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Avaliação

Psicopedagógica
1. Introdução 5

2. Avaliação Psicopedagógica 9

3. O Que é o Diagnóstico Na Psicopedagogia 13

4. Os Tipos De Diagnóstico 18
Situacional 19
Assistencial 19
Escolar 20
Modalidade de Aprendizagem 21
Transtorno de Aprendizagem 21

5. Etapas Do Diagnóstico 24
Entrevista Familiar Exploratório Situacional (E.F.E.S.) 25
Entrevista de Anamnese 25
Sessões lúdicas centradas na aprendizagem
(para crianças) 27
Provas e testes 27
Síntese diagnóstica 28
Entrevista de devolução e encaminhamento 28

6. Materiais e Estratégias para Intervenção


Psicopedagógica 31
Jogos de exercício 32
Jogos simbólicos 33
Jogo de regras 35
Materiais lúdicos 36

7. Técnicas de Intervenção Psicopedagógica 38


O Psicodrama 38
Livros sem texto 40
A Caixa de Areia 42

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Estimulação Cognitiva 44
Técnicas Expressivas Plásticas 46

8. A Organização do Portfólio do Diagnóstico 49

9. Referências Bibliográficas 52

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

1. Introdução

A Psicopedagogia tem por gens humanas, recorrendo a várias


definição o trabalho com a estratégias objetivando se ocupar
aprendizagem, com o conheci- dos problemas que podem surgir.
mento, sua aquisição, desenvol- Numa linha preventiva, o
vimento e distorções. Realiza este psicopedagogo pode desempenhar
trabalho através de processos e uma prática docente, envolvendo a
estratégias que levam em conta a preparação de profissionais da
individualidade do aprendente. É educação, ou atuar dentro da
uma praxe, portanto comprometida própria escola. Na sua função
com a melhoria doas condições de preventiva, cabe ao psicopedagogo
aprendizagem. O psicopedagogo detectar possíveis perturbações no
pode atuar em diversas áreas, de processo de aprendizagem;
forma preventiva e terapêutica, para participar da dinâmica das relações
compreender os processos de da comunidade educativa a fim de
desenvolvimento e das aprendiza- favorecer o processo de integração e

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

troca; promover orientações meto- mundo.


dológicas de acordo com as caracte- A aprendizagem humana é
rísticas dos indivíduos e grupos; determinada pela interação entre o
realizar processo de orientação indivíduo e o meio, da qual
educacional, vocacional e ocupa- participam os aspectos biológicos,
cional, tanto na forma individual psicológicos e sociais. Dentro dos
quanto em grupo. aspectos biológicos, a criança
Numa linha terapêutica, o apresenta uma série de
psicopedagogo trata das dificulda- características que lhe permitem, ou
des de aprendizagem, diagnostican- não, o desenvolvimento de conhe-
do, desenvolvendo técnicas reme- cimentos. As características psico-
diativas, orientando pais e profes- lógicas são consequentes da história
sores, estabelecendo contato com individual, de interações com o
outros profissionais das áreas ambiente e com a família, o que
psicológica, psicomotora. Fonoau- influenciará as experiências futuras,
diológica e educacional, pois tais como, por exemplo, o conceito de si
dificuldades são multifatoriais em próprio, insegurança, interações
sua origem e, muitas vezes, no seu sociais, etc.
tratamento. Esse profissional deve
ser um mediador em todo esse
processo, indo além da simples
junção dos conhecimentos da
psicologia e da pedagogia
O psicopedagogo estimula o
desenvolvimento de relações inter-
pessoais, o estabelecimento de
vínculos, a utilização de métodos de
ensino compatíveis com as mais
recentes concepções a respeito desse
processo. Procura envolver a equipe
escolar, ajudando-a a ampliar o Portando, a psicopedagogia,
olhar em torno do aluno e das pode fazer um trabalho entre os
circunstâncias de produção do muitos profissionais, visando à
conhecimento, ajudando o aluno a descoberta e o desenvolvimento das
superar os obstáculos que se capacidades da criança, bem como
interpõem ao pleno domínio das pode contribuir para que os alunos
ferramentas necessárias à leitura do sejam capazes de olhar esse mundo

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

em que vivem, de saber interpretá-lo um diagnóstico, identificar as causas


e de nele ter condições de interferir do problema e intervir para
com segurança e competência. desenvolver no sujeito o desejo de
Assim, o psicopedagogo não só aprender.
contribuirá com o desenvolvimento
da criança, desde sua infância, como
também contribuirá com a evolução
de um mundo que melhore as
condições de vida da maioria da
humanidade.

Então como a psicopedagogia


pode ajudar no desenvolvimento de
crianças durante a educação
infantil? A educação infantil precisa
se mais do que um lugar agradável,
onde se brinca. Deve ser um espaço
estimulante, educativo, seguro,
afetivo, com professores realmente
preparados para acompanhar a
criança nesse processo intenso e
cotidiano de descobertas e de
crescimento.
Nessas condições,
acreditamos que o Psicopedagogo é
um grande contribuinte, porque
trabalha com o objetivo de realizar

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

2. Avaliação Psicopedagógica

A avaliação psicopedagógica é educativas de determinados alunos


um dos componentes críticos da ou alunas que apresentem
intervenção psicopedagógica, pois dificuldades em seu desenvol-
nela se fundamenta as decisões vimento pessoal ou desajustes com
voltadas à prevenção e solução das respeito ao currículo escolar por
possíveis dificuldades dos alunos, causas diversas, e a fundamentar as
promovendo melhores condições decisões a respeito da proposta
para o seu desenvolvimento. curricular e do tipo de suportes
Ela é um processo comparti- necessários para avançar no
lhado de coleta e análise de desenvolvimento das várias
informações relevantes acerca dos capacidades e para o
vários elementos que intervêm no desenvolvimento da instituição
processo de ensino e aprendizagem, (COLL; MARCHESI; PALACIOS,
visando identificar as necessidades 2007, p. 279).

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

A avaliação psicopedagógica utilizados pela criança ao


envolve: abordar situações e tarefas
 a identificação dos principais acadêmicas, bem como
fatores responsáveis pelas déficits e preferências nas
dificuldades da criança. modalidades per-centuais etc;
Precisamos determinar se  a identificação de
trata-se de um distúrbio de características emocionais da
aprendizagem ou de uma criança, estímulos e esquemas
dificuldade provocada por de reforçamento aos quais
outros fatores (emocionais, responde e sua interação com
cognitivos, sociais...). Isto as exigências escolares
requerer que sejam coletados propriamente ditas.
dados referente à natureza da
dificuldade apresentada pela
criança, bem como que se
investigue a existência de
quadros neuropsiquiátricos,
condições familiares,
ambiente escolar e
oportunidades de estimulação
oferecidas pelo meio a que a
criança pertence;
 o levantamento do repertório
infantil relativo as habilidades
acadêmicas e cognitivas Ela deve ser um processo
relevantes para a dificuldade dinâmico, pois é nela que são
de aprendizagem apresentada, tomadas decisões sobre a
o que inclui: conhecimento,
necessidade ou não de intervenção
pelo profissional, do conteúdo
acadêmico e da proposta psicopedagógica. Ela é a investi-
pedagógica, à qual a criança gação do processo de aprendizagem
está submetida; investigação do indivíduo visando entender a
de repertórios relevantes para origem da dificuldade e/ou distúrbio
a aprendizagem, como a apresentado. Inclui entrevista inicial
atenção, hábitos de estudos, com os pais ou responsáveis pela
solução de problemas,
desenvolvimento psico-motor, criança, análise do material escolar,
linguístico, etc.; avaliação de aplicação de diferentes modalidades
pré-requisitos e/ou condições de atividades e uso de testes para
que facilitem a aprendizagem avaliação do desenvolvimento, áreas
dos conteúdos; identificação de competência e dificuldades
de padrões de raciocínio apresentadas. Durante a avaliação

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

podem ser realizadas atividades produção textual (forma e


matemáticas, provas de avaliação do conteúdo); leitura (decodificação e
nível de pensamento e outras compreensão); provas de avaliação
funções cognitivas,leitura, escrita, do nível de pensamento e outras
desenhos e jogos. Inicialmente, funções cognitivas; cálculos; jogos
deve-se perceber, na consulta simbólicos e jogoscom regras;
inicial, que a queixa apontada pelos desenho e análise do grafismo.
pais como motivo do Conforme Coll; Marchesi;
encaminhamento para avaliação, Palacios (2007), a avaliação
muitas vezes pode não só descrever psicopedagógica irá fornecer
o “sintoma”, mas também traz informações importantes em relação
consigo indícios que indicam o as necessidades dos seus alunos,
caminho para início da investigação. bem como de seu contexto escolar,
“A versão que os pais transmitem familiar e social, e ainda irá justificar
sobre a problemática e princi- se há ou não necessidade de
palmente a forma de descrever o introduzir mudanças na oferta
sintoma, dão-nos importantes educacional.
chaves para nos aproximarmos do Depois de coletadas
significado que a dificuldade de informações que considera
aprender tem na família” importante para a avaliação, o
(FERNÁNDEZ, 1991, p. 144). psicopedagogo irá intervir visando à
Segundo Coll e Martín (2006), solução de problemas de
avaliar as aprendizagens de um aprendizagem em seus devidos
aluno equivale a especificar até que espaços, uma vez que a avaliação
ponto ele desenvolveu determinadas visa reorganizar a vida escolar e
capacidades contempladas nos doméstica da criança e, somente
objetivos gerais da etapa. Para que o neste foco ela deve ser
aluno possa atribuir sentido às encaminhada, vale dizer que fica
novas aprendizagens propostas, é vazio o pedido de avaliação apenas
necessária a identificação de seus para justificar um processo que está
conhecimentos prévios, finalidade a descomprometido com o aluno e
que se orienta a avaliação das com a sua aprendizagem. “De fato,
competências curriculares. se pensarmos em termos bem
Dentre os instrumentos de objetivos, a avaliação nada mais é do
avaliação também podemos que localizar necessidades e se
destacar: escrita livre e dirigida, comprometer com sua superação”
visando avaliar a grafia, ortografia e (VASCONCELOS, 2002, p. 83).

