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NEUROCIÊNCIA DA COGNIÇÃO E DA

EMOÇÃO
UNIDADE IV
EMOÇÃO E EDUCAÇÃO
Elaboração
Luciana Raposo dos Santos Fernandes

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE IV
EMOÇÃO E EDUCAÇÃO.......................................................................................................................................................................5

CAPÍTULO 1
ESPAÇO DA EMOÇÃO.................................................................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 2
RAZÃO, EMOÇÕES E SENTIMENTOS.................................................................................................................................... 18

CAPÍTULO 3
A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL................................................................................................................. 25

PARA NÃO FINALIZAR...................................................................................................................................32

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................34
EMOÇÃO E EDUCAÇÃO UNIDADE IV

De acordo com o senso comum, há pessoas emocionais e racionais. Mas para a


neurociência, isso é um mito propagado há muito tempo, porque as emoções,
responsáveis por gerarem sentimentos, e a razão sempre se inter-relacionam
e se influenciam. Portanto, ambas precisam de equilibro para coexistirem,
principalmente se o intento é ter atitudes mais adaptativas em relação ao meio.

Apesar dessa constatação, o homem ainda é levado pelos instintos e, em


decorrência, ainda precisa aprender a identificar suas emoções e sentimentos,
para agir com a razão no dia a dia. Mas para que ele tenha domínio sobre
esse conjunto de competências e habilidades, que o ajudarão a ter percepção,
entender e gerenciar as próprias emoções, bem como a dos outros, para usá-
las a seu favor, ele necessita desenvolver a autoconsciência e obter a chamada
Inteligência Emocional intrínseca a ela, por meio da atenção continuada dada
aos seus próprios estados íntimos, como veremos a seguir.

CAPÍTULO 1
ESPAÇO DA EMOÇÃO

Historicamente, as emoções sempre foram consideradas como um aspecto


menor do ser humano em virtude da razão, tanto que eram vistas como um lado
indigno, impróprio e até mesmo desprezível (BRAGHIROLLI et al., 2003). Tal
visão se originou no dualismo platônico que distinguia duas faces humanas como
antagônicas: a racionalidade e a emotividade, ou a mente e o corpo.

Esse privilégio histórico da razão levou o ser humano a um desequilíbrio, pois


sua emoção foi, paulatinamente, negligenciada. Contudo, a ênfase exagerada ou
exclusiva em qualquer desses aspectos gera transtornos, já que o comportamento
humano deve ser guiado pela interação desses dois importantes componentes.

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Unidade iv | Emoção e educação

Além disso, a conceituação da emoção não é tarefa fácil. Por ser subjetiva não
podemos observá-la diretamente, apenas presumir sua existência através do
comportamento. O termo emoção é utilizado para significar os sentimentos e
os estados afetivos em geral, mas alguns autores tendem a atribuir significados
distintos para emoção e sentimento. Para Dorin, citado por Braghirolli et al.
(2003):

“os estados emocionais e sentimentais formam a afetividade,


um dos aspectos do comportamento humano. Por sentimento
entendemos o estado afetivo brando de prazer, desprazer ou
indiferença. São predisposições de prazer ou desprazer em relação
a um objeto, pessoa ou ideia que vem a formar os sentimentos.
Distinguem-se das emoções por serem reações mais calmas e com
uma experiência mais complexa, com mais elementos intelectuais”
(Dorin, citado por Braghirolli et al, 2003):

1. Em consenso, outros ainda admitem a existência de duas dimensões na


emoção: a experiência individual interna e a expressão comportamental
externa. No ser humano, essas duas dimensões nem sempre são congruentes,
ao contrário dos demais animais. Embora possamos estar tristes, podemos
expressar um comportamento antagônico, sorrindo e tentando transparecer
uma alegria interna. Por essa razão, é impossível precisar a emoção de uma
pessoa apenas por sua expressão. Esse é apenas um viés de observação, mas
pode não ser o único, já que há vários fatores que interferem na manifestação
e na exteriorização dos sentimentos. Fatores culturais, por exemplo, podem
modular os comportamentos. De qualquer forma, há três indicadores úteis
para a identificação das emoções:

2. Os relatos verbais, como solicitação da expressão verbal dos sentimentos


pessoais;

3. A observação do comportamento; e

4. Os indicadores fisiológicos.

Além disso, várias alterações fisiológicas e orgânicas ocorrem durante os estados


de emoção. As principais são a condutividade elétrica da pele que aumenta com
o grau de excitação emocional do indivíduo; as mudanças de pressão, volume e
composição do sangue e o ritmo cardíaco; as alterações na temperatura cutânea;
a mudança nas dimensões da pupila do olho; a secreção alterada das glândulas
salivares; e a tensão e o tremor musculares.

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Emoção e educação | Unidade iv

Figura 11. Existem duas dimensões na emoção, a experiência individual interna e a expressão
comportamental externa, que nem sempre são congruentes.

Fonte: https://www.elle.com/it/blog/news/a1371434/emoticon-emoji-telefonata-faccine-disegnini/.

Todos nós desenvolvemos as emoções desde o nascimento e, para muitos autores,


mesmo antes do parto, pois mesmo na vida intrauterina há estudos que indicam a
manifestação de sentimentos de prazer e desprazer. Watson, um dos precursores
da psicologia moderna, admitia três tipos básicos de reações emocionais inatas:
medo, raiva e amor. As demais se desenvolveriam a partir dessas respostas básicas.

Note que a visão de Watson é complementada pela abordagem que destaca


a importância da aprendizagem, da cultura e da sociedade na aquisição e no
desenvolvimento das emoções. Assim, acredita-se que o desenvolvimento
emocional depende não só de aprendizagem, mas também do desenvolvimento
e amadurecimento de células, tecidos, músculos e órgãos. Além disso, o aspecto
social é fundamental para a formação e o desenvolvimento das emoções, tanto
que por meio dos processos de imitação, condicionamento e compreensão,
adquirimos respostas emocionais

Na infância, por exemplo, a imitação é uma modalidade de comportamento que


coloca as crianças em contato com as emoções dos adultos e, consequentemente
com as suas próprias emoções. Entre elas, observar o comportamento dos
adultos as autoriza ou as desabilita a procederem, sentirem ou deixarem de
sentir de determinada maneira. Dessa forma, paulatinamente, as crianças vão
deixando de expressar, por exemplo, a ira pelas vontades não atendidas e tal
sentimento tende a assumir, por exemplo, faces mais próximas da frustração,
entre outros sentimentos.

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O condicionamento também é outro poderoso meio de aquisição de respostas


emocionais, que se dá pela associação de um estímulo neutro a outro capaz
de provocar uma reação emocional. Watson e Royner demonstraram essa
possibilidade por meio de um experimento que expunha uma criança a um ruído
súbito e estridente sempre que ela se aproximava de seu animal de estimação.
Em consequência, o menino passou a fugir do animal e, mais tarde de outros
animais, por se assemelharem à sua mascote. Portanto, houve, por parte da
criança, a vinculação do seu animal de estimação a uma sensação desagradável,
que passou a gerar uma emoção negativa associada a ele, embora originariamente
as emoções tivessem sido positivas. Consequentemente, as emoções podem ser
adquiridas por meio da compreensão, ou seja, a partir de um processo racional
e lógico, que nos faz compreender as consequências de determinado evento
(como a expectativa de conseguirmos um emprego e todas as consequências
decorrentes desse fato), que nos levam a sentir emoções (ansiedade e angústia,
por exemplo).

Para entender que o medo é aprendido e não herdado, assista o vídeo John
Watson - Teoria do Behaviorismo, que traz o experimento que citamos:
https://www.youtube.com/watch?v=ipHFpXAgjiA.

