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Instituto Superior de Ciências e Educação á

Distância

Curso: Direito 1º Ano

Cadeira: Ciência Política

Tema: A Democracia e a Participação popular

A Tutora:

 Ilda Chiveca João António

Discente:

 Albertina Inocencio Nhamposse

Maputo, Julho de 2019


INSTITUTO SUPERIOR DE CIENCIAS DE EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1º ANO

NOME DA ACADÊMICA:

Albertina Inocêncio Nhamposse

TRABALHO DE CAMPO

TITULO DO TRABALHO:

A DEMOCRACIA E A PARTICIPAÇÃO POPULAR

MAPUTO, JULHO DE 2019


ÍNDICE

1.
Introdução 4

1.2. Objectivos (gerais e específicos) .............................................................................................5


1.3. Metodologia..............................................................................................................................6
1.4. Contextualização ......................................................................................................................7
1.4.1.Democracia e Participação Popular .......................................................................................7
1.4.1.Democracia e Participação Popular. ......................................................................................8
1.4.1.Democracia e Participação Popular........................................................................................9
1.4.1.Democracia e Participação Popular......................................................................................10
1.5. Ideologia ................................................................................................................................10
1.5. Ideologia.................................................................................................................................11
1.5. Ideologia.................................................................................................................................12
1.6.Liberdade e Opinião Pública...................................................................................................13
1.6.Liberdade e Opinião Pública...................................................................................................14
1.6.Liberdade e Opinião Pública...................................................................................................15
1.7. Modelos democráticos............................................................................................................16
1.7. Modelos democráticos............................................................................................................17
1.8. Democracia e valores no contexto moçambicano…………………..……………………….17
1.9. A implementação da democracia em Moçambique…………………………………………17
1.9. A implementação da democracia em Moçambique…………………………………………18
2. Os desafios da democratização……………………………………………..…………………19
2. Os desafios da democratização……..…………………………………………………………20
2.1.Concretização da Democracia e do princípio Democrático em Moçambique……………….20
2.2.Considerações finais................................................................................................................21
2.3. Referências Bibliográficas......................................................................................................22
1.Introdução

Enquanto a autocracia se caracteriza pelo distanciamento entre governadores e destinatários da


norma, a democracia, por sua vez, é o regime de governo que traz, em seu bojo, uma participação
mais actuante entre governados e governadores, permitindo que aqueles possam efectivamente
participar da situação política de onde estão inseridos.

Neste momento nos deteremos especificamente na democracia. Ainda que ela tenha sido
redimensionada e não mais permaneça no modelo de democracia directa dos gregos da
antiguidade, alguns traços permanecem na sua compreensão. Geralmente falamos de Governo
democrático como o governo feito pelo povo e para o povo.

Dizemos que a Democracia requisita de cada membro do seu corpo estrutural a responsabilidade
cívica. Expressa tanto no voto através das eleições, como também através da participação
popular.

No entanto, o presente trabalho de campo tem como tema: A Democracia e a Participação


Popular.

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1.2.Objectivos

Geral:

 Analisar a democracia e a participação popular .

Específicos:

 Descrever as características da democracia;


 Reflectir sobre o governo democrático;
 Descrever o modelo de democracia grego;
 Reflectir sobre a ideologia;
 Analisar sobre a democracia no contexto Moçambicano.

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1.3.Metodologia

O presente trabalho, é completamente de uma pesquisa documental ou seja, de revisão


Bibliográfica, onde as informações foram obtidas a partir de fontes escritas, obtidas de livros
físicos e virtuais, seguida de uma minuciosa compilação, usando os meios informáticos
disponíveis para o efeito.

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1.4.Contextualização

1.4.1.Democracia e Participação Popular

A Democracia é a institucionalização da liberdade. Ela aponta sempre para a maioria sem


desprezar as minorias. O princípio de governo da maioria em momento algum se estabelece
como um elitismo ou mero partidarismo, pois tem como principal função a protecção aos direitos
humanos, assim como reconhece no indivíduo alguém capaz de se organizar e fundar suas
estruturas de reivindicação, assegurando a mesma protecção legal para todos.

Falamos de uma democracia liberal fundada sobre o ideal deliberativo e pluripartidário, com a
protecção das minorias e das oposições, vinculada à opinião pública em função de valorizar as
liberdades pessoais como valores superiores e prévios ao próprio direito positivo.

