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Instrumentos de

Avaliação II
Profª Sandra Mesquita
Sumário

Diagnóstico Psicopedagógico.................................................................................. 4

A AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA:......................................................................... 5

FASES PROCEDIMENTO E UTILIZAÇÃO.................................................................... 5


A AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA........................................................................................... 5

FASES E PROCEDIMENTOS DA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA.................................................... 5

Avaliação da informação que a escola já tem sobre o aluno ........................................................ 6

Avaliação da situação inicial: instrumentos de ajuda para o registro da informação ........................ 8

Avaliação das competências curriculares .................................................................................. 8

A observação em sala de aula ................................................................................................ 9

Análise dos trabalhos dos alunos............................................................................................ 10

Provas psicopedagógicas....................................................................................................... 11

A devolução da informação.................................................................................................... 12

Entrevistas familiares........................................................................................................... 12

Acompanhamento................................................................................................................ 13

A AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA TOMADA DE DECISÕES PARA A APROVAÇÃO DOS ALUNOS E

PARA A ELABORAÇÃO DO PARECER PRÉVIO À ESCOLARIZAÇÃO.................................................. 13

Aprovação dos alunos........................................................................................................... 13

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................... 14

Leitura psicopedagógica da Entrevista Inicial........................................................ 15


Delineando o campo focal .................................................................................................... 15

Um modelo psicopedagógico de Entrevista Inicial ..................................................................... 17

ROTEIRO DA TÉCNICA - A ENTREVISTA INICIAL ...................................................................... 20

Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA) ....................................... 22

História de vida ou anamnese psicopedagógica...................................................... 26


Técnica ............................................................................................................................. 26

Técnica Pareja Educativa....................................................................................................... 34

Técnica Par Educativo Familiar.............................................................................. 44

A técnica psicopedagógica dos rabiscos................................................................. 47

Técnica psicopedagógica do desenho livre............................................................. 54

Técnica psicopedagógica da figura humana............................................................ 60

Técnica psicopedagógica do desenho da família..................................................... 64


Técnica: situação agradável e desagradável........................................................... 73

Provas pedagógicas específicas............................................................................. 76

Provas operatórias Piagetianas.............................................................................. 80


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Já aprendemos que o papel do psicopedagogo vida da criança, realizando anamnese,


é o de detectar a problemática no processo de entrevistar o cliente, fazer contato
com a ecola e outros profissionais que
aprendizagem considerando principalmente o
atendem a criança, manter os pais in-
contexto no qual o aluno esta inserido, o sintoma e formados de seu desenvolvimento e da
atuar sobre ele orientando assim o aluno, sua família intervenção que esta sendo realizada e
e a escola. Dessa maneira vamos conhecer o que encaminhar o caso para outros profis-
Porto ( 2005) tem a nos explicar sobre a importância sionais, quando necessário. (Rubein-
stein, 1996)
da avaliação psicopedagogica e a escolha do
intrumento. Dessa forma,
O diagnóstico psicopedagogico clínico,
deve-se concentrar em levantar hipó-
Diagnóstico teses, verificar o potencial de aprendi-
zagem, mobilizar o aprendiz e o seu
Psicopedagógico entorno (família e escola) no sentido
Olivia Porto da construção de um olhar sobre o não
aprender. ( Rubeinstein, 1996, p.134)
O psicopedagogo utiliza o diagnóstico
psicopedagogico para detectar problemas de Os recursos constituem instrumentos para
aprendizagem. Rubinstein (1996) compara a realização do diagnóstico e da intervenção
diagnóstico psicopedagógico com processo psicopedagogica. O uso de jogos, uma
de investigação, no qual o psicopedagogo vez que o sujeito, por meio deles, pode
assemelha-se a um detetive à procura manifestar, sem mecanismo de defesa,
de pistas, selecionando-as e centrando- os desejos contidos em seu inconsciente.
se na investigação de todo o processo de Levando em conta que o sujeito tem possui
aprendizagem, levando em conta a totalidade poucos recursos (de vocabulário, por
dos fatores envolvidos. Afirma que o exemplo) para se comunicar, expressar o que
diagnóstico psicopedagógico é , em si, uma sente e o que deseja, ele pode fazer uso de
intervenção, pois o psicopedagogo tem de testes específicos a área de psicopedagogia,
interagir com o cliente, a família e a escola, jogos, brincadeiras, desenhos para manifestar
partes envolvidas na distância do problema. A suas emoções. Cabe ao psicopedagogo estar
autora declara que: atento para escutar as mensagens, enfim,
durante e após o processo diagnóstico para ouvir o sujeito.
serão construídos um conhecimento e
O psicopedagogo pode ser criativo e
uma compreensão a respeito do pro-
cesso de aprendizagem. Isso permite desenvolver atividades que possibilitem
que o psicopedagogo tenha maior observar os aspectos da inteligência e
clareza a respeito dos objetivos a ser- da projeção, e , se achar que os testes
em alcançados no atendimento psico-
psicológicos, são importantes para concluir
pedagógico. (Rubeinstein, 1996,p.28)
um diagnóstico, pode encaminhar o cliente
Quanto aos procedimentos, entende-se para um psicólogo a fim de que ele realize
que a atuação do psicopedagogo, tanto na uma avaliação psicológica, efetivando um
clínica, quanto na instituição, é de natureza trabalho multidisciplinar.
multidisciplinar, até porque a psicopedagogia __________________________________
Referência: Porto. Olivia, Diagnóstico Psico-
assim se constitui; o uso de procedimentos
pedagógico (p.93 a 94) , in Bases da Psicopeda-
para diagnóstico e intervenção provém de gogia Diagnóstico e Intervenção nos problemas
diversos procedimentos para diagnóstico de aprendizagem. PORTO. Olivia, Walk Editora,
Rio de Janeiro 2005,
e intervenção decorre de diversas áreas
A partir de agora vamos conhecer a
– embora a psicopedagogia já conte com
importância do procedimento de sequencia na
recursos próprios.
O psicopedagogo pode usar como re-
utilização da avaliação psicopedagogica.
curso a entrevista com a família; pode
também, investigar, o motivo da con-
sulta, procurar conhecer a história de

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A AVALIAÇÃO ajustes necessários no cuidado educativo.


A estrutura para executá-la é a escola e
PSICOPEDAGÓGICA: deve ser considerada como um processo. A
referência será o contexto escolar no qual
FASES PROCEDIMENTO E o aluno, ou grupo de alunos se encontra,
isto é, o currículo concretizado em termos
UTILIZAÇÃO da programação da sala de aula: objetivos
MARIA JOSÉ e conteúdos, materiais curriculares,
MONTÓN SALES E
organização da aula, metodologia didática,
MARGARIDA REDÓ
DALMAU avaliação, etc.
Se considerarmos que a avaliação deve
A AVALIAÇÃO ser sempre o ponto de partida para tomar
decisões e realizar os ajustes necessários
PSICOPEDAGÓGICA
na tarefa educativa, e que a avaliação
A avaliação psicopedagógica foi objeto de psicopedagógica deve contribuir para a
profundas modificações durante os últimos tomada dessas decisões, parece lógico
anos. Deixou de ser um processo que servia, e aconselhável colocá-la em termos de
majoritariamente, para classificar alunos com processo compartilhado com o professor
a finalidade de buscar a colocação escolar orientador e contando sempre, em qualquer
mais idônea e cuja informação consistia, em caso, com a sua colaboração. Dessa
grande parte, em averiguar o que não sabiam forma, os resultados obtidos poderão ser
e, talvez, não podiam chegar a saber, para analisados, conjuntamente, introduzindo,
ser um processo dirigido a apoiar o processo progressivamente, as mudanças necessárias
de tomada de decisões sobre sua situação na atenção educativa.
escolar. É importante enfatizar a ideia de
A necessidade de mudar o conceito e os processo no sentido de que não se deve
procedimentos para a avaliação manifestou- esperar a culminação do mesmo para
se nas proposições da reforma educativa tomar decisões, já que, então, a avaliação
concretizada na LOGSE. Nela, a avaliação é psicopedagógica deixaria de cumprir, em
apresentada como um processo formador grande parte, a função de ajuda para tomar
continuo, cuja principal função é saber o decisões pedagógicas e para adequar a ação
que o aluno aprendeu, como aprendeu, que educativa. Pejo contrário, trata-se de utilizar
tipo de apoio necessitou, com que materiais, as informações que, em cada momento, vão
etc. Em resumo, a avaliação deve servir sendo proporcionadas para tomar decisões
para melhorar a atenção educativa de cada que permitam introduzir, progressivamente,
aluno e deve ser o ponto de partida de todas as mudanças necessárias.
as decisões que deveriam ser tomadas em
seu processo de aprendizagem. Assim, a FASES E PROCEDIMENTOS
avaliação psicopedagógica não deve ser DA AVALIAÇÃO
diferente da avaliação escolar; deve ser PSICOPEDAGÓGICA
complementar a esta e deve compartilhar
com ela das mesmas finalidades.
A avaliação psicopedagógica pode ser A seguir, passamos a descrever as
dirigida a um aluno ou grupo de alunos diferentes fases do processo de avaliação
que apresentem necessidades educativas psicopedagógica e, na análise de cada uma
especiais, ao longo de sua escolaridade, ou delas, os procedimentos mais habituais para
em algum momento essencial da mesma, e a sua realização. Obviamente, um processo
em relação às quais devem ser realizados os concreto de avaliação psicopedagógica não

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tem porque incluir, necessariamente, todas disposição de qualquer profissional que a


as fases mencionadas, nem tem porque solicite.
segui-Ias na ordem em que aparecem. Por Geralmente, a informação, que é obtida no
exemplo, podem ser realizadas entrevistas momento de formalizar a matrícula, consiste
familiares no início do processo, ao finalizar em:
o mesmo ou, simplesmente, não serem - Dados pessoais do aluno (nome,
realizadas. As fases as quais nos referimos sobrenome, data de nascimento, endereço
são as seguintes: etc.).
● Avaliação da informação que a - Dados pessoais do pai, da mãe ou do
escola já possui sobre o aluno. tutor (idade, profissão e horário de trabalho).
● Avaliação da situação inicial. - Composição familiar e pessoas que vi
Instrumentos de ajuda para o vem na residência.
registro da informação. - Língua habitual familiar e outras línguas
● Avaliação das competências cur- utilizadas na família. .
riculares: - Utilização de algum serviço escolar
● Observação em sala de aula. (alimentação, atividades extra-escolares
● Análise dos trabalhos dos alunos. realizadas na própria escola).
● Provas psicopedagógicas. - Membro da família e/ou pessoa
● Devolução da informação e responsável que acompanha e pega o aluno
propostas de trabalho. no colégio. - Dados médicos básicos: estado
● Entrevistas familiares. de saúde em geral, vacinas, controle médico,
● Acompanhamento. observações médicas significativas.
Avaliação da informação que - Escola infantil ou escola de procedência
a escola já tem sobre o aluno no caso de transferência, motivo da mesma,
etc.
- Aspectos importantes, de acordo com o
A primeira informação sobre os alunos pensamento dos pais ou tutores, que devem
é obtida no momento em que as famílias ser levados em conta ou que os preocupam
formalizam sua matrícula na escola. A sobre seu filho ou filha.
informação é registrada por algum membro A informação que consta na ficha do aluno
da equipe de direção ou, em alguns casos, deve ser utilizada como ponto de partida
pelos próprios orientadores ou orientadoras no processo de avaliação psicopedagógica
de educação infantil, que aproveitam e proporciona um primeiro contato com a
este primeiro momento para entrar em situação do aluno. Obviamente, deve ser
contato com as famílias. Estes dados comparada com o professor ou com a família.
costumam ser transferidos para a ficha Deve-se instaurar o hábito de consultar a
pessoal do aluno e vão sendo atualizados informação cada vez que seja necessário. No
ao longo da escolaridade. Em geral, é uma entanto, apesar de seu interesse inegável,
informação extremamente valiosa que essa informação é, freqüentemente,
deve ser considerada e que não é preciso insuficiente para iniciar o processo de
solicitar, novamente, quando se inicia um avaliação psicopedagógica. Por isso, é
processo de avaliação psicopedagógica. conveniente completá-la atendendo aos
Essa informação vai sendo amplianda e seguintes aspectos, que variam em função da
atualizada, posteriormente, por meio das etapa de escolarização.
entrevistas com os pais, que os respectivos Dados complementares para a Educação
orientadores e orientadoras realizam ao longo Infantil
da escolaridade dos alunos, e deve estar à Informação relativa a algumas das
características mais relevantes dos alunos

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desta etapa: hábitos, atitudes, normas e leitura, organização e plane-


algumas pautas educativas familiares. jamento, tempo que destina às
●● Autonomia pessoal e hábitos brincadeiras e lugar onde as
em relação ao controle de es- realiza, etc.).
fíncteres, higiene, alimentação, ●● Tipos de jogo e colegas com os
horários de dormir, o vestir-se e quais os realiza. Atividade extra-
o despir-se, ordem nos objetos escola.
pessoais, etc. ●● Atitude pessoal em relação aos
●● Capacidades em relação à lin- familiares mais próximos, ami-
guagem (comunicação, ex- gos, outros adultos.
pressão e compreensão), ao de- ●● Dependência e independência
senvolvimento motor, à atenção, nas relações. Aceitação das nor-
à memória, etc . • Tipos de jogos mas, resolução de conflitos pes-
que realiza, como ocupa o tempo soais e coletivos, etc.
li vre em casa, fora de casa, nos ●● Dados complementares para o
fins de semana e durante os pe- Ensino Médio
ríodos de férias, etc. ●● Informação relativa a algumas
●● Atitude pessoal em relação aos características mais relevantes
familiares mais próximos: pais, dos alunos desta etapa: hábitos,
irmãos, avós; com as outras atitudes, normas e alguns pa-
crianças; com os adultos; com os drões educativas familiares.
animais e os objetos, etc. ●● Autonomia pessoal e hábitos em
●● Dependência e independência relação à higiene, alimentação,
nas relações. horários de dormir, ordem com
●● Atitudes, diante da frustração, da seus objetos pessoais (roupa,
aceitação de normas, da reso- calçados, livros, jogos, etc.).
lução. dos conflitos, etc. ●● Informação espontânea que
●● Dados complementares para o apresenta à sua família sobre
Ensino Fundamental a vida na escola, seus amigos,
●● Informação relativa a algumas interesses, problemas, etc.
características mais relevantes ●● Atitude em casa. Pedido de aju-
dos alunos desta etapa: hábitos, da. Aceitação e cumprimento das
atitudes, normas e algumas pau- normas familiares. Autonomia.
tas educativas familiares. . Em caso de conflito, como os pais
●● Autonomia pessoal e hábitos em e outros familiares reagem.
relação à higiene, alimentação, ●● Responsabilidades familiares em
horários de sono, organização relação às tarefas domésticas,
nos objetos pessoais (roupa, em relação a um irmão ou irmã
calçados, brinquedos, livros, menor.
etc.). ●● Responsabilidades pessoais
●● Capacidades em relação à lin- em relação ao trabalho esco-
guagem (comunicação, ex- lar. Horário e tempo destinado.
pressão e compreensão), Condições para o estudo (es-
●● Capacidades em relação às habi- paço, materiais de consulta).
lidades motoras. Solicitação de ajuda quando não
●● Capacidades em relação às tare- entende alguma coisa ou quan-
fas escolares (concentração no do passa por algum controle.
trabalho, memória, hábitos de Acompanhamento dos trabalhos

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escolares, da agenda. Acompan- a dinâmica da aula, as ajudas realizadas até


hamento e entrevistas com os o momento e a eficácia das mesmas, etc.
professores. Reações familiares Sob nosso ponto de vista, é importante
diante dos resultados escolares. fazer o esforço de registrar, por escrito,
●● Tempo que dedica à leitura de alguns níveis de competência curricular, isto
livros não escolares. é, o que o aluno é capaz de fazer em relação
●● Atividades de tempo livre prati- às áreas instrumentais, já que permite ao
cadas, organizadas ou espon- orientador refletir mais detidamente sobre o
tâneas: tempo e frequência, aluno. Entender a avaliação psicopedagógica
companhias mais usuais, etc. como um processo positivo e construtivo é
●● Familiares que se encontram em extremamente importante. A informação
casa quando termina a jornada escrita permite, também, comparar a
escolar. visão inicial do orientador com a obtida
Avaliação da situação inicial: no transcurso da avaliação realizada pelo
instrumentos de ajuda para o psicopedagogo.
registro da informação A seguir, apresentamos um esquema
do tipo de resumos mencionados, válido
para trabalhar com professores de todas as
A solicitação inicial de intervenção deve etapas:
obter o maior número de informações Avaliação das competências
possíveis acerca da situação atual do curriculares
aluno e dos aspectos que mais preocupam
o orientador ou a orientadora e que, Nesta fase do processo da avaliação
certamente, foram o motivo imediato de psicopedagógica já se costuma dispor, em
consulta ao psicopedagogo. geral, de uma informação suficiente para
Para os alunos com necessidades começar a intervir com conhecimento de
educativas especiais, que ingressam pela causa. Também é possível que se tenha
primeira vez na escola, seja na etapa de tomado, juntamente com o orientador ou
Educação Infantil, Ensino Fundamental ou orientadora, algumas decisões, mais ou
Ensino Médio, a avaliação prévia fica refletida menos importantes, quanto ao tipo e à
nos requisitos de matrícula ‘. Portanto, qualidade da ajuda pedagógica dirigida ao
costumam ser alunos sobre os quais se aluno. Geralmente, qualquer decisão adotada,
dispõe de uma considerável informação por pequeno que seja seu alcance, costuma
inicial, muito útil, para programar o trabalho gerar mudanças mais ou menos importantes.
com a equipe de professores. Assim, é provável que procedamos na análise
Com a finalidade de colaborar no da evolução da situação do aluno, ou alunos
registro e na organização da informação ou, pelo contrário, que passemos a realizar
inicial, proporciona-se ao orientador/a um uma exploração individual ou de grupo com
documento-guia que facilite tal processo. maior nível de profundidade.
Essa informação é confirmada em uma
entrevista individual e pode servir, em
algumas ocasiões, para tomar decisões
a curto prazo: por exemplo, uma maior
concretização da situação, atualizar a
informação de períodos anteriores, revisar
os trabalhos escolares, analisar os materiais
curriculares que se estão utilizando, analisar

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A observação pode estar dirigida para uma


tomada de contato inicial com a situação ou
pode responder a uma finalidade muito mais
concreta. No segundo caso, é importante
combinar com o professor ou professora a
atividade mais pertinente a ser realizada no
momento da observação e informar-lhe sobre
a sua finalidade, o tempo aproximado que
permaneceremos na sala de aula, qual será o
nosso papel, etc.
A observação na sala de aula traz para o
processo diagnóstico um maior conhecimento
da vida da aula e permite compor tal
realidade com as informações anteriores
e posteriores que vão sendo obtidas ao
longo de tal processo. Também permite
entender, melhor, determinadas informações
O passo seguinte consistirá, então, em relativas aos conteúdos, à metodologia, à
aprofundar-se na análise da situação inicial organização e às interações entre o professor
mediante a realização de uma ou várias e os alunos e entre os próprios alunos. A
observações na sala de aula, a revisão dos informação obtida, mediante a observação,
trabalhos e produções escolares e a aplicação proporciona um melhor conhecimento da
de provas psicopedagógicas. Sob o nosso prática educativa do professor, facilitando o
ponto de vista, pode-se utilizar, em primeiro ajuste do trabalho conjunto entre este e o
ou em segundo lugar, qualquer procedimento. psicopedagogo.
Os três procedimentos indicados são, na A seguir, passamos a descrever alguns
nossa opinião, igualmente pertinentes e, elementos que convêm considerar no
com frequência, necessários, sem que caiba momento de realizar a observação.
conceder a um deles maior valor e interesse Em primeiro lugar, é aconselhável fazer
do que aos outros dois. uma breve descrição da situação da aula (por
A observação em sala de aula exemplo, mediante um esboço ou plano) e
da atividade que está sendo realizada, assim
A finalidade principal da observação como do momento de desenvolvimento no
em sala de aula? É obter uma informação qual se encontra.
aproximada da dinâmica da aula em Em segundo lugar, convém prestar atenção
seu conjunto. A cautela deve presidir o aos seguintes aspectos:
planejamento, a realização e a análise dos A-. Em relação à atividade geral do grupo:
resultados dessa observação, pois, com As atividades são o contexto no qual
frequência, é determinante do tipo de relação ocorrem as aprendizagens dos alunos e as
que se estabelece com o professor que relações interativas entre eles e o professor.
formulou a solicitação inicial e condiciona Convém observar:
as possibilidades de trabalho e colaboração - Ligação entre a atividade observada e a
futuras. Convém, também, evitar as atividade anterior. Atividade oral ou escrita.
apreciações categóricas, pois a complexidade - Normas para a apresentação do trabalho.
da situação da sala de aula impossibilita que - Material utilizado.
se chegue a conclusões definitivas a partir, - Tempo de realização da atividade.
unicamente, de uma ou duas sessões de Início da atividade:
observação.

