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Avaliação e Intervenção Neuropsicopedagógica


Unidade I - Avaliação e Intervenção Neuropsicopedagógica
Introdução
Esta disciplina tem por objetivo explanar e discutir pontos importantes do processo
psicodiagnóstico, como a Entrevista Inicial, elucidando técnicas para a realização de um trabalho mais
assertivo, em que o profissional possa cercar-se de subsídios que garantam coleta e observação de
maior número de dados possível sobre o sujeito, queixas e seus antecedentes. Em seguida abordaremos
a observação e o registro no processo psicodiagnóstico, como forma de avaliar os comportamentos do
paciente em relação à queixa principal, complementados pelo levantamento de dados escolares, que
são de fundamental importância na interpretação e no prognostico.

O conteúdo desta vídeo aula tem por objetivo guiar o profissional na realização de avaliação
psicopedagógica, fornecendo fundamentação teórica e subsídios para aprofundar-se no processo de
modo que garanta a assertividade e o bom encaminhamento para intervenções.
Os instrumentos aqui referenciados são todos validados e com grande aceitação na prática em
consultórios, pesquisas e estudos científicos.
Cabe ao profissional estudar do modo mais aprofundado possível, entre os diversos aqui mencionados,
e empenhar-se na coleta de dados para que o prognóstico e a intervenção do paciente alcancem os
melhores resultados possíveis.
Unidade I - Avaliação e Intervenção Neuropsicopedagógica

Plano de Aula

A criança, através da formação e utilização das diversas manifestações simbólicas –


linguagem, imagem mental, brincadeira simbólica, desenho representativo, imitação na ausência do
modelo, fabulação lúdica -, adquire condições de, gradativamente, ir se percebendo como alguém
que constrói a própria história de vida e de modo ativo e interativo, com progressiva tomada de
consciência da lógica subjacente às suas ações (OLIVEIRA E BOSSA, 1996)

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Unidade I - Avaliação e Intervenção Neuropsicopedagógica
Capítulo 1 - Sobre a avaliação psicopedagógica

A avaliação psicopedagógica desempenha um papel de extrema relevância no


trabalho dos profissionais da educação. Por meio do seu uso é possível apurar quais são as
dificuldades de aprendizagem, a intensidade com que ocorrem, as possíveis interferências
que as originam, permitindo assim, a aplicação do método mais apropriado de intervenção.

A avaliação e a intervenção psicopedagógica costumam ser conduzidas por uma


equipe multidisciplinar integrada por profissionais da Psicologia e da Educação. A equipe
garante o desenvolvimento de uma avaliação e intervenção psicopedagógica que inclua as
necessidades e potencialidades da criança ou jovem, além dos diversos contextos da sua
vida, especialmente as circunstâncias familiares e escolares.
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Capítulo 1 - Sobre a avaliação psicopedagógica

Um Breve Histórico
Se buscarmos o significado de psicodiagnóstico no dicionário, encontraremos:
“Determinação de capacidades, aptidões e tendências psicológicas, por meios clínicos e
experimentais.”
A palavra diagnóstico origina-se do grego diagnosticu e significa discernimento, faculdade
de conhecer, capacidade de ver através de, fazendo uso de conceitos, noções e teorias
científicas.
Durante muito tempo, soube-se que a psicologia utilizou o modelo médico (psiquiatria,
pediatria e neurologia), tentando manter a maior distância possível da relação com o
paciente, para proceder com eficiência e objetividade. Acredita-se que isso tenha
ocorrido por falta de identidade própria, que lhe permitisse saber quem era e qual seu
verdadeiro papel nas ocupações de saúde mental. Após um período de identificação com
outras áreas do conhecimento, a Psicologia encontra seu verdadeiro papel, conseguindo
maior autonomia em seu pensamento e sua prática.
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Capítulo 1 - Sobre a avaliação psicopedagógica
De acordo com Ancona Lopez (1995), psicodiagnóstico não tem o mesmo significado de diagnóstico
psicológico, pois todo psicodiagnóstico pressupõe a utilização de testes, e em diagnóstico psicológico esses
instrumentos nem sempre são necessários ou pertinentes.
Desde a psicofísica de Weber, os estudos de Galton e o pioneirismo de Binet, foram criados centenas de
instrumentos de diagnóstico psicológico, atingindo diferentes funções da mente humana. Um teste psicológico é
uma técnica usada para se manter a validade e fornecer os resultados desejados com precisão. Os primeiros
conceitos do psicodiagnóstico foram introduzidos entre o final do século XIX e o início do século XX, por meio de
Galton, que deu início ao estudo das diferenças individuais, de Cattell, que apresentou as técnicas especificadas
como testes mentais, bem como de Binet, que sugeriu o uso do exame psicológico (por meio da mensuração
intelectual) em uma condição de coadjuvante da avaliação pedagógica.
Dessa maneira, a paternidade do psicodiagnóstico foi atribuída a esses três autores: Galton, Cattell e
Binet.

