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FACULDADE IESF

CURSO DE DIREITO
CARLOS GABRIEL PINHO DA SILVA

A HISTÓRIA E ORIGEM DO DIREITO: uma revisão bibliográfica

Paço do Lumiar
2021

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CARLOS GABRIEL PINHO DA SILVA

A HISTÓRIA E ORIGEM DO DIREITO: uma revisão bibliográfica

Trabalho apresentado à disciplina de História do


Direito e do Pensamento Jurídico do curso de Direito
do Instituto de Ensino Superior Franciscano para
obtenção de parte da nota do 1º bimestre.
Prof: Jairton Costa Filho

Paço do Lumiar
2021
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Sumário

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 04
2. CONCEITOS DE HISTÓRIA DO DIREITO...........................................................04
3. ASPECTOS HISTÓRICOS....................................................................................08
4. O ENSINO DA HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL E NO EXTERIOR ............17
5. CONCLUSÃO........................................................................................................20
REFERÊNCIAS......................................................................................................21

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1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo apresentar os principais aspectos


históricos acerca do Direito, assim como também, os elementos desde a Pré-História
até Antiguidade, sendo concretizado seu fim antes do período da sociedade greco-
romana. É de suma importância saber discernir entre esses dois momentos: a pré-
história do direito e a história do direito em sim, ambas relatam aspectos acerca do
surgimento da ideia do direito, isto é, o bem comum, o ideal de justiça entre outros,
que na época já eram presentes na sociedade, porém ainda não possuíam
nomenclatura nem regras.

É necessário entender-se, primeiramente, que o Direito se originou na Pré-


História, a partir do momento que o homem viu a necessidade de impor regras que
regulem a conduta social da época, mas no início, nas sociedades primitivas, o Direito
era erroneamente relacionado à religião e política, isto ocorre devido o fato destas
sociedades não possuírem órgãos específicos que determinassem leis e normas.
Primordialmente as fontes que emanavam regras do direito não passavam de senso
comum e opinião popular.

É fundamental, para se obter êxito em estudar a história do direito, que haja um


estudo em conjunto da legislação antiga vigente, referente às investigações dos
documentos históricos da época. No presente estudo, será feita uma análise da
legislação nos primórdios da civilização, fazendo referência a legislação
contemporânea, visando um olhar panorâmico acerca das transformações que
ocorreram ao longo dos séculos.

2. CONCEITOS DE HISTÓRIA DO DIREITO

O vocábulo direito deriva do latim directum que significa ‘’o que está conforme à
regra’. Nada mais é que a soma das palavras DIS (muito) + RECTUM (reto, certo,
correto, justo). É o conjunto de normas obrigatórias que conforme a regra garantem a
convivência social e a conduta do homem com o objetivo de atingir um bem comum
coletivo.

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Para entendermos como funciona a história do direito, é necessário
compreender para que serve o direito e porque o mesmo foi criado. É fato que não há
direito sem sociedade, assim como não há sociedade sem direito, uma vez que as
regras do direito, de certa forma, regem o corpo social. Desta forma, entende-se que
há supremacia do interesse coletivo em relação ao interesse individual, tal afirmação
se confirma na fala de Mello (2005, p. 59-60):

O princípio da supremacia do interesse público é apresentado como


pressuposto de uma ordem social estável, no sentido de que em sua posição
privilegiada, conferida pela ordem jurídica, a Administração Pública pode
assegurar a conveniente proteção aos interesses públicos, bem como porque
a manifestação de vontade do Estado tem em vista o interesse geral, como
expressão do interesse do todo social (MELLO apud MELLO, 2005, p. 59-60).

Segundo o autor, a ordem social estável está diretamente condicionada ao


princípio da supremacia do interesse público, isto é, o dever primordial do Estado é
garantir a proteção dos interesses públicos e de todo corpo social.

Os conceitos de direito variam entre diversos autores, isto ocorre porque temos
uma vasta cronologia em que cada conceito se encaixa, percebe-se desta forma que
as leis e normas sempre estiveram presentes desde o início do mundo, a diferença é
que estas ‘’regras’’ foram se aprimorando e sofrendo alterações de acordo com o
contexto assim inserido.