Podemos, então, concluir que há algo de inato e muito de aprendido no que se


refere às emoções. Portanto, tanto nascemos com algumas emoções, quanto
modelamos e desenvolvemos outras a partir da interação com o mundo em que
vivemos. O chorar, por exemplo, não é aprendido, mas quando, onde, quanto
e como chorar, os são. Ainda nesse exemplo, a clássica e retrógrada frase que
estabelece que o homem não chora, exige dos meninos uma nova emoção frente
a duas sensações conflitantes: o desejo de chorar e a impossibilidade de fazê-lo.

Notamos, então, que a nossa civilização exagerou no culto a supressão e a


repressão das emoções, tanto que, nos dias atuais, o controle e a racionalidade
são valorizados e desejados nas relações interpessoais. Embora certo controle
nos facilite o convívio social, “não é saudável negar a expressão emocional de
impulsos genuínos e naturais” (HILGARD, ATKINSON E ATIKINSON apud
BRAGHIROLLI et al., 2003). Afinal, estados emocionais intensos e prolongados
não expressos adequadamente provocam alteração na fisiologia normal do
organismo, que podem gerar doenças tais como úlceras pépticas, asma brônquica,
hipertensão arterial, úlceras de cólon, artrite, entre outras. Tais doenças, cuja
origem é psíquica ou emocional, são chamadas de psicossomáticas.

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Estudos de caso
Um ótimo estudo sobre as emoções e sua expressão no corpo humano resultou
do trabalho do Professor de Medicina de Reabilitação da Escola de Medicina da
Universidade de Nova York, também médico assistente do Instituto de Reabilitação
Howard A. Rusk da mesma instituição, John Ernest Sarno Jr. (1923 – 2017).
À época, ele foi menosprezado como alguém que não fazia medicina científica,
mas, aos poucos, Sarno tornou-se um dos médicos mais respeitados do mundo.
Durante sua pesquisa, ele fotografou e radiografou as costas dos pacientes e se
surpreendeu. Um dos fotografados sentia muitas dores nas costas e o outro, além
de não sentir nenhuma dor, funcionava 100%. A partir das imagens, Sarno começou
a se perguntar o porquê de algumas pessoas com o mesmo problema nas costas
não sofriam de dor, enquanto outras sentiam muita dor. Após muita pesquisa,
ele percebeu que muitas das razões (mas não todas) para as pessoas terem dores
nas costas não eram só a fisiológica, mas psicológica ou uma combinação entre
as duas. A partir daí, ele constatou que, quando suprimimos uma emoção, tal
como ciúmes, raiva ou algo que não gostamos (como ansiedade, desapontamento
etc.), ela precisa fluir de alguma forma e frequentemente atinge a parte do
sistema mais vulnerável ou fraca. Para muitas pessoas essa parte são as costas,
principalmente, a parte lombar. Porém, quando falamos sobre as emoções e as
aceitamos, choramos e escrevemos sobre elas, ocorre uma forma diferente de
fluidez natural.

Diante disso, Sarno ainda explicou que, muitas vezes, somos criados em ambientes
em que não é permitido expressar sentimentos como raiva, medo, ansiedade e,
em decorrência, quando crescemos, inconscientemente, não nos permitimos
sentir e bem expressar as emoções, produzindo o que ele chama de compressão
e enrijecimento muscular, o que provoca dores e acaba desviando atenção do
que realmente é a causa da ansiedade, medo, ciúmes ou raiva. Essas dores
podem durar anos a fio, caso não se observe a conexão e o que realmente está
provocando-as. Portanto, um bom exercício para o indivíduo é se perguntar em
momentos de dor: o que está provocando essa raiva em mim ou o que está me
deixando ansioso? Observe esse exemplo:

Um jovem homem que acaba de se casar, estava indo muito bem na vida, até
que um bebê entra em sua vida. Após um mês, as costas dele começam a doer.
Existe um motivo, é claro! De repente, ele tem que pegar seu bebê no colo e se
pega de um lado, força o outro. Parece, então, que é por isso que costas dele

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doem. Ao mesmo tempo, começam boatos. Alguns falam que parece o homem
perdeu sua independência depois que o bebê nasceu. Não dorme mais a noite
toda e sua vida social, amorosa e de trabalho mudou. Ele se sente triste, com
raiva, com ciúmes, mas não pode sentir nada disso, porque é seu filho. No seu
inconsciente, ele se mau, pois deveria amá-lo e não ter raiva ou ciúmes do próprio
filho. Então, ele reprime emoção que deveria fluir e flui pelo canal mais fraco
do seu corpo: costas que começam a doer como nunca doeram antes. É claro,
que ele vai relacionar tais dores com um desalinhamento nas costas, o que é
aceitável, pois ele nunca diria aos amigos nem ao médico que, na verdade, está
triste, com raiva e ciúmes do filho, pois isso não é aceitável em nossa cultura.

Assim, ao longo dos anos, Sarno que defendia a ideia de que se reprimimos um
sentimento, ele vai fluir de qualquer jeito, porque corpo e mente formam uma
entidade única, curou milhares de pessoas com dores nas costas. Entre essas
pessoas, algumas leram seu livro e outras participaram de um de seus workshops.
No entanto, é conveniente lembrar que, nem todas as dores são resultados da
mente nem das emoções. Se uma pessoa quebra uma vértebra, ela terá muita
dor, independentemente de quais sejam suas emoções.

O trabalho de Sarno nos mostra que corpo e mente não são duas entidades,
mas uma só! Ambos se afetam em uma troca constante, se o corpo não
está bem, a mente também não ficará e vice-versa. Portanto, deveríamos
expressar as emoções, afinal como humanos também sentimos raiva, ciúmes,
ódio, ansiedade. Ao permitir que essas emoções fluam de forma natural,
nos sentimos melhor tanto psicológica quanto fisiologicamente, pois corpo
emente são dois lados da mesma moeda!

A neurociência da aprendizagem em prol da educação


Quando falamos em Neurociência da aprendizagem podemos, resumidamente,
dizer que é o estudo da forma que ocorre a aprendizagem do cérebro. Tal processo
compreende desde como ocorre o estabelecimento das redes neurais na hora em
que está acontecendo o processo de aprendizagem, o jeito como os estímulos
chegam ao cérebro, à maneira como são consolidadas as memórias, até como
temos acesso a essas informações armazenadas.

Para Mietto (2009), os avanços e descobertas que ocorreram no segmento da


neurociência, principalmente aqueles ligados ao processo de aprendizagem, é
uma revolução para a educação. Ainda sob a ótica da autora, aquilo que era novo

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ou desconhecido sobre a aprendizagem, a neurociência já está desvendando,


pois o aprendizado ocorre no cérebro. Suas regiões, lobos, sulcos, reentrâncias
têm funções e são realmente importantes em um trabalho em conjunto, no qual
cada um necessita relacionar se com o outro.