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

3. O que é o Diagnóstico na Psicopedagogia

Investigação é um termo que levam está criança a não


utilizado por Rubinstein (1987), e conseguir aprender.
que definem a psicopedagogia. O O psicopedagogo é como um
profissional desta área deve detetive que busca pistas,
vasculhar cada “canto” da pessoa, procurando solucioná-las, pois
analisar o modo de como ela se algumas podem ser falsas, outras
expressa, seus gestos, a entonação irrelevantes, mas a sua meta
da voz, tudo. O psicopedagogo deve fundamentalmente é investigar todo
também enxergar não só o que essa o processo de aprendizagem levando
criança mostra, mas saber perceber em consideração a totalidade dos
que ela pode ter algum problema fatores nele envolvidos, para
imperceptível que está dificultando valendo-se desta investigação,
sua aprendizagem e saber conduzi- entender a constituição da
la para um outro profissional, como: dificuldade de aprendizagem
psicólogos, fonoaudiólogos, (RUBINSTEIN, 1987, p. 51).
neurologistas, etc., isso significa Diagnosticar um distúrbio de
saber investigar os múltiplos fatores aprendizagem é uma tarefa difícil e

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

para fazê-lo de modo preciso e psicopedagógico abre possibilidades


eficiente há que se ter a participação de intervenção e dá início a um
de equipe interdisciplinar e processo de superação das
utilização de diferentes dificuldades. O foco do diagnóstico é
instrumentos para avaliação. o obstáculo no processo de
Fernández (1991) afirma que o aprendizagem. É um processo no
diagnóstico, para o terapeuta, deve qual analisa-se a situação do aluno
ter a mesma função que a rede para com dificuldade dentro do contexto
um equilibrista. É ele, portanto, a da escola, da sala de aula, da família;
base que dará suporte ao ou seja, é um exploração
psicopedagogo para que este faça o problemática do aluno frente à
encaminhamento necessário. produção acadêmica.
É um processo que permite ao Durante o diagnóstico
profissional investigar, levantar psicopedagógico, o discurso, a
hipóteses provisórias que serão ou postura, a atitude do paciente e dos
não confirmadas ao longo do envolvidos são pistas importantes
processo recorrendo, para isso, a que ajudam a chegar nas questões a
conhecimentos práticos e teóricos. serem desvendadas.
Esta investigação permanece É através do desenvolvimento
durante todo o trabalho diagnóstico do olhar e da escuta
através de intervenções e da “escuta psicopedagógica, trabalhados e
psicopedagógica...” para que “se incorporados pelo profissional que
possa decifrar os processos que dão poderão ser lançadas as primeiras
sentido ao observado e norteiam a hipóteses a cerca do indivíduo. Esse
intervenção” (BOSSA, 2000, p. 24). olhar e essa escuta ultrapassam os
Diagnosticar nada mais é do dados reais relatados e buscam as
que a constatação de que a criança entrelinhas, a emoção, a elaboração
possui algum tipo de dificuldade na do discurso inconsciente que o
aprendizagem, fato que atendido traz.
normalmente só é detectado quando O objetivo do diagnóstico é
ela é inserida no ensino formal. obter uma compreensão global da
Porém, uma vez realizada essa sua forma de aprender e dos desvios
constatação, cabe à equipe que estão ocorrendo neste processo
investigar a sua causa e, para tanto, que leve a um prognóstico e
deve-se lançar mãos de todos os encaminhamento para o problema
instrumentos diagnósticos neces- de aprendizagem. Procura-se
sários para esse fim. O diag-nóstico organizar os dados obtidos em

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

relação aos diferentes aspectos das causas históricas; análise do


envolvidos no processo de distanciamento do fenômeno em
aprendizagem de forma particular. relação aos parâmetros
Ele envolve interdisciplinaridade considerados aceitáveis,
em pelo menos três áreas: levantamento de hipótese sobre a
neurologia, psicopedagogia e configuração futura do fenômeno
psicologia, para possibilitar a atual e, indicações e
eliminação de fatores que não são encaminhamentos.
relevantes e a identificação da causa
real do problema.
É nesse momento que o
psicopedagogo irá interagir com o
cliente (aluno), com a família e a
escola, partes envolvidas na
dinâmica do processo de ensino-
aprendizagem.
Também é importante
ressaltar que o diagnóstico possui
uma grande relevância tanto quanto
o tratamento, por isso ele deve ser
feito com muito cuidado, O diagnóstico não pode ser
observando o comportamento e considerado como um momento
mudanças que isto pode acarretar estático, pois é uma avaliação do
no sujeito. aluno que envolve tanto os seus
O diagnóstico psicopedagó- níveis atuais de desenvolvimento,
gico é visto como um momento de quanto as suas capacidades e
transição, um passaporte para a possibilidades de aprendizagem
intervenção, devendo seguir alguns futura. Por muitos anos, era uma
princípios, tais como: análise do tarefa exclusiva dos especialistas,
contexto e leitura do sintoma; que analisavam algumas
explicações das causas que informações dos alunos, obtidas
coexistem temporalmente com o através da família e às vezes da
sintoma; obstáculo de ordem de escola, e logo após devolviam um
conhecimento, de ordem da laudo diagnóstico, quase sempre
interação, da ordem do funciona- com termos técnicos incompre-
mento e de ordem estrutural; ensíveis. A distância existente no
explicações da origem do sintoma e relacionamento entre os

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

especialistas, a família e a escola forte indício de que a problemática


impediam o desenvolvimento de um tinha como causa fatores intra-
trabalho eficiente com o aluno. escolares (BOSSA, 2000, p. 101).
A proposta atual é que o Ao se instrumentalizar um
diagnóstico seja um trabalho diagnóstico, é necessário que o
conjunto onde todas as pessoas que profissional atente para o
estão envolvidas com o aluno devem significado do sintoma a nível
participar, e não atuar como meros familiar e escolar e não o veja apenas
coadjuvantes desse processo. Ele em um recorte, como uma
não é um estudo das manifestações deficiência do sujeito. Que o
aparentes que ocorrem no dia-a-dia psicopedagogo, através do diagnós-
escolar, é uma investigação tico acredite numa aprendizagem
profunda, na qual são identificadas que possibilite transformar, sair do
as causas que interferem no lugar estagnado e construir. Que ele
desenvolvimento do aluno, sugerin- seja o fio condutor que norteará a
do atividades adequadas para intervenção psicopedagógica.
correção e/ou compensação das
dificuldades, considerando as
características de cada aluno.
O diagnóstico não deverá
somente fundamentar uma
deficiência, mas apontar as
potencialidades do indivíduo. Não é
simplesmente o que este tem, mas o
que pode ser e como poderá se
desenvolver.
É de extrema relevância
detectarmos, através do diagnóstico,
o momento da vida da criança em
que se iniciam os problemas de
aprendizagem. Do ponto de vista da
intervenção, faz muita diferença
constatarmos que as dificuldades de
aprendizagem se iniciam com o
ingresso na escola, pois pode ser um

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

4. Os Tipos De Diagnóstico

Chamamos de diagnóstico e sim o processo, desta forma o


psicopedagógico o processo de psicopedagogo não pode dar o laudo
investigação de uma queixa, que por daquilo que ele tem como hipótese
sua vez nem sempre é um problemas mas ele realiza todo o processo de
mas que pode ser a origem de uma levantamento de hipóteses e aplica
investigação de distúrbios, métodos, técnicas e instrumentos
transtornos ou patologias referente científicos, por isso ele realiza
a aprendizagem humana, ou seja satisfatoriamente o diagnóstico de
tem como objetivo descobrir o que transtorno de aprendizagem.
pode estar influenciando e Depois de realizar o
prejudicando bom desenvolvimento diagnostico ele encaminha aos
humano. profissionais competentes para
O psicopedagogo não é médico confirmar suas hipóteses e assim
e ele faz SIM diagnóstico. Quando fornecer um laudo ao seu
falamos em diagnóstico devemos aprendente.
entender que este não é o resultado Entretanto, não cabe ao