Fonte: https://www.educaplay.com/en/learningresources/1567990/html5/francis_galton.htm
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Capítulo 1 - Sobre a avaliação psicopedagógica
O psicodiagnóstico caracteriza-se por uma situação com papéis definidos, onde o sujeito
busca ajuda para uma queixa específica tendo, como objetivo, conseguir a descrição e a compreensão
mais completa e possível da personalidade do sujeito ou grupo familiar.
Walter Trinca (1998) introduziu o psicodiagnóstico compreensivo, técnica segundo a qual o terapeuta
deve interagir com o paciente de maneira empática, a fim de obter aprofundado conhecimento acerca
do funcionamento da sua mente.
Hoje em dia, há grande foco no uso de instrumentos mais objetivos e entrevistas diagnósticas
mais bem estruturadas, com o incremento no desenvolvimento de avaliações computadorizadas de
personalidade que vêm oferecendo novas opções.

Temos observado o crescimento da avaliação psicológica, sobretudo diante do estímulo


provocado pela realidade do mercado. Dessa forma, a produção de trabalhos nessa área devolve o
conhecimento à classe e será de grande importância para o desenvolvimento constante do processo
em si. Se cada profissional ou estudante buscar desenvolver um trabalho de excelência, abordando e
respeitando toda a gama de especificidades aqui desenvolvidas, será possível corresponder
satisfatoriamente às expectativas dos participantes envolvidos no processo, corroborando uma prática
profissional que vem assumindo uma importância social cada vez mais ampliada.
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Capítulo 1 - Sobre a avaliação psicopedagógica

A intervenção psicopedagógica constitui um modo profícuo de responder às demandas e às


dificuldades de diversas crianças ou jovens. Mais especificamente, a psicopedagogia constitui um campo
do conhecimento que se desenvolve a partir de dois campos com distintos princípios teóricos e
metodologias práticas: a pedagogia e a psicologia. Em meio às diversas áreas de intervenção
psicopedagógica, salienta-se a assimilação de métodos de aprendizagem e a estimulação da motivação
da criança ou do jovem

A conduta do professor em relação as dificuldades dos seus alunos que apresentam transtorno
de déficit de atenção devem priorizar a atenção às dificuldades desses alunos, mais evidentes do que as
suas potencialidades. É mais comum pensar-se em dificuldades de aprendizagem associando-as aos
acertos dos alunos. Experimentam-se determinados sucessos que possivelmente abrirão portas para a
constituição de um vínculo benéfico com os demais campos de aprendizagem, que agora os alunos
precisam desenvolver.
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Capítulo 1 - Sobre a avaliação psicopedagógica

Busca-se entender como acontece o processo do conhecimento, o que interfere no aprendizado,


suas diferentes etapas e as diversas teorias que têm o condão de converter o trabalho do professor em um
processo científico e, dessa maneira, ele atravessará o caminho prática-teoria-prática.

• Como se utiliza da linguagem enquanto brinca ou desenha para se comunicar ou se expressar?


• Utiliza-se de suas lembranças pessoais para criar?
• Como trabalha com a realidade e a fantasia? Consegue organizar representações dramáticas cheias de vida
ao mesmo tempo que se mantém alerta e flexível ao que se passa a sua volta?
• Como coordena seus esquemas motores, organiza seu corpo num contexto simbólico? Seus movimentos
são flexíveis, precisos e espontâneos?
• Altera de forma significativa seu comportamento frente a determinadas situações ou pessoas?
• O que ela representa?
• Representa a si mesma inserida de forma dinâmica em contextos espaço-temporais significativos?
• Quais os temas que mais aparecem? Como a criança lida com eles?
• Que pessoas são representadas e como o são? Quais são omitidas?
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Capitulo 2 - Sobre a Intervenção Psicopedagógica
Em caso negativo:

Caso a criança ainda não represente e já esteja com idade próxima ou superior a 2 anos é
recomendável que se peça uma complementação da avaliação por meio de um diagnóstico psicológico e
neurológico.
Com idade próxima a 1,5 anos, deve-se procurar comportamentos pré-simbólicos, assim como analisar
bem a forma como a criança está usando o seu corpo para se relacionar, principalmente em situações ligadas à
mãe. É sempre interessante que se peça nova avaliação para dois ou três meses depois acompanhar a
emergência das manifestações da função semiótica.

A psicopedagogia, muitas vezes, é vista numa direção por meio da qual somente são contemplados
crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem, um leve engano. Pois a psicopedagogia não está
somente direcionada a crianças e adolescentes.
Ela está alinhada também a adultos e estende sua ação tanto para a clínica como para a instituição, na
busca do tratamento ou da prevenção das dificuldades de aprendizagem. Segundo porque ela não está somente
dirigida a pessoas com dificuldades de aprendizagem, mas também ao processo de aprendizagem com todas as
suas nuances, canalizando o seu fazer para o como se aprende, para o sujeito que aprende, para a aprendizagem.
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Capitulo 2 - Sobre a Intervenção Psicopedagógica

Quando a psicopedagogia se destina ao adulto, observa-se com mais clareza que a aprendizagem
não acontece somente nas escolas, quando se trabalham conteúdos, teorias, quando se tem um rendimento
de aprendizagem a considerar, uma avaliação a fazer, um juízo de valor a elaborar. Em verdade, aprendemos
sempre, a cada dia, a cada instante, a vida toda. Não existe lugar, tempo ou idade para se aprender. "Em todas
as idades, em toda esfera social, nós aprendemos"1.
Aprendemos desde que nascemos. Segundo Visca; em seu esquema evolutivo da aprendizagem,
esta começa a se manifestar desde as primeiras relações vinculares entre a mãe e a criança e vai se
estendendo pela família, pela comunidade, pela escola até a vida adulta e continua existindo sempre.

