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A SABEDORIA

DO TRAUMA
Observações a partir dos conhecimentos do Dr. Gabor Maté
DEFINIÇÕES DE TRAUMA

“Trauma é uma ferida psíquica que endurece você psicologicamente, sendo assim,
interfere na sua habilidade de crescer e desenvolver-se. Isso te dói e agora você está
agindo devido a dor; te induz ao medo e agora você age por causa do medo. Trauma
não é o que acontece com você. Na verdade, é o que ocorre dentro de você como
resultado de algo que aconteceu com você. Trauma é aquela cicatriz que faz você
menos exível, mais rígida, menos sentimental, te deixando mais na defensiva - Gabor
Maté

SINTOMAS DO TRAUMA

Sob efeito do gatilho traumático, nós podemos regredir para estados primários de
medo, reações agressivas, nos tornar paralisados ou incapazes de avaliar o nível de
ameaças. Abaixo, estão alguns exemplos de como os sintomas do trauma podem
parecer.

• Hiperexcitação: aumento dos batimentos cardíacos, respiração acelerada ou


diculdade de respirar, suor frio, formigamentos e tensão muscular; • Constrição no
corpo e redução de percepções; • Desassociação e rejeição; • Sentimento de
impotência, imobilidade e congelamento; • Hipervigilância; • Imaginário intrusivo ou
ashbacks; • Extrema sensibilidade a luz e ao som; • Hiperatividade; • Emoções
exageradas e reações alarmantes; • Pesadelos ou pânico noturno; • Mudanças
abruptas de humor: Reações raivosas, birras, ou fúria e choros frequentes; • Vergonha
ou falta de autovalorização; • Redução da habilidade de lidar com o estresse; •
Diculdade de dormir; • Ataques de pânico, ansiedade e fobias; • Esquecimento ou
pensamentos espaçados; • Comportamentos de prevenção: Evita lugares, momentos,
atividades, memórias ou pessoas; • Atração por situações perigosas; • Hábitos
viciantes: Comendo em excesso, bebendo, fumando ou usando outras drogas etc; •
Exagero ou diminuição da atividade sexual • Amnésia ou esquecimento; •
Incapacidade de amar, nutrir ou ligar-se a outros indivíduos; • Medo de morrer ou ter a
vida encurtada; • Automutilação; • Perda de crenças importantes (espiritual,
religiosas, interpessoal) • Timidez excessiva; • Diminuição de respostas emocionais; •
Incapacidade de comprometer-se; • Fadiga crônica ou baixa energia física; •
Problemas no sistema imunológico; • Doenças psicossomáticas: dores de cabeças,
enxaquecas, problemas no pescoço e nas costas, dores crônicas, asma, distúrbios na
pele e problemas digestivos; • Depressão e sentimento que algo ruim pode acontecer;
• Sentimento de desapego, alienação e isolamento (Síndrome de Cotard); • Redução
da habilidade de fazer planos; • Reconstituição do trauma.

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TRAUMA DE DESENVOLVIMENTO

Resultado de eventos que são tão esmagadores para uma criança, que seu sistema
nervoso não consegue amadurecer de uma maneira apropriada para a idade. A
desregulação no sistema nervoso é, frequentemente, grande o suciente para causar
mudanças de longa duração e atrasos na maturação física, comportamento, na
capacidade de pensar, lidar com emoções e socializar com outros. Se o abuso é grave,
dependendo da idade na época do abuso, as estruturas cerebrais podem ser
sicamente danicadas.

Algumas experiências na infância que podem levar ao trauma de desenvolvimento


incluem: Negligência, traumas pré-natais ou perinatais, perda de uma pessoa
signicante durante os primeiros anos da infância, abusos físicos, sexuais ou
emocionais.

O abuso, negligência ou perda prejudicam a forma como a criança se vincula ou se


apega a seu cuidador, e isso pode afetá-las de duas maneiras signicativas. Primeiro,
uma criança nasce querendo ser vista e compreendida por seu cuidador. Se isso não
ocorre, quando a criança for pequena, ela pode desistir de se conectar a outros. Ela
colapsa interiormente, tornando-se emocionalmente passiva ou desassociada.

