necessidade de atingirmos nosso máximo potencial é algo inerente ao

ser humano.

• As pessoas são inerentemente boas e o ambiente em que se desenvolvem

é fundamental para seu melhor desenvolvimento.

• Cada pessoa e cada experiência é única, por isso nosso desenvolvimento

deve levar em consideração essa biografia e compreensão da realidade.

• Nosso comportamento não é predeterminado, nem por forças inconscientes

nem pelo passado. O livre arbítrio existe, por isso devemos assumir a

responsabilidade pessoal por nosso crescimento e autorrealização.

Algumas dessas suposições vão diametralmente contra pesquisas de

comportamentalismo, por exemplo, os estudos com animais; e contra a psicanálise,

como dizer que nosso comportamento tem por base puramente a consciência.

Havendo negado a força do inconsciente, os humanistas não negaram nossas bases

biológicas, nem evolutivas, apenas deram ênfase à nossa experiência e às

interpretações que fazemos dela.

Fazendo-se hoje um balanço desses postulados, é importante não irmos “nem tanto

ao céu nem tanto à terra”. Na nova abordagem humana da inteligência emocional,

por exemplo, agregam-se diferentes bases epistemológicas. Assim, entende-se que

nosso comportamento é influenciado por (1) forças biológicas e ancestrais, mas

também pelos (2) registros de nossas experiências (nosso passado), que moldam

nossos circuitos neurais e pela (3) forma como (re)interpretamos nossa realidade

e projetamos nosso futuro, promovendo novos circuitos

(neuroplasticidade). Nesse sentido, as novas teorias ligadas à neurociência

social agregam variáveis, não as descartam. Adicionalmente, também consideram


pesquisas quantitativas, mais do que qualitativas, como base para a compreensão

do comportamento humano.

Na sequência de nossos estudos, veremos que os predecessores do humanismo, na

Psicologia Positiva, podem tratar a compreensão das emoções positivas, por

exemplo, compreendendo que são processos tão próprios de nossa experiência

quanto as emoções negativas. Entende-se que ver “a metade cheia do copo” pode

trazer muitos benefícios para a promoção de bem-estar e melhor aproveitamento

de nossas potencialidades. Falaremos mais sobre essas leituras em nossa próxima

aula.

Exercitando o sentir e o pensar

Compreendemos nesta aula a importância de considerarmos nossos sentimentos e

nos valorizarmos incondicionalmente, tomando responsabilidade por nossas

características pessoais e nossa realidade exatamente como ela se apresenta, sem

pressuposições de como ela “deveria ser” ou medo de realizar nosso máximo

potencial.
Mas como podemos treinar nossas mentes para alcançarmos nosso máximo

potencial?

A genética e a interação com o ambiente formam, conjuntamente, nossa noção

própria de “self”. Tanto a natureza (no inglês, nature) como nossa criação (no

inglês, nurture) permitem que possamos modificar nossas estruturas cerebrais. O

cérebro aprende melhor em ambientes em que pode exercer sua liberdade,

afastando-se das ameaças mais prementes e incorporando-as como desafios

possíveis de serem vencidos. As experiências moldam e transformam nosso

cérebro. Novas experiências trazem o aprendizado de novas formas de pensar,

sentir e agir, criando novas rotas neurais e fisicamente modificando o cérebro.

(NELSON; LOW; HAMMET; SEN, 2013).

Nessa direção, a melhor relação intrapessoal que você pode ter é caracterizada por

aceitação incondicional, como comentamos, e por respeito, curiosidade,

autocompaixão, honestidade e motivação para se tornar a melhor versão de si

mesmo. Isso porque nossos comportamentos, incluindo nossas reações

emocionais, são relacionadas a essas rotas neurais, a como o cérebro processa,

armazena e retém as informações do cotidiano. Cada um de nós tem um jeito

próprio de construir a própria realidade e, consequentemente, aprender sobre ela.

Nosso aprendizado depende da experiência (emocional) e do processamento

cognitivo (pensamento) que atuam de forma colaborativa. Sendo a cognição mais

conhecida, vale reforçar o valor da mente emocional, uma vez que não há

apreciação de conhecimento sem participação de nosso mundo emocional e que

para toda informação que recebemos já temos crenças e valores associados: que

apontam o que importa ou não, o que é moralmente correto ou não, o que

apreciamos ou não.

Nessa direção, algumas escolas de desenvolvimento salientam a importância de

exercícios de autorreflexão, em que confrontamos nossas interpretações a partir


da separação entre o que queremos (base de nossas preferências emocionais) e o

que precisamos fazer (base de nossa mente racional) para, por exemplo, definir e

priorizar tarefas de rotina.