A origem da democracia nos vincula à cultura grega, lugar onde, pela primeira vez na história, o
exercício democrático se fez presente. Os gregos a inventaram. Até então, não existia essa forma
de governo, o que existia era o despotismo, ou pior, a tirania, aqueles governos em que a vontade
do governante era o indicativo havia da vontade geral. Não havia democracia por que não existia
o espaço público.

Para Luis Roberto Barroso (2015, p. 113) democracia pode ser definida em soberania popular e
governo da maioria. Corroborando com o conceito apresentado, Dalmo de Abreu Dallari (2010,
p.145) afirma que, ¨A base do conceito de Estado Democrático é, sem dúvida, a noção de
governo do povo.

Para Dalmo de Abreu Dallari (2010), é evidente que a noção de um governo do povo recebeu
influência da Grécia Antiga, porém distinguindo-se claramente pela abrangência do conceito de
povo. Uma vez que, em muitas cidades da Grécia Antiga, os trabalhadores não podiam participar
das decisões, que acabavam sendo realizadas por um número muito reduzido de homens. Afirma
ainda que foi a luta contra o absolutismo que possibilitou o florescimento da democracia como
preferência política por todo o hemisfério ocidental.

Como deixa claro nessa passagem (2010, p.147), ¨O Estado Democrático moderno nasceu das
lutas contra o absolutismo, sobretudo através da afirmação dos direitos naturais da pessoa
humana¨.

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As revoluções Inglesa, Americana e Francesa foram, sem dúvidas, os movimentos que
colocaram fim ao regime absolutista, fortalecendo a ideia de igualdade entre os homens, e de que
os mesmos seriam capazes de se autogovernarem, dando espaço às ideias democráticas.
Conforme Dalmo de Abreu Dallari (2010, p.150).

Foram esses movimentos e essas ideias, expressões dos ideais preponderantes na Europa do
século XVIII, que determinaram as directrizes na organização do Estado a partir de então.
Consolidou-se a ideia de Estado Democrático como ideal supremo, chegando-se a um ponto em
que nenhum sistema e nenhum governante, mesmo quando patentemente totalitários, admitem
que não sejam democráticos.

Dalmo de Abreu Dallari (2010) levanta três princípios que passaram a ser fundamentais para que
os Estados cumprissem as exigências democráticas, são eles: supremacia da vontade popular,
preservação da liberdade e igualdade de direitos. Ele finaliza da seguinte forma (2010, p.151),

As transformações do Estado, durante o século XIX e primeira metade do século XX, seriam
determinadas pela busca da realização desses preceitos, os quais se puseram também como
limites a qualquer objectivo político. A preocupação primordial foi sempre a participação do
povo na organização do Estado, na formação e na actuação do governo, por se considerar
implícito que o povo, expressando livremente sua vontade soberana, saberá resguardar a
liberdade e a igualdade.

Na compreensão da própria palavra já identificamos seu sentido demo (povo), cracia (governo),
ou seja governo do povo, para o povo. Este povo é o responsável pela manutenção do espaço
público e pela ideia de civismo.

Assim, o indivíduo torna-se cidadão, e a esta condição é agregada uma serie de valores. A
cidadania é um valor absoluto com o qual o indivíduo defende com a própria vida. É o caso do
filósofo Sócrates, que por força das suas convicções democráticas entrega-se ao decreto dos
juízes, sendo levado à morte em função dos crimes que lhe acusaram. Ainda que inocente,
cumpre as leis por considerá-las primordiais à saúde do Estado.

O cidadão é chamado à participação nas assembleias. Há um clima de debates e análises em vista


da coisa pública, em vista das leis e das directrizes nas quais ruma a cidade. O corpo político,

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a cidade (a polis) são tomadas como um bem comum. Lá se cultiva pela primeira vez no mundo
o hábito dos cidadãos elegerem o governante para o exercício da liderança

Somente a partir do século XVII e XVIII iremos assistir ao surgimento da democracia


representativa. Em especial com uma obra chamada Espírito das Leis de Montesquieu, marcou
para uma nova política na modernidade. Este pensador vai distinguir três tipos de governo com
características respectivas:

 O despotismo pelo qual se depreende o temor;

 A monarquia pela qual prevalece a honra;

 A democracia através da qual um governo se fez guiado pela virtude.

