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Resumo
O presente trabalho relata um modelo de avaliação breve que vem sendo utilizado pela
psicopedagogia para a realização de triagens e avaliações em equipe multidisciplinar. Em tais
equipes, profissionais da psicopedagogia e de outras clínicas, como psicologia,
neuropsicologia, neuropediatria, serviço social, fonoaudiologia e terapia ocupacional, atuam
conjuntamente. No procedimento de triagem, cada criança ou adolescente é encaminhado a
uma das especialidades e durante 25 minutos realiza tarefas específicas com foco em sua
aprendizagem e desenvolvimento. Em seguida, há o revezamento para as outras clínicas,
sendo que a duração total da triagem para cada sujeito é de duas horas. A avaliação
psicopedagógica completa somente é solicitada quando o resultado da triagem identifica
disfunções acentuadas nas habilidades investigadas. Como esse é um protocolo extenso e
tendo em vista que no modelo interdisciplinar as demais áreas terapêuticas colaboram com
seus saberes para a compreensão do fenômeno; a psicopedagogia optou por adaptar alguns
dos instrumentos clássicos de sua área e desenvolver outros. Assim, a Entrevista Operativa
Centrada na Aprendizagem-EOCA foi substituída pela Mini EOCA. E, surgiram também,
dois roteiros descritivos de habilidades denominados Categorias da Triagem e Categorias da
Avaliação Psicopedagógica. O trabalho fundamentou-se na Epistemologia Convergente de
Jorge Visca e em autores que analisam a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática.
A proposta aqui apresentada tem se mostrado eficaz para o objetivo a que se destina, ou seja,
contribuir, dentro de uma equipe multidisciplinar, fornecendo pareceres sobre a característica
da aprendizagem de cada sujeito, em termo de aptidões, interesses e desempenho em
habilidades cognitivas e acadêmicas. Além disso, possibilita a identificação de áreas de
desempenho que necessitem ser mais estimuladas e fornece subsídios para a reorganização
dos ambientes da aprendizagem do sujeito avaliado.
Introdução
escolar, mas que enfrentam inúmeras dificuldades, por vezes perdem o interesse e deixam de
considerar o estudo como uma oportunidade para a vida e de ascensão social, algo bastante
presente nos discursos de duas a três gerações passadas. Para o aluno que apresenta algum
tipo de dificuldade na aprendizagem, o que era uma conquista passa a ser uma penitência.
Como é na escola que a criança inicia seu processo de socialização, interagindo com os pares
e com os adultos daquele ambiente, entraves nesse percurso trarão impactos desfavoráveis à
saúde psíquica, interferindo na auto-imagem e num futuro projeto de vida desse sujeito.
O tempo escolar é algo dinâmico e delimitado. Nele, os dias letivos são preenchidos
com atividades e objetivos a serem atingidos pelos alunos. Frente às dificuldades surgidas,
sejam elas inerentes ao aprendiz e/ou a seu contexto, relativas a metodologias ou específicas
aos conteúdos abordados, é necessário que o fenômeno seja compreendido com a maior
clareza possível pelo professor, de modo que ele possa buscar recursos para reorientar a
aprendizagem dessas crianças. Entretanto, não é possível exigir tal competência unicamente
do docente, e a escola conta também com a intervenção de equipes especializadas atuando em
seu próprio interior ou externamente, no intuito de promover a aprendizagem acadêmica.
Na escola pública, entre outras medidas surgem ações como, formação docente
continuada, lei da inserção do profissional pedagogo, psicólogo e assistente social no quadro
escolar, Salas de Recursos, Centros Especializados de Atendimentos e parcerias em Projetos
Pedagógicos e culturais como os oferecidos em Programas Universitários de Extensão. Todas
essas intervenções buscam ampliar redes de apoio para que a aprendizagem aconteça.
O presente trabalho insere-se no contexto apresentado, situação na qual a
psicopedagogia desenvolveu e utiliza um modelo de avaliação breve, como parte integrante de
um protocolo multidisciplinar. As triagens e avaliações realizadas nesse modelo são aplicadas
individualmente a alunos de escolas públicas cursando o Ensino básico, com baixo
rendimento na aprendizagem escolar. Visam fornecer pareceres sobre a característica da
aprendizagem dos sujeitos, em termo de aptidões, interesses e desempenho em habilidades
cognitivas e acadêmicas. Possibilitam ainda, a identificação de áreas de desempenho que
necessitam uma maior estimulação e podem fornecer subsídios para a reorganização dos
ambientes de aprendizagem do sujeito avaliado.
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Piaget. Tratado de lógica y conocimiento científico (1). Naturaleza y métodos de la epistemología.
Buenos Aires: Paidós [Publicación original en francés, 1967].
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passa “dos estados de menor conhecimento aos estados de conhecimento mais avançados”.
Identificou na criança, três grandes estágios ou períodos evolutivos no desenvolvimento
cognitivo: um estágio sensório motor, indo do nascimento até os 18-24 meses
aproximadamente e culminando com a construção da primeira estrutura intelectual, o grupo
dos deslocamentos; um estágio de inteligência representativa ou conceitual, dos 2 aos 10-112
anos aproximadamente, que culmina com a construção das estruturas operatórias concretas; e
finalmente, um estágio de operações formais, no qual se dá a construção das estruturas
intelectuais próprias do raciocínio hipotético-dedutivo aos 15 ou 16 anos (COLL; MARTÍ,
2004, p.46).