Com base nos aprendizados de nossa aula, construa a tabela do mapa de

autogestão abaixo, considerando atividades que estão no seu “to do list”, ou seja,

que você deseja ou precisa fazer, mas não consegue bem priorizar. Comece

preenchendo a coluna da esquerda, da mente emocional, em seguida passe para a

coluna da direita, da mente racional, e finalize priorizando o que fazer e

descartando o que não é relevante:


Tabela 1 | Mapa mental de autogestão. Fonte: adaptada de Nelson, Low,
Hammet e Sen (2013, p. 143).

Videoaula: O caminho para o self ideal


Meu vídeo não funciona

Nesta aula, compreendemos as bases epistemológicas para o movimento da

autogestão, a partir do conhecimento de parte do pensamento dos principais

psicólogos da psicologia humanista: Abraham Maslow e Carl Rogers.

Compreendemos como essa concepção do ser humano influenciou os processos de

desenvolvimento individual realizados no âmbito organizacional. Finalizamos com


um mapa mental de autogestão, em que nossas mentes emocional e cognitiva

trocam informações e se congregam, visando a efetividade de ação.

Introdução

A psicologia positiva traz uma visão moderna de ser humano, em que as

potencialidades, virtudes e melhores qualidades são colocadas em evidência.

Inspirados nos autores Martin Seligman e Barbara Fredrickson, nesta aula

falaremos sobre o valor do otimismo, em como podemos aprender a ver o copo

“meio cheio” e como podemos provocar uma espiral positiva em nossa vida a partir

da ativação de emoções positivas.

Em seguida, abordaremos as bases do comportamento reflexivo, em que passamos

da resposta automática para a ação intencional. Por último, traremos lições de

felicidade que podem ser aplicadas em nossa prática autorreflexiva.

A intenção de nossa aula é projetar algumas qualidades de nosso eu ideal,

promovendo formas positivas e construtivas de comportamento.

Bons estudos!

Uma visão positiva para o humano


Vimos na última aula que a psicologia humanista trouxe respostas para a

compreensão de ser humano que nem a psicanálise nem o comportamentalismo

haviam trazido. Já em seus primeiros textos, Abraham Maslow (1954) apontava a

necessidade de criação de uma psicologia positiva, que saísse da preocupação com

doenças mentais e focasse nas virtudes e no potencial do ser humano. Décadas

depois, considerando que precisamos ver tanto os aspectos negativos (como

psicopatologias, nossos erros e instintos destrutivos) como positivos do ser

humano (como valores, virtudes, produção de sentido e emoções positivas, entre

outros), com mais ênfase no último, surge o movimento da Psicologia Positiva,

capitaneado por Martin Seligman, Barbara Fredrickson e diversos autores

contemporâneos na sequência.

Um dos mais proeminentes temas de estudo da Psicologia Positiva é o otimismo,

considerado como “tendência a esperar o melhor” da vida, ainda que as situações

não nos sejam favoráveis. Ele aparece em oposição ao pessimismo, pelo qual

assumimos que as coisas vão continuar ruim ou piorarem. Seligman (2006)


acredita que podemos aprender a ser otimistas e, com isso, obtermos mais

facilmente bons resultados de nosso comportamento ou, no mínimo, nos

recuperarmos mais rápido dos vieses da vida. De acordo com ele, formas

habituais de pensar não precisam ser para sempre e uma das mais

significativas descobertas da psicologia nos últimos anos é que os indivíduos

podem escolher a forma como pensam.

As emoções positivas

Antes de considerarmos o papel de nossas emoções positivas, vamos relembrar

por que temos emoções negativas. O que emoções como medo e raiva fazem é

sinalizar situações que requerem nossa atenção e disponibilidade de resposta

imediata. Da mesma forma, o mecanismo de resposta automática da luta-fuga

permite que tenhamos ações de autoproteção e possamos garantir a nossa

sobrevivência. Ainda, o nojo e a tristeza surgem para que possamos lidar com

nossas preferências pessoais e possamos trabalhar nossas perdas. Porém, se

prolongadas em nosso corpo e alimentadas por nossos pensamentos, as emoções

negativas se tornam aflitivas (LAMA; CUTLER, 2000). Como já estudamos na

Unidade 1, nossas emoções são orientadas por nossos valores pessoais. E nesse

ponto é interessante pensar o papel específico das emoções positivas.

As emoções positivas não são tão estudadas como as emoções negativas. De

acordo com Fredrickson (2009), o propósito principal de nossas emoções positivas

é fazer com que nos sintamos bem em relação à vida, razão pela qual nos estudos

em inglês os autores se refiram a elas como “feels good emotions” (emoções para

nos sentirmos bem). Em contraste com as negativas, as emoções positivas

permitem uma expansão criativa ao nosso pensamento e oferecem recursos

adicionais para o nosso comportamento em quatro categorias:

1. Intelectual – a partir de habilidades de solução de problemas.

2. Física – promovendo força e saúde cardiovascular.


3. Social – facilitando a qualidade dos relacionamentos e a quantidade de

amigos e conexões.

