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e
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SUMÁRIO
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO
redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas
opiniões pessoais.
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se
outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo,
podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos
estudos.
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quase um sentimento de quem observou a política de forma mais densa, e viu nela,
algo que foge a sua natureza primal. Há um quase desdém nesta afirmativa
foucaultiana, asseverando ser a prática governamental, algo do não desejo, de
visitar, de estudar, de conhecer. Aponta como seu objeto de estudo a arte de
governar. Qual diferença se é buscada? No texto, a resposta aparece de forma
ímpar: a melhor maneira de governar. Olhando de fora desta pretensiosa afirmativa,
há de se pensar ser um intento irreal, um devaneio ou algo do gênero. Mas Foucault,
longe de ser um idealista, nessa sua proposta vê a possibilidade real de mudar o
cenário político governante, compondo uma forma de governar diferente daquelas
vistas e estudadas (DUARTE, 2014, p. 23 e 24).
A verdade é que, concordando com Bonavides (2009), a ciência política é
indiscutivelmente aquela em que as incertezas mais afligem o estudioso, por
decorrência de razões que a crítica de abalizados publicistas tem apontado à
reflexão dos investigadores, levando alguns a duvidar se se trata aqui realmente de
ciência.
Mesmo assim, a política é uma dimensão essencial da vida humana, então
podemos inferir que sua finalidade consiste em organizar a sociedade de tal modo
que nela seja possível a cada cidadão viver uma vida virtuosa e feliz e não apenas
materialmente confortável.
Nesse sentido, a existência humana é essencialmente política porque o
homem é dotado não só de linguagem, mas principalmente de razão (AZAMBUJA,
2008).
O mesmo autor acima nos oferece cinco sentidos para política, sendo que a
primeira é de significação popular e comum; a quinta, científica; mas ambas estão
muito próximas no sentido; as três outras são eruditas, aceitas por alguns escritores,
conforme pontos de vista doutrinários ou empíricos.
Vejamos:
a) No uso trivial, vago e às vezes um tanto pejorativo, “política”, como
substantivo ou adjetivo, compreende as ações, comportamentos, intuitos, manobras,
entendimentos e desentendimentos dos homens (os políticos) para conquistar o
poder, ou uma parcela dele, ou um lugar nele: eleições, campanhas eleitorais,
comícios, lutas de partidos, entre outros.
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a) Prisma filosófico:
A filosofia conduz discussões no que se refere à origem, à essência, à
justificação e aos fins do Estado (PAES; MOROSSINI, 2013).
Pelo prisma filosófico, os fatos, as instituições e as ideias são matérias do
conhecimento de ciência política, podendo ser tomadas das seguintes maneiras:
i. Consideração do passado – como foram ou deveriam ter sido.
ii. Compreensão do presente – como são ou devem ser.
iii. Horizontes do futuro – como serão ou deverão ser.
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apenas nome ou sinônimo. Quem elucidar o direito como norma elucidará o Estado.
A força coercitiva deste nada mais significa que o grau de eficácia da regra de
direito, ou seja, da norma jurídica.
O Estado, organização de poder, para Kelsen, esvazia-se de toda a
substantividade. Os elementos materiais que o compõem — território e população —
se convertem, respectivamente, na típica e revolucionária linguagem do antigo
professor vienense, em âmbito espacial e âmbito pessoal de validade do
ordenamento jurídico.
A doutrina de Kelsen tem sua originalidade em banir do Estado todas as
implicações de ordem moral, ética, histórica, sociológica, criando o Estado como
puro conceito, agigantando-lhe o aspecto formal, retintamente jurídico, escurecendo
a realidade estatal com seus elementos constitutivos, materiais. Chega à hipertrofia,
já descomunal, do elemento formal — o poder, posto que dissimulado este na
santidade inviolável de normas concebidas como direito puro.
Essa teoria, que faz de todo Estado “Estado de Direito”, por situar Direito e
Estado em relação de identidade, uma vez aceita, apagaria na consciência do jurista
o sentido dos valores e na sentença do magistrado os escrúpulos normais de
equidade, do mesmo modo que favoreceria o despotismo das ditaduras totalitárias,
por emprestar base jurídica a todos os atos do poder, até mesmo os mais
inconcebíveis contra a vida e a moral dos povos. O exemplo e experiência da
Alemanha nazista são recentes para mostrar até onde podem chegar as
consequências de um positivismo normativista, à maneira kelseniana (BONAVIDES,
2009).