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- Ordem oral ou escrita. Explicações em - Interação aluno-professor: quem tem a


relação ao material a ser utilizado. iniciativa - iniciativa que predomina por parte
- Acompanhamento da ordem: oral, por do aluno, tipo de respostas.
partes, em pequeno grupo ou individual. - - Facilidade ou não que o professor dá
Coerência da mesma. para que os alunos se ajudem entre eles, se
- Como se assegura a compreensão? orientem, etc.
Desenvolvimento da atividade: - O aluno solicita a ajuda de outro ou
- Atividade conjunta, em pequenos grupos outros colegas.
ou individual. - Intervenção do professor para com o
- Atividade diferenciada, em pequeno aluno: disciplina, organização, avaliação,
grupo ou individual. ânimo, insistência reiterada, proposta,
- Tipo de atividade: receptiva, reprodutiva modelo, explicação complementar, verificação
ou produtiva. se o aluno entendeu a nova explicação, etc.
Atitude geral do grupo: - Intervenção do aluno para com o
- Interesse pela tarefa. professor: número de intervenções para
- Acompanhamento da tarefa pelos alunos. solicitar ajuda em relação à tarefa, revisão
- Grau de envolvimento. de qualquer aspecto da mesma, intervenções
- Perda progressiva do interesse. não-relacionadas com esta, etc.
- Recondução da atividade. C. Em relação à atitude do professor
- Eficácia das intervenções do professor. para com os alunos em geral.
Realização das atividades: - Clima social da aula. Os alunos se
- Número de alunos que acompanham a mostram satisfeitos e participativos. O
atividade. professor mantém uma relação personalizada
- Estimativa das dificuldades mais gerais e cordial. Aumenta o tom de voz ao longo da
do grupo. sessão.
- Tempo médio de execução. - Controle do grupo. Estratégias que utiliza
- Apreciação geral da elaboração das para motivar os alunos. Para reconduzir
tarefas escritas. situações. Para restabelecer a ordem.
-Intervenções: de disciplina,
esclarecimentos, organização, correções Análise dos trabalhos dos
gerais, ajudas solicitadas, propostas de alunos
reflexão gerais ou individuais, para dar
ânimo, outras intervenções alheias à tarefa.
Final da atividade: A revisão dos trabalhos que o aluno
- Intervenção final do professor para realiza tem como finalidade conhecer, com
refletir sobre a tarefa realizada. detalhe, seu nível de elaboração, os materiais
- Tipo de correção: coletiva, individual, curriculares que utiliza, ° sistema de correção
autocorreção, etc. ou auto-correção dos mesmos, etc.
- Sistema de registro do trabalho realizado. Em nossa opinião, é aconselhável
- Proposta de trabalho individual ou de considerar, nessa análise, os seguintes
grupo com a finalidade de consolidar os aspectos:
conteúdos. - Tipo de material que utiliza: livros-texto,
- Avanço da atividade para a próxima anotações, cadernos, folhas, pastas, etc.
sessão. - Normas de trabalho: obediência às
normas estabelecidas em aula (títulos,
B. Observar em relação ao aluno margem, data, organização do espaço da
folha e distribuição das atividades, arquivo
dos mesmos, etc.).

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- Nível de elaboração dos trabalhos: motoras, emocionais, de relação interpessoal


completos ou incompletos. Qualidade da e de ação e inserção social.
escrita. Também deve permitir conhecer as
- Tipos de atividades que realizam com estratégias que utiliza para abordar as
mais freqüência, mais esporadicamente ou tarefas, em que tarefas manifesta maior
quase nunca. interesse e motivação, como aprende,
- Erros mais habituais. que resultados obtém, como planeja, que
- Avaliação dos trabalhos por parte do estratégias utiliza diante de uma dificuldade,
professor. Tipo de correções e anotações. se é capaz ou não de retificar, como solicita
Comentários escritos. ajuda, como se relaciona, como se comunica,
É importante também comparar os que imagem tem de si mesmo, que situações
resultados do aluno com os trabalhos lhe são mais gratificantes, como suporta
de outros alunos da aula, o que permite a frustração diante das dificuldades, que
observar se há diferenças significativas. tipo de relações estabelece com os diversos
Outro aspecto relevante a ser considerado é o professores e que opinião estes têm sobre o
acompanhamento da evolução dos mesmos, aluno, etc.
ao longo do curso. Em algumas situações, As provas psicopedagógicas são
é aconselhável comentar os trabalhos com instrumentos que permitem obter informação
o aluno e observar seus argumentos e a sobre o nível de aprendizagem dos alunos
avaliação que ele faz dos mesmos. em relação aos conteúdos curriculares. O
Obviamente, a informação obtida da mais importante é observar o processo de
análise dos trabalhos dos alunos deverá ser realização das tarefas que o aluno efetua
comparada e avaliada com o professor, a e as estratégias que emprega, informação
fim de realizar as avaliações pertinentes e que permite conhecer melhor seu estilo de
introduzir as mudanças necessárias. aprendizagem e as eventuais dificuldades que
possa ter e que será utilizada para ajudar
Provas psicopedagógicas o aluno a superar os problemas detectados
bem como o ajudará a continuar progredindo
em sua escolaridade. Podem ser provas
Neste ponto do processo da avaliação elaboradas pela própria equipe ou provas
psicopedagógica, já se dispõe de uma existentes no mercado. A título de exemplo,
informação considerável obtida mediante destacamos algumas que podem ser de
a entrevista inicial, a observação na sala utilidade:
de aula e a revisão dos trabalhos do aluno.
Conhecemos como se manifesta o aluno na - Provas psicopedagógicas de avaliação
sala de aula, como aprende neste contexto, individuai (Montesino M. e outros, 1991).
que dificuldades ou problemas apresenta e - Provas pedagógicas graduadas para
como o professor age para ajudá-lo. Educação Infantil e para séries iniciais
A exploração individual deve permitir do Ensino Fundamental (Equipe de
obter informação sobre sua capacidade nas assessoramento psicopedagógico de Terrassa,
diferentes áreas do currículo. Tal avaliação 1989).
deve ter como referência o PCC e, mais - Inventário de detecção prematura
concretamente, as realizações da série ou (crianças de três aseis anos) (Meisels, S. e
nível ao qual pertence. Trata-se, pois, de Wiske, M” 1989), - Teste de análise de leitura
conhecer, mais profundamente, o domínio e de escrita (T.A.L.E.) (Toro, J. e Cervera, M.,
que o aluno tem dos conteúdos curriculares 1984).
e do nível de desenvolvimento alcançado em - Prova de linguagem oral (PLOM) (quatro,
relação às diferentes capacidades: cognitivas, cinco e seis anos) (Navarra),

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Instrumentos de Avaliação II

- Pautas e registros de observação e de no processo educativo do aluno, a fim de


avaliação. Todas as áreas e conteúdos do comentar os resultados. A explicação da
currículo oficial da Educação Infantil e do situação deve iniciar-se, sempre, com uma
Ensino Fundamental (1994), etc. avaliação positiva do aluno, indicando, em
É conveniente destacar a diferença primeiro lugar, o que ele é capaz de fazer
entre as provas pedagógicas e os com mais ou menos êxito.
testes psicológicos. Em nossa opinião,
os testes psicológicos clássicos trazem No decorrer dessa entrevista, projetam-
pouca informação útil para a intervenção se e planejam-se, conjuntamente, as ações
psicopedagógica na estrutura escolar; por educativas necessárias para ajustar a ajuda
isso, só ocasionalmente utilizamos as provas que se vai proporcionar ao aluno ou alunos e
de inteligência mais usuais: WISC, WPPSI, que serão diferentes em função da solicitação
etc. inicial. De qualquer modo, deve-se enfatizar
A aplicação de provas psicopedagógicas mais a explicação da situação do aluno no
não deve ser realizada com rigidez. Seu uso contexto escolar do que a interpretação da
depende do contexto e da informação que origem do problema.
desejamos obter, em função da solicitação No decorrer da entrevista, também serão
inicial e das informações já obtidas nas fases esclarecidos os compromissos sobre as ações
anteriores do processo. a serem seguidas e a programação das
No momento da aplicação das provas, reuniões de acompanhamento.
convém considerar aspectos, tais como: Aconselha-se efetuar um resumo escrito da
-Informar ao aluno sobre o motivo pelo avaliação com as orientações sobre o trabalho
qual realiza o trabalho com o psicopedagogo, a ser realizado e os compromissos que cada
fora da aula. parte assume: aluno, professor, outros
- Que tipo de trabalho realizará. profissionais e, no caso de ser conveniente,
- Apresentar-se como alguém que quer também a família.
ajudá-lo.
- Informá-lo de que, uma vez finalizada a Entrevistas familiares
avaliação, os resultados serão comentados
com ele, bem como ele será orientado
naqueles aspectos que necessita melhorar. Embora a avaliação psicopedagógica
- Estabelecer uma boa relação, em um sirva para que, em primeira instância, os
ambiente tranquilo, e deixar explícito que não professores tomem decisões adequadas às
se trata de uma situação de exame. necessidades educativas dos alunos, isto não
- Obter informação de como vivencia significa que as famílias não possam obter
a escola, a relação com seus colegas, proveito e beneficiar-se com tais resultados
professores, seu rendimento escolar, seus e conclusões. Do nosso ponto de vista, é
interesses e motivações, a relação com os o orientador, ou orientadora, quem deve
pais e com os irmãos, as normas familiares, o informar os pais sobre qualquer decisão que
núcleo de relações sociais em que vive, etc. se tome em relação aos alunos e comunicar-
se com eles, quantas vezes for necessário.
A devolução da informação Nesse sentido, o psicopedagogo não deve
realizar tarefas substitutivas do professor
orientador, nem sobrepor suas funções às
Uma vez finalizada a exploração individual, que a este são atribuídas. Somente nos
é necessário manter uma entrevista com o casos em que for oportuno, se colaborará
orientador ou orientadora, e, se possível, com com o professor orientador na realização das
o restante dos profissionais que intervêm entrevistas familiares. Entretanto, deve-se

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Instrumentos de Avaliação II

estar, a qualquer momento, à disposição do por escrito, a fim de facilitar a sistematização


orientador ou orientadora para a preparação da informação e supervisionar o seu
das mesmas. cumprimento.
No entanto, em algumas ocasiões, pode
ser conveniente que o psicopedagogo A AVALIAÇÃO
mantenha uma entrevista com a família, sem PSICOPEDAGÓGICA NA
a presença do orientador ou orientadora. TOMADA DE DECISÕES PARA
Neste caso, comunica-se à família o resultado
A APROVAÇÃO DOS ALUNOS
da avaliação e as ações educativas que serão
realizadas. enfatizando aqueles aspectos que
E PARA A ELABORAÇÃO
têm relação com a situação familiar. DO PARECER PRÉVIO À
Finalmente, convém destacar que é importante ESCOLARIZAÇÃO
evitar a realização de entrevistas com a família, nas
quais participem um número elevado de profissionais, Embora a avaliação psicopedagógica
já que se corre o risco de torná-las uma espécie de possa ser útil em outros momentos em que
tribunal e, consequentemente, não se possa cumprir devam ser tomadas decisões relevantes,
as funções desejadas. existem dois deles em que é imprescindível:
no momento da tomada de decisões sobre
Acompanhamento a aprovação dos alunos e no momento da
elaboração do parecer prévio à escolarização
Uma vez finalizado o processo, é dos alunos com necessidades educativas
conveniente estipular um calendário de especiais.
acompanhamento com a finalidade de revisar
o processo educativo do aluno ou alunos. Aprovação dos alunos
Durante o acompanhamento, também
são estabelecidas as ações posteriores:
reuniões sistemáticas com o orientador ou De acordo com o artigo 3.3 da Ordem de
professores, observações em sala de aula, 25 de agosto de 1994 da Espanha, o qual
acompanhamento dos trabalhos escolares, estabelece o procedimento para a autorização
etc. de modificações de elementos prescritivos
do Currículo do período de Educação Infantil
Ao longo desse processo, serão e do período do Ensino Fundamental, as
apresentadas sugestões para a realização modificações podem consistir na redução ou
das adaptações do currículo: aspectos no aumento de um ano, em qualquer dos três
metodológicos mais adequados, materiais, ciclos*; ao longo do Ensino Fundamental.
critérios para a avaliação, atendimentos Excepcionalmente, pode-se autorizar,
pessoais necessários, etc. também, para o período da Educação Infantil,
A reunião de acompanhamento de final a possibilidade de permanecer um ano a
de período deve servir, entre outras coisas, mais. Em relação ao período do Ensino Médio,
para a tomada de decisões relativas ao a permanência em uma série é também
novo período escolar, com a finalidade possível; apesar disso, os alunos só podem
de assegurar a coordenação entre novos permanecer até os 18 anos nas escolas que
professores ou mudanças de série, se serão ministram a escolaridade obrigatória.
necessários apoios pessoais e materiais De qualquer modo, as permanências
curriculares diferenciados do restante do não significam que os alunos devam ficar
grupo, etc. em situações de fazer “mais do mesmo”,
Os acordos, decididos em cada reunião de mas requer a necessidade de um trabalho
acompanhamento, devem ficar registrados,

13
Instrumentos de Avaliação II

específico de adaptação que deve ser produto - Nível de competências curriculares do


da colaboração orientador/psicopedagogo. aluno em relação ao currículo do período e
A proposta de modificação deve incluir os para cada uma das áreas.
conteúdos e os objetivos que se pretende - Descrição de outros fatores e condições
que o aluno adquira, assim como a descrição significativas para a preparação das
das medidas complementares. e de propostas curriculares.
adaptação relativas ao processo de ensino- - Considerações que podem orientar
aprendizagem. a adaptação do currículo do período.
Neste processo de tomada de decisões, é Enumeração das capacitações do período
preciso uma informação do psicopedagogo que se consideram prioritárias para adquirir.
referente aos seguintes aspectos: Considerações sobre as aprendizagens
- Avaliação das competências curriculares estabelecidas para cada uma das áreas
do aluno e justificativa das características curriculares do período. Estimativa do grau de
básicas da modificação do currículo escolar. modificação do currículo.
- Capacitações do período correspondente, - Proposta fundamentada sobre a
que sejam consideradas prioritárias a serem escolarização do aluno.
adquiridas ao longo do período, e priorização - Opção expressa pelos pais ou
das aprendizagens estabelecidas em cada representantes legais do aluno.
uma das áreas. A informação que registra o parecer é
- Proposta de previsão dos recursos obtida mediante a avaliação psicopedagógica,
humanos, técnicos e materiais que o aluno as observações realizadas nas escolas, a
necessitará para a aquisição das habilidades informação trazida pelos educadores ou
e das aprendizagens priorizadas. professores de série inicial, e as entrevistas
mantidas com a família. Também pode incluir
Parecer prévio à escolarização sobre alunos informação proporcionada por outros serviços
com necessidades educativas especiais. específicos (equipes especializadas com
alunos com transtornos ou déficits molares,
Em relação à tomada de decisões para a sensoriais, escolas de estimulação precoce,
escolarização de alunos com necessidades etc.). Nesse caso, é uma avaliação externa
educativas especiais, derivadas de distúrbios que deve ser contextualizada na escola onde,
graves e permanentes, em escolas de finalmente, o aluno irá escolarizar-se.
Educação Especial ou em Escolas Comuns,
é imperioso o parecer do psicopedagogo. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tal parecer é um elemento técnico que traz
informação sobre as necessidades do aluno
e sobre a escola, ou escolas, onde essas Ao longo do artigo, tentamos situar a
necessidades podem ser melhor atendidas avaliação psicopedagógica em um contexto
____________________________________ de colaboração com os professores e na
* N. de T. No sistema educacional espanhol, estrutura da instituição escolar. Consideramos
o Ensino Fundamental é constituído de três ciclos: o que tal situação favorece o avanço no modelo
Ciclo Inicial (sele a oito anos); o Ciclo Médio (nove de uma intervenção mais global. O fato de
a !O anos); o Ciclo Superior (11-12 anos), já que esta conhecer os problemas permite intervir, a
etapa de escolaridade compreende seis anos (7-12 partir de um ponto de vista mais preventivo,
anos). isto é, assessorar para que cada vez mais se
realizem os ajustes pertinentes que permitam
A informação que registra o parecer faz aprender e ensinar melhor, respeitando
referência aos seguintes aspectos: as diferenças individuais e promovendo
- Dados pessoais e familiares do aluno. aprendizagens o mais significativas possíveis.

14
Instrumentos de Avaliação II

A intervenção psicopedagógica está cada Affonso Neves – Porto Alegre: Artes Médicas
vez mais consolidada, e acreditamos que, Sul, 2000
em geral, existe uma boa disposição do Agora estaremos observando algumas
magistério para realizar um trabalho mais sugestões de instrumentos de avaliação
compartilhado com os psicopedagogos. que poderão auxiliar no trabalho do
A pesar disso, é importante continuar psicopedagogo, não podemos esquecer que
avançando e melhorando aspectos, como: cabe ao profissional estar atento ao seu
- atualizar instrumentos de avaliação que, paciente e assim procurar escolher a melhor
em certas ocasiões, ficaram defasados; maneira de intervir para melhor conhece-
- ajudar para que a informação nas lo.e auxilia-lo em suas dificuldades. Volto
escolas seja comunicada o mais fluentemente a enfatizar que aqui estamos sugerindo
possível; - realizar uma coordenação mais uma serie de instrumento que devem
estreita e sistemática entre todos os serviços ser entendido como sugestões para o
que intervêm nas escolas, com a finalidade desenvolvimento de trabalho dentre uma
de melhorar a coordenação entre os serei de recursos das quais o psicopedagogo
profissionais que realizam funções de apoio; poderá lançar mão em seu trabalho, não se
- colaborar para definir o modelo de tratam uma série de receitas prontas.
intervenção psicopedagógica na etapa do Leitura psicopedagogica da entrevista
Ensino Médio; inicial
- colaborar na etapa do Ensino Médio para Entrevista Operativa Centrada na
consolidar os esforços que, neste momento, Aprendizagem
estão sendo realizados na difícil tarefa de História de vida ou anamnese
abordar a diversidade das capacidades, dos psicopedagogica
interesses e das motivações dos alunos e Técnica da pareja educativa
alunas dessa etapa. Técnica do par educativo
Sob o nosso ponto de vista, é fundamental A técnica psicopedagogica dos rabiscos
continuar avançando na linha de colaboração A técnica psicopedagogica do desenho livre
com as escolas no momento-chave do A tecnic psicopedagogica da figura humana
prolongamento da escolaridade obrigatória A técnica psicopedagogica do desenho da
até os 16 anos. Tal prolongamento implica família
um incremento notável na diversidade de A técnica situação agradável e
capacidades, de interesses e de motivações desagradável
dos alunos, aos quais a escola deve dar uma Provas pedagógicas especificas
resposta educativa adequada. A intervenção Provas operatorias
psicopedag6gica deve ter como objetivo
colaborar com as equipes de professores na
melhoria da qualidade da educação e em Leitura psicopedagógica da
conseguir que esta seja acessível a todos os
alunos. Entrevista Inicial
__________________________________
Referência: Leila Chamat
Sales Maria José M. e Dalmau Margarida Delineando o campo focal
R. A Avaliação Psicopedagogica: fases,
procedimentos e utilização in. Monero: O material a ser explanado é oriundo de
Carles. e Sole Isabel. O Assessoramento anos de experiência como educadora, do
psicopedagogico: uma perspectiva meu trabalho clinico psicopedagógico diante
profissional e construtivista. Trad. Beatriz das solicitações no tocante às dificuldades de
aprendizagem, de supervisões realizadas com