Esse nível de complexidade que a aprendizagem traz consigo provoca em cada um de nós grandes
desafios, seja numa ação direcionada à criança e ao adolescente ou numa ação direcionada ao adulto.
De um modo comum, é o adulto quem busca o auxílio do psicopedagogo quando, por vezes, descobre
sozinho, que tem alguma dificuldade para aprender. Essa descoberta surge normalmente, quando sente a
dificuldade estampada na leitura ou na escrita.
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Capítulo 3 - Instrumentos para Avaliação Neuropsicológica
A avaliação neuropsicológica infantil envolve aspectos como maturação biológica,
desenvolvimento cognitivo, relação entre cognição, ensino formal, estilos de interação familiar e cultura,
entre outros.
Essas particularidades da infância, devem ser adotados paradigmas clínicos de avaliação cognitiva
desenvolvidos especificamente para esta população. São usados procedimentos como anamnese
(direcionada a familiares/responsáveis da criança), observações clínicas, análise de exames complementares,
administração de tarefas ecológicas, aplicação de escalas e testes neuropsicológicos padronizados (Strauss,
Sherman & Spreen, 2006). Estes últimos diferenciam-se em procedimentos de rastreio (screening),
instrumentos de exame breve e baterias completas.
A avaliação pode iniciar com a identificação de possíveis alterações do desenvolvimento
neuropsicológico por meio de um instrumento de aplicação mais rápida (Lezak, Howieson & Loring, 2004).
As crianças identificadas como apresentando déficits são submetidas a procedimentos de avaliação com
baterias mais completas, aprofundando-se a avaliação dos processos cognitivos de interesse. Reitan e
Wolfson (2004) salientam que o objetivo da avaliação é proporcionar informações que podem auxiliar no
delineamento de estratégias apropriadas de intervenção, orientadas para promover o desenvolvimento das
funções neuropsicológicas ou para minimizar o impacto de disfunções sobre a aprendizagem e o
comportamento.
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Capítulo 3 - Instrumentos para Avaliação Neuropsicológica
Em face desta grande demanda existente de instrumentos específicos para avaliação cognitiva infantil,
o desenvolvimento ou adaptação de novos instrumentos para crianças é necessário, incluindo processos de
adaptação (ou construção) para diferentes culturas.
No que tange aos instrumentos de avaliação neuropsicológica infantil, há três práticas comuns
observadas na literatura:
1) Uso de instrumento desenvolvido para todo o ciclo vital com normas para crianças (como exemplo o Teste
Wisconsin de Classificação de Cartas);
2) Desenvolvimento de instrumentos específicos para crianças (tal como a Children's Memory
Scale, desenvolvida por Cohen em 1997);
3) Adaptação de instrumentos elaborados para adultos em busca de uma versão aplicável e sensível para
crianças (exemplo: versão Teddy Bear Cancellation).
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Capítulo 3 - Instrumentos para Avaliação Neuropsicológica
O processo de desenvolvimento do NEUPSILIN-INF seguiu etapas sucessivas recomendadas pela
literatura internacional:

Etapa 1: Análise do instrumento original NEUPSILIN e definição das funções e tarefas a serem adaptadas para
avaliação neuropsicológica infantil: a partir da experiência e da validade do NEUPSILIN (Fonseca, Salles &
Parente, 2009), as funções, tarefas e processos foram analisados e aqueles aplicáveis na infância foram
selecionados. Estas provas foram adaptadas, ou seja, providas com instruções e estímulos apropriados (nível
linguístico e atencional) para a faixa de desenvolvimento de crianças em idade escolar.

Etapa 2: Desenvolvimento de novas tarefas consideradas fundamentais para a avaliação na infância: consultou-
se sistematicamente a literatura concernente aos modelos teóricos e aos instrumentos e tarefas de avaliação de
funções neuropsicológicas. ). Esta etapa foi importante para definir os atributos ou propriedades das funções a
serem estudadas, suas definições conceituais e operacionais, gerando a versão preliminar do instrumento
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Capítulo 3 - Instrumentos para Avaliação Neuropsicológica

Etapa 3: A primeira versão do NEUPSILIN-INF foi aplicada em 29 crianças (16 provenientes do Rio Grande do Sul e 13
de São Paulo), representando os futuros grupos normativos, categorizados por:

a) idade/série, 6 anos (n=3), 7, 8 e 9 anos (n=4 em cada grupo), 10 anos (n=5), 11 anos (n=7) e 12 anos de idade
(n=2);

b) tipo de escola (12 de escola pública e 17 de escola privada);

c) sexo (15 meninas e 14 meninos).