Criticou-se a Kelsen, e com razão, o haver criado uma Teoria do Estado sem
Estado e uma Teoria do Direito sem Direito.
Entre os publicistas célebres da França, no século XX, encontramos autores
mais preocupados com o aspecto jurídico da Ciência Política do que propriamente
com as suas raízes na filosofia e nos estudos sociais.
Não são tão radicais quanto Kelsen, que reduziu o Estado a considerações
exclusivamente jurídicas. Mas fazem da Teoria Geral do Estado um apêndice ou
introdução ao Direito Público, nomeadamente ao Direito Constitucional, não
hesitando em versar temas pertinentes ao Estado em livros de Direito Constitucional,
segundo velha tradição, ilustrada, dentre outros, por Duguit, com o seu monumental
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tratado, cuja primeira parte, votada ao Estado, abrange certas análises onde a cada
passo toma o sociólogo o lugar do jurista (BONAVIDES, 2009).
Paes e Morossini (2013) lembram que durante a segunda metade do século
XIX até a primeira metade do século XX na Europa, os franceses, por exemplo,
afirmavam que a adoção de apenas uma perspectiva pela ciência política teria uma
análise muito limitada da política. Assim, os estudos sobre o Estado deveriam ser
pautados pelo tridimensionalismo, isto é, estudar o Estado enquanto ideia, dentro da
perspectiva filosófica, enquanto fato social, dentro perspectiva sociológica e
enquanto fenômeno jurídico, dentro da perspectiva jurídica.
A Ciência Política ampliou seus horizontes, sustentando-se em outras áreas
do conhecimento: história, direito constitucional, economia e psicologia. Até então, a
ciência política não era um campo científico autônomo, pois sua metodologia, teoria
e epistemologia encontravam legitimidade em outras áreas do conhecimento.
A Ciência Política nos Estados Unidos tem uma história peculiar. A
expressão ciência política já era usada naquele país desde o século XVIII, quando
os federalistas americanos buscavam na ciência política as condições científicas
para construir instituições políticas liberais democráticas representativas.
Enfim, a Ciência Política como cadeira acadêmica de fato nasce nos
Estados Unidos, em meados do século XIX. Neste contexto, a ciência política se
profissionalizou e foi acusada por autores e políticos da época de não ser mais uma
ciência engajada na construção das instituições políticas norte-americanas, isto é,
de estar mais preocupada com a realidade política, com a política concreta.
Feres Junior (2000) explica que a institucionalização da Ciência Política
americana, na prática, correspondeu à criação de empregos, cursos, departamentos,
programas, centros de pesquisa, revistas especializadas, associações e linhas de
financiamento de pesquisa sob o mesmo rótulo disciplinar da Ciência Política.
Paralelo a esse processo de desenvolvimento institucional ocorreu um movimento
de especialização. A estrutura institucional da Ciência Política americana é hoje
dividida em cinco subáreas: política americana, política comparada, relações
internacionais, políticas públicas e teoria política. Cada subárea apresenta um alto
grau de autonomia disciplinar e endogenia. Consequentemente, um professor de
política comparada, por exemplo, só ensina cursos de política comparada, publica
em periódicos especializados em política comparada, e participa de conferências
nas mesas e painéis da mesma subárea.
16
Guarde...
A área temática de teoria política é um ramo da ciência política que agrega
contribuições de variadas disciplinas, mas, especialmente, da filosofia política e da
história das ideias políticas. No panorama acadêmico contemporâneo, essa área
temática vem sendo compreendida de duas maneiras distintas, mas não
inconciliáveis: como teoria política normativa e como teoria política histórica.
18
Guarde...
A política é o conflito entre atores para a determinação de linhas de conduta
(policies) coletivas dentro de um quadro de cooperação-integração reciprocamente
reconhecido. Tradicionalmente, os politistas focalizaram a determinação de linhas de
conduta pública – quer dizer, comuns a toda sociedade — formuladas dentro de um
quadro social essencialmente autoritário que é o Estado.
A definição de Schmitter não limitaria o estudo da política à atividade dessa
instituição de cúpula. Procuraria o desempenho de uma função — a de resolver
conflitos sem distinguir um dos partidos — a qualquer nível da sociedade.