4. Psicológica – desenvolvendo habilidades de resiliência e otimismo.

Em resumo, a experiência das emoções positivas oferece uma “espiral positiva” de

efeitos físicos, comportamentais e psicoemocionais, nos preparando para lidarmos

com os desafios da vida.

Comportamento reflexivo

O comportamento humano é em boa parte automático, acontecendo sem

participação de nossa consciência ou pensamento que o anteceda. No entanto, cada

vez que reagimos a uma situação, seja na interação com estressores ou em um

evento qualquer da vida, existe a possibilidade de direcionar o comportamento,

para que passe de reativo a reflexivo.

O comportamento reflexivo é aquele que traz o que escolhemos fazer, deixando

assim de ser automático. Nesse caso, há uma brevíssima, mas fundamental pausa,

suficiente para que nossa inteligência emocional seja acionada e possamos

substituir a reação automática pela ação intencional. Isso não quer dizer que as
respostas automáticas não sejam necessárias, já que dizem respeito a rotas

evolutivas de nosso comportamento, em que a mente emocional é acionada de

forma que tenhamos uma resposta rápida diante de algo importante que merece

nossa atenção, como alguém nos atacando ou um perigo imediato que ameace

nossa sobrevivência. Assim, o comportamento autodirecionado ou reflexivo

corresponde à integração das mentes emocional e cognitiva, de forma que se

favoreça nosso desempenho e nossa saúde como um todo (NELSON; LOW;

HAMMETT; SEN, 2013).

Sabe quando estamos procurando a melhor rota para chegarmos em um

determinado lugar? Vamos pegar como exemplo o aplicativo Waze. Antes de nos

posicionarmos para mover o carro, é necessário parar e digitar nosso “destino”. Em

seguida, o aplicativo oferece a melhor rota para chegarmos lá, baseado em critérios

que já selecionamos de antemão (mais rápida, mais segura, mais bonita, etc.). Se

por acaso mudarmos de destino, o aplicativo buscará novas rotas, sempre tendo

por base o caminho possível para se chegar onde se quer.

De forma semelhante acontece com nosso cérebro, com a diferença que na maior

parte das vezes não temos muita clareza de onde queremos chegar. Por isso,

nossas rotas tornam-se confusas e mudam o tempo todo. É preciso então

reconfigurar o sistema e partir do começo: nosso destino desejado.

Mas como podemos fazer isso? Nosso cérebro pode ser estimulado pela

imaginação, assim como pela percepção do que acontece em tempo real. Isso

porque a mente emocional não distingue entre uma imagem imaginada e uma real.

Dessa forma, a imaginação torna-se uma poderosa ferramenta para a mudança

pessoal. Técnicas de imaginação ativa nos colocam em situações de melhor

desempenho, em que atuamos exatamente como desejamos. Nesse processo,

entendemos que o melhor cenário é uma realidade possível de ser alcançada. Por

isso é tão importante nos questionarmos: onde queremos chegar? Qual é a situação
por nós desejada? Só respondendo essas perguntas sobre uma visão de futuro

desejado é que chega o momento de buscar a colaboração da mente racional e de

afirmar: “ok, agora que esse cenário é possível e tangível em minha melhor

visualização, é hora de me colocar em ação e caminhar para chegar lá”. Sem dúvida

traçar o plano de ação e a agenda de atividades é muito mais fácil após termos

delimitado qual é nosso destino desejado.

Lições de felicidade

Com o que vimos até aqui, poderíamos resumir que temos sentimentos positivos

em relação a pessoas ou coisas das quais queremos nos aproximar, enquanto

temos sentimentos negativos daquilo que queremos nos afastar. Assim, o

componente comum de todas as emoções negativas é a aversão, assim como o

componente comum das emoções positivas é a aproximação (“me dê mais disso,

me faz sentir bem!”) (SELIGMAN, 2019).

Após essa breve reflexão sobre nossos sentimentos e o valor de nossas

interpretações na construção da realidade, uma pergunta justa é: por que nos


sentimos felizes? Ou ainda: será que a felicidade é algo que trazemos conosco,

como uma “capacidade” de ver algo bom em tudo que vivemos?

De acordo com Seligman (2019), a resposta é sim, temos predisposições genéticas

para sermos mais risonhos e bem-humorados, por isso existem pessoas que são,

por natureza, mais felizes. Afinal, todo mundo conhece aquela pessoa que, a

despeito das poucas posses ou conquistas pessoais, está sempre sorridente e bem-

disposta, não é mesmo? Isso significa que a felicidade tem em si um componente de

personalidade. Porém também podemos aprender a nos sentirmos assim.

Novamente faz-se presente a composição dupla de nature (genética)

e nurture (criação), que já mencionamos em aulas anteriores.

Alguns hábitos contribuem para que possamos reter a felicidade por mais tempo.