Conhecer o papel do hipocampo na consolidação das memórias,


a importância do sistema límbico, responsável pelas emoções,
desvendar os mistérios que envolvem a região frontal, sede
da cognição, linguagem e escrita, poder nos fazer entender os
mecanismos atencionais e comportamentais, inclusive de crianças
com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH),
pois as funções executivas e o sistema de comando inibitório
do lobo pré-frontal é fundamental na educação, assim como
compreender as vias e rotas que norteiam a leitura e escrita (regidas
inicialmente pela região visual mais específica, a parietal), que
reconhece as formas visuais das letras e, acessando outras áreas,
faz com que a codificação e decodificação dos sons sejam efetivas.
Além disso, como não penetrar nos mistérios da região temporal
relacionada à percepção e identificações dos sons, que ajuda
o indivíduo a produzir os sons para que fonar as letras? Não
esquecendo a região occipital que tem como uma de suas funções
coordenar e reconhecer os objetos assim como o reconhecimento
da palavra escrita. Assim, cada órgão se conecta e se interliga nesse
trabalho, no qual cada estrutura com seus neurônios específicos
e especializados desempenham um papel importantíssimo nesse
aprender. (MIETTO, 2009, p. 1)

Portanto, podemos inferir que a neurociência é uma forte aliada do educador, uma
vez que o auxilia na identificação do indivíduo como uma pessoa única e especial,
um ser que pensa e que compreende a importância da sua individualidade no
mundo. Além disso, no momento em que avaliamos o processo de aprendizagem,
devemos notar um múltiplo enfoque, observando as questões psicológicas,
neurológicas e sociais de cada ser humano. No entanto, a aplicação da Neurociência
não é direta, como também não há mágica em ensinar e aprender, porém os
conhecimentos advindos dela podem orientar objetivos e estratégias educacionais,
de forma a tornar o trabalho do educador mais eficiente pelo fato dele conhecer
o funcionamento cerebral. Saber como se dá o processo de aprendizagem,
a organização e o funcionamento cerebral, com todos os seus processos, os
mecanismos da linguagem, da atenção e da memória, são conhecimentos de
grande contribuição para a atuação docente. Guerra (2011) complementa:

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A psicologia educacional, desempenhada por educadores


capacitados em neurociências básicas, poderá contribuir para o
uso adequado dos achados das neurociências e para a colaboração
entre as duas áreas. A inclusão dos fundamentos neurobiológicos
do processo ensino-aprendizagem na formação inicial do educador
proporcionará nova e diferente perspectiva da educação e de suas
estratégias pedagógicas, influenciando também a compreensão
dos aspectos sociais, psicológicos, culturais e antropológicos
tradicionalmente estudados pelos pedagogos. As teorias de
Piaget, Wallon, Vigotsky e mesmo a Pedagogia Inaciana estarão
sujeitas a novos significados sob o olhar das neurociências. [...]
É importante esclarecer que as neurociências não propõem uma
nova pedagogia e nem constituem uma panaceia para a solução das
dificuldades da aprendizagem e dos problemas da educação. Elas
fundamentam a prática pedagógica que já se realiza, demonstrando
que, estratégias pedagógicas que respeitam a forma como o cérebro
funciona, tendem a ser mais eficientes. [...] a neurociência por si
só não pode fornecer o conhecimento específico necessário para
elaboração de ambientes de aprendizagem em áreas de conteúdo
escolar específicas, particulares. Mas fornecendo “insights” sobre
as capacidades e limitações do cérebro durante o processo de
aprendizagem, a neurociência pode ajudar a explicar porque alguns
ambientes de aprendizagem funcionam e outros não (Guerra, 2011).

Diante desse contexto, Cosenza em parceira com Guerra (2011) apresentam,


em um trabalho, os desafios enfrentados pelos educadores no seu dia a dia,
destacando o lidar com as dificuldades de aprendizagem, em várias situações
enfrentadas:

» o estudante que não presta atenção na aula;

» o aluno que está perturbando a turma com brincadeiras inconvenientes ou


provocações;

» o aluno que não para quieto, ou o que tem facilidade em determinada


disciplina, mas fracassa em outras;

» o aluno que não tem problemas de comunicação, mas escreve garranchos;

» o estudante que é campeão de futebol, mas só tira notas baixas;

» além de crianças e adolescentes com limitações, com deficiências (visual,


auditiva); desarranjos ou diferenças no comportamento social, cognitivo
ou motor etc.

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Consequentemente, conhecer cada aluno e suas necessidades é fundamental para


a condução do processo educativo dentro da escola, pois isso pode demandar
abordagens distintas. A origem das dificuldades de aprendizagem é diversa e
sabe-se que essas dificuldades interferem na reorganização cerebral na produção
de comportamentos novos, que podem alterar a capacidade de aprendizagem.
Os autores ainda apresentam dados que estimam que de 15 a 20% de crianças
que se encontram no primeiro ano escolar têm algum tipo de dificuldade de
aprendizagem, porcentagem que pode aumentar ao longo dos seis primeiros anos.

Para reverter esse quadro, é preciso romper com a dicotomia mente versus
corpo e ampliar a abordagem da unicidade. Portanto, se ao falar de saúde,
devemos abarcar a saúde integral, na aprendizagem não é diferente, pois é
preciso considerar a saúde de uma forma ampla. Por mais que a aprendizagem
dependa de funções mentais e seus correspondentes funcionamentos cerebrais,
as pessoas funcionam como um todo. Isso significa que, tanto algumas questões
apresentadas pela disfunção de algum órgão, quanto algo que acontece no
ambiente, podem provocar prejuízo do funcionamento do sistema nervoso e,
em consequência, influenciar a atenção e a memória.

Para exemplificar essa situação, os autores apontam acontecimentos cotidianos,


como início da vida escolar, ambiente familiar agressivo, uso de drogas pelos
pais, desemprego familiar, chegada de um irmão, morte na família, mudança (de
casa, de cidade, de escola etc.) entre outras situações e eventos rotineiros, que
exigem da criança um processamento diferente de adaptação, que prejudicam
o desempenho em relação ao aprendizado delas, pois:

Os circuitos neuronais que deveriam estar envolvidos nas tarefas


escolares estarão ocupados com comportamentos que, naquele
momento, são mais relevantes para a sobrevivência e o bem-
estar. O cérebro desse aprendiz, portanto, não apresenta nenhum
problema, mas funciona com o objetivo de melhor adaptar o
indivíduo ao contexto ao qual ele está exposto naquela ocasião.
(COSENZA; GUERRA, p. 131)

Além desses aspectos, é preciso considerar também a participação de fatores,


como o uso de estratégias pedagógicas inadequadas ou os socioeconômicos,
que impedem o acesso a materiais que proporcionem experiências sensoriais,
sociais e motoras que favorecem o funcionamento adequado do sistema
nervoso. Eles também podem provocar baixo envolvimento e consequente
baixo desempenho escolar.

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Outra necessidade imperante é abordar os casos em que o cérebro do aprendiz não


apresenta o mesmo funcionamento de indivíduos com a mesma faixa etária e estágio
de desenvolvimento. Se esse funcionamento é diferente, há diferenças também
no comportamento, nas habilidades e potencialidades cognitivas, o que traz um
novo desafio para o educador, já que exige diferentes estratégias pedagógicas
ao longo do processo de aprendizagem e que devem visar o desenvolvimento
dos comportamentos e a aquisição de conhecimentos de acordo com estrutura
cerebral dele. Aqui é conveniente notar que, embora a aprendizagem aconteça
no cérebro, nem sempre a origem dos problemas e dificuldades está nele.

Consequentemente, é fundamental que a investigação neurocientífica aplicada


à sala de aula seja confiável e séria, antes mesmo que se estabeleça a aplicação
educacional dela. Porém, na medida em que os educadores, capacitados em
neurociências, desempenham a psicologia educacional, a colaboração deles torna-
se riquíssima e poderá colaborar tanto com o uso correto dos achados da área
quanto contribuir para o aprendizado, seja da criança, adolescente ou adulto.

Sobre a avaliação neuropsicológica


Capovilla (2007 apud BASTOS; ALVES, 2013) explica que a avaliação psicológica,
que tem por base a neuropsicologia cognitiva, traz como meta explorar os
processos relacionados às atividades mentais dos seres humanos e relacioná-las ao
estado do funcionamento neurológico. Desse modo, a avaliação neuropsicológica
é um exame diagnóstico que tem o objetivo de avaliar as funções cognitivas
tanto preservadas quanto comprometidas. Como resultado é obtido um perfil
psicológico do indivíduo. Já os recursos utilizados nos laboratórios de psicometria,
neurologia e neuropsicologia; bem como o processo avaliativo, ocupam uma
posição central nos estudos da neuropsicologia.

