Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Avaliação II
Profª Sandra Mesquita
Sumário
Diagnóstico Psicopedagógico.................................................................................. 4
A AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA:......................................................................... 5
Provas psicopedagógicas....................................................................................................... 11
A devolução da informação.................................................................................................... 12
Entrevistas familiares........................................................................................................... 12
Acompanhamento................................................................................................................ 13
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................... 14
4
Instrumentos de Avaliação II
5
Instrumentos de Avaliação II
6
Instrumentos de Avaliação II
7
Instrumentos de Avaliação II
8
Instrumentos de Avaliação II
9
Instrumentos de Avaliação II
10
Instrumentos de Avaliação II
11
Instrumentos de Avaliação II
12
Instrumentos de Avaliação II
13
Instrumentos de Avaliação II
14
Instrumentos de Avaliação II
A intervenção psicopedagógica está cada Affonso Neves – Porto Alegre: Artes Médicas
vez mais consolidada, e acreditamos que, Sul, 2000
em geral, existe uma boa disposição do Agora estaremos observando algumas
magistério para realizar um trabalho mais sugestões de instrumentos de avaliação
compartilhado com os psicopedagogos. que poderão auxiliar no trabalho do
A pesar disso, é importante continuar psicopedagogo, não podemos esquecer que
avançando e melhorando aspectos, como: cabe ao profissional estar atento ao seu
- atualizar instrumentos de avaliação que, paciente e assim procurar escolher a melhor
em certas ocasiões, ficaram defasados; maneira de intervir para melhor conhece-
- ajudar para que a informação nas lo.e auxilia-lo em suas dificuldades. Volto
escolas seja comunicada o mais fluentemente a enfatizar que aqui estamos sugerindo
possível; - realizar uma coordenação mais uma serie de instrumento que devem
estreita e sistemática entre todos os serviços ser entendido como sugestões para o
que intervêm nas escolas, com a finalidade desenvolvimento de trabalho dentre uma
de melhorar a coordenação entre os serei de recursos das quais o psicopedagogo
profissionais que realizam funções de apoio; poderá lançar mão em seu trabalho, não se
- colaborar para definir o modelo de tratam uma série de receitas prontas.
intervenção psicopedagógica na etapa do Leitura psicopedagogica da entrevista
Ensino Médio; inicial
- colaborar na etapa do Ensino Médio para Entrevista Operativa Centrada na
consolidar os esforços que, neste momento, Aprendizagem
estão sendo realizados na difícil tarefa de História de vida ou anamnese
abordar a diversidade das capacidades, dos psicopedagogica
interesses e das motivações dos alunos e Técnica da pareja educativa
alunas dessa etapa. Técnica do par educativo
Sob o nosso ponto de vista, é fundamental A técnica psicopedagogica dos rabiscos
continuar avançando na linha de colaboração A técnica psicopedagogica do desenho livre
com as escolas no momento-chave do A tecnic psicopedagogica da figura humana
prolongamento da escolaridade obrigatória A técnica psicopedagogica do desenho da
até os 16 anos. Tal prolongamento implica família
um incremento notável na diversidade de A técnica situação agradável e
capacidades, de interesses e de motivações desagradável
dos alunos, aos quais a escola deve dar uma Provas pedagógicas especificas
resposta educativa adequada. A intervenção Provas operatorias
psicopedag6gica deve ter como objetivo
colaborar com as equipes de professores na
melhoria da qualidade da educação e em Leitura psicopedagógica da
conseguir que esta seja acessível a todos os
alunos. Entrevista Inicial
__________________________________
Referência: Leila Chamat
Sales Maria José M. e Dalmau Margarida Delineando o campo focal
R. A Avaliação Psicopedagogica: fases,
procedimentos e utilização in. Monero: O material a ser explanado é oriundo de
Carles. e Sole Isabel. O Assessoramento anos de experiência como educadora, do
psicopedagogico: uma perspectiva meu trabalho clinico psicopedagógico diante
profissional e construtivista. Trad. Beatriz das solicitações no tocante às dificuldades de
aprendizagem, de supervisões realizadas com
15
Instrumentos de Avaliação II
16
Instrumentos de Avaliação II
17
Instrumentos de Avaliação II
18
Instrumentos de Avaliação II
posteriormente, podem ser transferidas para de Hipóteses que possa direcioná-lo para
o terapeuta. as fases subseqüentes. Essas hipóteses
Essas queixas secundárias também determinarão o(s) instrumento(s) de
devem ser “denunciadas” a fim de evidenciar avaliação a ser(em) utilizado(s) em uma
outros desajustes de comportamento, que etapa posterior.
podem estar intimamente relacionados com A entrevista inicial com os pais, voltada
a dificuldade de aprendizagem da criança, para o diagnóstico em Instituição, sofre
evidenciar e também, a responsabilidade dos alterações quanto ao seu modelo, pois
pais. trata-se de uma entrevista mais fechada,
Essa forma de enquadramento difere da objetivando a coleta de dados sobre a
atuação proposta pelos autores já citados, problemática. Esta volta-se com mais ênfase
mas sugiro ao profissional esclarecer aos pais aos conteúdos manifestos. Busca-se nessa
que o processo diagnóstico teve início, com entrevista detectar a presença de alguma
o primeiro contato telefônico, a fim de que problemática orgânica ou mesmo oriunda
a família perceba que o foco de análise é o da dinâmica familiar, que impeça o aprender
sujeito cerceado na sua tarefa de aprender e ao mesmo tempo coletar informações
na família. sobre a mudança metodológica e triar para
um possível encaminhamento. Em síntese
Deixa-se bem claro que o caso a ser a Entrevista Inicial apresenta os seguintes
estudado é o sujeito na família, como lhe aspectos:
ensinaram e como aprendeu a aprender o Motivo da consulta:
conhecimento; que o processo diagnóstico Queixa:
torna-se coletivo e de cooperação mútua, - história da queixa (quando e em
pois o terapeuta será o elemento que buscará que circunstâncias começou, como se
as causas dos sintomas e que no momento desenvolveu);
oportuno fará a entrevista devolutiva aos - queixa relacionada (o comportamento da
pais. criança em casa)
Na minha opinião, essa postura tende - descrição de um dia da criança, desde
a aumentar o grau de confiabilidade no levantar-se da cama, até se deitar;
profissional, pois dissipa algumas fantasias - relato de como foi o final de semana.
dos pais que podem atrapalhar o processo Pesquisar na família:
diagnóstico. - significado do sintoma;
A interpretação do conteúdo manifesto - comprometimento com a problemática;
e latente da(s) entrevista(s) servirá para - tipo de vínculo que deseja estabelecer
levantar hipóteses sobre as possíveis causas com o agente corretor;
dos sintomas apresentados pela criança e - fazer o enquadramento.