A aplicação foi individual, seguindo os procedimentos de aplicação e registro dessa primeira versão do
manual do instrumento. Para a análise dos dados, as autoras se reuniram com os aplicadores para discutir as
dificuldades encontradas em cada item quanto à validade técnica, visando:
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Capítulo 3 - Instrumentos para Avaliação Neuropsicológica

a) Testar o instrumento em uma situação real de coleta para verificar possíveis falhas, tais como uso de termos não
compreensíveis aos participantes e ambiguidade de alguma instrução, entre outras;
b) Estimar a duração da aplicação;
c) Adequar as tarefas, estímulos e instruções à amostra-alvo;
d) Analisar o valor funcional do instrumento (se atingiu o efeito teto em alguma faixa etária, a variabilidade dos
escores entre crianças de diferentes idades, entre outros).
Com base nessa análise e discussão, os estímulos e normas de instrução, interpretação e pontuação foram
reformulados, obtendo-se a segunda versão do NEUPSILIN-INF.

Etapa 4 Análise de juízes especialistas. A análise dos itens e das instruções foi feita por nove juízes especialistas
brasileiros, pesquisadores da área de desenvolvimento infantil, sendo seis com experiência em neuropsicologia, dois
em avaliações de linguagem e um perito em avaliação psicológica. Esse procedimento foi realizado em duas fases:

a) Julgamento de qual função ou componente cognitivo/neuropsicológico está sendo predominantemente


examinado(a) no conjunto de instrução-estímulo(s), e
b) Análise da importância da inclusão de cada subteste, considerando o construto a ser avaliado e o objetivo do
instrumento.
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Capítulo 3 - Instrumentos para Avaliação Neuropsicológica

NEUPSILIN-INF
O Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve Infantil NEUPSILIN-INF examina o
desempenho em oito funções neuropsicológicas, por meio de 26 subtestes: orientação, atenção
focalizada, percepção visual e de emoções em faces, memória verbal e visual (de trabalho ou
operacional, episódica e semântica), habilidades aritméticas, linguagem oral, leitura e escrita,
habilidades visuocontrutivas e funções executivas. Inicialmente, a seleção dessas oito funções foi
feita com base na literatura acerca da neuropsicologia do desenvolvimento e no estudo de
outros instrumentos neuropsicológicos infantis, e ainda tendo análise de sua relevância por
juízes especialistas, como já descrito na etapa 2. Sua versão final resultou em tarefas curtas e de
resolução acessível a crianças na faixa de idade de 6 a 12 anos. Pode ser classificado como um
instrumento de avaliação neuropsicológica breve por possuir um tempo reduzido de aplicação
(entre 40 e 60 minutos, dependendo da faixa etária da criança) e promover uma avaliação mais
ampla do que um simples screening.
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Capítulo 3 - Instrumentos para Avaliação Neuropsicológica
O Rastreio Cognitivo
O rastreio cognitivo é uma modalidade de avaliação rápida das funções cognitivas, mas com menor
especificidade. Essa modalidade de avaliação é de certo modo na maioria das vezes realizada por diferentes
profissionais da área da saúde e não tem objetivo de substituir a avaliação neuropsicológica. Os padrões
normativos podem ser limitados para muitos dos instrumentos utilizados. Apesar das cujas limitações, o rastreio
cognitivo é útil em diversos contextos, tais como atendimento hospitalar, beira do leito, ou mesmo em
circunstâncias que é necessária uma avaliação preliminar e breve no consultório ou no espaço o qual o profissional
irá realizar.

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2. Avaliação Psicopedagógica
Unidade II - Avaliação Psicopedagógica

Atualmente, muito se discute sobre a grande variedade e validade de técnicas de avaliação, por isso
sabemos que o aprimoramento do profissional é essencial para o alcance dos resultados desejados no processo
terapêutico. Aqui citamos alguns recursos, mas sugerimos que sempre se busque novas ferramentas de acordo
com as necessidades do sujeito em análise.
De início é preciso lembrar que, diferentemente do adulto, o cérebro da criança está em
desenvolvimento, seus processos maturacionais, ainda que programados geneticamente, como em todas as
espécies, têm características próprias ligadas à maior complexidade de seu sistema nervoso, o que possibilita
grande diferenciação e especificidade de funções. No longo processo de maturação, a aprendizagem ocorre
paralelamente e ambos os fenômenos passam a ser reciprocamente complementares

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Unidade II - Avaliação Psicopedagógica
Capítulo 1 – Roteiro de Avaliação Diagnóstica Psicopedagógica
Na prática clínica, conseguiríamos listar uma infinidade de queixas apresentadas por profissionais da
educação sobre seus alunos. E quanto à família? Bem, a família também traz variadas queixas. É comum
encontrarmos famílias que buscam o auxílio de um psicopedagogo por acreditarem que seu filho necessita de
um auxílio profissional. Desse modo, a família também tem um posicionamento, uma percepção sobre as
dificuldades de aprendizagem experimentadas pelo filho. Noutro passo, incumbe ao terapeuta ouvir o sujeito,
ou seja, qual a queixa que ele faz de si mesmo? E, nesse caso, destacamos que é comum dizerem: “acho que
não sou capaz, não consigo aprender”; “é muito difícil entender o que o meu professor fala”; “sou distraído,
não consigo prestar atenção na aula”.