De acordo com Flávia Castro (Congresso Interdisciplinar, 2017):

Entende-se, em sentido comum, o Direito como sendo o conjunto de normas


para a aplicação da justiça e a minimização de conflitos de uma dada
sociedade. Estas normas, e esta sociedade, não seriam possíveis sem o
Homem, porque é o Ser Humano quem faz o Direito e é para ele que o Direito
é feito.

De acordo com a autora, compreende-se que o direito tem a função de


‘’domesticar’’ uma determinada sociedade, tornando o homem um ser racional, capaz
de entender que suas vontades individuais são ínfimas em relação a vontade de um
todo. O homem, partindo desse pressuposto, se vê obrigado a seguir leis em
detrimento da coletividade.

É fundamental elucidar, diante das concepções já citadas, que o direito surge


a partir da necessidade de evolução da civilização e tem como objetivo obter justiça e

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realizar o bem comum, ou seja, solucionar casos de acordo com princípios e normas
pré-estabelecidas.

Ronaldo Leite Pedrosa (2006, p. 13) afirma o seguinte:

Destaco que o direito não é apenas um conjunto de regras. É muito mais do


que isso. As regras, escritas (leis), são um dos instrumentos de aplicação e
atuação do direito, que se vale de outros componentes em sua configuração.
Temos assim, ao lado das leis, a doutrina, a jurisprudência, os costumes, os
princípios gerais, que, somados, compõem o conceito de Direito. E esses
elementos, em conjunto, aplicados, buscam atingir o ideal supremo, que é a
obtenção da justiça.

Desta maneira, o direito é um agrupamento de normas ou regras de convívio


e conduta que estão atreladas ao homem desde o nascimento até sua morte. Pode-
se afirmar que cada sociedade possui regras específicas que são criadas de acordo
com a cultura, tradição e historicidade de cada povo.

Vale ressaltar que a história não poderia estar desagregada ao estudo do


direito, por isso é extremamente importante a inserção da disciplina História do
Direito na matriz curricular dos cursos de graduação de faculdades e universidades.
Portanto, por fazer parte de um ramo científico, a história do direito revela, retrata e
explicita o ordenamento jurídico de uma sociedade, abrangendo todos os aspectos
possíveis de uma civilização, isto é, acompanha a evolução e transformação da
sociedade, por meio da tradição, cultura e até mesmo linguagem.

Assim sendo, Antônio Carlos Wolkmer (2006, p. XV) afirma que ‘’trata-se de
pensar a historicidade do direito, no que se refere à sua evolução histórica, suas
ideias e suas instituições, a partir de uma reinterpretação das fontes do passado sob
o viés da interdisciplinaridade (social, econômico e político) e de uma reordenação
metodológica, em que o fenômeno jurídico seja descrito sob uma perspectiva
desmistificadora.”

A importância do direito está diretamente ligada à busca de direitos


fundamentais, sejam eles políticos, econômicos ou culturais, tais aspectos ditam a
conduta do homem. Azevedo conclui que “esclarecendo dúvidas, afastando
imprecisões, levantando, passo a passo, a verdadeira estrutura do ordenamento,
seus institutos mais sólidos e perenes, suas bases de fundo e suas características
formais, até alcançar a razão de ser de seu significado e conteúdo” (2005, p. 22).

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Para Walter Vieira do Nascimento, “à História do Direito se reserva a
importante função de estabelecer pontos de contato entre instituições jurídicas de
diferentes fases da vida em sociedade” (2008, p. 04).

José Fábio Rodrigues Maciel e Renan Aguiar (2007, p. 22) afirmam que “A
função precípua da história do direito na formação dos bacharéis encontra-se na
desnaturalização da permanência ou evolução, em fazer o jurista observar que o
direito relaciona-se com o seu tempo e contexto (social, político, moral) e que o
direito contemporâneo não é uma nova versão do direito romano ou uma evolução
do direito medieval, mas sim fruto de um complexo de relações presentes na
sociedade e que progride a par das forças indutoras capazes de modificá-lo,
transformá-lo, revolucioná-lo.”

Mas como disciplina, a pesquisa jurídica só foi institucionalizada há dois


séculos, passou a fazer parte do rol das ciências jurídicas de forma clara e se tornou
um curso obrigatório para o bacharelado em direito. A partir daí, os cursos de direito
passaram a incluir a história do direito no curso, geralmente no primeiro período do
curso.