Por exemplo, estudos mostram que pessoas felizes conseguem reter por mais

tempo suas experiências positivas, inclusive pensando que ocorrem em maior

número. Fato exatamente oposto às pessoas que se sentem infelizes: elas só

conseguem lembrar do que dá errado. Outro exemplo é que pessoas felizes

vivenciam o momento presente com mais intensidade.

Isso me faz lembrar de um dos melhores livros de psicologia positiva que tive o

privilégio de encontrar: Conversas com Minha Gata, de Eduardo Jáuregui (2015). O

livro conta a história de Sara, que, prestes a fazer quarenta anos, descobre que não

é feliz. Seu trabalho não a motiva mais e seu relacionamento com o namorado não

é mais o mesmo. Como resposta de uma fase de exaustão emocional, ela

experimenta um colapso nervoso e passa a ouvir uma elegante e misteriosa gata

amarela, chamada Sibila. A gata traz conselhos tão interessantes quanto

ensinamentos de um mestre Jedi e ensina Sara a viver no momento presente,

apreciando inteiramente sua experiência de vida, diminuindo o poder das emoções

negativas e dos pensamentos que transitam entre o passado e o futuro.


“O sentido da vida? Deixe de bobagem. Só existe uma coisa que você precisa

saber: ao comer, coma; ao caminhar, caminhe” (Sibila, a gata). (JÁUREGUI,

2015, p. 69)

Pegando emprestado um dos questionamentos feitos por Sibila, trago para nós

uma reflexão para você responder: Que motivos você tem para ser feliz?

Procure trazer com carinho aquelas situações, pessoas e acontecimentos que

contribuem para sua felicidade. Não se apresse na resposta. Depois avalie: você se

sente mais feliz, só por pensar a respeito? Explique como.

Videoaula: O jeito positivo de ver a


vida
Meu vídeo não funciona

Quando nossas melhores virtudes e potencialidades são colocadas em evidência,

podemos modificar nosso comportamento e transformar positivamente nossas

vidas. Nesta aula, falamos sobre otimismo, emoções positivas e compreendemos as

bases para o comportamento reflexivo ou auto-orientado. Finalizamos com lições

de felicidade, em que utilizamos a positividade para alcançarmos o máximo de

nosso potencial.

Introdução
Meu vídeo não funciona

Vivemos totalmente conectados, sendo a todo momento acessados por

informações e mensagens de texto ou imagem. Esse excesso de disponibilidade

desafia nosso controle do tempo e torna difícil cumprir com a programação que

fazemos para nossos dias.

Nesta aula, falaremos sobre as premissas para a autogestão e o valor de

administrar nosso tempo a partir da energia. Traremos algumas dicas de como

recuperar o controle e falaremos sobre hábitos que permitem desenvolver

resiliência, respondendo com maior efetividade aos desafios cotidianos.


Ao final da aula, espera-se que você possa fazer uso de algumas práticas de

autogestão e reflita sobre seus hábitos atuais, modificando-os quando necessário e

contribuindo assim para o próprio desenvolvimento.

Perguntas de base para a gestão de si


mesmo

Os modelos de carreira modificaram-se imensamente a partir dos anos 1990. Antes

da chegada da internet e, com ela, de toda a gama de profissões e informações que

o mundo digital proporcionou –, era comum planejarmos uma profissão “para a

vida”. Esse antigo pacto foi quebrado assim que as pessoas não puderam mais

contar com trilhas de carreira em uma mesma organização e precisaram se

responsabilizar por sua jornada de desenvolvimento.

Atualmente, estão em vigor os novos modelos de carreira, em que não

dependemos mais de uma organização para apontar nossa contribuição no mundo,

ao contrário, estamos constantemente polindo nossas competências técnicas e


socioemocionais, nos preparando para cada novo desafio profissional que se

configura. Saímos do enfoque no trabalho e na organização para o enfoque no

indivíduo, bem como suas aspirações e potencialidades.

Assim, a autogestão de si mesmo e da carreira torna-se mais uma das

competências do mundo do trabalho. Precisamos constantemente reavaliar nossa

posição e verificar se estamos usando nosso melhor potencial naquilo que fazemos.

Pensando nessa autonomia de se autorregular, Drucker (2018) traz algumas

perguntas fundamentais (Tabela 1) para respondermos, de forma a nos

posicionarmos em relação a nossas competências pessoais. São perguntas que

podemos nos fazer a qualquer momento, de maneira a provocar uma reflexão que

sirva para movimentar nossa cognição em direção à autogestão e excelência

pessoal. Elas englobam nossas características pessoais, nossos valores e a forma

como nos relacionamos com o trabalho, bem como que tipo de contribuição

podemos prestar.

Tabela 1 | Perguntas de base para a gestão de si mesmo.