fundamentalmente direcionar o levantamento A leitura do conteúdo latente do discurso
da sua história de vida. da família só é possível com a aplicação da
A minha experiência clinica, no diagnóstico “escuta”.
de distúrbios de aprendizagem, tem O objetivo dessa técnica, na avaliação
demonstrado a importância da formulação de psicopedagógica, consiste em detectar:
hipóteses, contingente a cada levantamento os sintomas do sujeito e possíveis causas
de dados, sejam eles obtidos diretamente na família;
com o sujeito, com a família, com a escola a forma pela qual a família e a criança
seja por meio de relatos ou testes. articulam o conhecimento e os conseqüentes
Após a leitura psicanalítica dos conteúdos modelos de aprendizagem internalizados
manifestos e latentes da entrevista inicial, pelos mesmos, explicando o aparecimento de
sugere-se a formulação de um Sistema sintomas no sujeito;
19
Instrumentos de Avaliação II
20
Instrumentos de Avaliação II
21
Instrumentos de Avaliação II
22
Instrumentos de Avaliação II
Seu autor, ao lado de Edite Rubstein, foi formular um sistema de hipóteses e delinear
um dos precursores da Psicopedagogia no linhas de investigação.
Brasil, sendo amplamente difundido. Porém Técnica
sua teoria demanda um aprofundamento
teórico psicanalítico e cognitivo, o que impede Trata-se de uma técnica simples, porém
que muitos profissionais se vinculem ao rica na sondagem de aspectos manifestos e
conhecimento por ele proposto. latentes sobre as possibilidades do sujeito
Por outro lado Fernàndez (1990), em diante do conhecimento.
Inteligência aprisionada, de cunho lacaniano, A consigna é: “Gostaria que você me
refere-se amplamente aos termos “oculto” mostrasse o que sabe fazer, o que lhe
e “escuta”, termos estes que para sua ensinaram e o que você aprendeu”.
compreensão requerem um conhecimento Pode-se continuar dizendo: “Este material
psicanalítico mais profundo. é para que você o use, se precisar, para me
O livro Relações vinculares e aprendizagem mostrar o que lhe falei e o que queria saber
(CHAMAT, 1995), de minha autoria, que de você.”
tem muitos exemplos clínicos aliados à Haverá diferenciação de materiais
teoria dos citados autores e visa a facilitar dependendo da faixa escolar de cada sujeito
a compreensão do psicopedagogo sobre a em que se aplicar a entrevista.
leitura dos sintomas e de suas prováveis Os materiais geralmente apresentados,
causas. sobre uma mesa, para a idade escolar são:
Com isso quero apontar a riqueza contida -folhas lisas de papel ofício;
no trabalho desses dois autores que em suas -folhas pautadas;
obras continuam sugerindo a necessidade de -lápis novo sem ponta;
o terapeuta compreender a psicanálise, não -apontador;
para interpretar o paciente, mas sim para -caneta esferográfica;
aplicar na decodificação do real o significado -borracha;
dos sintomas apresentados pelo paciente. -tesoura;
Tudo isso sem menosprezar outros autores -papéis coloridos (10 x 10cm);
como Pain que busca dar um corpo teórico -régua;
à Psicopedagogia e aponta a Função da -revistas e livros;
ignorância que também tem suas bases -canetas hidrográficas;
fundamentadas na Psicanálise. -cola, grampeador (materiais que
Retomando o discurso pela EOCA, tenho eu acrescentei pela minha experiência
observado que os pesquisadores dessa área a profissional).
tem utilizado, com muito sucesso, em faixas O entrevistador deve estar em uma
etárias variadas, desde 5 anos de idade até situação por descobrir ou por revelar, não há
em adultos. objetivos a serem cumpridos.
Objetivos: Durante a EOCA é importante observar três
detectar sintomas e formular hipóteses aspectos: a temática, a dinâmica e o produto.
sobre as prováveis causas-das dificuldades O primeiro aspecto concentra-se em tudo
de aprendizagem, sem julgamento prévio ou que o sujeito diz.
contaminação do agente corretor; Verifica-se o aspecto manifesto e o
levantar os possíveis obstáculos que latente, se possível, da relação do sujeito
emergem na relação do sujeito com o com a aprendizagem. Acrescento aqui, que
conhecimento; a temática consiste, sem menosprezar a
obter dados a respeito do paciente nos criação do autor, no tema escolhido pelo
aspectos afetivos e cognitivos, a fim de sujeito que pode ser observado nas suas
23
Instrumentos de Avaliação II
realizações, no que verbaliza e na mensagem que este passa durante a realização da tarefa,
mesmo com sua recusa (conteúdo latente).
O segundo aspecto consiste na análise de tudo que o sujeito faz: gestos, postura corporal,
maneira de pegar materiais. Acrescento: expressões faciais, olhares para o avaliador e
outros, inclusive o impasse. Trata-se da dinâmica da aplicação.
O terceiro aspecto, o produto, trata do que o sujeito realizou, o que deixa impresso
no papel ou na sua construção, por exemplo. Acrescento: a sua mensagem, como estão
seus processos assimilativos/acomodativos (se estão compatíveis com a idade em que se
encontra) e o que revelou como obstáculo para se expressar.
Com esses três aspectos teremos o primeiro sistema de hipóteses sobre o sujeito. Estas
deverão ser submetidas a uma verificação mais rigorosa nos passos seguintes do diagnóstico.
Buscando ilustrar o exposto anteriormente passarei a discorrer sobre uma aplicação dessa
técnica, porém deixo expresso os meus agradecimentos à profissional que gentilmente cedeu
esse material.
Aplicação
Sujeito A
Idade: 8 anos e 3 meses. Escolaridade: 2a. série do 10. grau.
Problemática: dificuldade na aprendizagem da leitura e da escrita. Esta não deveria ser
conhecida, porém o encaminhamento fez-se diretamente com a professora, visto que o
aplicador tratava-se de uma estagiária em Psicopedagogia.