O fundamento intelectual da sua concepção de política é disperso, como se
deduz da variedade de autores citados ao longo do tópico. Ele ainda não tem uma
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4.1 Platão
O primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política foi Platão (428-7 – 348-7
a.C.).
É com pesar que faremos um recorte para tratar somente a política em
Platão e não sua filosofia, seu mundo ideal e sua concepção de homem, mas o que
nos interessa no momento passa realmente por suas observações acerca das ações
das pessoas no cenário de sua época que já envolvia uma administração complexa
da polis.
Platão, mestre de Aristóteles, relata a teoria política de Sócrates no livro ‘A
República’, em que se posiciona criticamente frente à democracia direta grega, e
propõe um regime no qual “os reis fossem sábios e os sábios fossem reis”
(PEREIRA JUNIOR, 2008).
Ele escreveu sobre o assunto, principalmente, em dois livros: ‘A república’ e
‘As leis’. Nesses livros, ele apresenta a ideia de que uma sociedade bem ordenada é
aquela em que cada indivíduo desempenha a função na qual é mais habilidoso. Os
hábeis com as mãos deveriam ser artesãos, os fortes devem proteger a cidade e os
sábios devem governá-la (CELETI, 2011).
Platão pensa também sobre como deve ser a educação nesta cidade ideal,
para conseguir desenvolver em cada criança o seu potencial a fim de que possa
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executar melhor a sua função. Cada indivíduo, para ele, será livre enquanto estiver
cumprindo as leis, criadas com o intuito de melhor conduzir a cidade.
Segundo Platão, o estado ideal deveria ser dividido em classes sociais.
Seriam três classes: a dos filósofos, a dos guerreiros, a dos produtores, as
quais, no organismo do estado, corresponderiam respectivamente às almas racional,
irascível e concupiscível no organismo humano.
a) À classe dos filósofos cabe dirigir a república. Com efeito, contemplam
eles o mundo das ideias, conhecem a realidade das coisas, a ordem ideal do mundo
e, por conseguinte, a ordem da sociedade humana, e estão, portanto, à altura de
orientar racionalmente o homem e a sociedade para o fim verdadeiro. Tal atividade
política constitui um dever para o filósofo, não, porém, o fim supremo, pois este fim
supremo é unicamente a contemplação das ideias.
b) À classe dos guerreiros cabe a defesa interna e externa do estado, de
conformidade com a ordem estabelecida pelos filósofos, dos quais e juntamente com
os quais, os guerreiros receberam a educação. Os guerreiros representam a força a
serviço do direito, representado pelos filósofos.
c) À classe dos produtores, enfim – agricultores e artesãos –, submetida às
duas precedentes, cabe a conservação econômica do estado, e, consequentemente,
também das outras duas classes, inteiramente entregues à conservação moral e
física do estado. Na hierarquia das classes, a dos trabalhadores ocupa o ínfimo
lugar, pelo desprezo com que era considerado por Platão – e pelos gregos em geral
– o trabalho material (MADJAROF, 1997).
Na concepção ideal, espiritual, ética, ascética do estado platônico, pode
causar impressão, à primeira vista, o comunismo dos bens, das mulheres e dos
filhos, que Platão propugna para as classes superiores. Entretanto, Platão foi levado
a esta concepção política – tornada depois sinônimo de imanentismo, materialismo,
ateísmo – não certamente por estes motivos, mas pela grande importância e função
moral por ele atribuída ao estado, como veículo dos valores transcendentais da
Ideia.
Naqueles tempos, ele já conseguira ter uma boa compreensão de que os
interesses particulares, privados, econômicos e, especialmente, domésticos, estão
efetivamente em contraste com os interesses coletivos, sociais, estatais, sendo
estes naturalmente superiores àqueles – eticamente considerados. E não hesita em
sacrificar totalmente os interesses inferiores aos superiores, à riqueza, à família, ao
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4.2 Aristóteles
Ainda no mundo grego, Aristóteles (384 – 322 a.C.) vai discordar de Platão.
Na obra Política, Aristóteles pensa que a cidade ideal de Platão, onde há prioridade
daquilo que é público sobre aquilo que é privado, não funcionaria muito bem. Para
ele, as pessoas dão mais valor ao que pertence a si mesmo, do que ao que pertence
a todos.