A razão pela qual a história do direito se tornou um assunto básico é que ela
descreve, revela e conta todos os eventos e seus processos de evolução que
ocorreram em um determinado tempo e lugar. Por isso, para estudar a história jurídica
de várias civilizações, é necessário estudar os sistemas jurídicos como o direito de
propriedade e o direito penal, bem como suas fontes jurídicas, ou seja, tudo o que
pode acontecer.

Do mesmo modo, os dizeres de Henri de Page, transcrita por John Gilissen na


sua Introdução Histórica do Direito, cuja tradução portuguesa afirma que:

"A história do direito é muitas vezes tratada com um condescendente desdém,


por aqueles que entendem ocupar-se apenas do direito positivo. Os juristas
que se interessam por ela, quase sempre à custa de investigações muito
longas e muito laboriosas, são frequentemente acusados de pedantismo...
Uma apreciação deste gênero não beneficia aqueles que a formulam. Quanto
mais avançamos no direito civil, mais constatamos que a História, muito mais
do que a Lógica ou a Teoria, é a única capaz de explicar o que as nossas
instituições são as que e porque, é que são as que existem.

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3. ASPECTOS HISTÓRICOS

Independentemente da escolha pessoal sobre como os humanos emergiram


no mundo, seja através da teoria do criacionismo ou da teoria do evolucionismo,
havia em algum ponto da pré-história, onde os seres humanos começaram a se
organizar em pequenos grupos: famílias e / ou clãs, e cada um vivia para si, com
poucos ou nenhum deles.

Esses pequenos grupos ganhavam a vida caçando bisões mamutes e


colhendo cereais, frutas e raízes selvagens que estavam disponíveis na área
geográfica em que foram estabelecidos. Este povo era forçando a se moverem
constantemente por conta desses recursos estarem escassos, segundo a teoria
mais aceita, o ser humano surgiu na África. E, justamente por ser apenas caçador e
coletor apresentou o início da vida nômade.

A principal característica dos nômades é que eles têm esse modo de vida
errante, não permite o crescimento populacional por falta de recursos. Portanto, as
dificuldades de sobrevivência causadas pelo deslocamento aumentariam. Ao mesmo
tempo, esses pequenos grupos são os primeiros a formar uma organização social.
Após a Era do Gelo que terminou há 13.000 anos, os nômades começaram a construir
suas casas (cabanas) ao longo de rios e lagos, onde aprenderam a fazer embarcações
e a pescar. Eles também reservavam água, e continuaram a caçar e coletar cereais e
frutas selvagens. Este processo nômade está ligado à pré-história, porque a história
é pesquisa de encenação tradicional originada da Europa e baseada no calendário
cristão.

A periodicidade é representada por duas grandes divisões: a Pré-História, a


qual se refere à fase nômade do homem, e também o marcada pelo advento da
escrita, por volta de 4.000 a.C. Na Pré-História ser humano teve que se adaptar para
garantir e estabelecer sua sobrevivência, isto é, cooperar e se organizar socialmente.
Com o passar do tempo, o homem foi descobrindo suas diferenças, ou seja, para que
se descobrisse este fato houveram conflitos determinantes no surgimento de normas
e condutas, e foi desta que forma que descobriram a necessidade de se criar regras
que ficassem acima destas diferenças.

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Como já dito, o direito, antes mesmo de ter nomenclatura, já era presente em
forma de ideal, na Pré-História os povos não tinham domínio da escrita, eram
chamados de povos sem escritos ou ágrafos (a = negação + grafos = escrita). Abaixo
uma representação desses povos:

Figura 1: Povos Ágrafos

Fonte: https://historiaestudio.com.br/artigos/a-historia-antes-da-escrita/post/168

Portanto, a Pré-História do direito surgiu a partir dos ágrafos, mas infelizmente


não se tem muito material de pesquisa, devido esses povos não dominarem a escrita.
A sociedade da época citada tinha poucos recursos a seu dispor, desta forma, a
composição do corpo social da época era de caçadores e coletores, trabalhando para
fins apenas de subsistência. Em dado momento de sua existência, os povos ágrafos
tiveram a necessidade de criar normas de convívio e conduta em sociedade. A Pré-
História tinha por fonte do direito:

a) o costume;

b) os precedentes;

c) os provérbios;

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d) e a decisão do chefe;

A seguir, as pinturas rupestres, que eram as únicas formas de comunicação e


documentação de dados que os povos ágrafos possuíam.