15
Instrumentos de Avaliação II

meus alunos e profissionais que trabalham o sujeito a ser analisado. Posteriormente,


com dificuldades de aprendizagem. de posse de uma linha de investigação,
Para a realização do diagnóstico elabora uma imagem do paciente, por meio
psicopedagógico apoiei-me na abordagem da articulação da sua aprendizagem com os
interacionista, utilizando para tal a aspectos energéticos e estruturais, históricos
Psicologia Social de Pichon-Biviere, da e a-históricos.
Epistemologia Genética de Jean Piaget e, Percebe-se que nesse procedimento, a
fundamentalmente, da teoria psicanalítica de Entrevista Inicial, fica relegada a um segundo
Sigmund Freud e Melanie Klein, culminando plano. Visca (1987) busca conhecer a criança
assim em uma Psicopedagogia Pichoniana. por meio de sua observação, enquanto
Para ser mais precisa, apesar de seguir Fernandez (1991) faz o inverso. Segundo
um modelo interacionista, o diagnóstico a autora para diagnosticar a problemática
psicopedagógico, por mim desenvolvido, de aprendizagem na criança, é necessário
encontra-se fundamentado no modelo “olhar-conhecer” a família.
sistêmico, no qual a problemática é
visualizada pela óptica social. Para tal procedimento, proponho um
Esta ultima, tenho utilizado para a leitura modelo de diagnóstico em uma só jornada,
dos sintomas, ‘como uma forma de penetrar apoiada numa equipe de trabalho. Denomina
no imaginário, no intercâmbio inconsciente esse modelo de Diagnóstico Interdisciplinar
das relações objetais ou interpessoais Familiar de Aprendizagem em uma só
e buscar significantes-significados elou Jornada (DIFAJ).
possíveis causas da dificuldade de O modelo psicopedagógico que mais se
aprendizagem da criança. aproxima do psicológico é o de Pain (1985),
Enfatizo nesse diagnóstico um dos seus com algumas ressalvas, que peculiarizam o
aspectos considerado de fundamental seu trabalho.
importância: a Entrevista Inicial, ou seja, o Enquanto alguns psicólogos (1981), em
Motivo da Consulta. seu Modelo Psicológico, incluem a queixa
Para os psicólogos, o psicodiagnóstico na Anamnese, Pain (1985) desvincula-a
começa com a Anamnese e termina com desta, transformando-a em um instrumento
a Devolutiva, o que não difere do modelo particular de trabalho: Motivo da Consulta.
psicopedagógico de Pain (1985), Fernàndez Esse procedimento da autora tem a
(1990) e outros, com exceção de Visca finalidade de elucidar o foco de análise
(1987). Este autor se coloca contrariamente da problemática de aprendizagem: “nos
à modalidade tradicional em que a abertura vinculamos com o paciente, entendido como
do diagnóstico começa com a Anamnese, situação familiar que solicita ajuda.” (PAIN,
iniciando o processo com a Entrevista 1985, p. 35).
Operativa Centrada na Aprendizagem Essa forma de perceber as dificuldades
(EOCA). de aprendizagem da criança, discutida pela
O autor justifica que esse procedimento ultima autora, representa a óptica pela qual
tem a finalidade de eliminar a contaminação desejo vincular-me no presente trabalho.
a que o agente corretor fica exposto, com a Dessa forma, com base nos pressupostos
óptica dos pais, impedindo que o profissional teóricos dos autores anteriormente citados,
“se aproxime ingenuamente do paciente mais especificamente Fernàndez e Pain no
para vê-lo tal como ele o é, para descobri-lo” que diz respeito à “escuta” das dificuldades
(VISCA, 1987, p. 70). de aprendizagem, pretende-se apresentar a
Com a finalidade de detectar sintomas seguir uma proposta psicopedagógica sobre a
e formular hipóteses sobre as causas dos Entrevista Inicial.
sintomas, realiza uma primeira sessão com

16
Instrumentos de Avaliação II

Objetiva-se, também, em seguida, motivados pela ansiedade e/ou pelo controle


demostrar que a leitura psicanalítica dessa onipotente, isto é, para poder contestá-lo e
entrevista fornece um sistema de hipóteses direcionar o tratamento.
que subsidia o Diagnóstico Psicopedagógico. Quanto ao tipo de “escuta
Um modelo psicopedagógico psicopedagógica” utilizada por Pain (1985)
de Entrevista Inicial e Fernàndez (1990) em suas explanações
teóricas, a última autora especifica-a mais
Denomina-se de Entrevista Inicial, detalhadamente, fornecendo alguns passos
o primeiro contato entre terapeuta e nessa direção a saber: escutar-olhar; deter-
familiares, no qual a problemática (a queixa) se nas fraturas do discurso; observar e
apresentada é “escutada” por uma ou duas relacionar com o que aconteceu previamente
sessões em um modelo interacionista. A às fraturas; descobrir o esquema de
“escuta” inicia-se no momento em que a auto-significação; buscar a repetição dos
entrevista é marcada. esquemas sintomáticos; interpretar a
Refiro-me ao termo “escutar” no sentido operação, mais do que o conteúdo.
de apropriar-me do saber psicopedagógico, Pretendo, na leitura da Entrevista
que é percebido como possível com a análise Inicial, além de levar em consideração o
e o intercâmbio dos conteúdos manifestos aparato teórico já discutido, ater-me mais
(explícitos) e latentes (implícitos) do detalhadamente aos pressupostos de Pain
discurso. (1989), a fim de verificar o tipo ele vínculo
A fim de que isso se torne possível, utilizo que o paciente pretende estabelecer, por
o modelo de entrevista semi-aberta de meio da investigação do envolvimento dos
Bleger (1985), pois trata-se de uma técnica familiares com a problemática da criança
que permite a manipulação de um pequeno quando o problema foi percebido, ou se foi
roteiro e, ao mesmo tempo, tornar a fala encaminhado pela instituição (coloca-se o
dos pais mais ou menos livre, possibilitando problema como familiar ou imposto de fora).
mobilizar certo nível de ansiedade, a fim de No levantamento das expectativas dos
que se evidenciem as rupturas no discurso e pais, em relação ao tratamento, pode-
os significados psicanalíticos da ruptura no se verificar mais intensamente esse nível
enquadramento. de comprometimento dos mesmos e a
Bleger (1985) trata do enquadramento transferência de responsabilidades ao
como o conjunto de constantes, dentro psicopedagogo, inclusive atribuindo-lhe o
do qual se realiza todo o processo. O poder de “cura”.
enquadramento refere-se a estruturação do Levanta-se também o nível de ansiedade
processo com normas definidas implícita ou em relação à problemática, aos horários e
explicitamente. aos honorários, desde o primeiro contato por
Sua quebra evidencia a ruptura de algo, telefone; posteriormente, pela forma como é
mas que se encontra contido na relação feita a queixa e, ainda, como os sintomas são
pais e terapeuta, como uma regra, ou um por eles percebidos.
conjunto de regras, presente na Entrevista Nesse sentido, buscam-se os significados
Inicial e em todo processo Diagnóstico e dos sintomas “na” e “para” a família, em que
de Tratamento. Como exemplo, pode-se se pode verificar como os pais percebem a
citar os pais que por vezes consecutivas problemática, dando uma versão a ela.
não comparecem ou chegam atrasados; a Com essa óptica particular, torna-se
mãe que vem à consulta para se queixar do possível verificar a relação que se estabelece
filho e acaba justificando suas defasagens entre a articulação do sintoma e a reação
escolares e mesmo os pais que insistem, ao que o mesmo provoca na família. Essa reação
final da entrevista, em obter um diagnóstico,

17
Instrumentos de Avaliação II

pode se constituir numa das principais causas inconscientemente, limitando o acesso do


do sintoma, realimentando-o. profissional ao conhecimento. Se este aceita
Nesse contexto, a questão da o “depósito” sem “denunciá-lo”, seu trabalho
responsabilidade do fracasso escolar, tende a fracassar, ficando este, como
geralmente, aparece como percebida fora da portador das deficiências familiares.
dinâmica familiar, como algo intrínseco ao Chamo a atenção do profissional para
indivíduo. A família pode estar “depositando” o primeiro contato com os pais, em que
na criança seus fracassos e imperfeições, a queixa principal consiste na dificuldade
tornando-a “depositária”, impedindo seu de aprendizagem da criança; é o relato
acesso ao conhecimento (PICHON-RIVIERE, dos sintomas. Esse relato sempre aparece
1991). carregado de angústias e/ou ansiedades.
Na Teoria do Vínculo, o citado autor discute A leitura da fala dos pais denota uma não-
a Teoria dos Três Ds (depositante, depósito aceitação do déficit na criança, ao lado
e depositário), baseando-se ria teoria da incompreensão do que realmente está
das relações de objeto. Estas podem ser ocorrendo,
entendidas como estruturas nas quais estão Ao serem inquiridos sobre o
incluídas sujeito e objeto, com papéis por comportamento da criança no lar, geralmente
eles definidos, estabelecendo uma relação dizem que “está tudo bem”, mas logo
particular entre os mesmos. retomam com uma avalanche de queixas,
Nessa teoria, cada indivíduo (depositário) que denominamos como secundárias, ou
cumpre e aceita um papel (depósito) que a relacionadas à principal, porém estas se
ele é atribuído pelo outro (depositante). constituem um indicador das causas dos
Ilustro o conteúdo anteriormente exposto, sintomas apresentados.
com a situação familiar em que os membros Considero como de fundamental
(depositantes) projetam em um dos filhos importância, ao término da Entrevista
(depositado) suas fraquezas, seus temores Inicial, realizar um enquadramento, isto é,
e ou suas ansiedades (depósito). Este, por fornecer esclarecimentos sobre o diagnóstico
sua vez, introjeta as deficiências familiares, psicopedagógico, número aproximado de
por não se encontrar de posse de estruturas sessões com a criança, a mãe, o pai, ou
psicológicas que lhe permita rechaçar essas ambos, outros familiares (se necessário),
projeções. professor(es), horários, honorários e duração
das sessões.
Dessa forma esse sujeito, portador das Para que haja vinculação ao compromisso
“partes ruins” da família, pode apresentar os e para que este se consolide, torna-se
sintomas de dificuldade no aprender. relevante, no enquadramento, “denunciar’
Percebo como necessário levar em aos pais o tipo de vínculo que desejam
consideração a existência de uma patologia estabelecer com o terapeuta, evidenciado
da aprendizagem a ser considerada na em suas falas, por exemplo: as fantasias de
pessoa em desenvolvimento. Se o processo “poder” acerca da atuação do profissional,
de aprendizagem fica encerrado num círculo ao lado de suas próprias isenções do
vicioso na inter-relação familiar, ele acaba por processo. A falta de comprometimento
se empobrecer e limitar o acesso da criança com as dificuldades de aprendizagem da
ao conhecimento. criança, ao lado da não-percepção de outras
Da mesma forma, os pais que procuram dificuldades de aprendizagem reveladas
auxílio psicopedagógico e atribuem ao pelas queixas secundárias, revelam que os
psicopedagogo total responsabilidade genitores percebem o problema centrado na
pela dissolução dos sintomas na criança, criança, enfatizando suas deficiências que,
isentando-se do processo, estão,

18
Instrumentos de Avaliação II

posteriormente, podem ser transferidas para de Hipóteses que possa direcioná-lo para
o terapeuta. as fases subseqüentes. Essas hipóteses
Essas queixas secundárias também determinarão o(s) instrumento(s) de
devem ser “denunciadas” a fim de evidenciar avaliação a ser(em) utilizado(s) em uma
outros desajustes de comportamento, que etapa posterior.
podem estar intimamente relacionados com A entrevista inicial com os pais, voltada
a dificuldade de aprendizagem da criança, para o diagnóstico em Instituição, sofre
evidenciar e também, a responsabilidade dos alterações quanto ao seu modelo, pois
pais. trata-se de uma entrevista mais fechada,
Essa forma de enquadramento difere da objetivando a coleta de dados sobre a
atuação proposta pelos autores já citados, problemática. Esta volta-se com mais ênfase
mas sugiro ao profissional esclarecer aos pais aos conteúdos manifestos. Busca-se nessa
que o processo diagnóstico teve início, com entrevista detectar a presença de alguma
o primeiro contato telefônico, a fim de que problemática orgânica ou mesmo oriunda
a família perceba que o foco de análise é o da dinâmica familiar, que impeça o aprender
sujeito cerceado na sua tarefa de aprender e ao mesmo tempo coletar informações
na família. sobre a mudança metodológica e triar para
um possível encaminhamento. Em síntese
Deixa-se bem claro que o caso a ser a Entrevista Inicial apresenta os seguintes
estudado é o sujeito na família, como lhe aspectos:
ensinaram e como aprendeu a aprender o Motivo da consulta:
conhecimento; que o processo diagnóstico Queixa:
torna-se coletivo e de cooperação mútua, - história da queixa (quando e em
pois o terapeuta será o elemento que buscará que circunstâncias começou, como se
as causas dos sintomas e que no momento desenvolveu);
oportuno fará a entrevista devolutiva aos - queixa relacionada (o comportamento da
pais. criança em casa)
Na minha opinião, essa postura tende - descrição de um dia da criança, desde
a aumentar o grau de confiabilidade no levantar-se da cama, até se deitar;
profissional, pois dissipa algumas fantasias - relato de como foi o final de semana.
dos pais que podem atrapalhar o processo Pesquisar na família:
diagnóstico. - significado do sintoma;
A interpretação do conteúdo manifesto - comprometimento com a problemática;
e latente da(s) entrevista(s) servirá para - tipo de vínculo que deseja estabelecer
levantar hipóteses sobre as possíveis causas com o agente corretor;
dos sintomas apresentados pela criança e - fazer o enquadramento.
fundamentalmente direcionar o levantamento A leitura do conteúdo latente do discurso
da sua história de vida. da família só é possível com a aplicação da
A minha experiência clinica, no diagnóstico “escuta”.
de distúrbios de aprendizagem, tem O objetivo dessa técnica, na avaliação
demonstrado a importância da formulação de psicopedagógica, consiste em detectar:
hipóteses, contingente a cada levantamento os sintomas do sujeito e possíveis causas
de dados, sejam eles obtidos diretamente na família;
com o sujeito, com a família, com a escola a forma pela qual a família e a criança
seja por meio de relatos ou testes. articulam o conhecimento e os conseqüentes
Após a leitura psicanalítica dos conteúdos modelos de aprendizagem internalizados
manifestos e latentes da entrevista inicial, pelos mesmos, explicando o aparecimento de
sugere-se a formulação de um Sistema sintomas no sujeito;

19
Instrumentos de Avaliação II

as relações vinculares mantidas pela


família e a forma pela qual lidam com
situações novas e desconhecidas;
o nível de compromisso da família com a
problemática (se os pais percebem que estão
comprometidos com as causas do problema
ou se o depositam na criança);
as fantasias da família a respeito dos
sintomas da criança (significado do sintoma
“na” e “para” a família), quanto ao processo
diagnóstico e agente corretor.
A avaliação da entrevista deve obedecer
aos objetivos propostos, tendo como roteiro
os aspectos a serem analisados.
O primeiro contato: família e terapeuta
.Neste primeiro contato, o terapeuta deve
coletar o maior número de informações
possíveis. Sendo assim, o mesmo deve
registrar determinados dados que são
imprescindíveis tanto para a etapa
diagnóstica como para o tratamento, em uma
ficha que denomino de Ficha Controle. Esta
deve ser preenchida (pelo examinador) antes
da Entrevista Inicial e ou após a realização da
EOCA. Também tem a finalidade de subsidiar
a coleta de dados e facilitar o contato
terapeuta - escola e família. Após essa coleta de dados é que o
terapeuta dará início à aplicação da Técnica
denominada a Entrevista Inicial. Como já foi
explicitado anteriormente, o modelo a seguir
é o de entrevista semi-aberta, embora seja
utilizado um roteiro (para o qual fornecerei
algumas sugestões de perguntas). Nesse
modelo os pais discorrerão sobre o que lhes
foi perguntado, tornando-se o mesmo o
oposto do modelo aplicado na Ficha Controle
(modelo fechado).
ROTEIRO DA TÉCNICA - A
ENTREVISTA INICIAL
As perguntas que se seguem têm a
finalidade de auxiliar o profissional a aplicar a
técnica anteriormente mencionada, porém o
citado roteiro não dispensa a leitura da parte
teórica sobre a mesma (início do capítulo).

1 - Queixa livre: Em que posso ajudá-los?


Ou o que os trouxe aqui?

20
Instrumentos de Avaliação II

2 - Quando começou o problema? Ou a 18 - O diagnóstico será efetuado


quais fatos associam o problema? da seguinte forma ... (fornecer os
3 - Quais foram e quais são as atitudes do esclarecimentos nos dias e horários ... )
casal diante desse problema? Porém quero acrescentar que as faltas serão
4 - E o que vocês sentem diante dessa cobradas, assim como as visitas à escola
problemática? (para coleta de dados). O que acham?
5 - O que os professores dizem a respeito 19 - Buscarei detectar o que é do sujeito,
e o que vocês pensam e sentem? da família e da escola e, ao final do processo,
6 - E em casa como é (queixa secundária)? apresentarei os resultados e discutiremos
7 - Fale-me sobre o dia do(a) filho(a) a viabilidade do tratamento, os horários,
desde o levantar-se até o deitar e dormir. os honorários e faremos um novo contrato
8 - Fale-me sobre sua rotina de um final de verbal. Seu filho também será conscientizado
semana. sobre o problema (Entrevista Devolutiva).
9 - Como é o seu (do sujeito) 20 - Gostariam de acrescentar algo?
comportamento ao fazer as lições? 21 - Então, na próxima sessão coletarei
10 - E como vocês reagem? dados sobre a História de Vida do seu filho
11 - Existe algum outro problema? (se o examinador julgar mais conveniente,
12 - Quais são as qualidades e eficiências poderá conhecer a criança aplicando uma
de seu filho? técnica como a hora do jogo ou indo até a
13 - E os outros filhos, como são? Escola a fim de verificar e levantar outros
14 - O que vocês esperam de mim? dados, dependendo do que coletou nessa
(Levantar as fantasias de cura e a entrevista e o que julgar mais conveniente
transferência de responsabilidades para o para o processo diagnóstico).
agente corretor.) Observação: Cabe lembrar ao examinador
15 - Quero esclarecer que o seu filho será que a entrevista será interpretada de acordo
diagnosticado dentro de um determinado com os objetivos propostos na referida
contexto: família e escola. Por esse motivo técnica. Algum aspecto que parecer obscuro
vocês deverão participar ativamente do poderá ser clareado em um outro momento.
processo. O que pensam sobre isso? (Início MODELO DE AVALIAÇÃO
do enquadramento.) A avaliação da Entrevista Inicial deve ser
16 - Acrescento que sem a cooperação realizada em função dos objetivos propostos
da família não será possível realizar um para essa técnica. Com a finalidade de
diagnóstico sobre o problema em questão, facilitar o trabalho de investigação, sugiro a
pois não tenho o poder que vocês me utilização do seguinte roteiro:
atribuíram quando lhes perguntei o que
esperam de mim. O que pensam sobre isso?
17 - Se houver concordância em
prosseguir, vocês serão chamados para
fornecer esclarecimentos e participar
ativamente dà fase diagnostica, pois parecem
ver que o problema se encontra no filho e
não percebem que a família tem contribuído
para a instalação dessa dificuldade (Neste
momento, apontam-se alguns déficits na
família e minimiza-se a culpa dizendo que
os pais erram, muitas vezes, no intuito de
acertar.) Faz-se uma pausa e espera-se o que
fluirá dessa colocação.

21
Instrumentos de Avaliação II

Observações: se houver alguma.


Hipóteses: sobre a problemática da criança.
Delineamento da investigação: refere-se ao próximo instrumento a ser utilizado (deve
ter um objetivo definido).

Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA)


Leila Chamat
Como apontei anteriormente, no caso de o terapeuta optar no primeiro contato com a
problemática de ficar em contato direto com o sujeito, recomenda-se o uso da EOCA (VISCA,
1987), pois trata-se de um instrumento que possibilita a sondagem da problemática de
aprendizagem e auxilia o profissional a delinear o seu objeto focal (objeto de pesquisa - o que
necessita ser mais investigado).
Tenho acompanhado alguns casos em que o terapeuta utiliza esse instrumento
posteriormente à aplicação da Entrevista Inicial e História de Vida, obtendo ótimos resultados,
mesmo sofrendo a contaminação da óptica dos pais.
Na área institucional também tem sido aplicada por se tratar de atividade similar às
utilizadas em sala de aula. Nesse caso, observei que esse uso se restringiu ao processo de
triagem.

22
Instrumentos de Avaliação II

Seu autor, ao lado de Edite Rubstein, foi formular um sistema de hipóteses e delinear
um dos precursores da Psicopedagogia no linhas de investigação.
Brasil, sendo amplamente difundido. Porém Técnica
sua teoria demanda um aprofundamento
teórico psicanalítico e cognitivo, o que impede Trata-se de uma técnica simples, porém
que muitos profissionais se vinculem ao rica na sondagem de aspectos manifestos e
conhecimento por ele proposto. latentes sobre as possibilidades do sujeito
Por outro lado Fernàndez (1990), em diante do conhecimento.
Inteligência aprisionada, de cunho lacaniano, A consigna é: “Gostaria que você me
refere-se amplamente aos termos “oculto” mostrasse o que sabe fazer, o que lhe
e “escuta”, termos estes que para sua ensinaram e o que você aprendeu”.
compreensão requerem um conhecimento Pode-se continuar dizendo: “Este material
psicanalítico mais profundo. é para que você o use, se precisar, para me
O livro Relações vinculares e aprendizagem mostrar o que lhe falei e o que queria saber
(CHAMAT, 1995), de minha autoria, que de você.”
tem muitos exemplos clínicos aliados à Haverá diferenciação de materiais
teoria dos citados autores e visa a facilitar dependendo da faixa escolar de cada sujeito
a compreensão do psicopedagogo sobre a em que se aplicar a entrevista.
leitura dos sintomas e de suas prováveis Os materiais geralmente apresentados,
causas. sobre uma mesa, para a idade escolar são:
Com isso quero apontar a riqueza contida -folhas lisas de papel ofício;
no trabalho desses dois autores que em suas -folhas pautadas;
obras continuam sugerindo a necessidade de -lápis novo sem ponta;
o terapeuta compreender a psicanálise, não -apontador;
para interpretar o paciente, mas sim para -caneta esferográfica;
aplicar na decodificação do real o significado -borracha;
dos sintomas apresentados pelo paciente. -tesoura;
Tudo isso sem menosprezar outros autores -papéis coloridos (10 x 10cm);
como Pain que busca dar um corpo teórico -régua;
à Psicopedagogia e aponta a Função da -revistas e livros;
ignorância que também tem suas bases -canetas hidrográficas;
fundamentadas na Psicanálise. -cola, grampeador (materiais que
Retomando o discurso pela EOCA, tenho eu acrescentei pela minha experiência
observado que os pesquisadores dessa área a profissional).
tem utilizado, com muito sucesso, em faixas O entrevistador deve estar em uma
etárias variadas, desde 5 anos de idade até situação por descobrir ou por revelar, não há
em adultos. objetivos a serem cumpridos.
Objetivos: Durante a EOCA é importante observar três
detectar sintomas e formular hipóteses aspectos: a temática, a dinâmica e o produto.
sobre as prováveis causas-das dificuldades O primeiro aspecto concentra-se em tudo
de aprendizagem, sem julgamento prévio ou que o sujeito diz.
contaminação do agente corretor; Verifica-se o aspecto manifesto e o
levantar os possíveis obstáculos que latente, se possível, da relação do sujeito
emergem na relação do sujeito com o com a aprendizagem. Acrescento aqui, que
conhecimento; a temática consiste, sem menosprezar a
obter dados a respeito do paciente nos criação do autor, no tema escolhido pelo
aspectos afetivos e cognitivos, a fim de sujeito que pode ser observado nas suas

23
Instrumentos de Avaliação II

realizações, no que verbaliza e na mensagem que este passa durante a realização da tarefa,
mesmo com sua recusa (conteúdo latente).
O segundo aspecto consiste na análise de tudo que o sujeito faz: gestos, postura corporal,
maneira de pegar materiais. Acrescento: expressões faciais, olhares para o avaliador e
outros, inclusive o impasse. Trata-se da dinâmica da aplicação.
O terceiro aspecto, o produto, trata do que o sujeito realizou, o que deixa impresso
no papel ou na sua construção, por exemplo. Acrescento: a sua mensagem, como estão
seus processos assimilativos/acomodativos (se estão compatíveis com a idade em que se
encontra) e o que revelou como obstáculo para se expressar.
Com esses três aspectos teremos o primeiro sistema de hipóteses sobre o sujeito. Estas
deverão ser submetidas a uma verificação mais rigorosa nos passos seguintes do diagnóstico.