Aristóteles se preocupou menos com hipóteses de uma sociedade perfeita e
mais em compreender a realidade política de seu tempo, estudando as leis de
diferentes cidades e as formas de governo existentes. A melhor forma de
organização política, defendida por ele, é um sistema misto de democracia e
aristocracia, chamado politia, para evitar os conflitos de interesses entre os ricos e
pobres. É dele também a ideia de que o homem é um animal político, isto é, que faz
parte da natureza humana se organizar politicamente.
Na Grécia Antiga, para Aristóteles, a política deveria estudar a pólis e as
suas estruturas e instituições (a sua constituição e conduta). (PEREIRA JUNIOR,
2008).
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4.3 Políbio
Apesar de Políbio não ser um filósofo e sim um historiador, cabe lembrar que
foi considerado o “pai” da teoria do governo misto (LEVORIN, 2001), analisando as
constituições em um período posterior, no século II a.C.. Era a época da gradual
dominação romana na Grécia.
Bobbio (1995) lembra que, para Políbio, a constituição adotada era o motivo
de êxito ou fracasso de uma sociedade. Sendo assim, seria importante escolher
corretamente a forma de governo a ser usada naquele Estado. Políbio, em sua obra,
explica que seu objetivo era estudar as causas e consequências de se escolher
determinada forma de governo para reger uma cidade (Hist., VI, I, 2).
Políbio adotou uma metodologia similar a de Aristóteles para tipificar as
constituições e identificou inicialmente a existência de seis formas de governo. As
formas simples seriam a realeza, a aristocracia e a democracia; enquanto os modos
degenerados correspondentes seriam, respectivamente, a tirania, a oligarquia e a
oclocracia (GALLO, 2013).
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4.4 Cícero
Outro pensador que trabalhou a teoria das formas de governo foi o filósofo e
orador romano Marco Túlio Cícero – que viveu os turbulentos anos de guerra civil
entre Pompeu e Júlio Cesar, no primeiro século antes de Cristo. Ele se encarregou
de dar continuidade à análise do melhor sistema constitucional defendendo a
existência de três regimes políticos, a monarquia, a aristocracia e a democracia, e,
além disso, seus desvios respectivos (GALLO, 2013).
Logo, é de se observar que ele utiliza uma metodologia bastante semelhante
à dos outros pensadores da Antiguidade. A obra de Cícero, a exemplo do trabalho
de Platão, também foi escrita em forma de diálogo – no caso da passagem sobre as
formas de governo, é um diálogo entre os romanos Cipião e Lélio. A primeira
consideração importante a ser feita é que, para Cícero, toda comunidade é
propriedade de um povo. Contudo, povo não se trata de um aglomerado qualquer de
pessoas, mas sim um grupo numeroso de cidadãos em comum acordo de respeito
às leis e orientado ao bem comum (De Re Publica I, XXV, 39). Como essa
comunidade é propriedade do povo, ela precisa, na análise do pensador, ser
governada por um corpo deliberativo permanente, seja ele formado por um homem,
por um número seleto de cidadãos, ou por todo o corpo de cidadãos da cidade (I,
XXV, 41). Essa análise corrobora a afirmação de que a teoria das formas de governo
gira em torno de responder a pergunta de quantos indivíduos compõem o governo.
A tipologia empregada por Cícero é a mesma usada pelos filósofos gregos.
Assim, as formas simples de governo seriam a monarquia (regnum), a aristocracia
(optimatium) e o governo popular (civitas popularis).
Cícero também deixa claro, por meio de uma frase de Cipião, que a melhor
das constituições seria uma quarta forma, que comb ina elementos das três
anteriores (De Re Publica De Legibus, I, XXIX, 45). É, portanto, uma teoria que vai
na mesma direção do que já havia sido dito por Políbio. Isso ocorre porque Políbio
também analisou a constituição romana em sua obra, na qual era possível verificar
na prática a existência desse regime misto (GALLO, 2013).
Segundo Pinto (2003), a república de Cícero pode ser considerada quase-
democrática, pois Cícero parece estar dividido entre um governo dos melhores
visando o bem comum – representado pelo senado, de uma certa forma incapaz de
governar e uma profunda suspeita quanto às capacidades de virtude do homem
comum – o governo de todos para todos visando o bem comum.
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Para fixar...
PLATÃO COMENTÁRIO
FORMA DE GOVERNO
Aristocracia Governo bom e justo, único não considerado inferior.
Constituição adotada por Creta e Esparta, baseada na honra
Timocracia
guerreira.
