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Tudo o que ocorre na nossa vida são fatos. Isto é, a vida é uma sucessão
permanente de fatos. Nesse cenário, o direito valora os fatos e, através das normas
jurídicas, leva à categoria de fato jurídico aqueles que têm relevância para o
relacionamento inter-humano.
Direito e realidade
A norma jurídica não deixa de ser algo abstrato, mas que se refere a alguma
coisa concreta (os fatos) que, se ocorrer, deverá produzir determinada consequência no
campo do relacionamento inter-humano (= efeito jurídico). Se atentarmos para que os
mais simples atos do dia-a-dia têm conteúdo jurídico, chegaremos à evidência de que
muito mais se cumpre do que se descumpre o direito. Essa realização do direito é, na
maioria das vezes, inconsciente, até. Você cumpre e aplica o direito, muitas vezes, sem
a consciência de que está aplicando-o e cumprindo-o. Assim, pela sua atuação no
ambiente social, adaptando a conduta humana, diz-se que o direito é um fato social.
Dimensão normativa, onde aqui o direito passa a ser tratado apenas em razão
de seus comandos. Essa dimensão tem caráter dogmático. Somente importa se existe
uma norma regularmente posta e vigente que, só por isso, é obrigatória,
independentemente da circunstância de sua efetivação no meio social.
Com isso, é necessário que o direito seja sempre analisado sob o tríplice aspecto
dos valores, da norma e do fato, para que assim se possa ter um direito que,
efetivamente, se realize no meio social por que consubstancia os seus valores.
Corte epistemológico
Há, ainda, normas jurídicas que são formuladas, precisamente, para integrar
outras normas jurídicas, sem determinar efeitos jurídicos próprios. Exemplo: "considera-
se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos
poderes inerentes à propriedade". Essa norma não imputa de modo específico efeitos
jurídicos a certo fato, ou seja, não atribui direitos ou deveres a alguém em virtude de um
fato, mas, estabelecendo quem de se ser considerado possuidor, para os fins de direito,
constitui norma integrativa de toda a instituição jurídica da posse.
2. Sancionistas e não-cancionistas
OBS: Kelsen, em sua mesma obra, muda totalmente a sua concepção acerca de
norma primária e secundária, afirmando ser primária o preceito e secundária a sanção.
Contudo, em um terceiro pensamento — na mesma obra — Kelsen volta ao seu
pensamento original, mas com urna diferença: tal classificação depende de que, na
formulação legislativa da norma, somente esteja expressa a sanção para o caso de
transgressão da conduta desejada, quando implícita na disposição legal. Pode-se
perceber na passagem em que Kelsen diz: "A expressa formulação da norma que proíbe
o furto e da norma que impõe o pagamento de um empréstimo recebido, isto é, a norma
que prescreve a conduta que evita a sanção é efetivamente supérflua, pois está — como
já indicado anteriormente = implicada na norma que estatui a sanção. Pois a norma que
estatui um ato coercitivo como sanção então aparece como a norma primária, e a norma
nela implícita (a qual não é de fato, nem necessita sê-lo, expressamente formulada), a
norma secundária".
2.1. Não-sancionistas
A outra posição, adotada por autor como Pontes de Miranda, sustenta que a
norma jurídica é urna proposição completa quando contém, simplesmente, a descrição
do suporte fático e a prescrição do preceito a ele correspondente, Dessa forma, se a
norma prevê, ou não, uma sanção para o caso de ser transgredida não tem qualquer
importância. A incompletude da norma reside, apenas, na falta de menção ao suporte
fático ou ao preceito.
1. Conceito
2. Espécies
(b) Outra, que nomeia o próprio fato quando materiaiizado no mundo (suporte
fático concreto, ou seja, quando o fato previsto como hipótese se concretiza
no mundo fático).
Não apenas os atos, mas simples atitudes e dados anímicos, portanto internos,
podem, também, integrar supor fático. Há situações em que a norma jurídica leva em
consideração dados íntimos, como o conhecimento ou não-conhecimento de alguma
circunstância, a intenção na prática de certo ato (dolo ou culpa) e até os motivos em
praticá-lo. Vale lembrar que esses dados, naturalmente, são significativos somente
enquanto relacionados a um acontecimento, um ato materializado, não em si ou
isoladamente.