Lembre-se que, escutar o paciente é de extrema


importância, dado que a sua investigação deve-se iniciar
a partir da queixa oferecida pela escola, pela família e
também pelo próprio paciente.

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Capítulo 1 – Roteiro de Avaliação Diagnóstica Psicopedagógica

A próxima etapa da avaliação consiste em estudar sobre o conceito e a aplicação dos instrumentos de
mais ampla utilização dentro do contexto da psicopedagogia clínica. Importa destacar que não há um modelo
definitivo para a avaliação psicopedagógica. Não é possível afirmar que é suficiente aplicar estes ou aqueles
instrumentos e pronto. Que bom seria se fosse simples assim! O que apresentamos abaixo são alguns
instrumentos formais que são utilizados em sessões diagnósticas, mas, desde já, destacamos que se trata tão
somente de referenciais. É importante lembrar que cada caso é único, especial. Aquilo que pode funcionar com
um indivíduo, pode não funcionar com outro. O que você deve fazer é evitar perder de vista a análise do “seu
sujeito”:
• Cognitivo;
• Afetivo;
• Social;
• Pedagógico;
•Corporal.
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Capítulo 1 – Roteiro de Avaliação Diagnóstica Psicopedagógica
Roteiro da Avaliação Diagnóstica Psicopedagógica
Falaremos abaixo, ponto a ponto, sobre o roteiro sugerido nesta disciplina, embasados no conteúdo do curso para
um completo processo de avaliação e intervenção psicopedagógica.

Entrevista Contratual:
A entrevista contratual é de fundamental importância para a construção
do processo de diagnóstico. Nela são coletadas informações que vão
nortear o processo de investigação, destacando peças do quebra-
cabeça, que será montado para análise do sujeito. A coleta dos dados,
que compõe a história do paciente e o enfoque ou queixa serão de
fundamental importância para delinear o processo do psicodiagnóstico.

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Unidade II - Avaliação Psicopedagógica
Capítulo 1 – Roteiro de Avaliação Diagnóstica Psicopedagógica
Esta entrevista é também chamada de anamnese e, segundo Weiss (2003), é nela que se verifica com
os pais, como se deu essa construção e as distorções havidas no percurso, sendo este fato, uma das peças
fundamentais do chamado quebra-cabeça que é o diagnóstico. Através da anamnese, informações do passado e
do presente do indivíduo nos serão reveladas, associadas também com as variáveis predominantes em seu
convívio. Avaliaremos a percepção da família sobre o histórico da criança, seus eventuais preconceitos, afetos,
expectativas, conhecimentos e tudo o mais que é sobreposto ao indivíduo.
Toda anamnese já é, em si, uma intervenção na dinâmica familiar em relação à "aprendizagem de
vida". No mínimo se processa uma reflexão dos pais, um mergulho no passado, buscando o início da vida do
paciente, o que inclui espontaneamente uma volta à própria vida da família como um todo (Weiss, 2003, p. 63).

O objetivo da anamnese consiste em "coletar dados relevantes acerca do histórico de vida do


indivíduo". Sendo assim, faz-se necessário realizar entrevista junto ao pai e/ou à mãe, ou responsável, a fim de
poder obter o máximo de informações possível sobre o paciente, realizando uma posterior análise e
levantamento de hipóteses. Nesse sentido, faz-se necessário que a entrevista seja conduzida e registrada com
bastante qualidade, cautela e profissionalismo.
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Capítulo 1 – Roteiro de Avaliação Diagnóstica Psicopedagógica
Levantamento de dados relacionados com o desempenho escolar

Cada criança tem seu tempo certo, cada criança tem a sua personalidade, cada criança tem um
jeitinho único, porém existe o que se espera de determinada faixa etária e também o que se espera de um
comportamento dentro da normalidade. Por isso, qualquer sinal deve ser percebido, analisado e receber a
devida importância. Ouve-se muito as pessoas falarem a seguinte frase para justificar um comportamento: “É
fase!” ou “É coisa de criança”. Sim, pode até ser. Mas é preciso observar até quando essa “fase ou
comportamento” irão durar. E verificar se isso está afetando o desenvolvimento da criança ou afetando o
convívio familiar.
É natural que, depois do ambiente familiar, a escola seja o ambiente em que as crianças permanecem
por mais tempo e, diante das suas características e funções, esse espaço é geralmente muito importante para a
avaliação das crianças, cuja conduta está influenciada pelas idiossincrasias familiares.