Os princípios formulados por Montesquieu vão ser o fundamento da democracia moderna e vão
ser desdobrados por diversas teorias políticas.

Com os Estados Unidos da América temos a criação de um sistema democrático moderno.


Inspirando os outros países americanos na formulação das suas constituições, defendendo os
ideais de liberdade. Desse modo há uma relação estreita entre Democracia e liberalismo, ainda
que possuem distinções bem pontuais.

Dentre os argumentos acerca do carácter problemático da Democracia algumas críticas se


dirigem à constituição da própria soberania. Bobbio cita a doutrina de Bigne Villeneuve,
segundo esta, sendo os homens iguais, tem todos iguais direitos no que diz respeito à prática do
poder.

A democracia sempre se volta para a garantia dos direitos dos cidadãos. Este entendido como
aquele que possui e expressa legalmente a sua capacidade de votar e de ser votado. E quando se
fala na distribuição do poder entre todos, falamos do direito subjectivo de escolha e de
veiculação das ideologias.

Segundo Bonavides (2010), quando se fala em “povo” ressalta-se o vínculo do indivíduo com o
Estado através de sua nacionalidade ou cidadania. À ideia de população caberá o conjunto de
todas as pessoas presentes no território de um Estado, num dado momento. Representa um dado
quantitativo e tem um carácter demográfico. Essa distinção serve para entendermos a

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complexidade do processo democrático quando o vinculamos directamente à noção de povo. Em
toda a sua complexidade, o conceito de povo pode ser estabelecido de três pontos de vista:
político, jurídico e sociológico.

Na antiguidade, por exemplo, Cícero fala de povo como a reunião da multidão associada pelo
consenso do direito e pela comunhão da utilidade e não simplesmente todo conjunto de homens
congregados de qualquer maneira. Mas na modernidade, se compreende em especial pelas ideias
decorrentes da Revolução Francesa.

Mas na modernidade, se compreende em especial pelas ideias decorrentes da Revolução


Francesa. Reforça Bonavides (2010) que no absolutismo o povo fora objecto, com a democracia
ele se transformou em sujeito e em objecto da ciência política.

Os indivíduos que pertencem a um Estado e comungam relações de cidadania por esta condição e
assumindo como legítimo o ordenamento jurídico. Em alguns momentos o conceito de povo se
mistura com o de nação. Representa uma continuidade dos valores humanos transmitidos de
geração para geração, contendo aspirações comuns.

1.5. Ideologia

Chamamos de ideologia as diversas formas de pensar, de conceber a realidade e de comportar-se


enquanto servem de fundamento para projectos e acções políticas. Desse modo, a ideologia
implica no estabelecimento de ideias e conceitos que servem como palavra de ordem para a
realização da vivência quotidiana. Embora nos sugira um conjunto de ideias, está sempre
existindo em função das práticas estabelecidas, a ponto de confundir-se com estas últimas.

A ideologia também pode ser vista de forma pejorativa, quando se manifesta como uma maneira
pronta e acabada de se olhar para a realidade, um escopo que fixa e distorce a visão do indivíduo.

Expressão de acontecimentos sociais, fatos económicos, que nos cooptam a consciência,


quando nem mesmo percebemos o que determina tal condição. Marilena Chauí (2006) diz
que a ideologia é um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, oculta é uma
forma de assegurar e manter a exploração.

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Neste sentido, ideologia é algo que está presente inevitavelmente na política de um partido. Ela
representa a directriz pela qual um governo assume certas orientações. Desse modo, até a
forma de governar advém de uma certa ideologia que ao contrário de pretender dominar, aspira
por transformações sociais e mudanças efectivas nas estruturas.

Percebemos, então, que falamos de ideologia através de diversos significados. O pensamento


marxista discute esta questão, sendo um dos primeiros parâmetros nos quais nos detemos para
compreensão devida deste fenómeno

Marx destaca-a para fundamentar de forma mais abrangente o processo histórico que envolve as
relações de dominação existentes entre os grupos e as classes sociais. Ele percebe que as ideias e
a consciência que construímos sofrem a determinação das condições materiais de elaboração da
existência. Desse modo, certos sentimentos e ideias comuns são gerados por interesses
específicos que em alguns momentos nem mesmo são observados ou percebidos.

