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UNEB-UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

Colocar o nome do departamento

Victor Ariel Ribeiro De Sá

A Subsunção no Direito Capitalista

Projeto apresentado pelo curso de Direito como avaliação final, foi


realizado como pré-projeto de TCC.

Juazeiro-Bahia

2021
Sumário

OBJETIVO GERAL:..............................................................................................4
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:...............................................................................4
JUSTIFICATIVA:...................................................................................................5
INTRODUÇÃO:.....................................................................................................6
DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS:............................8
DIREITO COMO FENOMENO HISTÓRICO:.....................................................10
DIREITO E CAPITALISMO:................................................................................11
A QUESTÃO DA SUBSUNÇÃO:........................................................................14
CONCLUSÃO:....................................................................................................18
CONSIDERAÇÕES FINAIS:...............................................................................19
METODOLOGIA:................................................................................................21
TEMA E PROBLEMA DO PROJETO DE PESQUISA

1- Eu quero pesquisar:

A subsunção da norma jurídica no modo de produção capitalista mediada pela


forma mercadoria.

2- Porque eu quero:

O processo de subsunção e a norma jurídica são determinados pelo modo de


produção capitalista mediante sua forma mercadoria

3- Para que?

Para explicitar o processo de subsunção da norma jurídica pela forma


mercadoria no modo de produção capitalista.

OBJETIVO GERAL

explicitar o processo de subsunção da norma jurídica pela forma mercadoria no


modo de produção capitalista

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Compreender os diversos processos de subsunção de uma norma jurídica sob


a ótica da concepção dogmática e geral do direito.
1- A lógica e fundamentos do modo de produção capitalista
2- A função da forma mercadoria para produção e reprodução do modo de
produção capitalista.

4-O papel da norma jurídica para a reprodução do modo de produção


capitalista.

JUSTIFICATIVA

Falar em subsunção da norma jurídica, nos marcos do capitalismo, é


tratar da forma pela qual o Direito é aplicado. Reconhecendo não apenas que
este sistema econômico exerce forte influência sobre o Direito, mas que há
elementos intimamente ligados, como a forma-mercadoria e sua relação com a
aplicação da norma jurídica. A forma como tal coisa se operacionaliza não é
tarefa fácil, porém sua compreensão é necessária na medida em que se busca
uma aplicação racional.

Tendo em vista como a sociedade se torna cada vez mais complexa,


nesse modo de produção, assim como os sistemas normativos também se
complexificam, a quantidade de desafios aumenta. Cada vez mais a
comunidade jurídica sente que as soluções tradicionais estabelecidas na
modernidade, calcadas numa lógica formal, demonstram-se incapazes de
realizar a aproximação necessária entre o “dever-ser”, na sua generalidade e
abstração, estabelecido pelo ordenamento jurídico (seja ele qual for) e os fatos
com suas singularidades.

Essa imprecisão não repercute apenas na cabeça dos juristas como


problemas teóricos, mas se traduzem na realidade como decisões judiciais que
podem facilmente destruir a vida dos indivíduos, com estruturas políticas e
econômicas, acabando com a sensação de segurança que Direito deve trazer,
ou seja fulminando a razão de ser deste.

Vislumbrar a solução para esse problema é tarefa árdua, porém o ponto


de partida deve ser a explicitação do que é a subsunção e o porquê de sua
forma a partir da análise de sua gênese no plano do real, como produto
histórico-social, a partir da “forma-mercadoria”.

INTRODUÇÃO

A compreensão acerca da forma como se dá aplicação da norma jurídica


parece não revelar nada demais ou não estar relacionado a nenhuma grande
questão de cunho “extrajurídico”. Melhor dizendo, social. Basicamente “revela-
se” como mero problema de lógica somado a questões argumentativas,
desenhando-se o processo pelo qual os preceitos normativos alcançam
corretamente os fatos singulares e a partir de então produzem os efeitos
desejados no mundo concreto. Dá-se aí a subsunção. Ou seja, se apresenta
como problema instrumental.

No mais, tal questão se complexifica, em geral, quando se entende o


direito não como mera ferramenta de pacificação, mas como ferramenta capaz
de produzir justiça, somando-se então à equação questões de cunho ético e
moral. Exigindo-se, portanto, a aplicação de uma lógica cujo resultado tem de
ser valorado, problematizando-se então as premissas. Nessa toada surge uma
diversidade significativa quanto as formulações das disposições de premissas e
os percursos lógicos a serem seguidos.