ROTEIRO DE AVALIAÇÃO - EOCA

Buscando ilustrar o exposto anteriormente passarei a discorrer sobre uma aplicação dessa
técnica, porém deixo expresso os meus agradecimentos à profissional que gentilmente cedeu
esse material.
Aplicação
Sujeito A
Idade: 8 anos e 3 meses. Escolaridade: 2a. série do 10. grau.
Problemática: dificuldade na aprendizagem da leitura e da escrita. Esta não deveria ser
conhecida, porém o encaminhamento fez-se diretamente com a professora, visto que o
aplicador tratava-se de uma estagiária em Psicopedagogia.

Contato

24
Instrumentos de Avaliação II

Havia pontas de lápis quebradas sobre a mesa.


O sujeito foi escolhido por meio de um
Ele as pega e diz que na escola costuma atirá-las nos
contato com a escola e com a professora que,
amigos com elástico e que só dá uma “beliscadinha”,
mais especificamente, sugeriu a intervenção
Que ele e outro menino é que costumam jogar.
com a criança, devido às suas dificuldades de
Continua dizendo que ele e um outro colega é
aprendizagem. que fazem “artes”, Diz que não gosta da classe, que
as crianças fazem barulho e falam muito.
Procedimento Que a antiga professora batia neles, que
Dada a consigna: “Mostre-me o que você sabe quebrou a régua na cabeça de um aluno e que só não
fazer, o que lhe ensinaram e o que você aprendeu”, o quebrou a dele porque se abaixou e pegou na carteira.
sujeito executa o descrito abaixo. Quando lhe é perguntado o que aprende na
Pega um papel laminado amarelo, começa a escola, do que gosta, diz que não gosta da escola,
dobrar e logo mais pega a tesoura e recorta. Pergunta que queria estar fazendo lição do segundo ano, já que
se não há cola e o entrevistador diz que sim. Procura está no segundo, e não lição do primeiro.
a cola e consegue localizá-Ia com o olhar. Diz que já sabe muitas coisas, que sabe fazer
Pega um papel bege, olha-o e devolve. continhas com chaves e quem ensinou foi seu irmão,
Pergunta se pode apontar o lápis que está que o viu fazendo lição e aprendeu. (Neste momento
na mesa. O entrevistador responde: - Como você o aplicador pode dizer: “Mostre-me.”)
achar melhor. Aponta o lápis, a ponta quebra, aponta Fala que só tira nota “A” em Matemática e
novamente. que em Linguagem vai “mais ou menos”.
Diz que a ponta está quebrada. Fala que o irmão repetiu de ano duas vezes,
Tenta novamente e consegue. mas que ele não vai repetir. Que passou do primeiro
Com o lápis apontado faz detalhes na ano para o segundo ano e que vai passar para a
dobradura. terceira série.
Fala que se não passar vai apanhar, então
Diz que está feito e pergunta: - Está feito? tem que passar. Enquanto fala da escola, gira a
- O que você acha? tesoura com o lápis preto, em movimentos rotatórios
- Acho que não. Há uma pausa. e rápidos.
Pergunta quanto custa um lápis daquele e lhe
O entrevistador afirma: - Já percebi que você é dito que aquele era emprestado. Fala que precisa
sabe fazer dobraduras. Que outras coisas você pode comprar lápis para si e, quando o fizer, comprará um
mostrar que sabe fazer? lápis para o entrevistador.
Pega outro papel amarelo, mas do tipo
camurça, pega a tesoura e começa a cortar. Olha Interpretações
para o entrevistador e diz: É um trevo de quatro Quanto à análise das respostas verbais e
folhas. Tem lá em casa. não-verbais o sujeito parece não ter tido um objetivo
Continua fazendo picotes no papel, sem determinado para alcançar a sua execução, não
objetivo definido. houve um tema escolhido, fezse ao acaso. Pode-
Para e olha para o entrevistador. Este pergunta se perceber um desinteresse na consecução, porém
novamente se não tem mais nada para mostrar e ele demonstra uma necessidade de verbalizar os seus
diz que não. Parece meio distante. sentimentos a respeito da escola e do que aprende,
Diz que ia passear no Paraíso do Sol, em uma como se quisesse com sua fala expressar que não
excursão da escola, mas que não foi, embora tivesse aprendia nada na escola que fosse interessante o
pago. suficiente para me mostrar. Há um descaso quanto à
É perguntado a ele se sabia o porquê de não execução da tarefa. Parece desejar estar no “Paraíso
irem e diz que não sabia e que estava um “bruta” sol do Sol”, assim evitaria o esforço para aprender. A
no dia. narrativa do sujeito vem confirmar seu desinteresse
Diz também que irá com a classe no dia pelo estudo.
seguinte ao Parque Regional diz que não queria ir, Faz uma dobradura que provavelmente
que preferia ter ido no outro passeio, porque esse ele aprendera na pré- escola. É uma flor, um trevo de
já conhece e é chato. quatro folhas, que, supersticiosamente, diz trazer

25
Instrumentos de Avaliação II

sorte. Talvez quisesse realizar algum desejo, que Posteriormente, aplicaria as Provas
viesse anexado após às hipóteses e delineamento. Operatórias (INHELDER, 1977), com a finalidade de
Quanto à dinâmica, a postura do sujeito verificar os processos das estruturas de pensamento
durante a confecção da dobradura e do recorte do do sujeito, sondando sua operatoriedade, noções de
trevo pareceu tranquila. Ele permaneceu calmo, conservação, reversibilidade, estratégias que utiliza
passivo, recortando e dobrando em silêncio; porém, na elaboração de suas respostas.
quando começou a falar da escola pareceu ansioso, Observação: Avaliação dessa técnica não foi
angustiado, fazendo movimentos com a tesoura e o inserida no quadro de avaliação com o intuito de
lápis, enquanto conversava. Parava alguns segundos discorrer amplamente sobre a mesma.
e retomava o movimento. Parecia que o movimento
amenizava sua angústia à medida que falava. História de vida ou
O produto final parece muito pouco
significativo em termos de produção da aprendizagem. anamnese psicopedagógica
Não há uma criação, uma elaboração propriamente Leila Chamat
dita. A criança parece usar mais a acomodação do que Técnica
a assimilação, pelo demonstrado no seu trabalho, em
relação a aprendizagem. (A pesquisadora quer dizer Essa técnica pode ser aplicada em
que ° sujeito não cria, apenas repete conhecimentos diferentes momentos, dependendo da escolha
já aprendidos.) dos instrumentos iniciais no diagnóstico.
Tanto pode ocorrer após a Entrevista Inicial,
• Levantamento de hipóteses como após um contato com o sujeito, por
Podemos levantar algumas hipóteses exemplo, a Hora do Jogo e/ou após os
sugeridas pelo resultado da entrevista: procedimentos posteriores à aplicação da
O sujeito não cria algo novo, repete EOCA no sujeito.
conhecimentos adquiridos anteriormente,
Sabe-se de antemão que os dados obtidos
utilizando esquemas de pensamento empobrecidos,
estarão contaminados pela percepção que os
demonstrando falta de envolvimento com o objeto
pais têm dos fatos e que o examinador estará
de aprendizagem e, consequentemente, com o
construindo o desenvolvimento do sujeito sob
conhecimento e com quem o transmite.
a óptica dos genitores.
A escola não o satisfaz, percebe o vínculo com
o conhecimento como uma situação de desprazer. Sendo assim, o relato por estes
Há um problema de aprendizagem, segundo apresentado, mesmo com contradições e
Visca (1987), com um obstáculo epistemológico, permeado de contaminação, constitui-se em
tendo uma dificuldade de estabelecer um vínculo um instrumento muito útil para o processo
afetivo adequado com os objetos e as situações de diagnóstico, pois auxilia a investigação do
aprendizagem, assim como um obstáculo epistêmico, objeto focal (averiguação em profundidade
devido a alterações das estruturas cognitivas, da área que o pesquisador julgar prioritária)
ocasionando a detenção do conhecimento. a confirmar e ou refutar hipóteses levantadas
A escola não o satisfaz, esquivando-se anteriormente, como também a formular
do conhecimento, o que indica a presença de um novas hipóteses sobre as possíveis causas
obstáculo epistemológico (fora do sujeito e que das dificuldades de aprendizagem do sujeito.
desencadeia os anteriores). Com a finalidade de obter resultados
Sugiro a leitura de Relações vinculares mais fidedignos, a entrevista deverá ser
e aprendizagem (CHAMAT, 1995) para um feita no modelo semi-aberto (já explicado
aprofundamento teórico nesse aspecto. anteriormente), mesmo que o pesquisador
• Delineamento da investigação1 siga um roteiro. Esse modelo permitirá a
Pelos motivos explicitados, aplicaria, num detecção das contradições e omissões dos
segundo encontro com o sujeito, o teste Pareja fatos, além do conteúdo latente que as
Educativa (OLlVERO; PALÁCIOS (1990), buscando fraturas no discurso possam revelar.
verificar o vínculo dos sujeitos com o conhecimento e
Objetivos
com o ensino.

26
Instrumentos de Avaliação II

a) obter dados a respeito das possíveis causas da problemática de aprendizagem do


sujeito, investigando em profundidade a sua história de vida, desde a concepção até o
momento atual;
b) pesquisar, por meio de uma leitura dos fatores oriundos das relações vinculares e do
desenvolvimento biopsicoafetivo e cognitivo, a presença de indicadores de uma problemática
que justifique uma investigação mais profunda;
c) levantar hipóteses sobre as causas dos sintomas e dos fatores de manutenção do
comportamento (endógenos e exógenos).
d) investigar, no desenvolvimento da criança, a forma pela qual “aprendeu a aprender” que
possa justificar a defasagem em suas ações sobre o real;
e) obter dados, pesquisando as relações vinculares familiares, sobre a forma pela qual a
criança internalizou determinados modelos de aprendizagem;
f) delinear os instrumentos do diagnóstico, com base nas hipóteses levantadas.
Roteiro de entrevista
O pesquisador poderá utilizar o roteiro descrito a seguir, formulando perguntas, mas
deixando os pais falarem de forma detalhada, interrompendo-os caso o discurso caminhe na
direção indesejada ao objetivo da questão. Para tal, pode-se utilizar o gravador ou anotações
de palavras-chave a fim de facilitar o registro.
Os dados obtidos, com enfoque na internalização dos modelos de aprendizagem
(esclarecimentos nas páginas subsequentes), devem ser interpretados para subsidiara
levantamento de hipóteses e delineamento da investigação, ou seja, dos instrumentos a
serem aplicados no sujeito ou de outras investigações, como a entrevista com a professora
e outros profissionais que estejam assistindo a criança no momento (refiro-me a outros
tratamentos tais como: médico, fonoaudiólogo, psicóloqo e outros).
Observação: O modelo de anamnese psicopedagógico deve ser efetuado segundo o
modelo de entrevista semi-aberta de BLEGER (1972). Sob hipótese alguma esse modelo
em atendimento clínico pode ser feito por meio de perguntas e respostas. Na instituição,
a anamnese do sujeito em estudo, pode ser mesclada: entrevista semi-aberta e fechada,
dependendo do objetivo do examinador.

1 - Quando a criança foi concebida, os pais já estavam juntos? Em que circunstâncias (casados, noivos,
morando juntos)
2 - Houve apoio da família para essa união?
3 - Como foi a aceitação das famílias (materna e paterna), no tocante à gravidez?
4 - O filho foi planejado? Sob que circunstâncias se deu a gravidez?
5 - Como cada um (pai e mãe) percebeu e recebeu essa gravidez?
6 - Qual era a situação do casal na época, tanto afetiva como econômica?
7 - Houve alguma tentativa de aborto?
8 - A mãe tomava algum medicamento na época ou durante a gravidez? Fumava ou ingeria algum tipo

27
Instrumentos de Avaliação II

de droga? paninho, chupeta e outros.)


9 - O pai ingeria álcool ou drogas no período 29- Como era a sua saúde quando bebê e como
de concepção? Antes e depois? é atualmente?
10 - O casal já tinha outros filhos nessa época? - Dores de ouvido?
11 - Qual era o nome, a idade e o sexo dessas - Cólicas?
crianças? - Gripes e resfriados?
12 - Alguma delas tinha algum problema - Respiração ofegante?
e merecia cuidados especiais e recebia auxílio de - Problemas pulmonares?
alguém? - O nascimento dos primeiros dentes?
13 - Você (mãe) trabalhava fora do lar durante - Audição e visão?
a gravidez? O que pensava a respeito do nascimento - Viroses?
do filho, do trabalho e do cuidado com os outros - Dermatites?
filhos? - Desmaios e convulsões?
14 - Como-foi sua gravidez e quais os - Tratamento recebido e como o casal reagia a
problemas, as dificuldades e as gratificações pelas essas situações?
quais passou? - Usa óculos atualmente? Por quê? Como lida
15 - Como caminhou essa gestação? Fez pré- com esse objeto? Leva-o para a escola?
natal? 30 - Quanto à higiene como foi e como
16 - Houve alguma queda na gestação? Ficou se apresenta atualmente: - Apresentava muitas
exposta a raio X? assaduras? Qual era o motivo?
17 - Você sentiu enjoo ou teve náuseas e - Como se deu o controle esfincteriano e
vômitos até quantos meses? apresenta alguma dificuldade nesse sentido? Como os
18 - Algum problema com varizes, inchaço pais reagiram e reagem sob esse aspecto?
nas pernas, vermelhidão no rosto e colo, alteração de - Como era a reação do bebê no banho? Como
pressão? é atualmente?
19 - O que sentiu com os primeiros movimentos - De que forma mantém sua higiene pessoal?
do bebê? E o pai, como reagiu? 31 - Como foi o seu desenvolvimento motor?
20 - O casal ou a família de ambos possui Apresentou alguma dificuldade?
alguma doença hereditária? Fale-me sobre isso. Com quanto tempo ocorreu:
21 - Houve condições financeiras para receber - A sustentação da cabeça?
o bebê? 22 - O parto foi marcado com antecedência? - O engatinhar?
Por quê? - O uso do “chiqueirinho” ou “cadeirinha”?
23 - Conte para mim, como foi desde as - O ficar em pé?
primeiras dores até o nascimento? - O andar elou dar os primeiros passos sem
auxílio?
24 - Em que condições a criança nasceu? - O balbucio e a articulação das primeiras
Algum problema? E de sua parte, como foi? palavras?
25 - Como se deu a alimentação, desde a - A manipulação de objetos (montar e desmontar
primeira mamada até o desmame total (levantar o brinquedos, recortar com a tesoura, amarrar o cadarço
vínculo, o motivo do desmame e ou sua ausência)? do tênis, segurar o copo com firmeza, segurar o lápis
26 - Como foi a introdução de alimento com corretamente) e vestir-se sozinho?
sal e, posteriormente, sólido? Como o fez para a 32 - Com que idade fez as primeiras garatujas
aceitação pelo bebê? (rabiscos no papel, com significado para a criança)?
27 - E hoje, como é a sua alimentação? Foi 33 - Apresenta ou apresentou alguma
sempre assim? Fale sobre isso. dificuldade na linguagem? Como vocês perceberam
28 - Como é seu sono? Dorme e/ou até que isso? Como reagiram?
idade dormiu com o casal? O que sentiram ou sentem 34 - Quem cuidava da criança quando pequena?
com a separação de quartos? (Na questão do sono deve- Se trabalhavam fora (o casal), como percebiam isso?
se levantar: agitação, falar dormindo, sonambulismo, 35 - Como vocês perceberam e ou sentiram a
enurese noturna, excesso de transpiração, ranger ida da criança para a escola?
de dentes, pesadelos, objetos transicionais como 36 - E atualmente, como vocês percebem

28
Instrumentos de Avaliação II

isso? Como é a escola na opinião de cada um? E da


aprendizagem, nos aspectos orgânico,
criança?
afetivo-cognitivo e motor.
Nesta questão: focalizar a problemática
O aspecto psicológico far-se-á presente,
escolar da criança e verificar se há contradição se
porém ele merecerá destaque no que
comparada com a entrevista inicial. Pode-se perguntar
como começou (o problema), a que fatores atribuem e concerne à aprendizagem. Este, assim como
como se sentem. os demais aspectos, estará presente no
37 - Manifesta alguma alteração no levantamento dos modelos de aprendizagem
comportamento? Como reagem a ela? internalizados.
- Tiques como roer unhas; espasmos: chupar o
dedo; puxar, enrolar e ou arrancar os cabelos, mexer
na orelha (de quem?); morder os lábios e outros?
- Manifesta agressividade ou agride
fisicamente outras pessoas? Em que momento?
- Tem conhecimento da existência desse
comportamento em sala de aula?
- Como se relaciona com amigos e pessoas da
escola?
- É indisciplinado?
- Manipula com frequência os órgãos genitais?
- Não tolera ouvir um “não”?
- Qual é a sua atitude diante da repreensão?
- De que forma é punido?
- Chora com frequência?
- Faz as lições sozinho? Em que horário? E
como é “o ato fazer lições”? - Faz birras?
- Como se comporta quando está doente?
- Solicita em demasia a atenção dos pais?
- Alguma dificuldade em fazer e manter
amigos?
- Gosta de brincar? De que especificamente?
- Assiste à TV em demasia? Qual é o seu
programa preferido?
- Tem amigos imaginários? (Dependendo da
idade e do contexto, a afirmativa se enquadra dentro
do esperado.)
38 - Quais são os seus interesses no momento,
tanto para o esporte como para o lazer?
39 - De que forma o pai se relaciona com a
criança (tanto no passado como atualmente)?
40 - E a mãe?
41 - Em que momento vocês brincam com
ele(a)?
42 - Gostariam de acrescentar algo?
Interpretação da anamnese
psicopedagógica*
Deve ser criteriosa com vistas a atingir
o objetivo proposto, isto é, detectar as
possíveis causas dos sintomas, a presença
de outros sintomas e causas relativos à

29
Instrumentos de Avaliação II

MODELO PARA INTERPRETAÇÃO DA ANAMNESE PSICOPEDAGÓGICA

______________________________________________________________
* A sugestão de anamnese psicopedagógica oferecida pela autora poderá sofrer alterações,
tendo em vista as necessidades do pesquisador e seu objeto local.
Levantamento de hipóteses
O passo seguinte refere-se ao levantamento de hipóteses sobre as causas do “não-
aprender”, sendo que estas merecerão uma investigação com a finalidade de serem
confirmadas ou não. Para tal, nesse ponto do diagnóstico planeja-se as técnicas a serem
utilizadas nos seguintes momentos.
Leitura dos modelos de aprendizagem internalizados
No intuito de auxiliar o profissional a esclarecer os processos de adaptação atuais do
sujeito, apresento alguns dos principais fatores a que este deve se ater na leitura de uma
história de vida, dentro do enfoque que proponho.
Esclareço que o mesmo é subsidiado por uma leitura psicanalítica vindo ao encontro do que
Fernàndez (1991) propõe em seu discurso.
Melhores esclarecimentos sobre o modelo proposto, podem ser encontrados em
Relações vinculares e aprendizagem (CHAMAT, 1995) pois o mesmo trata dos processos

30
Instrumentos de Avaliação II

de aprendizagem em relação aos vínculos gratificante ou não. Segundo


estabelecidos entre o sujeito e o ambiente, a literatura Kleiniana, o bebê
desde a sua concepção. ao nascer, não realizou o parto
A aplicação desse modelo auxilia também psíquico com a mãe, porém ap-
a obter informações sobre os processos de enas o biológico e ambos encon-
assimilação e acomodação do sujeito, sua tram-se fundidos, numa relação
função semiótica (significantes e significados) vincular simbiótica. Corroborando
e sobre os seus esquemas e estruturas de este aspecto explicitado anterior-
pensamento em termos de maturidade e mente, segundo Bleger (1985),
imaturidade. a relação simbiótica torna-se
Ressalto que, não basta saber coletar prejudicial para o crescimento se
dados sobre a História de Vida do sujeito, prolongada após os 3-4 meses
é necessário conhecer o “porquê” de cada de vida, porém necessária dentro
pergunta feita aos pais, qual o significado desse período, sendo respon-
da mesma e a que síntese cognitiva se pode sável pela formação de uma base
chegar. Por esse motivo, cada intervenção sólida onde se desenvolverá a
sugerida vem acompanhada de um aparato afetividade.
teórico que a subsidia. ●● Perceber a continência e acol-
As questões do roteiro proposto himento materno, com especial
anteriormente tem, dentre outras, a função ênfase na amamentação; se esta
de levantar a forma como o sujeito aprendeu foi sentida como difícil, ausente
a: ou gratificante.
●● Perceber e decodificar as sen- ●● Sentir na relação vincular com
sações de desconforto devido aos a mãe, segurança e proteção;
sentimentos de rejeição, me- se esta relação foi permeada de
dos, ansiedades, decorrentes da rejeição ou aceitação. Quere-
estrutura e vínculos materno e mos apontar que os estímulos
familiares. desagradáveis que o bebê tenha
●● Sabe-se, por meio da literatura vivenciado na vida intra-uterina
psicanalítica, com especial ênfase repercutirão negativamente no
em Spitz (1978), que as rejeições seu processo de vinculação afeti-
exercem muita influência na for- va e, muitas vezes, com o con-
mação da criança, principalmente hecimento, pois este se constitui,
na vida intra-uterina. Também, para um ego fragilizado, em um
tem-se conhecimento de que a estímulo que pode reproduzir as
rejeição paterna e familiar são mesmas sensações anteriores e
transmitidas à criança, via mãe, posteriores ao nascimento.
antes e depois do nascimento. ●● Adaptar-se a uma nova forma
●● Vincular-se ao seio. Se este vín- de alimentação (a mamadeira);
culo foi satisfatório para mãe e se foi sentido como traumática
filho e qual a problemática emer- ou não e se conseguiu utilizar os
gente dessa relação se houve esquemas de aprendizagem an-
aceitação ou rejeição materna. teriores em seu benefício. Deve-
●● A estabelecer a primeira relação se levantar até quando a criança
vincular com o novo e desconhe- utilizou a mamadeira, as atitudes
cido que é o contato com a vida, maternas e como foram percebi-
decorrente do nascimento. Se das pela criança sua permanência
esse contato foi percebido como e retirada.