A grande ilustração da qual lança mão Marx é a da câmara escura da máquina de fotografar. O
que leva vários críticos a compararem sua metáfora ao mito da caverna de Platão. Pois nesta
ilustração se concentra o binómio luz e sombras, verdade e ilusão chamando à reflexão nossa
condição enquanto sujeitos sociais que abandonam suas verdadeiras questões para habitar um
mundo espectral, fantasmático.

Assim como a câmara escura possui no seu interior a imagem invertida. Do mesmo modo a
ideologia estaria agindo no centro das nossas decisões, invertendo o que nos caracterizaria. Neste
processo, ela nos faz tomar por natural, aquilo que só mantém sua origem enquanto artifício.

Althusser (1918-1990), considera ideologia como próprio processo de cognição do mundo. Ela é
a compreensão no sentido da codificação do mundo que faz com que os indivíduos tomem
consciência dos seus actos. O autor propõe a ideologia como um elemento omnipresente, trans-
histórico e manifesto desde sempre na história da humanidade.

Assim, inevitavelmente ela dá coesão social aos grupos, estabelecendo e fiscalizando as relações,
ou a promoção das tarefas. Daí se depreende que o mundo é sempre uma construção da imagem
que assume para representá-lo.

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Na actualidade a ideologia foi deflagrada através da constatação de que o ideal europeu de
humanidade não passa de mais um ideal entre outros. Isso não significa que ele seja o pior, mas
somente que não pode pretender assumir o valor de verdadeira essência do homem, senão,
através de uma condição violenta. A história nos revela diversas passagens em que se fez
presente esta situação.

A história das Américas, por exemplo, revela a extorsão e o repúdio às suas características
específicas, nativas, como o modo deste dominador se relacionar com os outros povos. Com tal
constatação somos encaminhados ao fim do colonialismo, do imperialismo e das formas de
dominação que, pelo controle do poder político, instituíam um discurso universalizante,
constrangendo a diversidade à condição de margem, de marginalização.

O advento de um novo modelo de sociedade que se configura a partir da década de cinquenta do


século vinte passa a recriar possibilidades e expressões que se frutificam numa ordem marcada
pela comunicação generalizada, através de uma explosão e multiplicação de visões de mundo.
Condição que nos lança numa possibilidade de liberdade completamente nova.

Milton Santos (2009) é um destes pensadores que se inquieta em compreender o contexto actual
e o lugar da ideologia neste contexto. Segundo este autor esse mundo contemporâneo é confuso e
confusamente percebido. Neste sentido, para compreender esse mundo seria importante levar em
consideração que se poder falar, pelo menos em três mundos dentro deste que nós identificamos.

O aumento da pobreza também é um outro factor de pressão. Novas enfermidades surgindo e


velhas enfermidades retornando, promovendo cada vez mais a insuficiência do sistema de saúde.
Por último destaca-se o mundo como possibilidade.

Milton Santos reconhece neste cenário aquilo que chama de uma sócio diversidade. Apenas a
necessidade de uma globalização mais humana e em que os elementos ideológicos podem ser
orientados para o verdadeiro sentido da nossa presença no planeta. Daí a reformulação de
fundamentos sociais e políticos. A subordinação da lógica às necessidades estritamente humanas
pode operar esta transformação aclamada pelos teóricos da actualidade.

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1.6.Liberdade e Opinião Pública

Vimos na discussão acerca da Democracia que em alguns momentos ela se confunde com a
própria liberdade. Ou melhor, parece que toda democracia conserva a liberdade como valor
universal para o qual devem ser direccionados todos os princípios, práticas e teorias. Através da
história da humanidade a liberdade é o núcleo a partir do qual se movem todas as acções. Desse
modo, a própria natureza da política faz exigências quanto à acção livre, tomando-a
frequentemente como seu pressuposto.

Em toda a história a liberdade é uma ideia privilegiada sempre pelo pensamento humano. Mesmo
que a condição apresentada seja adversa e o discurso seja em torno da sua falta, ou da sua
impossibilidade.

Ela permanece como um dado essencial, inerente à essência da natureza humana. E, por isso,
comummente usada como critério para julgar instituições, funções ou condições sociais. Se
falamos hoje numa crise contemporânea, um dos focos principais para se pensar tal questão é a
liberdade.