Porém, a relação entre preceito normativo genérico e os fatos singulares


é no mínimo contraditória. As elucubrações acimas mencionadas não são nada
mais que tentativas de sanar uma relação problemática, pois a aplicação de
uma norma universal a casos que são em entre si distintos, seja em aspectos
menores ou mais gritantes, coloca em xeque a questão da igualdade jurídica
no que diz respeito ao resultado, ou seja que uma norma específica deve
produzir nos casos em que é de sua pertinência (“a lei é igual para todos”) :
constata-se que não é viável a concretização da norma jurídica de forma
uniforme, exigindo-se da subsunção, seu processo, a possibilidade de
manipulação dos resultados necessários, de caso a caso.

Porém, na verdade, quando se analisa de perto, o que se revela de fato


é que a diversidade de soluções é a com contrapartida de uma problemática
cuja raiz é histórica e portanto social. Tal caracterização, que abarca as mais
variadas construções lógicas e teóricas, só pode ser contextualizada tomando-
se o direito a partir de sua historicidade, reconhecendo o fenômeno jurídico na
sua especificidade capitalista: Os problemas que recaem no processo de
subsunção da norma jurídica e a forma deste, relaciona-se com o papel que o
direito desempenha nesse tipo de sociedade e sua forma como expressão da
“forma-mercadoria”.

Sendo assim, se a subsunção da norma jurídica, sua formatação


enquanto prática, em muitos casos, apresenta-se como tarefa árdua (na
tentativa de conciliação entre os preceitos ditos universais e os casos
singulares) porque nesse tipo de sociedade o fenômeno jurídico se dará como
a síntese de inúmeros processos socioeconômicos cujas necessidades são
incapazes de serem satisfeitas através de uma aplicação automática da norma
jurídica.

Tendo em vista tal contradição e as formulações que aparentemente


desconhecem da historicidade aqui cogitada, gera-se a necessidade de
esclarecimento sobre tais pontos levantados, afinal o direito enquanto
fenômeno social não pode se satisfazer com definições a-históricas.

Portanto buscar-se-á analisar a subsunção da norma jurídica, sua forma


e as caracterizações mais comuns, como as citadas no início do texto, que são
feitas em consonância com essa forma a partir da relação entre direito e
capitalismo, traçando-se em linhas gerais quais fatores sociais e econômicos
fomentam essa forma e são, então, fonte geradora da contradição apontada.
Através de autores como Lukács, Pachukanis, Alyesson Mascaro e Victor
Sartori, que se utilizaram do método dialético-materialista desenvolvido por
Marx e as descobertas desse sobre a categoria ontológica fundante que é o
trabalho, o modo de produção capitalistas e os indícios que ele deixou sobre a
forma jurídica e sua relação com a forma mercadoria, a ideologia e os conflitos
de classe.

1. DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

1.1 CONCEITO DE SUBSUNÇÃO A PARTIR DA DEFINIÇÃO GENÉRICA DE


DIREITO

A definição do que vêm a ser o Direito é bastante ampla, variando no


tempo e no espaço. Entretanto, estabeleceu-se um conceito bastante genérico
que permeia as cabeças de uma gama de juristas e das pessoas em geral.
Segundo Miguel Reale (2001,p.1) “aos olhos do homem comum o Direito é lei e
ordem”: O Direito, nesse sentido genérico, quando muito se complexifica, diz
respeito ao conjunto normativo que visa regulamentar a conduta dos indivíduos
que vivem em sociedade.
O conceito de norma, segundo Kelsen, é de que a norma é na verdade
um sentido de um ato de vontade que direciona um dever ser à conduta de
outrem (1986, p.34). Nessa definição há uma dinâmica relacional entre uma
causa e um efeito que difere, porém, das relações causais que estão dispostas
na natureza, pois a relação que é posta por uma norma jurídica se dá pelo
princípio que o próprio Kelsen denomina de imputação.

Lembrando que o estado possui papel fundamental na aplicação dessas


normas, pois, através de uma espécie de sanção faz com que o conteúdo de
dessas normas possua maior efetividade. Fala-se aqui da força (coercitividade)
e de dispositivos que são persuasivos para o cumprimento de determinada
obrigação. Diz também, Miguel Reale (2001, p.1) “O Estado, como ordenação
do poder, disciplina as formas e os processos de execução coercitiva do
Direito”.

