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Universidade Federal de Campina Grande

CCBS - Unidade Acadêmica de Psicologia


Processos Psicológicos Básicos

9. EMOÇÃO E AJUSTAMENTO

Ana Caroline Ferreira Lima


George Ciro Monteiro de Farias Filho
Sophia Silva Rodrigues Sampaio

As emoções estão presentes em todos os momentos da nossa vida. Desde a alegria por
tirar uma nota boa na prova, até a tristeza depois de terminar um namoro, é natural e comum a
todos os seres humanos experimentar emoções diversas ao longo de um dia, de uma vida. Mas
será que todos sentimos as mesmas coisas? Na mesma intensidade? Antes de responder essas
perguntas, é preciso se perguntar o que é emoção?

Emoção - Estados interiores de difícil controle, que não podem ser medidos
diretamente. Estão ligadas a nossas experiências, pensamentos e podem causar mudanças
fisiológicas. (Davidoff, 2012)

Ao redor do mundo, todas as pessoas estão, a todo tempo, sentindo coisas diferentes.
Sabemos que a cultura, o meio social e nossas particularidades influenciam em tudo na vida;
mesmo assim, cientistas conseguiram encontrar 6 emoções universais, que todos já
experimentaram e que são expressas e rotuladas de maneira muito parecida ao redor do mundo.
Elas são: alegria, medo, tristeza, raiva, desagrado e surpresa. (Ekman, 1982).
Como vimos no Cap. 6, uma das principais funções da Linguagem é comunicar
informações importantes a indivíduos da mesma espécie. Antes mesmo de aprender a falar, já
estamos nos comunicando de forma não verbal com os outros. No caso das emoções, essa
comunicação se dá através das expressões faciais, um tipo de mudança física com padrões
muito semelhantes: nós sorrimos quando estamos felizes, arregalamos os olhos quando estamos
assustados e desviamos o olhar quando estamos com vergonha. É importante que esse tipo de
padrão seja parecido e, de certa forma, inato a todos os seres humanos, pois é uma forma de
interação que não depende da escrita ou fala.
Na verdade, Darwin (1872-1965) entendia que as emoções eram necessárias à
sobrevivência, por exemplo, quando um bebê chora, na tentativa de informar aos pais que está
com fome. Outra função importante é a de aprender a ler as emoções dos outros, para que
possamos saber como reagir em determinadas situações desconhecidas. Isto é útil, por exemplo,
para evitar uma situação perigosa ou desagradável.

A NATUREZA DAS EMOÇÕES

As emoções possuem componentes subjetivos. comportamentais e fisiológicos:

Componentes subjetivos: estão ligados às nossas particularidades, aquilo que nos


diferencia dos outros. Não se trata de quantificar as emoções, mas de buscar entender como as
pessoas reagem e se relacionam com aquilo que sentem. Para isso, Harold Schlosberg (1954)
elaborou três escalas classificatórias: a primeira está relacionada com o grau de
agradabilidade da emoção, indo de agradável até desagradável. A segunda, se liga com os
sentimentos que te fazem prestar atenção ou rejeição a algum fenômeno. A última, diz respeito
a intensidade das emoções, variando entre o forte e o neutro.

Componentes comportamentais: uma maneira de observar como o nosso corpo reage


àquilo que estamos sentindo. Ekman (1982) e Izard (1982), utilizaram de fotos para desconstruir
as expressões faciais, permitindo uma análise mais detalhada dos músculos que foram
movimentados; a partir disso, eles perceberam que os sentimentos produzem padrões de
comportamento semelhantes em todos os participantes da pesquisa, dando a entender que esses
padrões são universais, hereditários e incontroláveis. Em relação ao resto do corpo, também
existem certos padrões de comportamento, como pular de felicidade ou puxar os cabelos por
preocupação. Dentro da nossa cultura, ou dentro da nossa família, também existem certos
comportamentos, que são aprendidos e repassados. Na minha família, por exemplo, existe o
hábito de coçar a garganta em situações de estresse ou ansiedade. Você consegue perceber um
comportamento que aprendeu com seus pais ou algum parente?

Componentes fisiológicos: é a maneira que as emoções alteram elementos biológicos


do nosso corpo. Existem alguns padrões fisiológicos observados por Eckman (1982) e sua
equipe, como o aumento dos batimentos cardíacos ser de 8 por minuto devido à raiva,
enquanto a felicidade causa o aumento de 2 batimentos por minuto. Pesquisas indicam que
esses padrões são transmitidos por hereditariedade. (Jost & Sontag, 1944; Plomin & DeFries,
1985; Reese at al., 1983.)