O capitalismo e a lógica do consumo, as estruturas institucionais e os seus mecanismos de


monitoria são expressão de um sistema que privilegia a segurança não levando em consideração
a condição de liberdade do indivíduo.

Pois a ideia de progresso sempre busca equacionar a liberdade do indivíduo às leis e sua
vigência. Mas esta não é uma notícia nova. Desde o início da revolução industrial se discutem
aspectos relativos à sua presença, ou não, no interior do contexto social.

O direito privado, contratos e garantias, pressupõe. Para os actos jurídicos em geral. A


problemática que fica para ser resolvida pela sociedade moderna é a equação entre os limites da
liberdade e direitos dos indivíduos em relação ao conflito com os interesses da maioria conforme
a liberdade política. Parece haver um embate entre estes dois sentidos de liberdade. Atenta-se
para os limites das liberdades e os direitos individuais.

Liberdade política e direitos individuais. A liberdade é vista sob várias perspectivas como a
religiosa, ou a social, entre outras, revelando as nossas possibilidades essenciais. Quando
falamos em liberdade nos referimos com maior frequência à liberdade social, às relações de

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interacção, de contacto interpessoal ou social em que um actor deixa o outro livre para a sua
acção. No Dicionário de Política (2000), Norberto Bobbio ressalta o problema da liberdade
social através de dois sentidos:

A liberdade em sentido descritivo – refere-se às situações identificáveis empiricamente,


independente dos pontos de vista normativos.

A liberdade em sentido valorativo - é usada mais como exortação, como palavra de ordem em
situações de euforia. Possui diferentes significações conforme os modelos éticos.

Em Diálogos em torno da República (2002), Bobbio retoma a discussão e mantém uma


preocupação atenta para uma terceira compreensão de liberdade que ultrapassa o modelo
democrático e liberal. Apresenta-nos a liberdade a partir de uma compreensão republicana.

A resolução dada por este modelo aprofunda uma problemática não desfeita nem pelo
liberalismo, ou mesmo pela democracia. Dessa forma, expõe suas ideias dentro das seguintes
definições. Positiva, que privilegia a autonomia. É uma acção que vai de conformidade com a lei,
mas por uma lei autónoma, aceita voluntariamente distintamente de uma lei heterogénea, lançada
à força. Revela nosso poder de decidir as normas que regulam a vida social.

Concepção liberal – é uma liberdade negativa porque pressupõe a ausência de interferência,


propondo assim a independência. Esta, enquanto capacidade de dar leis a si mesmo, encontra-se
como princípio do pensamento político liberal. Sob esta perspectiva, a liberdade é algo que se
opõe à lei, pois qualquer lei é restritiva da liberdade. Ser livre é não ser submetido à
interferência.

Concepção republicana – significa não depender da vontade arbitrária de algum indivíduo.


Sustenta-se que, para realizar a vontade política é preciso opor-se à interferência e à coerção em
sentido próprio. Oporse à dependência, pois esta enquanto um constrangimento da vontade torna-
se a própria violação da liberdade.

A liberdade manifesta-se na possibilidade de expressão, depois da quebra do poder das grandes


ideologias, a opinião pública torna-se o factor de representatividade da percepção da visão de
mundo e das revindicações para obtenção da liberdade social. A liberdade política
concretiza-se através da opinião pública.

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Foi a partir do século XVIII que o seu estudo passou a ser associado às questões do Estado,
destacadamente o Estado Liberal-Burguês. Mas no decorrer da história várias considerações se
interpuseram para analisar esse fenómeno. Bonavides cita algumas dessas considerações:

 Os publicistas de língua inglesa que falam acerca da impossibilidade de sua definição,


percebendo que tão pouco algo pode ser denominado usualmente como opinião pública. É
destacado o modo como esta manifestação política deveria ter um sentido de representatividade,
mas dilui-se na opinião vaga e generalizada acerca daquilo que veicula.

Trata-se de um pensamento formado em colectivo, o que para alguns seria algo impossível de se
definir, a mera opinião;

 Schaeffle diz ser uma reacção, juridicamente informe, das massas ou de camadas individuais
da sociedade contra a autoridade;

 Schimoller destaca-a enquanto resposta manifesta pela parte passiva da sociedade, o povo
dirigindo-se ao modo como age a parte activa que é o Estado;

 Toennies a considera uma forma que expõe a vontade social, e que demanda a execução de
normas que tenham validez geral.