O sistema nervoso de uma criança, até os dois anos de idade, não possui a capacidade
de auto acalmar-se. Ela deve conar em seu cuidador para guiá-la a um estado de
calmaria. Se o cuidador é incapaz de fazer isso, devido a elas estarem desreguladas,
frequentemente aborrecidas, ansiosas ou depressivas, o cérebro delas pode não se
desenvolver adequadamente. Como consequência, a criança cresce com a diminuição
do controle de suas emoções e comportamentos. Para enfrentar, o adulto deve evitar
situações que provoquem fortes emoções ou que façam elas agirem
compulsivamente. Isso pode levar ao isolamento social ou conitos frequentes com
outros. Portanto, se uma criança não consegue conar que seu cuidador estará lá
sempre; para todas as coisas; ou sem causar medo, a criança achará formas de se
adaptar aos comportamentos abusivos ou negligentes, podendo seriamente afetar a
habilidade delas de funcionarem como adultos.

TRAUMA TRANSGERACIONAL refere-se ao trauma que passa de geração em


geração. O ponto é, não só alguém pode experienciar um trauma, elas podem
também transmitir os sintomas e comportamentos da sobrevivência do trauma para
seus lhos, podendo passar para sua linhagem familiar. Cientistas descobriram que
mães que sofreram algum trauma na infância, podem passar memórias para seus
lhos ainda não nascidos. Análises mostraram circuitos cerebrais alterados em
crianças pequenas.

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COMO O TRAUMA AFETA O CÉREBRO/SISTEMA NERVOSO

Muitas pesquisam tem demonstrado que traumas possuem o poder de alterar o


sistema nervoso central. Impacta como nós processamos a memória, nos deixando
altamente reativos a qualquer estímulo que possa imitar a experiência original.

A maneira como o trauma inuencia o desenvolvimento cerebral será diferente em


cada pessoa. As seguintes regiões são as mais passiveis de mudanças após um evento
traumático

A amígdala é destinada para detectar e reagir a pessoas, lugares e coisas no meio


ambiente que podem ser perigosas. Isso é importante para segurança e sobrevivência.
Depois do trauma, a amígdala pode se tornar, ainda mais, sintonizada a ameaças em
potencial no ambiente, levando a vítima do trauma a monitorar de perto seus
arredores para se certicar de que eles são seguros. Além disso, ter fortes reações
emocionais a pessoas, lugares ou coisas que podem ser ameaçadoras e que lembram
do trauma. Isso elevou a atenção a uma ameaça potencial no ambiente que pode
tornar difícil prestar atenção, ir a novos lugares, ou interagir com novas pessoas.
O córtex medial pré-frontal (PFC) ajuda a controlar a atividade das amígdalas. Está
envolvido na aprendizagem de que pessoas e lugares, que antes eram ameaçadores,
são seguros agora. Conexões entre o PFC e as amígdalas, não é algo tão forte em
pessoas que experienciaram algum trauma. Como resultado, o PFC não é tão efetivo
na redução da reatividade da amígdala a pessoas, lugares e coisas que são de fato
seguras e não mais se caracterizam como perigosas. Isso leva a persistentes elevações
do medo e da ansiedade sobre indícios que lembram as pessoas do trauma que
viveram.

O hipocampo está envolvido em aprender e memorizar. Décits de aprendizagem e


memorização, tem sido visto em pessoas que passaram por algum trauma. Isso sugere
que traumas pode afetar como o hipocampo se desenvolve. O trauma provavelmente
impacta na variedade de aprendizados e memórias, bem como a habilidade de
aprender e lembrar de informações sobre o ambiente a sua volta. Como
consequência, pessoas que passaram por algum trauma podem não ser capazes de
guardar informações sobre como contar se uma situação é segura, e outra perigosa,
levando-os a experienciar situações inofensivas tão assustadoras. Por exemplo, uma
pessoa que viveu um trauma pode ter diculdades de distinguir entre atividades que
são perigosas (ex.: andar por um beco escuro) e seguras (andar por algum canto
escuro de casa).
De maneira crítica, essas mudanças no cérebro não são permanentes. O cérebro é
extremamente maleável, o que signica que muda de acordo com experiências sociais
e de ambiente. Isso nos possibilita aprender, formar relacionamentos com pessoas, e
desenvolver novas habilidades. Mudanças no cérebro que ocorrem depois do trauma,
podem melhorar com o tempo. É, particularmente, provável que aconteça quando as
pessoas experimentam segurança, estabilidade e ambientes acolhedores, depois do
trauma.