É claro que, não podemos cair na ilusão de que um componente não irá influenciar o
outro, muito pelo contrário, Zajonc (1985b) afirma que, por exemplo, as expressões faciais
podem alterar os nossos sentimentos e a fisiologia. Além disso, como somos seres muito
complexos, é extremamente comum termos emoções mistas, onde sentimos duas coisas muito
diferentes ao mesmo tempo. Após uma prova, você pode ficar aliviado mas, ao mesmo tempo,
preocupado com seu desempenho.
Outro fenômeno emocional é o de emoções volúveis, isto é, a compreensão de que as
emoções estão em constante mudança. Acerca disso, Richard Solomon (1977,1980) elaborou
a Teoria do Processo Oponente considerando que o cérebro humano tende a manter a
homeostase, regularizando a intensidade das emoções. Essa teoria se divide em 5 pontos:

1. A experiência causa uma reação forte, como o medo do ataque de um cachorro 2. Essa
emoção desperta uma pós-reação de efeito contrário. A ansiedade, por exemplo,
desperta uma pós-reação de calma
3. A pós-reação toma conta, suprimindo sua emoção geradora. É dado o nome ao modelo
pela junção da emoção e da pós-reação. Ex: ansiedade-calma
4. Enquanto a reação desaparece por completo ao final da experiência, a pós-reação
perdura por mais algum tempo
5. Por fim, quando a recorrência de experiências similares, a emoção tende a ficar mais
fraca enquanto a pós-reação tende a se intensificar a cada episódio

Como surgem as emoções?

Imaginemos que você está escutando uma música. Ela possui uma melodia lenta e a
letra melancólica, até que, mesmo sem saber direito o porquê, você começa a chorar
descontroladamente. De onde veio essa reação? E esse sentimento de tristeza?

Teoria da Resposta Periférica

Foi uma teoria proposta por dois autores: William James (1884-1968) e Thomas
Lange (1885-1922), ficando conhecida como teoria de james-lange
1. A emoção produz uma resposta periférica controlada pelo Sistema Nervoso Periférico.
Ex: ser abordado por um ladrão, provavelmente fará seu coração disparar, as mãos
começarem a suar e sua atenção ficar mais aguçada
2. As respostas são distintas para cada padrão, permitindo identificar e classificar os
diferentes sentimentos envolvidos. Nesse caso, as respostas fisiológicas caracterizam
medo e ansiedade

Atualmente, existe uma atualização dessa teoria, a hipótese do feedback inicial


(Eckman et al., 1983; Laid, 1984; Tomkins, 1982), que entende que a resposta para emoções
incitadoras acontece primeiro através de expressões faciais e padronizadas e depois por meio
de reações físicas.

Teoria do Incitamento Inespecífico

1. Eventos incitadores despertam, simultaneamente, sentimentos, comportamento


expressivo e reações fisiológicas
2. As reações fisiológicas não estariam ligadas a uma emoção específica, assim, teríamos
a mesma reação a eventos diferentes
3. A maneira de diferenciar as emoções seria de acordo com a intensidade e sentimentos
similares. No exemplo do roubo, a sua resposta pode ser vista como intensa, indicando
necessidade de tomar mais cuidado para evitar repetição do evento.

Em suma, ainda não é possível afirmar com certeza qual das duas teorias está correta,
apesar de que, existem elementos em cada uma delas que façam sentido. De todo modo, é
inegável que sinais faciais, fisiológicos, cognitivos e situacionais influenciam muito nas
experiências emocionais.

Falando agora de emoções específicas:

Raiva e Agressão

Para Zillmann (1979):

Raiva - emoção caracterizada por forte sentimento de contrariedade, seja real ou não
Agressão - qualquer ato praticado com o fim de ferir alguém

Ian Averill (1982,1983), foi um dos maiores estudiosos do fenômeno da raiva no


cotidiano. Em suas pesquisas, ele descobriu que as pessoas sentem uma raiva branda até média
várias vezes ao longo do dia e da semana. Os objetos de raiva normalmente são pessoas
próximas, objetos não-humanos e doenças. Ele também definiu as formas mais comuns de se
expressar essa raiva:

1. Agressão direta ou indireta: agressão verbal, física; descontar em um objeto


importante do outro, negar algum benefício ou serviço
2. Agressão redirecionada: descontar a raiva em outra pessoa ou objeto 3.
Respostas não agressivas: conversar com o ofensor ou uma pessoa neutra na
situação, realizar uma atividade calmante

A raiva e a agressão possuem uma relação direta, normalmente de causa-consequência.