Figura 2: Pinturas Rupestres

Fonte: https://historiaestudio.com.br/artigos/a-historia-antes-da-escrita/post/168

Atualmente, as fontes do direito abrangem as citadas desde o período da Pré-


História. O ordenamento jurídico era baseado em regras abstratas, perpassadas
hereditariamente, isto é, de geração pra geração, através da fala e de pinturas
rupestres. Através dessa transmissão oral os povos iam ‘’anunciando’’ suas regras
uns para os outros, porém de forma específica para cada povo, era como se cada
povo equivalesse a um Estado de poder descentralizado, onde cada tribo tinha sua
regra específica. Portanto, mesmo que tivessem tópicos semelhantes, as tribos
geralmente se regulamentavam de formas distintas. Porém, havia uma característica
comum entre os povos ágrafos que era a religiosidade, neste período o homem

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acredita em inúmeras crenças e mitos sem fundamentação alguma, era apenas um
senso comum empírico. A seguir algumas regras definidas pelos ágrafos:

a) relações presentes em seu convívio e seu dia a dia;

b) não precisaram regular o direito das coisas, porque o podemos denominar de


propriedade era coletiva e não individualizada;

c) como umas consequências das relações presentes em seu convívio têm as


relações de família, levando em conta que a família é a primeira instituição que existiu
no mundo.

Durante uma parcela de tempo esses costumes foram nomeados de ‘’direitos


primitivos’’, essa nomenclatura se tornou incoerente, pois era remetida a povos que
nem mesmo possuíam a habilidade da escrita, porém estes povos conseguiram
evoluir sua vida social, cultura e jurídica, a partir do momento que estabeleceram
normas a serem seguidas. Após um tempo, a expressão foi substituída por ‘’direitos
arcaicos’’, que ampliavam as características dos ‘’direitos primitivos’’, uma vez que
permite abranger e classificar sistemas jurídicos e sociais em diversos aspectos da
história e da evolução do direito. A seguir uma linha do tempo acerca dos períodos
já citados: Figura 3: Linha do Tempo

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Fonte: https://historiaestudio.com.br/artigos/a-historia-antes-da-escrita/post/168

As sociedades primitivas eram baseadas no princípio do parentesco,


convivência familiar de um mesmo grupo social, estes indivíduos eram unidos por
crenças e tradições. As principais características gerais dos direitos dos povos
ágrafos eram:

a) imaterial;

b) numerosos;

c) relativamente variados;

d) Intensamente religiosos;

e) direitos de nascença;

Esses povos ágrafos, que são multiplicidades de povos e tempos têm somente
algumas características comuns:

a) não tem grande desenvolvimento tecnológico;

b) caçadores e coletores, poucos têm uma agricultura de subsistência;

c) nômades ou seminômades;

Segundo Jonh Gilissen, podem-se distinguir algumas características do direito


nas sociedades arcaicas, a saber:

a) o direito não era legislado, vez que as populações não conheciam a escritura formal
e suas regras de regulamentação mantinham-se e conservavam-se pela tradição, isto
é, os costumes eram transmitidos oralmente, de geração para geração;

b) cada organização social possuía um direito único, que não se confundia com o de
outras formas de associação, com suas próprias regras, vivendo com autonomia e
tendo pouco contato com outros povos (a não ser pelas guerras), fato explicado talvez
pelas longas distâncias e, principalmente, pelas características geográficas de cada
lugar;

c) corolário deste pensamento é que há uma diversidade destes direitos não escritos
diante de uma gama de sociedades atuantes, advinda da especificidade para cada

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um dos costumes jurídicos concomitantes e de possíveis e inúmeras semelhanças ou
aproximações de um para outro sistema primitivo;

As leis eram instrumentos reguladores do período primitivo e foram criadas para


organizar a sociedade, estabelecendo o que cada indivíduo poderia ou não fazer, em
outras palavras, estas leis determinavam oque era certo e oque era errado. O conceito
de civilização é definido por meio do conjunto de valores, aspectos culturais, costumes
e materiais que eram partilhados por um grupo de pessoas ou sociedade.