Bastos e Alves (2013) também ressaltam, conforme Mader (1996), que os


objetivos da avaliação neuropsicológica estão ligados à orientação do diagnóstico
diferencial, estabelecimento da presença ou ausência de disfunção cognitiva
e do nível de funcionamento em relação ao nível ocupacional, pois o objetivo
dela é localizar as pequenas alterações, na intenção de detectar as disfunções
que se encontram em estágios iniciais. Por isso, a demanda para as avaliações
neuropsicológicas normalmente vem do pediatra, da escola e da própria família,
quando as crianças apresentam comportamentos hiperativos ou despertam
suspeitas de desenvolvimento cognitivo atrasado. Já entre os adultos, os pedidos

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vêm de médicos que diagnosticam problemas degenerativos ou observam acidentes


de trabalho recorrentes, que podem indicar algum tipo de problema neurológico.
Consequentemente, a bateria de testes que é realizada varia conforme o caso e
as áreas que serão testadas.

Note que, no caso das crianças e adolescente que apresentam prejuízos na


aprendizagem, atrasos na fala e no andar, desatenção, hiperatividade, dificuldade
de comunicação, de expressão, baixa tolerância à frustração, entre outros
comportamentos observáveis, a avaliação neuropsicológica deve ser feita
pelo psicólogo especializado ou neuropsicólogo, que usaram instrumentos
neuropsicológicos para mensurar os dados coletados e que, depois, se unirão
aos dados de outros profissionais que acompanham o paciente. Nesse processo,
embora o diagnóstico só possa ser fechado pelo médico responsável pelo caso, ao
detectar algum déficit, o psicólogo especializado ou o neuropsicólogo poderão atuar
ativamente no atendimento do paciente, inclusive, fazendo o encaminhamento
dele para outros profissionais habilitados, como a reabilitação, para preservar
o que ainda não está deficitário.

Adendo sobre os transtornos mentais


Em relação aos transtornos mentais, muito se tem descoberto sobre a sua relação
com o sistema nervoso. Como descrevem Bear, Connors e Paradiso (2008, p. 662),
“o comportamento humano é o produto da atividade encefálica, e o encéfalo é o
produto de dois fatores que interagem: a hereditariedade e o ambiente”. Portanto
compreender os distúrbios neurológicos nos faz ver o papel desempenhado
pelos processos fisiológicos na função encefálica normal, como por exemplo,
“importância da mielina para a condução do potencial de ação e o papel do lobo
frontal na linguagem”. (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008, p. 662).

Além disso, o comportamento é único, pois o encéfalo é diferente em cada


um de nós, não só fisicamente, mas também pelas dessemelhantes histórias
e experiências vivenciadas. Tais diferenças, somadas às variações genéticas,
fazem do encéfalo um órgão fisicamente distinto, o que provoca a diversidade
de comportamentos que os humanos apresentam. Em relação à saúde mental,
“um indivíduo é dito mentalmente doente quando apresenta um transtorno
diagnosticável do pensamento, do humor ou do comportamento, que causa
dificuldades de adaptação ou prejuízo funcional”. (BEAR; CONNORS; PARADISO,
2008, p. 662).

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A partir dessa afirmação, os autores apontam os principais transtornos psiquiátricos


e a contribuição das neurociências para sua compreensão e tratamento: transtornos
de ansiedade (transtorno do pânico, agorafobia e TOC, que DSM-5 não faz mais
parte do capítulo dos transtornos de ansiedade, pois tem um capítulo próprio),
transtornos do humor (transtorno depressivo maior e transtorno bipolar) e
esquizofrenia (paranoide, desorganizada e catatônica). Porém, eles ainda dizem
que, os transtornos de ansiedade são diversos e “diferem em termos dos estímulos
que evocam a ansiedade (reais ou imaginárias) e as respostas comportamentais
que o indivíduo utiliza para tentar diminuí-la” (BEAR; CONNORS; PARADISO,
2008, p. 665), embora tenham a expressão patológica do medo em comum.

Além deles, os transtornos do humor também diferem entre si. Os transtornos


depressivos têm graus e forma se consideramos o episódio naquele momento.
Portanto, eles podem ser depressivo maior ou bipolar. Ainda segundo os autores,
“pesquisas que têm considerado o papel dos sistemas modulatórios difusos,
com seu longo alcance e diversos efeitos” (BEAR; CONNORS; PARADISO,
2008, p. 665), como os transtornos do sono, do apetite e a perda da capacidade
de concentração. Também apontam os estudos de desequilíbrio do eixo HPA
(hipotálamo-pituitária adrenal) e sua implicação na depressão. Eles também
consideram que “entender as bases neurobiológicas da esquizofrenia representa
um dos maiores desafios das neurociências, porque esse transtorno afeta muitas
das características que nos fazem humanos: o pensamento, a percepção e a
consciência” ((BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008, p. 680).

Nesse sentido, apontam estudos que trazem a esquizofrenia principalmente como


uma doença genética, em que genes específicos parecem aumentar a possibilidade
de desenvolvê-la, pois desempenham importantes papeis na transmissão e
plasticidade sináptica e no crescimento das sinapses. Dessa forma, eles retomam
a questão de que mesmo gêmeos idênticos desenvolvem encéfalos diferentes,
devido a fatores importantes, como os ambientais. . Associando a esquizofrenia
às mudanças físicas no cérebro, eles apresentam, além das alterações no tamanho
dos ventrículos e do encéfalo, que são significativamente maiores em pessoas que
apresentam o transtorno, alterações funcionais e estruturais, com agrupamentos
anormais de neurônios, alterações nas sinapses e em diversos sistemas de
neurotransmissores.

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Emoção e educação | Unidade iv

De acordo com a Neurociência, o cérebro é a sede da inteligência, mas ainda


há muito que se estudar, aprender e se aprofundar nesse sentido, porque tal
área ainda é nova e caminha a passos lentos. Apesar disso, suas hipóteses
já se confirmaram em muitas descobertas importantes para entendimento
do ser humano que, por sua vez, é extremamente complexo, inclusive como
objeto de estudos.

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CAPÍTULO 2
RAZÃO, EMOÇÕES E SENTIMENTOS

Já abordamos bastante a emoção, mas ainda é preciso fazer uma distinção entre
ela e o sentimento, pois, embora sejam usados como sinônimos, ambos são bem
diferentes, tanto para o psiquismo como para a psicologia. Para começar, é
preciso ficar claro que a emoção é uma relação imediata a um estimulo, que traz
sensação física e emocional ao indivíduo, mas que não envolve o pensamento,
por se tratar de um conjunto de respostas químicas e neurais baseadas nas
memórias emocionais, que surgem no sistema límbico de forma inconsciente.

Figura 12. A emoção é uma construção pessoal que precisa ser exteriorizada, o que acontece
de forma natural e distinta, por meio de reações físicas, caso do choro.

Fonte: https://theconversation.com/no-crying-doesnt-release-toxins-though-it-might-make-you-feel-better-if-thats-what-you-
believe-106860.

Logo, a emoção é uma construção pessoal, o que já explica o fato dela ser sentida
de forma diferente por cada pessoa. Além disso, como a própria etimologia da
palavra emoção, originária do latim, significa movere é preciso exteriorizá-la,
o que acontece de forma distinta, mas natural, por meio de reações físicas, que
incluem alteração da respiração, choro, vermelhidão, tremores etc. Quando as
retemos, as emoções geram doenças ou dores psicossomáticas em nós.

Sobre definições
É conveniente notar que, se por um lado, não existe uma definição exata do
conceito de emoção nem quantas emoções existem, por outro, muitos estudos
são realizados com base nas teses tanto do psicólogo Robert Plutchik, que diz
que o ser humano tem oito emoções básicas (confiança, alegria, tristeza, medo,

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Emoção e educação | Unidade iv

raiva, surpresa, aversão e antecipação) quanto do psicólogo Paul Eckman, que as


resumem em seis (alegria, tristeza, medo, surpresa, desgosto e ira). Entre essas
emoções, em consenso, a maioria dos pesquisadores diz que a raiva, o medo, a
alegria e a tristeza são consideradas básicas, pois estão ligadas ao instinto de
sobrevivência.