Nos anos 70, Barbel Inhelder, uma das colaboradoras de Piaget, organizou os
procedimentos metodológicos utilizados por eles nas pesquisas clínicas e divulgou parte desse
material com o título de provas piagetianas. A característica deste protocolo é seu caráter
qualitativo distinto da psicometria que fornece dados quantitativos. Mais tarde, esse material
passou a compor protocolos de avaliação psicopedagógica com o objetivo específico de
identificar o estágio do desenvolvimento cognitivo alcançada pelos sujeitos. (DOMAHIDY-
DAMI; BANKS-LEITE, 1992, p.118).
As outras duas contribuições teóricas que compõem a Epistemologia Convergente são
as advindas da Psicanálise, área que descreve o psiquismo humano e suas motivações
inconscientes; e da Psicologia Social de Pichon-Rivière que analisa a influência de fatores
sócio-culturais na conduta dos sujeitos (VISCA, 1994, p.15).
Uma avaliação psicopedagógica, segundo o modelo da espistemologia convergente,
fará uso de recursos diagnósticos provenientes dessas três áreas. O sujeito realizará atividades
que forneçam subsídios a uma compreensão de seu desenvolvimento no que tange à cognição
e vínculos afetivos estabelecidos com objetos e situações de aprendizagem. Visca (1994,
p.68) considera três tipos de obstáculos à aprendizagem: epistêmico, epistemofílico e
funcional. A interrupção ou lentificação no desenvimento cognitivo do sujeito, caracteriza o
obstáculo epistêmico, e determina o nível de operatividade daquela pessoa. No obstáculo
epistemofílico, existe um vínculo inaquedado com objetos e situações de aprendizagem,
desencadeando um estado afetivo alterado que, segundo a teoria, pode se manifestar como
uma ansiedade confusional, esquizo-paranóide ou depressiva; agindo de forma predominante,
alternada ou coexistente. Já o conceito de obstáculo funcional possui duas variantes: quando
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Coll não subdivide o período das operações concretas em pré-operatório, dos 2 aos 7-8 anos e só então
o operatório concreto, como o faz o próprio Piaget (1993).
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ainda não houve uma reflexão sobre um determinado problema ou setor da realidade por parte
da teoria psicoanalítica ou piagetiana; ou mesmo se já o fizeram, não apresentaram
instrumento específico de avaliação para o dito setor ou aspecto do real. Nesse caso, Visca
(1991, p. 30; 1994, p.68) diz recorrer a instrumentos de filiação sensual-empirista, da
psicometria tradicional; oposto aos princípios construtivista, estruturalista e interacionista
adotados em sua teoria, mas que lhe fornecem como resultado, os obstáculos funcionais; e
nesse contexto, tal resultado é considerado como uma hipótese diagnóstica auxiliar. A outra
maneira de conceber um obstáculo funcional corresponderia às diferenças funcionais
peculiares da cognição, frente a certas patologias e identificadas quando da aplicação do
método clínico piagetiano. (VISCA, 1994, p.68-69; AJURIAGUERRA, 1992, p. 124).
Aprendizagem escolar
Quando a criança chega à sala do psicopedagogo pela primeira vez, ela encontra uma
mesa com materiais pedagógicos dispostos estrategicamente. O objetivo é que, na interação
com esse material, a criança forneça dados que possibilitem identificar, entre outros aspectos
de seu desenvolvimento e aprendizagem, preferências, aversões, reações evitativas, nível de
independência emocional e cognitivo, linguagem e conhecimentos adquiridos; ou seja,
manifestações cognitivo-afetivas do sujeito em situação de aprendizagem. O recurso utilizado
para isso é o aqui denominado de Mini EOCA. O Profissional utiliza a mesma solicitação
feita na EOCA tradicional proposta por Jorge Visca (1996, p.44): “... gostaria que você,
usando esse material, me mostrasse o que sabe fazer, o que lhe ensinaram, o que você já
aprendeu.” Enquanto a criança inicia ou não a exploração do material, o terapeuta registra
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necessário.
Escrita alfabética
Normatização (uso de letras maiúsculas, parágrafos,
pontuação)
Correspondência letra som em sílabas diretas ou
regulares
Correspondência letra-som em sílabas complexas:
Escrita invertidas (VC), representações múltiplas, dígrafos,
encontros consonantais e fonemas nasais
Correspondência letra som em pares surdos / sonoros
Escrita baseada na fala coloquial
Hipercorreção
Omissões, deslocamentos ou acréscimos de letras
Segmentações e/ou junções inadequadas
Troca na direção das letras ou algarismos (visual)
Coerência e coesão na produção escrita
Uso de acentuação
Compreensão do sistema numérico decimal
(contagem e notação)
Raciocínio
Operações matemáticas (+, -, x, : )
Matemático
Problemas apresentados oralmente
Problemas apresentados de forma escrita
Raciocínio de conservação de quantidades
Desenvolvimento
Raciocínio de classificação
cognitivo
Raciocínio de seriação
Legenda do Nível do desempenho: 1 – Alterado 2 – Em desenvolvimento 3 – Conservado
Considerações Finais
STOLTZ, Tânia. Vigotski. Curitiba, 2004. Notas de aula da disciplina Educação e trabalho:
dimensão neurobiológica, professora Marta Pinheiro, Programa de Pós-Graduação em
Educação, Universidade Federal do Paraná.
VISCA, Jorge L. Psicopedagogia: novas contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
VISCA, Jorge L. Psicopedagogia: teoria, clínica e investigação. 2. ed. Buenos Aires: Edição
do autor, 1996.