No período de 2000 a.C. na Mesopotâmia, existiam códigos que eram oriundos


dos povos sumérios, os primeiros a se estabelecerem no local. O código mais
conhecido mundialmente é Código Estela dos Abutres de 2.450 a.C e é considerado
também um dos mais antigos, neste código diplomático está contido os termos de paz
entre Lagash e Umma, na qual lutavam pelos direitos de irrigação, nesta disputa
Lagash saiu como vencedora.

Com a vitória do Rei Eannatum, que tinha a fama de ser o ‘’subjugador das
terras inimigas’’, o mesmo mandou que erguessem um monumento feito de monólito
de pedra no meio das duas cidades, neste monumento estava escrito uma espécie de
termo de paz ‘’ que jamais um homem de Umma cruze a fronteira de Ningirsu! Que
jamais se altere e o seu declive e a sua vala! Que não se movam a estela! Se ele
cruzar a fronteira se abata sobre Umma.”

Vale ressaltar também, o segundo código criado pelo Rei Urukagina de Lagash
em 2350 a.C., o governante era considerado como reformador social, pois buscava
governar com princípios de igualdade entre os cidadãos, buscando sempre o bem
comum da coletividade. Um dos decretos formulados pelo Rei era que nenhum pobre
deveria ser obrigado a vender seus pertences aos ricos, em busca de sua
sobrevivência. O código de Urukagina de Lagash buscava igualdade e liberdade,
assim como também, limitava o poder dos mais ricos e dos sacerdotes, em virtude do
que chamamos hoje de igualdade social.

O terceiro código sumério foi o de Ur-Nammu, criado em aproximadamente


2120 a.C., o qual foi fundamental na reunificação da Mesopotâmia que estava em
poderio dos acadianos. O código era um conjunto de leis criadas para representar o
direito sumério. Este código nada mais é que a evolução de costumes antigos, ou

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seja, aplicaram costumes antigos para que virarem normas legais baseadas em algo
já conhecido.

O código de Ur-Nammu foi encontrado no século passado na região da


Mesopotâmia, atualmente o Iraque, pelo professor da Universidade da Pensilvânia,
Samuel Noah Kromer. O assiriólogo encontrou nos códigos conteúdos que adotavam
o princípio da reparabilidade, que atualmente é chamado de danos morais.

O quarto código é chamado de ‘’Leis de Eshnunna’’, o mesmo é composto por


duas tábuas que foram encontradas na região do Iraque, nos mesmos arredores que
foram encontrados conteúdos referentes ao código de Ur-Nammu, acredita-se que o
código fora influenciado pelo de Nammu. O escrito tinha aproximadamente 60 artigos,
sendo uma hibridação de direito penal e civil. A maioria dos artigos possuíam penas
de cunho pecuniário, ou seja, crimes em que a justiça evita ao máximo a pena de
morte, porém, em cinco artigos a lei é mais severa para crimes de cunho sexual,
assaltos, furtos e roubos.

A seguir alguns dos artigos vigentes da época:

- Se um barqueiro é negligente e deixa afundar o barco, ele responderá por tudo aquilo
que deixou afundar;

- Se um cidadão que não tem o menor crédito sobre outro conserva, no entanto, como
penhor, o escravo desse cidadão, o proprietário do escravo prestará juramento diante
de deus: “Tu não tens o menor crédito sobre mim"; então o dinheiro correspondente
ao valor do escravo deverá ser pago por aquele que com ele está;

- Se um homem toma por mulher a filha de um cidadão sem pedir consentimento dos
pais da moça, e não concluiu um contrato de comunhão e casamento com eles, a
mulher não será sua esposa legítima, mesmo que ela habite um ano na sua casa;

- Se um cidadão dá os seus bens em depósito a um estalajadeiro, e se a parede da


casa não está furada, o batente da porta não está partido, a janela não está arrancada,
e se os bens que ele deu em depósito se perdem, o estalajadeiro deve indenizá-lo;

- Se um cão for considerado perigoso, e se as autoridades da Porta preveniram o


proprietário do animal, mas o cachorro morder um cidadão causando a morte deste,
o proprietário do cão deve pagar dois terços de uma mina de prata.