De qualquer forma, não podemos afirmar que existem somente essas emoções, até
porque, às vezes, elas se misturam, enquanto também dão origem aos sentimentos
que, por sua vez, são uma espécie de juízo consciente das emoções e, assim,
mostram-se relacionados com a avaliação pessoal. Portanto, eles são sentidos por
cada pessoa de acordo com a sua experiência, personalidade, cultura e criação.
Em decorrência, podemos até dizer que os sentimentos podem ser definidos
como a observação das emoções e das reações provocadas por elas.

Relação entre emoção e sentimentos


Como as emoções dão origem aos sentimentos, esses dois tipos de reação estão
totalmente relacionados entre si. Consequentemente, da mesma forma que uma
emoção desperta um sentimento, um sentimento também é capaz de gerar mais
emoções da mesma espécie, em um ciclo psicológico que está em constante
desenvolvimento. Mas enquanto as emoções quase sempre transparecem e são
passageiras, pois estão ligadas ao corpo, os sentimentos que são mais duradouros,
muitas vezes, são fáceis de esconder. Isso ocorre porque a emoção está ligada
ao corpo, ou seja, ao exterior, enquanto o sentimento faz parte do universo da
mente, que é interior.

Considerando essa condição, aprender a ter consciência da reação e do que se


sente diante de cada emoção, é essencial tanto para se recuperar mais facilmente
de uma emoção ou sentimento negativo quanto manter o equilíbrio emocional.
Mas isso não é fácil, pois requer autoconhecimento e muita resiliência. Afinal se
um cachorro bravo começa a correr atrás de indivíduo, por exemplo, é natural
que ele sinta temor, que é uma emoção, e, em seguida, certos sentimentos, como
medo, raiva, desespero etc. A situação é de perigo e lidar com ela é complicado,
porque o cérebro vai liberar hormônios para o indivíduo reagir à situação e se
salvar, o que em psicologia é chamado de comportamento de luta ou fuga. Mas
após a resolução de tal situação, toda vez, que se esse indivíduo pensar em um
cachorro, o sentimento que ele irá sentir é o do medo recorrente, mesmo não
estando frente a frente com o animal. Porém, caso ele pensasse e o cachorro se
fizesse presente, certamente ele iria passar novamente por outra emoção.

19
Unidade iv | Emoção e educação

Tal condição poderia ser mudada, se o indivíduo fosse consciente sobre e


trabalhasse com sua própria emoção, por meio da construção de novos hábitos,
novas formas de pensar e se comportar, pois as emoções podem ser amenizadas,
tanto quanto os sentimentos gerados por elas, de acordo com o que é chamado
de Inteligência Emocional (tema do próximo capitulo). Consequentemente,
medo, raiva, tristeza e alegria, além de fazer parte do desenvolvimento humano,
quando bem direcionados, também servem para impulsionar e proteger a pessoa
de diversas situações.

Primeiro contato com as emoções e sentimentos


De acordo com os neurocientistas e outros pesquisadores, o primeiro contato com
as emoções e sentimentos já acontece durante a vida intrauterina, tanto que já
está cientificamente comprovado que medo, tristeza, raiva, alegria, amor e até a
culpa dos pais, são transferidos para o bebê durante a gestação. A partir dessas
experiências, após o nascimento, até os sete anos de idade, a criança desenvolve
seus próprios programas emocionais, pois enquanto registra e interpreta todas as
emoções e experiências de acordo com seus sentimentos, ela também transforma
suas interpretações em padrões emocionais e comportamentais que podem
refletir por toda a vida. Além disso, de acordo com Abraham Maslow, professor
de Harvard, os seres humanos nascem já com um senso de valores pessoais
positivos e negativos, que afetam inclusive a maneira de reagir aos sentimentos.

Tipos de emoções
Normalmente, elas são dividas em três tipos:

1. Primárias: são as emoções mais perceptíveis por aqueles que estão ao


redor do indivíduo que as sentem, caso do pânico, da alegria etc.

2. Secundárias: as emoções secundárias nem sempre são visíveis, pois podem


ser oriundas de nervosismo, vergonha ou culpa.

3. De fundo: são aquelas emoções imperceptíveis, que proporcionam uma


forma de bem ou mal-estar, como calma ou angústia.

Para memorizar mais facilmente os tipos de emoção, observe o quadro que


destacamos:

20
Emoção e educação | Unidade iv

Quadro 2. Esquema sintetizador de emoção e sentimento.

Emoção Sentimento

Reação Do cérebro a um estímulo ambiental. Resultado de uma experiência emocional.

Tipos Primárias, secundárias e de fundo.

Exemplos » Alegria; » Amor;


» Surpresa; » Felicidade;
» Raiva; » Ódio;
» Pânico » Inveja
Fonte: https://www.diferenca.com/emocao-e-sentimento/.

Sobre a razão
Diferentemente das emoções e dos sentimentos, a razão é a capacidade humana
de aplicar conscientemente a logica para buscar a verdade e tirar conclusões
de informações novas ou já existentes. Por isso, a razão que está associada ao
pensamento e a cognição e, ao mesmo tempo, envolve o intelecto que, por sua
vez, ajuda o indivíduo a produzir argumentos logicamente validos, também é
chamada de racionalidade. Portanto, o raciocínio também faz parte da razão e,
devido às características que presenta, pode ser dividido em raciocínio logico
(que engloba os raciocínios dedutivo, indituvo e abdutivo) e raciocínio intuitivo
(processo de raciocínio se dá por meio da intuição), que embora válido, tende
a ser pessoal e subjetivo.

Consequentemente, o raciocínio, seja ele um hábito ou uma intuição, é uma das


maneiras pelas quais o pensamento se transforma em uma ideia. Ao mesmo
tempo, ele é responsável por fazer os indivíduos entenderem as informações
sensoriais de seus ambientes; conceituarem dicotomias abstratas, como causa
e efeito ou verdade e falsidade, além de noções de bem ou mal, por exemplo; de
partirem para a tomada de decisões executivas; de mudarem conscientemente em
relação a objetivos, atitudes, crenças, tradições e instituições; e de demonstrarem
capacidade de liberdade e autodeterminação. Nesse âmbito, a razão explica
ou justifica eventos e comportamentos. Se alguém, por exemplo, tenta avaliar
uma decisão moral, determinada por um conjunto de regras sociais relativo
a um contexto especifico, ele o faz pela razão, após raciocinar, apreender,
compreender, ponderar e julgar, habilidades que podem ser consideradas sinónimo
de inteligência.

21
Unidade iv | Emoção e educação

Princípios lógicos da razão


A razão utiliza princípios da natureza tautológica (são autoexplicativos), que
o ser humano assume de modo íntimo e universal como verdadeiros, que são
descritos pela lógica que, por sua vez, é a disciplina encarregada de descobrir
as regras que regem a racionalidade. Observe:

1. Princípio da identidade: mostra que um conceito é sempre o mesmo


conceito (A é igual A).

2. Princípio da não contradição: mostra que o mesmo conceito e sua


negação não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo nem no mesmo sentido
(A não é uma negação de A).

3. Principio do terceiro excluído: mostra que entre o ser ou não ser de


um conceito, não há situação intermediária (A é ou não é).

Fundamentando-se nesses princípios, a razão humana é capaz de conferir coerência


ou contradição às proposições, prestando atenção tanto ao seu conteúdo quanto
nas suas relações lógicas. Portanto, a partir desses princípios, neurocientistas
e psicólogos cognitivos tentam estudar e explicar como as pessoas racionam,
quais processos cognitivos e neurais estão envolvidos e como fatores culturais
afetam as inferências que as pessoas fazem.