4.6. Probabilidades
Não apenas acontecimentos em concreto, mas também meras probabilidades
podem ser elementos de suporte fático. Por exemplo, os direitos do nascituro, onde aí
se tem a probabilidade de o feto vir a ser uma pessoa.
4.8. O tempo
O tempo em si não pode ser fato jurídico, porque é de outra dimensão. Mas o
seu transcurso integra com muita frequência suportes (áticos: na usucapião, na
prescrição, na mora, por exemplo.
Os bens da vida. em geral, quando não haja norma jurídica que os pré-exclua de
apropriação (bens de uso comum do povo) ou que, por sua natureza, sejam
inapropriáveis a alguém (Sol), podem integrar suportes táticos, constituindo seus
elementos objetivos. Por exemplo: os bens materiais constituem parte objetiva da posse.
Além disso, o fato jurídico há de ser considerado como unidade, embora possa
ser constituído por vários fatos. Diferentemente, o suporte fático mantém a sua estrutura
complexa de conjunto de fatos, sem que se tenha necessidade de considerá-lo como
unidade.
Por fim, com a perda da vigência da norma jurídica o suporte tático deixa de ser
suporte fático a partir daí, mas nem por isso o fato jurídico perde a sua qualidade. A
exemplo disso o contrato, onde a modificação da norma não implica na alteração de
suas cláusulas que estão de acordo com a norma revogada. O fato jurídico somente
deixa de existir se desconstituído por um novo fato jurídico, como, por exemplo, a
rescisão de um contrato.
O preceito
1. Conceito
O preceito constitui a parte da norma jurídica em que são prescritos os efeitos
atribuídos aos fatos jurídicos. Representa, assim, a disposição normativa sobre a a
eficácia jurídica. Toda e qualquer consequência jurídica que se atribua a um fato
constitui eficácia jurídica, objeto, portanto, de um preceito.
2. Classificação
1. Noção de incidência
2. Características da norma
2.1. Incondicionalidade
2.2. lnesgotabilidade
A incidência não se esgota por haver ocorrido unia vez, Ao contrário, toda vez
que o suporte fático se compuser, a norma incidirá, Contudo, pode ocorrer de a norma
jurídica incidir apenas uma vez, como, por exemplo, aquelas que se destinam a regular
caso isolado e único. Dessa forma, conclui-se que a possibilidade de incidir somente
deixa de existir quando a norma jurídica perde a sua vigência. Ou seja, a incidência tem
como pressupostos essenciais: (a) a vigência da norma jurídica; (b) a concreção do
suporte fatie° suficiente,
(a) Existe a norma jurídica que está posta no mundo, independentemente de ser
vigente (vacatio legis), de ser válida ou de ser eficaz. Por isso, é possível que uma
norma jurídica deixe de existir sem ter sido vigente, sem que isso implique qualquer
contradição.
(b) A norma jurídica existe com vigência quando tem a possibilidade de produzir
os seus efeitos específicos, incidindo sobre seu suporte fatie° e, pela criação do fato
jurídico respectivo, ordenar a conduta humana no sentido de seus comandos.
1. Generalidades
2. Fato e realidade
Somente fato cuja ocorrência alguém tem conhecimento ou que seja passível de
prova pode ser considerado concretizado para os fins de incidência das normas
jurídicas. Aqueles que não seja de conhecimento de alguém, mesmo ocorrido, não será
integrante do suporte fático concreto. Ou seja, é preciso ter em mente que a incidência
não se dá sobre o fato bruto (real), mas sobre o suporte fático, que, como vimos, difere
daquele, ao menos pela sua qualificação.
Pode ocorrer que o suporte fático suficientemente formado seja deficiente (a) por
lhe faltar algum elemento complementar ou (b) porque algum de seus elementos
nucleares seja imperfeito. Portanto, a deficiência do suporte fático atua no plano da
validade ou da eficácia.
As consequências da incidência
Toda incidência é, necessariamente, juridicizante. Há fatos jurídicos cuja eficácia
típica é diferente: não se destina a originar relações jurídicas, mas a produzir
consequências outras, como: (a) excluir, previamente, a juridicização do ato jurídico
(pré excluir de juridicidade); (b) tornar nulo ou anulável o negócio jurídico (invalidar);
-
(c) eliminar eficácia já produzida por fato jurídico ou encobrir-lhe a força (deseficacizar);
ou, finalmente, (d) possibilitar que negócio jurídico seja excluído do mundo jurídico onde
está (desjuridicizar).