Cabe então entender o meio pelo qual essas normas conseguem regular
tais condutas, como elas fazem valer seus conteúdos e quais os casos são
alcançados por estes. Assim, qual a ponte que liga a norma ao fato, seu
raciocínio. Diz-se que a ocorrência de um fato A é subsumido pela norma
jurídica, que por sua vez imputará um resultado B (REALE,2001, p.93). Pois
bem, do que significa dizer que A foi subsumido? Duas concepções de
subsunção vão ser apontadas, uma que diz respeito a subordinação lógica de
uma norma a outra, a ideia de um ordenamento jurídico escalonado, no qual
uma norma possui validade mediante a justificação de uma outra
(REALE,2001, p.184). Nesse sentido Kelsen:

“Uma norma jurídica não vale porque tem um determinado


conteúdo, quer dizer, porque o seu conteúdo pode ser
deduzido pela vida de um raciocínio lógico do de uma norma
fundamental pressuposta, mas porque é criada por uma forma
determinada - em última análise, por uma forma fixada por uma
norma fundamental pressuposta” ( KELSEN,1999,139)

No entanto, o objeto do estudo se preocupa com subsunção no sentido


de conexão entre o fato e o conteúdo da norma. A subsunção aparece aqui
como um método, que no geral se vale de uma “lógica” silogística. Porquanto,
um raciocínio lógico-dedutivo, em que duas premissas se relacionam: a
premissa maior que seria a norma, produz inferência sobre a premissa menor,
produzindo então uma conclusão. Exemplo, crime de homicídio consiste na
conduta “matar alguém” (premissa maior), individuo “X” atirou contra o
indivíduo “Y”, que veio a falecer (premissa menor), sendo assim o indivíduo “X”
cometeu o crime de homicídio (conclusão).

Mas, como bem aduz Reale, não se trata de um método cuja aplicação é
automática, passiva (REALE,2001,p.284). Pelo contrário, existe uma atividade
criativa por parte da aplicação desse método, reflete-se sobre como tal fato
será subsumido a uma norma específica e as consequências que isso irá gerar.
É justamente nessa reflexão acerca do resultado, que engendra a quebra
dessa automaticidade em que podemos encontrar um ponto interessante de
conexão entre o direito e os fenômenos sociais, sendo que, a partir de então o
direito perde nessa relação essa conceituação genérica, passando para uma
conceituação histórica.

Didier refletindo sobre a questão da jurisdição enquanto atividade


criativa em relação as cláusulas gerais (citando Karl Larenz), mostra como
essa noção de aplicação automática da norma jurídica não é mais aceitável
sob a ótica do direito contemporâneo, porém o faz na medida em que esse
método conhecido como subsunção sai de cena, falando-se agora em
concreção:

“As cláusulas gerais exigem concretização em vez de


subsunção. “Na apreciação do caso concreto o juiz não tem
apenas de ‘generalizar’ o caso; tem também de ‘individualizar’
até certo ponto de critério; e precisamente por isso, a sua
criatividade não se esgota na ‘subsunção” (DIDIER,2017p.61)

A ideia que se pretende ,aqui, abordar, é mostrar que essa “calculabilidade”


existe também na própria subsunção enquanto método de aplicação da norma
jurídica, por motivos que são históricos, pela própria estrutura da sociedade
atual como um todo. A análise do direito relacionada ao modo de produção
sobre o qual ele se sustenta e é formatado: conceito histórico de direito.
DIREITO COMO FENOMENO HISTÓRICO

Quando se fala em direito como fenômeno histórico, está se alertando


para uma dificuldade posta na análise de qualquer fenômeno social. Tende-se
a partir de verdades pressupostas, as vezes até de princípios tomados como
eternos. Isso torna todo e qualquer conceito analisado, numa expressão vaga,
como diz Alysson Mascaro (2018).
Sartori, explicitando o método de análise marxista e contrariando a
maioria esmagadora dos autores que elaboram teorias gerais sobre o direito,
aponta que a análise deve ter como ponto de partida a realidade concreta.
O mais óbvio que pode se extrair de uma análise histórica é que um
conceito só faz sentido quando colocado num fluxo, ou seja, reconhece-se a
realidade enquanto processo. As coisas estão em constante transformação,
portanto em constante formação.
Além disso, através dessa historicidade, consegue-se alcançar a
especificidade do fenômeno jurídico, afinal é contra uma concepção genérica
que se busca o apelo histórico. Alysson Mascaro anuncia de forma rápida que
é a partir da modernidade que o direito enquanto fenômeno se mostra como
algo específico, distinguindo-se da religião ou da moral, com diferenciação
bastante clara no século XVIII.
Vale notar que, a tendencia de analisar o direito a partir de uma
perspectiva universal, em cima da metodologia marxiana, pela perspectiva de
Lukács (2010, p.80) é resultado justamente da forma jurídica dentro do
capitalismo, que se pretende universal e indiferente aos conflitos que existem
na realidade das sociedades capitalistas.