Contato
24
Instrumentos de Avaliação II
25
Instrumentos de Avaliação II
sorte. Talvez quisesse realizar algum desejo, que Posteriormente, aplicaria as Provas
viesse anexado após às hipóteses e delineamento. Operatórias (INHELDER, 1977), com a finalidade de
Quanto à dinâmica, a postura do sujeito verificar os processos das estruturas de pensamento
durante a confecção da dobradura e do recorte do do sujeito, sondando sua operatoriedade, noções de
trevo pareceu tranquila. Ele permaneceu calmo, conservação, reversibilidade, estratégias que utiliza
passivo, recortando e dobrando em silêncio; porém, na elaboração de suas respostas.
quando começou a falar da escola pareceu ansioso, Observação: Avaliação dessa técnica não foi
angustiado, fazendo movimentos com a tesoura e o inserida no quadro de avaliação com o intuito de
lápis, enquanto conversava. Parava alguns segundos discorrer amplamente sobre a mesma.
e retomava o movimento. Parecia que o movimento
amenizava sua angústia à medida que falava. História de vida ou
O produto final parece muito pouco
significativo em termos de produção da aprendizagem. anamnese psicopedagógica
Não há uma criação, uma elaboração propriamente Leila Chamat
dita. A criança parece usar mais a acomodação do que Técnica
a assimilação, pelo demonstrado no seu trabalho, em
relação a aprendizagem. (A pesquisadora quer dizer Essa técnica pode ser aplicada em
que ° sujeito não cria, apenas repete conhecimentos diferentes momentos, dependendo da escolha
já aprendidos.) dos instrumentos iniciais no diagnóstico.
Tanto pode ocorrer após a Entrevista Inicial,
• Levantamento de hipóteses como após um contato com o sujeito, por
Podemos levantar algumas hipóteses exemplo, a Hora do Jogo e/ou após os
sugeridas pelo resultado da entrevista: procedimentos posteriores à aplicação da
O sujeito não cria algo novo, repete EOCA no sujeito.
conhecimentos adquiridos anteriormente,
Sabe-se de antemão que os dados obtidos
utilizando esquemas de pensamento empobrecidos,
estarão contaminados pela percepção que os
demonstrando falta de envolvimento com o objeto
pais têm dos fatos e que o examinador estará
de aprendizagem e, consequentemente, com o
construindo o desenvolvimento do sujeito sob
conhecimento e com quem o transmite.
a óptica dos genitores.
A escola não o satisfaz, percebe o vínculo com
o conhecimento como uma situação de desprazer. Sendo assim, o relato por estes
Há um problema de aprendizagem, segundo apresentado, mesmo com contradições e
Visca (1987), com um obstáculo epistemológico, permeado de contaminação, constitui-se em
tendo uma dificuldade de estabelecer um vínculo um instrumento muito útil para o processo
afetivo adequado com os objetos e as situações de diagnóstico, pois auxilia a investigação do
aprendizagem, assim como um obstáculo epistêmico, objeto focal (averiguação em profundidade
devido a alterações das estruturas cognitivas, da área que o pesquisador julgar prioritária)
ocasionando a detenção do conhecimento. a confirmar e ou refutar hipóteses levantadas
A escola não o satisfaz, esquivando-se anteriormente, como também a formular
do conhecimento, o que indica a presença de um novas hipóteses sobre as possíveis causas
obstáculo epistemológico (fora do sujeito e que das dificuldades de aprendizagem do sujeito.
desencadeia os anteriores). Com a finalidade de obter resultados
Sugiro a leitura de Relações vinculares mais fidedignos, a entrevista deverá ser
e aprendizagem (CHAMAT, 1995) para um feita no modelo semi-aberto (já explicado
aprofundamento teórico nesse aspecto. anteriormente), mesmo que o pesquisador
• Delineamento da investigação1 siga um roteiro. Esse modelo permitirá a
Pelos motivos explicitados, aplicaria, num detecção das contradições e omissões dos
segundo encontro com o sujeito, o teste Pareja fatos, além do conteúdo latente que as
Educativa (OLlVERO; PALÁCIOS (1990), buscando fraturas no discurso possam revelar.
verificar o vínculo dos sujeitos com o conhecimento e
Objetivos
com o ensino.
26
Instrumentos de Avaliação II
1 - Quando a criança foi concebida, os pais já estavam juntos? Em que circunstâncias (casados, noivos,
morando juntos)
2 - Houve apoio da família para essa união?
3 - Como foi a aceitação das famílias (materna e paterna), no tocante à gravidez?
4 - O filho foi planejado? Sob que circunstâncias se deu a gravidez?
5 - Como cada um (pai e mãe) percebeu e recebeu essa gravidez?
6 - Qual era a situação do casal na época, tanto afetiva como econômica?
7 - Houve alguma tentativa de aborto?
8 - A mãe tomava algum medicamento na época ou durante a gravidez? Fumava ou ingeria algum tipo
27
Instrumentos de Avaliação II
28
Instrumentos de Avaliação II
29
Instrumentos de Avaliação II
______________________________________________________________
* A sugestão de anamnese psicopedagógica oferecida pela autora poderá sofrer alterações,
tendo em vista as necessidades do pesquisador e seu objeto local.
Levantamento de hipóteses
O passo seguinte refere-se ao levantamento de hipóteses sobre as causas do “não-
aprender”, sendo que estas merecerão uma investigação com a finalidade de serem
confirmadas ou não. Para tal, nesse ponto do diagnóstico planeja-se as técnicas a serem
utilizadas nos seguintes momentos.
Leitura dos modelos de aprendizagem internalizados
No intuito de auxiliar o profissional a esclarecer os processos de adaptação atuais do
sujeito, apresento alguns dos principais fatores a que este deve se ater na leitura de uma
história de vida, dentro do enfoque que proponho.
Esclareço que o mesmo é subsidiado por uma leitura psicanalítica vindo ao encontro do que
Fernàndez (1991) propõe em seu discurso.
Melhores esclarecimentos sobre o modelo proposto, podem ser encontrados em
Relações vinculares e aprendizagem (CHAMAT, 1995) pois o mesmo trata dos processos
30
Instrumentos de Avaliação II
31
Instrumentos de Avaliação II
32
Instrumentos de Avaliação II
33
Instrumentos de Avaliação II
34
Instrumentos de Avaliação II
(1980/1990), cujo original enviado para a Depois solicita-se que fale sobre o que
Inglaterra se perdeu, caindo no anonimato desenhou, isto é, o que está acontecendo.
quanto à sua autoria. Nas questões Pede-se então ao sujeito que vire a folha e,
pertinentes à relação professor, aluno e na parte de trás, escreva uma história do que
conhecimento é amplamente utilizada, com está acontecendo na cena. Posteriormente
adaptações da técnica original. O tema foi pede-se que dê um nome para a história.
também resgatado por Chamat (1995). O desenho é analisado levando-se em
As duas autoras afirmam que a técnica consideração tanto os aspectos gráficos
pode ser aplicada em sujeitos de idade não (traços, tamanho, posição na folha, detalhes)
inferior a 6 anos (com exceções) até a idade quanto os vinculares com o conhecimento
adulta. e com o “outro” (aquele que lhe passa
Objetivos conhecimento) que a cena transmite.