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Percebe-se que a maioria dos artigos são iniciados com a condicional ‘’se’’, isto
é, todos os cidadãos tinham que respeitar o código e se não o fizesse eram
penalizados de forma a pagar por suas consequências.

O último código a ser citado é o código de Hamurábi. Em 1965 d.C. o arqueólogo


Jacques de Morgan que liderava uma expedição francesa, na região da antiga
Mesopotâmia, nos dias atuais corresponde à cidade de Susa, Irã. A equipe de
arqueólogos encontrou um monumento monolítico escrito em rocha. Neste
monumento estavam esculpidas 46 colunas, contendo 282 leis em 3600 linhas (a peça
tem 2,25 m de altura, 1,50 m de circunferência na parte superior e 1,90 na base).

A sociedade era dividida em três classes que se utilizavam do código:

- Awilum: Homens livres, proprietários de terras, que não dependiam do palácio e do


tempo;

- Muskênum: Camada intermediária, funcionários públicos, que tinham certas regalias


no uso de terras;

- Wardum: Escravos, que podiam ser comprados e vendidos até que conseguissem
comprar sua liberdade.

A seguir as principais características do código Hamurábi que foi influenciado


pelos códigos de UrNammu e leis de Eshnunna:

a) lei de talião (olho por olho, dente por dente);


b) falso testemunho;
c) roubo e receptação;
d) estupro;
e) família;
f) escravos;
g) ajuda de fugitivos;

Artigos do Código de Hamurábi:


- Art. 1: Se um homem acusou outro homem e lançou sobre ele suspeita de morte,
mas não pode comprovar, seu acusador será morto;

- Art. 22: Se um homem cometeu um assalto e foi preso, deverá ser morto;
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- Art. 25: Se pegou fogo na casa de um homem e o outro que veio apagá-lo roubou
um bem móvel do dono da casa, o ladrão será lançado ao fogo;

- Art. 186: Se um homem adotou uma criança desde o seu nascimento e a criou, essa
criança adotada não poderá ser reclamada;

- Art. 229: Se um pedreiro edificou uma casa para um homem, mas não a fortificou e
a casa caiu e matou o seu dono, esse pedreiro será morto;

- Art. 230: Se o pedreiro causou a morte do filho do dono da casa, matarão o filho
desse pedreiro;

Figura 4: Código de Hamurábi

Fonte: https://www.todoestudo.com.br/historia/codigo-de-hamurabi

O último código a ser citado nesse artigo, o Hamurábi, foi criado baseado nos
elementos do cotidiano do povo da Babilônia, tais aspectos como: comércio, terras,
ciclo familiar, escravidão, herança, donos de propriedades, inclui-se também os delitos
e as consequências das ações dos que eram punidos, uma relação de acusado e
vítima (Awilum, Muskênum e Wardum). Também existia um fator muito curioso neste
período, se o ofendido fosse um Awilum e o acusado um Wardum a pena era aplicada

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de forma mais severa. Este código foi elaborado com o intuito de engrandecer e
exaltar a imagem do soberano.

Ao se falar em civilização egípcia, até o presente momento, não se tem


registros, textos, manuscritos ou informações a acerca do direito daquela época,
acredita-se que a forma de direito desse povo era codificado. O poder era concentrado
nas mãos do Faraó, que tomava todas as decisões ‘’jurídicas’’, sejam elas de maior
ou menor relevância, a decidir sobre quais sementes plantar ou até mesmo sobre
deixar viver ou morrer um homem que roubou uma maçã.

O Faraó era uma espécie de deus, a própria encarnação da divindade, dele


provia todas leis da época e normas vigentes, não era possível tomar quaisquer
decisões que não fossem relacionadas ao Faraó. Acredita-se que o direito se
originava de um plano superior de revelação divina, e a deusa Maat seria o
instrumento de representação deste plano. A deusa era uma espécie de ser que
possuía em si o conteúdo de vertentes sociais, éticas, senso e reponsabilidade de
estabelecer justiça, paz e equilíbrio para sociedade. O Faraó, que tinha características
divinas, era responsável pela vigência do princípio da justiça simbolizado pela deusa
Maat.