DIREITO E CAPITALISMO

A especificidade do direito não aparece no século XVIII por um mero


acaso. Na verdade, o que está ali a se formar é justamente a sociedade
capitalista. A partir do momento que se reconhece esse fato não como evento
aleatório, ou coincidência, mas como resultado de um processo histórico,
caminha-se um passo na direção de compreender qual a relação com o direito
e o modo de produção capitalista e então surge a possibilidade compreender a
subsunção como método de aplicação da norma jurídica.
Pachukanis, no capítulo intitulado “métodos de construção do concreto
nas ciências abstratas”, ao diferenciar as ciências a partir dos métodos de
aproximação da realidade que elas usam (PACHUKANIS,2017,p. 81), realiza
uma sagaz análise: Tendo em vista que todo e qualquer objeto estudado
constitui uma totalidade, sendo passível de análise pela ótica de inúmeras
áreas do conhecimento, sendo que algo em comum entre elas ocorrem, uma
necessidade pela construção de abstrações que forneçam justamente
elementos dessa análise. Por isso Marx, segundo ele, trabalhou com conceitos
como salário, lucro e mercadoria, para que se pudesse entender fenômenos
maiores, por assim dizer, como as classes sociais. Outro ponto que ele ressalta
é a questão do conceito, ideia como produto histórico.
É por essa razão que na tentativa de tomar o direito como algo histórico,
relacionando-o internamente com o tipo de sociedade que ele passa a se
diferenciar, se dará na relação entre conceitos que podem ser tomados como
abstrações, em certo sentido, que são a mercadoria e a forma jurídica.
Segundo Pachukanis (2017, p.83), a relação é bastante íntima, estabelece-se
um ponto comum: A qualidade do valor. Mas como algo histórico, há de se
entender que são fenômenos reais, possuem objetividade, portanto validade.
A questão do sujeito no direito pela forma mercadoria, que por sua vez,
como elemento nuclear do fenômeno jurídico, influencia a forma jurídica. Dessa
forma a subsunção como uma categoria jurídica que tem de estar em
conformidade com o arcabouço do direito, sua estrutura lógica, sofre então
influência da forma mercadoria. Não se trata de uma derivação direta. Na
verdade, não se trata de derivação alguma, pois a subsunção está atrelada a
isso e a todos os influxos produzidos pelas relações de produção e reprodução
do capitalismo. Pachukanis (2017,p.119) afirma isso, observando que a
categoria de sujeito só pode derivar do mundo concreto e o mundo marcado
pelo capitalismo apresenta um complexo de relações entre proprietários de
mercadorias, o Direito enquanto forma que reveste essas relações a ela se
adequam.
É a partir desse nexo, que a forma jurídica vai se esclarecendo algumas
qualidades da forma jurídica. Decorre daí que, as acepções inicialmente
tratadas como concepções genéricas do que seria o fenômeno jurídico, que
costumeiramente explicam o direito, quando confrontadas com análises
históricas, não mudam sua qualidade de verdades óbvias ou princípios, para
meras abstrações falsas, mas refletem um processo social objetivo. Assim
como a ideologia, que não se trata de mera falsificação da realidade, mas em
certo aspecto é expressão das relações que ela mesma visa ocultar:

“Chega-se a seguinte conclusão: a própria falsidade da


ideologia burguesa é parte constitutiva da verdade que essas
representações visam negar; trata-se de ,pois, de
determinações de existência integradas a sociedade capitalista
e ,como tais, determinações alienadas”(SARTORI,2010,p.20).

Essa constatação se aproxima dessa relação entre a forma jurídica e o


capitalismo até por uma questão de lógica. As categorias jurídicas são também
categorias ideológicas, conceitos como igualdade ou sujeito de direito, servem
em inúmeros momentos para a justificação ou ocultação de relações de
exploração que são típicas do capitalismo. Só que é a objetividade dos
fenômenos por de trás dessas categorias ideológicas que se nega o direito
apenas como ideologia. Pachukanis mostra o direito como relação, no sentido
marxiano, sendo dela que tais categorias se formam, como por exemplo a
categoria do sujeito de direito.
Colocando de outra forma, a questão que é colocada, exclui o aspecto
ideológico que é inegável ao direito. Na verdade, o que se coloca é a
possibilidade do direito ser considerado relação social no sentido que Marx
atribuíra quando analisava também as categorias econômicas que estão dadas
na sociedade capitalista.(PACHUKANIS,2017,p.88). A ideia central é
reconhecer que, da mesma forma que o Capital pode ser visto como uma
relação social, o direito ao menos pode ser visto como uma relação social
mistificada de uma relação social específica, que diz respeito aquela, sendo
que a sua forma se estende outras relações não específicas. O Direito que atua
nas trocas de mercadoria e desenvolve categorias abstratas justificadoras
dessas, estende tais categorias, por exemplo, a outras relações que não
envolvem a troca de mercadoria, sendo mediatas ou não.
A questão é: essas formas abstratas quando confrontadas com realidade
vão denotar que existe uma relação direta entre o capitalismo e o direito na sua
forma, portanto a análise de uma abstração jurídica não prescinde de uma
análise material, concreta.