Por meio de uma técnica projetiva Percebe-se, então, como o sujeito se coloca
psicopedagógica, ao levantar dados a serem numa situação de aprendizagem e como
interpretados nos seus aspectos latentes e percebe a mesma.
manifestos: A estruturação e a sequência de
a) verificar o vínculo que a criança pensamento são elementos importantes
estabelece com a aprendizagem por meio da na análise, bem como o grafismo como um
leitura da relação vincular do ser que ensina meio de detectar déficits de escrita e em que
com o ser que aprende; momento do relato estes ocorrem.
b) analisar a produção gráfica e o relato Toda dinâmica da aplicação deve ser
nos seus aspectos afetivos, cognitivos e anotada, visando a enriquecer e tornar mais
motores; fidedigna a interpretação.
c) efetuar uma análise do relato verbal e Observação: Para a análise das relações
do grafismo do sujeito, buscando estabelecer vinculares, estruturação cognitiva e avaliação
uma correlação entre os mesmos, verificando da escrita, pode-se utilizar o roteiro e as
se há um vínculo parcial, ausente ou efetivo. folhas de avaliação do Teste Coleção Papel de
Técnica
Nessa técnica obtém-se uma produção
gráfica e verbal, permitindo uma análise do
conteúdo latente e manifesto da relação do
sujeito com a aprendizagem e com quem a
propicia.
Apoia-se na premissa de que o acesso
à aprendizagem se faz com um jogo de
processos conflitantes internos do sujeito
em relação ao meio externo. Para que a
aprendizagem ocorra, é necessário propiciar
condições favoráveis para a mesma e que o
sujeito esteja receptivo à internalização de
novos significantes e significados.
Para a aplicação, entrega-se ao sujeito
uma folha de sulfite (tamanho ofício), um
lápis preto e uma borracha.
Dá-se a seguinte consigna: “Desenhe duas
pessoas uma que está ensinando e outra que
está aprendendo.” Executada a tarefa pede-
se que dê o nome e a idade das pessoas.
35
Instrumentos de Avaliação II
Avaliação da técnica
Itens a serem avaliados:
Conteúdo Manifesto: revela os sintomas e subsidia a interpretação da elaboração do
desenho, da história narrada e escrita (permitindo a análise dos aspectos cognitivos, motores
e grafismo);
36
Instrumentos de Avaliação II
37
Instrumentos de Avaliação II
(alheamento), arrumadinha como uma adolescente e até com uma “polchetezinha”, como se
estivesse dando um passeio.
O desenho mereceu as mesmas interpretações (com algumas variações), hipóteses e
delineamento do desenho A chegando-se a conclusões semelhantes.
Nesse momento, para evitar a dispersão do leitor, apresentarei os dois desenhos: A e B,
nas páginas seguintes e, em seguida retornarei ao discurso do desenho C.
____________________________________________________
1 Trabalhos relaizados pelas alunas da UNISO (Universidade de Sorocaba) em 1997.98:
Célia Aparecida Rubinato, Cláudia Lopes Barth, Emiliana Rizzo Marques, Lucia da Silva
Florido e Milene Tereza Pereira.
38
Instrumentos de Avaliação II
O desenho C, elaborado por uma garota de 8 anos de idade, oriunda de uma família cujas
relações vinculares são bastante comprometidas: o pai é alcoólatra, não trabalha; a mãe é
quem sustenta a família.
Cursa a segunda série e, embora se esforce por aprender, apresenta dificuldades de
aprendizagem. Na dinâmica da aplicação revelou ser perfeccionista, tendo muita necessidade
de aprovação.
Seu desenho revela um bloqueio na cognição, pois encontra-se de posse de estruturas para
aprender. É bem elaborado, com detalhes, fazendo as figuras de perfil (embora estáticas) o
que demonstra possuir os pré-requisitos para a aprendizagem.
39
Instrumentos de Avaliação II
40
Instrumentos de Avaliação II
41
Instrumentos de Avaliação II
Sob outro vértice, o Caso D*, vem ilustrar a problemática de um garoto de 10 anos,
cursando a 4ª série, com um nível alto de cognição e potencial intelectivo, que se mantém
afetivamente desvinculado da aprendizagem, sem interesse pelo conteúdo escolar.
Embora sua família revele afetividade nas relações vinculares, mantém o filho
infantilizado satisfazendo todas as suas vontades, não conseguindo frustrá-lo. Isso o coloca
emocionalmente infantilizado para as atividades que requerem tolerância à frustração, como
o “pensar”.
Sendo assim, seu rendimento escolar fica comprometido e suas relações com o “ser que
ensina” também, provocando a professora durante as aulas, de forma contínua, sempre lhe
passando a mensagem de que o que ensina não é interessante. Ataca o vínculo professor-
aluno de todas as maneiras.
____________________________________________________________
* Trabalho realizado pelas alunas da Universidade Católica de Santos em 1998.
42
Instrumentos de Avaliação II
43
Instrumentos de Avaliação II
44
Instrumentos de Avaliação II
O quadro Roteiro para Avaliação objetiva auxiliar o examinador em sua tarefa, porém este
não pode perder seu referencial para interpretação contido nos objetivos propostos.
Aplicações ilustrativas
Os relatos e as ilustrações que se seguem são oriundos de uma monografia* sobre
Relações Vinculares e Aprendizagem, utilizando como recurso a Pareja Educativa e Familiar,
comparando os resultados obtidos em sujeitos com e sem dificuldades de aprendizagem.
45
Instrumentos de Avaliação II
Os sujeitos de sua amostra foram indicados lhe ser solicitada a tarefa e a executou em
pelo seu grupo de trabalho, que conheciam um pedaço de papel com pauta e rasgado.
a dinâmica das famílias, constituindo-se de Trata-se de uma situação que deve ser
famílias aparentemente “ajustadas” e outras melhor explorada na questão das relações
aparentemente “desajustadas”. Nestas vinculares, porém o desenho aponta
últimas pelos dados coletados, os filhos desproporcionalidade no tamanho das figuras
apresentavam dificuldades de aprendizagem. indicando ausência de figura de autoridade e
Efetuados os procedimentos necessários “vaso-receptor”, isto é, aquele que abarca e
para a coleta de dados e dada a consigna, na qual pode se apoiar.
o aplicador sugeriu que a tarefa fosse Sob o aspecto cognitivo demonstra
elaborada na residência dos sujeitos. O empobrecimento das estruturas de
motivo que o levou a esse procedimento pensamento. O desenho de sua Pareja
foi explicado em termos de curiosidade de Educativa, aqui não demonstrada, sofre a
pesquisador, isto é, gostaria de constatar se mesma problemática.
haveria alguma alteração ou o que poderia __________________________________
emergir dessa ação. __________________
O pesquisador em questão, comparando os *I Monografia apresentada por Edeval
resultados obtidos constatou uma correlação Aparecido Gabriel na UNISO (Universidade de
nas relações vinculares entre a Pareja Sorocaba), gentilmente cedida para ilustrar a
Educativa e Familiar. técnica apresentada.