O valor da administração do tempo


O ritmo do trabalho na vida moderna é cada vez mais acelerado. Por um lado,

temos diversos aplicativos e facilitadores para nossa organização das ideias e do

tempo, por outro, estamos com muitas “janelas mentais” abertas, pois estamos

expostos a mais informação e mais interação. Antigamente, cerca de 10 anos atrás,

as pessoas abriam suas caixas de e-mail e levavam a primeira meia hora da manhã

para respondê-los, quem sabe também a primeira hora da tarde. Com o advento da

comunicação instantânea, no entanto, por meio de Snapchat, WhatsApp e outros

meios, ficou quase impossível terminar uma tarefa sem que sejamos em algum

momento interrompidos em nosso fluxo de raciocínio por algum tipo de

notificação. Em muitas atividades profissionais, o excesso de reuniões coloca mais

pressão no sistema, fato que se multiplicou enormemente no período mais crítico

da pandemia, quando as pessoas saiam de uma reunião virtual para outra e

sobrava pouco tempo para execução das tarefas acordadas.

Como resposta a isso, muitas pessoas entendem que o ideal é aumentar a carga

horária em torno das respostas e das tarefas, o que causa prejuízos físicos,

emocionais e mentais. Eis que o tão sagrado turno da noite, que era usado para

relaxarmos e prepararmos nosso corpo para o descanso é, em muitos casos,

utilizado para finalizar as tarefas administrativas, cuidar da casa, realizar um curso


de aperfeiçoamento. E assim, apesar de toda tecnologia, trabalhamos cada vez mais

e temos cada vez menos tempo livre.

O problema de aumentar nossa carga horária de trabalho é que o tempo é um

recurso finito, assim como nossa disposição e disponibilidade cognitiva. Não é

porque estamos à frente da tela que conseguimos produzir magicamente todas as

soluções, é preciso que tenhamos as informações necessárias e a atenção

concentrada, no mínimo. Como então tirar o máximo possível do tempo que

temos?

De acordo com Schwartz e McCarthy (2018), precisamos reabastecer

nossas fontes de energia física, emocional, mental e espiritual. Isso pode ser feito

a partir de rituais e programações de otimização, resumidas na Tabela 2.


Tabela 2 | Práticas para renovar a energia pessoal. Fonte: adaptada de Schwartz
e McCarthy (2018, p. 71-72).

Exercite sua resiliência


“Nossa maior glória não é nunca falhar, mas sim nos erguermos a cada vez que

falhamos.” Confúcio (apud CASTRO, 2016, p. 64)

Todos nós em algum momento da vida precisamos lidar com situações adversas,

mas por que razão algumas pessoas conseguem sair das dificuldades da vida

renovadas enquanto outras permanecem por muito tempo abatidas? Será que

existe uma maneira de melhorar nossa capacidade de administrar e superar

obstáculos inesperados, transformando as crises em oportunidades de

crescimento?

Sobre essas questões tratamos quando pensamos em resiliência. Ao contrário do

que possa parecer, resiliência não diz respeito a suportar as pressões da vida – isso

seria resistência –, mas sim ser capaz de retornar a nosso melhor eixo o mais

rápido possível, logo após uma adversidade.

Mais especificamente, quando falamos de resiliência nos referimos à nossa

habilidade de seguir em frente diante das dificuldades, de retornar a nosso

melhor o mais rápido possível, após algum infortúnio e manejar nossas emoções
negativas de forma mais efetiva ao invés de deixá-las nos levar em uma espiral de

negatividade (GREENVILLE-CLEAVE, 2012).

Normalmente, pensamos que a resiliência é um traço de personalidade, uma

característica que algumas pessoas têm e outras não. Na verdade, a resiliência

também pode ser aprendida. Ainda, pesquisas sugerem que se tornar resiliente

em um domínio da vida, por exemplo no trabalho, pode ajudar na resiliência em

outras áreas, como nos relacionamentos.

De acordo com o Hanson (2019), existem práticas que contribuem para vivenciar,

desenvolver e utilizar recursos mentais fundamentais para o bem-estar resiliente.

O autor elencou 12 potencialidades que se sustentam muito mutuamente e

contribuem para a vida resiliente, como pontos de uma rede. Elas são: compaixão,

atenção plena, aprendizado, garra, gratidão, confiança, calma, motivação,

intimidade, coragem, aspiração e generosidade. Essas potencialidades contribuem

para que possamos reconhecer nossos estados emocionais, buscar recursos

internos para fazer frente às adversidades, gerenciar nossas emoções negativas e

nos relacionarmos mais ativamente com as outras pessoas, promovendo em nós

emoções positivas.

Para que possamos praticar, elaborei duas práticas que considero simples e

extremamente relevantes, uma para diminuir o efeito de emoções negativas e

ativar calma e outra para ativar estados emocionais positivos, a partir da gratidão.