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

psicopedagogo realizar o processo realizando terapia de intervenção.


de diagnóstico de patologias Neste caso o psicopedagogo vai
e distúrbios como o autismo, realizar um Diagnóstico Situacional
síndromes, transtorno de comporta- ou seja, ele vai investigar naquele
mento e distúrbios psiquiátricos momento específico o que este
sempre lembran-do que o aprendente necessita dar
campo de estudo do psicopedagogo continuidade na terapia, ou que
é a aprendizagem. processos do seu diagnóstico deve
Classificamos o diagnóstico ser revisto ou reavaliado.
psicopedagógico em cinco tipos: Outra situação típica para ser
1. Situacional; executado são trabalhos com
2. Assistencial; periferia, igrejas, hospitais e ONG.
3. Escolar; Estes locais possuem uma clientela
4. Modalidade de Aprendizagem; heterogênea com permanência
5. Transtorno de Aprendizagem. indeterminada e inconstante onde o
psicopedagogo não pode manter
Situacional uma rotina extensa de atendimentos
e necessita trabalhar diante de uma
É o levantamento de informa- situação de resultados mais rápidos
ções acerca de uma queixa ( para intervenções de caráter mais
problema/ narração de um fato/ paliativos.
motivo de sofrimento/perda/dor/
fracasso) em uma determinada Assistencial
situação específica cujo objetivo é
uma investigação rápida para É o levantamento de informa-
conclusões imediatas e ções realizados dentro de
planejamento para execução de instituições cujo objetivo é
curto prazo. assistencial (como os NAICAS,
CRAS, Centro de tratamento de
Por exemplo: reabilitação de drogas, presídios,
Um psicopedagogo trabalha casa de menores infratores e
em um consultório e recebe um outros).
cliente de outro psicopedagogo de Neste tipo de diagnóstico você
uma cidade vizinha que já realizou tem um público diferenciado que
todo o processo de investigação de nem sempre há uma queixa
queixas anteriores , problemas na formalizada e que o psicopedagogo
escola e o cliente já estava há um ano deverá investigar as necessidades

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

dos aprendentes assistidos por ções acerca das dificuldades no


aquela instituição. processo ensino-aprendizagem dos
Paramos aqui para fazer uma aspectos escolares especificamente
observação. O campo Assistencial é dos alunos de uma turma, ou de toda
promissor e abrangente para o a escola. Este tipo de Diagnóstico é
psicopedagogo, onde estão surgindo mais centrado nas dificuldades de
indicações e concursos cada vez leitura, escrita, de conhecimentos
mais para esta área, contudo matemáticos e de adaptação a
devemos nos preocupar com as metodologia de ensino. Este
formações acadêmicas que são Diagnóstico tem o objetivo de ajudar
pobres em sua maioria, pois nada diretamente o aluno e seu processo
trazem em suas matrizes de desenvolvimento escolar. Onde o
curriculares acerca deste assunto. Psicopedagogo poderá avaliar suas
Para trabalhar com o dificuldades e encontrar caminhos
Diagnóstico Assistencial é que lhe levem a superar junto com a
necessário conhecer mais acerca equipe escolar e a família. Dentro
deste público, quem são seus deste Diagnóstico é possível
usuários, como funcionam estas identificar possíveis transtornos e
instituições, como trabalhar com as patologias comportamentais ou
equipes multidisciplinares que neurobiológicas que o aluno possa
encontramos nestes ambientes? São ter adquirido ou já ter nascido e não
dificuldades encontradas por ter sido identificado. Nestes casos o
aqueles que já estão nesse mercado. psicopedagogo deverá encontrar os
meios de como orientar a família
Escolar para um tratamento da(as)
patologias e auxiliar os professores e
coordenação com métodos ou
recursos que possam facilitar ou até
mesmo superar os obstáculos
encontrados pelo aprendente na sala
de aula ou os professores no ato de
ensinar a este aluno.

É o levantamento de informa-

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Modalidade de Aprendiza- cinestésico. Desta forma cada


gem MODO de aprender influencia na
forma como esse processo se
desenvolve e principalmente da
relação com quem ensina.
Este tipo de Diagnóstico traz
os conceitos trabalhados por Sara
Pain e Alicia Fernandez que
sintetizam os conceitos de Jean
Piaget sobre assimilação e
acomodação. Desta forma neste tipo
de Diagnóstico o psicopedagogo
deve compreender "Como se dá o
processo de aprendizagem
humana”, "Como aprendemos".
Quando compreendemos o
processo de assimilação e
O Diagnóstico Modalidade de acomodação chegamos nos
Aprendizagem é um tipo de resultados dos problemas que
Diagnóstico que pode ser usado de podem SER causadores de
forma Situacional, em ambientes dificuldades escolares, ou de outras
Clínicos, Hospitais, Escolas, aprendizagens. Levantando as
Empresas e etc porque ele visa hipóteses das modalidades
identificar como o sujeito em patogênicas e de suas combinações
aprendizagem APRENDE qual seu que são: hiperacomodativa,
MODO DE APRENDER e qual seus HiperAssimilativa, (Hipoassimativa
bloqueios que possam estar e HipoAssimilativas.
NAQUELE MOMENTO (modalida- Através deste tipo de
des patogênicas de aprendizagem) diagnóstico o psicopedagogo poderá
dificultando/atrasando ou até elaborar um projeto de intervenção
impedindo seu desenvolvimento especifico na modalidade
normal. patogênica que necessita de ajustes.
Este Diagnóstico leva em
consideração que todos aprendemos Transtorno de Aprendiza-
de formas diferentes do qual gem
classificamos em três principais
formas: visual, auditivo e O Diagnóstico Transtorno de

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Aprendizagem é específico para uma de medicação ou terapia psicológica


queixa de dificuldade de leitura, ou fonoaudiológica assim como
déficit de atenção, hiperatividade, realizar a elaboração de um projeto
dificuldades de cálculos, ou seja, de intervenção cuja finalidade é
uma queixa que por muitas vezes o intervir nas dificuldades de
cliente já tem uma linha de pesquisa aprendizagem desse sujeito
ou até um outro diagnóstico. portador deste transtorno a fim de
Desta forma o psicopedagogo que ele possa superar/aprender
vai aplicar primeiramente testes e estratégias de conviver com tais
instrumentos que confirmem ou patologias.
refutem este diagnóstico. Ressaltamos desta forma que
Este tipo de diagnóstico é o Diagnóstico não é algo simples , ou
indicado para casos de: uma única fórmula pronta
 Dislexias encontrada em um manual. Mas
 Disortografias sim, possibilidades diferentes de
 Disartrias atuação psicopedagógicas com
 Discalculias objetivos centrados na investigação
 DDA dos problemas de aprendizagem de
 TDAH um ou mais sujeitos em qualquer
local visando encontrar soluções que
Ressaltamos que o amenizem/eliminem os problemas
Psicopedagogo é um profissional encontrados.
que de Acordo com a Associação
Brasileira de TDAH pertence ao
quadro multidisciplinar do
diagnóstico do TDAH sendo este
profissional de suma importância
junto com outros como:
neurologista e psiquiatra. O
profissional de psicopedagogia
identificando qualquer um dos
sintomas destes transtornos
neurobiológicos que afetam a
aprendizagem diretamente deve
fazer os encaminhamentos
necessários para o laudo médico
(neurologista /neuropediatra) , uso

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

5. Etapas do Diagnóstico

O diagnóstico psicopedagó- entrevistas com a escola ou outra


gico é composto de várias etapas que instituição em que o sujeito faça
se distinguem pelo objetivo da parte; etc. Esses momentos podem
investigação. Desta forma, temos a ser estruturados dentro de uma
anamnese só com os pais ou com sequência diagnóstica estabelecida.
toda a família para a compreensão Existem diferentes modelos de
das relações familiares e sua relação sequência diagnóstica, sendo que
com o modelo de aprendizagem do nos deteremos no modelo
sujeito; a avaliação da produção desenvolvido por Weiss (1992). As
escolar e dos vínculos com os etapas que compõem o modelo e o
objetivos de aprendizagem escolar; a caracterizam:
avaliação de desempenho em teste 1. Entrevista Familiar
de inteligência e viso-motores; a Exploratória Situacional
análise dos aspectos emocionais por (E.F.E.S.);
2. Entrevista de anamnese;
meio de testes e sessões lúdicas,
3. Sessões lúdicas centradas na