Não é difícil notar que a possibilidade de adotar o ponto


de vista jurídico está no fato de as mais diversas relações
na sociedade de produção mercantil tomarem a forma das
relações de troca comercial, e por conseguinte, se
conservarem-se na forma do direito
(PACHUKANIS,2017,p.94)

Não é suficiente apenas a avaliação das normas jurídicas e aquilo que


os doutrinadores descrevem, para a compreensão de fato do que vem a ser um
conceito dentro do direito.
Max Weber(1999,p.11), nas suas investigações, mesmo tendo outros
pressupostos metodológicos, diversos dos que o marxismo em geral lança
mão, percebeu que inúmeros são os institutos jurídicos que possuem razão de
ser em decorrência do desenvolvimento do capitalismo e seu comércio. Boa
parte dos contratos, com delimitações específicas, como hoje se conhecem,
desenvolvem-se justamente nesse percurso do capitalismo.
Entender por sua vez o que é a subsunção passa por essa mediação.
Dessa forma, demonstra-se, ao menos de forma vaga, a relação entre direito e
capitalismo.

A QUESTÃO DA SUBSUNÇÃO

Tendo em vista a relação que foi esboçada, como se pode entender


como o direito atua, qual a sua funcionalidade no capitalismo e como a questão
da subsunção se mostra como método, qual a sua efetividade?
Foi dito que o direito possui uma forma específica a partir de relações
objetivas que estão atreladas ao modo de produção capitalista. Mas também foi
dito que o direito existe também como relação. Ele, quando se apresenta como
um conjunto de normas reguladoras, é porque de fato realmente exerce esse
papel em algum grau. O problema é que essa apresentação é meramente
parcial. Não diz o que é o direito de fato, nem porque ele assume tal forma.
Desconhecendo-se de determinações do tipo, o conhecimento sobre sua
atuação se torna ainda mais improvável.
Victor Sartori, realizando uma crítica ontológica ao direito, inicia o
percurso também percorrido por Pachukanis no sentido de partir da aparência
do fenômeno para então encontrar a essência. Mas este sistematiza a análise,
utilizando a ontologia Lukaciana: a relação entre elementos extremamente
fundamentais. Assim como Lukács criticou as correntes positivistas que
elaboravam esboços sobres a realidade apenas alcançando sua forma, sem
nunca dizer qual era o ser das coisas (Algo que acontece com o direito como
regra, só olhar para a teoria pura do direito de Kelsen), Sartori mostra como
isso se reproduz constantemente no direito: Ou seja, é extremamente
necessário a crítica ontológica do direito para que se possa ter profundidade no
estudo.
A descrição do fenômeno toma a categoria elementar, fundamental, da
ontologia que é o trabalho. Antes de qualquer coisa há de se conhecer a
necessidade constante que o ser humano possui de se relacionar com a
natureza, um verdadeiro metabolismo sem o qual não há de ser falar em
sociedade. Se for possível falar de um ponto de partida da existência humana
enquanto ser social seria esse (Nisso se esvai a ideia de economicismo).

A circulação de mercadoria, a mercadoria em si, a necessidade de sua


troca, tem essa relação fundamental como plano de fundo. Quando se fala na
relação entre direito e capitalismo, tem-se em vista esse ato fundamental que
constituiu, a partir de inúmeras mediações e relações, o modo de produção
visado.

O trabalho realizado pelo homem, consiste numa transformação na


natureza, enquanto a natureza também atua sobre o homem (SARTORI,p.30).
Sartori vai demostrando que aquilo que se denomina de natureza humana, que
definiria o modo de ser do homem, na verdade não tem origem externa divina,
sequer possui algum tipo de determinação temporal infinita. Pelo contrário, a
formação desse ser vai se constituindo através de um processo completamente
material e como processo, inclui as diversas modificações, afinal trata-se de
uma relação reflexiva. Nesse sentido, não se nega as determinações naturais
em prol de dominação humana sobre o natural, tais fatores continuam existindo
e atuando. O próprio homem é natureza, natureza que tomou consciência de si.

Qual a relação que se estabelece: A relação entre teleologia e


causalidade. O homem altera a natureza na busca de atingir uma determinada
finalidade que foi previamente idealizada. Entretanto, existe um verdadeiro
abismo entre aquilo que se pensa e aquilo que se consegue produzir enquanto
resultado. A teleologia é ao ato que visa alcançar esse resultado, porém se
defronta com as limitações da realidade que se colocam como resistência,
fazendo com que haja um amoldamento do ato a tais limitações, buscando um
meio (SARTORI p.35).