Oligarquia Governo com incontáveis vícios.
Democracia Forma precedente à oligarquia.
Tirania Pior das formas de governo.
ARISTÓTELES COMENTÁRIO
FORMA DE GOVERNO
Realeza Governo de um homem, orientado para o bem comum.
Governo formado por poucos homens, orientado para o bem
Aristocracia
comum.
Politeia Governo da maioria, orientado para o bem comum.
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POLÍBIO COMENTÁRIO
FORMA DE GOVERNO
Realeza Primeira forma de governo, que surge naturalmente.
Tirania Forma degenerada associada à realeza.
Surge após a queda da tirania, distribuindo o poder para um grupo
Aristocracia
de pessoas.
Oligarquia Degeneração da aristocracia, cujo grupo busca o benefício próprio.
Resultado da evolução da oligarquia, deixando o poder nas mãos
Democracia
da maioria.
Degeneração da democracia, quando a turba passa a cuidar da
Oclocracia
vida política com ilegalidade.
Forma de governo que é uma junção da realeza, aristocracia e
Governo misto
democracia.
CÍCERO COMENTÁRIO
FORMA DE GOVERNO
Monarquia Autoridade suprema nas mãos de um governante.
Aristocracia Autoridade suprema imbuída a um grupo selecionado.
Governo popular Governo no qual as decisões dependem do povo.
Despotismo Degeneração da monarquia.
Oligarquia Degeneração da aristocracia.
Turba Degeneração do governo popular.
Forma de governo que é uma junção da monarquia, aristocracia e
Governo misto
governo popular.
Fonte: Gallo (2013).
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inspiradora de grande parte da Idade Média cristã e do início dos tempos modernos.
Com acuidade e rigor, trata metodologicamente de matérias como lógica, metafísica,
antropologia, ética, teologia e política (em que examina e expõe com riqueza de
conhecimento questões sobre a natureza das leis).
Santo Tomás constrói uma doutrina teológica do poder e do Estado.
Primeiramente, compreende que a natureza humana tem fins terrenos e necessita
de uma autoridade social. Se o poder em sua essência tem uma origem divina, é
captado e se realiza através da própria natureza do homem, capaz de seu exercício
e sua aplicação.
Certamente, tanto o poder temporal quanto o poder espiritual foram
instituídos por Deus. Deus é o criador da natureza humana e, como o Estado e a
Sociedade são coisas naturalmente necessárias, Deus é também o autor e a fonte
do poder do Estado. [...] o Estado não é uma necessidade do pecado original.
Enquanto o homem necessita do Estado, este deve servir a comunidade dos
cidadãos, promovendo a moralidade e o bem-estar públicos, efetivando sua plena
missão de incentivar uma vida verdadeiramente boa e virtuosa, e criando as
condições satisfatórias do bem-comum. Por consequência, os fins do Estado são
fins morais (o bem-estar de toda comunidade), sendo que os cidadãos estão
comprometidos com um fim temporal (representado pela autoridade estatal) e com
um fim espiritual (corporificado pela Igreja, que atua como instância maior). O poder
do Estado não fica subordinado de forma absoluta ao poder da Igreja (como
defendia Santo Agostinho), mas sim de modo relativo; a autoridade da Igreja é
superior em matéria espiritual (WOLKMER, 2001).
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6.2 Maquiavel
No século XVI, Maquiavel e a sua obra dão origem à modernidade política. A
sua preocupação era a criação de um governo eficaz que unificasse e secularizasse
a Itália.
De Aristóteles e Cícero, Bonavides (2009) nos apresenta Maquiavel, o
secretário florentino, que tanto se imortalizou na ciência política, e que abre o
capítulo primeiro de O Príncipe, sua obra-prima, com aquela afirmativa de que
“todos os Estados, todos os domínios que exerceram e exercem poder sobre os
homens, foram e são ou Repúblicas ou Principados”.
Nicolau Maquiavel (1469-1527) é um dos mais importantes pensadores de
todos os tempos, especialmente para o campo da política, por um motivo bastante
simples: ele foi o primeiro a dissociar a política da moral.