31
Instrumentos de Avaliação II

●● Elaborar as mudanças decor- os utilizou e as atitudes mater-


rentes do crescimento, como nas.
a ausência materna, principal- ●● Aceitar a saída do quarto dos
mente no período em que desco- pais e lidar com o conseqüente
bre que a mãe não é parte dele sentimento de exclusão.
mesmo (bebê) como objeto grati- ●● Tolerar o incômodo e a dor, pro-
ficador; lidar com a gratificação e vocados pelo nascimento dos
a frustração; tolerar a frustração primeiros dentes e o auxílio
do desprendimento do objeto materno, tanto na ação como na
amado. continência.
●● Lidar com a superproteção ou ●● A lidar com a privação do objeto
com a privação temporária e a amado ou de pessoas substitutas
frustração de não ser satisfeito à figura materna; a privação ali-
de imediato em suas necessi- mentar, de higiene e mesmo em
dades. relação aos movimentos (ficar
●● Tolerar o desconforto das fraldas muito tempo na cadeirinha, cama
sujas e molhadas e a discriminar ou “chiqueirinho”. Esse aspecto
a conseqüente atitude materna, se enquadra a bebês carentes
bem como a relacionar-se com de cuidados e amor ou mesmo
a água no banho, demonstrando semiabandonados.
prazer ou desprazer, medos ou ●● Assimilar as aprendizagens
ansiedades. decorrentes das estimulações
●● Aceitar novas formas de alimen- ambientais: ficar no colo, ficar
tação: a introdução de papinhas deitado no berço, sentar-se apoi-
e o alimento com sal, até que ado por almofadas, segurar ob-
ponto a mãe insistiu e o que jetos, tocá-los, experimentá-las
discriminou nesse processo; (levá-los à boca), buscar objetos
como se deu a aprendizagem da impelido pela curiosidade ou se
ingestão dos alimentos sólidos, foi cerceado nesse processo.
se apesar do sofrimento físico ●● Este último aspecto, a curiosi-
o bebê aceitou, ou se o alimen- dade, merece nosso especial
to acabou sendo triturado ou interesse quanto aos mecanis-
amassado pela mãe, acarretando mos oriundos do impulso epis-
em um modelo de aprendizagem temológico, de penetração, de
facilitador. busca, que determinarão, dentre
●● O excesso de gratificação, bem outros fatores, a manifestação do
como o de frustração, impedirão potencial criativo e o desejo de
a formação de defesas sau- aprender.
dáveis do ego, cuja fragilidade ●● Da mesma forma, processo de
repousará na má estruturação autodescoberta pela curiosidade
psicológica da criança. pelo desejo de brincar e sentir
●● Perceber a introdução de objetos prazer com os objetos, quando
transicionais: se usou chupeta, facilitado ou impedido, atravanca
como se deu a sua retirada; o processo de busca do conheci-
como foram mantidos os “panin- mento. Nesse sentido, Winnicott
hos”, ‘’travesseirinhos’’ e outros (1975) nos mostra que todo con-
objetos; até que idade a criança hecimento só pode ser sentido
como prazeroso se nos primeiros

32
Instrumentos de Avaliação II

meses de vida a relação com a de vista da relação dual mãe fil-


mãe foi percebida como praze- ho. Se percebeu essa separação
rosa. permeada de incertezas e angús-
●● Buscar novas aquisições, como tias ou se lhe foi passado que as
o engatinhar, ficar em pé, andar, situações, mesmo a separação,
falar e o que discriminou diante decorrentes do crescimento são
dos feedbacks dos familiares; se positivas.
as mensagens introjetadas foram ●● Do mesmo modo que é impor-
de autoconfiança, incutindo-lhe tante conhecer a relação vincu-
segurança, em detrimento dos lar bebê-mãe, como nos coloca
medos. Na questão da aquisição Winnicott (1975), dando ênfase
e desenvolvimento da linguagem a uma aprendizagem obtida por
é importante observar até que meio do brincar que direcionará a
ponto a criança foi impelida nes- busca do conhecimento de forma
sa direção ou se discriminou que lúdica, faz-se imprescindível
não precisava falar, pois os pais conhecer como se deu a aprendi-
satisfaziam todos os seus dese- zagem do rompimento do vín-
jos, culminando em uma imaturi- culo biológico e parasitário entre
dade para novas aprendizagens. ambos.
●● Discriminar a qualidade de seus ●● Sabe-se que o prolongamento
conteúdos, simbolizados pelas dessa relação impedirá a re-
fezes e urina, antes e durante a alização do primeiro parto
imposição, pelos pais, do con- psíquico, dificultando o processo
trole esfincteriano. Até que ponto de maturação da criança, com
seus conteúdos foram aceitos ou consequências funestas para a
rejeitados, interferindo ou não na aprendizagem. Como pode uma
crença em si mesmo. criança utilizar bem sua discrimi-
●● A forma pela qual os pais lidam nação, se ainda utiliza em larga
com os excrementos da criança escala a indiferenciação? Se sua
poderá determinar, para ela, a identidade se encontra fundida
qualidade de seus pensamentos, na identidade da mãe?
ideias ou criações. Esta poderá ●● Sobre as aprendizagens decor-
desenvolver uma fantasia incon- rentes da busca do crescimento;
sciente de que tudo o que sai de como a família lidou com o suc-
si está estragado, recalcando, esso e o fracasso do filho, quais
assim, o pensar. Esse fator aliado foram as mensagens transmitidas
a outros será, futuramente, o e a forma pela qual a criança
responsável pelos bloqueios e aprendeu a se vincular ao prazer
inibições do pensamento. e às responsabilidades.
●● Aceitar a saída do quarto dos ●● Sabe-se que a capacidade de
pais e a lidar com o sentimento tolerância à frustração e à dor
de exclusão ou a consequente constitui-se em fatores determi-
mensagem decorrente de sua nantes do pensar, pois a criança
permanência noturna com os ao desenvolver certo nível de tol-
genitores. erância, auxiliada pela continên-
●● Perceber o rompimento do seg- cia materna e familiar, estará
undo parto psíquico com a mãe apta, futuramente, a suportar e
(o ingresso na escola), do ponto

33
Instrumentos de Avaliação II

enfrentar o medo à confusão, ao por parte de ambos; quanto a outros


desequilíbrio e ao conflito. cuidados, “muito tranquilo”.
●● O nascimento de um ou mais Acrescentou que na introdução de
irmãos constitui-se em um fator alimentos sólidos era um sofrimento para
que pode estar relacionado com ambos, pois a criança engasgava muito e
o desejo de crescimento, ou não, chegou ao ponto de não aceitar mais nenhum
da criança. Sob esse enfoque, tipo de alimentação e não querer comer.
deve-se realizar o levantamento Sendo questionada sobre o auxílio médico,
das mensagens transmitidas no disse que tinha vergonha de relatar o que
contexto familiar e verificar como estava acontecendo, pois todos saberiam que
esta percebeu ou percebe os era uma mãe incapaz de alimentar o próprio
ganhos e as perdas nessa situ- filho.
ação. Explicou que por esse motivo, cercou-o de
●● Apropriar-se desses conhecimen- cuidados e porque também se resfriava com
tos, isto é, como a criança lidou muita facilidade (“papariquei muito ele’).
com essas mudanças e trans- Investigando mais cuidadosamente,
formações nos primeiros meses verificamos que o bebê não conseguia
e anos de vida, nos auxiliará na respirar pelo nariz e por isso tinha
compreensão de seus processos dificuldades em se alimentar, A mãe,
de aprendizagem. sentindo-se muito culpada, gratificou
A fim de ilustrar a forma pela qual excessivamente a criança, atravancando
a criança internaliza alguns modelos seu desenvolvimento, comprometendo
inadequados de aprendizagem, que seu processo de aprendizagem da vida e,
interferem ou interferirão efetivamente na consequentemente, escolar.
sua capacidade de assimilação dos conteúdos Assim, em seu desenvolvimento, N.
escolares, apresentarei sucintamente um experenciou as primeiras aprendizagens de
caso. forma dolorosa, e as posteriores de forma
Caso de N. facilitadora, comprometendo sua capacidade
A mãe de N. queixou-se das dificuldades de aprender.
do filho na escola, referindo-se à lentidão, Na questão vincular, esta sofreu rupturas,
à troca de letras e ao comportamento de diante da angústia e ansiedade da mãe, em
esquiva das tarefas escolares. Durante a lidar com uma situação altamente frustrante
coleta de dados, disse sentir-se incapaz para ela, devido a fortes sentimentos de
para ser mãe, pois desde que N. nasceu não impotência, diante da problemática da
conseguiu amamentá-lo; o bebê desviava-se alimentação e oriundas do seu novo papel: o
do seio, engasgava-se e não queria mamar. de mãe.
Relatou ter se empenhado nesse processo, Do ponto de vista de N., as situações
mas com um mês, o bebê mamava pouco, novas e desconhecidas foram percebidas
perdendo gradativamente peso. Por esse como frustrantes, aprendendo a fugir de
motivo teve que introduzir a mamadeira. situações em que despenderia grande
Diante dessa nova forma de alimentação, a esforço, constituindo-se estas em modelos de
criança tinha o mesmo comportamento de aprendizagem internalizados e inadequados.
esquiva.
Colocou a genitora, que a sogra a acusava Técnica Pareja Educativa
de ser incapaz para alimentar o filho e que Leila Chamat
ela sentia que não sabia mesmo, mas que na
hora do banho era “uma festa, só alegria”’, Trata-se de uma técnica desenvolvida na
Argentina e adaptada por Olivero e Palácius

34
Instrumentos de Avaliação II

(1980/1990), cujo original enviado para a Depois solicita-se que fale sobre o que
Inglaterra se perdeu, caindo no anonimato desenhou, isto é, o que está acontecendo.
quanto à sua autoria. Nas questões Pede-se então ao sujeito que vire a folha e,
pertinentes à relação professor, aluno e na parte de trás, escreva uma história do que
conhecimento é amplamente utilizada, com está acontecendo na cena. Posteriormente
adaptações da técnica original. O tema foi pede-se que dê um nome para a história.
também resgatado por Chamat (1995). O desenho é analisado levando-se em
As duas autoras afirmam que a técnica consideração tanto os aspectos gráficos
pode ser aplicada em sujeitos de idade não (traços, tamanho, posição na folha, detalhes)
inferior a 6 anos (com exceções) até a idade quanto os vinculares com o conhecimento
adulta. e com o “outro” (aquele que lhe passa
Objetivos conhecimento) que a cena transmite.
Por meio de uma técnica projetiva Percebe-se, então, como o sujeito se coloca
psicopedagógica, ao levantar dados a serem numa situação de aprendizagem e como
interpretados nos seus aspectos latentes e percebe a mesma.
manifestos: A estruturação e a sequência de
a) verificar o vínculo que a criança pensamento são elementos importantes
estabelece com a aprendizagem por meio da na análise, bem como o grafismo como um
leitura da relação vincular do ser que ensina meio de detectar déficits de escrita e em que
com o ser que aprende; momento do relato estes ocorrem.
b) analisar a produção gráfica e o relato Toda dinâmica da aplicação deve ser
nos seus aspectos afetivos, cognitivos e anotada, visando a enriquecer e tornar mais
motores; fidedigna a interpretação.
c) efetuar uma análise do relato verbal e Observação: Para a análise das relações
do grafismo do sujeito, buscando estabelecer vinculares, estruturação cognitiva e avaliação
uma correlação entre os mesmos, verificando da escrita, pode-se utilizar o roteiro e as
se há um vínculo parcial, ausente ou efetivo. folhas de avaliação do Teste Coleção Papel de
Técnica
Nessa técnica obtém-se uma produção
gráfica e verbal, permitindo uma análise do
conteúdo latente e manifesto da relação do
sujeito com a aprendizagem e com quem a
propicia.
Apoia-se na premissa de que o acesso
à aprendizagem se faz com um jogo de
processos conflitantes internos do sujeito
em relação ao meio externo. Para que a
aprendizagem ocorra, é necessário propiciar
condições favoráveis para a mesma e que o
sujeito esteja receptivo à internalização de
novos significantes e significados.
Para a aplicação, entrega-se ao sujeito
uma folha de sulfite (tamanho ofício), um
lápis preto e uma borracha.
Dá-se a seguinte consigna: “Desenhe duas
pessoas uma que está ensinando e outra que
está aprendendo.” Executada a tarefa pede-
se que dê o nome e a idade das pessoas.

35
Instrumentos de Avaliação II

Carta (CHAMAT, 1997).

Avaliação da técnica
Itens a serem avaliados:
Conteúdo Manifesto: revela os sintomas e subsidia a interpretação da elaboração do
desenho, da história narrada e escrita (permitindo a análise dos aspectos cognitivos, motores
e grafismo);

36
Instrumentos de Avaliação II

Conteúdo Latente: permite o levantamento barreira, indicando não haver mediação na


de hipóteses sobre a relação vincular com o questão do conhecimento entre professor e
conhecimento e da relação do ser que ensina aluno. Nesse ponto fica uma interrogação:
com o ser que aprende, bem como outros será que é por parte do aluno ou do
mecanismos vinculados à aprendizagem por professor?
meio da leitura da dinâmica da aplicação. Pelo fato de o professor estar desenhado
O quadro (Roteiro para Avaliação) objetiva desproporcionalmente em relação aos
auxiliar o examinador em sua tarefa, alunos e olhando para a lateral, indicando
porém este não pode perder seu referencial desinteresse do mesmo e, pela sua
para interpretação contido nos objetivos configuração que parece indicar “muito
propostos. pequeno (despreparado) para sua tarefa,
Aplicações ilustrativas levantamos (em grupo) a hipótese de a
A seguir, apresentarei alguns desenhos problemática ser oriunda do despreparo do
com a finalidade de ilustrar a problemática professor para sua tarefa.
de “ensinagem”, projetada no desenho pela Porém, o professor se encontra de braços
criança. abertos. Seria uma atitude de receptividade
Nos desenhos A e S, será demonstrada ou de afastamento, pois recostado à mesa,
(nas páginas seguintes) apenas a primeira parece acomodado nesse apoio ou mesmo
fase da Pareja Educativa, pois, no momento, revela um recuo, não ter mais espaço para
quero chamar a atenção do examinador para dar nenhum passo para trás.
a questão da falta de vínculo da criança com Poderia ser uma projeção da falta de
o ser que ensina por problemas ou barreiras afetividade e envolvimento de Juliano na
criadas pelo professor. figura do professor. O caso mereceria uma
O desenho A foi executado por um sujeito investigação.
do sexo masculino de 10 anos de idade, Hipotetizamos que Juliano possuía as
que havia sofrido reprovações. Na queixa estruturas cognitivas para a aprendizagem,
da professora revela-se uma problemática porém demonstrava a existência de uma
acentuada na leitura e principalmente na barreira entre ele e o conhecimento, como
escrita, além de manifestar o desinteresse também com a professora, sendo sua
pela aprendizagem. problemática de ordem afetiva.
O aluno, pôr meio do desenho demonstra Delineamos como instrumento de
estar de posse de estruturas de pensamento investigação a entrevista com o professor,
compatíveis com sua idade, o que o capacita o exame do material do aluno, buscando
a aprender. Seu desenho revela movimentos confirmar ou refutar nossa hipótese. Porém,
dos alunos em sala de aula (embora confirmou-se a “problemática de ensinagem”.
sentados) e todos executando a tarefa, Faz-se interessante salientar que
aparentemente concentrados. em nenhum momento, a família e/ou a
Em um exame mais detalhado, Juliano não professora apontou as eficiências de Juliano.
coloca pupilas nos olhos, dando a conotação Isso vem reproduzir o nosso modelo social
de “cegueira para o conhecimento”. Detalhes em que as deficiências são salientadas, em
de seu desenho, tais como as carteiras bem- detrimento das eficiências.
feitas, alunos com os pés no chão, alunos A mesma problemática acontece com o
com os pés levantados, alguns recostados desenho B, no qual Rosângela demonstra
na cadeira e entre outros, revelam que a uma professora muito imatura para ensinar.
ausência da pupila se faz bem significativa Parece uma figura extraída de um Conto
nesse desenho. de Fadas, como Chapeuzinho Vermelho.
Na projeção do “ser que ensina”, coloca A postura dessa figura indica devaneio
uma mesa que mais se parece com uma

37
Instrumentos de Avaliação II

(alheamento), arrumadinha como uma adolescente e até com uma “polchetezinha”, como se
estivesse dando um passeio.
O desenho mereceu as mesmas interpretações (com algumas variações), hipóteses e
delineamento do desenho A chegando-se a conclusões semelhantes.
Nesse momento, para evitar a dispersão do leitor, apresentarei os dois desenhos: A e B,
nas páginas seguintes e, em seguida retornarei ao discurso do desenho C.
____________________________________________________
1 Trabalhos relaizados pelas alunas da UNISO (Universidade de Sorocaba) em 1997.98:
Célia Aparecida Rubinato, Cláudia Lopes Barth, Emiliana Rizzo Marques, Lucia da Silva
Florido e Milene Tereza Pereira.

Pareja Educativa - Desenho A (fase 01)

Pareja Educativa - Desenho B (fase 01)

38
Instrumentos de Avaliação II

O desenho C, elaborado por uma garota de 8 anos de idade, oriunda de uma família cujas
relações vinculares são bastante comprometidas: o pai é alcoólatra, não trabalha; a mãe é
quem sustenta a família.
Cursa a segunda série e, embora se esforce por aprender, apresenta dificuldades de
aprendizagem. Na dinâmica da aplicação revelou ser perfeccionista, tendo muita necessidade
de aprovação.
Seu desenho revela um bloqueio na cognição, pois encontra-se de posse de estruturas para
aprender. É bem elaborado, com detalhes, fazendo as figuras de perfil (embora estáticas) o
que demonstra possuir os pré-requisitos para a aprendizagem.