1. Juridicização
2. Pré-exclusão de juridicidade
Normas juridicas cuja incidência cria fato jurídico que tem a finalidade de impedir
(a) que suporte tático que seria, normalmente, juridicizado em certo sentido, assim o
seja, ou (b) que certo fato venha a se tornar jurídico.
(a) Exemplo: As normas que dizem que matar alguém em legítima defesa exclui
a conduta criminosa. Ou seja, a incidência da norma de legítima defesa se dá para criar
fato jurídico cujo efeito consiste em excluir, previamente, o caráter de ilicitude que a
conduta danosa teria.
(b) Norma que veda a entrada no mundo jurídico de atos, inclusive negociais,
que as infrinjam. Por exemplo: negócios proibidos, corno empreitada para matar alguém,
se praticados, não entram no mundo jurídico nem mesmo como negócios jurídicos
nulos; simplesmente não existem como negócio jurídico.
3. Invalidação
4. Deseficacização
Há, ainda, normas jurídicas cuja incidência cria fato jurídico que tem o efeito de
desfazer a eficácia que outro fato jurídico já produziu no mundo jurídico, sem, contudo,
alcança-lo em sua existência ou validade. Portanto, atuam apenas no campo da eficácia
Por exemplo: as normas sobre prescrição.
5. Desjuridicização
Há normas jurídica de cuja incidência resulta tornar negócio jurídico passível de
ser desjuridicizado, sendo excluído do mundo jurídico, trazido de volta ao mundo fático.
Por exemplo: normas sobre revogação.
Generalidades
Tem autores que tratam a existência, a validade e a eficácia dos fatos jurídicos
como sinônimos. Contudo, sabemos que (a) existência, validade e eficácia são três
situações distintas por que podem passar os fatos jurídicos e, portanto, não é possível
trata-las como se fossem iguais; (b) o elemento existência é a base de que dependem
os outros elementos. Assim. Pontes de Miranda divide o mundo jurídico em três planos,
o da existência, o da eficácia e o da validade.
Plano da existência
Plano da validade
Os fatos jurídicos lícitos em que (a) a vontade não aparece como dado do
suporte fático (fatos jurídicos stricto sensu e ato-fato jurídico), bem como (b) os fatos
ilícitos lato sensu )inclusive o ato ilícito), não estão sujeitos a transitar pelo plano da
validade, uma vez que não podem ser nulos ou anuláveis. Isso, porque, (a) um fato ilícito
nulo ou anulável iria beneficiar o infrator e (b) um nascimento, por exemplo, a vontade
não aparece como dado do suporte fático e, assim, não dá para anular um nascimento.
Plano da eficácia
(i) Quanto aos fatos jurídicos stricto sensu, atos-fatos jurídicos, e fatos ilícitos
lato sensu, salvo lex specialis, basta que existam. Ou seja, essas espécies de fato
jurídico do plano da existência ingressam, diretamente, no plano da eficácia e irradiam,
instantaneamente, a sua eficácia. Não estão, nem podem estar, sujeitos a termos,
condições ou quaisquer outras determinações que atuem na sua eficácia. .
(ii) Quanto aos atos jurídicos stricto sensu e negócios jurídicos, há de distinguir:
(a) Os atos jurídicos válidos têm entrada imediata no plano da eficácia, mesmo
enquanto pendentes termos ou condições suspensivos. Porém, há hipóteses em que o
ato jurídico, mesmo válido, é ineficaz.
(c) Os atos nulos, de regra, não produzem sua plena eficácia. Contudo, há casos,
embora poucos, em que o ato jurídico nulo produz. plena e definitivamente, efeitos
jurídicos que lhe são atribuídos. Por exemplo: casamento putativo.
O fato jurídico é o que fica do suporte fático suficiente, quando a regra jurídica
incide e porque incide. No suporte fático se contém, por vezes, fato jurídico, ou ainda,
se contêm fatos jurídicos. Fato jurídico é, pois, o fato ou complexo de fatos sobre o qual
incidiu a regra jurídica; portanto, o fato de que dimana, agora, ou mais tarde, talvez
condicionalmente, ou talvez não dimane, eficácia jurídica. Não importa se é singular, ou
complexo, desde que, conceptualmente, tenha unidade.