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Damásio descobriu que pacientes com lesões na região orbitofrontal, como Elliot, não

conseguem fazer uso de marcadores somáticos. Têm recordações, mas as informações


guardadas perderam grande parte do seu conteúdo emocional (são, por exemplo, capazes de
relatar acontecimentos trágicos da sua vida, como a morte de alguém próximo, mas fazem-no
sem o mais pequeno traço de emoção, sem experienciar a tristeza ou o sentimento doloroso de
perda que, normalmente, acompanham este tipo de descrições).
Uma outra interessante hipótese foi formulada pelo neuropsicólogo Richard Davidson. Numa
série de estudos recentes, Davidson e a sua equipa descobriram uma maior ativação do córtex
pré-frontal direito na presença de emoções negativas e uma maior ativação do córtex pré-frontal
esquerdo perante emoções positivas. Este padrão é conhecido como assimetria cerebral das
emoções. Pesquisas a este nível mostram também que o hemisfério direito está mais envolvido
na compreensão do material emocional do que o esquerdo.
Davidson defende que esta lateralização das emoções está de alguma forma ligada à maior ou
menor motivação, isto é, à maior ou menor confiança e esforço na busca de objetivos.
Compreendemos hoje que os diferentes processos mentais são interdependentes. A última
geração de cientistas transformou a emoção no seu tema de investigação de eleição e mostrou,
através de pesquisas conclusivas, que nem a cognição e tão logica e racional como em tempos
se defendeu nem a emoção é tão ilógica e irracional como se julgava. Graças aos seus
trabalhos, conhecemos as etapas a que obedecem os processos emocionais e as estruturas que
neles estão envolvidas. Sabemos agora que, na presença de um estímulo, o nosso organismo
inicia um processo de interpretação, avaliação e produção de resposta emocional que implica de
forma especial a amígdala e o córtex orbitofrontal.
Ainda que não possamos pôr-nos no lugar de outra pessoa e experienciar as suas emoções da
mesma forma que ela, é-nos possível inferir o que se está a passar com os outros através das
suas expressões raciais e postura corporal. A componente comportamental das emoções é
muito importante, pois as expressões emocionais são comunicações não verbais poderosas nas
interações com os outros.
Na senda de Darwin, diversos teóricos contemporâneos, como Paul Ekman, têm realçado o
caráter inato de um conjunto de emoções básicas e a existência de expressões faciais
universais, isto é, biologicamente programadas e comuns a todos os indivíduos.
Em 1872, Charles Darwin defendeu, em Expressão das Emoções no Homem e Animais, que as
emoções são adaptativas, essenciais à sobrevivência e programadas pelo processo de seleção
natural. Sem ignorar a sua dimensão fisiológica, Darwin valorizou sobretudo a função
comunicativa e os aspetos expressivos da emoção.
A teoria de Ekman tem por base as expressões faciais e a forma como cada uma das emoções
básicas pode ser expressa através de músculos faciais. Ekman acredita que as expressões
faciais associadas a cada emoção são distintas entre si, involuntárias, previsíveis e fáceis de ler
para alguém que tenha as estudado. A sua pesquisa envolve a decomposição das expressões
faciais até aos seus elementos musculares específicos e o desenvolvimento de programas para
ajudar a treinar pessoas a tornarem-se observadores mais precisos das emoções e dos
sentimentos que assomam rapidamente ao rosto dos outros.
Sabias que, por exemplo, é possível distinguir um sorriso falso de um sorriso sincero? Num
sorriso falso ou forçado as pessoas movimentam somente os músculos que vão do queixo até o
canto do lábio, enquanto num sorriso sincero, gerado por uma emoção genuína, as pessoas
movimentam esses mesmos músculos e ainda outros ao redor dos olhos que são muito difíceis
de controlar? O tempo do sorriso também é significativo. O sorriso falso é fugaz, acende-apaga.
E também assimétrico, mais acentuado do lado direito do rosto.
De acordo com Ekman, são seis, eventualmente sete, as emoções humanas básicas (primárias
ou universais).
Para testar a hipótese de que o rosto reflete expressões emocionais e que essas manifestações
são compreensíveis para todas as pessoas, independentemente da cultura a que pertencem,
Ekman percorreu diversas sociedades - Argentina, Brasil, Chile, Japão, EUA -, incluindo as
culturas remotas da Nova Guiné (não expostas à televisão e a outros meios de comunicação
social), apresentando imagens de diferentes expressões faciais.
Ekman concluiu - e pesquisas subsequentes confirmaram-no - que as expressões faciais. de
medo, ira, nojo, espanto, tristeza e alegria são reconhecidas por pessoas pertencentes a culturas
de todo o mundo. Ainda assim, este investigador não rejeitou o papel da aprendizagem e da
cultura nas respostas emocionais.

Se pensarmos na ira, por exemplo, sabemos que a sua expressão autêntica em determinados
contextos sociais, públicos ou privados, nos pode ser, a maior parte das vezes, prejudicial. Por
isso, a maioria de nós aprendeu não só a controlar a sua intensidade como também a selecionar
os contextos mais adequados ou, melhor dizendo, menos inadequados para a sua expressão.
Nem sempre este autocontrolo é fácil ou conseguido, mas a verdade é que somos socialmente
moldados, através dos processos de socialização, no sentido de o construir.
Importa, pois, acrescentar que existem outros comportamentos que podem igualmente ser
definidos como emoções, por exemplo, o ciúme e a culpa, os quais se enquadram nas
chamadas emoções secundárias e sociais.

Não há dúvida que o papel desempenhado pela sociedade na formação das emoções
secundárias é maior do que nas primárias. Mas isto não quer dizer que as emoções secundárias
não sejam, também elas, biologicamente programadas, pelo menos em parte, ou que as
emoções primárias não possam ser influenciadas pela cultura. Por outro. lado, os investigadores
salientam que as regras de expressão são, em muitos casos, personalizadas.
 As emoções têm por base dispositivos inatos e estes mecanismos fazem parte da
história evolutiva da nossa espécie.
 Porém, a expressão da emoção traduz, em cada indivíduo e em cada cultura, a
interação entre fatores biologicamente programados e fatores socioculturais aprendidos.
Podemos então concluir que a experiência pessoal e a cultura não anulam a universalidade da
expressão emocional, mas sobrepõem influências que explicam muitas diferenças.
 Dão forma particular a alguns aspetos da expressão da emoção (exemplo: a morte de
alguém próximo esta, em muitas culturas, associada a expressões emocionais de
tristeza ou de dor, mas a forma como essas emoções se manifestam e são avaliadas
pelos outros é, claramente, cultural e pessoal).
 Dão forma particular àquilo que poderá constituir o indutor de determinada emoção
(exemplo: um lugar específico pode ser indutor de medo, tristeza ou alegria para alguém
- em função das suas vivências e história pessoal - e passar despercebido à maioria das
pessoas).
 Dão forma particular à cognição e aos comportamentos que se seguem à emoção
(exemplo: se tivermos má nota num teste ou num trabalho, ficaremos, provavelmente,
tristes; mas se avaliarmos o resultado como decorrente da nossa falta de empenho ou
excesso de confiança poderemos sentir alguma culpa e decidir, em função disso, que no
próximo teste nos empenharemos o bastante para que não se volte a repetir o mau
resultado).
As emoções não são apenas biológicas e, menos ainda, exclusivamente sociocultural são
processos adaptativos e autorreguladores complexos de natureza biocultural.

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