• Exercício 1 – Prolongue sua respiração

Quando prolongamos nossa expiração, acionamos naturalmente nosso sistema

nervoso parassimpático e conseguimos acalmar o nosso corpo. Experimente:

respire profundamente, enchendo os pulmões de ar. Faça uma breve pausa e em

seguida expire lentamente, pela boca, pressionando o ar levemente na passagem

pelos lábios, prolongando a expiração. Faça uma breve pausa ao final da expiração
e inspire novamente. Repita esse procedimento de inspirar, pausar, exalar, pausar

por seis vezes, sempre exalando todo o ar que há nos pulmões. Ao final, perceba

como você fica mais calmo e centrado. Sorria.

• Exercício 2 – Encontrando gratidão

Inspire profundamente e relaxe. Para facilitar sua prática, mentalize essas

instruções ou grave, para seu melhor aproveitamento. Quando estiver bem

relaxado, após três longas inspirações e expirações, pense em alguém que você

aprecia muito e que lhe quer muito bem. Lembre-se de coisas que essa pessoa lhe

proporcionou ou de momentos que passaram juntos. Toque em seu coração.

Perceba como você foi afortunado em ter essa pessoa em sua vida e mentalmente

agradeça a presença dela em seu coração. Agradeça o que compartilharam juntos e

deseje que ela esteja bem e seja feliz.

Videoaula: Temas fundamentais para


a autogestão
Meu vídeo não funciona

Iniciamos nossa aula com algumas perguntas de base para a compreensão da

autogestão, que englobam questões ligadas a características pessoais, valores,

carreira e contribuição. Em seguida, salientamos a importância de administrarmos

nossa energia para corpo, mente, emoções e espírito. Finalizamos com alguns

exercícios para ampliar a resiliência, facilitando que recuperemos o controle da

situação logo após a exposição a emoções aflitivas.

Introdução
Vivemos uma época sobrecarregada de opções e possibilidades de escolha, em que

a constante mudança nos deixa atordoados frente ao futuro. Isso nos torna

ansiosos e preocupados em relação aos caminhos possíveis e às melhores rotas de

aprendizagem em nosso processo de autodesenvolvimento.

Abrimos nossa aula falando sobre o valor das escolhas na vida pessoal e carreira e

como nossas expectativas precisam ser bem administradas para não serem um

peso em nossa rotina.

Em seguida, consideraremos os elementos do bem-estar e o que torna os

relacionamentos positivos ou tóxicos. Na sequência, falaremos de motivação como

energia de base para nossas realizações.

Como resultado desta aula, espera-se que você possa praticar hábitos que

contribuam para realizar seus sonhos e ter satisfação com a vida.

O valor de cada escolha


Nossa vida é permeada de constante transformação. Seja no trabalho ou na vida

pessoal, tudo que sabemos é que a mudança é parte inerente de nossa

existência. Tecnologias que antes nos eram úteis, hoje se tornam obsoletas.

Competências que adquirimos nos primeiros anos de formação agora parecem

desatualizadas. E pensar nisso tudo nos causa desconforto e mal-estar, porque não

podemos prever ou antecipar o futuro. Mas não precisa ser assim.

Como representante de uma geração que chegou ao mercado de trabalho antes da

chegada dos primeiros scanners, antes mesmo da internet, cheguei a ter uma

profissão atualmente extinta: typist. Quando morei no exterior, meu trabalho era

datilografar documentações para fins de arquivo. Era eu aplicando as lições


aprendidas no início dos anos 1990, na Escola Tecla de digitação, lá no interior do

estado do Rio Grande do Sul, em Alegrete. Por outro lado, a habilidade de digitar

com os dez dedos me trouxe uma habilidade útil na produção das aulas e dos

artigos, algo que faço com frequência em minhas atividades de professora e

facilitadora de treinamentos. O que exemplifica uma outra realidade: tudo que

aprendemos pode ser reconfigurado e compõe, em uma análise mais detalhada,

o que sabemos e somos no dia de hoje. Competências se combinam, habilidades se

complementam.

Estudos na área da psicologia positiva sugerem que o sentimento de que estamos

no controle de nosso destino é vital para a nossa saúde psicológica e que a

limitação de nossas escolhas pessoais pode reduzir o bem-estar. Escolher significa

ter liberdade para viver e para nos expressarmos como indivíduos. Porém, ter

muitas opções para escolher também causa estresse (GREENVILLE-CLEAVE,

2012).

Há mais de cinquenta anos, Toffler (1970) entendeu que lidar com a mudança e a

escolha nos traz uma variedade muito grande de sentimentos. Ele chamou a

constante reação à mudança e à diversidade de opções de future shock, algo como

um choque ou uma dificuldade de adaptação na nossa tentativa de lidar com o

futuro. Ele teorizou que encarar muitas opções de escolha, em um curto período,

configura uma dificuldade de processamento de informação que pode tornar

nossas reações mais lentas, assim como nossas decisões, e ainda causar efeitos

psicológicos indesejados, como depressão, estresse e comportamento neurótico. O

que dizer então de nossa realidade, com tantos aplicativos, opções de

entretenimento e aprendizado e distrações digitais? Vivemos uma época

sobrecarregada de possibilidades de escolha!