39
Instrumentos de Avaliação II

No desenho das operações matemáticas, Esse caso se trata de uma defasagem de


do lado direito monta uma operação de ensinagem no sentido metodológico, por falta
subtração, colocando o valor menor sobre o de recursos da professora que parece bem
maior, o que impossibilita a resolução; já do intencionada. A aluna projeta na professora
lado esquerdo coloca a adição (perseverando os vínculos empobrecidos familiares e toda
no maior sobre o menor), mas não faz a hostilidade sentida.
síntese cognitiva. Entretanto, quem explica é De forma diferenciada dos casos A e B,
o professor. esse caso será discutido, dando-se relevância
Com isso, parece indicar que não entende ao aspecto da “transferência” dos vínculos
a linguagem usada, parece defletir (não familiares para a relação professor-aluno.
deixar entrar) o conhecimento e permanecer Por isso, o examinador deve estar muito
em confusão. atento, no sentido de separar o que pertence
No relato oral sobre o desenho, coloca que ao professor e o que pertence ao aluno
a menininha conversa muito e a professora (dificuldades).
está lhe ensinando, enquanto as outras Sendo assim, a Pareja Educativa oferece
crianças estão no recreio (faz o desenho indicadores para uma pesquisa mais
amontoado de carteiras vazias). Dá o título: cuidadosa e não deve ser interpretada
“A professora está ensinando a menininha”. isoladamente.
Parece que deseja a professora só para si, Como já descrevi o relato oral da criança
embora o desenho indique que ambas não (2ª fase), apresentarei o desenho de Vanessa
falam a mesma linguagem. A professora, (1ª fase) e a escrita (3ª fase). Nesta última,
preocupada em ensinar o mesmo conteúdo para obter uma interpretação mais detalhada
ministrado a outros alunos, deveria retomar pode-se usar a folha 03 - Interpretação da
os conhecimentos anteriores que parecem Escrita - do Teste Coleção Papel de Carta.
estar bloqueados em sua aluna ou fazendo
parte do inconsciente cognitivo. Pareja Educativa - Desenho C (fase 01)
Também, deveria fortalecer o vínculo, já
que a aluna traz uma problemática vincular
familiar, mas sem fomentar vínculos de
dependência.
Essas colocações são subsidiadas pela
escrita, com déficits de alfabetização e sem
apresentar a mesma riqueza de conteúdo
revelada no desenho, pelo fato de este ter
um caráter mais lúdico. Sua produção é
dicotomizada e separada por traços, o que
indica os cortes que Vanessa faz em seus
relacionamentos e consequentemente com a
aprendizagem.
A professora, nesse caso, com algumas
orientações quanto ao seu procedimento e
sua metodologia, introduzindo atividades
mais prazerosas, por exemplo, jogos e
contos, trabalhando pedagogicamente e
levando o aluno a construir o conhecimento,
poderia auxiliar Vanessa a superar suas
barreiras.

40
Instrumentos de Avaliação II

41
Instrumentos de Avaliação II

Pareja Educativa - Escrita C (fase 03)

Sob outro vértice, o Caso D*, vem ilustrar a problemática de um garoto de 10 anos,
cursando a 4ª série, com um nível alto de cognição e potencial intelectivo, que se mantém
afetivamente desvinculado da aprendizagem, sem interesse pelo conteúdo escolar.
Embora sua família revele afetividade nas relações vinculares, mantém o filho
infantilizado satisfazendo todas as suas vontades, não conseguindo frustrá-lo. Isso o coloca
emocionalmente infantilizado para as atividades que requerem tolerância à frustração, como
o “pensar”.
Sendo assim, seu rendimento escolar fica comprometido e suas relações com o “ser que
ensina” também, provocando a professora durante as aulas, de forma contínua, sempre lhe
passando a mensagem de que o que ensina não é interessante. Ataca o vínculo professor-
aluno de todas as maneiras.
____________________________________________________________
* Trabalho realizado pelas alunas da Universidade Católica de Santos em 1998.

A dinâmica da aplicação da Pareia Educativa revelou desinteresse e um ataque excessivo


ao vínculo, no que diz respeito à postura, às atitudes e à predisposição em realizar a tarefa.
O relato obtido na 2ª fase da aplicação refere-se a um garoto desinteressado, que não
presta atenção, conversa muito, mas nega que este seja ele próprio.

42
Instrumentos de Avaliação II

Na 3ª fase, apresenta uma escrita mal-redigida e se omite na identificação, porém sabe


escrever corretamente, com poucos erros e sua problemática consiste no OOA (distúrbio de
desordem de atenção).
Seu desenho demonstra a falta de vinculação entre o “ser que ensina e o que aprende”,
com uma lousa vazia e o aluno “escondido” atrás da carteira. Parece dizer que a professora
não ensina, o que é uma projeção de seu desejo de não aprender, “depositando” suas
deficiências no outro.
A seguir apresentarei sua produção obtida na aplicação das outras duas fases, enfatizando
que não se deve oferecer lápis de cor para a realização da tarefa, como aparece no desenho
desse sujeito. Isso se deve ao fato de ele quebrar as regras e buscar em sua caixa o lápis de
cor, dizendo: “Mas, eu quero!”
Pareja Educativa - Desenho D (fase 01)

Observação: Essa técnica se constitui em um material riquíssimo quando comparado com a


Pareja Familiar.

43
Instrumentos de Avaliação II

bem como o tempo de latência (tempo entre


Técnica Par Educativo a consigna e o início da execução) e outras
possíveis resistências.
Familiar 3 - momento: Pede-se ao sujeito que
Leila Chamat escreva a história por ele contada.
Embora essa técnica tenha surgido em Avaliação: Esta deverá seguir
vários pontos simultaneamente de forma primeiramente uma interpretação do
intuitiva nas pesquisas dos alunos de Pós- desenho, perseguindo objetivo por objetivo,
graduação, foi publicada por Visca (1997), nos três momentos. A seguir serão
porém neste trabalho sua apresentação construídas as hipóteses sobre as possíveis
divergirá em alguns pontos do referido autor. causas das dificuldades de aprendizagem
Em um trabalho conjunto com meus do sujeito, tendo como referencial as
alunos, tenho utilizado a referida técnica a interpretações.
partir da idade de seis anos. Anteriormente
a essa idade, pode-se obter sinais gráficos Aspectos adicionais
impregnados de simbolismo, cuja elucidação Verificar o uso excessivo da borracha
dependerá da habilidade do aplicador e o (pode indicar insegurança, confusão,
inquérito dependerá da predisposição do insatisfação com sua produção), uso da régua
sujeito para fornecer dados de interpretação. (necessidade de apoio por insegurança ou
dependência), resistência para a elaboração e
Objetivos outros aspectos observados. Toda a dinâmica
a) conhecer as relações vinculares deve ser registrada.
familiares sob a óptica do sujeito e como este Avaliação da técnica
se coloca tanto geograficamente como afetiva Itens a serem avaliados:
mente no contexto projetado; Conteúdo Manifesto: revelam os sintomas
b) levantar o tipo de vínculo que e subsidiam a interpretação da elaboração
permeia o processo de aprendizagem de do desenho, da história narrada e escrita
vida, transferindo-o para as situações de (permitindo a análise dos aspectos cognitivos,
aprendizagem escolar; motores e grafismo).
c) detectar outros fatores, oriundos da Conteúdo Latente: permite o levantamento
dinâmica familiar, que possam vir a auxiliar de hipóteses sobre a relação vincular com o
a construção ou confirmação de hipóteses conhecimento e da relação do ser que ensina
sobre as possíveis causas do “não-aprender”. com o ser que aprende, bem como outros
d) analisar o desenho e a escrita do ponto mecanismos vinculados à aprendizagem por
de vista cognitivo e motor, bem como o tipo meio da leitura da dinâmica da aplicação.
de erro gráfico cometido. ROTEIRO PARA AVALIAÇÃO
Materiais: papel sulfite, lápis preto,
borracha, régua e apontador que deverão
estar dispostos sobre a mesa.
Aplicação:
Esta constará de três momentos:
1 - momento: Elaboração do desenho pelo
sujeito. Dá-se a seguinte consigna:
“Desenhe na sua família alguém ensinando
e alguém aprendendo.”
2 - momento: História narrada
verbalmente, seguida de argüições do
aplicador, cujo conteúdo será registrado,

44
Instrumentos de Avaliação II

O quadro Roteiro para Avaliação objetiva auxiliar o examinador em sua tarefa, porém este
não pode perder seu referencial para interpretação contido nos objetivos propostos.

Aplicações ilustrativas
Os relatos e as ilustrações que se seguem são oriundos de uma monografia* sobre
Relações Vinculares e Aprendizagem, utilizando como recurso a Pareja Educativa e Familiar,
comparando os resultados obtidos em sujeitos com e sem dificuldades de aprendizagem.

45
Instrumentos de Avaliação II

Os sujeitos de sua amostra foram indicados lhe ser solicitada a tarefa e a executou em
pelo seu grupo de trabalho, que conheciam um pedaço de papel com pauta e rasgado.
a dinâmica das famílias, constituindo-se de Trata-se de uma situação que deve ser
famílias aparentemente “ajustadas” e outras melhor explorada na questão das relações
aparentemente “desajustadas”. Nestas vinculares, porém o desenho aponta
últimas pelos dados coletados, os filhos desproporcionalidade no tamanho das figuras
apresentavam dificuldades de aprendizagem. indicando ausência de figura de autoridade e
Efetuados os procedimentos necessários “vaso-receptor”, isto é, aquele que abarca e
para a coleta de dados e dada a consigna, na qual pode se apoiar.
o aplicador sugeriu que a tarefa fosse Sob o aspecto cognitivo demonstra
elaborada na residência dos sujeitos. O empobrecimento das estruturas de
motivo que o levou a esse procedimento pensamento. O desenho de sua Pareja
foi explicado em termos de curiosidade de Educativa, aqui não demonstrada, sofre a
pesquisador, isto é, gostaria de constatar se mesma problemática.
haveria alguma alteração ou o que poderia __________________________________
emergir dessa ação. __________________
O pesquisador em questão, comparando os *I Monografia apresentada por Edeval
resultados obtidos constatou uma correlação Aparecido Gabriel na UNISO (Universidade de
nas relações vinculares entre a Pareja Sorocaba), gentilmente cedida para ilustrar a
Educativa e Familiar. técnica apresentada.
No momento apresentarei dois desenhos
dessa pesquisa no que concerne à Pareja O sujeito B (família supostamente
Familiar, sendo um de cada grupo: de ajustada) demonstra em seu desenho
uma família considerada supostamente afetividade e boas relações vinculares, exceto
desajustada (desenho A) e de outra família pela problemática revelada na elaboração
supostamente ajustada (desenho B). do rosto da mãe que segura seu irmão
No entanto, como trabalho desse recém-nascido. Essa afetividade pode ser
pesquisador está direcionado para os reconhecida pelo uso das cores, da riqueza
desenhos, as fases dois (relato do sujeito) e de detalhes o que lhe imputa um bom nível
três (escrita do sujeito) não foram efetuadas. de cognição.
O desenho A se refere ao sujeito do A situação de ensinagem parece estar
primeiro grupo, tem 10 anos de idade e subjacente ao conteúdo manifesto, em que a
apresenta dificuldades de aprendizagem e criança caminha em direção à mãe.
em seu desenho omite a figura paterna (o A seguir demonstrarei primeiramente o
que é esperado, pois seu pai não assumiu desenho do sujeito A e, contingente a este, o
a paternidade), colocando-se entre os desenho B.
avós, que cuidam dele enquanto a mãe vai Pareja Familiar Educativa - Desenho A
trabalhar. (fase 01)
Sendo assim, a própria situação de vida
impõe ao sujeito . restrições quanto ao
fortalecimento das relações vinculares que
se mostram parciais. Parece haver uma
comunicação truncada, pois não aparece uma
situação de ensinagem.
A sua problemática parece estar bem
acentuada em relação ao conhecimento, pois
demonstrou desinteresse e desconfiança ao

46
Instrumentos de Avaliação II

projeções efetuadas em cada grupo


A técnica psicopedagógica específico.
A adaptação efetuada por mim da referida
dos rabiscos técnica fundamenta-se no meu trabalho
Leila Chamat clínico, na atuação como professora no ensino
Essa técnica originou-se do Jogo de fundamental e nas pesquisas efetuadas
Rabiscos desenvolvido por Winnicott (1975), pelos meus alunos de pós-graduação em
como forma de estabelecer uma conexão Psicopedagogia.
paciente--terapeuta e problemática. Quanto ao Método de Investigação
Para tal fim, o autor narra que traçava Crítica, refere-se ao questionamento
um rabisco qualquer no papel e convidava a feito pelo aplicador sobre a percepção da
criança a continuá-lo, transformando-o em criança, investigando, argumentando e
algo; esta, depois faz um rabisco para que contra-argumentando, sendo muitas vezes
ele também desse continuidade. necessário fazer o estabelecimento da relação
Apesar de o autor omitir-se em fornecer de igualdade para iniciar o inquérito.
detalhes com mais profundidade, fica Posteriormente, se necessário, fazer o
implícito que ao término de cada desenho retorno empírico, isto é, voltar à relação de
ele pergunta à criança com o que se parece, igualdade, quer seja do princípio ou do ponto
obtendo assim o emergente para trabalhar a onde o sujeito recalcou a resposta (evitou o
problemática emocional da mesma. pensar), omitindo e evitando o conflito para
Sendo assim, com os conteúdos projetados não se desequilibrar.
no papel, o terapeuta fica de posse de algo Fica assim evidente que o inquérito tem a
a ser investigado e que, provavelmente, função de desequilibrar o sujeito, para que o
encontrava-se oculto ou fora omitido pela mesmo explique as contradições e estabeleça
família e pelo próprio sujeito. uma relação de causa e efeito dentro de sua
A técnica a que me proponho apresentar lógica.
e que tem fornecido ótimos resultados no Piaget (1970) empregou um modo de
campo da aprendizagem é similar ao jogo experimentação, inspirado no método
utilizado pelo autor acima citado, porém praticado pelos psiquiatras como meio de
traz como suporte uma ação pedagógica, diagnóstico e de investigação, desprezando
pois além de basear-se nas atividades da as transferências, contratransferências e
disciplina de Educação Artística, seu inquérito associações livres que caracterizam o método
fundamenta-se no Método de Investigação psicanalítico.
Crítica de Piaget (1970), conduzindo o Quanto ao uso deste método, o autor
sujeito, ao término da aplicação, a uma aponta a necessidade do questionamento
síntese cognitiva. Além disso, proporciona feito pelo aplicador sobre a percepção do
ao terapeuta hipóteses a serem investigadas sujeito, investigando, argumentando e
sobre a problemática de aprendizagem do contra-argumentando, sendo muitas vezes
sujeito. necessário fazer o estabelecimento da relação
Essa técnica é funcional tanto no de igualdade para iniciar o inquérito. Se
diagnóstico como no tratamento necessário, voltar a relação de igualdade,
psicopedagógico. Em sala de aula, quando evitando o conflito, neste momento, para não
bem-direcionada aos grupos de alunos, haver desequilíbrio.
auxilia o professor a planejar sua atividade Segundo o autor o bom experimentador
pedagógica em função dos dados obtidos. deve reunir duas qualidades muitas vezes
Cito como exemplo a escolha de um texto incompatíveis: saber observar, deixar que
direcionado para o conteúdo explanado a criança fale, sem interrompê-Ia, nem
pelo desenho realizado em grupo e pelas desviar a atenção, e, ao mesmo tempo, saber

47
Instrumentos de Avaliação II

buscar algo preciso, ter a cada instante uma e outras. Todas as respostas são seguidas
hipótese de trabalho, alguma teoria certa ou de contra-sugestões, ou seja, contra-
errada a controlar. argumentações.
Conforme o autor, é preciso ter ensinado Sendo assim, segue-se o sujeito em cada
o método clínico para compreender sua uma de suas respostas, depois sempre
verdadeira dificuldade. As coisas não são guiado por ele, faz com que fale cada vez
simples e convém submeter a uma crítica mais livremente, acabando por obter, em
cerrada os materiais assim recolhidos. cada um dos domínios da inteligência, um
Esclarece que os grandes inimigos do procedimento clínico de exame analógico
método clínico são aqueles que acreditam em que os psiquiatras adotaram como meio de
tudo o que respondem os sujeitos e aqueles diagnóstico.
que recusam crédito a não-importância Pelo exposto, essa adaptação do Jogo
de qual é resultado proveniente de um dos Rabiscos de Winnicott, com o método
interrogatório. A essência desse método de Piaget, além de favorecer a projeção
clínico está em separar o joio do trigo e em e a criatividade do sujeito enfatizada pelo
situar cada resposta em seu contexto mental. primeiro autor, fornece de forma lúdica
Para o autor, há contextos de reflexão, a síntese cognitiva da problemática de
de crença imediata de jogo, contextos aprendizagem do sujeito.
de esforço e de interesse ou de fadiga, e Técnica
há sujeitos examinados que de imediato Consiste em colocar sobre a mesa: papel
inspiram confiança, que refletem e buscam, sulfite, lápis preto, apontador, borracha, giz
e indivíduos que visivelmente zombam de cera, canetas hidrográficas e lápis de cor,
do aplicador ou não escutam. Este último para que o sujeito use o material de sua
comportamento reflete a esquiva do pensar preferência.
e o descrédito na figura do aplicador, que A seguir pede-se ao sujeito que faça um
a meu ver representa, por transferência, o rabisco qualquer no papel e esclarece-se a ele
objeto de conhecimento. que o terapeuta vai continuar o seu rabisco
O método clínico, explana o autor, consiste (com um marcador diferente) e que ambos
em conversar livremente com o sujeito vão construir algo até que o examinando
sobre um tema dirigido, acompanhando considere executada a tarefa.
e eliminando os desvios tomados por seu Em seguida, solicita-se ao sujeito que
pensamento para reconduzi-Io ao tema, pergunte com o que se parece o desenho.
obtendo justificações e testando a constância A partir desse momento inicia-se o
e fazendo contra-sugestões. inquérito, sempre argumentando e contra-
Nesse aspecto, Piaget (1970), com argumentando com o sujeito.
suas experiências observou a constância Objetivos
perceptiva e conservação operatória que são a) obter dados a respeito do significado do
coisas diferentes; ambas têm em comum desenho realizado e seus significantes para o
a conservação da grandeza ou da forma de processo de aprendizagem;
um objeto e repousam em mecanismos de b) verificar os pontos de desequilíbrio
compensação. no sujeito, que expliquem o processo de
Para tal utiliza um método de conversação recalque do pensar (bloqueios cognitivos );
com o sujeito sobre um tema dirigido c) obter indicadores de uma problemática
pelo interrogador que segue as respostas orgânica ou emocionai que desorganiza o
solicitando que justifique o que o entrevistado pensamento, a fim de processar os devidos
diz com as seguintes perguntas: “explique encaminhamentos.
por que isso lhe faz pensar assim; que outra Avaliação
forma teria para me explicar; mostre-me

48
Instrumentos de Avaliação II

Processar a interpretação, seguindo os objetivos propostos.


ROTEIRO DE AVALIAÇÃO

Ilustração da técnica
No intuito de demonstrar a viabilidade da aplicação da técnica Jogo dos Rabiscos, embora
adaptada para a leitura psicopedagógica, a seguir discorrerei de forma prática sobre o seu
uso.
O primeiro desenho refere-se a uma garota de 18 anos (a qual denominarei de A.l,
que cursava, à época, o segundo colegial, cuja queixa se referia às suas dificuldades de

49
Instrumentos de Avaliação II

interpretação de textos e a dificuldade em usar o conteúdo assimilado, afirmando que sabia,


mas não conseguia, ou demorava muito tempo em descrever suas ideias no papel.
Em um dos contatos iniciais, foi aplicada a referida técnica, obtendo-se como resultado
uma dinâmica favorável, isto é, com participação efetiva da aluna, tanto na realização do
desenho, como no inquérito, sendo este último realizado por meio do Método de Investigação
Crítica.
A seguir, apresentarei primeiramente o desenho e contingente a este, o resultado do
inquérito.
Ao término do inquérito, a avaliação será efetuada, segundo o modelo sugerido
anteriormente.

*Técnica aplicada pela aluna Sandra Aparecida Morais, para fins de trabalho monográfico,
na Universidade de Sorocaba (UNISO), em 1999.
Desenho de A.
Rabiscos em azul: efetuados pelo aplicador Rabiscos em vermelho: efetuados pelo sujeito A.

