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Jataí/GO
19 de junho de 2022
Mário Seixas Sales
Jataí/GO
19 de junho de 2022
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1 Introdução
Quantification is now more and more clearly seen not only as a neutral
epistemic tool producing knowledge about the world, but also as a tool
of power and government, a driving force in transforming the world
(DIDIER, 2022).
Quando se faz jurimetria, estuda-se o Direito através das marcas que ele
deixa na sociedade (JURIMETRIA, 2022).
valores e experiências pessoais, religião e tantos outros fatores que são objetos de estudo
de um novo campo do conhecimento, a saber, a jurimetria (NUNES, 2016).
A jurimetria propõe-se a desenvolver o Direito estudando seu plano concreto e seus
espaços institucionais de criação de normas visando a investigar, de forma indutiva, proces-
sos decisórios em que conflitos sociais são solucionados e, para tanto, utiliza a quantificação
como ferramenta de abordagem a essa ciência a fim de reconhecer, caracterizar e organizar
tendências e padrões jurisprudenciais, produzindo, assim, uma melhor compreensão do
funcionamento, na prática, de determinada ordem jurídica (NUNES, 2016).
As marcas que o Direito deixa na sociedade referidas acima pela Jurimetria (2022)
não são exclusivamente as decisões judiciais e as legislações, mas são, também, outros
fatos jurídicos como decisões administrativas, decretações de falências, formalização de
contratos, recuperações judiciais de empresas, aumento do número de processos judiciais,
quantidade de juízes por unidade federativa, etc. Fazer jurimetria, então, é aplicar métodos
para estudar esses fatos jurídicos, porém não são quaisquer métodos; devem ser métodos
quantitativos, a exemplo da estatística (NUNES, 2016).
Na obra brasileira seminal sobre essa nova área do conhecimento, Nunes (2016)
justifica apropriada a abordagem estatística a questões jurídicas explanando que o mundo
social no qual o Direito fundamenta sua atuação e evolução não é determinista e, caso
algum fenômeno de lá assim o fosse, o Direito só consegueria compreendê-lo por meio de
observações empíricas e de inferências a partir destas. Dessarte, essa ferramenta quantitativa
buscaria reconstituir um elemento de causalidade a fim de estudar (1) os diversos fatores -
econômicos, valorativos, geográficos, etc - que condicionam a produção de normas, gerais ou
individuais, e (2) as reações que essas normas provocam nas associações sociais (NUNES,
2016).
Nesse sentido, o objeto de estudo da jurimetria são as condutas, em função de
normas jurídicas, de regulantes e regulados. Assim, tais normas não são propriamente
o objeto de interesse, mas marcas que estabelecem momentos de decisões, registrando
aspectos de seus sentidos e de suas motivações, que ajudam a entender o funcionamento
de uma ordem jurídica por meio da apreensão estatística dos comportamentos coletivos
em função dessas marcas (NUNES, 2016).
Mesmo que se consiga estudar as condutas individuais de cada sujeito de Direito
integrado a certa sociedade, fazer inferências gerais a partir disso é temerário, pois os
fenômenos regulares advindos dos comportamentos coletivos de agentes jurídicos são
influenciados também pelo todo, pelo organismo social, que condiciona o comportamento
de seus integrantes. Identificar essas influências, essas causas coletivas, pode auxiliar
no entendimento da regularidade de certos padrões de conduta como fatos sociais e na
previsão, por meio de modelos probabilísticos, das reações de um conjunto de pessoas em
uma certa ordem jurídica frente a conflitos advindos de seu relacionamento mútuo. Devido
Capítulo 1. Introdução 4
2 Delimitação do tema
3 Problema de pesquisa
4 Justificativa
5 Objetivo geral
6 Objetivos específicos
7 Metodologia
As ferramentas que serão utilizadas para atingir os objetivos deste estudo baseiam-
se em técnicas de revisão bibliográfica dos principais livros, bem como de artigos veiculados
em periódicos científicos, sobre quantificação, sociologia da quantificação, análise econômica
do Direito, teoria das origens jurídicas, análise jurídica da política econômica, Law &
Finance e jurimetria, enfatizando as publicações apresentadas nos últimos quinze anos.