O trabalho tratado como essa relação, pressupões inúmeras outras


condições para sua realização, pois o homem necessita do outro para que
possa produzir a sua condição de existência. Sendo assim, nesse ato de
produção existe um intercambio que , por exemplo, remete a fala, linguagem
como necessária, entre outras características que permeiam a vida social do
ser humano (SARTORI,p37). O “X” da questão é que, nessa relação de
colaboração, a teleologia é, também, então, direcionada a terceiros, no sentido
de exigir que esse produza algum resultado esperado. Entende-se que no
convívio social, na produção da existência do homem, a modulação das
condutas dos sujeitos se faz necessária. Daí que se tem um esboço do que
vem a ser chamado de divisão social do trabalho (SARTORI,p50).

Esse modo de produção, porém traz suas particularidades. Uma das


formas que tal modulação da conduta alheia se reproduz é, justamente, através
da forma jurídica. Faz todo sentido, portanto, dizer que o direito é uma relação
social, ou melhor, um conjunto delas, que visa regular relações sociais.

A sociedade capitalista, entretanto, possui no seu interior inúmeros


conflitos, mais especificamente conflito de classes (SARTORI,p.56). Conflitos
esses que necessitam de mediação. O direito aparece aqui, ao lado do Estado
como fundamental. Que o direito lida com conflitos de forma mais direta,
através do judiciário, já se sabe. No âmbito de conflitos localizados entre
indivíduos. Só que ele vai além disso, numa sociedade dividia em classes ele
produz uma normalidade que amortece esses conflitos. Daí surge por exemplo
uma de suas características mais marcantes, característica essa que começa a
se fundar especificamente dentro do capitalismo que é a homogeneidade.

Além disso, quando se toma aquele aspecto tratado sobre a teleologia,


pode-se denotar que cada ato colocado em prática, na direção de reproduzir
um tipo de sociedade, de garantir as condições de existência, tal ato por mais
individual que se mostre, é na verdade um ato social. Quando se olha para
sociedade capitalista e isso não se pode negar.

Vemos que a existência humana se torna cada vez mais social. Há um


certo distanciamento da natureza. Há um complexo de relações humanas, de
teleologias que são dirigidas de uns aos outros, de tal sorte que boa parte das
atividades laborais sequer tangenciam a relação metabólica que antes
mencionamos entre o homem e natureza.

Pois bem, essa constatação nos esclarece também, somado ao


conteúdo classista, a razão de ser desse direito homogeneizante, genérico.

Por mais diferenciados que sejam os conteúdos jurídicos


na sua gênese e na sua vida concreta, a forma jurídica
adquire homogeneidade própria somente no curso da
história; quanto mais a vida social se faz social, tanto mais
nítida se torna tal homogeneidade (LUKACS APUD
SARTORI p.80).

Pois bem, a tendencia que surge para o Direito é justamente a sua


expansão totalizante, a tentativa real de onipresença. Observando,
rapidamente o ordenamento jurídico por exemplo, vê-se a produtividade
legiferante, na busca, mesmo que ilusória, por um ordenamento jurídico que
não tenha lacunas, ou seja, que não deixe se quer passar um caso da vida
real, sem que este receba de alguma forma a impressão da marca jurídica. É
nesse contexto que surge uma análise da subsunção como algo a mais do que
mero método de aplicação imediata da norma.

A categoria da subsunção adquire função essencial ao direito,


portanto- e aparece à medida que o singular deve se
subordinar ao universal de maneira, por vezes, unilateral.
Trata-se de um complexo que atua de maneira a adquirir uma
forma homogeneizada, sendo a categoria geral aplicada ao
caso singular, isto é, a norma jurídica aplicada ao caso
concreto. (SARTORI,p.81.)