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

aprendizagem (para crianças); Entrevista de Anamnese


4. Provas e Testes (quando É uma entrevista, com foco
necessário); mais específico, considerada como
5. Síntese diagnóstica –
um dos pontos cruciais de um bom
Prognóstico;
6. Entrevista de Devolução e diagnóstico, visando colher dados
Encaminhamento. significativos sobre a história do
sujeito na família, integrando
Estas etapas podem ser passado, presente e projeções para o
modificadas quanto a sua sequência futuro, permitindo perceber a
e maneira de aplicá-las, de acordo inserção deste na sua família e a
com cada prática psicopedagógica. influência das gerações passadas
neste núcleo e no próprio.
Entrevista Familiar Explo- Na anamnese, são levantados
ratório Situacional (E.F.E.S.) dados das primeiras aprendizagens,
evolução geral do sujeito, história
Visa a compreensão da queixa clínica, história da família nuclear,
nas dimensões da escola e da história das famílias materna e
família, a captação das relações e paterna e história escolar. O
expectativas familiares centradas na psicopedagogo deverá deixá-los à
aprendizagem escolar, a expectativa vontade “... para que todos se sintam
em relação ao psicopedagogo, a com liberdade de expor seus
aceitação e o engajamento do pensamentos e sentimentos sobre a
paciente e de seus pais no processo criança para que possam
diagnóstico e o esclarecimento do compreender os pontos nevrálgicos
que é um diagnóstico ligados à aprendizagem” (Weiss,
psicopedagógico. Nesta entrevista, 1992, p. 62).
pode-se reunir os pais e a criança. É A história vital nos permitirá
importante que nessa entrevista “... detectar o grau de
sejam colhidos dados relevantes individualização que a criança tem
para a organização de um sistema com relação à mãe e a conservação
consistente de hipóteses que servirá de sua história nela” (PAÍN, 1992, p.
de guia para a investigação na 42).
próxima sessão. É importante iniciar a

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

entrevista falando sobre a gravidez, cognitivo da criança – facilitando a


pré-natal, concepção. “A história do construção de esquemas e deixando
paciente tem início no momento da desenvolver o equilíbrio entre
concepção e vêm reforçar a assimilação e acomodação...”
importância desses momentos na (WEISS, 1992, p. 66).
vida do indivíduo e, de algum modo, É interessante saber sobre a
nos aspectos inconscientes de evolução geral da criança, como
aprendizagem” (WEISS, 1992, p. ocorreram seus controles, aquisição
64). de hábitos, aquisição da fala,
Algumas circunstâncias do alimentação, sono etc., se ocorreram
parto como falta de dilatação, na faixa normal de desenvolvimento
circular de cordão, emprego de ou se houve defasagens.
fórceps, adiamento de intervenção Se a mãe não permite que a
de cesárea, “costuma ser causa da criança faça as coisas por si só, não
destruição de células nervosas que permite também que haja o
não se reproduzem e também de equilíbrio entre assimilação e
posteriores transtornos, acomodação. Alguns pais retardam
especialmente no nível de este desenvolvimento privando a
adequação perceptivo-motriz” criança de, por exemplo, comer
(PAÍN, 1992, p. 43). sozinha para não se lambuzar, tirar
É interessante perguntar se foi as fraldas para não se sujar e não
uma gravidez desejada ou não, se foi urinar na casa, é o chamado de
aceito pela família ou rejeitado. hipoassimilação (PAÍN, 1992), ou
Estes pontos poderão determinar seja, os esquemas de objeto
aspectos afetivos dos pais em permanecem empobrecidos, bem
relação ao filho. como a capacidade de coordená-los.
Posteriormente é importante Por outro lado há casos de
saber sobre as primeiras internalização prematura dos
aprendizagens não escolares ou esquemas, é o chamado de
informais, tais como: como hiperassimilação (PAÍN, 1992), pais
aprendeu a usar a mamadeira, o que forçam a criança a fazer
copo, a colher, como e quando determinadas coisas das quais ela
aprendeu a engatinhar, a andar, a ainda não está preparada para
andar de velocípede, a controlar os assimilar, pois seu organismo ainda
esfíncteres, etc. A intenção é está imaturo, o que acaba
descobrir “em que medida a família desrealizando negativamente o
possibilita o desenvolvimento pensamento da criança. É

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

interessante saber se as aquisições cognitivos, afetivos e sociais, e sua


foram feitas pela criança no relação com o modelo de
momento esperado ou se foram aprendizagem do sujeito. A
retardadas ou precoces. atividade lúdica fornece
Saber sobre a história clínica, informações sobre os esquemas do
quais doenças, como foram tratadas, sujeito. Winicott expressa assim sua
suas consequências, diferentes opinião entre o brincar e a
laudos, sequelas também é de autodescoberta: “é no brincar, e
grande relevância, bem como a somente no brincar, que o indivíduo,
história escolar, quando começou a criança ou adulto, pode ser criativo e
frequentar a escola, sua adaptação, utilizar sua personalidade integral: e
primeiro dia de aula, possíveis é somente sendo criativo que o
rejeições, entusiasmo, porque indivíduo descobre o eu” (1975, p.
escolheram aquela escola, trocas de 80).
escola, enfim, os aspetos positivos e Neste tipo de sessão, observa-
negativos e as consequências na se a conduta do sujeito como um
aprendizagem. todo, colocando também um foco
Todas estas informações sobre o nível pedagógico, contudo
essenciais da anamnese devem ser deve-se ter como postulado que
registradas para que se possa fazer sempre estarão implicados o seu
um bom diagnóstico. funcionamento cognitivo e suas
emoções ligadas ao significado dos
Sessões lúdicas centradas conteúdos e ações. Para Paín (1992),
na aprendizagem (para podemos avaliar através do
crianças) desenho, a capacidade do
pensamento para construir uma
organização coerente e harmoniosa
e elaborar a emoção.

Provas e testes

As provas e testes podem ser


usadas, se necessário, para
especificar o nível pedagógico,
estrutura cognitiva e/ou emocional
do sujeito. O uso de provas e testes
São fundamentais para a
compreensão dos processos não é indispensável em um

27
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

diagnóstico psicopedagógico, como objetivo principal determinar


representa um recurso a mais a ser o grau de aquisição de algumas
utilizado quando necessário. É uma noções-chave do desenvolvimento
complementação que funciona com cognitivo, detectando o nível de
situações estimuladoras que pensamento alcançado pela criança”
provocam reações variadas. (WEISS, 1992, p. 106).

Síntese diagnóstica

“Uma vez recolhida toda a


informação (...) é necessário avaliar
o peso de cada fator na ocorrência do
transtorno da aprendizagem”
(PAÍN, 1992, p. 69).
A síntese diagnóstica é o
momento em que é preciso formular
uma única hipótese a partir da
Existem diversos testes e análise de todos os dados colhidos
provas que podem ser utilizados no diagnóstico e suas relações de
num diagnóstico, como as provas de implicância, que por sua vez aponta
inteligência (WISC é o mais um prognóstico e uma indicação.
conhecido, porém de uso exclusivo Essa etapa é muito importante para
de psicólogos, CIA, RAVEN); provas que a entrevista de devolução seja
de nível de pensamento (Piaget); consciente e eficaz.
avaliação do nível pedagógico É a resposta mais direta à
(atividades com base no nível de questão levantada na queixa. Faz-se
escolaridade, E.O.C.A.); avaliação uma síntese de todas as informações
perceptomotora (Teste de Bender, levantadas nas diferentes áreas. É
que tem por objetivo avaliar o grau uma visão condicional baseada no
de maturidade visomotora do que poderá acontecer a partir das
sujeito); testes projetivos (CAT, recomendações e indicações.
TAT, Desenho da família; Desenho
da figura humana; Casa, árvore e Entrevista de devolução e
pessoa - HTP, também são de uso de encaminhamento
psicólogos); testes psicomotores e
jogos psicopedagógicos. É o momento que marca o
“As provas operatórias têm encerramento do processo