Essa raiva pode surgir de diversos meios: frustração, tédio, dor, condições ambientais e sociais
desfavoráveis. Tais situações causam reações de raiva e agressão, que podem vir de maneira
defensiva, quando o intuito é acabar com algum estímulo nocivo, ou ofensiva, quando o
objetivo é atacar.
Lembrando que a agressão também pode ser induzida por incentivo, mesmo quando o
agressor não sente raiva, ou lida com sua raiva de maneira diferente. A obediência cega a um
líder, a pressão social, a vontade de pertencimento, o dinheiro, todos esses são fatores externos
que podem levar o sujeito a cometer atos agressivos.

Influências biológicas sobre a agressividade


Instintos agressivos: uma parte importante da teoria freudiana diz respeito as pulsões,
que levam o sujeito a violência, tratando-a como natural e inata do homem. Apesar de não
existir provas de que isso é verdade, existem alguns etiologistas, como Lorenz (1966), que
acreditam que a agressividade é instintiva e ajuda os animais (inclusive o ser humano) a
sobreviver.
Essa é uma posição muito controversa, afinal, existem outros pesquisadores afirmando
que a agressividade, mesmo em animais selvagens, precisa ser estimulada (Hammond, 1984;
Scott, 1984).
Capacidades biológicas: aqui, Moyer (1976, 1983) defende que mesmo se os animais
não forem naturalmente agressivos, eles ainda possuem mecanismos de defesa, que lhes
provêm capacidade de ataque e formas de aprender a usar de violência. Além disso, o autor
estabelece influências para essa agressividade:

1. Hereditariedade: alguns animais têm maior tendência a serem agressivos, em


geral, o grandes predadores
2. Sistemas cerebrais não envolvidos: outras questões cerebrais, normalmente
não envolvidas com a agressividade, podem potencializar a raiva
3. Química do sangue: drogas ou hormônios específicos
4. Química do cérebro: alguns níveis específicos de neurotransmissores

Influências ambientais sobre a agressividade

Padrões sociais: em algumas culturas, reações violentas são mais comuns e esperadas
que em outras
Aprendizado na família: acontece de maneira direta, quando os pais ensinam ou
incentivam reações agressivas, ou indiretas, quando os filhos aprendem de forma vicariante
Frustrações na escola: falando de crianças, não ser bem sucedido na escola pode gerar
frustração e reprovação dos pais, aumentando a chance de uma reação agressiva Condições
sociais: em especial a disponibilidade de armas e a pobreza são elementos que aumentam o
índice de criminalidade e de reações agressivas atualmente. A sensação de anonimato também
pode deixar as pessoas mais confortáveis a práticas violentas, como acontece na Internet

Prazer, Alegria e Felicidade

O prazer e a alegria surgem sempre que uma necessidade ou desejo são satisfeitos,
gerando emoções positivas. Kanner et al., 1981 afirma que os prazeres na vida cotidiana são
chamados de enlevamentos, variando de acordo com a idade dos indivíduos. Enquanto isso,
Maslow (1963) cunhou o termo experiência culminante, para se referir aos momentos mais
felizes da nossa vida.

Felicidade - satisfação geral com vida


De maneira geral, não é possível quantificar a felicidade; ela é um tipo de sentimento
muito pessoal e mutável, além de multidimensional, considerando que existem diversas áreas
da nossa vida. As perguntas que ficam são: Será que todo mundo é feliz? E você?

Ansiedade
Em relação as bases fisiológicas da ansiedade, é preciso discutir seus dois tipos:

Ansiedade Aguda: começa com uma mensagem de perigo, que vêm do ambiente e é
processada pelo Sistema Nervoso Central. O Córtex Cerebral exerce função de identificação,
avaliação e tomada de decisões sobre os estímulos recebidos. Após isso, ele se comunica com
o Hipotálamo e outras regiões do Sistema Límbico, que geram os sintomas. Estimulados pelo
hipotálamo, a Hipófise passa a liberar ACTH e betaendorfina, dois hormônios responsáveis
pelo aguçamento do pensamento e o prolongamento das memórias dos eventos estressantes que
o indivíduo passou.
Ansiedade Crônica: Selye foi o primeiro endocrinologista a explorar os efeitos da
ansiedade crônica, concluindo que os organismos experimentam uma Síndrome de Adaptação
Geral (SAG). O frio intenso, bactérias, conflitos acionam o mesmo padrão de respostas do
corpo:

1. Reação de alarme: resposta aguda a ansiedade, serve para gerar energia 2.


Resistência: quando a reação é prolongada o corpo permanece um tempo incitado 3.
Exaustão: altos ou prolongados níveis de estresse geram exaustão e perda muscular
O SAG acabou se demonstrando um pouco simplista, pois a ansiedade não é
invariavelmente nociva, além da síndrome não apresentar consistentemente causas da
ansiedade