Uma das principais atribuições da avaliação psicopedagógica diz respeito a promover a construção de
conhecimento, visto que o processo de valoração humana favorece reflexões em busca de aprimoramentos.
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Capítulo 1 – Roteiro de Avaliação Diagnóstica Psicopedagógica

A construção de uma avaliação de desempenho escolar reside em obter e integrar grande


quantidade de informações significativas a partir da criança, através de uma dinâmica escolar equilibrada.
Os profissionais da psicopedagogia necessitam de determinadas redefinições, como o conceito de diagnóstico
deve ultrapassar a dimensão individual, passando também a considerar as implicações do contexto social;
Obviamente o levantamento de dados escolares não pode receber uma análise isolada, ao contrário, ela
sempre deverá estar fundamentada e integrada aos outros instrumentos de avaliação aplicados ao caso.

Leitura e Escrita
Estruturação de histórias de sequências de gravuras, aproveitando o contexto social do avaliando;
Leitura de livros e textos que tenham sido solicitados pelo paciente e, assim, sejam do seu interesse;
Dramatizações seguidas de estruturação e leitura de textos;
Caça-palavras, palavras cruzadas;
Histórias em quadrinhos;
Estruturação escrita de regulamentos de jogos;
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Capítulo 1 – Roteiro de Avaliação Diagnóstica Psicopedagógica
Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA)

EOCA é a sigla utilizada para referir-se à entrevista operativa centrada na aprendizagem, que tem a pretensão de
avaliar os processos de aprendizagem do sujeito, fundamentando-se a sua prática na psicologia social de Pichón
Rivière, nos postulados da psicanálise e na metodologia clínica da Escola de Genebra (BOSSA, 2000). Os
fundamentos da EOCA consistem na função homeostática observada entre o organismo e o meio, como, por
exemplo, pode-se observar em boa parte dos estudos psicanalíticos relacionados com a posição piagetiana.

EOCA pretende ser um instrumento simples, mas


de grande riqueza em seus resultados. Foi
idealizada como uma ferramenta de utilização e
estruturação para a clínica, destinada à análise de
eventuais manifestações de ordem cognitivo-
afetiva do comportamento em processos de
aprendizagem.
Fonte: https://daniellevieira.com.br/tag/psicologo-infantil/
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Capítulo 2 – Planejamento e Aplicação de Provas

Ao aplicar uma prova projetiva o terapeuta faz com que o sujeito projete para fora de si o que se
recusa a reconhecer em si mesmo.

Segundo Piaget “por meio do jogo simbólico, a criança do período pré-operatório assimila o real ao
eu e assim consegue, através desta assimilação, suportar suas experiências familiares e pessoais, seus
problemas e conflitos”.

As provas projetivas foram concebidas pelo professor Jorge Visca e, de acordo com ele, constituem-
se de recursos, dentre outros, destinados ao entendimento de variáveis de cunho emocional que condicionam
positiva ou negativamente a aprendizagem. O desenho é uma maneira de lidar com os sentimentos das
crianças.
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Capítulo 2 – Planejamento e Aplicação de Provas

Um exercício bastante efetivo consiste em pedir às crianças que façam desenhos das suas
famílias como se fossem símbolos ou animais. A informação acerca dos comportamentos e sentimentos
pode ser extraída dessa maneira, e na interação com a criança ao longo da atividade as variáveis
apresentadas com o seu comportamento podem ser compreendidas de uma forma mais clara.

O objetivo de se utilizar desse recurso é o de observar os significados das ações de aprendizado e


as inter-relações dos vínculos que surgem a partir do conhecimento adquirido e dos indivíduos que
ensinam.

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Capítulo 2 – Planejamento e Aplicação de Provas

Vínculo Escolar ou Teste do Par Educativo


Objetiva coletar informações sobre o vínculo construído no que se refere à aprendizagem, a
maneira como o paciente internalizou, o processo de aprendizado e a forma como enxerga quem está
ensinando e o que está aprendendo. As informações coletadas propiciarão os meios para formulação
de hipóteses sobre a percepção do paciente de si, dos educadores, de seus colegas de sala e mesmo
ainda da instituição educacional. Quanto ao aspecto puramente pedagógico é possível proceder à
avaliação do nível de redação, ortografia, criatividade literária, etc.

Vínculo Familiar ou Teste da Família


O plano ou planta da casa; os quatro momentos de um dia; ou ainda, Família educativa.
Que possui o propósito de realizar a avaliação da maneira como ocorre o relacionamento familiar
como um conjunto e também nas suas diferentes partes. É preciso esclarecer que previamente à
realização desse teste é necessário investigar como o paciente enxerga a família e como ele se
insere dentro do contexto familiar, vez que, atualmente, sabemos que são numerosas as variações
experimentadas pelas famílias que, em tempos passados, formavam-se sobretudo por pai, mãe e
filhos. Hoje, no entanto, sabemos que as famílias podem ser constituídas por avós, mãe e filhos; ou
apenas mães e filhos; ou a combinação de pais/padrastos, mães/madrastas e filhos/enteados e
assim por diante
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Capítulo 2 – Planejamento e Aplicação de Provas
Provas e testes em diagnóstico psicopedagógico

Há uma infinidade de provas e testes que podem ser utilizados, caso necessário, para verificar
qual o nível pedagógico, de estrutura cognitiva e/ou emocional do indivíduo. A utilização de provas e testes
pode ser dispensada dentro do contexto de um diagnóstico psicopedagógico. Toda via, constitui mais um
recurso a ser utilizado, além de ser um excelente embasador para o trabalho psicopedagógico. Trata-se de
uma complementação que se aplica em situações estimuladoras que provocam diversas reações.