50
Instrumentos de Avaliação II

Inquérito de A.
Pp. - De onde vem essa falta de
Pp. - O que a faz pensar, olhando este aprovação?
desenho? A. - De mim mesmo, gosto das coisas
A. - Como se fosse aquelas coisas ... Um muito certas e detesto errar. Tudo o que
anjo ou coisa assim. .. celestiais ... Estou faço, embora tenho um bom resultado, acabo
vendo até se movimentando. Olha só, que judiando de mim.
barato! Pp. - Como é isso?
Pp. - E onde ele está? A - Eu fico ansiosa, insegura ...
A. - No ar ... flutuando ... cores diferentes. Pp. - Você diz que esse anjo lhe dá forças e
Parece que estou vendo ele protegendo, a diz que fica nervosa e insegura. Me explique.
nível de todo o corpo A. - Ele dá essa força. Eu é que reluto
Pp. - Protegendo de quê? contra ele, aí quando preciso me dá força.
A. - Eu não digo nem protegendo, mas Pp. - Você disse que é uma pessoa que
fortalecendo. Fortalecendo a mim, a você, gosta de fazer as coisas perfeitas?
nós duas. A. - Sim.
Pp. - Por que você precisaria dessa força? Pp. - E você sabe que a todo momento tem
A. - Pra tudo, pra viver melhor, para entrar que fazer coisas?
em contato com as coisas mais sutis, belas, A.-Sei.
simples ... sobre nossa essência. Pp. - Então, de que forma usaria esse anjo
Pp. - E como está sua essência? se a todo momento tem que fazer coisas?
A. - Eu acredito sinceramente que ela (Pausa, parece desequilibrar-se em
vem sendo renovada, em função do trabalho pensamento.) Suspira profundamente.
que venho desenvolvendo. Porque estou A. - Engraçado! Antes de você me fazer
trabalhando com pessoas extremamente essa pergunta, eu estava pensando que eu
simples, com um conhecimento invejável, me permito errar dentro de casa, com meus
com muita fé ... conhecimento da vida. pais. Pensando melhor ... dentro de casa eu
Pp. - Como você percebe esse dou folga pra esse anjo.
conhecimento da vida? Pp. - E por que isso acontece?
A. - Que está se renovando. Hoje o mais A. - Porque em casa eu sinto que posso
importante para mim é ter tranquilidade. errar, que meus pais vão me entender.
Pp. - Então você busca tranquilidade? Profissionalmente, sinto como se eu ficasse o
A. - Sim. dia todo sendo testada, aprovada.
Pp. - E o que a leva a essa busca? Pp. - E como você se sente assim?
A. - A intranquilidade que é um (Derruba o livro.)
afastamento das coisas que são importantes A. - Às vezes acuada, com raiva! Pp. - Com
para mim. raiva de quem?
Pp. - Porquê? A - Com pessoas que têm muito menos
A. - Acreditei alguns momentos que potencial que eu e acabam fazendo eu
o conhecimento estava apenas dentro entender que tenho muito menos potencial
dos livros, dentro deste contexto. Estou que estas, profissionalmente
aprendendo este outro lado, através do Pp. - E por que você permite isso?
contato com pessoas simples como eu, e A. - Eu não ... Pra mim ... Para que eu
... sábias. Em função dessas pessoas, que consiga conviver com essas pessoas, uma
são mais sábias que eu ... não sei se vou melhor convivência. Aceito porque com isso
conseguir explicar ... estou adquirindo conhecimento profissional.
Pp. - Por que você pensa que não É como se o meu conhecimento não fosse
conseguiria explicar? A. - Pelo medo de errar, importante, só o delas.
pela falta de aprovação. Pp. - Ou é você quem mostra isso?

51
Instrumentos de Avaliação II

A. - Eu achato meu conhecimento, para


que haja uma aceitação. Ninguém gosta de
saber que a pessoa que está trabalhando
com você sabe mais que ela, quando
hierarquicamente seja inferior a você.
Pp. - E o anjo permite isso? A. - É ... eu
venho tolerando ... Pp. - Tolerando ...
A. - É, eu me frustro e acabo
descarregando em casa. Pp. - E o seu anjo ...
como fica?
A. - Fica perdido.
Pp. - E o que mais você perde com isso?
A. - O amor próprio, uma diminuição no
resultado de minha produção.
Pp. - Então o que precisa ser mudado? A. -
O medo da não-aceitação.
Pp. - De tudo o que conversamos, a que
conclusão que você chega?
A. - Que quero ser aceita e que
normalmente acabo me frustrando.
Pelo exposto, o resultado do inquérito
forneceu um material riquissimo para ser
interpretado sob todos os aspectos (afetivo-
cognitivo e emocional). Porém direcionarei
a interpretação para a questão da
aprendizagem, em função da queixa de A.

Antes disso, chamo a atenção do leitor


para os momentos em que A. se esquivava
das respostas pelo temor à confusão e ao
desequilíbrio e que a dificuldade da aplicação
dessa técnica consiste em encontrar uma
forma de desequilibrar o sujeito, para que ele
possa fornecer os dados necessários para a
construção do real. Por esse motivo, durante
o inquérito, por várias vezes o aplicador
retomou de um ponto anterior às questões,
estabelecendo uma concordância entre os
envolvidos (retorno empírico).
AVALIAÇÃO DO CASO A. - JOGO DOS
RABISCOS

52
Instrumentos de Avaliação II

53
Instrumentos de Avaliação II

a narrativa. Quando este é muito restrito,


Técnica psicopedagógica do revela um bloqueio na vinculação do sujeito,
com sua produção, pelo medo ao ataque.
desenho livre Deve-se ater à análise dos seguintes
Leila Chamat aspectos:
Objetivos • dificuldade na construção de palavras ou
a) verificar, por meio da análise dos frases;
conteúdos manifestos e latentes, no desenho, • em que período silábico a criança se
os aspectos afetivos, cognitivos, motores e encontra;
emocionais que elucidam a dificuldade de • que tipo de erro é cometido: se é
aprendizagem; perseverante ou não.
b) analisar a produção do sujeito em • presença de trocas de letras,
relação à produção de crianças da mesma perseverantes ou não;
série; • se os erros cometidos são decorrentes de
c) observar o desenho como um todo e um déficit na alfabetização, com a finalidade
interpretá-lo levantando em consideração as de pesquisar se a causa é decorrente de uma
hipóteses levantadas na aplicação de outras insuficiente pedagogia escolar ou familiar.
técnicas. • tipo de escrita: repassada; letra muito
Descrição pequena ou muito grande; pressão do tônus
A técnica consiste em oferecer à criança muscular, déficit de coordenação motora;
papel sulfite, lápis preto, lápis de cor e déficit na noção têmpora-espacial; uso
borracha. excessivo da borracha.
Dá-se a seguinte consigna: “Desenhe o Análise do conteúdo latente
que você quiser.” Observa-se a execução de A análise desse conteúdo envolve a leitura
movimentos, o envolvimento da criança com dos aspectos que não se encontram explícitos
a sua produção, a forma pela qual utiliza os nos resultados, porém implícitos.
materiais e as dificuldades apresentadas. Utiliza-se para tal, o aparato teórico
Executado o desenho, pede-se para psicanalítico e a percepção do examinador,
a criança falar sobre o que desenhou o que o leva a lançar mão de critérios
objetivando verificar significantes e subjetivos para a análise. Nesse aspecto,
significados e a construção do pensamento. a referida análise deve ser processada por
Pode-se solicitar que o sujeito escreva o um profissional que esteja de posse desses
que falou sobre o desenho. conhecimentos, como o psicólogo.
Avaliam-se os seguintes aspectos: Mediante o exposto, com a finalidade
- Motores: movimento, tipo do traçado. de eliminar interpretações que podem vir
- Cognitivos: a adequação das formas, a comprometer a análise, o examinador
detalhes e tamanhos dos objetos, buscando deve utilizar-se de um sistema de hipóteses
relacioná-los com o conteúdo verbal. que possa subsidiar toda a interpretação e,
- Afetivos: verificam as cores utilizadas, consequentemente, a conclusão.
o vínculo com a situação de execução do As hipóteses devem ser construídas
trabalho e o conteúdo manifesto do desenho mediante a leitura do desenho, da dinâmica
quanto à proximidade ou distância dos da aplicação e da leitura da prova escrita
objetos em relação à criança. (se houver). No final, eliminam-se as menos
Observação: É importante buscar prováveis e aceitam as que aparecem com
relacionar a execução e produção do desenho frequência, objetivando-se compará-las com
com o grafismo da criança. os resultados de outros instrumentos.
- Análise da escrita: o conteúdo na Na leitura da problemática emocional:
escrita tende a ser menos extenso do que levantar as projeções e identificações, o que

54
Instrumentos de Avaliação II

o sujeito está falando, o que revela (tanto na dinâmica da aplicação, como nas narrativas)
ou está por revelar, quais os medos, os desejos e as ansiedades presentes, que explicam a
dificuldade de aprendizagem.
Vinculação com o conhecimento: a forma pela qual lida com essa situação nova e
desconhecida, bem como a capacidade de tolerar a confusão para estruturar seu pensamento,
revela a sua disponibilidade para se vincular ao conhecimento.
Parecer Final - Teste do Desenho

A seguir serão apresentados e discutidos alguns desenhos, porém, não me aprofundarei


nessa técnica, devido à sua amplitude, merecendo um estudo a parte.
Exemplos Clínicos
Caso F. - Queixa: possui excelente potencial intelectivo, mas tem dificuldade em se
expressar verbalmente.
Ao término do desenho diz que é uma mosca, que é suja e não toma banho.
- Ela fica porca e todo mundo mata ela, daí mora no esgoto. Parece falar de seus
conteúdos não apreciados por si mesmo. Recusou-se a escrever.

55
Instrumentos de Avaliação II

Caso B. - O desenho que se segue foi elaborado por uma criança hipercinética, que
apresenta comportamentos hiperativos e motores, cuja produção fica comprometida devido
à imprecisão nos movimentos que se tornam circulares. Pelo nível de comprometimento
neurológico tem sido medicado com neuropléticos. Apesar de sua pouca idade 5 para 6
anos e de suas dificuldades: encontra-se auto-alfabetizando. Expressa-se muito bem apesar
da confusão de pensamentos, por isso muitas vezes não consegue articular uma frase
compreensível.
Seu relato enquanto desenhava:
- É um peixão! Coitado está com a asa quebrada ... nasceu assim! (Consciência da
problemática de seu nascimento e sequelas da meningite.)
- Para onde vai?
- Para Deus, ele vai curar sua asa e aí. .. aí vai ficar feliz.

56
Instrumentos de Avaliação II

Caso R. - Apesar de estar de posse de habilidades intelectivas muito desenvolvidas para


sua idade, recusa-se a fazer lições em sala de aula. As causas se encontram relacionadas a
uma problemática de separação dos pais e ao medo/ desejo de libertação das amarras do
amor materno.
Seu primeiro desenho é um ataque maciço à figura feminina. Ao término do mesmo faz
três rabiscos e explica:
- Se eu pudesse ... aniquilar, fazer picadinho, aniquilar ...

57
Instrumentos de Avaliação II

Foi solicitado um segundo desenho em uma outra situação. Primeiro teve que exteriorizar
seus sentimentos fazendo uma lista negra para depois construir algo que denota a presença
de um “ego” mais coeso, revelando seus conflitos como o “homem borracha”.
- É para se esticar e ir para lugares diferentes e bem longe (provavelmente do que o
oprime).
Parece desejar ir para onde o pai vai nas suas viagens, comprometendo as visitas
paternas; fugir dos laços maternos, mas retornar quando o desejar.
A sua omissão em realizar as lições se constitui em uma forma de atacar os vínculos que o
prendem à mãe e ao pai.

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Instrumentos de Avaliação II

59
Instrumentos de Avaliação II

Técnica psicopedagógica da teórico com visão gestáltica ou dentro da


psicomotricidade.
figura humana Fica claro que a classificação do citado
Leila Chamat autor, em relação aos desenhos, encontra-se
Objetivos superada pela presença teórica em nossas
a) verificar na criança, por meio do seu interpretações do socioconstutivismo. Mesmo
desenho, o nível de maturidade cognitiva assim, considero interessante que o leitor as
(indicadores) e psicológica para o início da conheça, transpondo as interpretações para a
escolaridade. maturidade afetiva-cognitiva.
b) obter indicadores pela associação do Além do exposto, a meu ver, subsidia a
desenho da figura humana, associado aos compreensão da maturidade do desenho da
aspectos psicomotores, sobre o esquema família.
corporal da criança. Na minha opinião, o teste do desenho,
Técnica além do esperado, propicia ao examinador
O subteste Figura Humana consta obter dados sobre a função semiótica da
do último item de aplicação do Teste criança (significantes e significados), por
Metropolitano de Prontidão, organizado meio da riqueza de detalhes apresentado e
por G. Hildreth, Griffiths e Fonseca (1983) da criatividade expressada.
tiveram a pretensão de medir (embora de Toda vez que a criança desenha, tende
maneira imprecisa, o que não invalida a sua a revelar-se, pois, .para ela, o desenho é
utilidade como ponto de partida), o nível de mais um veículo para exprimir ideias do
maturação para a aprendizagem da leitura e que uma técnica de produção artística. As
da escrita. crianças, que rabiscam seus desenhos ou
A organização desse teste partiu do ficam envergonhadas diante de sua produção
pressuposto que a elaboração é normalmente ou fazem uma figura estranha e contorcida,
influenciada pelo treinamento, em geral devem ser observadas, pois são possíveis
adquirido na pré-escola. Esse aprendizado, portadoras de sintoma de comportamento
segundo os autores (e com eles concordo perturbado ou de problemas emocionais
plenamente), parece refletir de forma (neste último caso, deve ser encaminhado
específica na execução da Figura Humana. para o psicólogo).
Sua correção, segundo os autores citados, Concomitante, indica o nível de maturidade
consiste em localizar cada desenho numa cognitiva para a aprendizagem dos conteúdos
categoria de acordo com alguns critérios: ministrados na série em que se encontra.
imaturo, médio inferior, médio, media Além disso, oferece uma discrepância entre
superior e superior, do que discordo, mas aspectos de seu potencial de inteligência e da
para o profissional iniciante se constitui como inteligência emocional.
ponto de partida. Propicia também a obtenção do nível de
Quanto ao esquema corporal, Fonseca vinculação do sujeito com sua produção.
(1983) nos fala sobre a edificação da Para a aplicação, são fornecidos à criança
imagem do corpo, feita a partir de estímulos uma folha de papei ofício, um lápis e uma
perceptivos, que se inserem em toda a borracha. Dá-se a consigna: “Desenhe uma
história de vida do indivíduo, processo pelo pessoa.” Deixa-se o sujeito à vontade para a
qual se observa a integração do corpo. execução do desenho.
O esquema corporal é a consciência Segundo nossa prática clínica, é
imediata do nosso corpo, e para a avaliação interessante perguntar quem é a pessoa
do esquema corporal faz-se necessário desenhada, sua idade e escolaridade e deixar
consultar as figuras apresentadas pelo a criança à vontade para falar do desenho
citado autor ou optar por um aparato projetado no papel.

60
Instrumentos de Avaliação II

Primeiramente apresentarei os desenhos do Teste de Prontidão e acrescento que o autor


comete um grave erro quando solicita ao sujeito que desenhe um homem. Deve-se pedir o
desenho de uma pessoa a fim de levantar os processos de identificação projetiva do sujeito.
Com a finalidade de interpretar o desenho dentro de uma visão socioconstrutivista e
atendendo a uma modalidade psicopedagógica iniciarei com o caso de J., de 6 anos e meio
(sexo feminino).
A mesma diz tratar-se de um menino de 5 anos que brinca, leva flor para a mãe, vai à
praia ...
Caso J-FH

61
Instrumentos de Avaliação II

INTERPRETAÇÃO DA FIGURA HUMANA

62
Instrumentos de Avaliação II

O caso de H. de 5 anos é atípico, pois solicitei que desenhasse a si mesmo, visto que
acabara de perder o pai (uma semana atrás). Recusou a folha de papel sulfite e disse ter
um caderno para isso. Elaborou rapidamente e perguntou se eu queria ver o que já sabe
escrever. Disse que sim. Ao ser interrogado onde ele está no desenho, respondeu:
- Em todo lugar, aqui, ali. .. Tia, meu pai vai voltar?
Seu desenho fala por si mesmo, mais parece um desenho da família alegre que agora
chora.
Os aspectos afetivos presentes no colorido, nas flores, nas árvores frutíferas encontram-
se preservados, bem como os cognitivos pela proporcionalidade, ocupação do espaço do
desenho no papel.

63
Instrumentos de Avaliação II

Técnica psicopedagógica do Com a finalidade de observar se o caso


merece uma avaliação psicológica (caso de
desenho da família encaminhamento), solicita-se à criança que
Lara Chamat primeiro desenhe a família que gostaria de
Objetivos ter (a ideal), em seguida, sobre sua família
Por meio do desenho da família, verificar (real).
como a criança se coloca no contexto familiar, Na avaliação psicopedagógica, solicita-se
seus vínculos afetivos com as pessoas e os desenhos, na ordem explicitada abaixo, de
com o conhecimento, com a finalidade de acordo com a proposta de Trinca (1983).
subsidiar o teste Pareja Educativa (a relação - Desenhe uma família.
do ser que ensina com o ser que aprende) e -Qualquer.
levantar os déficits cognitivos aparentes. - A que gostaria de ter.
Propicia também a leitura da forma pela - Onde há alguém doente.
qual a criança se percebe diante do saber e - A sua família.
consequentemente a sua síntese cognitiva Pede-se a seguir que dê nomes e idades
sobre o “não-aprender”, deixando claro no e fale sobre os desenhos, verificando a
conteúdo latente a função da “doença”, para correspondência com a realidade da criança,
ela e no meio familiar, sendo esta última estruturação das frases, sequenciação (início,
análise de acordo com a descrição de Trinca meio e fim). Nesse contexto, pode aparecer
(1983). a questão da não-aprendizagem como uma
Observação: Se o terapeuta tiver formação impossibilidade para aprender, ou mesmo,
em Psicologia e desejar obter o conteúdo uma doença (conteúdo latente).
emocional relacionado a essa técnica, deve A fim de ilustrar o exposto, apresentarei
consultar o livro do autor citado, idealizado r o caso de Ló e a seguir tecerei alguns
e criador da mesma. comentários e interpretarei os desenhos, de
Descrição acordo com o modelo proposto.
A aplicação e análise do teste da família se A mãe do garoto me procurou queixando-
baseiam na prática pedagógica, e o professor se de que o filho de 12 anos apresenta muitos
de Estudos Sociais utiliza esse desenho como medos, embora saiba escondê-los muito bem.
forma de trabalhar o contexto social da Enfatizou de início que o mesmo dorme com
criança, para posteriormente partir para um os pais, o que me levou a hipotetizar sobre
trabalho de grupos sociais maiores. sua dificuldade em desprender da condição
Na análise desse desenho, temos verificado infantil e da cumplicidade dos pais nesse
que as crianças que apresentam desajustes aspecto, utilizando “esse medo” a fim de não
ou inadequação ao ambiente familiar revelam consumar efetivamente sua vida conjugal. Na
no desenho alguma problemática nesse escola, seu rendimento escolar é oscilante,
sentido, o que pode, segundo Visca (1987), mas recusa-se a fazer as lições de casa,
trazer consequências desastrosas ao vínculo fazendo com que a mãe fique ao lado dele.
com o conhecimento. É o caçula da família, tem uma irmã cinco
O psicopedaqoqo deve estar atento para a anos mais velha. Nas entrevistas demonstrou
análise dos conteúdos manifestos e latentes, certa ambiguidade: uma predisposição em
tais como: caminhar em direção ao crescimento e, ao
- afetividade - proximidade, mesmo tempo, medos em realizar tarefas.
distanciamento ou omissão dos vínculos Os desenhos solicitados foram realizados em
- aspecto motor ou de vinculação com a duas sessões o que demonstra certa lentidão
tarefa - tipo de traçado; para sua idade. Debruçava-se sobre as folhas
- maturidade cognitiva do desenho. prejudicando o traçado das figuras.

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Instrumentos de Avaliação II

Seguem os desenhos solicitados, as verbalizações durante a realização e o inquérito


correspondente.
Aplicações ilustrativas
1 - Desenho de uma família qualquer

Dinâmica da aplicação
Diz que é uma família comum: pai, mãe e filho (omite sua irmã, bem como o rosto da
criança, como se não houvesse identidade). Coloca que tem um ano de idade o que vem
confirmar, provisoriamente, o desejo inconsciente de ser o bebê dos pais.
No desenho da Figura Humana (colocado nessa técnica com a finalidade de demonstrar a
necessidade de verificar todos os aspectos da capacidade do sujeito), seu desenho apresenta-
se completo, enquanto, em todos os desenhos dessa fase são desenhados em “palito”,
revelando imaturidade para atividades que exigem maior empenho.
INTERPRETAÇÃO DO DESENHO DA FAMíLIA

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Instrumentos de Avaliação II

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Instrumentos de Avaliação II

2 - Desenho da família que gostaria de ter

Dinâmica da aplicação
Desenha as figuras sem rosto (sua família idealizada parece não possuir identidade),
porém acrescenta um irmão menor (ele gostaria de ser o mais velho e saber mais); parece
não tolerar a frustração de não estar de posse do conhecimento e, ao mesmo tempo, o
rejeita. Essa ambiguidade direciona-me para a investigação de simbiose entre mãe e filho,
pois, segundo Bleger (1985), a ambiguidade é um traço da simbiose.
Novamente omite a irmã e se coloca com 7 e 4 anos, ao mesmo tempo.
No relato diz ser uma família legal e que gosta muito dela.
Quando lhe é perguntado do que não gosta, responde: “É quando meu irmão fica
brincando com coisas chatinhas e eu falo para seus pais: - Para de provocar o C.!”
Fica evidente a identificação introjetiva com C., parece não gostar de ser chamado a
atenção, quando é infantil.