28
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

diagnóstico. “... Talvez o momento confusos. Tudo deve ser feito com
mais importante desta muito afeto e seriedade, passando
aprendizagem seja a entrevista segurança. Os pais, assim, muitas
dedicada à devolução do vezes acabam revelando algo neste
diagnóstico, entrevista que se realiza momento que surpreende e acaba
primeiramente com o sujeito e complementando o diagnóstico.
depois com os pais” É importante que se toque
(PAÍN, 1992, p. 72). É um inicialmente nos aspectos mais
encontro entre sujeito, positivos do paciente para que o
psicopedagogo e família, visando mesmo se sinta valorizado. Muitas
relatar os resultados do diagnóstico, vezes a criança já se encontra com
analisando todos os aspectos da sua autoestima tão baixa que a
situação apresentados, seguindo de revelação apenas dos aspectos
uma síntese integradora e um negativos acabam perturbando-o
encaminhamento. É uma etapa do ainda mais, o que acaba por
diagnóstico muito esperada pela inviabilizar a possibilidade para
família e pelo sujeito e que deve ser novas conquistas. Depois, deverão
bem conduzida de forma que haja ser mencionados os pontos
participação de todos, procurando causadores dos problemas de
eliminar as dúvidas, afastando aprendizagem.
rótulos e fantasmas que geralmente Posterior a esta conduta
estão presentes em um processo deverá ser mencionada as
diagnóstico. Não é suficiente recomendações como troca de
apresentar apenas as conclusões. É escola ou de turma, amenizar a
necessário aproveitar esse espaço super proteção dos pais, estimular a
para que os pais assumam o leitura em casa etc; e as indicações
problema em todas as suas que são os atendimentos que se
dimensões. julgue necessário como
Weiss (1992) orienta organizar fonoaudiólogo, psicólogo,
os dados sobre o paciente em três neurologista etc.
áreas: pedagógica, cognitiva e
afetivo-social, e posteriormente
rearrumar a sequência dos assuntos
a serem abordados, a que ponto dará
mais ênfase. É necessário haver um
roteiro para que o psicopedagogo
não se perca e os pais não fiquem

29
30
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

6. Materiais e Estratégias para Intervenção


Psicopedagógica

Quando o psicopedagogo está gicas durante muitos anos de


dirigindo sua atuação para o prática, assim como as estratégias de
atendimento às dificuldades de intervenção que mais se adaptam
aprendizagem precisa selecionar os aos tipos mais comuns de
materiais, as técnicas e as dificuldades de aprendizagem que
estratégias mais adequadas para normalmente são atendidos pelos
cada caso. profissionais da psicopedagogia.
Existem muitas opções no Partindo do princípio de que o
mercado, mas nem todas estão homem é múltiplo em suas formas
disponíveis com facilidade ou de expressão e de interpretação da
trazem instruções bem formuladas, realidade, podemos falar de um
de modo a facilitar esta escolha. homo sapiens, de um homo faber e
Por isso, serão apresentados também de um homo ludens, pois o
alguns dos materiais cujo uso foi brincar, em todas as suas formas, é
atestado em clínicas psicopedagó- tão antigo quanto a própria

31
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

humanidade. (resgate e identificação com a


Alícia Fernández lembra que cultura).
"aprender é quase tão lindo como O jogo é construtivo porque
brincar" e que aprender e brincar ele pressupõe uma ação do
ocupam o mesmo espaço indivíduo sobre a realidade. É uma
transicional no qual razão e emoção, ação carregada de simbolismo, que
objetividade e subjetividade se dá sentido à própria ação, reforça a
encontram. Para jogar o homem motivação e possibilita a criação de
precisa exercitar uma lógica e uma novas ações.
ética, pois não basta apenas jogar O psicopedagogo utiliza o jogo
bem para ganhar, mas é preciso diferentemente dos demais
ganhar com dignidade. profissionais, porque o vê como uma
Por isso, o jogo é um material técnica que permite a articulação de
por excelência da intervenção aspectos objetivos e subjetivos,
psicopedagógica, na medida em que necessários para que a
possibilita o exercício destas lógicas aprendizagem aconteça sem
racionais e afetivas necessárias para problemas.
a ressignificação dos aspectos Na intervenção psicopedagó-
patológicos relacionados com a gica o jogo pode ser utilizado em
aprendizagem humana. Existe no suas três formas, de acordo com a
jogo, contudo, algo mais importante teoria de Piaget.
do que a simples diversão e 1. Jogos de exercício: 0 A 2
interação. Ele revela uma lógica anos - período sensório-
diferente da racional . O jogo revela motor;
2. Jogos simbólicos: 2 A 7
uma lógica da subjetividade, tão
anos - período pré-operatório;
necessária para a estruturação da 3. Jogos de regras: a partir do
personalidade humana, quanto a período operatório concreto.
lógica formal das estruturas
cognitivas. Estas delimitações etárias
O jogo carrega em si um estão, logicamente, sujeitas à
significado muito abrangente. Ele alterações em função das diferenças
tem uma carga psicológica, porque é individuais.
revelador da personalidade do
jogador (a pessoa vai se conhecendo
Jogos de exercício
enquanto joga). Ele tem também
uma carga antropológica porque faz
A principal característica da
parte da criação cultural de um povo
ação exercida pela criança no

32
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

período sensório motor é a necessários à formação de esquemas


satisfação de suas necessidades. de ação úteis ao seu desempenho,
Pouco a pouco, porém, pois o jogo de exercício não objetiva
ela vai ampliando seus esquemas, a aprendizagem em si, mas a
adquirindo cada vez mais a formação de esquemas de ação, de
possibilidade de garantir prazer por condutas, de automatismo. Por isso,
intermédio de suas ações. Passa a jogá-lo só é necessário para este fim,
agir para conseguir prazer. O prazer pois fica cansativa e enfadonha a
é que traz significado para a ação. repetição de ações já interiorizadas.
Piaget observou as condutas das
crianças pequenas e delas Jogos simbólicos
depreendeu que havia um objetivo
na repetição incessante das mesmas Este tipo de jogo predomina
ações: divertir e servir como dos 2 aos 7 anos de idade, ou seja, no
instrumento de realização de um período pré-operatório de
prazer em fazer funcionar, exercitar pensamento.
estruturas já aprendidas. Este tipo No jogo simbólico a criança já
de brincadeira dá à criança um é capaz de encontrar o mesmo
sentimento de eficácia e poder. prazer que tinha anteriormente
lidando agora com símbolos. É a
época do "faz de conta", da
representação, do teatro, das
histórias, nas quais uma coisa
simboliza outra: um pedaço de pau
"vira" cavalo; vestir uma capa
transforma em super-homem;
representar o papel de mãe ao
brincar de bonecas, dentre outros
exemplos.
Os jogos simbólicos têm as
O jogo de exercício é definido seguintes características: liberdade
por ele como característico desta total de regras (a não ser aquelas
fase sensório-motora. Entretanto,o criadas pela própria criança);
ser humano não deixa de jogá-lo só desenvolvimento da imaginação e
porque cresce e se torna adulto. A da fantasia; ausência de objetivo (
cada nova aprendizagem ele volta a brincar pelo prazer de brincar);
utilizar jogos de exercícios, ausência de uma lógica da realidade;

33
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

assimilação da realidade ao "eu" (a Como o período pré-


criança adapta a realidade a seus operatório se estende dos 2 aos 7
desejos. EX: se presencia uma briga anos, tendo portanto, uma duração
entre os pais, vai brincar de casinha mais longa, verificamos que o jogo
e resolve o conflito por meio dos simbólico sofre modificações á
bonecos. proporção que a criança vai
A criança é capaz deste jogo progredindo em seu desenvol-
porque já estruturou sua função vimento, rumo à intuição e à
simbólica, ou seja, já produz operação.
imagens mentais, já domina a Evolução dos Jogos
linguagem falada, que lhe possibilita Simbólicos Inicialmente a criança
usar símbolos para substituir os pratica ela mesma a ação.
objetos. Quando joga jogos Faz de conta que dorme, faz de
simbólicos ela tem a possibilidade conta que come etc...não lida com
de vivenciar aspectos da realidade objetos como se estes tivessem vida.
muitas vezes difíceis de elaborar : a Ex.: não usa uma vassoura como
vinda de um irmãozinho, a perda de cavalo.
um genitor, a mudança da Em seguida, a criança fará
escola...Pode lidar com as situações dormir, comer, ir e vir, outros
desejantes ( ser um super-homem), objetos que não ela própria,
penosas ( separação dos pais ), com transformando simbolicamente um
situações do passado, enfrentar objeto em outro. EX.: uma caixa
problemas do presente e antecipar vazia é um carro; por volta dos 4
consequências de ações no futuro. anos a criança vai se aproximando,
Ela pode fazer tudo isso, sem riscos, cada vez mais, de uma imitação da
porque nada é real, tudo é fictício. realidade. Ex.: todas as casas
O adulto que observa e desenhadas têm que ter janelas e
interage com a criança no jogo telhados
simbólico pode À proporção que vai entrando
perceber como ela está elaborando no subperíodo intuitivo do período
sua visão de mundo, como lida com operatório concreto, os jogos
seus problemas, quais são seus tendem a seguir cada vez mais uma
sonhos ou suas preocupações. Por tendência imitativa na qual a busca
isso, o jogo simbólico é tão de coerência com a realidade, a
importante na intervenção articulação entre os diversos
psicopedagógica dirigida para as conjuntos de objetos já se faz sentir.
dificuldades de aprendizagem. Ex.: jamais brincar com uma boneca