O Teste Livre
Algo que a criança goste e tem como objetivo observar o que faz sentido emocional e concreto no dia
da criança, de sorte que possamos conhecer um pouco mais sobre as matérias que lhe despertam maior
interesse dentro do contexto sócio-afetivo.
Propõe-se que, no curso do processo, o terapeuta proceda às intervenções indagando a criança sobre o
que ela quis exprimir com o seu desenho. Ainda que sejam feitas as devidas interpretações
posteriormente, é indispensável que a análise seja realizada com base na significação que foi conferida
pelo próprio aluno, para cada um dos itens desenhados, com o olhar dele, e não somente com a visão
clínica.
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Capítulo 3 – Observação Lúdica e Vinculação com a Criança
A observação lúdica, também chamada a “hora de jogo diagnóstica”, foi fundamentada num
referencial teórico psicodinâmico, é um recurso técnico de que o terapeuta dispõe para ser usado no
contexto do processo psicodiagnóstico, que tem início, desenvolvimento e fim por si mesmo, funcionando
como unidade para que se possa ter um conhecimento inicial da criança, interpretando-a como tal, e cujas
informações serão ou não demonstradas a partir da realização do teste.
Platão (apud PINTO, 2001) afirma que o lúdico é vivenciado na brincadeira: “Você pode aprender
mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em uma vida inteira de conversação”, é dizer, a
brincadeira espontânea pode externar sentimentos, comportamentos e verdades do indivíduo que não
seriam facilmente demonstrados por meio de um diálogo.

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Unidade II - Avaliação Psicopedagógica
Capítulo 3 – Observação Lúdica e Vinculação com a Criança
Ao brincar, a criança desloca para o exterior seus medos, angústias e problemas internos, podendo assim
dominá-los. Todas as situações excessivas para seu ego são repetidas no jogo, proporcionando à criança que
desenvolva um domínio mais acentuado sobre os objetos externos, transformando em ativo aquilo que
experimentou de forma passiva.
A importância do jogar e do brincar como meios de expressão de conflitos e desejos é admitida por vários
autores. Freud (1969), examinando um bebê de 18 meses brincar, compreendeu a significação psicológica da
atividade lúdica e entendeu que a criança não apenas brincava com aquilo que lhe proporcionava prazer, mas
jogava, também, reproduzindo circunstâncias de sofrimento, produzindo, dessa maneira, o que seria excessivo para
o seu ego. Klein (1997), ao utilizar o jogo como instrumento de acesso ao inconsciente da criança, corrobora o
entendimento do que a criança manifesta, através do jogar e do brincar, suas fantasias, desejos e vivências, de uma
maneira simbólica.

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Capítulo 3 – Observação Lúdica e Vinculação com a Criança
Objetivos
Determinadas estratégias lúdicas vêm sendo utilizadas na prática clínica com a finalidade de facilitar
a formação do vínculo com a criança, estabelecer os conceitos e as regras que orientam a sua conduta,
observar seu relacionamento com indivíduos pertencentes aos ambientes que frequenta, identificar seus
sentimentos relativos a si mesma, a certas pessoas e situações, exercitar a resolução de problemas do dia-a-
dia, aprimorar habilidades, desenvolver a autoconfiança e reforçar a concentração e o relaxamento.

Favorecer a formação do vínculo com a criança


Esse é importante para a adaptação da criança ao ambiente do consultório e ao próprio terapeuta.
Nenhum trabalho terapêutico pode alcançar resultados, sem o estabelecimento prévio de um vínculo. Para
alcançá-lo, indica-se a utilização de qualquer das estratégias lúdicas que sirvam como reforço para a criança,
conforme informações obtidas mediante levantamento prévio realizado em entrevistas com os pais.

Identificar os conceitos e regramentos que norteiam o comportamento da criança


Pode-se trabalhar com desenho livre, ou desenho de uma história em quadrinhos, ou até mesmo
colagem; pedindo em seguida que a criança conte a história de seu desenho. Regra (2001) chama de fantasia
o relato verbal de uma história inventada pela criança. Por meio da análise desse relato verbal o terapeuta
pode identificar conceitos e possíveis regras que governam o comportamento da criança.
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Capítulo 3 – Observação Lúdica e Vinculação com a Criança
Verificar a relação da criança com pessoas dos ambientes em que está inserida
As atividades utilizadas podem incluir exercícios de dramatização, brincadeiras de casinha ou escolinha,
ou mesmo qualquer outra atividade indicada pela criança e/ou pelo terapeuta.

Apontar sentimentos da criança para consigo mesma e em relação a outros indivíduos e situações
É possível lançar mão de brincadeiras de dramatização, elaboração de cartões contendo mensagens de
texto para datas comemorativas ou outra ocasião qualquer. Tais atividades possivelmente fortalecerão o
comportamento verbalizado da criança relacionado como o relato dos seus sentimentos e de circunstâncias em
que ela experimentar privação de afeto (SILVEIRA E SILVARES, 2003) e pode fortalecer relacionamentos e vínculo
afetivo do sujeito.