 Jellinek afirma que a opinião pública não passa do ponto de vista da sociedade sobre assuntos
de natureza política e social.

Necker, durante a revolução russa, possivelmente um dos primeiros a se interessar com a opinião
pública na sua dimensão política, já expressava uma preocupação característica porque percebia
nas atitudes corriqueiras da sociedade a necessidade de promover uma ideia generalizada acerca
da sua condição e status.

Grande parte dos pensadores proclama pelo poder que emana da sua condição. É o caso de
filósofos como Marx (1181-1990), Hegel (1770- 1831), Sauvy (1898-1990), Bryce, Bakunin
(1814-1876), entre outros. Eles proferiram de maneira unânime que a sua discreta influência, em
algumas ocasiões, acaba por reter o verdadeiro poder, o verdadeiro conteúdo e justiça,
vinculando a esta a constituição, a legislação e a vida colectiva em geral.

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1.7. Modelos democráticos

A democracia, como visto acima, não se limita a uma forma de expressão única, tendo como
variável a forma de participação que a população terá. Diante disso, classifica-se a democracia
em directa, indirecta ou representativa e, por fim, em semidirecta ou participativa.

A democracia directa caracteriza-se, como o próprio nome esclarece, pela participação directa do
povo, ou seja, é o povo quem elabora as leis, além de administrar e julgar as questões que
surgirem. Segundo a explicação de Noberto Bobbio (2015, p.85) a respeito da democracia
directa,

Para que exista democracia directa no sentido próprio da palavra, isto é, no sentido em que
directo quer dizer que o indivíduo participa ele mesmo nas deliberações que lhe dizem respeito, é
preciso que entre os indivíduos deliberantes e a deliberação que lhes diz respeito não exista
nenhum intermediário

Consoante Paulo Bonavides (2008), a Grécia é o grande exemplo de democracia directa, isso foi
possível pelas características de tal civilização. O regime escravocrata da Grécia, permitia ao
homem livre dedicar seu tempo para tratar das questões públicas. Outro factor que permitiu esse
modelo democrático foi a consciência dos cidadãos gregos de que precisavam se unir contra os
Estados inimigos e Estados bárbaros.

Esse modelo de democracia, porém, deixa claro sua inconveniência prática, uma vez que, com as
cidades cada vez mais populosas e a diversidade de opiniões sendo valorizada, torna-se inviável
a consulta de todos os cidadãos para a tomada de decisões políticas, sendo que, muitas vezes,
essas decisões precisam ser realizadas de forma célere indo de encontro com esse modelo. Em
concordância com Dalmo de Abreu Dallari (2010, p.152), Sendo o Estado Democrático aquele
em que o próprio povo governa, é evidente que se coloca o problema de estabelecimento dos
meios para que o povo possa externar sua vontade.

Sobretudo nos dias atuais, em que a regra são colégios eleitorais numerosíssimos e as decisões
de interesse público muito frequentes, exigindo uma intensa actividade legislativa, é difícil,
quase absurdo mesmo, pensar-se na hipótese de constantes manifestações do povo, para que se
saiba rapidamente qual a sua vontade.

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A democracia indirecta ou representativa, por sua vez, caracteriza-se pela outorga do poder de
governar aos representantes eleitos pelo povo. Consoante Noberto Bobbio (2015, p.73),

A expressão ¨democracia representativa¨ significa genericamente que as deliberações colectivas,


isto é, as deliberações que dizem respeito à colectividade inteira, são tomadas não directamente
por aqueles que dela fazem parte mas por pessoas eleitas para essa finalidade.

A explicação de democracia indirecta feita por Dalmo de Abreu Dallari (2010, p.156) se dá nos
seguintes termos, ¨na democracia representativa o povo concede um mandato a alguns cidadãos,
para, na condição de representantes, externarem a vontade popular e tomarem decisões em seu
nome, como se o próprio povo estivesse governando¨.

1.8. Democracia e valores no contexto moçambicano

A questão da democracia de muitos países africanos, em particular de Moçambique, tem


suscitado muitos debates e discussões. Quando se fala de democracia incluem-se vários aspectos,
isto é, “o povo”, na medida de quem terá direito de voto, como proteger os direitos de minoria
contra a tirania da maioria e qual sistema deve ser usado para a eleição de representante ou
outros executivos.