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FORMAS DE CURA

Abaixo algumas formas de curas para o trauma. Muitos podem ser usados sozinhos ou
em conjunto com a terapia. Abordagens baseadas no corpo são consideradas mais
ecazes do que terapia cognitiva. Elas não focam no passado, mas na experiência
presente. Elas tiram proveito da energia presa do trauma, ajudando no processo de
integrá-lo. Nosso sistema nervoso ca melhor regulamentado e não camos mais à
mercê de velhos padrões reativos.

Experiência somática - O método da Experiência Somática® é uma abordagem de


orientação corporal na cura de traumas e outros distúrbios de estresse. É o trabalho da
vida do Dr. Peter A. Levine, resultado de seus estudos multidisciplinares sobre estresse
siológico, psicológico, etologia, biologia, neurociência, práticas de cura dos povos
indígenas, e biofísica médica, associados a mais de 45 anos de aplicação clínica de
sucesso. A abordagem ES® (experiência somática) libera choque traumático, sendo a
chave para transformar TSPT, outras feridas emocionais e trauma do apego de
desenvolvimento precoce.

Terapia do Sistema familiar interno (IFS). É uma abordagem integrativa da


psicoterapia individual desenvolvida por Richard C. Schwartz. Combina o pensamento
sistêmico com a visão de que a mente é composta de subpersonalidades relativamente
discretas, cada um com seu próprio ponto de vista e qualidades únicas, IFS usa a teoria
dos sistemas familiares para entender como essas coleções de subpersonalidades são
organizados. A IFS acredita que nossas partes internas contêm qualidades valiosas e
nosso Eu central sabe como curar, permitindo que nos integremos como um todo. No
IFS, todas as partes são bem-vindas.

Teoria Polivagal pode ser integrada com outras modalidades. Consultores que usam
a teoria polivagal, imaginam uma hierarquia no mecanismo de defesa. Eles
reconhecem as mudanças de luta para fuga ou desligamento quando clientes se
sentem encurralados. Também podem reconhecer o movimento de desligamento para
luta ou fuga, isto é, oferecendo a possibilidade de mudanças no compromisso social,
se ou quando os clientes ganharem a noção de segurança. A teoria polivagal
aprofunda que a consciência aliada do conhecimento, da excitação lúdica e da
entrega restauradora, possui uma inuência única no sistema nervoso.

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(escolhemos duas apontados pelo Dr. Gabor Maté)
UMA SOCIEDADE INFORMADA SOBRE TRAUMAS

Quanto mais o trauma permanece sem tratamento, mais provável que nossas vidas se
tornem dominada pelos sintomas que ele produz.

Uma sociedade informada sobre traumas é o primeiro passo para quebrar ciclos de
traumas e voltarmos para nosso autêntico EU.

Vamos trabalhar juntos a m de criar um mundo mais inclusivo e informado sobre


traumas onde:

Reconhecemos a prevalência de traumas entre todos nós;

Nós aprendemos a perceber e sentir os sintomas dos traumas;

Reconhecemos que sempre que há uma reação, há uma ferida antiga;

Compreendemos a marca do trauma em nossos comportamentos e seu impacto em


nossos

relacionamentos;

Reconhecemos a dor nos outros e entendemos como essa dor podem conduzir o
comportamento deles;

Nós vemos a pessoa real por trás dos comportamentos e do trauma;

Apoiamos a conexão e a compaixão como fundamentos de segurança;

Nós entendermos que a experiência de segurança é o melhor começo para a cura;

Nós entendermos que todo trauma é intergeracional.

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