No momento apresentarei dois desenhos
dessa pesquisa no que concerne à Pareja O sujeito B (família supostamente
Familiar, sendo um de cada grupo: de ajustada) demonstra em seu desenho
uma família considerada supostamente afetividade e boas relações vinculares, exceto
desajustada (desenho A) e de outra família pela problemática revelada na elaboração
supostamente ajustada (desenho B). do rosto da mãe que segura seu irmão
No entanto, como trabalho desse recém-nascido. Essa afetividade pode ser
pesquisador está direcionado para os reconhecida pelo uso das cores, da riqueza
desenhos, as fases dois (relato do sujeito) e de detalhes o que lhe imputa um bom nível
três (escrita do sujeito) não foram efetuadas. de cognição.
O desenho A se refere ao sujeito do A situação de ensinagem parece estar
primeiro grupo, tem 10 anos de idade e subjacente ao conteúdo manifesto, em que a
apresenta dificuldades de aprendizagem e criança caminha em direção à mãe.
em seu desenho omite a figura paterna (o A seguir demonstrarei primeiramente o
que é esperado, pois seu pai não assumiu desenho do sujeito A e, contingente a este, o
a paternidade), colocando-se entre os desenho B.
avós, que cuidam dele enquanto a mãe vai Pareja Familiar Educativa - Desenho A
trabalhar. (fase 01)
Sendo assim, a própria situação de vida
impõe ao sujeito . restrições quanto ao
fortalecimento das relações vinculares que
se mostram parciais. Parece haver uma
comunicação truncada, pois não aparece uma
situação de ensinagem.
A sua problemática parece estar bem
acentuada em relação ao conhecimento, pois
demonstrou desinteresse e desconfiança ao
46
Instrumentos de Avaliação II
47
Instrumentos de Avaliação II
buscar algo preciso, ter a cada instante uma e outras. Todas as respostas são seguidas
hipótese de trabalho, alguma teoria certa ou de contra-sugestões, ou seja, contra-
errada a controlar. argumentações.
Conforme o autor, é preciso ter ensinado Sendo assim, segue-se o sujeito em cada
o método clínico para compreender sua uma de suas respostas, depois sempre
verdadeira dificuldade. As coisas não são guiado por ele, faz com que fale cada vez
simples e convém submeter a uma crítica mais livremente, acabando por obter, em
cerrada os materiais assim recolhidos. cada um dos domínios da inteligência, um
Esclarece que os grandes inimigos do procedimento clínico de exame analógico
método clínico são aqueles que acreditam em que os psiquiatras adotaram como meio de
tudo o que respondem os sujeitos e aqueles diagnóstico.
que recusam crédito a não-importância Pelo exposto, essa adaptação do Jogo
de qual é resultado proveniente de um dos Rabiscos de Winnicott, com o método
interrogatório. A essência desse método de Piaget, além de favorecer a projeção
clínico está em separar o joio do trigo e em e a criatividade do sujeito enfatizada pelo
situar cada resposta em seu contexto mental. primeiro autor, fornece de forma lúdica
Para o autor, há contextos de reflexão, a síntese cognitiva da problemática de
de crença imediata de jogo, contextos aprendizagem do sujeito.
de esforço e de interesse ou de fadiga, e Técnica
há sujeitos examinados que de imediato Consiste em colocar sobre a mesa: papel
inspiram confiança, que refletem e buscam, sulfite, lápis preto, apontador, borracha, giz
e indivíduos que visivelmente zombam de cera, canetas hidrográficas e lápis de cor,
do aplicador ou não escutam. Este último para que o sujeito use o material de sua
comportamento reflete a esquiva do pensar preferência.
e o descrédito na figura do aplicador, que A seguir pede-se ao sujeito que faça um
a meu ver representa, por transferência, o rabisco qualquer no papel e esclarece-se a ele
objeto de conhecimento. que o terapeuta vai continuar o seu rabisco
O método clínico, explana o autor, consiste (com um marcador diferente) e que ambos
em conversar livremente com o sujeito vão construir algo até que o examinando
sobre um tema dirigido, acompanhando considere executada a tarefa.
e eliminando os desvios tomados por seu Em seguida, solicita-se ao sujeito que
pensamento para reconduzi-Io ao tema, pergunte com o que se parece o desenho.
obtendo justificações e testando a constância A partir desse momento inicia-se o
e fazendo contra-sugestões. inquérito, sempre argumentando e contra-
Nesse aspecto, Piaget (1970), com argumentando com o sujeito.
suas experiências observou a constância Objetivos
perceptiva e conservação operatória que são a) obter dados a respeito do significado do
coisas diferentes; ambas têm em comum desenho realizado e seus significantes para o
a conservação da grandeza ou da forma de processo de aprendizagem;
um objeto e repousam em mecanismos de b) verificar os pontos de desequilíbrio
compensação. no sujeito, que expliquem o processo de
Para tal utiliza um método de conversação recalque do pensar (bloqueios cognitivos );
com o sujeito sobre um tema dirigido c) obter indicadores de uma problemática
pelo interrogador que segue as respostas orgânica ou emocionai que desorganiza o
solicitando que justifique o que o entrevistado pensamento, a fim de processar os devidos
diz com as seguintes perguntas: “explique encaminhamentos.
por que isso lhe faz pensar assim; que outra Avaliação
forma teria para me explicar; mostre-me
48
Instrumentos de Avaliação II
Ilustração da técnica
No intuito de demonstrar a viabilidade da aplicação da técnica Jogo dos Rabiscos, embora
adaptada para a leitura psicopedagógica, a seguir discorrerei de forma prática sobre o seu
uso.
O primeiro desenho refere-se a uma garota de 18 anos (a qual denominarei de A.l,
que cursava, à época, o segundo colegial, cuja queixa se referia às suas dificuldades de
49
Instrumentos de Avaliação II
*Técnica aplicada pela aluna Sandra Aparecida Morais, para fins de trabalho monográfico,
na Universidade de Sorocaba (UNISO), em 1999.
Desenho de A.
Rabiscos em azul: efetuados pelo aplicador Rabiscos em vermelho: efetuados pelo sujeito A.
50
Instrumentos de Avaliação II
Inquérito de A.
Pp. - De onde vem essa falta de
Pp. - O que a faz pensar, olhando este aprovação?
desenho? A. - De mim mesmo, gosto das coisas
A. - Como se fosse aquelas coisas ... Um muito certas e detesto errar. Tudo o que
anjo ou coisa assim. .. celestiais ... Estou faço, embora tenho um bom resultado, acabo
vendo até se movimentando. Olha só, que judiando de mim.
barato! Pp. - Como é isso?