Razão versus emoção


No dia a dia podemos ser tanto mais emocionais quanto mais racionais, porque
somos um misto de razão versus emoção, como atesta a psicologia que afirma que
não há uma separação entre as duas, mas uma mistura que precisa ser dosada
pelo equilíbrio. Tal necessidade é decorrente das escolhas que devem ser feitas
e que não são nada fáceis, pois elas envolvem razão e emoção, ou consciência e
coração. Quando escolhemos pela razão, abrimos mão da emoção e vice-versa.
Só isso já explica porque adiamos uma decisão referente à escolha, pois há o
medo de sofrer ou de se arrepender.

Voltando ao exemplo anterior do cachorro bravo, vamos imaginar que o indivíduo


é um amante dos animais. Pela emoção, ele não iria correr do animal bravo,
admirável por suas características. Mas pela razão, desconhecendo o cachorro,
a melhor opção seria se afastar no intento de se proteger da braveza do animal.
No primeiro caso, se ficasse, o indivíduo poderia levar uma mordida que o faria
sofrer. No segundo, pode surgir o arrependimento por não tentado um contato
com o animal.

22
Emoção e educação | Unidade iv

Embora esse exemplo seja específico, no dia a dia, se agirmos apenas com a
emoção ou com a emoção a tendência é errar. Portanto, é preciso equilibrar
razão e emoção e ainda fazê-las andar juntas, no momento de fazer escolhas e
tomar decisões.

Relação entre emoção e razão


Em abril de 2019, durante a Rio Creative Conference teve um espaço dedicado
exclusivamente ao cérebro humano, objeto de pesquisa do neurocientista
português Antonio Damasio que, durante sua palestra, revelou que há uma
profunda colaboração simbiótica entre razão e emoção. Portanto, ambas são forças
totalmente interdependentes, que se articulam entre si mesmas. Portanto, uma
não funciona sem a outra, como nos mostra a história evolutiva dos seres vivos.

Conforme Damásio explicou, durante a evolução natural, o estabelecimento de


respostas comportamentais adaptativas foram moldadas por processos emocionais,
mas a escolha de respostas em determinadas situações sempre refletiu o uso da
razão. Questionamentos forma levantados: no momento de decidir é a emoção
que determina a resposta? Pode haver um comportamento puramente racional
sem a influência da emoção? Em resposta o neurocientista apresentar uma série
de argumentos anatomofisiológicos sobre a formação e processamento de imagens
no cérebro e defende que o nosso raciocínio é feito por sequências ordenadas
de imagens. Esses dados apontam para uma íntima relação entre as estruturas
cerebrais envolvidas na gênese e na expressão das emoções (o sistema límbico)
e áreas do córtex cerebral ligadas à tomada de decisões (córtex frontal).

Em seguida, ele introduziu a hipótese do marcador somático, elaboração


neuropsicológica da teoria da emoção de William James (1884). Segundo Damásio,
existem emoções primárias e secundárias e sentimentos associados às emoções.
As emoções primárias envolveriam disposições inatas para responder a certas
classes de estímulo, controladas pelo sistema límbico. As emoções secundárias
seriam aprendidas e envolveriam categorizações de representações de estímulos,
associadas a respostas passadas, avaliadas como boas ou ruins. As estruturas
do córtex cerebral seriam o substrato neural das emoções secundárias, mas a
expressão dessas emoções também envolveria as estruturas do sistema límbico.
Apesar desta interrelação, essas duas formas de emoção são distintas, tanto que
um sorriso espontâneo é bem diferente do intencional.

23
Unidade iv | Emoção e educação

Nesse âmbito, os sentimentos seriam a experiência de tais mudanças associadas às


imagens mentais de uma situação específica. Portanto, a emoção está intimamente
associada à memória; ou seja, ao contexto em que é adquirida na experiência
individual.

Por meio de experimentos conduzidos por Damásio, evidências que mostram que
há uma sobreposição dos substratos neurais subjacentes à memória e emoção
foram levantadas e já demonstraram que pacientes com lesões do córtex frontal
apresentam correlatos neurovegetativos quando experimentam uma emoção
primária. Entretanto, eles não conseguem responder a imagens aterrorizantes,
mesmo quando sabem que elas vão perturbá-los. Ao mesmo, tais experimentos
também demonstraram que esses mesmos pacientes eram incapazes de se
comportar racionalmente em uma situação de jogo, devido às falhas no julgamento
de ações com relação ao futuro.

Dessa forma, ficou constatado que pessoas com déficits na integração das
funções subjacentes ao córtex frontal e ao sistema límbico são incapazes de
emoções secundárias, ou de aprendizagem emocional. O que falta a Damásio
e seus colaboradores revelarem quais são os substratos neurais envolvidos na
aprendizagem emocional.

Podemos, então, concluir que separar a razão da emoção é algo inadequado,


pois ambas são uma parte indispensável da racionalidade, pois são as emoções
que permitem o equilíbrio das decisões, o que contraria tanto o filósofo, físico e
matemático francês Rene Descartes (1596 – 1650) quanto o prussiano Immanuel
Kant (1724 – 1804) considerado como o principal filósofo da era moderna, que
diziam que o raciocínio deve ser feito de uma forma pura e dissociada das emoções.

O erro de Descartes – Emoção, razão e o cérebro humano: O livro de Antonio


Damásio mostra como, na verdade, a ausência de emoção e de sentimentos
pode destruir a racionalidade. Utilizando-se de inovadoras descobertas da
neurobiologia, o autor que também é um notável observador de distúrbios
psicológicos e neurológicos, desafia os dualismos tradicionais do pensamento
ocidental (sobre mente e corpo, razão e emoção, explicações biológicas e
culturais), ao oferecer tanto uma visão científica e integrada do ser humano
quanto sugerir hipóteses surpreendentes sobre o funcionamento do cérebro
humano, enquanto ainda proporciona uma fascinante exploração da biologia
da razão e de sua dependência da emoção. Publicado pela Editora Companhia
das letras, o livro com 264 páginas, custa aproximadamente, R$ 48,00.

24
CAPÍTULO 3
A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Inteligência emocional (IE) é o nome dado ao conjunto de competências e


habilidades que, quando estão sob o domínio, sempre ajudam o ser humano a ter
percepção, entender e gerenciar as próprias emoções, bem como a dos outros,
para usá-las a seu favor. Portanto, a natureza da IE é intrínseca a autoconsciência,
no sentido de uma atenção continuada dada aos próprios estados íntimos.

Tal conceito foi apresentado inicialmente pelos cientistas Peter Salovey e John D.
Mayer, em 1990, em um artigo que publicaram na revista científica Imagination,
Cognition and Personality, no qual também debateram sobre o significado e a
função das emoções e apontaram formas de investigar as habilidades sociais e
emocionais. Apesar disso, o termo só se tornou popularizado em 1995, ano em
que Daniel Goleman, psicólogo, publicou o livro Inteligência Emocional, no qual
categorizou a IE em cinco habilidades ou pilares:

Figura 13. Em relação à IE o que ainda precisa ser determinado é se ela é uma inteligência real ou
não.

Fonte: http://www.anthonybontrager.com/2017/09/26/eq-critical-leaders/.

1. Autoconsciência: reconhecer as próprias emoções;

2. Controle emocional/autorregulação: não basta apenas conhecer as


emoções, é necessário saber controlá-las e lidar com elas;

3. Automotivação: capacidade de redirecionar as emoções para um objetivo


específico e motivar a si mesmo;

25
Unidade iv | Emoção e educação

4. Empatia: reconhecer os sentimentos dos outros e criar empatia por eles;

5. Relacionamentos interpessoais/habilidades sociais: quando se


tem empatia pelo sentimento do outro, é possível adquirir habilidades que
beneficiam relacionamentos e interações sociais.