As sociedades africanas que muito dos quais não observam a capacidade de mobilidade política
leva a ponderar sobre as noções de uma democracia representativa, que se baseia na maioria,
comparando-a com a nova noção de democracia participativa, em que as minorias excluídas tem
uma participação social e política mais efectiva na sociedade moderna.

1.9. A implementação da democracia em Moçambique

Nos momentos que se seguiram à independência, o Estado moçambicano optou por uma linha de
orientação socialista, ou seja, democracia socialista. Assim sendo, Moçambique tenta
implementar uma concepção socialista de poder, de Estado e de direito.

Neste contexto CRPM (constituição da República Popular de Moçambique) dispunha no artigo


2a o seguinte: “ a República Popular de Moçambique é um Estado de democracia em que todas as
camadas patrióticas se engajam na constituição de uma nova sociedade, livre de exploração de
homem pelo homem.

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Este modelo foi adoptado de modelo de Ex-URSS, que é também do tipo ocidental. Desde a sua
independência de Portugal, em 1975, Moçambique teve três constituições (1975, 1990 e 2004).
Em termos cronológicos, a Constituição de

1975 estabeleceu um regime monopartidário que confirmava o papel destacado do Executivo. A


Constituição de 1990 foi elaborada no contexto das negociações de paz que culminaram com a
assinatura do Acordo Geral de Paz, e marcou uma ruptura radical com o passado, consagrando a
transição de uma economia centralizada para liberalização da economia, e subsequente início da
extinção das empresas estatais, dando início a um verdadeiro exercício democrático consagrado
no sufrágio universal, da liberdade de expressão, da liberdade de reunião e de associação e,
fundamentalmente, ocorre a passagem de um sistema monopartidário para a democracia
multipartidária, e tendo o cidadão como figura central relativamente ao Estado.(Adelson Rafae,
in Jornal O país: quinta feira, 26 de Agosto de 2010).

A constituição de 1990 veio a introduzir o Estado de direito democrático, que se funda na


separação de poderes, pluralismo político, liberdade de expressão e respeito pelos direitos
fundamentais. Ou seja, com esta constituição de 1990, Moçambique pela primeira vez introduz o
sistema multipartdário, onde nas vésperas das primeiras eleições gerais multipartidários haviam
sido legalizados 18 partidos políticos. (Mazula, 2000).

Nesta constituição, a administração é composto por um presidente, primeiro-ministro e do


conselho de ministro, (como actual). E o sistema judiciário é composto por um Tribunal
Supremo e provinciais, distritos e de tribunais municipais.

A constituição da República de Moçambique (CRM) de 2004 vem reafirmar, desenvolver e


aprofundar os princípios fundamentais do Estado Moçambicano, isto é, consagrar o carácter
soberano do Estado de direito democrático, baseado no pluralismo de expressões, organizações
partidárias, respeito pelos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.

O terceiro texto constitucional moçambicano desde a independência nacional foi aprovado em 16


de Novembro de 2004, foi democraticamente elaborado e, diferentemente das anteriores
constituições, a sua elaboração foi marcada por considerável participação popular. O texto
constitucional ora em vigor possui 306 artigos, divididos em 17 títulos, com uma estrutura que
trata, sucessivamente, dos princípios fundamentais, dos direitos fundamentais, da organização

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económica, da organização do poder político, e da garantia da Constituição.” ( Adelson Rafae, in
Jornal O país: quinta feira, 26 de Agosto de 2010).

2. Os desafios da democratização

Ao longo dos anos, Moçambique tem enfrentado sérias dificuldades no estabelecimento de um


governo estável e democrático no país. O país conquistou sua independência somente em 1975,
quinze anos depois da maioria dos países africanos, tendo o poder colonial deixado poucos
recursos para trás. Na sequência, o país foi quase imediatamente envolvido numa sangrenta
guerra civil, em grande parte financiada pelos regimes brancos minoritários da Rodésia e, depois,
África do Sul.

Grandes desafios, contudo, ainda existem. A pobreza continua a afectar a maioria da população e
os níveis de desigualdade têm crescido. No cenário político, a falta de confiança entre as duas
forças políticas anteriormente em guerra, a FRELIMO e a RENAMO (Resistência Nacional
Moçambicana), continua bastante alta.