34
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

muito grande numa caminha penalidades e recompensas. Elas são


pequena. as "leis" do jogo.
Ao jogar jogos de regras as crianças
Jogo de regras assimilam a necessidade de
cumprimento das leis da sociedade e
das leis morais da vida.
Para ser enquadrado como um
jogo de regras são necessárias as
seguintes características: que
haja um objetivo claro a ser
alcançado; que existam regras
dispondo sobre este objetivo; que
existam intenções opostas dos
competidores; que haja a
possibilidade de cada competidor
levantar estratégias de ação.
Os jogos de regras são o
Os jogos de regras são
coroamento da experimentação da
necessários para que as convenções
criança com as transformações a que
sociais e os valores morais de uma
ela chegou quando atingiu a
cultura sejam transmitidos a seus
reversibilidade de pensamento
membros.
operatório concreto. Neles existe o
As estratégias de ação, a
prazer do exercício, o lúdico do
tomada de decisão, a análise dos
simbolismo , a alegria do domínio de
erros, lidar com perdas e ganhos,
categorias espaciais e temporais, os
replanejar as jogadas em função dos
limites que as regras determinam, a
movimentos do adversário, tudo
socialização de condutas que
isso é fundamental para o
caracteriza a vida adulta.
desenvolvimento do raciocínio, das
Os jogos de regras são,
estruturas cognitivas dos sujeitos. O
segundo Piaget, "a atividade lúdica
jogo provoca um conflito interno, a
do ser socializado".
necessidade de buscar uma saída, e
Um jogo de regras pressupõe
desse conflito o pensamento sai
uma situação problema, uma
enriquecido, reestruturado e apto a
competição por sua resolução e uma
lidar com novas transformações.
premiação advinda desta resolução.
As regras orientam as ações dos
competidores, estabelecem seus
limites de ação, dispõem sobre as

35
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Materiais lúdicos trabalho para a ressignificação dos


vínculos patológicos com a realidade
e o exercício pleno da autoria de
pensamento de seu cliente.
Saber o que comprar, que tipo
de jogo usar para cada caso, é um
dos desafios ao profissional da
aprendizagem. Não há como
comprar todos os jogos disponíveis
no mercado, nem necessidade disso.
Importante que o psicopedagogo
possua alguns jogos de exercícios,
Partindo-se do princípio de materiais simbólicos e jogos de
que o jogo é inerente ao ser humano, regras, para atender à diversidade
qualquer material pode ser usado de desenvolvimento humano. Que
para esta função. Até uma parte do tais materiais sejam de boa
corpo, como fazem os bebês, que qualidade e resistentes às
brincam com suas próprias mãos e brincadeiras, pois nada é mais
pés. frustrante do que a criança estar
Contudo, na evolução histórica da brincando e o brinquedo quebrar ou
humanidade, houve a criação de se danificar enquanto ela o utiliza.
instrumentos que possibilitam aos
homens novas maneiras de
interação com o meio.
Assim surgiram os brinquedos
e os jogos estruturados, ampliando
as formas de brincar.
Em um consultório
psicopedagógico é importante que
existam jogos à disposição da
criança para que ela possa usá-los
em suas brincadeiras, permitindo ao
terapeuta a observação de sua
modalidade de brincar, de maneira a
transcender para a compreensão de
sua modalidade de aprendizagem.
Assim ele poderá encaminhar o

36
37
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

7. Técnicas de Intervenção Psicopedagógica

Várias técnicas podem ser o criador do psicodrama. Ele foi um


utilizadas pelo psicopedagogo estudioso do comportamento
quando está intervindo junto às grupal, dando ênfase às relações
dificuldades de aprendizagem. São estabelecidas entre os componentes
destacadas aqui algumas que têm dos grupos por meio do método
seu uso mais difundido, por sua role-playing ou jogo de papéis.
amplitude: o psicodrama, a caixa de O psicodrama foi uma
areia, estimulação cognitiva, as inovação nas técnicas terapêuticas
técnicas expressivas plásticas, que do século passado, pois introduziu
utilizam atividades artísticas em recursos da representação teatral,
suas diversas modalidades e a com a vivência de personagens nos
informática. processos de tratamentos
psicológicos, por meio da catarse
O Psicodrama (descarga emocional). O termo
"psicoterapia de grupo" passou a ser
O médico romeno, Moreno, foi utilizado após as experiências de

38
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Moreno com a expressão de atuam com psicodrama. Elas


sentimentos e emoções em um clima reúnem as informações a respeito de
de espontaneidade associado a uma cursos, bibliografia, editam material
situação de representação. a respeito e divulgam a técnica junto
Não se trata de representar como em ao público..
um teatro,repetindo Alícia Fernández levou o
indefinidamente em cada psicodrama para a psicopedagogia,
apresentação as mesmas falas, mas utilizando-o como técnica de
de viver um papel que é único na intervenção junto a crianças e
vida de cada pessoa e que pode ser o adultos. Segundo esta autora
catalizador de interpretações que montar "cenas", dramatizar os fatos
libertem o sujeito de seus que ocorrem ou ocorreram no
problemas. passado em situações vividas pelas
O método psicodramático pessoas auxilia na ressignificação
aborda os conflitos que surgem nas dos motivos ou motivações das
relações interpessoais e é baseado dificuldades de aprendizagem.
em um setting grupal que conta com Em sua opinião as crianças são
a presença do terapeuta, que assume as mais beneficiadas com esta
o papel de diretor de cena e os técnica porque ela lhes permite a
pacientes que atuam tanto como expressão de pensamentos e
protagonistas como público. A vivências com mais facilidade do
relação entre realidade e fantasia é que o desenho e a escrita, que
bastante trabalhada nesta técnica, exigem competências que elas,
que usa os papéis para a expressão muitas vezes, não possuem.
das diversas possibilidades Os profissionais que não
identificatórias que o ser humano possuem formação específica em
possui e as múltiplas dimensões psicodrama, nem por isso precisam
psicológicas do eu em relação ao deixar de usar técnicas dramáticas
mundo interno e externo de cada em suas intervenções. A simples
um. mudança de papéis "trocando de
Para utilizar o psicodrama lugar" com o terapeuta já é uma
como técnica terapêutica o grande experiência para ambos, pois
profissional deve possuir formação permite ao cliente a vivência da
teórica e metodológica adquirida em situação terapêutica sob outro
cursos específicos. Existem ângulo e ao psicopedagogo a
atualmente várias associações que experimentação de suas hipóteses
congregam os profissionais que de trabalho, alterando o

39
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

comportamento usual da criança. dramáticas ou psicodramáticas não


"O psicodrama ajuda a criança exigem materiais estruturados, pois
que nos consulta a habitar um lugar, são baseadas em improvisações.
estabelecendo "residências Com crianças, além das cenas, o
provisórias", quer dizer, cenas. Se psicopedagogo também pode
até o simples desenhar sobre um utilizar músicas dramatizadas,
papel é estruturante do sujeito, brinquedos cantados e mímicas, que
quanto mais o psicodramatizar, que são altamente vitalizadoras e
é um certo desenhar o jogador e facilitam a expressão daquelas que
jogar o desenhado. têm mais dificuldades na área da
A montagem de uma cena, o decidir linguagem
que esse almofadão vai ser uma Livros de histórias que
"porta" e colocá-lo em uma lugar e abordam conteúdos de contos de
esse outro será uma "cama" e colocá- fadas, mitos, relatos folclóricos e
lo em outro lugar, também facilita a fábulas são outro material de grande
ressignificação... Tratando-se de aplicação na intervenção
uma cena da vida real, a maioria das psicopedagógica porque permitem
vezes é difícil para a criança, com que aspectos projetivos surjam na
problemas de aprendizagem, relatá- sessão, pois as crianças se
la.Não somente pelo identificam com os personagens e
empobrecimento da linguagem, mas podem nutrir por eles sentimentos
também porque não pode de afeição ou medo. Como existe
estabelecer a distância necessária muita oferta no mercado, o
entre a cena e ela mesma como psicopedagogo deve ter critério em
relatora da cena." sua escolha atentando para os
O que se pode recomendar é seguintes aspectos:
que estas situações de dramatização  Livros sem texto: Que
não sejam planejadas, mas que permitem a criação e a autoria
possam surgir durante o tratamento de pensamento;
a partir das demandas do cliente. É  Livros cujo texto sofreu
alguma mudança: como
preciso que o terapeuta tenha a
por exemplo, a história dos
sensibilidade para identificar o três porquinhos relatada pelo
melhor momento para dar início a lobo, que permite a
uma cena, a uma representação de diversificação de pontos de
faz de conta, usando para isso os vista, pela criança;
materiais que tem à sua disposição  Livros cujo texto
em seu consultório. As técnicas permitem à criança a