Acrescenta que vai crescer, ter uma empresa, casar e ter quatro filhos: dois meninos e
duas meninas e que vai ser muito feliz.
INTERPRETAÇÃO DO DESENHO DA FAMíliA (Desenho da família que gostaria de ter)

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Instrumentos de Avaliação II

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Instrumentos de Avaliação II

3 - Família na qual há alguém doente

Dinâmica da aplicação
Terapeuta - O que você desenhou? /
Paciente - Um filho doente, está com catapora!
A catapora tem o significado muitas vezes de doença do contato, do vínculo, da
impossibilidade de se relacionar plenamente. Ao mesmo tempo, impede qualquer contato com
a escola e material escolar.
P - Ele tá de cama.
T - E agora?
P - Ele tá cansado, ele correu muito. T - E os pais dele, o que dizem?
P - Toma cuidado para não se machucar! T - E o que fazem?
P - Dão remédio e cuidam do filho. Agora ele não pode sair e nem ir na escola.
Faz-se interessante verificar as fantasias de enfermidade desse paciente, revelando uma
submissão e utilizando-a para não ir para a vida. Enfim, ser cuidado pelos pais.

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Instrumentos de Avaliação II

INTERPRETAÇÃO DO DESENHO DA FAMíLIA (Família na qual há alguém doente)

4- Desenho da família atual


Houve recusa por parte do sujeito, dizendo que estava cansado e que a família dele é o
que é. Nada muda, são muito felizes e tudo bem.
Peço-lhe então que desenhe uma pessoa, o melhor possível. Desejo com essa solicitação
confirmar que o sujeito possui estruturas cognitivas para um garoto de sua idade e que os
desenhos em “palitos” fazem parte da resistência em envolver-se com a elaboração (desenho
que será mostrado após o fechamento dessa técnica).

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Instrumentos de Avaliação II

INTERPRETAÇÃO DO DESENHO DA FAMíLIA (Desenho da família atual)

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Instrumentos de Avaliação II

Desenho da figura humana


Esse desenho foi solicitado para confrontar com os desenhados anteriormente.

Comentários
Pela idade do sujeito, sua elaboração deixa a desejar na elaboração de:
• mãos e pés desproporcionais;
• mãos com o número de dedos incompatíveis;
• tórax e abdômen sem separação;
Trata-se de um desenho que, embora pareça indicar receptividade pelos braços abertos,
na verdade indica passividade e estagnação. Por esse motivo, um desenho não deve ser
interpretado isoladamente e, sim, dentro de um contexto.
As mãos deformadas parecem indicar que alguém deve realizar para ele, pois se encontra
impossibilitado em executar movimentos de articulação mais precisa. Da mesma forma, os
pés deformados parecem indicar não poder caminhar sozinho, sem ajuda, permanecendo na
dependência.
As feições do sujeito projetado no papel, assim como o seu tamanho, indicam infantilidade.

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Instrumentos de Avaliação II

Técnica: situação agradável utilizando os materiais, uma situação de que


não gosta.
e desagradável
Leila Chamat Apresentação de um caso
Objetivos Trata-se do mesmo sujeito da Técnica da
Verificar o que o sujeito revela ou está Família com quatro desenhos.
por revelar, por meio da projeção no Na dinâmica da aplicação o sujeito olhou
papel, o conteúdo manifesto ou latente para a mesa e disse:
de sua problemática de aprendizagem, ou Paciente - Nossa! Quanta coisa! Você tem
mesmo do contexto familiar que o mantém tudo isso? Respondi-lhe que sim e que ele
impossibilitado para o conhecim4nto escolar e poderia usar aqueles materiais para fazer
ou devida. algo que me mostrasse uma situação de que
A técnica em si, além do objetivo a que se gostava.
propõe, auxiliará o terapeuta a confirmar ou P - E o que mais? (Argumentou.)
refutar hipóteses levantadas anteriormente. Respondi-lhe que também iria pedir que
Aplicação fizesse uma de que não gostasse.
Para sua aplicação devem estar disponíveis P - ‘’Viche’’! Eu vou fazer as duas de uma
para o sujeito os seguintes materiais: vez só!
- papel sulfite ou colorido; Sem afastar o material que não iria utilizar
- canetas hidrográficas de diversas cores; pegou um sulfite e as canetinhas hidrocor
- papelão de tamanhos variados; (que não guardou), depois abriu a caixa de
-lápis de cor, no mínimo uma caixa lápis de cor (alguns lápis cairam no chão e
contendo doze unidades; ele não os pegou), pintou e disse:
- tinta guache com cores básicas, no P - Tá aqui! Legal né?
mínimo; Terapeuta - Onde está a outra situação?
- massas de modelar (em potes) - cores P - É o seguinte: Fiz um sol, alegria! As
básicas; cores são claras.
- lápis preto no. 2, borracha e apontador; O mato, as árvores na montanha. Isso
- pincel atômico: vermelho e azul; é bom! Mas os homens estão cortando as
- lápis cera de uma espessura mais forte; árvores. Hoje em dia eles gostam de cortar
- papéis coloridos; as árvores. Para fazer móveis, dizer que
- régua, tesoura e cola. tem. Não preservam a natureza. Nome: A
Esses materiais têm a finalidade de liberar Paisagem.
a criatividade, seduzindo o sujeito para a P - Gostou? Sou bom mesmo! T - O que
execução de “algo”, que muitas vezes, ele você mais gostou? P - O arco-íris.
mesmo nem sabe, conscientemente, o seu T - Porquê?
produto final. P - Dizem que no final do arco-íris tem
A consigna é: “Gostaria que você um pote de ouro. T - Com certeza você vai
mostrasse para mim, uma situação de que encontrar o seu!
gosta muito.” Deve-se acrescentar: “Use o P - Ouro mesmo?
que quiser desses materiais.” T - Que tal sabedoria?
Ao término da atividade o terapeuta deve P - É muito bom, legal! Leila, você é legal!
indagar sobre o que foi feito, explorando o T - Somos legais!
conteúdo latente do material. Logo após a ilustração da produção do
sujeito, iniciaremos a discussão do caso.
Em seguida, ou mesmo em outra sessão, *N. da A.: Técnica cedida por Márcia
deve-se solicitar ao sujeito que mostre, da Natividade Olhero e Denise, psicólogas
clinicas e escolares.

73
Instrumentos de Avaliação II

Ilustração da Técnica

Comentários
Ló executa quatro montanhas e no meio delas um sol pontiagudo como um objeto em
crescimento. Acima, aparece um arco-íris que significa objeto de transformação, que parece
ser o que deseja. Identifica-se com o sol no meio das montanhas, como quatro seios, o que
leva a hipotetizar a falta de figura de autoridade como uma das causas de ele dormir no meio
dos pais.
Fala dos homens que cortam as árvores, como quisesse afirmar que seu processo natural
de crescimento está sendo cerceado.
De outro ponto de vista, sua desorganização no ato de execução das atividades, bem
como não recolher e guardar os objetos, deve-se a uma pedagogia familiar insuficiente, em
que alguém vem executando por ele, faltando figura de autoridade, cujo significado vem ao
encontro de pais também desorganizados e imaturos.

74
Instrumentos de Avaliação II

Esse fato gera uma imaturidade do ego e também cognitiva, ficando lento para a
aprendizagem, pois não se organizando não desenvolve os mecanismos de antecipação e a
noção de reversibilidade.
Os resultados obtidos confirmam as hipóteses levantadas sobre o sujeito na Técnica da
Família e do Desenho da Figura Humana.
Esclarecimentos
Mecanismos de antecipação: de forma rude, mas prática, pode-se afirmar que se refere ao
ato de pensar que utiliza planejamento da ação, com causa e efeito.
Noção de reversibilidade: encontra-se intimamente ligada à anterior, pois a maturidade
necessária para pensar de forma reversível envolve o conceito de antecipação da ação, para
que adquira estruturas de pensamento que atinjam a compreensão em termos de opostos:
desde as contradições da natureza como o dia e a noite, o sol e a chuva, à reversibilidade
das operações matemáticas e à aplicabilidade dessas noções na vida, sendo responsável pelo
pensamento formal, mais abstrato.
A seguir, apresentarei um quadro demonstrativo de avaliação dessa técnica, objetivando
facilitar sua interpretação.
INTERPRETAÇÃO DO DESENHO DE UMA SITUAÇÃO AGRADÁVEL

75
Instrumentos de Avaliação II

Provas pedagógicas lateralidade, o uso excessivo de borracha,


a limpeza, a ordem, os espaçamentos, os
específicas cuidados que o sujeito tem com o caderno.
Leila Chamat Deve ser examinado o grafismo (tamanho,
As sugestões de provas pedagógicas, oscilação, coordenação motora, tremores,
aqui apresentadas, são oriundas da minha tipos de traçados, escrita em espelho, etc.) e
experiência profissional e são introdutórias a ortografia (trocas, omissões, aglutinações,
como um ponto de partida para o terapeuta escrita, fonética, etc.).
explorar o potencial do sujeito em avaliação É importante observar as anotações do
sob vários aspectos. professor (tipos, incentivos) e a mão do outro
Estas dependem do nível de escolaridade (a relação de dependência).
do aluno. Constituem-se de situações O caderno permite-nos também observar a
pedagógicas que visam a avaliar os pré- identificação do sujeito com seu instrumento
requisitos para a aprendizagem do conteúdo de trabalho, a relação vincular do sujeito com
atual. o instrumento de conhecimento.
Podem ser constituídas de: - exercícios Análise da escrita
cognitivos; Para esse fim, o terapeuta pode utilizar o
- cálculos; Roteiro de Análise da Escrita do Teste Coleção
- redação; Papel de Carta.
- as provas escritas já constam-nos outros A análise da escrita merece alguns
testes e técnicas; cuidados especiais, principalmente no que diz
- situações problemas. respeito à interpretação de trechos isolados,
Exame do caderno pois podem estar permeados de medos,
Objetivos e técnica ansiedades que prejudicam a interpretação.
Por meio do exame do caderno podemos Uma boa sugestão é solicitar três
processar uma análise dos aspectos gerais produções espontâneas na escrita (podem
e específicos vinculados à estruturação, ser redações, vindo auxiliar a análise da
identidade e a aprendizagem do sujeito. compreensão do real, pelo sujeito, com
O caderno nos permite observar a começo, meio e fim), caso o sujeito saiba
identificação do sujeito com seu instrumento escrever.
de trabalho, a relação vincular do sujeito com Essas produções levam o terapeuta a
o instrumento de conhecimento. perceber que a primeira delas apresentará
O material a ser examinado deve consistir erros gritantes, desde a falta de noção
em pelo menos dois cadernos do mesmo têmporo-espacial até omissões e trocas
sujeito (um contendo as lições de sala de (não perseverantes) e outros. Nas segunda
aula e o outro de lição de casa). Se possível, e terceira produções, os déficits de escrita e
verificar dois cadernos de início de ano gramaticais diminuirão consideravelmente.
anterior e dois atuais. Um outro aspecto que o examinador deve
Deve-se verificar o conteúdo (se está se ater refere-se a falta de vinculação do
associado às construções de estruturas de sujeito com o objeto de conhecimento, sendo
pensamento necessárias no contexto), o que algumas vezes manifesta desprezo e
método de ensino e a adequação para o nível agressividade em sua produção; em outras,
de pensamento da criança. omite parcial ou totalmente o registro de algo
No exame do caderno devemos observar no papel.
a organização têmpora-espacial-seqüencial
(se escreve na linha, pula linhas, invade
margens, etc.). Deve-se observar a pressão
do tônus muscular, o esquema corporal, a

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Instrumentos de Avaliação II

Um exemplo dessa falta de vinculação expressa-se na escrita a seguir.

O conteúdo expressado pelo sujeito pode trazer informações ricas no tocante à sua
cognição e mensagem, sendo que ambos auxiliam na compreensão de sua problemática.
O conteúdo anterior pertence a um sujeito que cursa a sexta série, cujas estruturas
de pensamento estão compatíveis com a série em que se encontra. Os erros de escrita
cometidos bem como a oscilação no tamanho das letras têm como causa a falta de
envolvimento com sua produção. Corrobora esse aspecto, a observação da execução da
atividade (dinâmica da aplicação): quase que deitado sobre a folha, escrevendo com o braço
direito e deixando o esquerdo abaixado.
Trata-se de um trecho memorizado, permeado de desejo de liberdade, porém o sujeito
parece falar do seu medo de vinculação afetiva. Não se importa com seu produto assim como
o faz com seu corpo. Isso parece ter raízes em sua auto-estima que é baixa.
A seguir apresentarei uma produção escrita de um garoto de dez anos, na quarta série,
cuja queixa dos pais refere-se a dificuldade da criança na escola, tirando notas baixas.
O resultado de outras provas nada revelaram como possível causa. As histórias
elaboradas pelo sujeito no teste CPC demonstraram estruturas de pensamento muito bem
elaboras; havia também vinculação entre o ser que ensina e aprende. Foram elaboradas
provas interpretativas (histórias) e o nível de cognição do sujeito foi alto. A causa pode
ser encontrada na análise da Entrevista Inicial, com pais permissivos, sem autoridade,
desorganizados, gratificando excessivamente o filho.
A escrita que se segue não apresenta déficits que expliquem à problemática.

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Instrumentos de Avaliação II

O caso de E. mostra-se muito interessante do ponto de vista da análise da escrita. Tem 11


anos e frequenta a quarta série, com queixa de dificuldades em Português.
Sua prova escrita, decorrente da aplicação do Teste Papel de Carta, mostra uma excelente
elaboração estrutural do pensamento e um prognóstico favorável.
Trata-se de um sujeito que sempre esteve na mesma escola e não teve falta consecutivas.
Os erros cometidos são decorrentes de um déficit de alfabetização, que já deveria ter
solucionado pelo potencial que possui. Isso vem a confirmar que o sujeito possui déficits de
atenção e concentração. Na leitura de suas histórias, mostra-se parcialmente vinculado à
aprendizagem. A hipótese levantada é de que as causas dessa problemática encontram-se
nas relações vinculares familiares, que devem ser melhor pesquisadas.
Sua produção escrita:

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Instrumentos de Avaliação II

Provas interpretativas
Trata-se de textos falados ou lidos pelo sujeito:
- dois da série anterior ao que se encontra;
- dois da série atual;
- dois da série posterior.
Se o sujeito sabe ler, deve-se solicitar que leia, conte o que leu e explique algumas
passagens importantes do texto. Pode-se argumentar com ele, dizendo: “E se isto fosse
assim, como seria?” e outras construções adequadas.
Caso não saiba ler, o aplicador lerá para ele e explorará da mesma forma o seu potencial
cognitivo.
Essas provas exigem do profissional muita criatividade, pois podem ser substituídas por
símbolos.
Em adolescentes recomenda-se o uso de códigos.
Raciocínio matemático
Devem-se utilizar jogos diversos, por exemplo: pega varetas (variando o valor das cores,
dependendo da idade para aumentar o nível de dificuldade); dominó comum e um que
trabalhe o valor n:

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Instrumentos de Avaliação II

O sujeito pode manipular fichas ou grãos para encontrar o valor n e colocar a peça
correspondente.
O trabalho de exploração deve partir da adição para a subtração, da multiplicação para a
divisão. O nível de dificuldade deve estar de acordo com a escolaridade da criança. Porém,
recomenda-se iniciar com um nível mais baixo e ir aumentando gradativa mente.
Existem jogos de raciocínio que permitem verificar além da cognição, o domínio do
raciocínio matemático, mas necessitam ser adaptados para cada situação.
___________________________________________________
Referência:
Chamat, Leila Sara José. Técnicas de diagnóstico psicopedagogico: o diagnóstico clinico na
abordagem interacionista. 1ª edição - São Paulo: Vetor, 2004

Provas operatórias Piagetianas


Simaia Sampaio Maia(material organizado )

A intenção desta sessão é mostrar as provas e suas modificações para aqueles que estão
iniciando na psicopedagogia. Não nos cabe aqui detalhar como a prova é aplicada, devendo o
estudante buscar em livros como os de Jorge Visca ou Piaget o procedimento para aplicação
das mesmas.

1. PROVAS DE CONSERVAÇÃO:

1.1. Conservação da quantidade de matéria

Materiais:

- 2 massas de modelar de cores diferentes cada uma, cujo tamanho possa fazer 2 bolas de
aproximadamente 4 cm de diâmetro.

Obs.: É interessante que escolha cores correspondentes a substâncias comestíveis.

Igualdade inicial: modificação do elemento experimental(achatamento)

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Instrumentos de Avaliação II

Modificação do elemento experimental (alargamento) Modificação do elemento experimental (partição)

1.2. Conservação de quantidade de líquidos

Materiais:

- 2 vasos iguais A1 e A2
- 1 vaso mais fino e alto B
- 1 vaso mais largo e baixo C
- 4 vasinhos iguais D1, D2, D3, D4
- 2 copos contendo líquidos de cores diferentes

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Instrumentos de Avaliação II

Igualdade inicial:

Primeira modificação: Segunda modificação 

Terceira modificação:

1.3 Conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos

Materiais:

- 10 fichas vermelhas
- 10 fichas azuis
cada um com 2 cm de diâmetro

Igualdade inicial: Correspondência termo a termo:

Primeira modificação espacial: Segunda modificação espacial:

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Instrumentos de Avaliação II

Terceira modificação espacial:

1.4 Conservação de superfície

Materiais:
 
- 2 folhas de cartolina verde ou papel E.V.A. (20x25)
- 12 quadrados de cartolina ou E.V.A. na cor vermelha com cerca de 4 cm de lado
- 1 vaquinha

Igualdade inicial:

Perguntas iniciais

Retorno empírico

Primeira modificação espacial: Segunda modificação espacial

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Instrumentos de Avaliação II

Terceira modificação espacial Outra modificação espacial sugerida

1.5 Conservação de volume

Materiais:

- 2 vasos iguais
- 2 massas de modelar de cores diferentes
- 2 copos contendo líquidos de cores diferentes

Igualdade inicial: Modificação do elemento experimental (achatamento)

Modificação do elemento experimental Modificação do elemento experimental


(alargamento) ( partição)

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Instrumentos de Avaliação II

1.6. Conservação de peso

Materiais:

- 2 massas de modelar de cores diferentes cada uma, cujo tamanho possa fazer 2 bolas de
aproximadamente 4 cm de diâmetro.
- 1 balança com dois pratos cuja leitura seja pela posição dos braços.

Igualdade inicial: Modificação do elemento experimental ( alargamento)

Modificação do elemento experimental Modificação do elemento experimental


(achatamento) (partição)

1.7 Conservação de comprimento

Materiais:

- 1 corrente ou barbante de aproximadamente 10 cm


- 1 corrente ou barbante de aproximadamente 15 cm

Apresentação das correntes. Perguntas iniciais

Primeira situação Segunda situação

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Instrumentos de Avaliação II

2. PROVAS DE CLASSIFICAÇÃO:

2.1 Mudança de critério  -  Dicotomia

Materiais:
 
- 5 círculos vermelhos  de 2,5 cm de diâmetro.
- 5 círculos azuis de 2,5 cm de diâmetro.
- 5 círculos vermelhos de 5 cm de diâmetro.
- 5 círculos azuis de 5 cm de diâmetro.
- 5 quadrados vermelhos de 2,5 cm de lado.
- 5 quadrados azuis de 2,5 cm de lado.
- 5 quadrados vermelhos de 5 cm de lado.
- 5 quadrados azuis de 5 cm de lado.
- 2 caixas planas de mais ou menos 4 a 5 cm de altura e uns 12 cm de lado.

Material
 

Classificação por cores sem caixa Classificação por cores usando caixas

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Instrumentos de Avaliação II

Classificação por formas usando a caixa Classificação por tamanhos usando caixa

2.2. Quantificação de Inclusão de classes


Materiais:
 
Com flores:
- 10 margaridas
- 3 rosas vermelhas
 
Com animais
- 10 coelhos ou outra espécie
- 3 camelos ou outra espécie
 
Pode-se fazer também com:
- 10 carros
- 3 ônibus

2.3 Intersecção de classes

Materiais:
 
- 5 círculos azuis de 2,5 cm de diâmetro
- 5 círculos vermelhos também de 2,5 cm de diâmetro
- 5 quadrados vermelhos de 2,5 cm de lado
- 1 folha de cartolina ou papel E.V.A. com dois círculos em intersecção, sendo que um preto 
e outro amarelo. 
Obs.: os 5 círculos devem poder entrar na intersecção.

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Instrumentos de Avaliação II

3.SERIAÇÃO

3.1 Seriação de palitos

Materiais:
 
- 10 palitos com aproximadamente 1 cm de largura com uma diferença de 0,6 mm de
altura entre um e outro, sendo que o primeiro tem aproximadamente 11,5 cm.

4.PROVAS OPERATÓRIAS PARA O PENSAMENTO FORMAL

4.1.Combinação de fichas

Materiais:
- 6 fichas de diferentes cores com 2,5 cm de diâmetro cada uma.

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Instrumentos de Avaliação II

4.2 Permutação de fichas:

Materiais:
- 4 fichas de diferentes cores com 2,5 cm de diâmetro cada uma.

4.3 Predição
Materiais:
 
- 17 fichas verdes
- 10 fichas amarelas
- 6 fichas lilases
- 1 ficha branca
- 1 saco de pano

__________________________________________________________________
Referência:
© 2004 [Psicopedagogiabrasil]. Todos os direitos reservados.
SAMPAIO, Simaia. Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clínico. Rio de Janeiro, Editora
WAK, 2009.
VISCA, Jorge. El diagnostico operatorio em la practica psicopedagogica. Buenos Aires,
Ag.Serv,G,. 1995.

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