Entretanto, a FRELIMO tem aumentado o seu domínio da arena política: nos próximos anos, o
multipartidarismo corre o risco de tornar-se em pouco mais que a coexistência entre um partido
dominante e vários outros partidos menores e com pouca força política, a democracia no país
tornando-se bastante vulnerável ao grau de democracia no seio da FRELIMO.

Ainda, se importantes arranjos políticos para a participação popular foram estabelecidos,


incluindo passos para a uma maior descentralização do governo aos níveis locais, assim como o
envolvimento da sociedade civil em alguns processos governamentais, estes arranjos estão ainda
na sua fase embrionária, muitos deles sendo pouco mais que mecanismos de consulta: não há
nenhum compromisso do Governo em seguir suas recomendações. Adicionalmente, a
participação popular nos processos políticos formais está declinando: há uma tendência
preocupante em direcção a um menor número de votantes nas eleições gerais.

Por fim, é razoável que todos moçambicanos esperem condições mais favoráveis para o
estabelecimento de uma verdadeira democracia social e participativa no país no futuro próximo.
Para tanto, o equilíbrio de poder entre as principais forças políticas e actores sociais deve ser
maior, regras e regulamentos aplicados de maneira justa e transparente, o Estado de direito

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respeitado, e mecanismos para participação popular transformados em mais que simples
processos de consulta. Cabe aos moçambicanos, mesmo que nem sempre não condições por eles
desejadas, fazer do seu país um lugar mais democrático para se viver.

As eleições representam o cerne do processo de participação política democrática. Embora


Moçambique não tenha presenciado os casos de extrema violência e fraude que têm afectado
certos países africanos, seus processos eleitorais têm, contudo, sido marcados por acusações de
fraude, alto nível de desconfiança entre os partidos políticos e alguns incidentes graves, o que
sinaliza para a fragilidade das instituições democráticas no país.

2.1.Concretização da Democracia e do princípio Democrático em Moçambique

Ao falarmos dos traços básicos desta democracia, iremos encontrar os pilares da consagração
nestes termos:

• Soberania popular (art. 2a no1 e 2a da CRM);

• Governo baseado no consentimento dos governados (legitimidade);

• A lei da maioria ( art. 184, 187);

• Respeito pelos direitos das minorias ( art. 35a CRM)

• Garantia dos direitos fundamentais (art. 35a A 95 CRM)

• Eleições livres e justas (art. 135 CRM);

• Restrições Constitucionais ao poder (art. 134 CRM);

• Pluralismo político, social económico (art. 74 e 75 CRM);

• Valores da tolerância, pragmatismo, cooperação e compromisso;

• Primado da lei (art. 2a, no3 e 4 CRM);

Os sub-princípios do princípio democrático concretizam-se constitucionalmente desta maneira:

• Soberania popular (art. 2a no1 e 2a da CRM);

• Princípio da democracia semi-directa (art. 136 CRM);

• Princípio da participação (art. 78, 53 CRM);

Daqui não nos restam dúvidas e assim como afirma o Professor Américo Simango, que o
modelo democrático Moçambicano é inteiramente do tipo ocidental.

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2.2.Considerações Finais

Desta elaboração concluiu-se que, a Democracia requisita de cada membro do seu corpo
estrutural a responsabilidade cívica. Expressa tanto no voto através das eleições, como também
através da participação popular.

Nesta perspectiva amontoa-se um conjunto de princípios e práticas resguardadas na constituição


enquanto lei maior. Daí considerar a Democracia como a institucionalização da liberdade.

A democracia sempre se volta para a garantia dos direitos dos cidadãos. E quando se fala na
distribuição do poder entre todos, falamos do direito subjectivo de escolha e de veiculação das
ideologias.

A democracia é um processo, como algo inacabável ou por outra é um ideal, isto é, aquilo que
lutamos por alcançar. Nenhuma sociedade pode proclamar estar a viver uma democracia total.
Mostra que a democracia é na sua génese e essência algo teorética e não prática.

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2.3.Referências Bibliográficas

• https://www.webartigos.com/artigos/democracia-e-participacao-popular/150317

• http://chicava.blogspot.com/2012/02/normal-0-21-false-false-false-af-x-none.html

• Manual de ciências políticas/ISCED

Legislação

• Constituição da República de Moçambique

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