4. O ENSINO DA HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL E NO EXTERIOR

O Brasil Colonial, época que compreende o período de 1530 a 1822, era


definido por uma economia agrária e exportadora, ou seja, a mão de obra da época
era atribuída de forma braçal, não havendo a necessidade de formação profissional
especializada, desta forma não havia cursos superiores no país. Entretanto, em 1808,
com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, o cenário atual fora modificado.
Desta maneira, o Brasil, durante os séculos XVI, XVII e XVIII, tinha ao seu dispor
somente algumas corporações de ofício, diferente do que aconteceu no processo de
colonização da Espanha e Inglaterra.

A Coroa espanhola tinha a preocupação em educar a população, isto é,


evangelizando e cristianizando os indígenas e oferecendo educação em geral aos
habitantes. Consequentemente, no Continente Americano, foram sendo criadas nas

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colônias as primeiras instituições de ensino superior, portanto o Brasil se encontrava
limitado às universidades portuguesas de Coimbra e Évora.

Portanto, os cursos de ciências jurídicas, como eram chamados, só foram ser


criados em 1827, após a independência do Brasil no ano de 1822, por D. Pedro I. Os
primeiros cursos de ciências jurídicas foram criados nas cidades de São Paulo e
Olinda (fora transferido para Recife e 1857). Entretanto, já era notório um interesse
em criar os cursos jurídicos de ensino superior desde a Assembleia Constituinte de
1823. Em 1824, após outorgada a Carta Magna, a discussão passa a ser de
responsabilidade da Assembleia Legislativa, instaurada em 1826, que passara a
decidir sobre localização dos cursos, disciplinas entre outros.

Neste contexto, Aurélio Wander Bastos questiona que:

No conjunto da documentação brasileira sobre o ensino jurídico, os debates


parlamentares sobre a criação dos cursos jurídicos no Brasil (1823-1827) não
só constituem um vasto repositório de teorias e métodos de ensino, como
também representam as primeiras postulações sobre a educação no Brasil,
permitindo extrair desses pronunciamentos parlamentares variáveis
importantíssimas para a recuperação da sua história, da sua função
educacional e política e do seu papel social.6

Os debates a respeito da necessidade ou não em incluir as matérias de história


do direito eram muito recorrentes entre os parlamentares, como por exemplo a fala de
Almeida e Albuquerque na sessão legislativa de 26 de agosto de 1826, in verbis:

Sr. Presidente, eu me persuado que se não pode ensinar o que não existe.
Onde está a História da Legislação Pátria? Será a História da Legislação
Portuguesa? Eu já mostrei que a nossa legislação, posto que tivesse a origem
da portuguesa, não pode, contudo, ser explicada pelos mesmos princípios
daquela legislação, mas deve ser iluminada, e demonstrada pelos princípios
da nossa Constituição, princípios, que a não professa.

Vasconcelos, entretanto, considera a inserção da disciplina história do direito


completamente inútil:

Eu sigo o parecer do Sr. Albuquerque, e digo que isto de História de Legislação


é mesmo uma história: não acho que produza utilidade alguma. A legislatura
portuguesa está para acabar entre nós: o nosso Código Nacional há de
aparecer finalmente. Demais, qual será o mestre, que deixará de explicar a
legislação pelos fatos, que a ela deram lugar? Qual o estudante que não
consultará a História da Legislação, que se lhe explicar? Portanto, julgo
inteiramente supérflua uma cadeira destinada para este estudo.