Essas técnicas são (1) a utilização de serviços de indexação de citações, que oferecem
índices de citações entre publicações e mecanismos para estabelecer quais documentos citam
quais outros documentos e (2) o método de seguir trilhas bibliográficas que, conjuntamente,
permitirão a construção de uma rica rede de fontes que sustentarão este estudo por meio
de sua análise através de abordagens dialéticas e hermenêuticas (BOOTH et al., 2003).
O primeiro capítulo contextualizará como o ato de quantificar tornou-se um ex-
pediente relevante para a organização da sociedade e, portanto, para a sociologia como
objeto a título próprio de estudo. Também mostrará como o campo do conhecimento da
quantificação emergiu e como este foi valorizado distintamente de acordo com o tipo de
Estado. Por fim, descreverá os principais debates no campo da sociologia da quantificação
por meio da análise das obras de Sartore (2012), Camargo, Lima e Hirata (2021), Desrosiè-
res (2014), Hacking, Hacking et al. (1999), Camargo e Daniel (2021), Desrosières (2013),
Berman e Hirschman (2018), Didier e Tasset (2013), Fioramonti (2014), Desrosières (1998)
e Desrosières (2003).
Já o segundo capítulo descreverá contornos gerais de abordagens quantitativas do
Direito e, mais especificamente, as principais propostas da jurimetria e seu impacto no Brasil
e no mundo visando a analisá-la a partir de contribuições da sociologia da quantificação.
Também mostrará a ascensão e difusão da jurimetria, com foco internacional, por meio da
análise da formação do periódico Jurimetrics. Por fim, apontará as penetrações acadêmicas
e práticas da jurimetria e suas consequências na sociedade. Para tanto, serão consultadas
as obras de Amariles (2015), Ferreira (2016), Loevinger (1963), Nunes (2016), Teles (2012)
e Maia e Bezerra (2020).
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9 Cronograma
Referências
AMARILES, D. R. Legal indicators, global law and legal pluralism: an introduction. [S.l.]:
Taylor & Francis, 2015. 9–21 p. Citado na página 12.
BOOTH, W. C. et al. The craft of research. [S.l.]: University of Chicago press, 2003.
Citado na página 12.
DIDIER, E. Society for the Social Studies of Quantification (SSSQ). [S.l.]: Disponível
em: <https://en.ird.fr/project-sssq-society-social-studies-quantification/>. Acesso em
07/06/2022., 2022. Citado na página 2.
FIORAMONTI, D. L. How numbers rule the world: The use and abuse of statistics in
global politics. [S.l.]: Zed Books Ltd., 2014. Citado na página 12.
HACKING, I.; HACKING, J. et al. The social construction of what? [S.l.]: Harvard
university press, 1999. Citado na página 12.
KLINK, P. van et al. Facts and norms: the unfinished debate between eugen ehrlich and
hans kelsen. Available at SSRN 980957, 2006. Citado na página 4.
TELES, S. M. The rise of the conservative legal movement. In: The Rise of the
Conservative Legal Movement. [S.l.]: Princeton University Press, 2012. Citado na página
12.
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Essas críticas também podem se amparar no direito, buscando que este imponha a
efetivação de princípios fundamentais - como do respeito à dignidade da pessoa humana -
a fim de cumprir seu fim último, a saber, realizar a justiça social (HENRIQUES, 2018).
Interessante que essa ideia de justiça - ou do próprio direito -, segundo a ideologia dominante
atual, pode ser mais bem apresentada e compreendida por meio de sua quantificação,
ferramenta esta já consolidada como produtora de conhecimentos em diversos campos como
na economia, administração, educação e sociologia (ESPELAND; STEVENS, 2008). Mais
interessante ainda é como este último campo questionou a quantificação como instrumento
e apropriou-se dela como seu objeto de estudo, analisando-a como fenômeno sociológico e
produzindo subsídios para a investigação das relações de poder que números podem criar
em várias outras áreas da vida humana. Nesse ensejo, o próximo capítulo inspecionará as
relações da quantificação com o direito.
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Referências
DIDIER, E. Alain desrosières and the parisian flock. social studies of quantification in
france since the 1970s. Historical Social Research/Historische Sozialforschung, JSTOR, p.
27–47, 2016. Citado na página 3.
ENCREVÉ, P.; LAGRAVE, R.-M. Trabalhar com bourdieu. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2005. Citado na página 3.
TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Jataí-GO, 04/06/2022.
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Orientador: HUGO LUIS PENA FERREIRA