Como então escolher com base no que é melhor para nosso autodesenvolvimento

tendo tantos caminhos como opção? Uma boa alternativa é deixarmos de lado a
noção da “escolha perfeita” e aceitarmos a possibilidade da melhor escolha

possível. Para isso, é fundamental diminuir o peso de cada decisão e aceitar as

coisas como são e como se apresentam, sem alimentar expectativas.

Elementos do bem-estar e
relacionamentos positivos

A felicidade é a satisfação com a vida. Quando estamos felizes, nos sentimos bem, é

fácil fazer qualquer tarefa, somos cercados de leveza. Esse “bem-estar” é composto

de vários elementos e nenhuma parte específica da vida pode explicá-lo, sendo

influenciado por múltiplos fatores.

Na busca por compreender os elementos que compõem o bem-estar, Seligman

(2011) chegou em cinco fatores, todos intercambiáveis e ao mesmo tempo

independentes: emoção positiva, engajamento, sentido, relacionamentos positivos

e realização. Na Tabela 1, apresentamos cada um deles.


Tabela 1 | Elementos do bem-estar. Fonte: adaptada de Seligman (2011, p. 27-
28).

O valor dos relacionamentos saudáveis

De todos os elementos para o bem-estar, o que é mais independente apenas de nós

mesmos, aquele que define nossa interação com o mundo, é o de relacionamentos,

por isso vale aqui um pouco mais de detalhamento. De fato, em todos os modelos

para construção de uma vida próspera e feliz aparecem os relacionamentos como

elemento-chave, mais inclusive que conquistas materiais. Aqueles com os quais

compartilhamos nossa caminhada importam mais que o próprio caminho. Afinal, é

fácil perceber como nossas conexões com outras pessoas trazem grande

contribuição para a nossa saúde física e psicológica.

O contrário também acontece. Quando estamos sob efeito de relacionamentos

tóxicos, todas as áreas de nossa vida começam a decair: trabalho, autocuidado,

espiritualidade, até mesmo nossa motivação. Um relacionamento é tóxico quando

nos fazem sentir insegurança, medo, culpa ou inadequação, quando sentimos que

nossa identidade não é valorizada ou quando somos desrespeitados em nossa

autonomia e forma de ver o mundo.


Mas o que caracteriza um relacionamento positivo ou saudável? Além de nos

proporcionar emoções positivas, existem características na interação com pessoas

saudáveis que vale a pena reforçarmos. Pessoas saudáveis (SARKIS, 2019):

• Incentivam a expressão de opiniões, ainda que não concordem com tudo o

que dizemos.

• Dizem o que sentem e sentem o que dizem, ou seja, são sinceras.

• Dizem de forma direta e gentil quando você as magoou.

• São capazes de compartilhar ideias e sentimentos, favorecendo a

afetividade da relação.

• Confiam nos outros.

• Têm comportamentos genuínos, relacionados a seus valores.

É fácil ler essa lista e pensarmos que por vezes nós mesmos não somos assim tão

saudáveis ou que as pessoas “tropeçam” em seus comportamentos e nem por isso

vamos descartá-las de nosso círculo de amizades. A questão aqui não é acertar

sempre, mas ter em mente que o relacionamento positivo é nutridor, nos faz sentir

bem, enquanto o relacionamento tóxico nos traz sentimentos negativos. Por isso,

caminhar em direção ao bem-estar compartilhado é a melhor intenção que

podemos ter em qualquer relacionamento.

Motivação na base da realização


Em nossas aulas, falamos sobre a importância de conhecermos nossas forças e

fraquezas e termos um norte, sabermos aonde queremos chegar. Um elemento que

falamos pouco até aqui e que faz toda a diferença nesse espaço entre o eu real e o

eu ideal é a motivação. Motivação é a energia que nos leva a agir, o motor de nosso

comportamento, o “motivo para a ação”.

Um motivo é um processo interno que energiza e direciona o comportamento.

Esses motivos podem ser internos, dizendo respeito a nossas próprias

necessidades, emoções, crenças e pensamentos, ou externos, como dinheiro,

conquistas materiais ou aprovação social (REEVE, 2006).

É interessante perceber o que causa a falta de motivação. Essa ausência de energia

vital em nosso comportamento nos torna apáticos. Desmotivados deixamos de

acreditar em nosso potencial, interrompemos o investimento da energia para a

ação, não temos mais direção ou propósito. Nos tornamos invisíveis e pouco

interessantes.
Por outro lado, não é preciso muito esforço para ver a motivação manifesta no

comportamento de outras pessoas. Basta que estejam executando alguma tarefa e,

se estiverem motivados, será possível ver o grau de engajamento, a disposição

física, a persistência, a concentração de esforços. A motivação é também

contagiosa: eis que motivamos mais quando estamos motivados.