Vários modelos foram desenvolvidos para medir a IE. O modelo de traço, de


2001, desenvolvido por Kinstantinos V. Petrides concentra-se no autorrelato de
disposições comportamentais e habilidades percebidas. Já o modelo de habilidade,
desenvolvido por Salovery e Mayer em 2004, concentra-se na habilidade do
indivíduo de processar informações emocionais e usá-las no âmbito social. Por
sua vez, o modelo original de Goleman é considerado misto, pois combina o que,
desde então, foi modelado separadamente como capacidade e característica de
IE. Porém, pesquisas recentes têm focado no reconhecimento das emoções, no
que se refere à atribuição de estados emocionais com base em observações de
pistas visuais e auditivas não verbais. Além disso, estudos neurológicos também
já procuram caracterizar os mecanismos neurais da IE. Entre outros aspectos,
estudos nessa área já mostraram que pessoas com alto IE têm maior saúde
mental e melhor desempenho, seja na vida acadêmica ou profissional, embora
nenhuma relação causal tenha sido demonstrada.

Consequentemente, o que ainda precisa ser determinado é se a IE é uma inteligência


real ou não, porque em termos de validade incremental sobre o quociente de
inteligência (QI) e os cinco traços de personalidade (extroversão, afabilidade,
abertura, conscienciosidade e neuroticismo), metanálises já indicaram que
certas medidas dela têm alguma validade, mesmo quando controlam o QI e a
personalidade.

Para Goleman, por exemplo, as competências emocionais não são talentos


inatos, mas capacidades aprendidas que devem ser trabalhadas e podem ser
desenvolvidas para atingir um desempenho excepcional. Ele ainda postula que
os indivíduos nascem com uma inteligência emocional geral que determina seu
potencial para aprender competências emocionais. Porém o modelo misto dele,
no qual se destacam as cinco habilidades, ou pilares (descritos acima), foi bem
criticado na literatura de pesquisa, a ponto de ser chamado de mera psicologia
pop. Apesar disso, duas ferramentas de medição da IE formam baseadas no
modelo de Goleman:

1. Inventário de Competências Emocionais (ICE): foi criado em 1999, mas


a edição mais recente, que recebeu o nome de Inventário de Competências
Emocionais e Sociais (ESCI), foi desenvolvida em 2007, embora também tenha

26
Emoção e educação | Unidade iv

surgido a Competência Social e Emocional - Edição Universitária (ESCI-U)


pouco depois. Todas essas ferramentas desenvolvidas por Goleman e pelo
teórico organizacional grego-americano, também professor universitário
de comportamento organizacional, psicologia e ciência cognitiva, Richard
Eleftherios Boyatzis (1946) fornecem uma medida comportamental das
Competências Emocionais e Sociais.

2. Avaliação de Inteligência Emocional: foi criada em 2001 pelos


doutores Travis Bradberry e Jean Greaves, que pode ser considerado um
autorrelato, baseado em habilidades desenvolvido como uma medida de
comportamento emocionalmente competente que fornece uma estimativa
da inteligência emocional de uma pessoa. Vinte e oito itens são usados para
​​
obter uma pontuação total e produzir quatro pontuações em escala composta,
correspondendo às quatro habilidades principais do modelo de inteligência
emocional de Goleman. Note que os resultados obtidos por essa avaliação
foram comparados com os do teste Salovey e Mayer (MSETT) e indicaram
uma correlação positiva que não foi significativa, devido a distinção entre
os construtos medidos por ambas as avaliações.

Psicologia popular, também abreviada como psicologia pop, refere-se aos


conceitos e teorias sobre a vida mental humana e o comportamento, que
se baseiam supostamente na psicologia e que são aceitos pela população
leiga. Portanto, o termo que normalmente é usado de forma pejorativa
para descrever conceitos psicológicos que parecem simplificados demais,
desatualizados, não comprovados, mal compreendidos ou mal interpretados,
ainda é empregado tanto para apontar autores, consultores, palestrantes e
artistas que são amplamente percebidos como psicólogos, não por causa
de suas credenciais acadêmicas, mas porque projetaram essa imagem ou
foram percebidos dessa forma em resposta a seus trabalhos, quanto em
referência à indústria da psicologia popular, uma rede extensa de fontes
cotidianas de informação sobre o comportamento humano, considerada
pela maioria dos especialistas como válida e eficaz, mas que se destina ao
uso do público em geral.

O modelo de traço de Petrides


Ele tem como base uma constelação de autopercepções emocionais localizadas
nos níveis mais baixos da personalidade. Essa definição de IE abrange disposições
comportamentais e habilidades autopercebidas que são medidas por autorrelato,
de acordo com a estrutura de personalidade. Portanto, o modelo do traço, por

27
Unidade iv | Emoção e educação

ser mais amplo, inclui o modelo de Goleman. Porém a conceituação de IE como


um traço de personalidade leva a um construto que está fora da taxonomia da
capacidade cognitiva humana, o que é uma distinção importante na medida em
que se relaciona diretamente com a operacionalização do construto e as teorias
e hipóteses que são formuladas sobre ele.

Teoria dos Cinco Grandes Traços de Personalidade


Tal método, também chamado de Modelo dos Cinco Fatores, além de ser a teoria
mais aceita pelos psicólogos, oferece um plano simples para entender os outros
testes e melhorar os relacionamentos. Como uma teoria da personalidade, ela
afirma que a personalidade da personalidade pode se resumir a cinco fatores
(conscienciosidade, afabilidade, neuroticismo, franqueza, extroversão), conhecidos
como a sigla CANOE Ao contrário de outras teorias de traços que classificam os
indivíduos em categorias binárias (introvertidos ou extrovertidos), o Modelo dos
Cinco Grandes afirma que cada traço de personalidade é um espectro. Portanto,
os indivíduos são classificados em uma escala entre duas extremidades.

Demais medidas de IE
Existem muitas medidas de autorrelato de EI, mas nenhuma delas avalia
inteligência, habilidades ou aptidões, como seus autores costumam afirmar.
Elas apenas se limitam aos traços de inteligência emocional. Além disso,
quando baseados nas habilidades, eles podem fazer interpretações subjetivas
do comportamento. Hoje, a medida de inteligência emocional mais usada e
amplamente pesquisada de autorrelato ou autodesquema, como é chamada
atualmente, é o EQ-i 2.0, originalmente conhecido como BarOn EQ-i, método
anterior a de Goleman.

Já o Trait Emotional Intelligence Questionnaire (TEIQue) fornece uma


operacionalização para o modelo de Petrides, que conceitua a IE em termos de
personalidade. O teste abrange 15 subescalas organizadas em quatro fatores:
bem-estar, controle, emocionalidade e sociabilidade. Por sua vez, as propriedades
psicométricas do TEIQue foram investigadas em um estudo em uma população
de língua francesa, na qual foi relatado que as pontuações do TEIQue foram
globalmente distribuídas e consideradas confiáveis. Apesar disso, os pesquisadores
também descobriram que as pontuações do TEIQue não estavam relacionadas ao
raciocínio não verbal, que eles interpretaram como suporte para a visão dos traços

28
Emoção e educação | Unidade iv

de personalidade de EI (em oposição a uma forma de inteligência). Portando,


as pontuações do TEIQue foram relacionadas positivamente a alguns dos Cinco
Trações de personalidade (já citados anteriormente), bem como inversamente
relacionadas a outros (como alexitimia e neuroticismo).

Outros estudos genéticos quantitativos, realizados de acordo com o modelo IE


da característica, revelaram efeitos genéticos significativos e herdabilidades para
todas as pontuações. Ao mesmo tempo, estudos recentes, um deles uma metanálise,
que desenvolveram comparações diretas de vários testes EI produziram resultados
muito favoráveis ​​para o TEIQue.