Pp. - E onde ele está? A - Eu fico ansiosa, insegura ...
A. - No ar ... flutuando ... cores diferentes. Pp. - Você diz que esse anjo lhe dá forças e
Parece que estou vendo ele protegendo, a diz que fica nervosa e insegura. Me explique.
nível de todo o corpo A. - Ele dá essa força. Eu é que reluto
Pp. - Protegendo de quê? contra ele, aí quando preciso me dá força.
A. - Eu não digo nem protegendo, mas Pp. - Você disse que é uma pessoa que
fortalecendo. Fortalecendo a mim, a você, gosta de fazer as coisas perfeitas?
nós duas. A. - Sim.
Pp. - Por que você precisaria dessa força? Pp. - E você sabe que a todo momento tem
A. - Pra tudo, pra viver melhor, para entrar que fazer coisas?
em contato com as coisas mais sutis, belas, A.-Sei.
simples ... sobre nossa essência. Pp. - Então, de que forma usaria esse anjo
Pp. - E como está sua essência? se a todo momento tem que fazer coisas?
A. - Eu acredito sinceramente que ela (Pausa, parece desequilibrar-se em
vem sendo renovada, em função do trabalho pensamento.) Suspira profundamente.
que venho desenvolvendo. Porque estou A. - Engraçado! Antes de você me fazer
trabalhando com pessoas extremamente essa pergunta, eu estava pensando que eu
simples, com um conhecimento invejável, me permito errar dentro de casa, com meus
com muita fé ... conhecimento da vida. pais. Pensando melhor ... dentro de casa eu
Pp. - Como você percebe esse dou folga pra esse anjo.
conhecimento da vida? Pp. - E por que isso acontece?
A. - Que está se renovando. Hoje o mais A. - Porque em casa eu sinto que posso
importante para mim é ter tranquilidade. errar, que meus pais vão me entender.
Pp. - Então você busca tranquilidade? Profissionalmente, sinto como se eu ficasse o
A. - Sim. dia todo sendo testada, aprovada.
Pp. - E o que a leva a essa busca? Pp. - E como você se sente assim?
A. - A intranquilidade que é um (Derruba o livro.)
afastamento das coisas que são importantes A. - Às vezes acuada, com raiva! Pp. - Com
para mim. raiva de quem?
Pp. - Porquê? A - Com pessoas que têm muito menos
A. - Acreditei alguns momentos que potencial que eu e acabam fazendo eu
o conhecimento estava apenas dentro entender que tenho muito menos potencial
dos livros, dentro deste contexto. Estou que estas, profissionalmente
aprendendo este outro lado, através do Pp. - E por que você permite isso?
contato com pessoas simples como eu, e A. - Eu não ... Pra mim ... Para que eu
... sábias. Em função dessas pessoas, que consiga conviver com essas pessoas, uma
são mais sábias que eu ... não sei se vou melhor convivência. Aceito porque com isso
conseguir explicar ... estou adquirindo conhecimento profissional.
Pp. - Por que você pensa que não É como se o meu conhecimento não fosse
conseguiria explicar? A. - Pelo medo de errar, importante, só o delas.
pela falta de aprovação. Pp. - Ou é você quem mostra isso?
51
Instrumentos de Avaliação II
52
Instrumentos de Avaliação II
53
Instrumentos de Avaliação II
54
Instrumentos de Avaliação II
o sujeito está falando, o que revela (tanto na dinâmica da aplicação, como nas narrativas)
ou está por revelar, quais os medos, os desejos e as ansiedades presentes, que explicam a
dificuldade de aprendizagem.
Vinculação com o conhecimento: a forma pela qual lida com essa situação nova e
desconhecida, bem como a capacidade de tolerar a confusão para estruturar seu pensamento,
revela a sua disponibilidade para se vincular ao conhecimento.
Parecer Final - Teste do Desenho
55
Instrumentos de Avaliação II
Caso B. - O desenho que se segue foi elaborado por uma criança hipercinética, que
apresenta comportamentos hiperativos e motores, cuja produção fica comprometida devido
à imprecisão nos movimentos que se tornam circulares. Pelo nível de comprometimento
neurológico tem sido medicado com neuropléticos. Apesar de sua pouca idade 5 para 6
anos e de suas dificuldades: encontra-se auto-alfabetizando. Expressa-se muito bem apesar
da confusão de pensamentos, por isso muitas vezes não consegue articular uma frase
compreensível.
Seu relato enquanto desenhava:
- É um peixão! Coitado está com a asa quebrada ... nasceu assim! (Consciência da
problemática de seu nascimento e sequelas da meningite.)
- Para onde vai?
- Para Deus, ele vai curar sua asa e aí. .. aí vai ficar feliz.
56
Instrumentos de Avaliação II
57
Instrumentos de Avaliação II
Foi solicitado um segundo desenho em uma outra situação. Primeiro teve que exteriorizar
seus sentimentos fazendo uma lista negra para depois construir algo que denota a presença
de um “ego” mais coeso, revelando seus conflitos como o “homem borracha”.
- É para se esticar e ir para lugares diferentes e bem longe (provavelmente do que o
oprime).
Parece desejar ir para onde o pai vai nas suas viagens, comprometendo as visitas
paternas; fugir dos laços maternos, mas retornar quando o desejar.
A sua omissão em realizar as lições se constitui em uma forma de atacar os vínculos que o
prendem à mãe e ao pai.
58
Instrumentos de Avaliação II
59
Instrumentos de Avaliação II
60
Instrumentos de Avaliação II
61
Instrumentos de Avaliação II
62
Instrumentos de Avaliação II
O caso de H. de 5 anos é atípico, pois solicitei que desenhasse a si mesmo, visto que
acabara de perder o pai (uma semana atrás). Recusou a folha de papel sulfite e disse ter
um caderno para isso. Elaborou rapidamente e perguntou se eu queria ver o que já sabe
escrever. Disse que sim. Ao ser interrogado onde ele está no desenho, respondeu:
- Em todo lugar, aqui, ali. .. Tia, meu pai vai voltar?
Seu desenho fala por si mesmo, mais parece um desenho da família alegre que agora
chora.
Os aspectos afetivos presentes no colorido, nas flores, nas árvores frutíferas encontram-
se preservados, bem como os cognitivos pela proporcionalidade, ocupação do espaço do
desenho no papel.