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Em compensação, tem-se o argumento de Custódio Dias:

Eu votei contra a cadeira de História, e votei com toda a reflexão. O nosso


Direito Pátrio, Sr. Presidente, é todo contrário a essas pestíferas máximas do
direito português. E será possível que vamos imbuir a nossa mocidade nessas
máximas de legitimidade, e escravidão nacional? No Brasil não é possível.
Estamos em outra época e em outro mundo.
O mundo velho não tem trazido ao mundo novo, senão a escravidão, e com ela
os males de todo o gênero. O nosso direito é todo constitucional, contra o qual
se levantam as testas coroadas de Europa: é este direito que nos há de salvar
das máximas do mundo velho. A Europa, da forma em que se acha, e a que a
tem reduzido o célebre Congresso de Laibak, poderá oferecer ótimos princípios
de Legislação à Ásia, ou à África; porém à América, não. A nossa legislação
nós é que havemos de fazer: por consequência, a História desta legislação está
ainda nos possíveis.
Contudo, eu votarei pela cadeira de História, só com a condição de servir
unicamente para ensinar à mocidade brasileira a detestar e a ter em horror
essas máximas e esses tempos de execranda memória

As "opiniões" de Rui Barbosa já haviam sugerido o uso do tema "história do


direito nacional" durante o Império brasileiro, que envolvia as origens, monumentos e
evolução das instituições do país. Desde então, várias outras tentativas foram feitas
para incluir a história do direito como matéria no curso jurídico, o que só estava contido
no Decreto nº 1.886, de 30 de dezembro de 1994, que estipula guias de cursos com
carga horária e conteúdo mínimos.

Hoje em dia, o ensino de história do direito passou a fazer parte do currículo


de muitas instituições de ensino superior, como disciplina independente ou parte da
disciplina de base, despertando o interesse de alunos e professores pela importância
da história, do direito e da investigação jurídica.

O estudo é feito de acordo com a cronologia clássica que considera os


períodos históricos: Pré-história (há cerca de 4.000.000 de anos até a invenção da
escrita, em torno de 4.000 a. C.); Antiguidade (até o ano 476 de nossa era, quando
da queda do império romano do ocidente); Idade Média (até 1453, com a queda de
Constantinopla para os Turcos Otomanos); Idade Moderna (até 1789, com a
Revolução Francesa); Idade Contemporânea (até os dias atuais).

No exterior, é adotado o sistema continental, o qual a base é formada pelo


direito comum, romano-canônico, e a disciplina é oferecida na maioria das faculdades
de direito. A seguir um comparativo dos cursos de direito em alguns países da Europa:

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a) Áustria: universidades de Viena, Graz, Innsbruck, Salzburg e Linz, compõem o
núcleo de locais que oferecem o curso de direito, a graduação tem como matérias
básicas principais: introdução ao direito, direito romano e sociologia

b) França: a disciplina história do direito está contida na maioria da grade curricular


das faculdades do país, matéria importante do primeiro ciclo, as faculdades que
adotam a disciplina são: Paris II (Université Panthéon), Dijon (Université Jean Moulin)
dentre outros.

c) Bélgica: A maioria das instituições de nível superior oferecem tanto a disciplina de


história do direito e como a de direito romano, a exemplo da Universidade Católica de
Louvain.

5. CONCLUSÃO

Nos dias atuais, a disciplina história do direito é matéria fundamental na grade


curricular de faculdades e universidades em todo Brasil. Porém, apesar de sua
relevância no contexto educacional dos estudantes, a disciplina história do direito nas
grades curriculares é curiosamente recente e instável. Nas primeiras discussões
acerca da inserção da matéria, haviam debates se deveria ou não incluir temas como:
Direito Romano e Legislação Nacional, dentre outros.

Neste contexto, através deste artigo, podemos ver as discussões acerca da


necessidade de se ter ou não a matéria inclusa nas grades curriculares e descrever a
importância da matéria para o aluno que está iniciando sua vida acadêmica, no âmbito
das ciências jurídicas.

Portanto, de acordo com todos elementos já citados, é possível julgarmos que


a disciplina história do direito no Brasil passou por diversos conflitos e esforços para
que hoje estivesse estabelecido como disciplina obrigatória nas grades curriculares
do país. Estes conflitos eram causados devido a incoerência de alguns paramentares
em querer barrar o estudo da matéria no país, uma vez que para compreendermos
algo de forma profunda, é necessário conhecer a história por trás, pois, estudar
história é um modo de conhecer o passado e ser um agente transformador no
presente, uma vez que o homem não somente viveu, mas construiu sua própria
temporalidade através do acesso a documentos, informações, objetos e culturas de
povos antepassados.

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REFERÊNCIAS

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historia-antes-da-escrita/post/168> Acesso em 29. jun. 2021
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