A IE superior
Uma revisão publicada na Annual Review of Psychology em 2008 indicou que
a inteligência emocional está positivamente correlacionada com:

» Melhores relações sociais para crianças - entre crianças e adolescentes,


a alta IE se correlaciona positivamente com boas interações sociais e
relacionamentos e, negativamente, com o desvio das normas sociais e
comportamento antissocial medidos dentro e fora da escola, conforme
relatado pelas próprias crianças, suas respectivas famílias, bem como seus
professores.

» Melhores relações sociais para adultos – a alta IE entre adultos está


correlacionada com uma melhor autopercepção da habilidade social e
relações interpessoais mais bem-sucedidas, menos agressão e problemas
interpessoais. Indivíduos com alto IE são percebidos de forma mais positiva
pelos outros, porque se mostram mais agradáveis, socialmente habilidosos
e empáticos.

» Melhor desempenho acadêmico - a alta IE está correlacionada com maior


desempenho acadêmico, conforme relato de professores, mas geralmente
não a notas mais altas, uma vez que o fator de QI é levado em consideração.

» Melhor dinâmica social no trabalho – o que implicam em melhor


capacidade de negociação.

» Melhor bem-estar - a alta IE está positivamente relacionada com uma


maior satisfação com a vida, autoestima elevada e níveis mais baixos tanto
de insegurança quanto de depressão. Negativamente, ela se correlaciona
com escolhas de saúde e comportamento insatisfatórios.

29
Unidade iv | Emoção e educação

Concluímos, então, que indivíduos emocionalmente inteligentes são mais


propensos tanto a ter uma melhor compreensão de si mesmos quanto tomar
decisões conscientes, a partir de uma combinação de emoção e lógica combinadas,
tanto que, nos últimos anos, a relevância e a importância da inteligência emocional
em contextos de liderança empresarial, negociação comercial e resolução de
conflitos têm sido cada vez mais reconhecidas. Ao mesmo tempo, as qualificações
profissionais e o desenvolvimento profissional contínuo incorporaram aspectos
de compreensão das emoções e desenvolvimento de maior percepção das
interações emocionais. Portanto, inteligência emocional é a capacidade mental
que envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar
abstratamente, compreender ideias complexas, aprender rapidamente, inclusive
com a experiência, ter empatia em relação aos outros, entre outros aspectos, no
intento de se adaptar e se sobressair nos mais vários ambientes.

Criticas ao trabalho de Goleman


Em seus primeiros trabalhos, ele foi criticado por muito pesquisadores ao
assumir a existência de um tipo de inteligência associada às emoções, tanto
que Eysencl (2000) ressaltou que a obra de Goleman contém equívocos sobre
o que é inteligência, indo mesmo contra o consenso científico sobre o assunto:

“[Goleman] exemplifica mais claramente que o absurdo da


tendência de classificar quase qualquer tipo de comportamento
como ‘inteligência’[...] Se essas cinco ‘habilidades’ definem
‘inteligência emocional’, esperaríamos alguma evidência de que
são altamente correlacionadas; Goleman admite que eles podem
não estar relacionados, e se não podemos medi-los, como saber se
eles estão? Portanto, toda a teoria é construída em areia movediça:
não há uma base científica sólida.” (EYSENCK, 2000)

Da mesma forma, Locke (2005) afirma que o conceito de EI é em si uma má


interpretação do conceito de inteligência, tanto oferece uma interpretação
alternativa: não é outra forma ou tipo de inteligência, mas é inteligência (entendida
como a capacidade de compreender abstrações) aplicada a um domínio particular
da vida: emoções. Isso sugere que o conceito deve ser rotulado novamente como
uma habilidade. Consequentemente, a essência dessa crítica é que a pesquisa
científica depende do uso válido e consistente de construtos, e que antes da
introdução do termo EI, muitos psicólogos já haviam estabelecido distinções

30
Emoção e educação | Unidade iv

teóricas entre fatores como habilidades e realizações, hábitos, atitudes e valores,


traços de personalidade e estados emocionais. Portanto, alguns especialistas
acreditam que o termo IE confunde conceitos e definições aceitos.

Adam Grant (2014) alertou sobre a percepção comum, mas errônea, de IE


como uma qualidade moral desejável em vez de uma habilidade, tanto que
ele afirma que uma IE bem desenvolvida não é apenas uma ferramenta
fundamental para atingir objetivos, mas também tem um lado negro, como
arma para manipular os outros, roubando-lhes a capacidade de raciocinar.

31
PARA (NÃO) FINALIZAR

A Razão e a Emoção (poesia da autora portuguesa Débora Benvenuti)

A Razão e a Emoção

eram duas amigas inseparáveis.

Tinham as suas divergências,

porque a Razão sempre achava

que sabia tudo,

embora a Emoção muitas vezes

superasse a Razão,

em todas as suas argumentações.

Viviam as duas num mesmo coração,

nem sempre com a mesma convicção.

A Emoção era muito sensível.

Bastava alguém falar macio,

pedir baixinho,

contar algum acontecimento triste

e lá vinha a Emoção crescendo

dentro do coração,

até sufocar a Razão,

naquele espaço tão pequeno,

onde as duas conviviam,

sempre que podiam.

Quando a Razão percebia

que a Emoção se envolvia

em algum assunto do Coração,

32
Para (não) finalizar

chamava a sua atenção,

mas nem sempre era ouvida

e tão absorvida ficava

em suas emoções,

que não ouvia os argumentos

da Razão.

Quando percebia que havia agido

por impulsos,

seduzida pela Paixão,

ficava decepcionada com o Coração

e o culpava por toda a sua

agitação.

Prometia a si mesma,

nunca mais cometer os mesmos erros

e ouvir a voz da Razão.

O problema é que a Razão

nem sempre tinha razão.

Então a Emoção se sentia perdida

e acabava culpando o Coração,

por colocar a emoção

sempre acima da Razão...

33
REFERÊNCIAS

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Referências

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arteducesp67.htm.

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VAN DER VEER, René; VALSINER, Jaan. Vygotsky: uma síntese. São Paulo: Loyola, 1996.

Imagens
Figura 1. https://wonderfulmind.net/category/neurosciences/.

Figura 2. https://www.renewallodge.com/5-ways-quitting-drinking-affects-your-brain/.

Figura. https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/biologia/sistema-nervoso-periferico.

Figura 4. https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Divisao-fisiologica-do-cerebro-humano-o-
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Figura 5. https://luisdegarrido.com/research/cognitive-neuroscience-and-neurobiology-luis-de-garrido/.

Figura 6. https://hhd.psu.edu/graduate/dual-title-degree-programs/social-and-behavioral-neuroscience.

Figura 7. https://www.apa.org/action/science/brain-science/education-training.

Figura 8. https://travelmag.vn/o-buc-tranh-nay-ban-thay-dieu-gi-dau-tien-loi-giai-se-khien-ban-co-
them-nguon-nang-luong-tich-cuc-trong-ngay-d1610.html.

Figura 9. https://drspar.com/neuroplasticity/.

Figura 10. https://www.neofect.com/us/blog/cognitive-rehabilitation-therapy-combats-dementia-stroke.

Figura 11. https://www.elle.com/it/blog/news/a1371434/emoticon-emoji-telefonata-faccine-disegnini/.

Figura 12. theconversation.com/no-crying-doesnt-release-toxins-though-it-might-make-you-feel-better-


if-thats-what-you-believe-106860.

Figura 13. http://www.anthonybontrager.com/2017/09/26/eq-critical-leaders/.

Tabelas
Tabela 1. Bear, Connors e Paradiso, 2008.

Tabela 2. Lundy-Ekman, 2008.

Tabela 3. Gazzaniga, Heatherton, 2005.

Quadros
Quadro 1. https://www.slideserve.com/leo-love/linguagem (slide 10/56).

Quadro 2. https://www.diferenca.com/emocao-e-sentimento/.

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