63
Instrumentos de Avaliação II
64
Instrumentos de Avaliação II
Dinâmica da aplicação
Diz que é uma família comum: pai, mãe e filho (omite sua irmã, bem como o rosto da
criança, como se não houvesse identidade). Coloca que tem um ano de idade o que vem
confirmar, provisoriamente, o desejo inconsciente de ser o bebê dos pais.
No desenho da Figura Humana (colocado nessa técnica com a finalidade de demonstrar a
necessidade de verificar todos os aspectos da capacidade do sujeito), seu desenho apresenta-
se completo, enquanto, em todos os desenhos dessa fase são desenhados em “palito”,
revelando imaturidade para atividades que exigem maior empenho.
INTERPRETAÇÃO DO DESENHO DA FAMíLIA
65
Instrumentos de Avaliação II
66
Instrumentos de Avaliação II
Dinâmica da aplicação
Desenha as figuras sem rosto (sua família idealizada parece não possuir identidade),
porém acrescenta um irmão menor (ele gostaria de ser o mais velho e saber mais); parece
não tolerar a frustração de não estar de posse do conhecimento e, ao mesmo tempo, o
rejeita. Essa ambiguidade direciona-me para a investigação de simbiose entre mãe e filho,
pois, segundo Bleger (1985), a ambiguidade é um traço da simbiose.
Novamente omite a irmã e se coloca com 7 e 4 anos, ao mesmo tempo.
No relato diz ser uma família legal e que gosta muito dela.
Quando lhe é perguntado do que não gosta, responde: “É quando meu irmão fica
brincando com coisas chatinhas e eu falo para seus pais: - Para de provocar o C.!”
Fica evidente a identificação introjetiva com C., parece não gostar de ser chamado a
atenção, quando é infantil.
Acrescenta que vai crescer, ter uma empresa, casar e ter quatro filhos: dois meninos e
duas meninas e que vai ser muito feliz.
INTERPRETAÇÃO DO DESENHO DA FAMíliA (Desenho da família que gostaria de ter)
67
Instrumentos de Avaliação II
68
Instrumentos de Avaliação II
Dinâmica da aplicação
Terapeuta - O que você desenhou? /
Paciente - Um filho doente, está com catapora!
A catapora tem o significado muitas vezes de doença do contato, do vínculo, da
impossibilidade de se relacionar plenamente. Ao mesmo tempo, impede qualquer contato com
a escola e material escolar.
P - Ele tá de cama.
T - E agora?
P - Ele tá cansado, ele correu muito. T - E os pais dele, o que dizem?
P - Toma cuidado para não se machucar! T - E o que fazem?
P - Dão remédio e cuidam do filho. Agora ele não pode sair e nem ir na escola.
Faz-se interessante verificar as fantasias de enfermidade desse paciente, revelando uma
submissão e utilizando-a para não ir para a vida. Enfim, ser cuidado pelos pais.
69
Instrumentos de Avaliação II
70
Instrumentos de Avaliação II
71
Instrumentos de Avaliação II
Comentários
Pela idade do sujeito, sua elaboração deixa a desejar na elaboração de:
• mãos e pés desproporcionais;
• mãos com o número de dedos incompatíveis;
• tórax e abdômen sem separação;
Trata-se de um desenho que, embora pareça indicar receptividade pelos braços abertos,
na verdade indica passividade e estagnação. Por esse motivo, um desenho não deve ser
interpretado isoladamente e, sim, dentro de um contexto.
As mãos deformadas parecem indicar que alguém deve realizar para ele, pois se encontra
impossibilitado em executar movimentos de articulação mais precisa. Da mesma forma, os
pés deformados parecem indicar não poder caminhar sozinho, sem ajuda, permanecendo na
dependência.
As feições do sujeito projetado no papel, assim como o seu tamanho, indicam infantilidade.
72
Instrumentos de Avaliação II
73
Instrumentos de Avaliação II
Ilustração da Técnica
Comentários
Ló executa quatro montanhas e no meio delas um sol pontiagudo como um objeto em
crescimento. Acima, aparece um arco-íris que significa objeto de transformação, que parece
ser o que deseja. Identifica-se com o sol no meio das montanhas, como quatro seios, o que
leva a hipotetizar a falta de figura de autoridade como uma das causas de ele dormir no meio
dos pais.
Fala dos homens que cortam as árvores, como quisesse afirmar que seu processo natural
de crescimento está sendo cerceado.
De outro ponto de vista, sua desorganização no ato de execução das atividades, bem
como não recolher e guardar os objetos, deve-se a uma pedagogia familiar insuficiente, em
que alguém vem executando por ele, faltando figura de autoridade, cujo significado vem ao
encontro de pais também desorganizados e imaturos.
74
Instrumentos de Avaliação II
Esse fato gera uma imaturidade do ego e também cognitiva, ficando lento para a
aprendizagem, pois não se organizando não desenvolve os mecanismos de antecipação e a
noção de reversibilidade.
Os resultados obtidos confirmam as hipóteses levantadas sobre o sujeito na Técnica da
Família e do Desenho da Figura Humana.
Esclarecimentos
Mecanismos de antecipação: de forma rude, mas prática, pode-se afirmar que se refere ao
ato de pensar que utiliza planejamento da ação, com causa e efeito.
Noção de reversibilidade: encontra-se intimamente ligada à anterior, pois a maturidade
necessária para pensar de forma reversível envolve o conceito de antecipação da ação, para
que adquira estruturas de pensamento que atinjam a compreensão em termos de opostos:
desde as contradições da natureza como o dia e a noite, o sol e a chuva, à reversibilidade
das operações matemáticas e à aplicabilidade dessas noções na vida, sendo responsável pelo
pensamento formal, mais abstrato.
A seguir, apresentarei um quadro demonstrativo de avaliação dessa técnica, objetivando
facilitar sua interpretação.
INTERPRETAÇÃO DO DESENHO DE UMA SITUAÇÃO AGRADÁVEL
75
Instrumentos de Avaliação II
76
Instrumentos de Avaliação II
O conteúdo expressado pelo sujeito pode trazer informações ricas no tocante à sua
cognição e mensagem, sendo que ambos auxiliam na compreensão de sua problemática.
O conteúdo anterior pertence a um sujeito que cursa a sexta série, cujas estruturas
de pensamento estão compatíveis com a série em que se encontra. Os erros de escrita
cometidos bem como a oscilação no tamanho das letras têm como causa a falta de
envolvimento com sua produção. Corrobora esse aspecto, a observação da execução da
atividade (dinâmica da aplicação): quase que deitado sobre a folha, escrevendo com o braço
direito e deixando o esquerdo abaixado.
Trata-se de um trecho memorizado, permeado de desejo de liberdade, porém o sujeito
parece falar do seu medo de vinculação afetiva. Não se importa com seu produto assim como
o faz com seu corpo. Isso parece ter raízes em sua auto-estima que é baixa.