A inovação de Maquiavel foi a tentativa de ver o mundo como ele é e não
como ele deveria ser:
Não importa como seria o mundo justo, e sim o mundo concreto (...) Ele
mudou a forma de refletir sobre a política porque mudou o local para onde
deveria ser dirigido o olhar: em vez das normas morais, das sagradas
escrituras ou dos sistemas éticos, o jogo de relações dos poderes (MIGUEL,
2007, p. 59).
por uma antropologia negativa do ser humano e a condição natural da violência nos
jogos políticos (MODELLI, 2012).
Almeida (2005) também entende que a característica mais marcante da obra
maquiaveliana reside justamente no fato de que Maquiavel, ao pensar e escrever
sobre política, rejeitou completamente o idealismo dos clássicos e rompeu
definitivamente com a velha moral católica.
Enquanto Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e Thomas Morus, por
exemplo, procuraram estabelecer as características de um Estado ideal, Maquiavel
seguiu no sentido oposto: ao invés de se preocupar com o que o Estado deveria ser,
procurou desenvolver uma teoria a partir do que o Estado era de fato.
O pensamento maquiaveliano se baseia na análise da história, uma vez que
Maquiavel procurou aprender com as ações dos grandes homens nos grandes
momentos da história, bem como na psicologia, já que quis compreender a natureza
do homem na história, e como este se comportou ao longo dela.
Essa “análise retrospectiva” dos fatos históricos levou Maquiavel à
constatação de que, ao longo de toda ela, os homens mostraram-se sempre os
mesmos: ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos por lucro. Por essa
razão, um governante (“príncipe”, na terminologia maquiaveliana) que pretendesse
comandar o Estado deveria possuir duas características imprescindíveis: força e
inteligência. A primeira, para conquistar o poder; a Segunda, para mantê-lo
(ALMEIDA, 2005).
Os expedientes utilizados pelo príncipe para a manutenção da ordem no
Estado, ao contrário do que haviam preconizado todos os pensadores anteriores a
Maquiavel, não deveriam ser previstos em nenhuma lei ou norma moral; ao
contrário, era cada situação que determinaria o que seria certo ou errado, moral ou
imoral, bom ou mal. Maquiavel inaugura, assim, a “moral de circunstância”, que era
completamente avessa à velha moral católica.
Por conta disso, até os tempos atuais vemos o uso do termo “maquiavélico”
para designar as pessoas malevolentes, astutas e impiedosas: a própria Igreja
incumbiu-se de conspurcar a imagem de Maquiavel, pelo fato deste ir de encontro a
seus interesses (ALMEIDA, 2005).
Para Maquiavel, toda sociedade poderia passar por três estados: (“estado”
com letra minúscula, querendo significar “situação”): anarquia, principado e
república. A Itália, naquele momento, estava gravada pela anarquia; precisava de
48
Quanto à semelhança mais importante aos dois, Miguel (2007, p. 62) cita o
papel de criação humana: “Já se encontra, aí, um insuspeito ponto de contato entre
o realismo de Maquiavel e o utopismo: para ambos, o mundo social é aquilo que
seus habitantes fazem dele”.
Seguindo a tradição humanista dos quatrocentos, ambos têm muito a dizer
sobre o papel humano na criação de uma boa sociedade. Seja na perspectiva do
Maquiavel em criticar os espelhos do príncipe na sua visão claramente cristã de
virtude em oposição a um olhar do autor florentino, realista das relações de poderes
e, por outro lado, a força de Morus em enxergar nos próprios humanos a capacidade
de criar uma sociedade perfeita sem a ação direta de deus (MODELLI, 2012).
Maquiavel criticou as ideias cristãs em oposição a uma vida política que era
violenta. No entanto, ele manteve as preocupações dos seus contemporâneos: a
busca da virtude, da fama e da glória. Morus criticou a falta de consequência no
pensamento dos seus contemporâneos: ele levou até o fim a ideia de que o bem
comum decaia por causa da propriedade e da nobreza.
Ele criou uma sociedade sem classes e sem ostentação porque assim ele
possibilitaria a verdadeira nobreza: a virtude. Morus e Maquiavel têm com o
humanismo dos quatrocentos uma herança sobre a capacidade humana de moldar
seu futuro contra um acaso destruidor; a utopia é feita por homens e a república de
Maquiavel pelo príncipe. As ressalvas de radicalismo no caráter de violência e no
idealismo da utopia podem ser relativizadas: Maquiavel era um republicano em
busca de paz e Morus simplesmente levou a consequência final algo já dito na sua
época pelos seus contemporâneos.
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REFERÊNCIAS
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