40
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

percepção de mudanças: de "entrar" neste mundo imaginário


como "Vice-Versa ao da representação corporal, o
Contrário", da editora Cia das psicopedagogo pode usar bonecos
Letrinhas, que apresenta
ou fantoches para as cenas. O uso do
histórias clássicas reescritas e
adaptadas à novas situações; boneco como fonte de representação
 Livros que trabalham é utilizado desde épocas muito
conteúdos latentes remotas. Ele substitui o real.
presentes no universo
infantil: Como "Macaqui-
nho", de Ronaldo Simões
Coelho, editora Lê ou "O
Equilibrista", de Fernanda
Lopes de Almeida, editora
Ática;
 Livros que apresentam
situações vivenciadas
pela criança e que podem
servir para o terapeuta
abrir espaços de
discussão a seu respeito:
como aqueles da coleção Os fantoches são bonecos
"Coisas da Vida", da Editora animados pela manipulação e
Artes Médicas, ou o "Primeiro podem ser de vários tipos: fantoches
Livro da Criança sobre
de dedo, marionetes de madeira,
Psicoterapia", de Marc
Nemiroff, da mesma editora. fantoches de vara, dentre outros.
 Livros que possuem Não importa como é feita a
interatividade com a manipulação, mas sim o fato de que
criança: como aqueles que o fantoche é um boneco que tem
apresentam o personagem uma concretude presentificada pelo
"Ninoca", da editora Ática, ou movimento que a manipulação lhe
aqueles que são verdadeiras
dá. Para conhecer uma abordagem
charadas, nos quais não há
ponto de início para a leitura e de intervenção psicopedagógica com
o leitor transita por suas fantoches, leia técnicas dramáticas
páginas como deseja. Estes ou psicodramáticas são muito
últimos são muito apreciados indicadas quando a hipótese de
pelos pré-adolescentes. trabalho está relacionada com a
estrutura desejante, possibilitando
Quando a criança apresenta
situações que permitem à criança
dificuldades de expressão verbal ou
reviver aspectos de sua realidade

41
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

que possam ter sido traumáticos ou individual e único. Os modelos e


reavivar situações inconscientes tamanhos procuram atender à
relacionadas com situações de necessidade das crianças em cada
aprendizagem, deixando claros para faixa etária, adequando-se, em
o psicopedagogo os vínculos complexidade, às diversas fases do
estabelecidos com os objetos. desenvolvimento infantil.
As chamadas 'Bonecas Por intermédio da boneca a
Waldorf , cuja confecção é baseada criança pode aprender a conhecer a
na pedagogia de mesmo nome, são si própria num processo de
totalmente diferenciadas pelo fato 'espelhamento', a exercitar os
de respeitarem e estimularem a relacionamentos sociais, a cuidar do
imaginação da criança. Longe de próximo, etc. A boneca (ou boneco)
reproduzir 'fielmente' as também pode exercer o importante
particularidades da figura humana, papel de companheiro, de
deixam para a fantasia infantil a confidente. Por este motivo, é uma
atividade criadora, simplesmente poderosa ferramenta para os
sugerindo possibilidades, por educadores. Com este foco, sua
exemplo, de fisionomia. confecção deve respeitar os anseios
As bonecas são interiores da criança e ter qualidade
confeccionadas de forma artesanal, para poder acompanhá-la por
com a utilização (inclusive no longos períodos.
enchimento) de materiais
inteiramente naturais: malha e A Caixa de Areia
tecidos de puro algodão, feltro de lã
e fios de lã pura de carneiro. Este
critério visa familiarizar a criança
com o mundo natural por meio de
seus materiais, nos quais ela
aprende a reconhecer cor, textura,
forma, peso, etc. Além disso, o
manuseio da boneca é agradável e
aconchegante, motivando uma
ligação estreita e carinhosa com ela.
Como cada boneca é feita
manualmente e seu rosto é pintado à O uso da caixa de areia com
mão (com um mínimo de traços), finalidades terapêuticas foi iniciado
cada uma adquire um aspecto na Inglaterra por Margareth

42
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Lowenfeld, psiquiatra freudiana que caixa de areia a mente se amplia e os


recebeu forte influência de Jung, e, conteúdos latentes se tornam
em 1935, publicou um livro a manifestos para o próprio cliente. As
respeito. cenas representam o mundo interior
A terapia na "caixa de areia" é por intermédio de elementos do
um procedimento não verbal criado mundo exterior. Muitas cenas
por Dora Kalff, em Zurique e levado reproduzem conteúdos oníricos,
até a América por Estelle Weinrib. atingindo um nível bem profundo do
De acordo com esta técnica os inconsciente .
sujeitos criam cenas tridimensionais Dora Kalff iniciou sua prática
em uma caixa de tamanho específico com crianças, com uma abordagem
usando areia , água e várias não verbal, sem interferir em seu
miniaturas de elementos de seu processo de trabalho. Ela
contexto sociocultural. simplesmente observava o que
A caixa deve ter a forma acontecia na sessão e percebeu que
retangular, medir 50cm por 75cm e havia uma melhora significativa nos
5 cm de altura e ter o fundo pintado quadros de seus clientes apesar de
de azul. Pode ser de madeira ou não haver interferido. Passando a
papelão. As miniaturas podem ser usar o mesmo método com adultos,
de qualquer material: plástico, descobriu que havia um processo
chumbo, madeira, biscuit, etc... e semelhante ao das crianças.
incluírem elementos do universo A psicopedagoga Beatriz Scoz
pessoal: elementos da natureza, tem utilizado a caixa de areia com o
objetos, veículos, animais, vegetais , objetivo de permitir análises sobre
etc. as modalidades de aprendizagem
A pessoa, com esse material, em cursos de formação de
cria um cenário e coloca os psicopedagogos. Ela incorporou à
personagens em cena. O terapeuta técnica original seu uso em
não interpreta a cena até que esteja pequenos grupos e o registro
pronta, concluída. fotográfico do processo de trabalho
O princípio que norteia o uso da até sua finalização. Suas
caixa de areia é que existe, no considerações sobre a aplicação da
inconsciente uma tendência para caixa de areia no tratamento
que a psiquê se cure sozinha, desde psicopedagógico foram publicadas
que haja condições para isso. Este em: "Por Uma Educação Com
princípio foi enuncia-do por Jung. Alma: a objetividade e a
Por meio das produções na subjetividade nos processos de

43
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

ensino/aprendizagem". Editora vigor e consegue ser mais eficaz


Vozes, 2000. quando o sujeito passa a realizá-lo
conscientemente.
Estimulação Cognitiva Para aplicar o Programa que
criou e cujo objetivo é o
desenvolvimento do potencial de
aprendizagem contido em todo ser
humano, Feuerstein estipulou
critérios de mediação que qualquer
sujeito pode utilizar para ter sucesso
na transmissão de conhecimentos.
O PEI é um programa que
exige uma formação específica para
sua aplicação e tem seus direitos
autorais protegidos. A teoria da
Quando a problemática que mediação da aprendizagem - EAM -
afeta a criança está relacionada a um como toda proposição teórica, não
atraso no desenvolvimento pode ter seu uso restringido por tais
cognitivo que pode ser menos ou mecanismos jurídicos, pois é de
mais severo, o psicopedagogo deve domínio público. Sendo assim, é
orientar seu trabalho para realizar possível seu uso independente do
atividades de estimulação da Programa, mas não o contrário.
inteligência. Quando uma criança passa por um
Com este objetivo pode utilizar processo intencional e sistemático
a técnica de mediação da de mediação da aprendizagem ela
aprendizagem criada por Reuven desenvolve metacognição e tem seu
Feuerstein, psicólogo romeno de potencial ampliado, desenvolvendo
etnia judaica que criou o PEI- cada vez mais sua cognição.
Programa de Enriquecimento Outra técnica que pode ser
Instrumental - no contexto de sua utilizada para estimulação cognitiva
Teoria da Modificabilidade de crianças é a ginástica cerebral ou
Cognitiva Estrutural. Para este Brain Gym, baseada em princípios
autor, o ser humano é naturalmente de educação cinestésica utilizando
um mediador de conhecimentos e os dois lados do cérebro.
realiza esta função A palavra educação deriva do
inconscientemente. Porém, em sua latim "educare", que significa "trazer
opinião, este processo ganha mais para fora". Cinestesia deriva da raíz