A seguir apresentarei uma produção escrita de um garoto de dez anos, na quarta série,
cuja queixa dos pais refere-se a dificuldade da criança na escola, tirando notas baixas.
O resultado de outras provas nada revelaram como possível causa. As histórias
elaboradas pelo sujeito no teste CPC demonstraram estruturas de pensamento muito bem
elaboras; havia também vinculação entre o ser que ensina e aprende. Foram elaboradas
provas interpretativas (histórias) e o nível de cognição do sujeito foi alto. A causa pode
ser encontrada na análise da Entrevista Inicial, com pais permissivos, sem autoridade,
desorganizados, gratificando excessivamente o filho.
A escrita que se segue não apresenta déficits que expliquem à problemática.
77
Instrumentos de Avaliação II
78
Instrumentos de Avaliação II
Provas interpretativas
Trata-se de textos falados ou lidos pelo sujeito:
- dois da série anterior ao que se encontra;
- dois da série atual;
- dois da série posterior.
Se o sujeito sabe ler, deve-se solicitar que leia, conte o que leu e explique algumas
passagens importantes do texto. Pode-se argumentar com ele, dizendo: “E se isto fosse
assim, como seria?” e outras construções adequadas.
Caso não saiba ler, o aplicador lerá para ele e explorará da mesma forma o seu potencial
cognitivo.
Essas provas exigem do profissional muita criatividade, pois podem ser substituídas por
símbolos.
Em adolescentes recomenda-se o uso de códigos.
Raciocínio matemático
Devem-se utilizar jogos diversos, por exemplo: pega varetas (variando o valor das cores,
dependendo da idade para aumentar o nível de dificuldade); dominó comum e um que
trabalhe o valor n:
79
Instrumentos de Avaliação II
O sujeito pode manipular fichas ou grãos para encontrar o valor n e colocar a peça
correspondente.
O trabalho de exploração deve partir da adição para a subtração, da multiplicação para a
divisão. O nível de dificuldade deve estar de acordo com a escolaridade da criança. Porém,
recomenda-se iniciar com um nível mais baixo e ir aumentando gradativa mente.
Existem jogos de raciocínio que permitem verificar além da cognição, o domínio do
raciocínio matemático, mas necessitam ser adaptados para cada situação.
___________________________________________________
Referência:
Chamat, Leila Sara José. Técnicas de diagnóstico psicopedagogico: o diagnóstico clinico na
abordagem interacionista. 1ª edição - São Paulo: Vetor, 2004
A intenção desta sessão é mostrar as provas e suas modificações para aqueles que estão
iniciando na psicopedagogia. Não nos cabe aqui detalhar como a prova é aplicada, devendo o
estudante buscar em livros como os de Jorge Visca ou Piaget o procedimento para aplicação
das mesmas.
1. PROVAS DE CONSERVAÇÃO:
Materiais:
- 2 massas de modelar de cores diferentes cada uma, cujo tamanho possa fazer 2 bolas de
aproximadamente 4 cm de diâmetro.
80
Instrumentos de Avaliação II
Materiais:
- 2 vasos iguais A1 e A2
- 1 vaso mais fino e alto B
- 1 vaso mais largo e baixo C
- 4 vasinhos iguais D1, D2, D3, D4
- 2 copos contendo líquidos de cores diferentes
81
Instrumentos de Avaliação II
Igualdade inicial:
Terceira modificação:
Materiais:
- 10 fichas vermelhas
- 10 fichas azuis
cada um com 2 cm de diâmetro
82
Instrumentos de Avaliação II
Materiais:
- 2 folhas de cartolina verde ou papel E.V.A. (20x25)
- 12 quadrados de cartolina ou E.V.A. na cor vermelha com cerca de 4 cm de lado
- 1 vaquinha
Igualdade inicial:
Perguntas iniciais
Retorno empírico
83
Instrumentos de Avaliação II
Materiais:
- 2 vasos iguais
- 2 massas de modelar de cores diferentes
- 2 copos contendo líquidos de cores diferentes
84
Instrumentos de Avaliação II
Materiais:
- 2 massas de modelar de cores diferentes cada uma, cujo tamanho possa fazer 2 bolas de
aproximadamente 4 cm de diâmetro.
- 1 balança com dois pratos cuja leitura seja pela posição dos braços.
Materiais:
85
Instrumentos de Avaliação II
2. PROVAS DE CLASSIFICAÇÃO:
Materiais:
- 5 círculos vermelhos de 2,5 cm de diâmetro.
- 5 círculos azuis de 2,5 cm de diâmetro.
- 5 círculos vermelhos de 5 cm de diâmetro.
- 5 círculos azuis de 5 cm de diâmetro.
- 5 quadrados vermelhos de 2,5 cm de lado.
- 5 quadrados azuis de 2,5 cm de lado.
- 5 quadrados vermelhos de 5 cm de lado.
- 5 quadrados azuis de 5 cm de lado.
- 2 caixas planas de mais ou menos 4 a 5 cm de altura e uns 12 cm de lado.
Material
Classificação por cores sem caixa Classificação por cores usando caixas
86
Instrumentos de Avaliação II
Classificação por formas usando a caixa Classificação por tamanhos usando caixa
Materiais:
- 5 círculos azuis de 2,5 cm de diâmetro
- 5 círculos vermelhos também de 2,5 cm de diâmetro
- 5 quadrados vermelhos de 2,5 cm de lado
- 1 folha de cartolina ou papel E.V.A. com dois círculos em intersecção, sendo que um preto
e outro amarelo.
Obs.: os 5 círculos devem poder entrar na intersecção.
87
Instrumentos de Avaliação II
3.SERIAÇÃO
Materiais:
- 10 palitos com aproximadamente 1 cm de largura com uma diferença de 0,6 mm de
altura entre um e outro, sendo que o primeiro tem aproximadamente 11,5 cm.
4.1.Combinação de fichas
Materiais:
- 6 fichas de diferentes cores com 2,5 cm de diâmetro cada uma.
88
Instrumentos de Avaliação II
Materiais:
- 4 fichas de diferentes cores com 2,5 cm de diâmetro cada uma.
4.3 Predição
Materiais:
- 17 fichas verdes
- 10 fichas amarelas
- 6 fichas lilases
- 1 ficha branca
- 1 saco de pano
__________________________________________________________________
Referência:
© 2004 [Psicopedagogiabrasil]. Todos os direitos reservados.
SAMPAIO, Simaia. Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clínico. Rio de Janeiro, Editora
WAK, 2009.
VISCA, Jorge. El diagnostico operatorio em la practica psicopedagogica. Buenos Aires,
Ag.Serv,G,. 1995.
89