Quando estamos motivados, nosso comportamento é direcionado e energizado,

não é preciso muito esforço para a consecução de nossos objetivos porque nos

“fundimos” àquilo que está sendo realizado. Assim, somos mais realizadores

– tornamos real nossa intenção – quando estamos motivados. Como então podemos

ampliar nossa motivação? O que fazer para fornecer energia e motivo à nossa

ação?

De acordo com Goleman (2019), a motivação é parte inerente ao processo de

autogestão das emoções. A pessoa motivada é aquela ativada por suas conquistas e

algumas características de seu comportamento são a paixão pelo trabalho e

novos desafios, disposição incansável para melhorar e otimismo diante do

fracasso.

Eis aqui então algumas características de pessoas que têm o comportamento

motivado:

• Elas estão sempre buscando melhorar seu desempenho e gostam de saber

como estão se saindo.

• Elas são otimistas, procurando sempre ver o lado bom das coisas e não

esmorecendo quando algo dá errado.

• Elas são abertas e curiosas, gostam de descobrir novas formas de fazer as

coisas.

• Elas persistem, não esperando resultados imediatos de suas ações.


Uma das formas mais simples de nos motivarmos é buscarmos reproduzir o

comportamento motivado. Isso porque a própria ação mobiliza nossos esforços e

coloca em marcha o movimento da motivação. Quer ver um exemplo? Vamos

imaginar que você tenha um roupeiro cheio de roupas bagunçadas para arrumar. O

que lhe traz mais motivação para arrumar: imaginar formas de organizar as roupas

e fazer listas do que você precisa consertar, guardar e colocar para doação ou

imediatamente pegar três baldes para fazer a separação e iniciar a arrumação?

O ato de realizar é o motor da motivação.

Videoaula: Fazendo acontecer


Meu vídeo não funciona

Decidir não é uma tarefa fácil, especialmente com o excesso de opções que temos

hoje em dia e o alto nível de expectativa em relação ao que podemos alcançar.

Nesta aula, vamos falar sobre o valor de nossas escolhas e sobre os elementos do

bem-estar. Como parte disso, compreendemos as características de

relacionamentos saudáveis e finalizamos falando sobre motivação como base para

uma vida cheia de realizações.

Comando e controle
Meu vídeo não funciona

Você foi contratado para trabalhar no RH em uma organização que poderia ser

descrita como “o quartel general do comando e controle”. Tudo e todos são regidos

por normas, procedimentos, indicadores, métricas e sistemas.

Você percebe a desmotivação no olhar das pessoas enquanto caminha pelos

corredores e salas. No entanto todos têm muito medo de tentar impor mudanças

nessa situação.

Nos últimos 2 anos a organização se viu de cabeça para baixo: os protocolos

sanitários impuseram mudanças radicais, sobre as quais a empresa não teve como

resistir, embora uma série de novos controles tenham sido implementados para
monitorar à distância o que os funcionários-chave estavam fazendo de suas

residências.

Você recém concluiu uma formação em que tomou contato com os conceitos de

resiliência e do poder das emoções positivas para melhoria do desempenho das

pessoas da organização e também da capacidade de resposta e recuperação em

caso de adversidades. Você não acredita no caminho que a empresa está seguindo,

cultivando emoções negativas de medo e raiva na direção oposta.

Os diretores percebem que alguma coisa diferente precisa ser feita, pois a

rotatividade da empresa está aumentando. Anteriormente localizada em níveis

operacionais e administrativos, cargos de liderança e coordenação estão ficando

vagos.

Eles estão dispostos a participar de uma sensibilização sobre mudança

organizacional e desejam um plano de ação focado na retenção de lideranças da

empresa.

Quais assuntos você traria para essa sensibilização? Descreva e tópicos principais

que você abordaria e porque escolheu esse tópico.

Quais seriam as linhas gerais de seu plano de ação para os gestores? Descreva pela

menos 2 atividades que buscaria implantar o mais breve possível na empresa.

Possível resposta

Sensibilização:

Os tópicos deveriam ser relacionados à importância das emoções positivas no

ambiente de trabalho, mostrando como as práticas atuais de comando e controle

despertam o medo e a raiva nos relacionamentos, levando ao stress e

eventualmente sendo fatores que contribuem para a alta rotatividade.


Também poderia ser incluída na pauta a questão da resiliência e da importância de

promover autonomia e bem-estar para que os colaboradores possam ter mais

capacidade de resposta à situações adversas.

Ações com os líderes:

Em função da importância do contágio emocional a partir da posição de liderança,

incluindo a própria direção, poderiam ser recomendados treinamentos de

desenvolvimento de habilidades de inteligência emocional.

Práticas de relaxamento e mindfulness também podem ser introduzidas aos

gestores interessados.

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