Fontes de Ansiedade

Cientistas atuais identificam uma série de cargas crônicas que causam ansiedade.
Dentre elas estão: pobreza, viver em um lar conturbado, desemprego, mudanças de vida muito
bruscas, brigas… Até mesmo afazeres domésticos, supostamente simples e cotidianos podem
gerar ansiedade, afinal, ela é muito particular de cada ser. Os conflitos também são fonte de
ansiedade; eles surgem quando duas coisas opostas entram em embate, pressionando o
organismo em diferentes direções ao mesmo tempo
Tipos de conflito

Conflito de aproximação-aproximação: você se sente atraído por duas coisas ao


mesmo tempo
Conflito de esquiva-esquiva: quando são duas coisas que te repelem, mas você tem
que escolher entre elas
Conflito de aproximação-esquiva simples: quando você sente, ao mesmo tempo,
atração e repulsa por algo
Conflito de aproximação-esquiva dupla: quando você sente, ao mesmo tempo,
atração e repulsa por mais de uma coisa

Enfrentando a ansiedade

● Solução deliberada do problema: avaliar o problema racionalmente e buscar resolvê-lo


● Busca de apoio e catarse: buscar outras pessoas para expressar seus sentimento
● Agressividade: pode ser contra o causador da ansiedade ou um bode expiatório
● Regressão: pessoas apresentam comportamentos de quando eram mais jovens ●
Retraimento: não fazer nada respeito do problema
● Esquiva física: se retirar fisicamente da situação, protelar, tentar se distrair
Mecanismos de defesa: formas de enfrentamento de natureza mental

● Repressão: ligada a teoria psicanalítica, consiste em excluir o problema da tomada de


consciência
● Negação: negar a realidade material
● Fantasia: imaginar o que poderia ou não ter acontecido
● Racionalização: criar razões plausíveis para os problemas
● Intelectualização: enfrentar de forma analítica, a distância
● Formação reativa: esconder algo de si mesmo
● Projeção: projetar seus sentimentos e desejos em outras pessoas ou objetos

Consequências da ansiedade

Consequências cognitivas: a ansiedade altera a capacidade de aprendizagem e


processamento de informações. Retomando o cap. de Memória, vimos que para aprender é
preciso Codificar, Armazenar e Recuperar. Nesse sentido, pessoas ansiosas costumam ser mais
distraídas, possuir o pensamento mais bagunçado e ser menos adaptáveis, dificultando o
processo de codificação e, consequentemente recuperação da memória. Assim, é de se esperar
que as pessoas ansiosas apresentem problemas acadêmicos, pois a escola ainda segue um
padrão muito rígido de codificação e recuperação de memórias específicas, sem abrir espaço
para a criatividade e outras formas de se aprender. (Geen, 1980; Hamilton e Warburton, 1979;
Mueller, 1980; I. G. Sarason, 1984a; Sieber et al. 1977; Wine, 1982).

Consequências sobre a saúde física: quando a ansiedade persiste por um longo tempo,
ela pode começar a afetar a saúde física do indivíduo. (Dohrenwend & Dohrenwend, 1981;
Dohrenwend et al., 1984; Lazarus & Folkman, 1984; Zarski, 1984). As chamadas doenças
psicossomáticas, dizem respeito exatamente a esse tipo de doença que é afetada diretamente
por mazelas do psiquismo. Dentre essas, podemos citar: doenças infecciosas, asma, hipertensão
essencial, doenças cardíacas e até mesmo câncer.

Influências sobre as consequências da ansiedade

O modelo diátese-estresse diz que a hereditariedade cria alguma suscetibilidade,


enquanto a diátese que cria o problema. Isto é, ao passar por alguma situação estressora, as
pessoas vão desenvolver os problemas as quais têm predisposição. (Davison & Neale, 1982;
Haynes e Ganon, 1981).

Agente estressante: os tipos mais óbvios de influência para a ansiedade são: a


intensidade dos eventos, a quantidade de elementos estressores, sua imprevisibilidade e falta
de possibilidade de controle.
Apoio social: refere-se aos benefícios de se estar em um grupo e poder receber apoio
dele; é óbvio que pessoas sociáveis têm mais vantagem nesse quesito
Personalidade e Estilo: algumas características pessoais favorecem o indivíduo no
combate a ansiedade:
Sensação de controle: se sentir sobre controle da situação, entender os fatores que
envolvem o problema

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