Observa-se que voltamos a ideia inicial, quando descrevemos a


subsunção como processo de mediação entre o universal e o singular, porém
lá a descrição se mostrava como um método formal, silogístico, como se uma
fosse uma ideia totalmente lógica, consciente de si e de sua funcionalidade. Só
que agora, o que se revela é que a insuficiência de se ter tal conceito como
produto do pensamento.
Revele-se agora tal coisa como produto de todo um processo histórico
que representa o capitalismo e suas demandas. Disso não sobra espaço para
inúmeras contradições, vejamos: O direito ao mesmo tempo que visa da
legitimidade a trocas mercantis, inclusive do trabalho como forma de
mercadoria adota formas aparentemente inofensivas. Defende-se por exemplo
o conceito de
Igualdade entre os sujeitos, sendo assim, toda e qualquer relação de
exploração que o capitalismo tome como necessária à sua reprodução,
facilmente pode se ter como legitimada sob a ótica do direito, isso porque
quando se estabelece um contrato, se estabelece entre iguais, ou seja,
formalmente falando, não há exploração alguma. A troca de mercadorias, o
trabalho como tal, pressupõe essa justificativa.
Há, porém, ainda outro nível de contradição. Essa necessidade de tomar
todos como iguais, gera um inconveniente. O preceito genérico passa a tentar
abarcar um conjunto extenso de casos sob sua égide, porém, é sempre do
singular que se trata. E a indiferença que o direito possui para com os conflitos
que, como foi dito, na verdade é meramente ilusória, O direito enquanto
classista possui posições diante da realidade. Mais principalmente tomando as
trocas mercantis, a interposição dada pelas coisas, os produtos do trabalho,
que são as mercadorias entre os sujeitos que se relacionam e que exigem
fluidez e segurança. Isso quer dizer que os resultados que ele produz,
importam. Por isso como mencionado no início, não faz sentido dizer que a
atividade criadora do judiciário, o esmero com o caso concreto, se daria apenas
a aplicação de clausulas gerais ou coisa do tipo. A subsunção da norma-regra,
como é assim conhecida, também faz o imediatismo da relação de imputação
desaparecer.

“A estruturação das teleologias secundárias na sociedade


civil-burguesa não tem como essencial algo que venha a
permitir a compreensão e a funcionalização tanto do
universal quanto do singular: trata-se, antes, de uma
forma de sociabilidade em que a referida mediação é
exercida com recurso ao Estado, pretensamente acima
dos conflitos sociais e, concomitantemente, mergulhado
nesses por meio do domínio de classes” (SARTORI,p.82)

O problema é que essa mediação da norma jurídica com os casos


singulares se mostra bastante deficitária. Revela-se que tratar todos como
iguais exclui particularidades que quando postas em cena podem fazer toda
diferença, não apenas no âmbito do direito, como noutras esferas da
sociedade. A análise sobre a falta de diferenciação das penas, gerando uma
grande contradição na tradição penal moderna, mostra que a tentativa de fazer
justiça, diferenciando a gradação das penas de acordo com os delitos viu-se
inviabilizada pela universalidade que o direito alcançou. No final das contas
tudo se pune com a prisão, algo inesperado pelas penalistas reformadores.
O direito apresenta dificuldade em cumprir parte da mediação que ele
deve exercer em meio aos conflitos sociais e em meios as trocas econômicas
que direito regula. O conceito de igualdade moderno por exemplo, inclui o
tratamento diferencial “tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente
na medida de sua desigualdade”. Tal coisa demostra-se inviável no direito, pela
sua forma. Forma essa histórica, capitalista.

CONCLUSÃO

A forma mercadoria possui relação com a forma jurídica, sendo muitas


das categorias econômicas também jurídicas. A trocas daquelas exigem a
mediação dessa, precisando de certa “calculabilidade” para gestão de todo
processo. Somando-se a todos os processos correlatos, temos um direito que
acaba por também seguir essa lógica.
A importância dessa percepção é que é através do reconhecimento de
sua limitação, que se pode esboçar quais são as possíveis soluções. Os
estudos da teoria geral do direito, ou mesmo da hermenêutica, com relação a
aplicação da norma jurídica, qual seu conteúdo e como ela vai se relacionar
com o fato que a ela se subordina, vai ter de ter consciência de essa
“contraditoriedade” que é inerente a subsunção, inerente a própria forma de ser
do capitalismo. Esse elo fraco que há entre o preceito normativo e o singular,
deve ser fortalecido se valendo de análises racionais do direito. Análises
tomam em consideração as inúmeras realidades constrangedoras que formam
o Direito.
A questão da mercadoria dentro do capitalismo é fundamental, enquanto
portadora de valor atribuído pelo trabalho, assim como causa mistificadora das
relações entre os homens e influi nas mais variadas esferas, como é o caso do
direito. Isso é, não há direito dentro do capitalismo que fuja a esse fenômeno,
nem as consequências negativas como a exploração do trabalho. Pelo
contrário, para Pachukanis, como foi dito, o direito decorre das relações
capitalistas, de seu modo de produção e reprodução.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Porém, a conclusão aqui pode ir além, atentando sempre a importância