44
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

grega "Kinesis", que significa linha divisória. Quando os seus


"movimento". Educação cinestésica hemisférios cerebrais trabalham
é um sistema criado para dotar juntos desta forma, sua mente fica
pessoas de qualquer idade com o totalmente aberta para aprender
potencial externalizado daquilo que novas informações.
está encerrado dentro de seu próprio
corpo. Exercício: Bicicletas
A ginástica cerebral é baseada Faça o CROSS CRAWL SIT-
na integração cerebral por meio de UPS deitado numa superfície
movimentos que remodelam partes cômoda(colchonete ou cama).
do cérebro que ficam inativas. As Simule estar andando de bicicleta,
modificações no aprendizado e as enquanto toca o seu cotovelo no
transformações no comportamento joelho da perna oposta.Sua mente e
são, muitas vezes, imediatas e corpo vão ficar bastante alertas!
profundas.
Exercício: Botões Cerebrais
Faça os BOTÕES CEREBRAIS
antes de ler ou usar a visão.
Enquanto segure o umbigo, esfregue
firme logo abaixo da clavícula, para
a direita e para a esquerda do
esterno. Pinte um oito deitado no
teto com a ponta do nariz
funcionando como um pincel. A
leitura nunca será cansativa e seus
olhos vão deslizar pelos textos
quando for ler.
Exercício: Movimentos Cruzados
Faça o CROSS CRAWL
Exercício: Botões Terra
(engatinhar) e o SKIP-A-CROSS
Faça os BOTÕES TERRA para
(salto cruzado). Com uma música de
aumentar sua capacidade de
fundo, coordene os movimentos de
calcular e lidar com números.
forma que o braço e a perna oposta
Mantenha dois dedos abaixo do
mexam ao mesmo tempo. Faça os
lábio inferior, e descanse a outra
movimentos para frente, para os
mão na extremidade superior do
lados, e para trás, além de mover os
osso púbico. respire, elevando a
olhos em todas as direções. Leve sua
energia para o centro do corpo.
mão ao joelho oposto, cruzando a

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

A antroposofia é uma corrente Este recurso permite ao


filosófica criada por Rudolf Steiner, psicopedagogo o trabalho com
em Viena, no início do século XX. conteúdos objetivos e subjetivos,
Parte de uma visão integral do matéria prima da intervenção, além
homem e foi capaz de gerar de propiciar a autoria de
desdobramentos na medicina, na pensamento, objetivo principal da
agricultura e na educação, esta atuação psicopedagógica.
última com a Pedagogia Valdorf.
Esta teoria sugere que a inteligência
pode ser desenvolvida com
atividades tais como: estudo de
biografias de personalidades
famosas; análise de fábulas, lendas e
mitologias; poesias e história da
arte; apresentações teatrais .
Para entender melhor a
proposta antroposófica direcionada
para o tratamento das dificuldades
de aprendizagem, leia o livro abaixo
indicado, que traz uma série de Muitos psicopedagogos
sugestões de atividades e exercícios possuem formação em arteterapia e
para distintos problemas, como a podem fazer uso desta técnica com
dislexia, a discalculia , a desatenção, muita propriedade. Outros, mesmo
dentre outros. sem tal formação específica,
Leitura: "Problemas de utilizam os recursos plásticos com
aprendizagem", de Lucinda Dias, bons resultados, atentando para os
Editora editora Antroposófica, 1995. seguintes aspectos, evidenciados
por Sara Paín: a arte possibilita uma
relação positiva com a
Técnicas Expressivas Plás-
aprendizagem; a arte possibilita o
ticas
trabalho com aspectos figurativos e
As técnicas expressivas operativos do pensamento,
plásticas são aquelas que utilizam a integrando-os; a arte permite que o
livre criação, com materiais sujeito estabeleça relações com o
apropriados, como lápis coloridos, real, por meio dos materiais
aquarelas, tintas, argila, utilizados, e com o imaginário, por
dobraduras, recorte e colagens, etc. meio de suas criações; a arte é

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

expressão simbólica e remete o verdadeiros jogos e podem ser


sujeito à sua cultura, dando usados com muito sucesso na
significado à sua existência; a arte intervenção psicopedagógica.
possibilita o trabalho com as Jogos como o "tetracores", ou
dificuldades de aprendizagem na mosaicos em suas mais variadas
medida em que articula mecanismos formas, desenvolvem os aspectos
presentes nos níveis afetivos e acima mencionados e devem ser
cognitivos. utilizados com as crianças
Cristina Dias Alessandrini é a portadoras de dificuldades de
psicopedagoga brasileira que tem aprendizagem.
pesquisado a aplicação dos recursos
artísticos na intervenção
psicopedagógica. Ela criou um
método que denomina Oficina
Criativa, na qual usa a arte em seu
trabalho. Além dela, muitos outros
terapeutas da aprendizagem têm
descrito suas experiências com estes
materiais. Há livros e jogos que
podem também integrar esta
abordagem. Eles provocam o
desenvolvimento do senso estético,
a percepção de semelhanças e
diferenças, a análise e síntese tão
importantes para o
desenvolvimento de habilidades de
leitura/escrita e a percepção de
transformações que permitem o
trabalho com as estruturas
operatórias de pensamento.
Coleções como a editada pela
Cia das Letrinhas- Por Dentro da
Arte - apresentam as obras de
grandes pintores, de vários
movimentos artísticos, com
atividades lúdicas a serem
realizadas pelas crianças. São

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

8. A Organização do Portfólio do Diagnóstico

Segundo o Dicionário Aurélio organizado pelo professor, costuma


(FERREIRA, 2005), o portfólio é um reunir os trabalhos dos alunos
tipo de papel consistente, durante a realização de algum
normalmente dobrado, utilizado projeto vivenciado pela turma, ou é
para armazenar papéis ou quaisquer montado por cada aluno
materiais em seu interior. Destinado individualmente. Geralmente, ele é
para guardar um conjunto específico confeccionado no formato de caixas,
de papéis ou manter coleções de pastas e CD-ROM (denominado
alguma coisa. Na arquitetura, ele é também de portfólios digitais).
utilizado para reunir os trabalhos Shores e Grace (2001) definem
mais importantes do arquiteto pela portfólio como uma coleção de itens
amostragem de fotos, registro que revela os diferentes aspectos do
escrito de detalhes com relação ao crescimento e do desenvolvimento
material, cores utilizadas e outras de cada aluno. Ele possui amostras
anotações. de desenhos, fotografias e
Na educação, o portfólio, comentários que poderão oferecer

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

informações sobre o processo de outros dois: tanto os sujeitos,


aprendizagem dos sujeitos. As como os pais e professores
autoras sugerem dez passos para a podem escolher itens para a
criação desse portfólio, o qual
construção do portfólio e enfatizam
poderá ser apresentado para
o envolvimento da família nesse outro profissional que
trabalho, além de solicitar ajuda na pretende conhecer o percurso
coleta de informações e na já desenvolvido.
comunicação do trabalho
desenvolvido com os alunos.
O portfólio oferece várias
O portfólio caracteriza-se
possibilidades para organizar
como instrumento de avaliação, pois
informações de forma significativa,
comunica o processo de
que documentam o
aprendizagem de cada sujeito e seu
desenvolvimento e a aprendizagem.
desenvolvimento. Proporciona,
O sujeito também pode selecionar o
também, conhecimento aos
material junto com o profissional
profissionais da educação e ao
(professor, psicopedagogo),
psicopedagogo, com relação ao
proporcionando a autorreflexão
desenvolvimento humano e à
sobre a própria aprendizagem,
criação de técnicas de observação e
análise e interpretação para a
adaptação de atividades para suprir
continuidade do processo.
as necessidades individuais de cada
O portfólio enquanto
sujeito.
instrumento de avaliação na
Shores e Grace (2001)
educação é uma proposta recente na
distinguem três tipos de portfólio:
área da educação e no campo da
 O Portfólio Particular, que
psicopedagogia também.
contém informações
confidenciais de cada sujeito, O levantamento bibliográfico
histórico médico, telefone dos sobre o tema da construção de
pais, entrevista com algum portfólios oferece subsídios para
familiar. compreender a importância e
 O Portfólio de Aprendizagem, urgência desse assunto para auxiliar
que contém anotações dos no atendimento psicopedagógico
projetos em andamento, diário
desde a sua avaliação diagnóstica,
de aprendizagem do sujeito.
Nesse caso, cada sujeito enquanto fonte de informação e
poderá realizar o próprio intervenção durante o processo de
portfólio. tratamento das dificuldades de
 O Portfólio Demonstrativo, aprendizagem.
que é a versão condensada dos

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AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

9. Referências Bibliográficas
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psicopedagogia no Brasil: contribuições a
partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes FERREIRA, A.B de H. Novo Dicionário da
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Nova Fronteira, 2005.
COLL, César; MARTÍN, Emília. O
construtivismo na sala de aula. 6. Ed. SHORES, E.; GRACE, C. Manual de
Itapecerica: Editora Ática, 2006. portfólio: um guia passo a passo para o
professor. Porto Alegre: Artmed, 2001.
MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jesús.
Desenvolvimento psicológico e educação:
transtornos do desenvolvimento e
necessidades educativas especiais. 2. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2007.

FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência


aprisionada. 2. ed. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1991.

PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos


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RUBINSTEIN, Edith. A psicopedagogia e a


Associação Estadual de Psicopedagogia de
São Paulo. In SCOZ, Beatriz Judith Lima
(et al). Psicopedagogia: o caráter
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aprendizagem: construindo uma práxis.
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Jornadas de 2002. Futuro Eventos.

WEISS, Maria Lúcia Lemme.


Psicopedagogia clínica: uma visão
diagnóstica dos problemas de
aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1992.

WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e


a realidade. Rio de janeiro: Imago Edit,

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