Exercitar a resolução de problemas do dia-a-dia mediante a simulação de situações.


O uso de jogos de tabuleiros é uma possível indicação para que se promova a observação e a
modelagem do comportamento de uma criança submetida ao cumprimento de determinadas regras (SILVEIRA E
SILVARES, 2003). Um menino de 7 anos apresentava bastante dificuldade de aceitar perdas. Essa conduta foi
verificada pelos seus pais e apontada como uma queixa. Em uma das sessões, o terapeuta sugeriu realizar uma
brincadeira com um tabuleiro Cara a Cara.
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Capítulo 3 – Observação Lúdica e Vinculação com a Criança
Favorecer a concentração
Indica-se a utilização de argila ou massa de modelar, mesmo as feitas em casa. Tais atividades
propiciam uma concentração mais acentuada da criança, tanto na atividade quanto na conversa que ocorre ao
longo da atividade. A preparação da massa no próprio consultório pode facilitar o desenvolvimento da
autoconfiança da criança. A atividade também ajuda na verificação do comportamento dela no que diz respeito
à sujeira
Favorecer o relaxamento
Além de propiciarem um maior relaxamento da criança, algumas atividades podem ser utilizadas para
verificar como a criança se observa, pedindo a ela que indique áreas de tensão. Exemplos dessas atividades são a
manipulação da massa de modelar e a realização do contorno do corpo da criança no papel. Depois de
desenhado o contorno, deve-se perguntar se “alguma das partes do seu corpo a incomodada.
Estratégias
O local para a realização da observação diagnóstica precisa ser relativamente amplo, seguro e de fácil
limpeza, de sorte que a criança tenha total liberdade para se expressar. Os brinquedos devem ser postos à sua
disposição, para que sejam usados conforme a sua conveniência. A variedade é muito importante e deve
incluir bonecos de plástico, miniaturas de animais domésticos e selvagens, réplicas de barcos, aviões,
carrinhos, caminhões, tinta de cores variadas, papel sulfite, lápis (preto e em cores), pincel, tesoura sem ponta,
cola, barbante, argila, bacia ou pia com água etc.
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Capítulo 3 – Observação Lúdica e Vinculação com a Criança
Pontos a serem observados
A entrevista lúdica de cada processo psicodiagnós�co é uma experiência nova, tanto para o
psicólogo como para a criança, em que se manifestará a formação de um vínculo breve de transferência. A
criança deposita parte dos seus sentimentos nos brinquedos disponibilizados pelo terapeuta, que
representam distintos vínculos com as coisas que fazem parte do seu mundo interno.
A personificação é a capacidade da criança para assumir e desempenhar papéis no brinquedo. É um
elemento comum a todos os períodos evolutivos, por meio do qual as crianças transformam os seus
brinquedos ou a si mesmas em personagens imaginários ou não, conforme a sua faixa etária, expressando
afetos, tipos de relações e conflitos, sempre sintonizado com a realidade de seu mundo interior. A avaliação
desse indicador possibilitará a compreensão do equilíbrio estabelecido ou não entre o superego, o id e a
realidade, observando inclusive a capacidade de fantasiar na definição de certos papéis, que, com o auxílio da
mágica lúdica, possibilitará, pelo menos por um período limitado, a satisfação dos desejos mais grandiosos
que seu eu consciente, em outras circunstancias, não lhe permitiriam.
A criação é a invenção ou transformação originada da própria capacidade. Ao construir um novo
objeto ou transformar um já́ existente, a criança demonstra a sua capacidade de estabelecer relações entre
elementos novos no brinquedo, partindo da reorganização de experiências vividas anteriormente. Desse
modo, a criatividade constitui um processo mental de manipulação do ambiente, de forma a produzir novas
ideias, formas e relações.
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Capítulo 3 – Observação Lúdica e Vinculação com a Criança
Ludoterapia
A ludoterapia nada mais é que a psicoterapia adaptada para atender e realizar o tratamento do público
infantil mediante brincadeiras, onde a criança e o psicopedagogo trocam experiências brincando. O objetivo dessa
abordagem é fazer com que a criança se expresse da melhor forma possível sem se sentir pressionada pelo fato de
estar com uma pessoa estranha (o terapeuta).

A ludoterapia surgiu, na década de 1920, a partir de estudos de Ana Freud e Melaine Klein que
analisavam as relações infantis e o processo de transferência de informações, visando o tratamento psicológico.

A análise mediante brincadeiras aponta que o simbolismo possibilita à criança transferir não somente
interesses, como também fantasias, ansiedades e culpa a outros objetos além de pessoas, ou seja, muito alívio é
possibilitado por meio do brincar. Diante disso, podemos pensar que a criação, no uso da criatividade através do
brincar seria um viés sublimatório; forma que ajuda a criança a colocar suas emoções à mostra, expostas via
objetos socialmente valorizados ou não.
Obrigada!
Professora Luciana Fernandes

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