de se analisar os influxos que o Direito sofre das mais variadas abjeções que o
sistema capitalista produz e já produziu. Luis Eduardo(2018,p.109), a exemplo,
quando trata do direito na modernidade periférica, mostra que o
reconhecimento da “colonialidade”,(fenômeno decorrente do processo
desenvolvimento do capitalismo) é fundamental para que se efetive os direitos
que já existem nos países centrais, assim como a questão da legitimidade, mas
que , com o projeto de formação da modernidade e as relações sociais
objetivas que estavam por detrás desse, afirmação do capitalismo,
simplesmente impediram o desenvolvimento de garantias básicas como os
direitos de primeira geração aqui nesse território.
Ademais, quando se toma tal consciência, pode se perceber que certas
decisões apesar de não consubstanciarem em nada o conteúdo jurídico que é
pregado nos tribunais ou nos livros de direito, elas ainda sim estão de acordo
com o Direito. O Direito real. A subsunção admite no seu processo a
manipulação, a modulação dos efeitos, efeitos esses que estão alinhados com
a expressão de um direito classista.
Entretanto, como já foi dito, o direito enquanto produto de relações
sociais é também produtor. Ele direciona um complexo de relações, sendo
assim é necessário lançar mão dele, buscar lutar para se conformar seu
conteúdo, no máximo que for possível, tencioná-lo em benefício no combate de
muitas das mazelas que ele mesmo perpetua. Isso se valendo de suas
“contraditoriedades” , pois sua forma, enquanto mistificadora da realidade,
permite a conformação de conteúdos que se encaixam com o senso de justiça
comum. Direitos como liberdade, vida, saúde... são objetivos que representam
interesses de parte da sociedade. O direito enquanto mediador de conflito entre
classes, não pode deixar trabalhar esses aspectos, seja em maior ou menor
grau sob pena de simplesmente descumpri com sua função.
Calendário: M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7 M8 M9 M10 M11 M12

SELEÇÃO DOS X
TEXTOS DO
PRIMEIRO
CAPÍTULO

FICHAMENTO X
DOS TEXTOS DO
PRIMEIRO X X
CAPÍTULO
X
X
REDAÇÃO DO
TEXTO DO
PRIMEIRO
CAPÍTULO X
X
REVISÃO E
ENTREGA DO
PRIMEIRO
CAPÍTULO

X
SELEÇÃO DOS X
TEXTOS DO
SEGUNDO
CAPÍTULO
FICHAMENTO
DOS TEXTOS DO
SEGUNDO X
CAPÍTULO X

REDAÇÃO DO
SEGUNDO
CAPÍTULO
X

REVISÃO E X
ENTREGA DO
SEGUNDO
CAPÍTULO

SELEÇÃO DOS
TEXTOS DO
TERCEIRO X
CAPÍTULO

FICHAMENTO
DOS TEXTOS DO
TERCEIRO
CAPÍTULO X
X
REDAÇÃO DO X
TERCEIRO
CAPÍTULO X
X

REVISÃO E
ENTREGA DO
TERCEIRO
CAPÍTULO

X
REDAÇÃO DAS X
CONSIDERAÇÕES
FINAIS/INTRODU- X
ÇÃO/ENTREGA

ENTREGA DA X
PRIMEIRA
VERSÃO DA X
MONOGRAFIA X

REVISÃO E
ENTREGA DA
SEGUNDA X
VERSÃO DA X
MONOGRAFIA
X
REVISÃO E X
ENTREGA DA
MONOGRAFIA X
X
X X
DEPÓSITO DA X
MONOGRAFIA NO
COLEGIADO
REFERÊNCIAS

SARTORI,Victor. Lukács e a crítica ontológica ao direito.1.ed.São Paulo,SP:


Editora Cortez,2010. 
KELSEN,Hans. Teoria Pura do Direito.6.ed.São Paulo,SP:Editora Martins
Fontes,1998.
MASCARO,Alysson. Introdução ao Estudo do Direito.6.ed.São
Paulo,SP:Editora Gen Atlas,2019.
KELSEN,Hans. Teoria Geral das Normas.1.ed.Porto Alegre,RS: SERGIO
ANTONIO FABRIS EDITOR,1986.
Nascimento,Luis, As Antinomias do Direito na Modernidade
Periférica.1.ed.Paulo Afonso,BA:SABEH,2018.
PACHUKANIS,Evguiéni. Teoria Geral do Direito.1.ed.São Paulo,SP:Editora
Boi Tempo,2017.
DIDIER, Fredie. Introdução ao Direito Processual Civil,Parte Geral e
Processo de Conhecimento.19.ed.Salvador,BA: EDITORA jusPODIVM,2017.
WEBER, Max. Economia e Sociedade, Fundamentos da sociologia
compreensiva.1.ed.Brasília,DF: Editora Universidade de Brasília,1999.

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